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Comitês

JORNAL DOS

Publicação da Sociedade Brasileira para o Estudo


da Dor | Ano 3 | 3° Trimestre de 2019 | Edição 3

Como Seria a Analgesia


Induzida pela Música?
COMPRIMIDO
3X ao dia 2

Eficácia na dor intensa e na dor oncológica 2:


equivalente a 5 mg de morfina.3

Início rápido de ação:


15-30 minutos.4

Codaten® – diclofenaco sódico + fosfato de codeína. VIA ORAL. Forma farmacêutica e apresentações: Codaten® Comprimido revestido. Embalagem com 10 e 20 comprimidos revestidos contendo 50mg de diclofenaco sódico e 50 mg de fosfato de codeína.
Indicações: Para tratamento a curto prazo (máximo de 2 semanas): dor forte causada pela inflamação das doenças degenerativas articulares (p. ex. gonartrose); dor intensa e muito intensa após intervenções cirúrgicas; dor tumoral, especialmente se os ossos
forem afetados ou se houver edema inflamatório peritumoral. Posologia: Adultos: a dose recomendada é de 1 a 3 comprimidos revestidos/dia, de preferência, antes das refeições, com líquido, sem mastigá-los. A dose máxima diária é de 3 comprimidos revestidos.
Populações especiais: Nenhum ajuste da dose inicial é necessário para idosos. Recomenda-se cautela quando administrado a pacientes com insuficiência renal leve a moderada e insuficiência hepática leve a moderada. Contraindicações: hipersensibilidade a
algum dos componentes da formulação, pacientes cujo uso de ácido acetilsalicílico ou outros AINEs pode precipitar asma, angioedema, urticária ou rinite aguda, úlcera gástrica ou intestinal ativa, sangramento ou perfuração, falência hepática, renal ou insuficiência
cardíaca grave, insuficiência respiratória, ataques agudos de asma, pneumonia, coma, gravidez e lactação. Para crianças e adolescentes. Pacientes conhecidos por serem metabolizadores ultrarrápidos da CYP2D6. Pacientes com íleo paralítico e aumento da
pressão intracraniana. Advertências e precauções: • Recomenda-se cautela em pacientes com sintomas / história de doença gastrointestinal (GI) e em idosos, devido aos riscos de hemorragia ou perfuração gastrointestinal. Deve ser interrompido se essas
condições ocorrerem. • O uso combinado com agentes protetores gástricos deve ser considerado em pacientes com histórico de úlcera, idosos e aqueles que necessitam de baixas doses de ácido acetilsalicílico. • Cuidado quando usado seletivos de recaptação de
serotonina. • Recomenda-se cautela em pacientes com colite ulcerativa ou doença de Crohn. • Recomenda-se cautela em pacientes com asma, rinite alérgica sazonal ou doenças pulmonares crônicas. • Riscos de reações alérgicas graves. Deve ser descontinuado
se essas condições ocorrerem. • Recomenda-se cautela em doentes com insuficiência hepática (incluindo porfiria). • Monitoramento da função hepática durante o tratamento prolongado. • Cuidado com retenção de líquidos grave e edema. • Monitoramento da
função renal é recomendado em pacientes com história de hipertensão, insuficiência cardíaca ou renal, depleção de volume extracelular, idosos, pacientes em tratamento com diuréticos ou medicamentos que tenham impacto na função renal. • Recomenda-se
cautela em pacientes com fatores de risco cardiovasculares • Monitoramento de hemogramas é recomendado durante o tratamento prolongado. • Monitoramento é recomendado em pacientes com problemas de hemostasia. • Avaliar a relação risco-benefício em
casos de dependência à opiáceos, inconsciência, situação de pressão cerebral elevada, no uso concomitante com inibidores da MAO. • Monitoramento é recomendado para idosos, pacientes com função renal reduzida e pacientes com distúrbios respiratórios. •
Deve-se evitar o uso concomitante de diclofenaco com outros AINEs sistêmicos, incluindo inibidores seletivos da cicloxigenase-2. • Existe o risco de dependência no uso prolongado e tolerância cruzada a outros opiáceos. Havendo dependência de opiáceo anterior
(mesmo aqueles em remissão), deve-se contar com recaídas rápidas. Para dependentes de heroína, a codeína é considerada como substância substituta. Dependentes de álcool e sedativos também tendem a abuso e dependência da codeína. • Pode mascarar
sinais e sintomas de infecção. • Podem ocorrer efeitos nervosos centrais como cansaço, sonolência, tontura e distúrbios visuais, podendo afetar a capacidade de dirigir e/ou operar máquinas. • Não administrar durante a gravidez e/ou lactação. • Codeína pode
causar hipotensão ortostática e sincope. Existe risco de hipotensão grave em indivíduos com a capacidade de manter a pressão arterial comprometida. • Utilizar com cautela em pacientes com hipotireoidismo, devido ao potencial de depressão respiratória. • É
recomendado precaução especial em pacientes com falência respiratória. • Existem riscos quando coadministrado com benzodiazepínicos ou outros depressores SNC. • Monitoramento é recomendado em pacientes com hipertrofia prostática. • Codeína pode
causar confusão e sedação excessiva em idosos. A duração máxima do tratamento é de 2 semanas. Reações adversas: Comuns: cefaleia, tontura, fadiga, vertigem, náusea, vômito, diarreia, dispepsia, dor abdominal, flatulência, diminuição do apetite, constipação,
aumento de transaminase e rash. Incomuns: infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, palpitações e dor no peito. Raras: hipersensibilidade, reação anafilática e anafilactoide (incluindo hipotensão e choque), sonolência, asma (incluindo dispneia), gastrite,
hemorragia gastrintestinal, hematêmese, diarreia hemorrágica, melena, úlcera gastrintestinal (com ou sem sangramento, estenose ou perfuração gastrintestinal, que pode levar a peritonite), boca seca, hepatite, icterícia, distúrbio no fígado, urticária, edema. A codeína
pode aumentar o tônus da musculatura lisa, especialmente em doses individuais acima de 60 mg. Muito raras: trombocitopenia, leucopenia, anemia (incluindo hemolítica e anema aplástica), agranulocitose, angioedema (incluindo edema de face), desorientação,
depressão, insônia, pesadelos, irritabilidade, distúrbio psicótico, parestesia, diminuição de memória, convulsão, ansiedade, tremor, meningite asséptica, disgeusia, acidente cerebrovascular, comprometimento visual, visão embaçada, diplopia, zumbido, diminuição
da audição, hipertensão, vasculite, pneumonite, colite (incluindo enterocolite hemorrágica, colite isquêmica e exacerbação de colite ulcerativa ou doença de Crohn), estomatite, glossite, distúrbios esofágicos, doença intestinal bolhosas, eczema, eritema, eritema
multiforme, síndrome de Stevens-Johnson, necrólise epidérmica tóxica (síndrome de Lyell), dermatite esfoliativa, alopecia, reação de fotossensibilidade, púrpura, púrpura de Henoch-Schoenlein, prurido, insuficiência renal aguda, hematúria, proteinúria, síndrome
nefrótica, nefrite intersticial, necrose papilar renal, ganho de peso. Frequência desconhecida: agitação, nervosismo, alucinações, estado confusional, hipotermia, taquicardia, síncope, hiperidrose, astenia, retenção urinária, mal-estar, inchaço, Síndrome de Kounis.
Interações medicamentosas: inibidores potentes de CYP2C9, lítio, digoxina, diuréticos e anti- hipertensivos (ex.betabloqueadores e inibidores da ECA), ciclosporina, medicamentos conhecidos por causar hipercalemia, antibacterianos quinolônicos, outros AINEs
e corticosteroides, anticoagulantes e agentes antiplaquetários, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidiabéticos, fenitoína, metotrexato, depressores do SNC, agonistas/antagonistas opioides, antidepressivos, inibidores das enzimas CYP2D6 e CYP3A4
e indutores enzimáticos (ex. fenobarbital e rifampicina), cimetidina. Interações com exames laboratoriais: elevação na amilase e lípase plasmática. Pacientes em tratamento com Codaten® não devem ingerir álcool. USO ADULTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO
MÉDICA. SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. MS – 1.0068.0898. A PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. BSS 05.02.2018/ 2018-PSB/GLC-0918-s. Esta mini-bula foi atualizada em 06/03/2018.

Codaten® é um medicamento. Durante seu uso, não dirija veículos ou opere máquinas, pois sua agilidade e atenção podem estar prejudicadas.
Contraindicações: pacientes cujos uso de ácido acetilsalicílico ou outros AINEs podem precipitar ataques de asma, angioedema, urticária ou rinite aguda, úlcera gástrica ou intestinal ativa, sangramento ou
perfuração. Interações Medicamentosas: inibidores potentes de CYP2C9, lítio, digoxina, diuréticos e anti-hipertensivos (ex.betabloqueadores e inibidores da ECA).
1. Lista B de medicamentos referência - Anvisa. Publicado em 15 de junho de 2018. Acessado em 17 julho de 2018. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33836/4412457/Lista+B+15-06-2018.pdf/0f26e301-a9a-
6-4830-981b-7cfe7986278c 2. Bula do produto. 3. Shaheen PE et al. Opioid equianalgesic tables: are they all equally dangerous? J Pain Symptom Manage. 2009;38(3):409-17.doi:10.1016/j.jpainsymman.2009.06.004.Knotkova H, Fine
PG, Portenoy RK.Opioid rotation: the science and the limitations of the equianalgesic dose table. J Pain Symptom Manage. 2009 Sep;38(3):426-39. doi: 10.1016/j.jpainsymman.2009.06.001. 4. AHFS Drug Information 2003. McEvoy GK, ed.
Codeine. Bethesda, MD: American Society of Health-System Pharmacists; 2003:2570-2.

Material destinado a profissionais de saúde habilitados


a prescrever e/ou dispensar medicamentos © 2018 Novartis
BR1807859250 - Julho/18.
EDITORIAL 3

Programe sua Participação no


Simpósio de PICS
Após o sucesso do CBDOR, nossa equipe com os comitês mantém o ritmo.
Além das matérias no Jornal dos Comitês que você pode contemplar nessa
edição, tivemos reuniões na sede da SBED, e está lançado o cronograma de
simpósios dos comitês para o segundo semestre de 2019.  Entramos no último
semestre de nossa gestão, e alguns comitês partem para a sua segunda edição
de sucesso!

Programe sua participação no Simpósio de PICS – Enfermagem e dor; Ondas


de choque e Veterinária em dor; os eventos ocorrem em São Paulo. 

Nessa edição percebemos o amadurecimento do Jornal dos Comitês, seja


pela participação de novos autores ou pela inovação de assuntos, ao abordar
temas dolorosos e de manejo complexo, como a dor em queimados e a termi-
nalidade da vida. Os comitês navegam entre a filosofia e os avanços científicos,
valores e evidências conduzem os artigos produzidos pelos associados à SBED. Dra. Juliana Barcellos de Souza
Diretora Financeira SBED – 2018/2019

Inovação e a ação da nova geração de profissionais de saúde também tem


destaque nessa edição. Da música como estratégia para manejo da dor à atua-
Os eventos
ção dos ligantes. Contemple mais essa edição preparada com carinho e respon- ocorrem em
sabilidade pela equipe SBED. São Paulo

Sociedade Brasileira para o Presidente Jornal dos Comitês é uma publicação


Estudo da Dor (SBED) Eduardo Grossmann (RS) da SBED, dirigida aos associados
Av. Cons. Rodrigues Alves, 937/02 Vice-presidente da entidade. As opiniões, ideias e
EXPEDIENTE

Vila Mariana – São Paulo – SP Paulo Renato Barreiros da Fonseca (RJ) conceitos emitidos em matérias
CEP: 04014-012 Diretor Científico
ou artigos assinados são de
Tel./Fax: 11 5904-2881| 5904-3959 José Oswaldo de Oliveira Junior (SP)
exclusiva responsabilidade dos autores.
E-mail: dor@dor.org.br Diretora Administrativa
É permitida a reprodução desde que
Site: www.sbed.org.br Dirce Maria Navas Perissinotti (SP)
A logomarca da SBED está registrada Tesoureira citada a fonte.
no Instituto Nacional da Propriedade Juliana Barcellos de Souza (SC) Coordenação editorial:
Industrial (INPI) e protegida Secretária Juliana Barcellos de Souza
contra o uso não autorizado. Janaína Vall (CE) Edição de arte: MWS Design

3o TRIMESTRE DE 2019
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Com a duloxetina você oferece ao seu
paciente melhor qualidade de vida.(3)

» Melhora da dor.(4,5)
» Redução dos sintomas depressivos.(4,5)
» Eficácia e rápido início de ação.(6)

