Você está na página 1de 14

1.

TOXOPLASMA GONDII
MORFOLOGIA E HABITÁT

O Toxoplasma gondii é um parasita intracelular que possui diferentes formas ao longo do seu ciclo
de vida. Essas formas são adaptadas para sobreviver e se reproduzir em diferentes ambientes e
hospedeiros.

Taquizoítos:

 Forma encontrada em várias células do hospedeiro, incluindo líquidos orgânicos, excreções e


várias células teciduais.
 São pouco resistentes ao suco gástrico e são destruídos rapidamente.
 Desempenham um papel crucial na disseminação inicial da infecção.

Bradizoítos (ou cistozoítos):

 Encontrados em vários tecidos durante a fase crônica da infecção.


 São encontrados dentro de cistos teciduais, rodeados por uma membrana resistente.
 Multiplicam-se lentamente por endodiogenia ou endopoligenia dentro dos cistos.
 Cistos têm parede resistente, protegendo os bradizoítos dos mecanismos imunológicos do
hospedeiro.
 Bradizoítos são mais resistentes a enzimas digestivas e podem permanecer viáveis nos tecidos
por anos.
 Podem também ser encontrados em algumas cepas durante a fase aguda da infecção.

Oocistos:

 Forma de resistência que possui parede dupla, altamente resistente ao ambiente externo.
 Produzidos nas células intestinais de felídeos não-imunes e eliminados nas fezes.
 São esféricos e, após esporulação no meio ambiente, contêm dois esporocistos, cada um com
quatro esporozoítos.
 Responsáveis pela contaminação ambiental e transmissão oral da infecção.

O Toxoplasma gondii exibe essas diferentes formas como parte de seu ciclo de vida complexo,
permitindo sua adaptação a diferentes situações e assegurando sua sobrevivência e propagação
dentro de uma variedade de hospedeiros e ambientes.

O ciclo biológico do T: gondii desenvolve-se em duas fases distintas:

Fase Assexuada: nos linfonodos e nos tecidos de vários hospedeiros (inclusive gatos e outros
felideos)

Fase Coccidiana ou Sexuada: nas células do epitélio intestinal de gatos jovens (e outros felídeos)
não-imunes.

Desta forma, T: gondii apresenta um ciclo heteroxeno, no qual os gatos são considerados
hospedeiros completos ou definitivos por possuírem um ciclo coccidiano, apresentando uma fase
sexuada dentro do vacúolo parasitóforo do citoplasma, nas células epiteliais do intestino e um ciclo
assexuado ocorrendo em outros tecidos. O homem e outros mamíferos, com as aves, são
considerados os hospedeiros incompletos ou intermediários, pois possuem apenas o ciclo
assexuado.
Fase asSexuada

Um hospedeiro suscetível (como o homem) ao ingerir oocistos maduros contendo esporozoítos,


encontrados em alimentos ou água contaminada, cistos contendo bradizoítos presentes na carne crua
ou, mais raramente, taquizoítos eliminados no leite, pode adquirir o parasita e iniciar a fase
assexuada.

As formas de taquizoítos que alcançam o estômago serão destruídas, enquanto aquelas que
penetram na mucosa oral ou são inaladas podem evoluir da mesma maneira que os cistos e oocistos.

O processo ocorre da seguinte forma:


Cada esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto, liberado no tubo digestivo, sofre intensa multiplicação
intracelular, semelhante aos taquizoítos. Após uma rápida passagem pelo epitélio intestinal, invade
vários tipos de células do organismo, formando um vacúolo parasitóforo. Nesse local, ocorrem
divisões sucessivas por endodiogenia, resultando na formação de novos taquizoítos (fase
proliferativa). Esses novos taquizoítos rompem a célula hospedeira, liberando-se para invadir novas
células.

A disseminação do parasita no organismo ocorre por meio de taquizoítos livres na linfa ou no


sangue circulante, podendo desencadear uma série de sintomas, cuja gravidade varia de acordo com
a quantidade de formas infectantes adquiridas, cepa do parasita (virulenta ou avirulenta) e a
suscetibilidade do hospedeiro.
Essa fase inicial da infecção, conhecida como fase proliferativa, caracteriza a fase aguda da doença.

Nesse ponto, a evolução da infecção pode levar à morte do hospedeiro, especialmente em fetos ou
indivíduos com comprometimento imunológico, ou pode diminuir e cessar devido ao
desenvolvimento de uma resposta imune específica.
Com o surgimento da imunidade, os parasitas extracelulares diminuem em quantidade no sangue,
linfa e órgãos viscerais, resultando em uma redução do parasitismo.

