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Introdução à

Agroecologia e à
produção orgânica
Carga horária: 25 h

Foto: Wenderson Araujo/Trilux. Sistema CNA/Senar


2021– Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar
1ª. Edição – 2021

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


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Telefone: 61 2109-1300
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https://www.cnabrasil.org.
Mateus Moraes Tavares br/senar

AGRADECIMENTOS ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) por


disponibilizar equipe técnica para validação do curso junto ao Senar, representado por
Alexandre Alves Ferreira, Médico Veterinário, e Werito Fernandes de Melo, Coordenador de
Metodologia e Capacitação, do Departamento de Desenvolvimento Comunitário (DDC/SAF/
MAPA).
Sumário
Módulo 1 - Princípios de Agroecologia
Aula 1 - Introdução à Agroecologia.......................................................................................11
Aula 2 - Agroecologia e o manejo dos recursos naturais................................................28
Aula 3 - Diferentes sistemas de produção agroecológica..............................................55
Conclusão do módulo.......................................................................................................71
Atividade de aprendizagem.............................................................................................74

Módulo 2 - Produção e comercialização de produtos orgânicos


Aula 1 - Legislação relacionada a agricultura orgânica no Brasil.................................85
Aula 2 - Registro e certificação de produtos orgânicos..................................................94
Aula 3 - Beneficiamento de produtos orgânicos............................................................ 114
Aula 4 - Comercialização de produtos orgânicos........................................................... 123
Conclusão do módulo.....................................................................................................139
Atividade de aprendizagem ................................................................................................ 142
Encerramento....................................................................................................................150

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 3


Apresentação
Olá, bem-vindos ao curso
Introdução à Agroecologia e à
produção orgânica!

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Fotografias. Sistema CNA/Senar


Em algum momento, é possível que você já
tenha ouvido alguma afirmação como estas:

“É impossível “Agricultura
alimentar o mundo “Produtos orgânicos não orgânica só dá
com orgânicos.” têm a mesma certo em pequena
produtividade que os escala.”
produtos convencionais.”

Ao ouvir essas afirmações, você deve ter ficado se perguntando se isso tem alguma
fundamentação. Pois bem, neste curso, vamos tratar sobre a produção orgânica e
agroecológica com base no conhecimento científico, e isso vai te mostrar que tais afir-
mações não passam de enganos e alguns mitos.
Mas, antes de estudar os conteúdos de cada módulo, entenda a estrutura do curso.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 5


Estrutura do curso
Os temas que serão tratados neste curso são muito abrangentes e, por isso, vamos dividir o material em dois módulos de estudo
que irão lhe ajudar a compreender os fundamentos da agroecologia e da produção orgânica. Veja o conteúdo e os nomes das
aulas que compõem cada módulo:

Módulo 1 - Princípios de Módulo 2 - Produção e comer-


Agroecologia cialização de produtos orgânicos
No módulo 1, vamos entender um pouco sobre os conceitos No módulo 2, vamos apresentar as principais formas de bene-
de agroecologia e alguns princípios da produção orgânica; ficiamento dos produtos orgânicos, bem como os procedimen-
trataremos da diferença entre produção convencional e tos para a realização da certificação, como realizar a precifica-
produção agroecológica e alguns dos estilos desse tipo de ção e a comercialização desses produtos. Todo esse conteúdo
agricultura, como a permacultura, agricultura biodinâmica e está distribuído em 4 aulas. Acompanhe:
os sistemas agroflorestais. Esses conteúdos estão divididos
Aula 1 - Legislação relacionada à agricultura orgânica no Brasil
em 3 aulas. Veja:
Aula 2 - Registro e certificação de produtos orgânicos
Aula 1 - Introdução à Agroecologia
Aula 3 - Beneficiamento de produtos orgânicos
Aula 2 - Agroecologia e o manejo dos recursos naturais
Aula 4 - Comercialização de produtos orgânicos
Aula 3 - Diferentes sistemas de produção agroecológica

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 6


Quem sabe, compartilha
Durante o seu estudo, você irá se deparar com alguns diálogos entre Dou-
glas e Roberta. Veja, a seguir, quem são eles e como eles podem te ajudar!

A Roberta é uma técnica de


campo de longa data do Senar, Já Douglas é um produtor rural
e irá apoiar Douglas sanando de hortaliças que iniciou o pro-
algumas dúvidas e comparti- cesso de Transição Agroecoló-
lhando sugestões. gica em sua propriedade rural.

Canal de podcast Um Giro no Agro


No AVA, após participar das atividades das aulas, você irá obter o selo de cada
módulo. Eles são recompensas por suas conquistas, e, na tela de conclusão, você
poderá baixar e salvar em seu computador áudios para estudar os principais
pontos tratados no conteúdo quando quiser. Fique atento, pois eles serão trazi-
dos no canal de podcasts Um Giro no Agro.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 7


Atenção!

A participação nas aulas, dentro do AVA, é obrigatória para conseguir bai-


xar os podcasts do canal Um Giro no Agro. Além disso, ao final de cada mó-
dulo, você encontrará a atividade de aprendizagem. Vale reforçar que você
só terá acesso à apostila do módulo seguinte depois de respondê-la.
Para concluir o curso, as regras são simples: você deverá navegar por todas
as telas, realizar as atividades de aprendizagem, e, depois de cumprir essas
duas etapas, responder a pesquisa de satisfação. Portanto, organize-se!

Agora que você já conhece um pouco do que preparamos para você neste
curso, você está pronto para avançar!

Siga em frente!
Bom estudo!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 8


Princípios de
Agroecologia
Módulo 1
Abertura do módulo 1
Muito bem! Antes de mais nada, é importante que você saiba que a sustentabilidade é algo que
está presente nas nossas vidas, e isso não é diferente na agricultura. Por isso, neste primeiro
módulo, você terá a oportunidade de compreender o conceito de Agroecologia e de produção
orgânica, que é o modo de trazer os princípios da sustentabilidade para a prática agrícola.
Além disso, você conhecerá a importância do cuidado com os recursos naturais: a água, o solo,
a fauna, a flora e os estilos de agricultura sob a perspectiva da Agroecologia; por fim, você será
apresentado a alguns dos estilos de agricultura que são praticados por grupos de produtores e
incorporam as noções de Agroecologia.

Agora sim!
Siga para a primeira aula e boa leitura.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 10


Introdução à
Agroecologia
Aula 1

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Fotografias. Sistema CNA/Senar


Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 11
Nesta primeira aula, vamos começar
trazendo um pouco do surgimento da
Agroecologia; em seguida, apresentamos
as diferenças entre a produção agroeco-
lógica e convencional de alimentos e as
formas de adaptação para um agroecos-
sistema orgânico, seguindo os princípios
da Agroecologia.
Depois, serão abordados temas como:
porque a Agroecologia deve ser funda-
mental para a produção de alimentos no
Brasil, e o conceito da transição agroe-
cológica, que é tão importante para os
produtores que querem iniciar na produ-
ção orgânica de alimentos.

Histórico da Agroecologia
Segundo relato de arqueólogos, historiadores e outros pesquisadores, a agricultura surgiu
há cerca de 10 mil a 12 mil anos em várias regiões do mundo, e, se comparadas à situação
vivida hoje, podemos considerar que as escalas de produção eram bem reduzidas.
Há cerca de 100 anos, ou seja, um período muito pequeno quando comparado com a his-
tória da agricultura no mundo, houve uma mudança radical na forma de produzir alimentos,
chamada convencionalmente de modernização ou industrialização da agricultura, e também
de “revolução verde”.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 12


Esse processo se baseia na incorpo-
ração de elementos da indústria na
produção agrícola, com uso de má-
quinas, de uma grande quantidade de
insumos produzidos a partir da indús-
tria química, variedades selecionadas
e a uniformidade nos cultivos, tendo
em vista unicamente o aumento da
produtividade agrícola.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Fotografias. Sistema CNA/Senar

Toda essa mudança na forma de produzir alimentos provocou um rápido crescimento da


disponibilidade de produtos agrícolas para as sociedades humanas, o que, por um lado, ga-
rante a segurança alimentar mundial por meio da disponibilidade e a oferta de alimentos.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 13


Mas, por outro, levanta amplas discussões, principalmente so-
bre questões ambientais, como a diminuição da biodiversidade,
a contaminação de águas e do ar, a erosão dos solos e, mais
recentemente, as mudanças climáticas.

A partir desse cenário, surge a necessidade de se trabalhar com práticas sustentáveis


na agricultura, e umas das alternativas é a Agroecologia, que surge com muita força na
década de 1990.

A Agroecologia nasce da união entre a Agronomia e a Ecologia, porém, não


se restringe apenas a esses dois campos de conhecimento, incorporando
noções da Economia, Ciências Políticas, História, Geografia, da Ciência dos
Alimentos, entre outros.