Apresentações:
» 30 e 60mg com
30 e 60 cápsulas.
7

VELIJAMD - cloridrato de duloxetina 30 mg com 10, 30 ou 60 cápsulas de liberação retardada; e 60 mg com 30 ou 60 cápsulas de liberação retardada. Uso oral e adulto (acima de 18 anos de idade).
Indicações: transtorno depressivo maior (TDM); dor neuropática diabética; fibromialgia (FM) em pacientes com ou sem transtorno depressivo maior (TDM); estados de dor crônica associados à dor lombar crônica; estados de dor crônica associados à dor devido à osteoartrite de joelho (doença
articular degenerativa), em pacientes com idade superior a 40 anos; e transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Contraindicações: pacientes com hipersensibilidade aos componentes da fórmula. Não deve ser administrado concomitantemente com IMAO ou dentro de, no mínimo, 14 dias
da interrupção do tratamento com um IMAO; também se deve aguardar, no mínimo, 5 dias após a interrupção do tratamento com VelijaMD, antes de se iniciar o tratamento com um IMAO. Este medicamento não é recomendado para pacientes com doença renal em fase terminal (necessitando
de diálise), com disfunção renal grave (clearance de creatinina < 30 mL/min); ou ainda em pacientes com insuficiência hepática. Precauções e Advertências: a possibilidade de tentativa de suicídio é inerente ao TDM e pode persistir até que ocorra remissão significativa dos sintomas
depressivos. Os pacientes com alto risco devem ser acompanhados estritamente no início do tratamento, e os médicos devem incentivar os pacientes a relatar quaisquer tipos de pensamentos ou sentimentos aflitivos. Deve ser usada com cautela em pacientes com história de mania ou de
convulsão. Deve ser evitado seu uso em pacientes com glaucoma de ângulo estreito descompensado. Em pacientes com hipertensão conhecida e/ou outra doença cardíaca, é recomendada a monitoração da pressão arterial. A duloxetina deve ser usada com cautela em pacientes com uso
substancial de álcool (elevações graves das enzimas hepáticas. Embora estudos clínicos controlados com duloxetina não tenham demonstrado qualquer prejuízo do desempenho psicomotor, da memória ou da função cognitiva, seu uso pode estar associado à sonolência e à tontura. A segurança
e eficácia em pacientes pediátricos não foram estabelecidas. Não foram observadas diferenças na segurança e eficácia entre indivíduos idosos (≥ 65 anos) e indivíduos mais jovens. .É recomendado cuidado no uso de duloxetina em pacientes com doenças ou condições que produzam
alteração no metabolismo ou nas respostas hemodinâmicas. A duloxetina não foi sistematicamente avaliada em pacientes com história recente de infarto do miocárdio ou doença cardíaca instável. Uso em gestantes durante o 3º trimestre de gravidez: recém-nascidos expostos a ISRSs ou
IRSNs durante o 3º trimestre desenvolveram complicações, exigindo hospitalização prolongada, suporte respiratório e alimentação via sonda. Os médicos devem considerar cuidadosamente a relação entre riscos e benefícios do tratamento com duloxetina em mulheres no 3º trimestre de
gravidez. Atenção: Este medicamento contém açúcar (sacarose), portanto deve ser usado com cautela em portadores de diabetes. Cada cápsula contém 0,02g (VelijaMD 30 mg) ou 0,04g (VelijaMD 60 mg) de sacarose. Gravidez e lactação: categoria de risco na gravidez: C. Não há estudos
bem controlados e adequados conduzidos em mulheres grávidas. Não houve evidência de teratogenicidade em estudos com animais. A duloxetina e/ou seus metabólitos são excretados no leite de ratas lactantes, mas não foi avaliada no leite humano, portanto, não é recomendada a
amamentação. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. Interações com medicamentos, alimentos e álcool: houve relatos de reações graves (hipertermia, rigidez, mioclonia, instabilidade autonômica com
possíveis flutuações rápidas dos sinais vitais e alterações do estado mental, incluindo agitação extrema, progredindo para delirium e coma), às vezes fatais, em pacientes recebendo um inibidor da recaptação de serotonina em combinação com um IMAO. Antidepressivos tricíclicos (ATC):
pode ocorrer inibição do metabolismo dos ATC, sendo necessária redução da dose e monitoramento das concentrações plasmáticas do ATC. Inibidores do CYP1A2 (como por ex.: fluvoxamina, quinolonas): pode ocorrer aumento da concentração da duloxetina. Fármacos metabolizados
pela CYP2D6 (como por ex.: desipramina, tolterodina): pode aumentar as ASC destes fármacos. Inibidores da CYP2D6 (como por ex.: paroxetina): pode aumentar a concentração da duloxetina. O uso concomitante de duloxetina com álcool não é recomendado. Antiácidos e
antagonistas H2: medicamentos que aumentam o pH gastrointestinal podem promover uma liberação precoce de VelijaMD. Entretanto, a coadministração da duloxetina com antiácidos que contêm alumínio ou magnésio (51 mEq) ou com famoditina não resultou em efeito significativo das
taxas ou da quantidade absorvida da duloxetina (40 mg). Não há informações sobre a coadministração de duloxetina com inibidores da bomba de prótons. Erva-de-são-João (Hypericum perforatum): pode ser mais comum a ocorrência de eventos indesejáveis. Fármacos que atuam no
SNC: pode ocorrer sinergia dos efeitos. Fármacos com altas taxas de ligação às proteínas plasmáticas: pode aumentar as concentrações livres destes fármacos. Lorazepam: aumento da sedação, em comparação ao uso isolado de lorazepam. Reações Adversas e alterações de exames
laboratoriais: Muito comuns (≥ 10%): constipação, boca seca, náusea, dor de cabeça, tontura, sonolência. Comuns (≥ 1% e < 10%): palpitação, diarreia, vômito, dispepsia, diminuição do apetite, perda de peso, fadiga, rigidez muscular/contração muscular, tontura, letargia, tremor, sudorese,
fogachos, visão turva, anorgasmia, insônia, diminuição da libido, ansiedade, distúrbio da ejaculação, disfunção erétil, bocejo, hiperidrose, suores noturnos; visão borrada, disgeusia, ansiedade, hesitação urinária. Raras (≥ 0,01% e < 0,1%): taquicardia, palpitação, vertigem, midríase, distúrbio
visual, eructação, gastroenterite, estomatite, calafrios, sensação de anormalidade, sensação de calor e/ou frio, mal estar, sede, aumento da pressão arterial, aumento de peso, distúrbios do sono, agitação, bruxismo, hesitação urinária, rubor facial, extremidades frias, anorgasmia, desorientação,
noctúria. Muito raras (< 0,01%): desidratação, desorientação, reação de fotossensibilidade. Alterações laboratoriais: pequenos aumentos médios nos valores de ALT, AST, CPK e fosfatase alcalina. Posologia: dose diária inicial: 60 mg em tomada única, com ou sem alimento. Dose máxima
diária: 120 mg, dividida em duas tomadas diárias. Doses acima de 120 mg não foram sistematicamente avaliadas. Para os pacientes cuja tolerabilidade é preocupante, pode ser considerada uma dosagem inicial mais baixa. Para pacientes com insuficiência renal deve ser considerada uma
dosagem inicial mais baixa e aumento gradativo conforme a necessidade, realizando monitoração constante. Tratamento Prolongado/Manutenção/Continuação: é consenso que os episódios agudos do TDM necessitam de uma terapia farmacológica de manutenção, geralmente por vários
meses ou mais longa. Não há evidências disponíveis suficientes para determinação da duração do tratamento com duloxetina. Os pacientes devem ser periodicamente reavaliados quanto à necessidade de manutenção do tratamento e qual a dosagem apropriada. Dor neuropática associada
à neuropatia diabética periférica: a eficácia da duloxetina deve ser avaliada individualmente, já que a progressão da neuropatia diabética periférica é bastante variável e o controle da dor, empírico. Reg.MS 1.0033.0167/Farm. Resp.: Cintia Delphino de Andrade CRF-SP nº 25.125. LIBBS
FARMACÊUTICA LTDA/ CNPJ 61.230.314/0001-75/Rua Alberto Correia Francfort, 88/Embu-SP/Indústria Brasileira /VELIJA-MB12-17/Serviço de Atendimento LIBBS: 08000-135044. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA.
VELIJAMD É UM MEDICAMENTO. DURANTE SEU USO, NÃO DIRIJA VEÍCULOS OU OPERE MÁQUINAS, POIS SUA AGILIDADE E ATENÇÃO PODEM ESTAR PREJUDICADAS. A persistirem os sintomas, o médico deve ser consultado. Documentação Científica e informações adicionais
estão à disposição da classe médica, mediante solicitação. Referências bibliográficas: 1. SKLJAREVSKI, V. et al. Efficacy of duloxetine in patients with chronic pain conditions. Curr. Drug Ther., v. 6, n. 4, p. 296-303, 2011. / 2. WIERMANN, E.G. et al. Consenso brasileiro sobre manejo da
dor relacionada ao câncer. RBOC, v.10, n.38, p.132-143, 2014. / 3. OGAWA, K. et al. Correlation between pain response and improvements in patient-reported outcomes and health-related quality of life in duloxetine-treated patients with diabetic peripheral neuropathic pain. Neuropsychiatr.
Dis. Treat. v. 11, p. 2101-7, 2015. / 4. ROBINSON, M.J. et al. Relationship between major depressive disorder and associated painful physical symptoms: analysis of data from two pooled placebo-controlled,randomized studies of duloxetine. Int. Clin. Psychopharmacol., v.28, n.6, p.330-8,
2013. / 5. PERGOLIZZI, J.V. et al. A review of duloxetine 60 mg once-daily dosing for the management of diabetic peripheral neuropathic pain, fibromyalgia, and chronic musculoskeletal pain due to chronic osteoarthritis pain and low back pain. Pain Pract, v. 13, n. 3, p. 239-52, 2013. / 6.
BRANNAN, S.K. et al. Onset of action for duloxetine 60 mg once daily: double-blind, placebo-controlled studies. J. Psychiatr. Res., v. 39, n. 2, p. 161-72, 2005. / 7. GUIA DA FARMÁCIA. São Paulo: Contento, v. 25, n.302, jan. 2018. (Suplemento Lista de Preços).

CONTRAINDICAÇÃO: PACIENTES COM HIPERSENSIBILIDADE AOS COMPONENTES DA FÓRMULA. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: FÁRMACOS QUE ATUAM NO SNC:
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necessidades não atendidas dos pacientes.
6 COMITÊ ACUPUNTURA E DOR

Uma Introdução à Acupuntura


A acupuntura pode ser realizada pela introdução de agu- tão ou possivelmente mais efetiva
lhas finas em pontos específicos do corpo (acupuntura clássi- que o tratamento profilático me-
ca ou ACP) ou pela aplicação de estímulos elétricos nas agu- dicamentoso, além de apresentar
lhas com frequências variadas (eletroacupuntura ou EACP). menos efeitos adversos.
Vários efeitos de relevância clínica podem ser gerados pela Assim, a melhora crescente da
ACP ou EACP, dentre eles, destacam-se os analgésicos, rela- qualidade metodológica em pes-
xantes musculares, sedativos/hipnóticos, antieméticos, an- quisa integrada com o conheci-
siolíticos, antidepressivos (leves), antissecretórios (HCl), anti- mento neurofisiológico são fatores
-inflamatórios, além de estimular a reparação e a cicatrização que aperfeiçoam o procedimento
tecidual. A eficácia da ACP ou EACP é variável e depende de de acupuntura, e certamente, con- Dr. Marcus Yu Bin Pai
condição clínica da técnica utilizada e do doente. tribuem para o melhor entendi- Médico Especialista em
A acupuntura, embora prática milenar e praticada em todo mento desta. Fisiatria e Acupuntura.
Doutorando em Ciências
o mundo, ainda suscita dúvidas a respeito de sua eficácia e Através da ressonância magné- pela USP. Colaborador do
áreas de atuação. No final da década de 1970, o respeito pela tica funcional, demonstrou-se que Grupo de dor do HC-FMUSP.
São Paulo - SP
técnica cresceu nas comunidades médica e científica, quan- a ACP recruta uma rede encefálica
do foi demonstrado que a analgesia promovida estava asso- com ampla distribuição cortical,
ciada às atividades do sistema nervoso central mediadas por subcortical e do tronco encefálico que se superpõe às áreas
peptídeos opiáceos endógenos e aminas biogênicas. envolvidas com a dor exercendo, porém, efeito oposto à dor
através de mediação predominantemente opioidérgica e
EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS monoaminérgica.
A produção científica de estudos clínicos aumentou sig-
nificativamente nos últimos anos, com a inclusão de artigos DOENÇAS TRATÁVEIS
de ensaios clínicos controlados randomizados de boa qua- Os problemas crônicos de dor musculoesquelética tam-
lidade metodológica, mostrando que evidências da eficácia bém são frequentemente tratados com acupuntura, embora
da acupuntura, antes considerada insuficientes em algumas nem sempre como abordagem única.
doenças, passaram a ser validadas, como na cefaleia ten- Os problemas que tendem a ser responsivos à intervenção
sional e enxaqueca. A última revisão sistemática do Institu- de acupuntura incluem os distúrbios envolvendo lesões re-
to Cochrane para enxaqueca considerou que há evidência petitivas (epicondilite lateral, fasciite plantar), padrões de dor
consistente que a acupuntura oferece benefício adicional miofascial (dor na ATM, cefaleias por tensão muscular, lombal-
ao tratamento do quadro agudo ou em profilaxia de enxa- gia mecanopostural), artralgias (em particular, as de nature-
queca. Ainda, os autores em afirmaram que a acupuntura é za osteoartrítica), e dor subsequente à intervenção cirúrgica
(musculoesquelética e visceral).
Assim, o tratamento da acu-
puntura, principalmente inserido
como tratamento complementar,
torna-se cada vez mais útil no tra-
tamento da dor, além de sintomas
secundários como ansiedade, de-
pressão, e anormalidades do sono
dos doentes com dor crônica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Linde K, Allais G, Brinkhaus B, Fei Y, Mehring
M, Vertosick EA, Vickers A, White AR. Acupunc-
ture for the prevention of episodic migraine. Co-
chrane Database of Systematic Reviews. 2016(6).
2. Huang W, Pach D, Napadow V, Park K, Long
X, Neumann J, Maeda Y, Nierhaus T, Liang F,
Witt CM. Characterizing acupuncture stimuli
using brain imaging with FMRI-a systematic
review and meta-analysis of the literature.
PLoS One. 2012 Apr 9;7(4):e32960.
3. Ernst E, Lee MS, Choi TY. Acupuncture: does
it alleviate pain and are there serious risks? A re-
view of reviews. PAIN®. 2011 Apr 1;152(4):755-64.