Alguns parasitas podem evoluir para a formação de cistos. Essa fase cística, caracterizada por
sintomas mais leves, marca a fase crônica da infecção. Essa fase pode persistir por um longo
período, ou, devido a mecanismos ainda não completamente compreendidos (como diminuição da
imunidade ou resistência, alterações hormonais etc.), pode ocorrer uma reativação, manifestando
sintomas semelhantes à primoinfecção .
Os processos de reprodução assexuada incluem:

 Endodiogenia: Divisão assexuada especializada em que duas células-filhas são formadas dentro
da célula-mãe.
 Endopoligenia: Processo semelhante ao anterior, mas mais rápido e resultando em maior
formação de taquizoítos. É uma forma de endodiogenia múltipla.

Fase Cocidiana

O ciclo coccidiano do Toxoplasma gondii ocorre exclusivamente nas células epiteliais,


principalmente do intestino delgado de gatos e outros felídeos jovens.

Durante esse ciclo, há fases assexuada (merogonia) e sexuada (gamogonia) do parasita, tornando
esses animais hospedeiros definitivos.

Um gato jovem e não-imune, ao ingerir oocistos, cistos ou taquizoítos, desenvolve o ciclo sexuado.
Esporozoítos, bradizoítos ou taquizoítos que entram nas células do epitélio intestinal multiplicam-se
por endodiogenia e merogonia, gerando merozoítos.

O conjunto desses merozoítos, chamado de meronte ou esquizonte maduro, forma-se no vacúolo


parasitóforo da célula.

Quando a célula se rompe, os merozoítos são liberados, invadem novas células epiteliais e se
transformam nas formas sexuadas: gametófitos masculinos e femininos. Após amadurecerem, os
gametas masculinos móveis (microgametas) e os femininos imóveis (macrogametas) são formados.
Os microgametas fecundam os macrogametas, originando o zigoto, que se desenvolve no epitélio,
formando um oocisto de parede dupla. A célula epitelial rompe-se, liberando o oocisto imaturo nas
fezes.

Fora do hospedeiro, o oocisto passa por esporogonia durante cerca de quatro dias, resultando em
dois esporocistos, cada um contendo quatro esporozoítos. Um gato jovem pode eliminar oocistos
por cerca de um mês.

Em condições ideais de umidade, temperatura e sombra, o oocisto pode permanecer infectante por
12 a 18 meses.

O período entre a infecção e a eliminação de novos oocistos nas fezes dos felídeos (período pré-
patente) varia com a forma ingerida: três dias para cistos, 19 dias ou mais para taquizoítos e 20 ou
mais dias para oocistos. Este ciclo complexo permite a sobrevivência e propagação do Toxoplasma
gondii, especialmente em gatos e outros felídeos jovens, contribuindo para sua posição como
hospedeiros definitivos

TRANSMISSÃO

A infecção pelo T. gondii constitui uma das zoonoses mais difundidas no mundo. Em todos os
países, grande parte da população humana e animal (mais de 300 espécies de ani?mais entre
mamíferos e aves - domésticos ou silvestres) apresenta parasitismo pelo T. gondii. Em algumas
regiões, 40 a 70 % dos adultos aparentemente sãos apresentam-se positivos para toxoplasmose, em
testes sorológicos.

Essa variação da prevalência parece ser devida a fatores geográficos, climáticos, hábitos
alimentares, tipo de trabalho etc., indicando que os mecanismos de transmissão devem ocorrer
através de várias formas do parasito: oocistos em fezes de gato jovem infectado, cistos presentes em
carnes e taquizoítos no sangue atingindo a placenta. O ser humano adquire a infecção por três vias
principais:

1) Ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminadas, jardins, caixas de areia, latas
de lixo ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, minhocas etc.

2) Ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mal cozida, especialmente do' porco e do
carneiro. Os cistos resistem por semanas ao frio, mas o congelamento a 12°C ou o aquecimento
acima de 67°C os mata.

3) Congênita ou transplacentária: o risco da transmissão uterina cresce de 14% no primeiro


trimestre da gestação após a infecção materna primária, até 59% no último trimestre da gestação. É
interessante esclarecer que as mulheres que apresentam sorologia positiva antes da gravidez têm
menos chance de infectar seus fetos do que aquelas que apresentarem a primoinfecção durante a
gestação.
Mais raramente pode ocorrer ingestão de taquizoítos em leite contaminado ou saliva, acidente de
laboratório, transmissão por transplante de órgãos infectados' etc.

Conforme será mostrado na Patogenia, as manifestações da toxoplasmose podem ser bastante


variadas. Entretanto, em vista das possíveis anomalias que podem ocorrer no feto, a transmissão
congênita é a mais grave. As vias de in?fecção mais prováveis para o feto são:

Transplacentária: quando a gestante adquire a toxoplasmose durante a gravidez apresentando a fase


aguda da doença, poderá transmitir T gondii ao feto, tendo os taquizoitos como forma responsável.