No Brasil, a discussão da Agroecologia surge da sociedade civil: estudantes, profissio-


nais, pesquisadores e produtores que estavam reivindicando medidas para a preser-
vação ambiental e práticas mais harmônicas com a natureza. Na década de 1970,
muitas famílias já praticavam a chamada agricultura alternativa, especialmente em
algumas comunidades rurais do sul do país. Veja mais sobre esse assunto seguindo
com a leitura.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 14


A Agroecologia e a produção orgânica
Muitos pesquisadores, influenciados por esses ambientalistas e produtores, so-
mam-se a essa discussão e elaboram as primeiras pesquisas para construção da
Agroecologia e da produção orgânica. As práticas realizadas por esses produtores
ecologistas e pelas comunidades tradicionais foram importantes inspirações para
o desenvolvimento da Agroecologia. Ainda é importante lembrar que a sociedade
civil é mobilizada pela discussão intensa acerca do Desenvolvimento Sustentável.

O Desenvolvimento Sustentável
O conceito do desenvolvimento sustentável, amplamente difundido nesse perí-
odo, é fruto de uma série de relatórios e reuniões organizados pela Organização
das Nações Unidas (ONU) nos últimos anos, como a Primeira Conferência Mundial
sobre o Homem e o Meio Ambiente, em 1972; a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, em junho de
1992; a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio +
20, em junho de 2012; entre outras.

A promoção da Agroecologia
Os anos 2000 trouxeram avanços significativos para a promoção da Agroecologia
para a sociedade civil e as políticas públicas brasileiras. A Agroecologia, enquanto
ciência, promoveu ações no meio científico, como seminários e congressos, even-
tos para fomentar essa discussão entre os agricultores familiares, extensão rural,
cursos – tanto de capacitação, como também cursos de ensino superior em Agroe-
cologia –, além de estar presente como uma linha de orientação na PNATER (Políti-
ca Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural).

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 15


A diferença entre a produção convencional
e a produção agroecológica
Ciclagem de
nutrientes
Método de aproveitamento
dos nutrientes entre o solo e
as plantas, a partir de formas
naturais. Um exemplo é o
carbono presente nos teci-
dos vegetais, que, quando em
Foto Tony Oliveira. Sistema CNA/Senar decomposição, retorna para
os solos na forma de matéria
A Agroecologia incorpora a sustentabilidade nas suas ações. As práticas eco-
orgânica. No solo, é fixado
lógicas agrícolas tendem a utilizar os fluxos de energia dentro dos sistemas,
novamente pelas plantas,
como, por exemplo, a ciclagem de nutrientes, a utilização de matéria orgânica, completando um movimento
populações de pragas que possam vir a causar algum dano à atividade produ- cíclico.
tiva de forma equilibrada e controlada, e o uso sustentável dos solos, funda-
mental para a agricultura.

Certo, mas você deve estar se perguntando: afinal de contas,


qual a diferença de uma produção Agroecológica para uma
convencional?

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 16


O conteúdo a seguir apresenta algumas características de
uma agricultura com base nas práticas agroecológicas, e
também as diferenças existentes de uma produção desse
tipo em comparação a uma convencional. Ele está disponível
no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), em for-
mato de vídeo.
Se você estiver conectado à internet e quiser ir direto para a
página do portal EAD do Senar, clique no ícone ao lado.

Agroecologia em foco
A primeira característica de uma agricultura com base nas práticas
agroecológicas é quanto à diversidade de cultivos.
Na produção convencional, busca-se o estabelecimento de uma ou
poucas culturas agrícolas em seus sistemas. Já a produção orgânica
prioriza o aumento da quantidade de cultivos.
Quanto maior for a diversidade de cultivos, maiores serão as oportu-
nidades dos produtores para a comercialização, pois terão uma oferta
diversificada na maior parte do ano.
A interação entre as plantas das culturas também favorece o bom de-
senvolvimento de todo o conjunto, reduz o uso de fertilizantes, e favo-
rece o manejo de pragas.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 17


O uso de rotação de culturas também é diferente nas duas práticas.
Com o aumento da diversidade de cultivos, há a possibilidade de promover
cultivos rotativos. Se esses cultivos forem intercalados com plantas legu-
minosas, trarão ainda mais benefícios.
As leguminosas têm a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, e esse nu-
triente é um dos principais elementos químicos para a nutrição das plantas.
Temos também a diferença na integração da produção animal e vegetal.
Na produção orgânica, visa-se à otimização dos espaços produtivos, ou
seja, ao bom aproveitamento dos espaços. Por isso, sempre que possível, é
recomendado integrar a produção animal e vegetal, pois a união é benéfica
para ambos.
Outra diferença é o uso reduzido de agroquímicos.
A produção convencional é baseada no uso intensivo de insumos, a maioria
produzidos externamente à propriedade e de origem da indústria química,
como fertilizantes e pesticidas.
Já a produção orgânica prevê a utilização reduzida da quantidade de insu-
mos externos e que, quando necessários, sejam oriundos de sistemas de
produção orgânica.
Agora, vamos abordar a reciclagem de resíduos agrícolas. Veja só!
Para a produção orgânica, é indicado o aproveitamento dos resíduos agrí-
colas, como as palhas, os restos culturais, resíduos de poda, entre outros,
especialmente para uso como fertilizantes.
Com uma maior diversidade de cultivos, o uso da rotação de culturas e re-
ciclagem da matéria orgânica, a tendência é que o produtor sinta cada vez

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 18


menos a necessidade de utilização de adubações químicas nos sistemas
produtivos.
O reflorestamento também está dentro da prática orgânica. Ele é impor-
tante, pois, com a formação das florestas, há tanto um benefício em ter-
mos de aumento da biodiversidade nos ambientes quanto a proteção das
águas, especialmente das nascentes.
As florestas promovem a preservação do solo com o aporte da matéria
orgânica, e são consideradas os habitats de polinizadores e dispersores.
A produção orgânica se baseia no manejo ecológico de eventuais pragas
ou doenças.
No sistema convencional de produção, são utilizados os defensivos agríco-
las, como inseticidas, acaricidas e fungicidas de base química, que elimi-
nam pragas e doenças.
Algumas vezes, esses produtos podem ser prejudiciais para outros insetos
e animais que são benéficos para os sistemas, como as abelhas.
Por isso, na produção orgânica, o manejo ecológico das pragas ou doenças
aproveita as possibilidades da natureza como estratégia, buscando plan-
tas que possuam substâncias repelentes ou introduzindo inimigos natu-
rais na lavoura para que eles possam controlar a população de pragas.
Isso reduz o custo para o produtor e favorece a obtenção de altos níveis
produtivos.
Por último, a agroecologia prioriza que os agricultores atuem em redes
colaborativas, associações e cooperativas para que haja troca de infor-
mações e união para aquisição de insumos, por exemplo.
Conseguiu observar as diferenças entre as práticas?

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 19


Esses são alguns dos exemplos da
aproximação dos princípios ecológi-
cos nas práticas agrícolas e alguns
pontos de divergência entre a produ-
ção orgânica e a convencional, embo-
ra haja muitos outros que abordare-
mos ao longo do nosso curso. Então,
já sabe! Não perca nenhum detalhe.

Pois, além do mais, esses princípios


trazem benefícios ambientais para os
sistemas, a produção de alimentos
mais saudáveis, e qualidade de vida
para os produtores que vão manejar
esses sistemas.

Agroecologia e
produção de alimentos
Quando nos referimos à Agroecologia enquanto conhecimento científico, queremos dizer
que ela é como uma teoria que orienta as práticas mais sustentáveis, não apenas do ponto
de vista ambiental, mas também dos aspectos social, econômico, político e cultural. Lembra
da Roberta, a técnica de campo do Senar? Veja o que ela tem para acrescentar sobre isso:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 20


A Agroecologia, a partir da sua inspiração nas ciências ecoló-
gicas, insere a ideia de agroecossistema. Isso significa que a
produção não se restringe à unidade produtiva ou à proprie-
Você sabia? dade rural limitada pelas suas porteiras, mas ela se relaciona
com o entorno, com os vizinhos e com a sociedade como um
todo. Por isso, ela deve escutar as demandas da sociedade, e
especialmente daquelas pessoas que estão diretamente liga-
das à produção – como os produtores e os consumidores.

Na sequência, trouxemos as possibilidades oferecidas aos consumidores com


uma produção orgânica, se realizada de forma criteriosa.

Diversidade de alimentos
Uma diversidade de alimentos que apresentam alta qualidade, sem
o uso de agroquímicos. Além disso, essa diversidade possibilita uma
oferta contínua desses alimentos, não só para a família dos produ-
tores, mas também para a rede de consumidores.

Produtos diferenciados
Outra questão relacionada com alimentação está no fato de que,
com o aumento da diversidade, é possível ofertar aos consumidores
produtos diferenciados, como plantas que não são convencional-
mente comercializadas nos grandes mercados, tais como as PANCs
(plantas alimentícias não-convencionais) e variedades tradicionais.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 21


Sabor acentuado
Os consumidores desse tipo de produto relatam que acabam se
tornando “fiéis” pelo sabor diferenciado que os produtos orgânicos
possuem. Essa é, também, uma das qualidades que vêm conquistan-
do muitos chefs e cozinheiros no mundo todo, que procuram cada
vez mais os alimentos orgânicos para o preparo de seus pratos.