3o TRIMESTRE DE 2019
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COMITÊ DE DOR OROFACIAL 7

Comitê de Dor Orofacial:


Estamos Evoluindo e
no Caminho Certo
Dr. José Stechman-Neto
Tivemos um período de muitas dificuldades após o nosso nos debates após as palestras de Coordenador do Comitê
13o CBDOR em Natal, onde fomos eleitos para comandar o pesquisadores de renome nacio- de Dor Orofacial
Curitiba – PR
Comitê de Dor Orofacial. Neste período tivemos uma meta, nal e internacional. Faço aqui uma
aumentar o número de sócios em nossa Sociedade. Acredi- ressalva e um agradecimento aos
tamos que só com os novos profissionais, acadêmicos, pós- moderadores das mesas, onde o rigor ao tempo destinado
-graduandos e que atingiríamos este objetivo. Com o apoio as palestrantes, permitiu tão proveitosos debates. Tivemos a
da atual diretoria da SBED, em particular, com o apoio do presença de palestrantes de vários países como Itália, Portu-
nosso Presidente o Cirurgião Dentista Dr. Eduardo Gross- gal e de todas as regiões do Brasil o que mostra que estamos
mann, conseguimos alavancar o número de CDs inscritos na evoluindo e no caminho certo.
SBED, fortalecendo o Comitê mais antigo da Sociedade. No dia 21/06 nas dependências do 14o CBDOR transcorreu
O sucesso do 14o CBDOR foi enorme, passamos de 2.000 a assembleia com a presença de inúmeros sócios, onde foram
profissionais inscritos, 341 palestrantes, 343 painéis das mais colocadas as ações do Comitê de Dor Orofacial e tivemos elei-
diversas regiões do Brasil, com destaque aos painéis apre- ção por aclamação – proposta pelo Dr. Sigmar de Mello Rode
sentados com a temática Dor Orofacial, com a apresentação (UNESP SJC) – para a nova diretoria do Comitê de Dor Oro-
de trabalhos de altíssima qualidade – desde a Graduação até facial, para o biênio 2020/21 que passará a ser presidido pelo
trabalhos de Doutorado – mostrando que apesar de todas as Dr. Eduardo Grossmann, tendo o Dr. Marcos dos Santos, como
dificuldades em “fazer pesquisa no Brasil”, continuamos mos- Vice-presidente e a Dra. Monique Sanchez como Secretaria.
trando ao mundo a nossa capacidade, empenho e dedicação Desejo aos novos componentes muito sucesso e convoco-as
para contribuir com a evolução das Ciências em benefício da para nos ajudar nos últimos meses da nossa gestão com os
saúde da população. eventos apoiados pela SBED na área, como o III Congresso do
A sala dedicada ao Comitê de Dor Orofacial, esteve sem- INC de Cefaleia e Dor Orofacial em Curitiba e o Congresso Bra-
pre lotada, com os participantes atuando verdadeiramente sileiro de Cefaleia e Congresso de Dor Orofacial em São Paulo.

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8 COMITÊ DE PESQUISA BÁSICA EM DOR

Dor Crônica no
Universo Parkinsoniano
Em 1817, quando o médico inglês James Parkinson des- A DP representa um distúrbio neurodegenerativo relacio-
creveu pela primeira vez detalhadamente os sintomas e os nado à idade bastante comum em humanos. Segundo o Ins-
critérios de diagnóstico da doença que leva o seu nome, ele tituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem aproxima-
incluiu na sintomatologia de uma paciente parkinsoniana a damente 222 mil parkinsonianos no Brasil, sendo esperado
seguinte descrição “[...] complaining of great pain in both the um aumento no número de pacientes acometidos por esta
arms, extending from the shoulder to the finger ends [...]”1. Ape- doença a cada ano em virtude do fenômeno de envelheci-
sar deste primórdio relato, o sintoma doloroso ainda é negli- mento populacional3.
genciado clinicamente nos dias atuais e apenas metade dos O mecanismo mais aceito como sendo responsável pelas
pacientes com Doença de Parkinson (DP) que sofrem de dor características motoras clássicas da DP (bradicinesia, rigi-
usam algum tipo de tratamento analgésico2. dez muscular, tremor e instabilidade postural) é a perda de

Dra. Glauce Crivelaro Dr. Renato Leonardo Dr. José Aparecido Dra. Christie Ramos
do Nascimento de Freitas da Silva Leite Panissi
Especialidade: Neurociências Especialidade: Especialidade: Psicologia Especialidade: Neurociências
FMRP-USP Neuropsicofarmacologia FFCLRP-USP Ribeirão Preto – FFCLRP-USP
FMRP-USP e FFCLRP-USP

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neurônios que produzem o neurotransmissor dopamina na no universo do paciente parkinsoniano. Assim, vamos de-
substância negra compacta (SNc) com subsequente perda dicar mais esforços e atenção para este tema tão importan-
de terminações nos núcleos da base (caudado, putâmen, te? Vamos contribuir para melhorar a qualidade de vida do
globo pálido) e no núcleo subtalâmico4. Antes de perda de parkinsoniano? A investigação de medicamentos eficazes,
5% a 10% destes neurônios, no entanto, os sintomas moto- com menos efeitos colaterais para esta condição e um olhar
res não se desenvolvem, mas a doença já apresenta uma sé- mais atento e empático para a dor do parkinsonismo po-
rie de sintomas não motores, mudanças no organismo que dem ser admiráveis iniciativas!
nem sempre são identificadas, mas que podem ajudar na
confirmação de um diagnóstico precoce. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os primeiros destes sintomas não motores são constipa- 1. Parkinson J. (1817). An Essay on the Shaking Palsy. London: Sherwood, Neely,
and Jones.
ção intestinal e distúrbios na fase REM do sono, momento 2. Broetz D, Eichner M, Gasser T, Weller M, Steinbach JP. Radicular and nonradi-
em que a pessoa começa a ter pesadelos fortes. Redução da cular back pain in Parkinson’s disease: a controlled study. Mov Disord. 2007;
22(6):853-6.
capacidade de reconhecer cheiros, alterações de humor e 3. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 2002.
depressão são outros sintomas que aparecem antes das difi- 4. Yang L, Beal MF. Determination of neurotransmitter levels in models of Par-
culdades motoras5. Em adição, tem-se reconhecido que 83% kinson’s disease by HPLC-ECD. Methods Mol Biol. 2011;793:401-15.
5. Bezard E, Fernagut PO. Premotor parkinsonism models. Park. Relat. Disord.
dos pacientes com DP apresentam alterações na sensibilida- 2014;Suppl 1:S17-9.
de dolorosa6. Assim, um dos grandes desafios que os porta- 6. Faivre F, Joshi A, Bezard E, Barrot M. The hidden side of Parkinson’s disease:
dores de Parkinson enfrentam é a diversidade de sintomas e Studying pain, anxiety and depression in animal models. Neurosci. Biobehav.
Rev. 2019;96:335-352.
como estes se manifestam e o comprometimento da capaci- 7. Ford B. Pain in Parkinson’s disease. Clin Neurosci. 1998;5(2):63-72.
dade de realizar atividades do dia a dia está na dependência, 8. Chudler EH, Dong WK. The role of the basal ganglia in nociception and pain.
principalmente destes sintomas não motores da doença. Em Pain. 1995; 60: 3-38.
9. Schestatsky P, Kumru H, Valls-Solé J, Valldeoriola F, Marti MJ, Tolosa E, Chaves
cada parkinsoniano, a dor surge em uma região e em uma ML. Neurophysiologic study of central pain in patients with Parkinson disea-
intensidade diferentes. Por isso, é tão comum ouvir dos por- se. Neurology. 2007;69: 2162-2169.
tadores de Parkinson que há “dias bons” e “dias ruins”. 10. Tassorelli C, Armentero MT, Greco R, Fancellu R, Sandrini G, Nappi G, Blandini
F. Behavioral responses and Fos activation following painful stimuli in a ro-
Os tipos de dor mais frequentemente descritos na DP são dent model of Parkinson’s disease. Brain Res. 2007; 1176:53-61.
dor musculoesquelética, dor neuropática radicular, dor dis- 11. Wada A, Shizukuishi T, Kikuta J, Yamada H, Watanabe Y, Imamura Y, Shinozaki
tônica e dor neuropática central7. A dor geralmente flutua T, Dezawa K, Haradome H, Abe O. Altered structural connectivity of pain-
-related brain network in burning mouth syndrome-investigation by graph
com a incapacidade motora parkinsoniana, o que justifica as analysis of probabilistic tractography. Neuroradiology 2017; 59:525-532.
alterações na sensibilidade dolorosa de acordo com os pe- 12. Domenici, R.A., Campos, A.C.P., Maciel, S.T., Berzuino, M.B., Hernandes, M.S.,
Fonoff, E.T., Pagano, R.L. Parkinson’s disease and pain: Modulation of no-
ríodos on ou off da medicação para a DP8.
ciceptive circuitry in a rat model of nigrostriatal lesion. Exp. Neurol. 2019;
A fisiopatologia da dor na DP ainda não está completa- 315:72-81.
mente elucidada. Pacientes com doença de Parkinson ou 13. Nascimento GC, Bariotto-dos-Santos K, Leite-Panissi CRA, Del-Bel EA, Borto-
lanza M. Nociceptive Response to l-DOPA-Induced Dyskinesia in Hemipar-
lesões nos gânglios da base podem ter limiares de dor re- kinsonian Rats. Neurotox. Res. 2018;34(4):799-807.
duzidos, resultando em hiperalgesia e alodinia9. Resultados 14. Fil A, Cano-de-la-Cuerda R, Muñoz-Hellín E, Vela L, Ramiro-González M, Fer-
neuroanatômicos evidenciam que os núcleos da base estão nández-de-las-Peñas C. Pain in Parkinson disease: A review of the literature.
Park. Relat. Disord. 2013; 19(3): 285-94.
envolvidos não somente com as funções mo-
toras, mas também, com o processamento de
informações nociceptivas, além de outras so-
matossensoriais10. Especificamente, a informa-
ção nociceptiva atinge essa região por meio
de várias estruturas aferentes, incluindo córtex
cerebral, tálamo medial e posterior, amígdala,
área parabraquial e núcleo dorsal da rafe11. A
partir da última década, evidências também
sugerem que o sistema dopaminérgico, prin-
cipalmente a via nigroestriatal exerce papel na
modulação dolorosa12,13. Além disso, o sistema
dopaminérgico tem sido criticamente implica-
do na analgesia natural pelo sistema descen-
dente inibitório em áreas como medula espi-
nhal, substância periaquedutal, tálamo, córtex
anterior cingulado, ínsula e estriado ventral14.
Apesar da correlação bem estabelecida en-
tre a dor e a DP, ainda não existe terapia es-
pecífica para a dor relacionada à doença de
Parkinson, e a sintomatologia é subvalorizada

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10 COMITÊ DOR AGUDA

Dor e Analgesia em Queimados


As queimaduras estão entre as condições mais
dolorosas que um indivíduo pode experimentar,
configurando a terceira causa mais frequente de
lesão na infância1. Quando superficiais, envol-
vem somente o epitélio e, geralmente, decor-
rem de exposição excessiva ao sol. Apresentam
dor de pequena intensidade, com resolução em
poucos dias.
As queimaduras de espessura parcial, por sua
vez, caracterizadas por envolvimento da epiderme Dra. Raquel Fernandes Dr. Alexandre Mio Pos Dr. Lúcio Gusmão Rocha
e derme, são dolorosas, em razão da exposição e de Barros Anestesiologista e Ortopedista com Título de
lesão parcial de terminações nervosas. Já as quei- Médica pela Universidade Preceptor da Residência Especialista pelo MEC e
José do Rosário do Hospital das Clinicas SBOT. Professor da
maduras de espessura total, conquanto conside- Vellano. Residência em da UFMG. Especialização Pós-graduação em Dor –
radas, classicamente, como indolores, na prática Clínica Médica pelo em Dor pelo IEP Sírio APM/GO. Coordenador
Hospital Arnaldo Libanês/SP. Mestrado do Centro Avançado
podem variar em profundidade e conter áreas com Gavazza Filho. em Dor Oncológica pela de Tratamento em
terminações nervosas lesadas ainda funcionantes Médica Residente FCM-MG. Presidente da Dor – Ortotrauma/DF.
em Dor pela SOMED (Sociedade Mineira Coordenador da Clínica de
que ocasionam intenso quadro doloroso2,3. Universidade Federal para o Estudo da Dor) – Dor, Centro Ortopédico
No corpo humano, as terminações nervosas de Minas Gerais. regional SBED 2018/19. de Taguatinga/DF.

livres para a temperatura respondem à tempe-


ratura absoluta e não à nuance térmica proveniente da pele. da de modo insuficiente e/ou incorreto, especialmente em
Na faixa compreendida entre 20 e 40 ºC, os receptores aco- crianças1,5. Uma vez avaliada e quantificada, possibilita-se a
modam-se, tornando possível a adaptação do indivíduo. Aci- instituição de tratamento, podendo ser cirúrgico, farmaco-
ma de 44 ºC começa a ocorrer lesão tecidual e a sensação lógico e/ou comportamental, dependendo, essencialmente,
transforma-se em dor . 3,4 do tempo decorrido desde a ocorrência do infortúnio:
A dor no queimado possui características tanto nocicep- •• Fase de emergência ou reanimação (0 a 72 h após lesão);
tivas quanto neuropáticas. Evidências sugerem que é trata- •• Fase aguda (72 h a 3 ou 5 semanas, até que as feridas
estejam fechadas);
•• Fase de reabilitação (desde o momento do fechamento
da ferida até a maturidade da cicatriz). Essa fase pode
durar meses a anos1-3.
O método mais utilizado é a farmacoterapia anal-
gésica por ser efetiva, pouco onerosa e com
baixo potencial de risco. Em linhas ge-
rais, baseia-se na escada anal-
gésica da OMS, inicial-
mente pensada para
o tratamento
da dor no