Rompimento de cistos no endométrio: apesar da gestante apresentar a doença na fase crônica, al?
guns cistos localizados no endométrio poderiam, em raras situações, se romper (distensão mecânica
ou ação lítica das vilosidades coriônicas da placenta), liberando os bradizoítos que penetrariam no
feto.

PATOGENIA

Segundo os especialistas, o número de pessoas com sorologia positiva para T. gondii é enorme,
sendo talvez o protozoário mais difundido entre a população humana e animal (incluindo as aves e
excluindo os animais de sangue frio).

A patogenia na espécie humana parece estar ligada a alguns fatores importantes, como a cepa do
parasita, resistência da pessoa e o modo pelo qual ela se infecta. Entretanto, a transmissão congênita
é frequentemente a mais grave, e a toxoplasmose adquirida após o nascimento pode apresentar uma
evolução variável.

Conforme salientado, a patogenicidade da toxoplasmose humana depende muito da virulência da


cepa. Alguns experimentos realizados com T. gondii originários de casos humanos e inoculados em
animais de laboratório comprovam esse fato: há cepas que matam os animais (camundongos,
hamsters, ratos, coelhos, cobaias) em poucos dias; outras apenas provocam emagrecimento, anemia,
queda de pelos com posterior restabelecimento do animal.

Com o uso de quimioterapia para transplante de órgãos e medula óssea, e com o surgimento da
síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a incidência de infecção oportunista por T. gondii
tem aumentado, principalmente nas duas últimas décadas, apresentando quadros muito graves desta
doença, especialmente no sistema nervoso central.

Toxoplasmose congênita ou pré-natal

Para que se instale uma toxoplasmose congênita, é necessário que a mãe esteja na fase aguda da
doença ou tenha havido uma reagudização da mesma durante a gravidez.

As consequências da toxoplasmose materna para o feto dependerão do grau de exposição do feto


aos toxoplasmas, da virulência da cepa, da capacidade dos anticorpos maternos protegerem o feto e
do período da gestação.

Assim sendo, as gestantes na fase aguda (ou reagudizada) da doença podem abortar o feto, produzir
partos precoces ou a termo, dando origem a crianças saudáveis ou apresentando anomalias graves e
até mesmo levar à morte. Cerca de 10% das infecções pré-natais resultam em aborto ou morte.

Outros 10% a 23% de fetos infectados durante a gravidez podem mostrar sinais de toxoplasmose
clínica ao nascimento.

As alterações ou lesões fetais mais comuns devido à toxoplasmose na gravidez variam conforme o
período da gestação:

Primeiro trimestre da gestação: aborto (dados estatísticos indicam que a frequência de aborto é
dez vezes maior em gestantes com sorologia positiva do que nas normais).

Segundo trimestre da gestação: aborto ou nascimento prematuro, podendo a criança apresentar-se


normal ou já com anomalias graves, típicas (descritas por Sabin e citadas a seguir).

Terceiro trimestre da gestação: a criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença
alguns dias, semanas ou meses após o parto. Nessa situação, a toxoplasmose pode ser multiforme,
mas em geral há um comprometimento ganglionar generalizado, hepatoesplenomegalia, edema,
miocardite, anemia, trombocitopenia e lesões oculares, as quais são patognomônicas. Taquizoítos
atingem a coroide e a retina (uni ou bilateralmente), provocam inflamação e degeneração em graus
variáveis que, ao exame oftalmológico, recebem o nome de "foco em roseta". Algumas vezes, essa
infecção congênita da retina não provocará alterações no recém-nascido, uma vez que mecanismos
imunes determinam o encistamento das formas. Posteriormente, já na idade adulta, poderá haver
uma eventual reagudização das formas latentes, levando a uma toxoplasmose ocular (de origem
intra-uterina). Outras alterações oculares que também podem ocorrer são: microftalmia, nistagmo,
estrabismo, catarata e irite.

Portanto, a toxoplasmose congênita é uma das formas mais graves da doença, geralmente
provocando sintomas variados, mas comumente enquadrados dentro da "síndrome ou tétrade de
Sabin", assim caracterizada: coriorretinite (90% dos casos), calcificações cerebrais (69%),
perturbações neurológicas - retardamento psicomotor (60%) e alterações do volume craniano -
micro ou macrocefalia (50% dos casos).
TOXOPLASMOSE POS-NATAL

A toxoplasmose pós-natal pode variar significativamente em sua apresentação, dependendo da


virulência da cepa do parasita e do estado de imunidade da pessoa. Os casos podem abranger desde
quadros benignos ou assintomáticos (sendo a maioria) até casos graves que podem levar à morte.
Entre esses extremos, uma ampla gama de situações é observada, conforme a localização do
parasita:

Forma Ganglionar ou Febril Aguda:

Esta é a forma mais comum, encontrada tanto em crianças como em adultos. Envolve o
comprometimento dos gânglios linfáticos, podendo ser generalizado ou não, acompanhado de febre
alta. Geralmente segue um curso crônico e benigno, mas também pode levar a complicações em
outros órgãos, incluindo os olhos (uveíte, coriorretinite).