Dessa maneira, a produção orgânica é uma aliada aos demais produtores que Está lembrado do Douglas?
visam promover a segurança alimentar e nutricional da sociedade. Ele é aquele personagem
que é produtor rural e está
em fase inicial de transição

Transição para a agroecológica. No campo a


seguir, Roberta explica para

produção agroecológica ele como deve ser o proces-


so de transição agroecoló-
gica.
Quando um produtor deseja iniciar a produção orgânica, recomenda-se que este tome
Vale destacar que este
medidas gradativas que possam adequar a produção aos parâmetros exigidos por tal
conteúdo está disponível
tipo de produção. Esse processo se chama transição agroecológica.
no seu Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA), em
formato de áudio.
Como o próprio termo já nos indica, a transição significa a Se você estiver conectado
mudança de agroecossistemas convencionais para agroecos- à internet e quiser ir dire-
sistemas mais sustentáveis. to para a página do portal
EAD do Senar, clique no
ícone acima.
Você está avançando muito bem com seus estudos, e agora chegou o momento de
analisar uma conversa esclarecedora sobre como se dá o processo de transição
Agroecológica.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 22


Quem sabe, compartilha
Douglas: Oi, Roberta! Que bom encontrar você! Você
sabe que estou pensando em mudar minha produção
para iniciar uma produção orgânica, né? Queria sua ajuda
para saber o que posso fazer na minha propriedade para
que minha produção seja desse tipo.
Roberta: Olá, Douglas! É muito interessante a sua ques-
tão! Para iniciar uma produção orgânica, é recomendado
que o produtor tome medidas gradativas que possam
adequar sua produção aos parâmetros exigidos.
Roberta: Esse processo de mudança de agrossistemas
convencionais para agrossistemas mais sustentáveis é
chamado de transição agroecológica!
Douglas: Isso quer dizer que eu preciso fazer um proces-
so gradual de transição para a produção orgânica, certo?
Roberta: Isso mesmo, Douglas! Não é recomendado que
os produtores tomem medidas extremas, como eliminar
todos os cultivos e substitui-los por outros, pois isso pode
deixar o negócio economicamente vulnerável, entende?
Isso acontece porque existe a necessidade de adequa-
ções frente às mudanças de manejo e mercados, e tam-
bém para atender demandas específicas.
Roberta: Quando os produtores fazem a transição gra-
dual, podem se adequar ano a ano às novas formas de

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 23


manejo e aos insumos que são necessários para a produ-
ção orgânica.
Douglas: Mas, Roberta, existe alguma estrutura para ser
seguida nessa transição?
Roberta: Existe sim, Douglas! A agroecologia tem meto-
dologias e princípios para essa mudança para o sistema
agroecológico! Vou te contar quais são as etapas.
Roberta: O primeiro nível é a redução do uso de insumos.
Esse nível trata de incentivar que sejam utilizados os insu-
mos já existentes ou que serão produzidos na proprieda-
de de forma eficiente, procurando reduzir o uso de insu-
mos externos, principalmente os fertilizantes químicos.
Roberta: Já o segundo nível é a substituição dos insumos
mesmo. Com o tempo, é possível perceber que podem ser
substituídos aqueles insumos produzidos de forma indus-
trial, como os defensivos agrícolas, por outros de origem
orgânica, como pesticidas biológicos. Além disso, os
produtores podem buscam alternativas aos produtos de
origem externa à propriedade, como o plantio de plantas
fixadoras de nitrogênio e o uso de controle biológico para
combater pragas e doenças.
Douglas: Nossa, que interessante, Roberta! De fato, eu
não conseguiria substituir os insumos que uso na proprie-
dade de uma hora para outra.
Roberta: Mas ainda tem mais dois níveis, Douglas! O

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 24


terceiro é o redesenho do agroecossistema. Nesse nível,
acontece a transformação do agroecossistema, favore-
cendo o aproveitamento dos espaços horizontais e verti-
cais. Por isso, são estimuladas mudanças no desenho das
hortas, dos pomares e das lavouras, e no consórcio de
plantas e animais.
Roberta: E para finalizar, o quarto nível é a conexão
entre os produtores e o mercado. É recomendado que os
produtores possam se reunir em grupos ou em redes e
estabelecer novas formas de comércio. Essas formas de
comércio podem ser realizadas para unidades processa-
doras locais, regionais, estaduais ou nacionais, por meio
da comercialização direta ao público final.
Roberta: A transição é caracterizada como um processo
gradual e multilinear de mudança, que ocorre ao longo
do tempo e em função das mudanças que acontecem na
propriedade rural.
Douglas: Então, não existe um único caminho a ser segui-
do, certo? Pois aí cada família pode seguir aquilo a que se
adequar melhor, não é?
Roberta: Isso mesmo! E a transição agroecológica não
tem um tempo definido, porque cada situação será única,
e a propriedade deve adequar suas práticas conforme
seja possível.
Roberta: Nós podemos observar as diferenças sociais, de
formação do solo, de vegetação e do clima nas diferentes

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 25


regiões do país, e é inviável estabelecer um caminho úni-
co para a transição agroecológica no Brasil.
Douglas: Acho que entendi bem, Roberta! Vou começar
a pensar em como seguir com a transição agroecológica
na minha propriedade. Roberta, você me ajudou muito!
Obrigado, de verdade!
Roberta: Imagina, Douglas! Sempre que precisar, pode
contar com minha ajuda!

Essa conversa foi bem interessante, né? Conseguiu com-


preender as etapas ou níveis a serem seguidos para efe-
tuar a mudança? Esperamos que sim.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 26


Suas
conquistas! Você sabia?
Você conquistou a primeira fase de estudo e está mais próximo de concluir o Lembre-se de que, no AVA, você
módulo. Já pode seguir adiante com a leitura em busca de todo conhecimento deve responder uma pergunta
oferecido na aula 2! para conquistar sua recompensa
e, assim, desbloquear a aula se-
guinte. O desbloqueio das aulas
irá lhe garantir o selo do módulo, e
somente na tela de conclusão você
poderá baixar o áudio contendo o
resumo no canal de podcast do Um
Bons estudos! Giro no Agro.
Ele é um excelente recurso para
rever todos os temas do módulo
quando quiser!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 27


Agroecologia
e o manejo dos
recursos naturais
Aula 2

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Fotografias. Sistema CNA/Senar


Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 28
Nesta segunda aula, vamos trazer exemplos para que você compreenda que a Agroe-
cologia é uma estratégia de manejo dos recursos naturais que colabora para a con-
servação da agrobiodiversidade e a prestação de serviços ambientais, aliada também
à produção de alimentos. Por isso, vamos conhecer um pouco sobre a diversidade de
polinizadores e dispersores, o manejo de solo, a conservação dos recursos hídricos,
a variabilidade genética dos cultivos agrícolas e a ampla diversidade animal e vege-
tal dos biomas brasileiros.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 29


Agroecologia e a
biodiversidade de
polinizadores e
dispersores
O conteúdo a seguir irá
tratar exatamente sobre as
características e a atuação
dos animais polinizadores
A Agroecologia usa a conservação da biodiversidade como um dos seus princí- e dispersores. Aproveite
pios. Você já parou para pensar o que seria a biodiversidade em uma proprieda- para ficar bem informado
de rural? sobre esse tema. Ele está
disponível no seu Ambien-
te Virtual de Aprendiza-
gem (AVA), em formato de
vídeo.
Costumamos lembrar da diversidade vegetal, das florestas,
e, em algumas vezes lembramos dos animais, em especial Se você estiver conectado
aqueles animais ligados à produção agrícola, como os bo- à internet e quiser ir dire-
vinos, caprinos, aves e peixes. Entretanto, uma importante to para a página do portal
parcela da biodiversidade acaba sendo esquecida pelos pro- EAD do Senar, clique no
dutores. Trata-se dos polinizadores e dos dispersores, impor- ícone acima.
tantes agentes da promoção da diversidade na agricultura.
Sem eles, definitivamente não haveria agricultura.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 30


Agroecologia em foco
Vamos começar falando sobre os polinizadores; mas afinal,
quem são eles?
Os polinizadores são insetos e outros pequenos animais que
transportam pólen de uma flor para outra. Essas flores se
desenvolvem e formam frutos e sementes.
Por isso, os polinizadores são tão importantes para a repro-
dução das plantas; muitos frutos nem existiriam sem o seu
trabalho.
Os grãos de pólen são estruturas bem pequenas, formadas
pelos órgãos de reprodução masculinos das plantas, os esta-
mes.
A polinização ocorre quando os grãos de pólen são levados
pelos polinizadores para as partes femininas das flores, o car-
pelo. É nessa parte que se originam os frutos e as sementes.
A maioria das abelhas costuma se alimentar de grãos de
pólen. Quando elas fazem a coleta, de flor em flor, colaboram
realizando a polinização das plantas, e muitas dessas plantas
são espécies agrícolas.
Outros insetos, como borboletas, besouros, moscas, vespas,
e até animais como aves, morcegos e lagartos, podem realizar
o processo de polinização, embora as abelhas sejam responsá-
veis pela polinização da maior parte das espécies produzidas