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câncer e hoje utilizada para todas as demais. O “primeiro de- inibição da sensibilização da dor), tem indicação controversa
grau” propõe a utilização de analgésicos simples para dores na literatura para casos agudos3-5.
de leve e moderada intensidade. Fármacos adjuvantes que A cetamina é inibidora de receptores de glutamato do
concorram para implementar a eficácia analgésica e/ou tra- tipo NMDA e em doses inferiores a 0,1 mg por kg de peso
tar outros sintomas que venham a exacerbar a dor (antide- é um potente analgésico, provocando resultados mesmo
pressivos, fenotiazínicos, antieméticos, protetores gástricos) nas dores refratárias ou com resposta fraca aos opioides. A
podem ser usados desde o início ou adicionados a qualquer dextroanfetamina, o metilfenidato e a cafeína incrementam
momento. Entretanto, com a possibilidade de os pacientes a analgesia e reduzem a sedação induzida por opioides3-5.
queimados passarem por períodos de instabilidade hemodi- Os bloqueios com anestésicos locais injetados nas vizi-
nâmica não os tornam elegíveis para o uso de anti-inflama- nhanças dos troncos nervosos, plexos, raízes nervosas, es-
tórios, pois, tais fármacos poderão reduzir ainda mais o fluxo paços peridurais e subaracnóideo, minimizam o desconforto
sanguíneo renal já prejudicado3-5. de inúmeros procedimentos terapêuticos como curativos,
O “segundo degrau” é atingido na hipótese de a dor ser debridamentos, limpezas, punções aliviadoras de cistos e
mantida ou agravada, caracterizado pelo uso de opioides abscessos, dentre outros, sem interferir com a atividade mo-
fortes em baixas doses, seguido pelo “terceiro degrau” que se tora. Para uma analgesia prolongada pode ser utilizado o
baseia no aumento progressivo das doses de opiáceos caso bloqueio troncular não neurolítico com agentes neurolíticos
persistam os sintomas3-5. (álcool e fenol em concentrações menores que 50% e 4% res-
Incluem: pectivamente) pode ser empregado com ou sem bloqueio
•• Agonistas puros: morfina, meperidina, fentanil, metado- teste prévio com agentes anestésicos3-5.
na, oxicodona, hidromorfona; A administração tópica continuada de anestésicos locais
•• Agonistas-antagonistas ou agonistas parciais: buprenor- tem sido proposta para o alivio da dor de natureza neuropá-
fina, nalbufina, pentazocina e butorfanol. tica, reduzindo a amplificação do quadro clínico e proporcio-
Estes últimos apresentam efeito teto para analgesia, po- nando, também, efeitos cosméticos pois impedem a forma-
dendo antagonizar ou até mesmo reverter os efeitos indu- ção de queloides volumosos3-5.
zidos pelos opioides puros e, inclusive, precipitar quadros A heparina cutânea tem sido usada para tratar queimadu-
agudos de abstinência. O esquema analgésico proposto ras há décadas6. No estudo de Barretto et al., os pacientes
deve ser administrado, após o ajuste inicial da dose, em ho- receberam 4.200 UI de heparina para cada 1% de superfície
rários regulares3-5. corpórea afetada três vezes ao dia, até a formação das cros-
No que tange às vias de administração, a oral é a mais utili- tas, sendo encontrados valores menores de EAV em todos
zada por sua praticidade e menor invasão. Há ainda a possibi- os dias de internação e um menor consumo de analgésicos.
lidade da via venosa – mais utilizada no tratamento intra-hos- Apesar de mantidas as lesões descobertas, não foi notado
pitalar; peridural – pouco empregada em grandes queimados aumento da incidência de infecções locais ou sistêmicas7. O
devido à inexistência de área íntegra para seu posicionamen- estudo em questão foi corroborado por Sigler et al., que des-
to e a subcutânea – não recomendada devido à absorção errá- tacou ainda período inferior de cicatrização dos pacientes,
tica secundária ao extravasamento, para o interstício, de ma- na metade do tempo do grupo controle8.
cromoléculas pelos poros capilares anormalmente dilatados, Diante da sobrevida cada vez maior das vítimas de gran-
reduzindo o poder osmótico intravascular3-5. des queimaduras e do elevado número de procedimentos,
Passando à análise dos adjuvantes, os antidepressivos muitos deles invasivos, dolorosos e divididos em várias inter-
tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina, imipramina, clomi- nações, a analgesia é fator crucial para a melhora da qualida-
pramina, maprotilina), em baixas doses, apresentam efei- de de vida desses pacientes9.
to analgésico, normalizam o padrão de sono, aumentam
o apetite e ajudam na melhora do humor. Os antidepres- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Espada, EB. Dor na Criança com Queimadura. In: Tratado de Dor – Publicação
sivos duais (venlafaxina, duloxetina, desvenlafaxina), por da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor. 1ed. Rio de Janeiro, 2017.
sua vez, oferecem alternativa aos tricíclicos, com anal- 2. Oliveira JR, JO; Rezende, RQM. A Dor em Queimados. In: Tratado de Dor –
gesia discretamente menos intensa, porém, com melhor Publicação da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor. 1ed. Rio de Janeiro,
2017.
perfil de efeitos adversos3-5. 3. Kowalske, KJ; Tanelian, DL. Burn pain. Anesthesiol Clin North Am. 1997;15(2):
Os neurolépticos fenotiazinas (clorpromazina, levomepro- 269-83.
mazina) e as butirofenonas (haloperidol) apresentam efeito 4. Oliveira JR, JO. Aspectos referentes à fisiopatologia comparada entre dor
neuropática e espasticidade. Rev Dor. 2000;2(1):25-30.
sedativo, ansiolítico, analgésico e antiemético. Agem no SNC 5. Melzack, R. The tragedy of needless pain. Sci Am. 1990;262(2):27-33.
acarretando assimbolia da dor4. 6. Saliba, MJJ. Heparin efficacy in burns: II. Human thermal burn treatment with
Os anticonvulsivantes levam à estabilização das membra- large doses of topical and parenteral heparin. Aerospace Med. 1970;41:1302-6.
7. Barretto, MGP; et al. Estudo comparativo entre tratamento convencional e
nas dos neurônios das vias aferentes dolorosas e têm ainda tratamento com heparina tópica para a analgesia de queimaduras. Rev As-
um efeito psicotrópico. Os mais empregados são: a carbama- soc Med Bras 2010; 56(1): 51-5 53
zepina, a difenilhidantoína, o clonazepam, o valproato de só- 8. Sigler, L; et al. Heparin in a deep second degree burn in a murine model. Vol.
33, Núm. 2, abril-jun 2011.
dio, o baclofeno e a oxcarbazepina. A gabapentina, apesar de 9. San Diego First International Meeting on the Effects of Heparin the Treatment
utilizada para tratar a dor persistente de queimaduras (pela of Burns: Beneficial effects of topical heparin in burn wound healing. 1994.

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12 COMITÊ DOR ONCOLÓGICA

A Percepção de Terminalidade
e seu Impacto no Tratamento
da Dor no Câncer
Terminalidade se dá quando se esgotam as possibilidades mas, tais como: insônia; alterações
de resgate das condições de saúde do paciente e a possibili- de funções psicológicas como per-
dade de morte próxima parece inevitável e previsível (Gutier- cepção, memória e concentração;
rez, 2001). Ou seja, o paciente se torna “irrecuperável” e cami- irritabilidade; fadiga; hipertensão
nha para a morte, sem que se consiga reverter este caminhar. arterial; diabetes; doenças no siste-
Pode acontecer diante de qualquer patologia grave e po- ma digestório (ex.: gastrite, úlceras,
tencialmente ameaçadora da vida, aguda ou crônica, inclu- entre outras); perda de eficiência do
sive câncer. sistema imunológico, favorecendo
Diante disso, a questão acima, tema de uma das palestras o aumento de infecções (ex.: rinites,
do 14º Congresso Brasileiro de dor, da Sociedade Brasileira sinusites, gripes, pneumonias, etc.); Dr. Rodolfo Moraes Silva
para o Estudo da Dor, em 2019, na verdade pode ser assim entre outros (Reis, 2010). Médico, Especialista em
interpretada: o que muda no tratamento da dor de um pa- Mesmo que a nocicepção não te- Clinica Medica, Área
de Atuação em Dor.
ciente oncológico quando ele se descobre “irrecuperável”? nha sido, efetivamente, modificada, Presidente do Comitê de
Antes de mais nada, necessário se faz resgatarmos o con- notamos, portanto, um aumento da Dor Oncológica SBED.

ceito de dor total, proposto pela Dra. Cicely Saunders, na dé- intensidade da dor, promovida pela
cada de 1960. Ela assertivamente postulou que o fenômeno influência direta nos outros campos do fenômeno da dor total,
doloroso, especialmente daqueles portadores de doenças mormente o emocional e o espiritual.
em estágio avançado, é composto não apenas pela esfera Os sintomas espirituais estão estritamente relacionados com
física, mas também pelas esferas mental, social e espiritual. os sintomas psicossomáticos que envolvem a doença terminal
Assim sendo, impossível será tratarmos adequadamente e atingem os pacientes que se encontram sob cuidados paliati-
uma dor, se nos atermos exclusivamente aos fenômenos de vos (Gaudette H, 2013).
nocicepção, deixando de lado aspectos emocionais, sociais e Portanto, não se trata de apenas aumentar a dose do anal-
espirituais sem a devida abordagem. gésico. Diante do conhecimento da terminalidade, por parte
O temor da morte é um constante companheiro obscuro do próprio paciente, mais do que nunca, é necessária reavalia-
em um sujeito que apresenta qualquer enfermidade de or- ção de todas as esferas de sua “dor total”, com especial atenção
dem crônico/terminal, em especial a neoplasia, nesta situa- para os aspectos psicológicos e espirituais, que podem, sim,
ção a questão de finitude ultrapassa as barreiras do medo, caso não abordados, agravar em muito a sensação dolorosa!
dando lugar ao horror que a doença representa (Teixeira, O benefício da espiritualidade e da religiosidade na diminui-
2006; Ribeiro, 2008).
ção da percepção dolorosa pode estar relacionado com uma
Portanto, as diferentes esferas que compõem o fenôme-
maior eficiência e interatividade do sistema hipotálamo-pitui-
no doloroso, nesta condição, se interpelam e se influenciam
tária-adrenal, em resposta ao estímulo doloroso e à liberação
mutuamente.
de mediadores importantes (gaba, serotonina, dopamina) no
Diante da terminalidade, e em especial quando o paciente
sistema nervoso central (Lago-Rizzardi CD, 2010).
toma conhecimento dessa situação, mais do que nunca, o es-
Nessa fase, é preciso intensificar um padrão de comunica-
tresse surge como agravante. Observa-se o aumento de sinto-
ção que dê oportunidades de que o paciente e seus fami-
liares se expressem livremente, com o apoio de uma equipe
multiprofissional, para a correta abordagem que se traduzirá
em alivio da dor e melhora da qualidade de vida.
Em resumo, podemos dizer que a percepção de termina-
lidade tem impacto no tratamento da dor no câncer, pois
pode influenciar sobremaneira na intensificação da dor, de
forma direta (pelo estresse) e/ou indireta (pela percepção)
devido à alta carga de sofrimento associado às esferas men-
tal e espiritual, que passam a ter que receber, por parte da
equipe multiprofissional, atenção redobrada, reavaliação
constante e intervenção precisa para um manejo adequado.

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COMITÊ LIGA DE DOR 13

A Missão das Ligas, no


Conhecimento do Tema
Dor pelos Acadêmicos
da Área da Saúde Dra. Laís Kozminski
Akcelrud
Biomédica – Curitiba/PR

Desde os primórdios da humanidade, os homens olhavam de dor e a Organização Mundial


para o céu em busca de proteção. Quase imediatamente de Saúde (OMS), estima uma mé-
diante da dor, eles procuraram entendê-la, para aliviar por dia de 30% da população global
seus próprios meios, o sofrimento de seus próximos. Ten- sofrendo com dores crônicas o
do em vista que a dor acomete todas as pessoas em algum que, em nosso país, equivaleria a
momento da vida e por vezes acarreta sérias complicações, 60 milhões de indivíduos1. A dor
a compreensão sobre seu mecanismo de funcionamento é crônica em geral é uma condição
parte fundamental da formação de qualquer ser humano1,2. complexa e, apesar de considerada
Segundo a Sociedade Internacional para Estudo da Dor um problema de saúde pública, o
Dra. Adriana do
(IASP), nos Estados Unidos, mais de 70% dos atendimentos controle inadequado da dor ainda Carmo de Souza
em serviços de emergência são ocasionados por queixas é mais a regra do que a exceção. Biomédica – Curitiba/PR

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Coordenação Lied: Dra. Luci Mara França Correia, Dra. Maria Beatriz Campos, Dra. Adriana do Carmo de Souza e Dra. Laís
Kozminski Akcelrud.

Apesar dos avanços substanciais nas últimas décadas, nume- a parte I da aula e, ao término da parte II, o questionário foi
rosos estudos mostram que menos da metade dos pacien- devolvido aos acadêmicos, que foram orientados a formar
tes recebem alívio adequado da condição álgica, em grande grupos de três à quatro pessoas e rediscutir as respostas,
parte, por desconhecimento sobre o manuseio básico da dor tendo a possibilidade de alterá-las. A média de acertos foi
pelos profissionais da área da saúde, que não recebem du- de 14, das 17 questões, o que representa 82,3% de respostas
rante a graduação, a orientação necessária3. dentro do desejado. As questões com maior percentual de
Por acreditar que os estudantes de hoje serão os profis- acerto foram as relacionadas à fisiopatologia, subjetividade
sionais de amanhã, a Liga Interdisciplinar para o Estudo da e avaliação da dor. Somente um, dos 21 acadêmicos partici-
Dor de Curitiba (LIED) vêm tentando suprir essa necessidade pantes, não obteve 50% de acertos. Comparando esse resul-
de conhecimento, oferecendo aos ligantes um programa de tado com o obtido por Alves et al. em 20135 com acadêmicos
educação continuada em dor e proporcionando à todos os de todos os períodos do curso de fisioterapia de um centro
acadêmicos da área da saúde a possibilidade de participar universitário – em que a maior porcentagem de acertos dos
desses encontros mensais. Nos meses de julho e agosto fo- 3 grupos avaliados foi de 49,7% – verifica-se uma aborda-
ram ministradas duas aulas, divididas em parte I e parte II, gem eficaz do tema nas aulas ministradas pela LIED. Após as
com duração de 1h30 cada uma, sobre a fisiopatologia da primeiras aulas, a liga foi convidada a discutir o tema duran-
nocicepção. As aulas abrangeram conceitos básicos, discor- te a semana acadêmica do curso de fisioterapia da Pontifícia
rendo sobre as vias neurológicas da dor, englobando todo Universidade Católica de Curitiba, cumprindo assim com seu
o processo de transdução, transmissão, modulação e per- compromisso de auxiliar a SBED em sua missão de promover
cepção. Para avaliar o aproveitamento em relação ao con- com excelência e ética, o estudo da dor.
teúdo estudado, foi aplicado um questionário adaptado, do
instrumento proposto e validado por Sereza e Dellaroza4, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED). Projeto Hospital sem dor:
contendo 17 questões objetivas sobre aspectos gerais da diretrizes para implantação da dor como 5º sinal vital. J Dor. 2005;2(16);1-7.
dor, sendo: 6 questões relacionadas a fisiopatologia da dor, 2. Posso IR, Grossmann E, Fonseca PRB et Al. Tratado de Dor: publicação da So-
4 questões relacionadas a subjetividade e avaliação da dor e ciedade Brasileira para o Estudo da Dor. Rio de janeiro: Atheneu, 2017
3. Teixeira MJ. Fisiopatologia da nocicepção e da supressão da dor. Jornal Brasi-
7 questões relacionadas a terapêutica tanto farmacológica leiro de Oclusão, ATM e Dor Orofacial. 2001;1(4);329-34.
quanto não farmacológica da dor. As respostas poderiam ser 4. Sereza TW, Dellaroza MS. O que está sendo aprendido a respeito da dor na
deduzidas com o conteúdo da aula e 90% dos acadêmicos UEL? Semina Cienc Biol Saúde. 2003;24(1):55-66.
5. Alves RC et al. Análise do conhecimento sobre dor pelos acadêmicos do
presentes nunca tinham tido contato com o tema. Foi apli- curso de Fisioterapia em centro universitário. Rev Dor. São Paulo, v.14, n.4,
cado o questionário individualmente uma primeira vez após out-dez p. 272-9, 2013.