Forma Ocular:
A retinocoroidite é a lesão mais associada à toxoplasmose, representando de 30% a 60% dos casos.
Pode resultar de uma infecção aguda com a presença de taquizoítos ou de uma infecção crônica com
a presença de cistos contendo bradizoítos na retina.

A toxoplasmose ocular ativa se manifesta como um foco de necrose e coagulação bem definido na
retina. Além disso, pode haver inflamação difusa na retina e na coroide. Antígenos do T. gondii
frequentemente são detectados em áreas de necrose por meio de imuno-histoquímica.
Pacientes com AIDS podem apresentar lesões discretas ou multifocais, associadas a necrose difusa
da retina, inflamação leve e grande número de parasitas. Essas lesões podem resultar em perda
parcial ou total da visão, mas também podem cicatrizar com o tempo. As bordas da cicatriz
frequentemente ficam hiperpigmentadas devido à ruptura do pigmento da retina.

Cistos teciduais podem estar presentes nas bordas da cicatriz. Parece que o T. gondii chega à retina
pela corrente sanguínea na forma de taquizoítos livres ou residentes em macrófagos circulantes,
temporariamente aprisionados nos capilares da retina. Esses taquizoítos são liberados quando as
células infectadas se rompem e podem invadir a retina adjacente.

Cutânea ou Exantemática

Forma lesões generalizadas na pele.


Raramente encontrada.
Os casos conhecidos foram de evolução rápida e fatal

Cerebroespinhal ou Meningoencefálica

A toxoplasmose cerebral é rara em indivíduos saudáveis, mas com o advento da AIDS, sua
ocorrência aumentou significativamente devido à reativação de formas císticas em pessoas com
infecção latente.

Esse risco é estimado em cerca de 25% a 26% para indivíduos imunodeficientes com sorologia
positiva para toxoplasmose, variando de acordo com a região geográfica (dados de 1992). O
parasita ataca as células nervosas, resultando em múltiplas lesões focais, principalmente no
hemisfério cerebral (área frontoparietal) ou nos gânglios basais e no cerebelo.

Os sintomas incluem cefaleia, febre e anomalias focais, como hemiparesia leve até perda da
coordenação muscular, confusão mental, convulsões, letargia e, em casos graves, até estupor, coma
e óbito. Alguns pacientes podem apresentar delírios e alucinações visuais.

Atualmente, a incidência da toxoplasmose cerebral em pacientes com AIDS tem diminuído em


países que utilizam a terapia antirretroviral (HAART), o que resulta na reconstituição da imunidade
do paciente.

Generalizada

É uma forma rara, mas de evolução mortal em indivíduos com resposta imune normal.

Em imunodeficientes, têm sido registrados alguns casos de toxoplasmose sistêmica, com


comprometimento meningoencefálico, miocárdico, pulmonar, ocular, digestivo e até testicular.

DIAGNÓSTICO

Sorologia: Os testes sorológicos detectam a presença de anticorpos específicos contra o


Toxoplasma gondii no sangue. Os principais testes sorológicos incluem o teste de
imunofluorescência indireta (IFI), ensaio imunoenzimático (ELISA) e hemaglutinação. A detecção
de IgM é geralmente indicativa de uma infecção recente, enquanto a detecção de IgG indica
exposição prévia ao parasita.

Reação em Cadeia da Polimerase (PCR): A PCR é uma técnica molecular que amplifica o DNA
do parasita presente em amostras de sangue, tecidos ou líquidos corporais. Ela pode ser usada para
detecção direta do parasita e é particularmente útil em casos de toxoplasmose congênita.

Exame Microscópico: A observação microscópica de amostras clínicas, como fluidos corporais ou


tecidos, pode revelar a presença de cistos ou taquizoítos do T. gondii. Isso é geralmente feito usando
colorações especiais, como a coloração de Giemsa.

Cultura do Parasita: Embora seja mais difícil de realizar, a cultura do parasita a partir de amostras
clínicas pode ser usada para confirmar a infecção pelo T. gondii.

Biópsia: A biópsia de tecidos afetados, como a retina, pode ser realizada para detectar a presença do
parasita ou suas lesões características.