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 31


na agricultura brasileira.
Alguns cultivos de grande importância econômica para o
país, como café, maçã, cebola, pêssego, laranja e melão,
podem ser polinizados por abelhas.
As mudanças ocorridas na forma de produção vêm afetan-
do diretamente a população de polinizadores, especialmen-
te as abelhas. A redução das florestas e o uso incorreto de
pesticidas e inseticidas são duas das principais causas da
redução da quantidade desses insetos no meio rural.
Alguns defensivos agrícolas, com maior grau de toxicida-
de, podem provocar a extinção de populações de abelhas,
se utilizados de forma incorreta. A produção orgânica
contribui também para a proteção desses animais por não
utilizar esse tipo de insumo.
Esses problemas afetam também a atuação dos animais
que contribuem na dispersão de sementes e frutos.
Aves e pequenos mamíferos dispersam frutos carnosos,
adocicados e de coloração viva e atraente, que, ao serem
ingeridos, liberam suas sementes no meio ambiente através
das fezes ou porque lançam as sementes após comerem os
frutos.
Em alguns casos, os frutos ou sementes são dispersados
por estarem aderidos aos pelos ou às penas dos animais.
Por isso, a diversidade animal ou vegetal, mesmo que não
seja aproveitada diretamente na agricultura, traz benefícios
para a produção orgânica. A produção orgânica é sistêmi-

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 32


ca, pois compreende a propriedade como um grande siste-
ma, cujas partes estão conectadas e funcionam em harmo-
nia.
Existem estratégias para promover a diversidade de polini-
zadores e dispersores nas propriedades rurais. Vamos co-
nhecer algumas delas!!
Algumas dessas estratégias são o plantio de flores e frutos
silvestres para atrair a fauna benéfica; a eliminação do uso
de substâncias químicas que podem afetar sua existência;
instalação de estruturas para criação de abelhas, o que
também pode trazer rendimentos extras para o produtor
através do aproveitamento do mel e subprodutos; manter
áreas de bosques próximos à propriedade; disponibilizar
troncos para a produção de ninhos, entre outras.
E então? Percebeu como a preservação dos polinizadores e
dispersores é importante?
Por ora, é isso!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 33


Agroecologia e a
Práticas não
sustentáveis de
saúde do solo manejo do solo
Perda da matéria orgânica,
O aumento do número e do tamanho das cidades, o desmatamento, bem como compactação, desbalanços
práticas não sustentáveis de manejo do solo, têm impactado o bom funcionamento nutricionais, uso do fogo e a
dos solos no mundo. Esses problemas limitam a produção agrícola, e a Agroecologia erosão.
tem uma preocupação especial quanto ao seu manejo, já que sem solo é inviável a
produção da maioria dos cultivos agrícolas do mundo.

A agroecologia favorece a manu-


tenção do solo enquanto organismo
vivo. Essa concepção de solo vivo
nasceu da ideia de que os solos pre-
cisam ser utilizados, mas também se
manterem saudáveis para realizarem
as suas atividades com excelência.
O solo vivo é formado por um gran-
de complexo de agentes biológicos
e uma série de reações químicas
responsáveis pela ciclagem, armaze-
namento e disponibilização de nu-
trientes que são necessários para o
desenvolvimento das plantas. Além
disso, o solo armazena água, carbono
(na forma de CO2) e uma ampla biodi-
versidade, conforme pode ser obser-
vado a seguir:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 34


Um solo vivo é aquele que tem diversas formas de organismos vivos interagindo entre si e com os
componentes minerais e orgânicos do solo. Veja, a seguir, a explicação da Roberta:

Os solos são habitats de microrganismos, macro e mesofauna


que participam em diversas atividades, como a decomposição da

Você sabia? matéria orgânica, a ciclagem de nutrientes, a produção de húmus,


o controle biológico de pragas e doenças, além de atuarem na
fixação de nitrogênio da atmosfera, entre outras atividades.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 35


A Agroecologia estabelece métodos de manejo que visam reduzir os impactos e promover a diversida-
de de vida presente nos solos. Principalmente os solos tropicais, aqueles encontrados na maioria das
regiões brasileiras, apresentam alta diversidade e complexa dinâmica desses organismos. Agronomi-
camente, os solos são formados por duas partes:

Parte mineral Parte orgânica

Que é produto da Decomposição da


decomposição das matéria orgânica e os
rochas. microrganismos.

Pelas características das rochas e do clima que os formaram, em um processo chamado de intempe-
rismo, os solos podem se apresentar em diferentes composições em todo o Brasil.
No solo são definidos cinco horizontes, que variam conforme o processo de intemperismo que eles
sofreram até a sua constituição. Conheça-os a seguir:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 36


Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 37
Alguns solos podem apresentar todos ou apenas um dos horizontes. Além disso, conforme o
material de origem, o solo será composto por frações de areia, argila e/ou silte em diferentes Material
composições. Por isso, é importante reconhecer a aptidão de uso de cada solo antes de esta- de origem
belecer um cultivo agrícola, pois algumas espécies não apresentam um desenvolvimento pleno
dependendo da composição dos solos. Aquele que compõe a rocha
original.

Para pequenos culti-


vos, como as hortas
domésticas, o solo
também sofre altera-
ção nas suas caracte-
rísticas originais, sen- Vermiculita
do incorporada grande
quantidade de matéria É um mineral resultante da
orgânica e outras hidratação de rochas basálti-
composições minerais, cas; possibilita uma melhoria
nos solos, pois colabora para
como a vermiculita e
a absorção de nutrientes pelas
a perlita, formando o
plantas.
chamado substrato.
Essa composição varia
conforme a exigência
das espécies implan-
tadas.
Perlita
É um mineral formado por
sílica, com alta porosidade. É
A Agroecologia estabelece várias formas de se produzir, mas sempre primando pela susten- utilizado nos solos para pro-
tabilidade a longo prazo das atividades agrícolas, evitando contaminações e erosão dos solos. mover maior aeração e evitar a
Muitas técnicas e métodos de manejo ecológico de solos (ou de bom uso do solo) são utiliza- compactação.
das pelos produtores no mundo, e algumas delas serão estudadas aqui.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 38


Agroecologia e a
conservação da qualidade
e da quantidade de água
Como vimos anteriormente, os solos são im-
portantes reservatórios, e são o meio onde
Agora, vamos acompanhar
acontece a ciclagem das águas da agricultura.
a conversa de Roberta e
Tal como o solo, não há agricultura sem água.
Douglas sobre os aspectos
Um bem comum e essencial à vida no plane-
que devem ser considera-
ta, é tema de debates de toda a sociedade, e
dos no manejo da água em
impacta a forma de se fazer agricultura.
sistemas produtivos.
Este conteúdo está dis-
ponível no seu Ambiente
Virtual de Aprendizagem
(AVA), em formato de áu-
dio.
A conservação de água é uma consequência natural positiva Se você estiver conectado
dos sistemas agroecológicos. A água é importante para a à internet e quiser ir dire-
produção agrícola, mas a função dos sistemas produtivos é a to para a página do portal
de promover seus ciclos e manter a sua qualidade para que EAD do Senar, clique no
haja um aproveitamento duradouro. ícone acima.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 39


Quem sabe, compartilha
Roberta: Oi, Douglas! Eu queria falar com você sobre uma
questão muito importante na agroecologia, que é a conserva-
ção da água! Acho que vai ajudar muito no seu processo de
transição.
Douglas: Opa, Roberta! Eu já sei que a água é muito impor-
tante para a produção agrícola, mas pode falar mais sobre
essa questão da conservação.
Roberta: Bem, Douglas, existem dois aspectos importantes
para se considerar em relação ao manejo da água nos sis-
temas produtivos: a quantidade, que varia conforme a ne-
cessidade dos cultivos, especialmente naqueles que exigem
sistemas de irrigação, e a qualidade, que é fundamental para
qualquer atividade.
Douglas: Então, eu conheço alguns produtores de regiões
áridas e semiáridas, e sei que para eles a quantidade de
água é uma questão crucial.
Roberta: A água também é crucial onde o regime pluviomé-
trico não atinge a necessidade mínima para os cultivos. Nes-
se caso, é preciso, antes de realizar os plantios, estabelecer
um plano de captação de água e sistemas de irrigação.
Roberta: Em muitas regiões do Brasil, como a do semiári-
do nordestino, experiências com a implantação de cisternas
de captação de água da chuva têm sido fundamentais para
garantir a produção agrícola. Existe um material da Embrapa
chamado “Aproveitamento da água da chuva na produção

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 40


de suínos e aves” que é bem interessante consultar para ver
como essas cisternas são construídas.
Douglas: Certo, mas e em relação à qualidade, Roberta? O que
eu posso fazer para garantir a qualidade da água para a pro-
dução?
Roberta: Bom, é necessário observar aspectos físicos e
químicos das águas utilizadas na produção. Para observar
aspectos físicos, deve-se observar se ela está contaminada
por matéria orgânica ou argila em solução, elementos que
podem interferir especialmente nas águas utilizadas para
irrigação.
Roberta: Para solucionar esses problemas, é possível utili-
zar sistemas de filtragem para garantir que essa água esteja
livre de materiais em suspensão.
Douglas: Ah, entendi. Que bom que existe essa solução!
Roberta: Sim, e sobre a qualidade química da água, é neces-
sário realizar um teste para detectar a presença de substân-
cias contaminantes, como defensivos agrícolas ou microrga-
nismos.
Douglas: E o que mais posso encontrar com esses testes?
Roberta: Com um teste de qualidade da água, é possível
detectar a quantidade e a concentração de nutrientes como
cálcio, magnésio, ferro, alumínio, sódio. O teor do sódio
identifica se a água está salobra ou não, ou seja, possui altas
concentrações de sais, que podem causar danos aos culti-
vos, como a interferência no processo de respiração radicu-
lar e o aumento do pH do solo.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 41


Roberta: Então, Douglas, viu como é importante conservar e cui-
dar da água utilizada na produção agroecológica?
Douglas: Sim, Roberta! Achei muito interessante esse assunto.
Mais uma vez, muito obrigado!