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COMITÊ PRATICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM DOR 15

Como Seria a Analgesia


Induzida pela Música?
“A DOR é uma experiência sensorial e emocional desa- Muito embora o gerenciamento
gradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, da dor seja feito com o uso de trata-
ou descrita nos termos dessa lesão”1. Apesar de ser uma mentos farmacológicos a utilização
experiência corriqueira e conhecida por todos, a defini- de práticas não farmacológicas tem
ção de dor não é tão simples quanto parece. Por ser uma sido bastante empregada para o
experiência, com conotações subjetivas, que varia indivi- alivio da dor. A música tem sido uti-
dualmente em função dos aspectos emocionais, culturais lizada como um tratamento não far-
e ambientais, sua definição deixa clara a complexidade e macológico potencialmente viável
natureza multidimensional que envolve aspectos fisioló- para seu alívio. De fato, a musicote-
gicos, sensoriais, afetivos, cognitivos, comportamentais rapia é vista como um tratamento Dra. Priscila de Medeiros
e socioculturais. Por essa grande variedade de aspectos complementar para pacientes que Especialidade: Neurociências
FMRP-USP
envolvidos, é natural que sua avaliação e tratamento sofrem de dor crônica de maneira
sejam amplos e complexos2. Por consequência, a dor é comprovadamente eficaz.
considerada um fenômeno intrigante e enigmático. Fre- A perspectiva de usar a música como tratamento adjuvan-
quentemente os profissionais da saúde se deparam com o te da dor tem vantagens claras: a música parece ser segura,
insucesso do controle da dor e quando a dor não é efetiva- não invasiva e de baixo custo, em oposição a alternativas far-
mente tratada ou aliviada, ele pode afetar negativamen- macológicas que implicam inevitavelmente o risco de efei-
te a qualidade de vida do indivíduo. A dor crônica está tos adversos.
associada a outros sintomas; como ansiedade, depressão, A analgesia induzida pela música foi demonstrada em vo-
além de fadiga intensa, alterações cognitivas3,4. luntários expostos à dor experimental, em pacientes com
quadro de dor aguda pós-operatória
e em pacientes com dor crônica. Mas,
como seria essa analgesia induzida
pela música? Esse primeiro, texto citará
de uma maneira geral, quais seriam os
diferentes níveis onde se observaria a
ação da música na indução da analge-
sia, como pode ser visto na Figura 15.
Primeiro deles a distração. Especi-
ficamente, a música poderia atuar na
redução da dor, desviando a atenção
do paciente para uma competição estí-
mulo, ou seja, o foco não seria mais na
dor. A distração e atenção situam-se na
capacidade analgésica da música em
seu nível cognitivo. Contudo, outras
explicações sugerem que a emoção
induzida pela música seria outro nível
de atuação. A música tem o potencial
de induzir fortes emoções e prazer
para o ouvinte, e dentro do quadro de
analgesia induzida pela música, medi-
das emocionais como valência, gosto e
excitação têm sido associadas à capaci-
dade moduladora da dor pela música.
Trabalhos apontam que a música tem
um efeito positivo na ansiedade, que
Figura 1 – Diferentes níveis da atuação da música na indução da analgesia. por si só é conhecido por afetar a expe-
Adaptado de Tracey e Mantyh 2007. riência da dor6.

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Estudo utilizando ressonância magnética funcional demons- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


trou que ouvir uma música agradável altera a atividade neural 1. Merskey H, Bogduk N. (1994). Classification of Chronic Pain: Descriptions of
Chronic Pain Syndromes and Definition of Pain Terms (pp. 287), 2nded, IASP
em voluntários saudáveis. Observou-se também atividade em Press, Seattle, 1994.
várias áreas do cérebro, tronco cerebral e medula espinal em 2. Ferreira de Sousa BP, Fráguas R, Melo Santos D, Figueiró JA. (2012). Critários
voluntários que escutavam sua música favorita em comparação diagnósticos e avaliação terapêutica. Apud Fráguas JR, Figueiró JA, Melo
Santos, D. Depressão e Dor. São Paulo. Editora Atheneu.
àqueles que não escutavam nenhuma música durante estímu- 3. Marchand S (2012) International Assossiation of study of pain. The Pheno-
los dolorosos, incluindo regiões do sistema límbico e em áreas menon of pain. IASP Press. Seatle.
conhecidas por estarem envolvidas no sistema descendente 4. Melzack R. (1999). Pain – an overview. Acta Anaesthesiol Ascand 43:880-884.
5. Tracey I, Mantyh PW. The cerebral signature for pain perception and its mo-
modulatório da dor. E por último a analgesia induzida pela mú- dulation. Neuron 2007;55:377–91.
sica pode ser através da liberação de opioides endógenos e do- 6. Angioli R, De Cicco Nardone C, Plotti F, Cafa EV, Dugo N, Damiani P, Ric-
pamina no sistema nervoso central7,8. ciardi R, Linciano F, Terranova C. Use of music to reduce anxiety during of-
fice hysteroscopy: prospective randomized trial. J Minim Invasive Gynecol
De fato, a ação da música se dá em diversos âmbitos cujos
2014;21:454–9.
mecanismos de ação serão discutidos separadamente nos 7. Hsieh C, Kong J, Kirsch I, Edwards RR, Jensen KB, Kaptchuk TJ, Gollub RL.Well-
próximos capítulos. Contudo, não podemos negar ou con- -loved music robustly relieves pain: a randomized, controlled trial. PLoS One
testar seu efeito em promover analgesia. Assim, a musicote- 2014;9:e107390.
8. Dobek CE, Beynon ME, Bosma RL, Stroman PW. Music modulation of pain
rapia é uma abordagem promissora como tratamento adju- perception and pain-related activity in the brain, brain stem, and spinal cord:
vante da dor. a functional magnetic resonance imaging study. J Pain 2014; 15:1057–68.

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COMITÊ SAÚDE MENTAL 17

Avanços na Medicina Mente-Corpo


Percepção, Psicofísica e Neuropsicometria da Dor
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem definido saú- Crescimento pós-traumático –
de não como uma ausência de doença e enfermidade, mas vários tipos de estresse são, algu-
sim, como um estado de bem-estar físico, mental e social. mas vezes, seguidos por desordens
Um corpo crescente de pesquisa mostra que níveis mais pós-traumáticas. Todavia, alguns
elevados de Características Psicológicas Positivas (CPP), tais indivíduos estressados experien-
como, resiliência, otimismo e engajamento social, sabedoria, ciam crescimento de personalida-
são associados com indicadores muito melhores de saúde de. Crescimento pós-traumático
objetivamente mensurados, incluindo maior longevidade, refletindo, portanto, a resiliência
bem como, bem estar subjetivo. de um indivíduo em face de es-
A Psiquiatria Positiva é a ciência e a prática da psiquiatria tresse severo, podendo ser mani- Dr. José Aparecido da Silva
que busca entender, e promover, o bem-estar através de festado por uma apreciação maior Psicólogo
avaliações e intervenções visando enriquecer o bem-estar da vida, prioridades alteradas e es- Ribeirão Preto/SP

mental e comportamental. Como um ramo da Medicina, a treitamento das relações íntimas,


Psiquiatria Positiva está enraizada na Biologia, e visa decifrar maior senso de poder individual e reconhecimento de novas
os determinantes biológicos das CPP e, eventualmente, pro- possibilidades ao longo da vida1-3.
mover a saúde e o bem-estar através das intervenções bio- Recuperação de doenças mentais severas – mesmo entre
lógicas e psicossociais comportamentais. Ela também não é indivíduos severamente adoentados mentalmente pode
restrita a grupos de pacientes específicos, tais como, Psiquia- ocorrer o bem-estar dentro da doença. Muitos indivíduos
tria Infantil, Psiquiatria Geriátrica e Psiquiatria com usuários com grave doença mental têm conduzido suas vidas com
de drogas, mas sim uma abordagem aplicável a toda psiquia- coragem, dignidade e contribuição para a sociedade. Há es-
tria análoga à Psiquiatria Psicodinâmica e Biológica. A defi- tudos indicando que pessoas com esquizofrenia crônica não
nição de Psiquiatria não devendo ser limitada às desordens renitente podem ainda experenciar felicidade.
mentais específicas, mas, ao invés disso, devendo focar as Prevenção da saúde mental – a prevenção tem longa
habilidades dos psiquiatras para estudar, avaliar e modificar história no campo da psiquiatria comunitária, incluindo
pensamentos, sentimentos e comportamentos1-3. prevenção primária, secundária e terciária. Tais esforços
Assim definida, seus alvos de abordagem psiquiátrica positi- têm focalizado principalmente os jovens e, recentemente
va são: bem-estar, baixo nível de estresse percebido; envelhe- se expandido para adultos nas áreas da psicose pós-parto,
cimento psicossocial bem-sucedido; crescimento pós-traumá- depressão pós-derrame, estresse pós-traumático e mesmo
tico; recuperação de doenças mentais severas; e prevenção da demência1-3.
saúde mental. Tratemos pormenorizadamente deles. Uma premissa básica da psiquiatria positiva é que os tra-
Bem-estar – não entendido aqui como ausência de desor- ços psicológicos positivos se originam da avaliação indivi-
dens mentais ou físicas, mas, sim, como presença de estados dual do bem-estar subjetivo, sendo os mais fortes preditores
psicológicos positivos, tais como, satisfação com a vida e feli- deste último do que a própria saúde física. Neste cenário, tais
cidade, incluindo propósito e significado de vida e auto acei- traços têm sido mostrados impactarem positivamente sobre
tação. Ou seja, bem-estar associado com maior longevidade. a longevidade, com efeitos maiores do que os fatores de ris-
Baixo nível de estresse percebido – no qual o estresse perce- co já bem estabelecidos, como, por exemplo, o fumar, a hi-
bido indica o grau no qual um indivíduo acredita que suas de- pertensão e a obesidade. Alguns desses traços psicológicos
mandas, ou desafios contemporâneos, recebem sua habilidade positivos são sumariados a seguir1-3:
para enfrentá-los. Neste caso, em particular, o estresse percebi- Resiliência – Refere-se à pronta recuperação ou à adapta-
do sendo registrado como mais crítico do que as medidas obje- ção positiva à doença e demais adversidades. Juntamente
tivas do mesmo em seus impactos sobre os biomarcadores, tais com o otimismo, associa-se a um menor fator de risco para
como, impacto sobre os biomarcadores de envelhecimento1-3. a mortalidade independente das causas. Entre pacientes fi-
Envelhecimento psicossocial bem-sucedido – adultos mais sicamente doentes, resiliência é associada com melhoria na
velhos consideram a habilidade para se adaptar às circuns- saúde física, na qualidade de vida associada à saúde, auto-
tâncias e uma atitude positiva em direção ao futuro ser mais cuidado e aderência ao tratamento e exercício. Por adição,
importante do que uma ausência de incapacidade física. Isso também está vinculada a melhor bem-estar subjetivo e saú-
pode explicar um paradoxo bem documentado do enve- de emocional, bem como, a menos dor e melhor qualidade
lhecimento: mesmo quando a saúde física declina, as auto de vida na velhice. Entre as pessoas com noventa anos ou
estimativas do envelhecimento bem-sucedido tendem a ser mais, aqueles com maiores níveis de resiliência têm uma
mais elevadas no final da vida. chance 43% maior de viver até cem anos1-3.