Testes de Imagem: Exames de imagem, como a ressonância magnética (RM) ou a tomografia


computadorizada (TC), podem ser usados para detectar lesões cerebrais ou oculares características
da toxoplasmose cerebral.

Testes Específicos para Toxoplasmose Congênita: Em casos de suspeita de toxoplasmose


congênita, testes específicos podem ser realizados em recém-nascidos, como testes de PCR em
líquido amniótico ou testes de IgM em amostras de sangue do cordão umbilical.

PROFILAXIA

"Vivendo o homem num mar de toxoplasma" torna-se dificil a aplicação de medidas profiláticas,
porém com base na epidemiologia, podem ser inferidos alguns procedimentos:

Não se alimentar de carne crua ou malcozida de qual?quer animal ou leite cru.

Controlar a população de gatos nas cidades e em fazendas.

Os criadores de gatos devem manter os animais dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou
seca, ou com ração de boa qualidade. Incinerar todas as fezes dos gatos.

Proteger as caixas de areia para evitar que os gatos defequem nesse local.

Recomenda-se o exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes, com ou sem histórico de
enfartamento ganglionar ou aborto.

Tratamento com espiramicina das grávidas em fase aguda (IgM ou IgA positivas).

Desenvolvimento de vacinas: vacinas com subunidades do parasito, adequadas para combater a


toxoplasmose nos seres humanos têm sido desenvolvidas, porém sem nenhum resultado preventivo
concreto até o momento.

TRATAMENTO

A toxoplasmose ainda carece de um medicamento eficaz para a fase crônica da infecção. As drogas
existentes têm ação contra os taquizoítos, mas não contra os cistos. Devido à maioria das pessoas
soropositivas não desenvolver a doença e à toxicidade das drogas em uso prolongado, o tratamento
é recomendado apenas para casos agudos, toxoplasmose ocular e indivíduos imunodeficientes com
a infecção.
Os medicamentos utilizados incluem:

 Associação de pirimetamina (Daraprim) com sulfadiazina ou sulfadoxina (Fansidar). A adição de


ácido fólico ou levedura de cerveja é indicada para evitar a toxicidade da pirimetamina.

 Toxoplasmose ocular: Tratamento com antiinflamatórios (como Meticorten) e antiparasitários,


como a associação de clindamicina, sulfadiazina e Meticorten; ou pirimetamina, sulfadiazina e
Meticorten; ou espiramicina, sulfadiazina e Meticorten. A azitromicina também pode ser uma
alternativa.

 Encefalite em pacientes com AIDS: Tratamento com associação de pirimetamina e sulfadiazina,


ou pirimetamina e clindamicina. O uso profilático de Trimetoprim e sulfametoxazol pode
prevenir a reativação de infecções latentes.

2. CONHECER O PLASMODIUM E A MALÁRIA


DEFINIÇÃO

A malária é uma doença infecciosa febril aguda. Pode ser causada por quatro protozoários do
gênero Plasmodium: Plasmodium vivax, P. falciparum, P. malariae e P. ovale. No Brasil, somente os
três primeiros estão presentes, sendo o P. vivax e o P. falciparum as espécies predominantes. É
transmitida pela picada de mosquitos do gênero Anopheles (anofelinos ou mosquito prego,
popularmente) infectados com o Plasmodium.

VETOR

A malária é transmitida pelo mosquito da Família Culicidae e Gênero Anopheles. Estes possuem
metamorfose completa, ou seja, passam pelos estágios de ovo, larva, pupa e adulto. Os estágios de
ovo, larva, pupa são aquáticos. Os adultos são terrestres. O mosquito necessita, para o seu
desenvolvimento, de criadouros de porte pequeno a médio, água limpa, fria e corrente com sombra.
Os ovos são elípticos. Cada fêmea põe 50-500 ovos individualmente. As pupas têm formato de
vírgula e constituem o estágio de transição para a forma adulta. Quando adultos, as fêmeas são
hematófagas e precisam do repasto sanguíneo com?pleto para o amadurecimento dos ovos.

PARASITO

A malária é causada pelo protozoário da classe Aconoidasida, Família Plasmodiidae e Gênero


Plasmodium. Existem cinco espécies de Plasmodium causadoras da doença em humanos:
Plasmodium ovale, Plasmodium knowlesi, Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax e
Plasmodium malariae. O Plasmodium knowlesi é a mais recente espécie de Plasmodium humano
descrito

Plasmodium falciparu: Espécie mais agressiva que causa os casos mais graves e a maioria das
mortes. Ela afeta células vermelhas jovens e maduras, e está amplamente distribuída nos países
endêmicos, sendo mais prevalente na África.