Gostou desse diálogo? É importante reforçar que, na Agroecologia, estimula-se que a


água utilizada no agroecossistema seja reciclada. Assim, o seu uso é otimizado e evita-se Cursos d’água
o seu desperdício, o que possibilita que ela possa completar seu ciclo e retornar para os
cursos d’água. Roberta ainda complementa: Rios, lagos, açudes.

As florestas ou os bosques também fazem parte desse


processo de ciclagem. Além disso, a vegetação próxi-
Você sabia? ma do curso d’água, chamada de mata ciliar, funciona
como filtro para as águas, contribuindo para o aumen-
to da sua qualidade.

Por isso, é importante que os produtores tenham esse cuidado e preservem tanto as ma-
tas ciliares quanto as áreas do entorno de nascentes e olhos d ‘água, seguindo o que está
estabelecido no Código Florestal Brasileiro.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 42


Agroecologia
e a variabilidade
genética de
culturas agrícolas
A biodiversidade na agricultura se manifesta, também, na
variabilidade genética dos cultivos agrícolas. Mas o que isso
significa?
As espécies mantidas nos sistemas agrícolas possuem natu-
ralmente uma ampla variabilidade, a qual foi classificada, com
o avanço das pesquisas, como variedades, no caso dos vege-
tais, e raças, no caso de animais.
Por isso, além de aumentar o número de espécies mantidas
e conservadas na propriedade, a Agroecologia estimula que
haja maior número de variedades e de raças. Isso vai contri-
buir para que os sistemas permaneçam mais fortes frente
a mudanças climáticas ou a eventuais problemas, como o
ataque de pragas e doenças. Conheça alguns detalhes sobre
algumas variedades.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 43


Viu só como as batatas, pertencentes à família Solanaceae, podem
ser diferentes? Observe os detalhes das variedades que podem ser
encontradas atualmente.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux. Sistema CNA/Senar

Diversidade de feijões, lentilhas, grão de bico e ervilhas que são es-


pécies pertencentes à família Fabaceae, e são popularmente conheci-
das como leguminosas. Observe a diferença de características dessas
variedades.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 44


A diversidade relacionada à produção agrícola – seja nos
vegetais, animais ou nos microrganismos – é chamada de
agrobiodiversidade, e tem sido foco de muitas ações para a
promoção dessa produção.

FAO
Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação,
Pelos dados catalogados por instituições como a FAO e a Embrapa, pode ser
do inglês, Food and Agriculture
identificado um processo de perda de diversidade vegetal, o que vem se acen-
Organization.
tuando gradativamente com a tendência a uniformização dos sistemas alimen-
tares e produtivos. Olha só o que a Roberta tem a acrescentar:

A FAO relata que foram registradas cerca de 300 mil espé-


cies vegetais, das quais a espécie humana consome, atual-
mente, apenas cerca de 7 mil. No comércio, 150 espécies
Você sabia? são importantes e constituem 90% de toda a alimentação
humana. O arroz, o milho e o trigo são as principais espé-
cies utilizadas para a alimentação humana; juntas, essas
espécies perfazem 60% das calorias da alimentação da
população.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 45


Você saberia dizer como a agrobiodiversidade está presente na agri-
cultura familiar? Fique tranquilo, pois a resposta para essa pergunta
você encontra nessa conversa entre Douglas e Roberta.
Vale destacar que este conteúdo está disponível no seu Ambiente
Virtual de Aprendizagem (AVA), em formato de áudio.
Se você estiver conectado à internet e quiser ir direto para a página
do portal EAD do Senar, clique no ícone ao lado.

Quem sabe, compartilha


Douglas: Olá, Roberta! Eu estava pensando quais variedades poderia
plantar na propriedade, e ouvi falar de sementes crioulas. Você pode
me explicar sobre elas?
Roberta: Oi, Douglas! É com as sementes crioulas que a agrobiodi-
versidade está presente na agricultura familiar. Essas sementes são
originadas de plantas que sofreram seleção pelas populações rurais,
mas não perderam sua capacidade de reprodução.
Roberta: Se elas foram bem manejadas e armazenadas, são aptas a
uma nova semeadura, mantendo suas características genéticas.
Douglas: Então, isso significa que os produtores não precisam adqui-
rir sementes a cada ciclo de cultivo? Isso reduz os custos de produ-
ção, não é?
Roberta: Exatamente, Douglas! Além disso, essas sementes, por serem

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 46


extremamente adaptadas às condições ambientais dos locais onde
são mantidas, tendem a ser menos exigentes em adubação e mais
resistentes ao ataque de pragas e doenças, o que permite que o
produtor possa ter menos gastos na produção.
Roberta: Em geral, essas sementes são mantidas por comunidades
tradicionais e por agricultores familiares. Então, elas podem ser ad-
quiridas diretamente com esses produtores, por meio de trocas em
feiras e festas e com o contato com os bancos de sementes que
existem em todas as regiões do Brasil.
Douglas: Mas, além das sementes, a agrobiodiversidade é possí-
vel na criação de animais?
Roberta: É possível sim, Douglas! A diversidade de animais tam-
bém é estimulada na produção orgânica. Os bancos de dados da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricul-
tura indicam que a maioria das espécies de raças animais catalo-
gadas está ameaçada ou já foi extinta.
Roberta: As raças crioulas são mantidas por populações tradicio-
nais e criadores especializados. A ovelha crioula, por exemplo, é
uma raça local mantida por produtores do Rio Grande do Sul. Elas
apresentam maior rusticidade e maior adaptação às condições
locais, que lhes garantem menores problemas de saúde.
Douglas: Nossa, Roberta, a agrobiodiversidade é realmente muito
importante! Vou continuar pesquisando as variedades para im-
plantar aqui na propriedade. Muito obrigado!
Roberta: Isso, Douglas! E se tiver qualquer dúvida, conte comigo!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 47


Produtos da
biodiversidade brasileira
O território brasileiro, atualmente, é composto por inúmeras áreas onde prevalecem os
ecossistemas naturais. Conheça-os a seguir:

Áreas de floresta
no bioma Ama-
zônico.

Os campos
preservados do
Cerrado.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Sistema CNA/Senar

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 48


As áreas de caa-
tinga do semiári-
do nordestino.

As florestas da
mata atlântica
no litoral brasi-
leiro.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 49


As áreas alaga-
das do Pantanal.

Os campos pam-
peanos do sul do
Brasil.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 50


Todos esses ecossistemas naturais apresentam uma diversidade de espécies vegetais e animais
que foram aproveitadas pelas populações tradicionais que as manejam durante muitos anos.
Produtos provenientes desses ecossistemas, chamados de produtos da sociobiodiversidade,
têm apresentado um potencial para serem explorados economicamente por essas populações.
Eles são importantes, pois, além de trazerem maiores rendimentos econômicos para quem os
maneja, sendo uma importante fonte de renda, ainda promovem a conservação dos ecossiste-
mas nativos. Veja como eles podem ser aproveitados:

Na alimentação
Um dos produtos que teve um salto significativo na demanda alimentar é o açaí, que
é fruto de uma palmeira (Euterpe edulis), e sua extração não prejudica o ecossistema
florestal amazônico ou da Mata Atlântica, onde é encontrado. A Castanha do Pará é
outro exemplo, e tem tido uma significativa demanda do mercado. O cacau brasileiro
apresenta sabores característicos e únicos. Incluem-se aqui frutas nativas dos biomas
brasileiros. Cerrado: pequi, fava-danta, umbu, cajuí, cagaita, mangaba, coquinho aze-
do, buriti, entre outros. Caatinga: murici, seriguela, pitomba, umbu, cajá, caju, cambuí,
maracujá da caatinga, murta. Pampa: ariticum e butiá. Mata Atlântica: cereja do mato,
pitanga, araçá.

No artesanato
Muitas são as espécies que podem fornecer fibras, folhas e sementes para a produ-
ção de artesanatos e utensílios, tais como capim-dourado, butiá, ráfia, sementes de
açaí, jarina, buriti, jerivá, dentre tantas outras. Algumas penas e plumas também são
aproveitadas para o artesanato.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 51


Em óleos vegetais
Os óleos produzidos, além de servirem como alimento, são importantes para o uso
medicinal e cosmético, alguns sendo já explorados por grandes empresas farmacêu-
ticas e cosméticas. Alguns exemplos são o babaçu, jaborandi, andiroba, copaíba,
murumuru e buriti, que, além de terem conquistado o mercado nacional, estão avan-
çando por vários países.

Madeira, turismo e borra-


cha, entre outros produtos
e serviços, também podem
ser explorados susten-
tavelmente a partir dos
ecossistemas nativos brasi-
leiros. Na alimentação, uma
diversidade de frutas pode
ser melhor aproveitada em
outros produtos processa-
dos, como sucos, geleias,
sorvetes e polpas.