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Otimismo – Reflete uma tendência a esperar bons resultados. tos pró-sociais, tais como, compaixão, empatia e altruísmo,
Tem sido estudado no contexto de sérias condições médicas, bem como, tomada de decisão social, compreensão, decisão,
incluindo doença cardiovascular, tendo sido mostrado estar reconhecimento da incerteza, regulação social, tolerância a
associado com menos estresse relacionado à doença, altas sa- sistemas de valores divergentes, abertura a novas experiên-
tisfação e qualidade de vida e baixa incidência de depressão. cias, espiritualidade e senso de humor. Tem sido mostrado
Análises sistemáticas da literatura têm revelado que o otimis- que uma maior sabedoria pode ser importante para a habili-
mo se relaciona de forma significativa com melhores desfechos dade de idosos sobreviverem e se motivarem, a despeito de
na saúde, incluindo indicadores cardiovasculares, marcadores piora na saúde física. De modo similar, a sabedoria transmiti-
fisiológicos como a função imune, problemas relacionados ao da para gerações mais jovens pode fornecer uma vantagem
câncer, à gravidez, à dor e à mortalidade. Também tem sido para a adaptação, ajudando a neutralizar a perda da fertilida-
mostrado que os adultos otimistas se engajam mais provavel- de na velhice – assim chamada Hipótese das Avós4.
mente em comportamentos saudáveis que os pessimistas1-3. O constructo de sabedoria demanda adicionais considera-
Nível de aspiração pessoal e Autoeficácia do enfrentamen- ções. Este importante constructo tem longas raízes religiosas
to – Aspiração pessoal denota as expectativas individuais em e filosóficas. Entretanto, apenas a partir da década de 1970
relação à eficácia em alcançar os resultados desejados. No pesquisas empíricas têm-na investigado mais sistematica-
contexto de estresse de vida crônico, aspiração pessoal pode mente e, como consequência, nos últimos anos, aparecerem
promover comportamentos adaptativos específicos e orien- inúmeros estudos buscando mais bem defini-la, mensurá-la,
tados para objetivos, além de auxiliar na manutenção desses entender sua neurobiologia e suas implicações para a lon-
comportamentos a despeito de estresse contínuo. O gevidade e saúde, bem como, entender como interven-
nível de aspiração parece proteger os indivíduos ções podem enriquecê-la e promovê-la em dife-
dos efeitos negativos do estresse e de uma rentes contextos sociais4.
saúde frágil. Um conceito relacionado é Entende-se hoje que sabedoria é um tra-
a autoeficácia do enfrentamento, que ço multidimensional compreendendo
se refere à habilidade auto percebida vários componentes específicos que
para ativar estratégias de enfrenta- são úteis para o indivíduo e para so-
mento específicas para sobrepujar ciedade. Similar a muitos constructos
os desafios da vida e influenciar os psicológicos, o todo é maior que a
desfechos destes1-3. soma de suas partes, mas, por último,
Engajamento social – Refere-se sabedoria reside no comportamento.
a quão bem integrada uma pessoa Revisões sistemáticas da literatura
está em sua rede social, incluindo o científica da sabedoria têm identifica-
número e a qualidade de relaciona- do vários componentes: conhecimento
mentos íntimos, frequência da sociali- geral da vida e tomada de decisão social,
zação e o grau em que alguém encontra regulação emocional, comportamentos
prazer na integração e interação sociais. A pro - sociais, tais como compaixão e empa-
qualidade e quantidade das relações sociais tia, compreensão ou autorreflexão, aceitação de
de alguém são associadas com desfechos de saú- diferentes sistemas de valores, aceitação das incerte-
de numa vasta amplitude de populações médicas. Estudos zas, espiritualidade e determinação4.
têm mostrado que há 50% de aumento na probabilidade Vários outros estudos têm buscado conhecer as regiões ce-
de sobrevivência entre participantes com fortes relaciona- rebrais e a neurocircuitaria da sabedoria. Frutos destes estu-
mentos sociais comparados a outros participantes com re- dos envolvendo especialmente o imageamento cerebral têm
lacionamentos mais frágeis, independentemente da idade, revelado que os componentes da sabedoria parecem estar
sexo, estado de saúde inicial, causa de morte e período de localizados primariamente no córtex pré-frontal e no striatum
acompanhamento1-3. límbico. Lesões nestas regiões causam mudanças comporta-
Espiritualidade e religiosidade – Espiritualidade refere-se mentais que indicam uma perda de sabedoria e um declínio
ao grau em que as crenças pessoais, os pensamentos e os precipitado no funcionamento social e comportamental. A
comportamentos focalizam tópicos transcendentes, tais perda da sabedoria também tem sido observada na demên-
como, significado da vida, crença em um ser superior e po- cia frontotemporal, uma demência que é inicialmente carac-
der ou nível de consciência. Religiosidade, por sua vez, é re- terizada não pela perda da memória, mas por alterações de
servada para se referenciar à religião organizada, tendo uma personalidade como impulsividade, pobre consciência social,
conotação social, enquanto espiritualidade pode ser perso- desinibição, comportamento antissocial e apatia4.
nalizada. Estudos têm mostrado que práticas espirituais e Em relação à mensuração, a maioria das medidas e avaliações
religiosas estão associadas com maior bem-estar e melhores da sabedoria baseia-se nas escalas de auto-registro, além de
desfechos de saúde ao longo da vida1-3. questionários, inventários e entrevistas estruturadas e semi-
Sabedoria – A despeito da variabilidade entre as definições -estruturadas. Outros métodos usados para avaliar a sabedoria
de sabedoria, os elementos comuns incluem comportamen- têm incluído estimativas ou nomeações de pares sábios, ou no-

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meações e caracterização de pessoas sábias e famosas, usual- resultados de saúde indicados pela baixa prevalência de uso
mente Madre Teresa, Mahatma Gandhi e Nelson Mandela. Mas, de álcool e drogas, baixos níveis de ansiedade, fobia e outras
como sabemos, todos estes métodos têm imitações psicomé- desordens mentais. De outro lado, outros autores têm en-
tricas, incluindo um conhecimento prévio dos avaliados ou da contrado exatamente o oposto, pois aqueles indivíduos com
celebridade, bem como outros vieses cognitivos e afetivos4. alto nível de espiritualidade e baixo nível de religiosidade
Pesquisas emergentes sugerem que sabedoria está co- foram associados com melhor saúde, indicados por melhor
nectada a uma condição melhor de saúde, bem-estar subje- funcionamento físico, qualidade de vida, status de saúde e
tivo, felicidade, satisfação com vida e resiliência. Em adição, menos sintomas depressivos5,6.
sabedoria provavelmente aumenta com a idade, facilitando Recentemente, um estudo (Peres et al., 2018; Journal of Re-
um possível papel evolutivo da sabedoria dos avôs em pro- ligion and Health, 1-14)5 considerando amostra brasileira, in-
mover a adaptação das espécies. A despeito da perda de vestigou esta área e usou uma escala de religião para avaliar
sua própria fertilidade e mesmo de sua saúde física, os ido- religiosidade e uma escala de fé para avaliar espiritualidade.
sos ajudam a enriquecer e a promover o bem-estar de suas Interessante foi verificar que os dados que deram significado à
crianças, saúde, longevidade e, também, fertilidade4. vida, bem como, paz, foram mais importantes e associados com
Finalmente, devemos destacar, que sabedoria tem impor- qualidade de vida e saúde mental do que os níveis de religiosi-
tantes implicações tanto para o indivíduo quanto para a so- dade. Em adição, os participantes com altos níveis de religiosi-
ciedade. Inúmeros pesquisadores neste domínio têm suposto dade, mas com baixos níveis de significado e paz, apresentaram
que a sabedoria pode ser aumentada, educada, promovida, e desfechos piores quando comparados com aqueles com baixos
que há necessidade urgente e primária de enfatizar a promo- níveis de religiosidade e altos níveis de significado e paz.
ção de sabedoria em nosso sistema educacional desde o ensi- Outro estudo, realizado pelo mesmo grupo (Vitorino et
no fundamental e médio até ao ensino superior e profissional. al., 2018; Scientific Reports, 8)6, focando a atuação entre Es-
Assim considerando, fica claro que características psicos- piritualidade, Religiosidade e Saúde Mental mostrou dados
sociais positivas têm sido associadas com desfechos de saú- indicando que, pessoas, com níveis mais elevados tanto de
de objetivamente mensurados, incluindo maiores longevi- espiritualidade quanto de religiosidade, tiveram melhores
dade e bem-estar subjetivos1-4. desfechos de saúde do que as que tinham apenas um des-
Em relação à espiritualidade e religiosidade (E/R), cons- tes comportamentos, ou nenhum deles. Ademais, pessoas
tructos notáveis entre nós humanos, embora sejam defini- tendo altos níveis de religiosidade, em detrimento de altos
ções muito populares e discutidas por vários autores, dentro níveis de espiritualidade, foram, também, associadas com
e fora da arena religiosa, não apresentam consenso acerca desfechos melhores em comparação a outros.
de suas definições. Religiosidade é definida como a extensão Tomados em conjunto, esses estudos revelam que altos
na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião níveis de espiritualidade e religiosidade são associados com
e, usualmente, essas crenças influenciam como as pessoas melhor qualidade de vida psicológica, social e ambiental, oti-
buscam viver e como consideram os outros. Espiritualidade, mismo e felicidade quando comparados com aqueles tendo
por outro lado, é um conceito muito mais complexo, poden- apenas espiritualidade, apenas religiosidade ou nenhum de-
do ser entendido como a busca de significado para a vida, les. Revelam, também, que é possível tais resultados serem
envolvendo relações com o sagrado ou a transcendência e muito importantes na prática clínica, visando definir a saúde
conexão com um ser divino supremo, de alto poder5,6. como um estado de bem-estar físico, mental e social comple-
Uma ideia mais ampla de Espiritualidade a define como to e não meramente de ausência de doença e enfermidade5,6.
o aspecto da humanidade que se refere à maneira como os Assim considerando, as intervenções, dentro da abordagem
indivíduos buscam, e expressam, significado e propósito da da Psiquiatria Positiva, devem visar a promoção do bem-estar
vida, bem como, a maneira como eles vivenciam sua conec- e também prevenir e tratar as doenças mentais; arranjando
tividade ao momento, a si mesmo, aos outros, à natureza e objetivos pessoais, praticando otimismo, a sabedoria, a reli-
ao sagrado. A despeito do crescente interesse da comunida- giosidade e a espiritualidade, e usando a força de caráter para
de científica sobre a relação E/R e saúde, a literatura mostra enriquecer o bem-estar e aliviar os sintomas depressivos.
controvérsias não só em relação aos seus conceitos como,
também, em relação aos seus efeitos. Há, todavia, vários es- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tudos que têm avaliado o papel da E/R sobre o bem-estar, a 1. Jeste, D.V. et al. (2015). Positive Psychiatry: its time has come. Journal of Clini-
cal Psychiatry, 76(6(:675-683.
qualidade de vida, a sobrevivência e a saúde mental e física
2. Graham, M.L. et al. (2018). Overview of measurement-based positive
ao redor do mundo5,6. psychiatry. Nord Journal of Psychiatry, 72 (6): 396-403.
Tentando entender esses conceitos e se eles são importan- 3. Jeste, D.V., & Palmer, B.W. (2013). A call for a new positive psychiatry of
tes na prática clínica, alguns estudos começaram a investigar ageing. The British Journal of Psychiatry, 202: 81-83.
4. Bangen, K.J., et al. (2013). Defining and assessing wisdom: A review of the
se há diferenças entre aqueles com alto nível de religiosidade literature. American Journal of Geriatric Psychiatry, 21 (12): 1254-1266.
e baixos níveis de espiritualidade e aqueles com altos níveis 5. Peres, M.F.P., et al. (2018). Mechanisms behind religiosity and spirituality´s
de espiritualidade e baixo nível de religiosidade. De um lado, effect on mental health, quality of life and well-being. Journal of Religious
and Health, 57:1842–1855
alguns autores têm revelado que aquele com alto nível de 6. Vitorino, L. M., et al. (2018). The association between spirituality and religiou-
religiosidade e baixo nível de espiritualidade têm melhores sness and mental health. Scientific Reports, 8:172333.

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20 COMITÊ UROGENITAL

Tetrahidrocanabinol &
Vulvodínia Localizada
Provocada por Alérgenos
– Estudo em Animais Dra. Telma Regina
Mariotto Zakka
Ginecologista
Taubaté – SP

INTRODUÇÃO mas clínicos, como sensibilidade


A vulvodínia condição crônica dolorosa complexa, não dolorosa ao toque, aumento do
possui etiologia clara e afeta entre 10 a 28% das mulheres crescimento nervoso e acúmulo
em idade reprodutiva1. As mulheres que experimentam essa de mastócitos7,8. Também se ob-
forma específica de dor genital, geralmente, lutam para ob- servou, localmente, após injeções
ter um diagnóstico e muitas vezes não encontram tratamen- intra-labiais do composto secreta-
to eficaz. Juntamente com a sensibilidade dolorosa ao to- gogo 48/80 (c48/80), depleção de
que, o diagnóstico clínico da vulvodínia inclui o aumento no mastócitos e redução da sensibili-
número de mastócitos, o crescimento excessivo dos nervos dade dolorosa7.
no local2 e respostas inflamatórias alteradas dos fibroblastos Estudo recente, submeteu ratos Dr. Diego Toledo Reis
derivados do tecido vulvar à estimulação ao antígeno de le- ao dinitrofluorobenzeno (DNFB), Mendes Fernandes
vedura, in vitro3,4. Histórias de alergias sazonais e cutâneas e observou hipersensibilidade de Fisiatra
São Paulo – SP
duplicam o risco de vulvodinia5, e sua incidência pode se contato e hiperresponsividade das
9

relacionar à exposição a produtos químicos para limpeza do- vias aéreas10, ambas acionadas pe-
méstica e do local de trabalho6. los mastócitos. Mastócitos dérmicos e células dendríticas são
Observou-se que exposições repetidas à hapteno oxazo- os primeiros a responder ao DNFB na pele e orquestram a sub-
lona na pele de camundongos ativavam os principais sinto- sequente inflamação causada pelas células T11.

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No estudo em questão, considerou-se a


importância dos mastócitos na dor vulvar
causada por alérgenos e sua capacidade
de indução específica de respostas condu-
zidas pelo DNFB como alérgeno. Através
de veículo salino aplicou-se DNFB dentro
do canal vaginal de camundongos ND4.
previamente sensibilizados para o DNFB
e mediu-se as alterações na sensibilida-
de anogenital ao toque e à pressão, bem
como as respostas inflamatórias no tecido
afetado. Avaliou-se também o efeito das
aplicações terapêuticas intravaginais de
Δ9-tetrahidrocanabinol (THC) no número
de mastócitos e na sensibilidade dolorosa.