Plasmodium vivax: Mais comum na região tropical. Invade preferencialmente células vermelhas
jovens. Forma hipnozoítos nas células hepáticas que pode causar recidivas tardias da infecção

Os Plasmodium têm uma diferença tanto de tamanho quanto de formato e aparência. Assim, o
diagnóstico de cada espécie específica o que pode ser realizada através do seu tamanho, variação de
crescimento e do linfócito pequeno e seu tamanho.

CICLO DE VIDA

O PLASMODIUM tem um ciclo de vida que necessita de dois hospedeiros diferentes para viver,
sendo um vertebrado e um invertebrado. Assim, ele se classifica como um heteroxênico

TRANSMISSÃO

A transmissão natural da malária ao homem se dá quando fêmeas de mosquitos anofelinos (gênero


Anopheles), parasitadas com esporozoítos em suas glândulas salivares, inoculam estas formas
infectantes durante o repasto sangüíneo.

As fontes de infecção humana para os mosquitos são pessoas doentes ou mesmo indivíduos
assintomáticos, que albergam formas sexuadas do parasito. Primatas não-humanos podem funcionar
como reservatórios de P malariae. A infecção natural do homem com espécies de plasmódios
simianos é pouco relatada.

Apesar de infrequente, a infecçáo malárica pode ser transmitida acidentalmente, como resultado de
transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas contaminadas e acidentes em laboratório.

A infecção congênita tem sido também raramente descrita. Nestes casos, o ciclo exo-eritrocítico não
é observado.

CICLO BIOLÓGICO DO PARASITO NO HOMEM

No homem o ciclo assexuado é também chamado de esquizogônico. Ele se ini?cia logo após a
picada do mosquito anofelino que realiza a inoculação dos esporozoítos no homem. Assim, esses
esporozoítos infectantes circulam pelo sangue até encontrar e penetrarem nos hepatócitos, células
do fígado, iniciando o que se chama de esquizogônica tecidual ou de ciclo pré-eritrocítica.2

A duração varia de acordo com a espécie:

• P. falciparum = 6 dias.
• P. vivax = 8 dias.

• P. vivax = desenvolvimento lento de alguns dos seus esporozoítos, formando os hipnozoítos


(formas latentes).

Ao final do ciclo tecidual, os esquizontes rompem o hepatócito, liberando milhares de elementos-


filhos na corrente sanguínea, chamados merozoítos. Cada espécie vai liberar, também, uma
quantidade diferente de merozoítos:

• P. falciparum = 40.000. • P. vivax = 10.000.

Os merozoítos irão invadir as hemácias, dando início ao segundo ciclo de reprodu?ção assexuada
dos plasmódios: o ciclo sanguíneo ou eritrocítico. O parasito dentro da hemácia se desenvolve por
um período de 48 a 72 horas. Após esse tempo ele rompe a hemácia e libera novos merozoítos que
invadirão novas hemácias, criando um ciclo. No início do ciclo eritrocítico, o parasito chega a fase
de esquizonte, por transformações morfológicas. Nessa fase morfológica ele então se divide e
origina novos merozoítos que irão ser lançados no sangue

P. vivax: Hemácias jovens


P. falciparum: Hemácias em qualquer fase evolutiva

CICLO BIOLÓGICO DO PARASITO NO MOSQUITO

Segundo o Ministério da Saúde (2009), a reprodução sexuada (esporogônica) do parasito da malária


ocorre no estômago do mosquito, após a diferenciação dos ga?metócitos em gametas e a sua fusão,
com formação do ovo (zigoto). Este se transforma em uma forma móvel (oocineto) que migra até a
parede do intestino médio do inseto, formando o oocisto, no interior do qual se desenvolverão os
esporozoítos. O tempo requerido para que se complete o ciclo esporogônico nos insetos varia com a
espécie de Plasmodium e com a temperatura, situando-se geralmente em torno de 10 a 12 dias. Os
esporozoítos produzidos nos oocistos são liberados na hemolinfa do inseto e migram até as
glândulas salivares, de onde são transferidos para o san?gue do hospedeiro humano durante o
repasto sanguíneo

PATOGENIA

Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da


malária. A passagem do parasito pelo figado (ciclo exo-eritrocítico) não é patogênica e não
determina sintomas.

A destruição dos eritrócitos e a conseqüente liberação dos parasitos e de seus metabólitos na


circulação provocam uma resposta do hospedeiro, determinando alterações morfológicas e
funcionais observadas no indivíduo com malária.

Os possíveis mecanismos determinantes das diferentes formas clínicas da doença baseiam-se,


fundamentalmente, na interação dos seguintes fenômenos patogênicos:

 destruição dos eritrócitos parasitados;

 toxicidade resultante da liberação de citocinas;

 seqüestro dos eritrócitos parasitados na rede capilar, no caso específico do P. falciparum;

 lesão capilar por deposição de imunocomplexos, no caso do P. malariae.