Foto: Wenderson Araujo/Trilux Sistema CNA/Senar

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 52


Os animais também podem ser explorados, desde que sigam um planejamento com vistas a
aumentar a sua diversidade e quantidade nos ambientes nativos. Os mais utilizados para o
comércio são os peixes, sendo o pirarucu um dos mais representativos, além do jacaré, entre
outros.
Com a crescente preocupação da população sobre as questões ambientais e éticas em rela-
ção aos testes de produtos químicos em animais, e também visando à promoção da saúde,
esses produtos têm sido demandados mundialmente, podendo ser uma grande oportunidade
para as populações rurais que vivem em áreas com alta biodiversidade e também para a pro-
dução orgânica. E a nossa técnica de campo, Roberta, ainda complementa:

Segundo a Lei nº 10.831/2003, todo produto oriundo de processo


O que diz extrativista sustentável que não prejudica o ecossistema local, tais
a lei? como os produtos da sociobiodiversidade vistos nesta aula, podem
ser certificados como produtos orgânicos.

Você ficou interessado em saber mais sobre esses produtos? Se tiver interesse, consulte o
Catálogo dos produtos da sociobiodiversidade brasileira, publicado pelo Ministério do Meio
Ambiente em 2019, que dá uma mostra do que pode ser aproveitado no Brasil.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 53


Suas
conquistas! Você sabia?
Você conquistou a segunda fase de estudo e já pode seguir adiante com a leitura Lembre-se de que, no AVA, você
em busca de mais conhecimento na aula 3! deve responder uma pergunta para
conquistar sua recompensa e, as-
sim, desbloquear a aula seguinte.
O desbloqueio das aulas irá lhe ga-
rantir o selo do módulo, e, na tela
de conclusão, você poderá baixar o
áudio contendo o resumo no canal
de podcast do Um Giro no Agro.
Bons estudos! Ele é um excelente recurso para
rever todos os temas do módulo
quando quiser!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 54


Diferentes sistemas
de produção
agroecológica
Aula 3

Foto: Wenderson Araujo. Sistema CNA/Senar


Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 55
Vários são os estilos de agricultura orientados pela busca da sustentabilidade na agricultura. Por
isso, nesta aula, vamos trazer os diferentes métodos de produção agroecológica e orgânica que
contemplam técnicas distintas, mas que têm a sustentabilidade como orientação, tais como: a
agricultura biodinâmica, permacultura e os sistemas agroflorestais. Vamos avançar?

Convidamos você a analisar algumas características da agricultura orgânica e um pouco da


legislação que ampara esse tipo de produção lendo o conteúdo a seguir.
Ele está disponível no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), em formato de vídeo.
Se você estiver conectado à internet e quiser ir direto para a página do portal EAD do Senar,
clique no ícone ao lado.

A agricultura orgânica
Agroecologia em foco
Existem vários estilos de agricultura orientados pelos princípios da Agro-
ecologia. No Brasil, eles são descritos pela Lei nº 10.831, de 2003, que
também define os parâmetros para um produto ser considerado orgânico.
Diz a lei: “considera-se produto orgânico, seja ele in natura ou processa-
do, aquele que é obtido em um sistema orgânico de produção agropecu-
ária ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 56


ecossistema local.”
A agricultura orgânica é o estilo de produção agrícola que incorpora as
noções de sustentabilidade mais difundidas pelo mundo.
Ela nasceu em meados de 1920, e vem até hoje aprimorando técnicas
e práticas. A produção orgânica surgiu a partir da ideia de que, se as
plantas e solo estivessem se desenvolvendo naturalmente, as pessoas
que consomem esses alimentos teriam maior resistência a doenças.
Ou seja, os sistemas naturais, as pessoas, plantas e animais fazem par-
te de um mesmo ciclo, portanto, se uma das partes não estiver saudá-
vel, todos os componentes do sistema estarão em desequilíbrio.
A agricultura orgânica não utiliza adubos produzidos pela indústria,
aqueles que são de alta solubilidade. Na prática orgânica, são utiliza-
dos adubos de fontes orgânicas e provindos de rochas naturais.
Um solo equilibrado garante uma planta forte, livre de pragas e doen-
ças, resultando na promoção da saúde de quem consome os alimentos
advindos da produção orgânica. Por isso, a valorização dos métodos de
compostagem do solo foi fundamental nas pesquisas para a agricultu-
ra orgânica.
Na atualidade, alguns outros cuidados são adicionados à produção
orgânica, como: uso exclusivo de substâncias permitidas, seja de fer-
tilizantes ou defensivos agrícolas, ou seja, aqueles contidos na Portaria
número 52 de 2021 do MAPA.
Também a não utilização de variedades transgênicas, que são aquelas
geneticamente modificadas, o cuidado com a qualidade da água utili-
zada na produção, uso de compostos orgânicos, utilização de plantas
de raízes profundas, controle da erosão e a conservação da biodiver-

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 57


sidade do solo, entre outros.
Além disso, a agricultura orgânica estabelece uma aproximação com o
mercado, atendendo e revisitando constantemente as expectativas dos
consumidores. Por isso, o produto orgânico precisa estar adequado a
uma série de normas e regramentos, o que possibilita que possa estar
disponível em mercados especiais, como os mercados certificados.

É chegado o momento de conhecer outros estilos de agricultura que são orientados pela produ-
ção sustentável. Você conhece a permacultura? Siga com a leitura, e veja mais sobre ela.

A permacultura
A permacultura nasceu na Austrália, na década de 1970, influenciada pelas ideias da Agricultura
Natural, em que as atividades agrícolas devem estar o mais próximo possível dos sistemas natu-
rais. Ela nasce da junção entre as palavras:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 58


A permacultura se vale de conhecimentos de várias disciplinas científicas, como a Ecologia, a
Biologia, a Geografia, Arquitetura, entre várias outras, visando estabelecer sistemas harmônicos
com a natureza. Consiste, inclusive, no planejamento e execução de sistemas sustentáveis, unin-
do práticas ancestrais com conhecimentos científicos e modernos. Ela se baseia em três pilares:

São estas éticas que vão basear os conceitos da permacultura. Estimula-se que os produtores
adeptos à permacultura estejam atentos às dinâmicas da natureza, se colocando como parte
integrante dos sistemas. Acompanhe mais informações sobre esse estilo de agricultura.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 59


Metodologia de design de propriedades
A permacultura começa com um planejamento, chamado de metodologia de design
de propriedades, ou “planejamento permacultural”. Nessa etapa, são pensadas as
necessidades das pessoas, das plantas e dos animais presentes no agroecossistema.

Formas de conectar as atividades


A partir do planejamento, são criadas formas de conectar as atividades desses seres
vivos para que haja o melhor aproveitamento da água, fertilidade, do calor, entre
outros. A ideia é que o ciclo se feche na propriedade, evitando qualquer perda e com
o mínimo de esforço, de modo que todos os que vivem nela tenham suprido as suas
necessidades.

Promove a diversidade, resiliência e estabilidade


Esses sistemas visam, além de promover a diversidade, promover a resiliência e a
estabilidade dos ecossistemas. O grande diferencial desse estilo de agricultura é a
promoção do design ecológico de modo tal que favoreça a aproximação da natureza
com as sociedades envolvidas. Por isso, nas suas construções são utilizados os mate-
riais disponíveis no local, como barro, pedras, galhos e palhas.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 60


Inspira-se no formato oval
Essa agricultura se inspira no formato oval, que também está presente no símbolo da
permacultura. Para ele, a natureza é formada por ciclos e, por isso, as formas circula-
res são tão aproveitadas nos desenhos na permacultura.

A permacultura se vale do
princípio ético em rela-
ção ao uso dos recursos
naturais. O redesenho não
se restringe aos sistemas
agrícolas, mas também na
forma como as pessoas
vivem, como se relacio-
nam, a energia que as
pessoas utilizam para
sobreviver e os alimentos
que consomem.

Tudo é pensado para que


o impacto da vida huma-
na minimize as perturba-
ções prejudiciais ao meio
ambiente.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 61


Os sistemas agroflorestais
biodiversos e sistemas
agroflorestais
simplificados
Os sistemas agroflorestais, os SAFs, são
sistemas que incorporam o elemento arbó-
reo com a produção agrícola ou animal. Em
uma propriedade rural, as árvores atuam na
melhoria ambiental, pois geram sombra, bio-
massa, armazenam e disponibilizam a água
no solo, funcionam como habitat para uma
diversidade de animais no solo e em suas
copas.

O uso de árvores no sistema agrícola tam-


bém pode ser uma opção de renda extra
para os produtores, pois as árvores podem
ser utilizadas na produção de frutos para
comercialização, e podem fornecer madei-
ra para ser utilizada como lenha ou para a
fabricação de móveis. Por serem de ciclo
longo, as árvores são consideradas como
poupanças verdes, e ajudam as famílias em
momentos de entressafra.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 62


Há várias formas de se estabelecer um SAF em uma propriedade rural. Eles variam quanto à es-
trutura e ao desenho, que são adequados conforme o tipo e a quantidade de espécies que serão
implantadas. Veja a seguir as duas classificações existentes:

Simplificados

São consórcios que utilizam poucas espécies associadas.

Biodiversos

Aqueles que simulam ecossistemas de floresta e apresentam alta diversidade de


espécies.