RESULTADOS
Camundongos sensibilizados com DNFB
desenvolveram sensibilidade tátil significa-
tiva e persistente. Os sítios alérgicos mos-
traram acúmulo de mastócitos, infiltração
de células T CD8 + CD103, aumento inicial
e localizado de eosinófilos e neutrófilos e
elevação sustentada da imunoglobulina
E (IgE) sérica. A administração terapêuti-
ca intravaginal de Δ9-tetrahidrocanabinol
(THC) reduziu o acúmulo de mastócitos e a Figura 1 – Exposições repetidas ao DNFB na pele levaram ao acúmulo de células
sensibilidade tátil. T reguladoras, células T de memória e mastócitos. O aumento dos mastócitos se
Desta forma, estratégias terapêuticas di- correlacionou com o aumento da sensibilidade tátil. A aplicação terapêutica de
recionadas aos mastócitos podem forne- THC intravaginal reduziu a densidade de mastócitos e a dor tátil. As setas sólidas
cer novas maneiras de gerenciar e tratar a indicam os mecanismos hipotéticos propostos neste modelo. Linhas pontilha-
dor vulvar potencialmente instigada por das indicam observações experimentais sobre as contribuições das células T re-
exposições alergênicas repetidas. guladoras, IFN-γ e IgE circulante para o recrutamento, sobrevivência e atividade
de mastócitos no tecido. As barras T indicam supressão do acúmulo de mastóci-
CONCLUSÃO tos e sensibilidade tátil após a aplicação de THC.
A vulvodínia é uma condição complexa
e multifatorial dolorosa que decorre de ampla variedade de Implications for vulvar vestibulitis. Am. J. Obstet. Gynecol. 2007; 196:346. e1-e8.
5. Harlow B.L., He W., Nguyen R.H. Allergic reactions and risk of vulvodynia. Ann.
causas subjacentes e se desenvolve nos diversos contextos Epidemiol. 2009; 19:771–777.
inflamatórios de experiências individuais e histórias médi- 6. Reed B.D., McKee K.S., Plegue M.A., Park S.K., Haefner H.K., Harlow S.D. Envi-
cas. A complexidade dessa síndrome não pode ser capturada ronmental Exposure History and Vulvodynia Risk: A Population-Based Stu-
dy. J. Womens Health. 2019; 28:69–76.
em um único modelo pré-clínico e os achados deste estudo 7. Landry J., Martinov T., Mengistu H., Dhanwada J., Benck C.J., Kline J., Boo B.,
apoiam a plausibilidade biológica das conexões epidemio- Swanson L., Tonc E., Daughters R., et al. Repeated hapten exposure induces
lógicas entre dor vulvar e alergias e sugerem que dor vulvar persistent tactile sensitivity in mice modeling localized provoked vulvody-
nia. PLoS ONE. 2017;12:e0169672.
inexplicável, acompanhada de anormalidades nos mastóci- 8. Martinov T., Glenn-Finer R., Burley S., Tonc E., Balsells E., Ashbaugh A., Swan-
tos teciduais, pode potencialmente ser aliviado pela deple- son L., Daughters R.S., Chatterjea D. Contact hypersensitivity to oxazolone
ção local de mastócitos. provokes vulvar mechanical hyperalgesia in mice. PLoS ONE. 2013;8: e78673.
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Stodgell C.J., Phipps R.P. Identification of novel mechanisms involved in gene- 12. Boo B, Kamath R, Arriaga-Gomez E, Landry J, Emanuel E, Joo S, Saldías Monti-
rating localized vulvodynia pain. Am. J. Obstet. Gynecol. 2015; 213:38. e1-e12.  vero M, Martinov T, Fife BT, Chatterjea D. Tetrahydrocannabinol Reduces Hap-
4. Foster D.C., Piekarz K.H., Murant T.I., LaPoint R., Haidaris C.G., Phipps R.P. Enhan- ten-Driven Mast Cell Accumulation and Persistent Tactile Sensitivity in Mouse
ced synthesis of proinflammatory cytokines by vulvar vestibular fibroblasts: Model of Allergen-Provoked Localized Vulvodynia. Int J Mol Sci. 2019; 1;20(9).

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22 COMITÊ VETERINÁRIA

Bloqueio Contínuo dos


Nervos Mediano e Ulnar:
Nova Alternativa no Controle
da Dor em Equinos
Alguns estudos foram realizados com o intuito de compro- áreas como, cascos, articulações,
var a alta prevalência de afecções que acometem os mem- tendões e ligamentos1-3.
bros torácicos em equinos. Em 2006, Maranhão et al. em Com a alta prevalência de clau-
uma pesquisa com cavalos destinados a trabalho a campo, dicação associada a dor, a perfor-
no Brasil, constataram que esses animais apresentavam alte- mance destes animais diminui,
rações como, tendinites, desmites e osteoartrites em mem- bem como diminui a qualidade de
bros torácicos e pélvicos em torno de 81%, Broster e colabo- vida e em muitos casos se faz ne- Dra. Karina Velloso
Braga Yazbek
radores em 2009, demonstraram que a prevalência de dor cessária a realização de eutanásia Médica Veterinária, Doutora
aguda ou crônica nos cavalos estudados em países como devido a limitação da remissão do pelo Departamento de
Cirurgia da FMVZ-USP, All
Paquistão e Índia era em torno de 98%, já em 2018, Caston estado dolorosos. Desta forma, o Care Vet/Ambulatório de
e Burzette, em um estudo demográfico, nos Estados unidos, bloqueio contínuo de nervo peri- Dor e Cuidados Paliativos
Cotia – SP
sobre lesões em cavalos de esporte, demonstraram um alto férico se torna método alternativo
índice de ocorrência de dor aguda ou crônica envolvendo para analgesia, tanto para um pós-
-operatório como para o controle
de dor de difícil manejo.
De acordo com a técnica realiza-
da em seres humanos o bloqueio
contínuo de nervo periférico con-
siste na passagem e fixação de um
cateter por via percutânea na re-
gião paraneural de um nervo alvo,
guiado por ultrassom. Este cateter é
Dra. Sandra Mastrocinque
conectado a uma bomba elastomé- Médica Veterinária, Doutora
rica que realiza de maneira contínua pelo Departamento
de Cirurgia da FMVZ
uma infusão de anestésicos locais – USP, Coordenadora
de longa duração. Os fármacos mais do Ambulatório de Dor
Aliviare, Docente do Centro
utilizados em seres humanos são os Universitário Barão de Mauá
anestésicos locais de ação prolonga- Ribeirão Preto – SP
da, como ropivacaína, bupivacaína
e levobupivacaína. Estes fármacos
fornecem um bloqueio sensitivo-
-motor diferencial favorável. No final
de uma infusão, é desejável, que o
bloqueio sensitivo e motor seja re-
solvido de forma rápida e previsível.
Estudos sugeriram que o bloqueio
sensorial e motor regridem mais ra-
pidamente com ropivacaína do que
com bupivacaína. As concentrações Dra. Maria Teresa
de Mello R. Souto
comumente descritas na literatura Médica Veterinária,
incluem 0,1% -0,4% de ropivacaína, Anestesista e Intervencionista
da Dor em Equinos. Mestre
0,125% -0,15% bupivacaína e 0,1% em ciências pela FMVZ – USP
Figura 1 – Posição do cateter no nervo mediano. levobupivacaína-0,125%4. São Paulo – SP

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Nesta nova alternativa de


proporcionar alivio da dor nos
membros torácicos em equi-
nos utiliza-se a colocação do
cateter nos nervos mediano e/
ou ulnar, pois podem propor-
cionar um excelente bloqueio
dos impulsos dolorosos em
toda região distal do mem-
bro torácico sem produzir
bloqueio motor, fazendo com
que os animais consigam se
manter de pé e se movimen-
tar normalmente5.
O Bloqueio contínuo de ner-
vos periféricos, proporciona
uma analgesia contínua, com
um excelente controle da dor
minimizando a necessidade de
analgesia sistêmica prolonga-
da, bem como a incidência de
efeitos colaterais. Esta técnica
tem se mostrado promissora
no controle da dor pós cirúrgi-
co e em casos de laminite, que
acometem os membros toráci-
cos, proporcionando uma me-
lhora considerável na respos-
ta aos tratamentos indicados
para cada caso5.

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1. Maranhão RPA, Palhares MS, Melo
Up, Rezende HHC, Braga CE, Silva
Filho JM, Vasconcelos MNF. Afec-
ções mais frequentes do aparelho
locomotor dos equídeos de tra-
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zonte. Arq.Bras Med Vet e Zootec.
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5. Souto MT. Técnica de bloqueio con-
tínuo guiado por ultrassom para
membros torácicos de equinos:
nervos mediano e ulnar. [tese] São
Figura 2 – Bomba de infusão elastomérica posicionada no pescoço possibilitando a mo- Paulo: Faculdade de Medicina, Uni-
vimentação normal do animal, facilitando seus deslocamento e posicionamento de pé. versidade de São Paulo; 2018.

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24 COMITÊ DOR NO IDOSO

Envelhecimento, Depressão
e Atividade Física
O envelhecimento da população é acompanhado por fação com a vida4. Mecanismos
um aumento das desordens psiquiátricas, e entre estas, a neuroendócrinos são também
depressão merece maior atenção devido às consequências apontados como responsáveis
negativas para o indivíduo afetado. A prevalência de de- pelos efeitos antidepressivos no
pressão entre brasileiros varia entre 20% e 26%. No Brasil, humor, tais como alterações na
aproximadamente 10 milhões de idosos sofrem de depres- atividade central de norepinefrina
são1 e há uma estimativa de que seja a maior causa global e aumento da secreção de seroto-
de disfunção em 2024. Este conhecimento é fundamental nina e endorfina.
para um planejamento da saúde pelos profissionais envol- Intervenções para idosos podem
vidos em reabilitação2. incluir uma ampla variedade de Dra. Luciana Dardin
Depressão e sintomas depressivos podem estar associados modalidades de exercícios, incluin- Fisioterapeuta
ao declínio da capacidade física, neste contexto, preservá-la do aeróbico, fortalecimento, flexi- São Paulo – SP

é crucial para a manutenção da autonomia, saúde e qualida- bilidade e equilíbrio5.


de de vida em idosos. Sugere-se, inclusive, que depressão e Muitas dúvidas surgem sobre exercício resistido (ER), pois
estilo de vida sedentário tenham relações bidirecionais. Ou as evidências relacionadas as suas variáveis específicas (ex.:
seja, a diminuição de exercício físico regular pode ser um fa- tempo de treino, frequência, intensidade, volume) ainda ne-
tor de risco para a depressão, e por sua vez, a depressão leva cessita de mais estudos no envelhecimento6.
à diminuição dos níveis de exercício devido à diminuição da Uma metanálise baseada em 25 estudos realizada por Bor-
motivação e energia3. de em 20155, concluiu que um programa de treinamento re-
Segundo Kim (2019), a probabilidade de desenvolver sin- sistido com objetivo de aumentar a força muscular de idosos
tomas depressivos foi 42% menor em idosos classificados saudáveis, é caracterizado por um período de treino de 50
como muito ativos quando comparados àqueles conside- a 53 semanas, uma intensidade de treino de 70% a 79% de
rados insuficiente ativos. Quando homens foram analisados 1RM (repetição máxima), um tempo sob tensão de 6 segun-
separadamente, esta probabilidade caiu para 68%4. dos por repetição e repouso entre séries de 60 segundos.
O efeito benéfico do exercício físico em idosos deprimidos Em resumo, há substancial evidência para afirmar que ati-
reside em uma série de fatores: melhora do humor, redução vidade física e melhora da função psicológica no idoso estão
das respostas fisiológicas ao estresse, efeitos positivos na relacionados7. Apesar de haver evidência na melhora da de-
imagem corporal, no funcionamento cognitivo e na autoes- pressão em idosos, ainda é necessário um maior número de
tima, além de melhora na qualidade do sono e maior satis- estudos com maior rigor metodológico8.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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and older adults: a review of health benefits and effectiveness of
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5. Potter R, Ellard D, Rees K, Thorogood M. Int J Geriatr Psychiatry. A
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and depression in older people with dementia 2011;26:1000-1011.
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cal Activity and Trajectories of Cognitive Change in Community-
-Dwelling Older Adults: The Rancho Bernardo Study. J Alzhei-
mers Dis 2019;71(1):109-118.
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Adults: A review.JAMA 2017;317(20):2114-2122.

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COMITÊ EM EDUCAÇÃO E DOR 25

Comitê em Educação em Dor:


do Surgimento e Crescimento
O fato de 2018 ter sido definido pela IASP como o Ano Glo- Entendemos que as ações reali-
bal de Excelência em Educação em Dor, tendo como tema zadas ao longo do Ano Global de
“Transpondo a lacuna entre conhecimento e prática”, ressalta Excelência em Educação em Dor e a
a importância destes aspectos na abordagem da dor1. Dian- inserção de uma sessão em educa-
te disto, alguns profissionais se mobilizaram e propuseram ção em dor na programação do CB-
a criação do Comitê de Educação em Dor (CED) durante o DOR contribuíram para o aumento
congresso da SBED realizado em Natal em 2017. do interesse dos associados da
A primeira gestão do CED tinha como membros Jamir Sar- SBED pelo tema educação em dor,
dá Junior, José Tadeu Siqueira Teresserolli e Fabiola Peixoto o que nos deixa muito satisfeitos.
Minson e estabeleceu os seguintes objetivos para o comitê: De forma contraria a uma afirma- Dr. Jamir João Sardá Júnior
•• Estabelecer parcerias com entidades afins visando pro- ção que ouvi uma vez por ocasião Psicólogo
mover a educação em dor; do lançamento do Ano Global de Membro do Comitê de
Educação e Dor Gestão
•• Desenvolver materiais educativos para profissionais; Excelência em Educação em Dor, 2018/2019 e 2020/2021
•• Disponibilizar material educativo para pacientes; que o tema não era muito interes- Florianópolis/SC

•• Promover a realização de eventos científicos para profis- sante, as ações do CED ao longo de
sionais e pacientes; seu primeiro biênio de existência
•• Estimular a educação em dor através das ligas acadêmi- se mostraram profícuas e mobiliza-
cas de dor. ram outros profissionais.
Ao longo deste biênio realizamos como ações a tradução Alguns novos membros do co-
para a língua portuguesa dos fact sheets da IASP lançados mitê para o período de 2020/21 já
por ocasião do Ano Global de Excelência em Educação em estão atuando com a gestão atual,
Dor, elaboração de artigos para o Jornal dos Comitês e rea- em uma ação em parceria com a As-
lização do I Simpósio do Comitê de Educação em Dor que sociação Catarinense para o Estudo
aconteceu em novembro de 2018, bem como contribuir na da Dor (seccional da SBED em Santa
elaboração da programação do Congresso Brasileiro de Dor Catarina) na elaboração de uma dis-
Dra. Micheline Koerich
2019, que pela primeira vez teve as salas dos comitês. A sala ciplina sobre dor que será oferecida
Professora da UDESC
com a temática “Educação e Dor”, teve um público significati- através da Universidade Federal de Membro do Comitê
vo e discussões muito produtivas, abrangendo temas como: Santa Catarina no telessaúde em de Educação e Dor
Gestão 2020/2021
inclusão da dor nos currículos e na formação profissional/ uma ação pioneira no Brasil que Florianópolis/SC
acadêmica, como conduzir pesquisas relacionadas à educa- oferecerá educação em dor para
ção e dor, e recursos e tecnologias para educação do pacien- profissionais de saúde do Sistema único de saúde (SUS).
te com dor crônica. Saudamos todo(a)s o(a)s novo(a)s membros do comitê e
Ao logo deste evento foram realizadas as reuniões dos co- convidamos todo(a)s o(a)s sócio(a)s da SBED á participarem
mitês. Tivemos duas reuniões dado a dificuldade de agenda do CED e das ações promovidas por este grupo. Temos plena
em comum dos interessados, contando com a participação convicção da importância desta área de conhecimento e atua-
de 18 profissionais de diversas áreas de atuação. O que indi- ção e certeza da importância da integração das atividades do
ca um crescimento bastante significativo do comitê. CED com os outros comitês da SBED. Desejamos que o biênio
de 2020/21 seja tão estimulante e pleno de ações como foi a
primeira gestão. Temos certeza que o crescimento do Comitê
de Educação em Dor (CED) que aconteceu em conjunto com
diversos outros comitês foi uma ação de sucesso na SBED,
provendo uma maior interdisciplinaridade na sociedade,
Transpondo a ampliando a atuação dos sócios e benefícios oferecidos pela
SBED. Os objetivos do CED ainda permanecem os mesmos,
lacuna entre mas com certeza teremos uma ampliação da nossa atuação
conhecimento em termos territoriais e na qualidade e número de ações.

e prática REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


1. Wilkinson, P. 2018 Global Year for Excellence in Pain Education. Message
from Global Year Task Force. IASP. Seattle. 2018.