Destruição dos eritrócitos parasitados

O processo de destruição dos eritrócitos está presente em todos os tipos de malária e em maior ou
menor grau participam do desenvolvimento da anemia.

Entretanto, na maior parte dos casos, a anemia não se correlaciona com a parasitemia, indicando
que a sua gênese seja devida a outros fatores, entre os quais podem-se citar: destruição de eritrócitos
não-parasitados pelo sistema imune ou por aumento da eritrofagocitose esplênica; participação de
auto-anticorpos com afinidades tanto para o parasito como para o eritrócito; disfunção da medula
óssea estimulada por ação de citocinas (diseritropoiese).

Toxicidade resultante da liberação de citocinas


Durante a fase aguda da malária, ocorre a ativação de células imunocompetentes que produzem
citocinas, que podem afetar tanto o parasita quanto o hospedeiro de maneira negativa.

A febre resulta da liberação de pirogênios endógenos por monócitos e macrófagos ativados por
produtos do parasita. Um glicolipídeo semelhante a uma toxina bacteriana foi identificado após a
ruptura do esquizonte, o qual, junto com a hémozoína, induz a liberação de citocinas como TNF, IL-
1, IL-6 e IL-8, pelas células do sistema monocítico/macrofágico e possivelmente células endoteliais.
Essas citocinas estão associadas a sintomas da malária, como febre e mal-estar.

A concentração elevada de citocinas, especialmente TNF, está presente em malária por P. vivax e P.
falciparum. No caso da malária falciparum, o TNF está associado a um prognóstico pior e a
complicações, embora não seja estabelecida uma relação causal direta. Acredita-se que o TNF atue
diretamente no endotélio, levando à lesão e ao extravasamento de líquido para áreas importantes,
como pulmões e rins, causando malária grave pulmonar e renal.

Citocinas também afetam negativamente a gliconeogênese, levando à hipoglicemia, e influenciam a


placenta, tornando a malária gestacional mais grave para a mãe e o feto. Elas aumentam a produção
de óxido nítrico, uma substância que inibe funções celulares. Isso pode contribuir para
complicações graves, como o coma, na malária grave.

QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico da malária pode ter sua gravidade classificada em leve, moderada ou grave, tudo
depende do parasita, sua quantidade no sangue, tempo de doença e o sistema imune do paciente.

Segundo o Ministério da Saúde, (2020), no Guia prático de tratamento da malária no Brasil, temos
os sintomas da malária gerais com diferenciações que podem determinar as variações na evolução
clínica da doença, por exemplo, o P. falciparum pode resultar em forma grave e complicada,
caracterizada pelo acometimento e disfunção de vários órgãos ou sistemas.

Quadro clínico geral

Presença da clássica tríade febre, calafrio e dor de cabeça.

Sintomas gerais, como mal-estar, dor muscular, sudorese, náusea e tontura, podem preceder ou
acompanhar a tríade sintomática

Forma clínica não complicada

Período de incubação varia de 7-14 dias.


Porém em P. viviax e P. malarie pode chegar a meses. Caracterizado pelos sintomas gerais com
duração de 6-12 horas.
Após os primeiros paroxismos, a febre pode passar a ser intermitente

Forma clínica grave e complicada

Apresenta mais sintomas: prostração, alteração da consciência, dispneia ou hiperventilação,


convulsões, hipotensão arterial ou choque, edema pulmonar, hemorragias, icterícia, hemoglobinúria,
hiperpirexia (>41ºc) e oligúria.

Exames laboratoriais podem detectar uma: anemia grave, hipoglicemia, acidose metabólica,
insuficiência renal, hiperlactatemia e hiperparasitemia

DIAGNÓSTICO

Tradicionalmente, o diagnóstico da doença é feito pela visualização microscópica do plasmódio em


exame da gota espessa de sangue, corada pela técnica de Giemsa ou de Walker.

• Gota espessa: é realizado encontrando os parasitos na corrente sanguínea. Consegue diferenciar


entre as espécies de Plasmodium e seu estágio de evo?lução que circula. Também consegue calcular
a densidade da parasitemia em relação aos campos miscroscópicos.

• Testes rápidos imunocromatográficos: atuam se baseando em detectar antígenos dos parasitos


através dos anticorpos monoclonais que são encontrados através da imunocromatográfico. Realiza-
se no máximo em até 20 minutos.