Vamos acompanhar mais uma conversa entre Douglas e Ro-


berta? Nesse diálogo que você verá a seguir, Roberta irá expli-
car algumas características sobre os SAFs.
Vale destacar que este conteúdo está disponível no seu Am-
SAFs
biente Virtual de Aprendizagem (AVA), em formato de áudio. Sistemas Agroflorestais

Se você estiver conectado à internet e quiser ir direto para a


página do portal EAD do Senar, clique no ícone ao lado.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 63


Quem sabe, compartilha
Douglas: Oi, Roberta! Há tempos atrás, eu ouvi falar que é pos-
sível ter árvores também na propriedade para melhora ambien-
tal. É verdade isso? Como funciona?
Roberta: Oi, Douglas! Isso é chamado de sistema agroflores-
tal; ele se baseia na sucessão ecológica, como os ecossistemas
naturais de floresta, aproveitando ao máximo os ciclos de cada
planta. Com os sistemas agroflorestais, busca-se aproveitar os
espaços, não apenas horizontais, mas também verticais, estimu-
lando o aproveitamento de todos os estratos.
Douglas: Você pode explicar mais sobre as florestas?
Roberta: Claro! A pesquisa florestal divide as florestas de acordo
com sua estratificação. As partes que são mais próximas ao solo
são chamadas de estratos inferiores, e aquelas mais próximas
das copas das árvores são chamadas de estratos superiores. Por
isso, não apenas espécies forrageiras e arbustivas são utilizadas,
como também as trepadeiras, como feijão, maracujá e chuchu,
que podem ocupar o estrato médio das florestas.
Roberta: Os sistemas agroflorestais biodiversos aproveitam
todas as possibilidades das plantas, mas, antes da sua implanta-
ção, os produtores precisam planejá-los rigorosamente, preven-
do colheitas permanentes e de diversas formas. É necessário um
manejo constante das plantas, com a realização de podas várias
vezes ao ano para que haja luminosidade suficiente em algumas
partes do sistema. Os restos de poda podem ser incorporados

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 64


ao solo para fertilização, proteção da biota do solo, e para evitar
a perda de umidade.
Douglas: Mas esses sistemas existem no Brasil?
Roberta: Existem sim, Douglas! Várias experiências podem ser
encontradas no Brasil. Uma delas é chamada também de agri-
cultura sintrópica, que consiste na formação de áreas altamente
produtivas e independentes de insumos externos, com objetivo
de preservação ambiental e produção de serviços ecossistêmi-
cos. O plantio é orientado pela sucessão natural e pela estratifi-
cação, respeitando a função de cada planta.
Roberta: É interessante saber também que os sistemas agro-
florestais apresentam níveis de desenvolvimento, os quais são:
placenta, que é a fase de criação e estabelecimento das culturas;
acumulação, que é a fase de fortalecimento e nutrição das plan-
tas; e abundância ou escoamento, que são as colheitas.
Roberta: Também é possível integrar as árvores, as pastagens
e os animais em uma mesma área! Os sistemas silvopastoris ou
silvipastoris também são considerados um tipo de sistema agro-
florestal, integrando a produção animal e vegetal com a produ-
ção de espécies arbóreas.
Douglas: Nossa, Roberta! Então você está me dizendo que eu
posso ter benefício nas duas produções?
Roberta: Exatamente! Nesse sistema, ambos se beneficiam: os
animais são considerados recicladores de energia, pois produ-
zem esterco que é utilizado como fertilizante, e pode atuar no
controle de pragas e doenças das plantações. As árvores pro-

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 65


duzem sombra e conforto térmico para os animais, além das
espécies leguminosas contribuírem para a adubação do solo,
como a leucena, o angico, a timbaúva, entre outras.
Douglas: Uau, Roberta, realmente os sistemas agroflorestais
podem ser muito vantajosos para a propriedade. Muito obriga-
do por falar sobre eles!
Roberta: É verdade, Douglas. Seria muito interessante esse
tipo de produção na sua propriedade. Se tiver mais questões,
pode contar comigo.

Para complementar o assunto da conversa que você acabou de ler, nesses sistemas, nos primei-
ros anos de implantação das árvores, quando os animais não circulam nas áreas ainda, há a pos-
sibilidade de produção de culturas agrícolas. Quando os animais podem circular, nas entrelinhas
das árvores costuma-se cultivar pastagens. De algumas espécies, por exemplo a amora (Morus
nigra), que tolera bem podas drásticas, é possível fornecer os resíduos de poda como alimenta-
ção complementar para os animais, otimizando de forma máxima o aproveitamento das áreas
agrícolas. Fique de olho em mais uma dica da Roberta!

Não é qualquer árvore ou planta que pode ser implantada


em sistemas silvopastoris. Algumas podem ser consideradas

Você sabia? tóxicas para os animais, como o Timbó (Ateleia glazioviana),


tóxica para bovinos, ou provocar ferimentos, como aquelas
que possuem espinhos – é o caso da Araucária (Araucaria
angustifolia).

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 66


Os sistemas biodinâmicos de produção
A agricultura biodinâmica nasce em meados dos anos 1920 e está orientada pela antroposofia, que é uma
filosofia que aborda a vida humana em diversos níveis, como o físico, o vital, o espiritual.
Para os produtores biodinâmicos, a relação entre a natureza, as plantas, os animais e o ser humano tem
conexões profundas, e a propriedade rural deve ser entendida como um “Organismo Agrícola”. Os conhe-
cimentos dos povos tradicionais são reconhecidos e adaptados para os tempos atuais e em suas práticas. 
Além de seguir com a base de cuidados com os recursos naturais praticados na agricultura orgânica, co-
nheça mais algumas características desse tipo de agricultura.

A agricultura biodinâmi- Os preparados biodinâ- Ademais, tudo que é Para os produtores


ca incorpora dois pon- micos são misturas de realizado na agricultura dessa agricultura, a
tos que a diferencia das origem mineral, vegetal deve ser orientado pelas lua e os signos solares
outras formas: a primei- e animal que, ao serem forças naturais, que (constelações) influen-
ra é o uso de biopre- diluídas, podem ser são regidas pela força ciam o plantio, a posição
parados, e a segunda a aplicadas ao solo ou nos da atração da lua, pela da seiva, a colheita e até
influência do calendário vegetais. configuração dos plane- a resistência da vegeta-
astral em suas práticas. tas e das constelações ção contra as pragas.
em relação à Terra.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 67


Veja, a seguir, as fases da lua e a influência sobre a seiva das plantas:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 68


Para ajudar os produtores a se organizarem, a Editora Antroposófica elabora todos os anos
o Calendário Biodinâmico. Esse material contém um estudo da posição dos planetas, conste-
lações e da lua em relação à Terra, além da orientação das práticas mais indicadas para cada
uma das configurações.
Os produtores que aderem a esse estilo de produção costumam realizar cursos para aprender
a produzir os preparados e a entender a filosofia que orienta as suas práticas.

A Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, no início


denominada de Centro Demeter, é localizada no Estado de
São Paulo, e é uma das instituições responsáveis pela organi-

Você sabia? zação de cursos e capacitações. A produção biodinâmica tem


um sistema de certificação próprio (também segue os pa-
drões legais da produção orgânica) e algumas marcas regis-
tradas, como a Demeter® e Biodinâmico/a®.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 69


Suas
conquistas! Você sabia?
Você conquistou a terceira fase de estudo e já pode con- Lembre-se de que, no AVA, você
cluir o módulo! deve responder uma pergunta para
conquistar sua recompensa e, as-
sim, desbloquear a aula seguinte.
O desbloqueio das aulas irá lhe ga-
rantir o selo do módulo, e, na tela
de conclusão, você poderá baixar o
áudio contendo o resumo no canal
de podcast do Um Giro no Agro.
Ele é um excelente recurso para
rever todos os temas do módulo
quando quiser!

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 70


Conclusão
Módulo 1

Foto: Wenderson Araujo. Sistema CNA/Senar


Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 71
Chegamos ao fim deste primeiro mó-
dulo do curso.

Esperamos que você tenha compreen-


dido o conceito de Agroecologia, que
se trata de um campo de conhecimen-
to que possui uma série de princípios
para orientar as práticas agrícolas
sustentáveis. Esses princípios são:

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 72


• aumentar a diversidade nos sistemas agrícolas, que se manifesta na diversidade
vegetal, animal, dos microrganismos presentes no solo e nas florestas;

• a não utilização de insumos produzidos industrialmente, como fertilizantes e de-


fensivos agrícolas;

• a ciclagem de nutrientes e a garantia de que os ciclos vitais sejam mantidos;

• o cuidado com a qualidade da água e dos solos.

Ademais, a transição agroecológica é uma etapa em que os


produtores passam de uma forma de produção convencional
para uma agroecológica, e requer alguns passos. Esses ele-
mentos são fundamentais para a agroecologia, e devem ser
seguidos por todos os estilos de agricultura.

E lembre-se de que na tela de conclusão do AVA você poderá baixar sua recompensa por suas
conquistas, o áudio contendo o resumo no canal de podcast do Um Giro no Agro, cujo tema é:
Princípios de Agroecologia!Acesse e garanta a sua recompensa!

A seguir, você poderá analisar as questões da Atividade de Aprendizagem do módulo 1.

Siga em frente!
Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 73
Atividade de
aprendizagem
Módulo 1

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 74


Viu só quanta coisa você já aprendeu até aqui? E ainda tem muito mais pela frente!

A revisão a seguir está disponível no AVA em formato de vídeo.


E atenção! O conteúdo do módulo 2 só será liberado após a
conclusão da atividade dentro do AVA.
As respostas devem ser enviadas obrigatoriamente por lá.
Dessa forma, você terá um feedback confirmando se você res-
pondeu corretamente ou se deverá tentar novamente. Depois
da segunda tentativa, a resposta correta será apresentada.
Se você estiver conectado à internet e quiser ir direto para a
página do Portal EAD do Senar, clique no ícone ao lado.

Retrospectiva da
produção orgânica
Vamos começar falando sobre as principais diferenças da Agroecolo-
gia e da produção convencional. Vamos lá?
Falando em produção convencional, ela é voltada para uma ou pou-
cas culturas agrícolas, o que a difere da produção orgânica, que foca
em aumentar a quantidade dos seus cultivos, tendo várias culturas

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 75


agrícolas.
Quanto maior for a diversidade de cultivos, maiores serão as opor-
tunidades dos produtores para a comercialização.
A interação entre as plantas tende a reduzir o uso de fertilizantes e
favorece o manejo de pragas.
Com o aumento da diversidade de cultivos, é possível promover culti-
vos rotativos. Mas como isso é possível?
Um exemplo é intercalar os cultivos com plantas leguminosas.
As leguminosas têm a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico,
que é um dos elementos químicos principais para nutrição das plan-
tas.
Não podemos deixar de falar também da integração da produção
animal e vegetal, pois a produção orgânica otimiza os espaços pro-
dutivos.
A produção convencional é baseada no uso intensivo de insumos, a
maioria com produção externa, ou seja, de origem da indústria quí-
mica, como os fertilizantes e pesticidas.
Já a produção orgânica prevê a utilização reduzida da quantidade
de insumos externos, orientando que, quando necessários, esses
insumos sejam oriundos de sistemas de produção orgânica.
Quanto ao reflorestamento, bastante presente na Agroecologia, há
um benefício em termos de aumento da biodiversidade, da proteção
das águas e preservação do solo.
Na cultura agroecológica, há incentivo da cooperação entre os pro-

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 76


dutores e atuação em redes colaborativas para que haja troca de
informações e união.
A Transição agroecológica é a mudança de agroecossistemas con-
vencionais para agroecossistemas mais sustentáveis.
E é importante que você se lembre que são recomendadas medidas
gradativas, e que há uma série níveis a serem seguidos para essa
transição!
A agroecologia favorece a manutenção do solo enquanto organismo
vivo!
Ela estabelece métodos de manejo que visam reduzir os impactos e
promover a diversidade de vida presente nos solos.
Existem alguns métodos de produção agroecológica e orgânica que
contemplam técnicas distintas, mas que têm a sustentabilidade
como orientação. Veja só!
Pela Legislação brasileira, especificamente a Lei número 10.831 de
2003, qualquer produto que esteja dentro das exigências de produ-
ção sustentável pode ser considerado orgânico, mesmo que sejam
praticados outros estilos de agricultura. Vamos conhecê-los?
Na permacultura, são pensadas as necessidades das pessoas, das
plantas e dos animais presentes no agroecossistema; são criadas
formas de conectar as atividades desses seres vivos para que haja o
melhor aproveitamento da água, da fertilidade e do calor, entre outros
elementos.
Nos sistemas agroflorestais, incorporam-se elementos arbóreos à
produção agrícola ou animal, como no caso dos sistemas silvopasto-

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 77


ris, em que plantas e animais se beneficiam.
Para os produtores biodinâmicos, todos os seres vivos têm cone-
xões profundas, e a propriedade rural deve ser entendida como um
“Organismo Agrícola”, usando biopreparados e um calendário astral
em suas práticas.
Esperamos que você tenha relembrado o conteúdo. Você está agora
pronto para seguir em frente!

Trouxemos as questões aqui, pois assim você poderá ler os enunciados com calma
e atenção e, caso precise, antes de ir ao AVA, poderá rever os pontos que serão
analisados.
Então, veja as questões:

1. Se você tivesse que explicar para os seus vizinhos e amigos sobre o conceito
de agroecologia, como você o descreveria?

a. Um conjunto de práticas, que requer ferramentas e insumos especializa-


dos e que são de difícil acesso para a maioria dos produtores brasileiros.

b. Um campo de conhecimentos científicos que busca incorporar noções da


sustentabilidade nas práticas agrícolas.

c. Uma lei voltada à agricultura sustentável no Brasil para os grandes pro-


dutores.

d. Um movimento social que busca a eliminação da grande propriedade de


terras no Brasil.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 78


2. O produtor Douglas possui inúmeras espécies mantidas em sua propriedade agro-
ecológica, o que o ajuda a ter sempre produtos para serem comercializados na feira e
também para aumentar os ingressos econômicos. Sabemos que uma propriedade agro-
ecológica possui uma série de princípios que são muito diferentes de uma propriedade
que produz de forma convencional. Indique a alternativa que apresenta um aspecto da
produção agroecológica que se distingue da convencional.

a. Redução do número de espécies para poder aumentar a produtividade.

b. Aumento do uso de insumos externos.

c. Integração da produção animal e vegetal.

d. Restrição das áreas florestais.

3. O produtor Douglas ouviu sobre os benefícios da produção orgânica e de como o


mercado para esses produtos está crescendo. Assim, ele resolveu mudar seu sistema de
produção, e quer começar a produzir de forma orgânica. Ele procurou a técnica do mu-
nicípio, Roberta, para lhe auxiliar, e ficou sabendo que precisaria passar por um período
de transição agroecológica. Com base no que estudamos neste módulo, você saberia
indicar quais as primeiras ações a serem realizadas pelo produtor na propriedade?

a. Uma etapa de avaliação dos cultivos para iniciar com a redução dos insumos
químicos e, em seguida a sua substituição, trocando-os por alguns orgânicos e
biodinâmicos. Com o tempo, ele poderia pensar em reorganizar os cultivos, utili-
zando cultivos integrados.

b. Começar do zero! Retirar todos os cultivos que ela mantinha, eliminar todos os
insumos químicos, e buscar cultivos novos e orgânicos, que serão cultivados sem
a adição de nenhum produto que tenha procedência fora da propriedade.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 79


c. Recomendaria que Douglas mantivesse pelo menos um ou dois anos de proprie-
dade livre de cultivos e do uso de insumos químicos para promover uma limpeza
na área. Após, iniciaria uma produção totalmente livre de insumos químicos.

d. Douglas precisa inicialmente entrar em uma associação ou rede, pois atualmente


é a única forma de comercializar os produtos orgânicos. Só a partir de quando
estiver cadastrado em uma poderia começar a fazer mudanças na propriedade
rural.

4. A agroecologia estabelece, como um dos seus princípios, a promoção e a conserva-


ção da biodiversidade nos agroecossistemas agrícolas, a chamada agrobiodiversidade.
Numa propriedade rural, como é possível identificá-la?

a. A agrobiodiversidade está presente na diversidade de pessoas e de sistemas


produtivos, como o tipo de plantas e animais mantidos na atividade agrícola, e na
diversidade de máquinas e de ferramentas utilizadas na agricultura.

b. A agrobiodiversidade está presente em todos aqueles organismos que são ape-


nas utilizados diretamente na agricultura: sejam animais, tais como o gado, gali-
nha, porcos, ou vegetais, como o milho, o feijão, entre outros.

c. A agrobiodiversidade se refere, em sua maioria, à grande variedade de cultivares


crioulas disponíveis para a agricultura orgânica. Entretanto, excluem-se desse
conceito os animais crioulos, que são aqueles mais rústicos, pois a criação desses
animais é difícil em ambientes orgânicos.

d. A agrobiodiversidade está presente nas plantas e nos animais que são utilizados
na agricultura, além daqueles organismos que afetam indiretamente na agricultu-
ra, como os polinizadores, dispersores e biota do solo.

Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 80


4. O produtor Douglas foi em um curso de capacitação sobre agroecologia e
sistemas de produção agroecológica, onde aprendeu várias técnicas que pode
aplicar na sua propriedade. Uma delas lhe chamou a atenção, na qual entende-
-se que as práticas agrícolas são baseadas nos ciclos da lua e nas constelações.
Os ministrantes do curso explicaram como organizar os plantios e as colheitas,
sempre considerando o tipo de alimentos a ser produzidos e a fase da lua que
melhor se adequa. Ademais, produtores que seguiam esse sistema de produção
utilizavam alguns preparados com substâncias vegetais e animais que ajudam a
estimular o crescimento das plantas. Entretanto, o Douglas esqueceu do nome
dessa forma de praticar agricultura. A qual sistema de produção ele se refere?

a. Permacultura.

b. Sistemas agroflorestais.

c. Agroecologia.

d. Biodinâmica.

Parabéns!
Assim, você finalizou a leitura do módulo 1,
e está pronto para avançar com a leitura do
próximo módulo.

Siga em frente e
continue seus estudos.
Módulo 1 – Princípios de Agroecologia pg. 81

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