A reação é revelada macroscopicamente em fita de nitrocelulose, demonstrada abaixo. Assim, os


antígenos irão se combinar com os anticorpos, formando uma banda em região específica. Cada
banda contém o anticorpo de cada espécie e existe ao fim uma banda controle, que deve sempre
corar
Conforme é trazido no Guia Prático de Tratamento da Malária no Brasil (MS,2010), as
desvantagens são:

• Não distinguem P. vivax, P. malariae e P. ovale;


• Não medem o nível de parasitemia;
• Não detectam infecções mistas que incluem o P. falciparum.

Além disso, seus custos são ainda mais elevados que o da gota espessa e pode apresentar perda de
qualidade quando armazenado por muitos meses em condições de campo

Diagnóstico diferencial

Deve-se descartar outras causas de febre prolongada, como febre tifoide, febre amarela,
leptospirose, hepatite infecciosa, leishmaniose visceral, doença de Chagas aguda e outros processos
febris. Na fase inicial, principalmente na criança, pode-se fazer o diagnóstico diferencial com
doenças infecciosas dos tratos respiratório, urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou
bacteriana.

Durante o período que se tem a febre intermitente, os diagnósticos diferencias da malária podem ser
segundo MS 200210, infecção urinária, tuberculose miliar, salmo?neloses septicêmicas,
leishmaniose visceral, endocardite bacteriana e as leucoses. Todas apresentam febre e, em geral,
esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e hepatomegalia.

TRATAMENTO

O objetivo do tratamento consiste em atingir o parasito em pontos-chaves do seu ciclo evolutivo,


assim, deve-se interromper a esquizogonia sanguínea, destruir as formas latentes e interromper a
transmissão

Quinina Age sobre os trofozoítos, esquizontes e merozoítos


Cloroquina Age sobre as formas sanguíneas exceto gametócitos de P. falciparum

Quinidina Age sobre os esquizontes hepáticos e sobre os gametócitos

Primaquina Age sobre formas hepáticas e sanguíneas

Mefloquina - Profilaxia

A decisão de como tratar o paciente com malária, segundo MS 2010 Guia de Bolso, deve ser
precedida de informações sobre os seguintes aspectos:

• Espécie de plasmódio infectante, pela especificidade dos esquemas terapêuticos a serem


utilizados;

• Idade do paciente, pela maior toxicidade para crianças e idosos;

• História de exposição anterior à infecção uma vez que indivíduos primoinfectados tendem a
apresentar formas mais graves da doença;

• Condições associadas, tais como gravidez e outros problemas de saúde;

• Gravidade da doença, pela necessidade de hospitalização e de tratamento com esquemas especiais


de antimaláricos.

• Não complicada: As medicações são de acordo com peso e idade do paciente. Consideramos um
paciente de 70 mg para as doses expostas

• Complicada: A malária de forma grave é uma emergência médica. Assim, o principal objetivo é
evitar o óbito do paciente. Dessa forma, é dado todo o su?porte à vida junto com antimaláricos
potentes.

PROFILAXIA

Permanecer no interior da habitação do anoitecer ao amanhecer


Uso do mosquiteiro
Usar roupas de mangas compridas e calças compridas
Usar repelente de insetos nas áreas de pele exposta
Não existe vacina

3. CONCEITUAR VETOR, RESERVATÓRIO E ZOONOSE

Vetor:

Um vetor é um organismo vivo, geralmente um inseto ou artrópode, que pode transportar e


transmitir um agente infeccioso, como vírus, bactérias ou parasitas, de um hospedeiro a outro.

O vetor age como um intermediário no ciclo de vida do agente infeccioso, permitindo que ele seja
transmitido de um hospedeiro a outro, muitas vezes causando a propagação da doença. Exemplos de
vetores incluem mosquitos (transmissores da malária e dengue) e carrapatos (transmissores da
doença de Lyme).
Reservatório

O reservatório é um organismo, geralmente um animal ou ambiente, onde um agente infeccioso é


mantido e pode se multiplicar, tornando-se uma fonte contínua de infecção.

Os reservatórios podem ser animais, humanos ou ambientes naturais, como solos ou corpos d'água.

Os agentes infecciosos podem se estabelecer em um reservatório de maneira assintomática ou


causar doenças. Por exemplo, roedores são frequentemente reservatórios de agentes infecciosos,
como o vírus Hantavirus.

Zoonose

Uma zoonose é uma doença infecciosa que pode ser naturalmente transmitida entre animais
vertebrados, incluindo seres humanos.

Essa transmissão pode ocorrer por meio do contato direto com animais, seus produtos (como carne,
leite) ou por vetores que transportam o agente infeccioso.

As zoonoses podem afetar tanto humanos quanto animais e podem ter um impacto significativo na
saúde pública e na economia. Exemplos de zoonoses incluem a gripe aviária, a raiva e a febre do
Nilo Ocidental.

Você também pode gostar