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26 COMITÊ HIBERMOBILIDADE

Conundrum: Dor na Síndrome


de Hipermobilidade
INTRODUÇÃO
A hipermobilidade articular é definida como um aumen-
to da amplitude de movimento das articulações. Pode ser
um diferencial positivo na execução de algumas atividades
esportivas ou ser responsável pelo aumento da vulnerabili-
dade a lesões repetitivas e, por conseguinte, maior probabi-
lidade de desenvolvimento de dor crônica1,2. Muitas outras
alterações relacionadas ao colágeno e demais constituintes
do tecido conectivo são responsáveis pelo aumento da pre-
valência diferentes manifestações álgicas através de diferen- Dr. Carlos Gropen Dra. Taís Elaine
tes tipos de processos fisiopatológicos. Professor da Universidade Mendes Louzeiro
de Brasília – UNB Fisioterapeuta
Coordenador do Centro Coordenadora do Centro
MÚLTIPLOS MECANISMOS, MÚLTIPLOS SINTOMAS de Dor do Hospital de Dor do Hospital
Universitário de Brasília Universitário de Brasília.
A síndrome de hipermobilidade deve-se a inúmeras cau- Presidente da Sociedade Responsável pelo
sas e apresenta sintomas álgicos diversos, dentre os quais para Estudo da Dor Treinamento em Dor
do Distrito Federal Crônica do Ambulatório
há predominância a dor musculoesquelética, na maior parte Membro do American Acadêmico de Dor.
das vezes, de corrente de uma maior suscetibilidade a macro Academy do Regenerative
Medicine – AARM.
e microtraumatismos. Alterações proprioceptivas também
são características bastante frequentes na síndrome de hi-
permobilidade e podem responder por uma parte significa-
tiva das queixas álgicas neste grupo de pacientes3-4.
Artralgias, dor em membros, neuropatias, fibromialgia,
cefaleias e também dor abdominal e pélvica estão entre as
queixas álgicas mais comuns e ocorrem com relativa fre-
quência nos pacientes com hipermobilidade4.
Quanto as características da dor, Camerota et al., publicou
estudo com um grupo de pacientes portadores de síndrome
de hipermobilidade e aplicou a versão italiana do “Neuropa-
thic Pain Symptom Inventory” (NPSI) demonstrando que 68%
destes pacientes com síndrome de hipermobilidade apre-
sentavam dor neuropática provável7. Não obstante, Stefano
et al., não encontrou evidências de dor neuropática ao reali-
zar um pequeno estudo utilizando o DN4 e testes sensoriais
quantitativos em parte da amostra. Outros estudos realiza-
dos por Rombaut et al. E Scheper et al. enfatizam o papel da
sensibilização central como mecanismo da dor na síndrome
de hipermobilidade8,9.
Neuropatias periféricas também tem sido descrita em pa-
cientes com síndrome de hipermobilidade. O mecanismo
fisiopatológico das neuropatias nos pacientes parece estar
relacionado à amplitude excessiva do arco de movimento
das articulações que causa alongamento ou pressão anor-
mais nos nervos periféricos, resultando em neuropatia ou
plexopatia10,11. As proteínas da matriz extracelular que se
sabe estarem envolvidas na síndrome de hipermobilidade
articular como o colágeno I, III, V e a tenascina-X são dis-
tribuídas por todo o tecido conjuntivo dos nervos periféri-
cos11,12. O perineuro e o endoneuro deficientes em tenasci-
na-X ou colágeno I, III ou V podem não resistir ao estresse

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mecânico excessivo, resultando em comprometimento da 3. Morlino S, Piedimonte C, Castori M. Recognizing and treating Ehlers-Danlos
syndrome(s): the need for a multidisciplinary approach. Cuad Neuropsicol.
função do nervo periférico11,13. 2016;10:95–109.
Pacientes com deficiência de tenascina-x, um tipo de 4. Murray B, Yashar BM, Uhlmann WR, et al. Ehlers-Danlos syndrome, hyper-
proteína do tecido conectivo, frequentemente desenvol- mobility type: a characterization of thepatients’ lived experience. Am J Med
Genet A. 2013;161A:2981–2988.
vem dores abdominais recorrentes com características 5. Chopra P, Tinkle B, Hamonet C, et al. Pain management in the Ehlers-Danlos
viscerais uma vez que há uma expressão excessiva – cerca syndromes. Am J Med Genet C Semin Med Genet. 2017;175:212–219.
de três vezes superior – de fibras nervosas que peptídeo 6. Di Stefano G, Celletti C, Baron R, et al. Central sensitization as the mechanism
underlying pain in joint hypermobilitysyndrome/Ehlers-Danlos syndrome,
relacionado ao gene da calcitonina em estudos compara- hypermobility type.Eur J Pain. 2016;20:1319–1325.
tivos com ratos “knockout”14. 7. Camerota F, Celletti C, Castori M, et al. Neuropathic painis a common feature
in Ehlers-Danlos syndrome. J PainSymptom Manage. 2011;41:e2–e4.
8. Rombaut L, Scheper M, De Wandele I, et al. Chronic painin patients with the
CONCLUSÃO hypermobility type of Ehlers-Danlossyndrome: evidence for generalized
Em pacientes com síndrome de hipermobilidade podem hyperalgesia. ClinRheumatol. 2015;34:1121–1129.
estar presentes muitos tipos diferentes de quadros doloro- 9. Scheper MC, Pacey V, Rombaut L, et al. Generalizedhyperalgesia in children
and adults diagnosed with hypermobility syndrome and Ehlers-Danlos syn-
sos, muitas vezes somatórios, nos quais mecanismos de sen- dromehypermobility type: a discriminative analysis. Arthritis CareRes (Hobo-
sibilização central e fibromialgia se associam com quadros ken). 2017;69:421–429.
articulares, neuropáticos, nociceptivos, miofasciais, viscerais 10. Galan E, Kousseff BG (1995) Peripheral neuropathy in Ehlers-Danlos syn- dro-
me. Pediatric Neurology 12:242–245.
que se juntam e se misturam, muitas vezes no mesmo pa- 11. 5. Matsumoto K, Sawa H, Sato M, Orba Y Nagashima K, Ariga H (2002) Distri-
ciente, levando a um verdadeiro desafio diagnóstico. bution of extracellular matrix tenascin-X in sciatic nerves.Acta Neuropathol
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12. Bosman FT, Stamenkovic I (2003) Functional structure and composition of
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2013;12:1–5. Colonic Nociceptive Nerve Endings.” Gastroenterology 154.6 (2018): S-765.

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28 COMITÊ DOR NEUROPÁTICA

Tetrahidrocanabinol na
Dor Neuropática; uma
Revisão de Literatura
Dra. Mariana
INTRODUÇÃO seu uso é cercado por controvér- Camargo Palladini
A dor neuropática (DN) é uma entidade complexa, con- sias. Cannabis sativa tem sido uti- Área de Atuação em
Dor SBA/AMB; Médica
ceituada pela Associação Internacional para o Estudo da lizado como analgésico há séculos. Responsável do Centro
Dor (IASP) como “dor causada por lesão ou doença do sis- Esta planta contém mais de 400 Paulista de Dor
tema nervoso somatossensorial”. Na DN, o sistema nervoso compostos químicos e é frequen-
responde de forma inapropriada ao dano sofrido. Esta res- temente utilizada por suas pro-
posta envolve múltiplos mecanismos1. O uso de opioides na priedades euforizantes de forma
abordagem da dor não oncológica tem sido alvo de várias ilícita. THC e canabidiol (CBD) são
críticas e preocupações, as quais envolvem o seu potencial os principais compostos extraídos
de abuso, o seu impacto nos organismos após utilização pro- dessa planta e possuem efeito
longada e a dificuldade de acompanhamento mais próximo analgésico. Além do efeito analgé-
dos pacientes2. Neste contexto, é importante buscar outras sico, o THC possui efeito relaxan-
alternativas de tratamento. te, altera a percepção, aumenta a
Estudos recentes propõem a utilização dos tetrahidroca- libido e promove distorções per-
nabinol (THC) no tratamento da DN refratária, entretanto o ceptuais do tempo e do espaço. O Dra. Anita Perpetua
Carvalho Rocha de Castro
canabidiol não tem ação psicoativa
Área de Atuação em Dor
e possui propriedades anti-infla- SBA/AMB; Doutorado em
matórias e antioxidantes. Seu uso Anestesiologia pela UNESP/
Botucatu; Supervisora
está associado a redução da dor e da residência de Dor da
da inflamação, sem os efeitos do Santa Casa da Bahia,
Hospital Santa Izabel
THC3. A ação do canabidiol e seus
efeitos analgésicos deve a diminui-
ção dos níveis de PGE2, peróxidos
e oxido nítrico (NO), pela redução
da expressão da peróxi sintase en-
dotelial4.

EFEITOS E EVIDÊNCIAS DO THC


O agonista sintético WIN 55,212
(semelhante ao THC) mostrou
resultado na redução da dor em
Dra. Lia Rachel Chaves
modelos com lesão neural do tipo do Amaral Pelloso
constrição crônica (CCI) e na lesão Área de Atuação em Dor
SBA/AMB; Doutorado
de nervo espinhal. 28 a 30. Outro em Ciências USP/SP; Prof.
estudo com esse agonista sinté- Associada Universidade
Federal do Mato Grosso
tico houve redução da resposta a
estímulos mais rápidos em ratos
(diminuição da WDR)5. Em modelos que sofreram avulsão de
plexo braquial, a administração central do WIN 55,212 dimi-
nuiu a alodínea mecânica e preveniu a ativação de células da
glia e de MAP quinases (responsável pelo início da resposta
imune em mamíferos)6. Em diabéticos, quando dado sistemi-
camente o WIN 55,212, existe um efeito dose depende anti-
nociceptivo e antialodínico em estudos com ratos7.
Em uma revisão sistemática, Mucke e cols. demonstraram
que os benefícios potenciais dos medicamentos à base de

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29

cannabis (cannabis à base de plantas; THC; THC/


CBD spray oromucoso sintético) na dor neuropá-
tica crônica podem ser superados por seus pos-
síveis danos.  Forma excluídos  participantes com
histórico de abuso de substâncias e outras comor-
bidades significativas8.
Lee e cols., examinaram a pesquisa científica bá-
sica atual e os dados de recentes ensaios clínicos
randomizados que avaliaram a maconha medicinal
para o tratamento da dor neuropática. Esses estu-
dos envolveram pacientes com diversas etiologias
da dor neuropática e incluíram cannabis medicinal
com diferentes concentrações de THC e vias de
administração. Vários, estudos  demonstraram efi-
cácia da cannabis medicinal no tratamento da dor
neuropática, com o número necessário para tra-
tar (NNT) valores semelhantes às farmacoterapias
atuais. Embora limitadas pelo tamanho pequeno
da amostra e pela curta duração do estudo, as evi-
dências parecem apoiar a segurança e a eficácia
da inalação da cannabis em doses baixas no trata-
mento da dor neuropática. Os resultados sugerem
que a maconha medicinal pode ser tão tolerável e
eficaz quanto os agentes neuropáticos atuais; no
entanto, são necessários mais estudos para deter-
minar os efeitos a longo prazo do uso medicinal
de cannabis. Além disso, a pesquisa continua para
otimizar a dosagem, a proporção de canabinoides
e as vias alternativas de administração para ajudar
a refinar o papel terapêutico da cannabis medicinal
para a dor neuropática.
 
CONCLUSÃO
A dor é uma experiência subjetiva multimodal
complexa, abrangendo domínios sensoriais e emocionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Uma visão tradicional divide as informações nociceptivas 1. Meacham K, Shepherd A, Mohapatra DP, Haroutounian S. Neuropa-
thic pain: central vs. Peripheral mechanisms. Curr Pain Headache Rep
ascendentes em vias paralelas, nas quais o córtex cingulado 2017; 21: 28.
anterior faz parte da corrente «medial», envolvido no pro- 2. Aviram J, Samuelly-Leichtag G. Efficacy of Cannabis-based medicines for
cessamento de aspectos afetivos da dor, enquanto o córtex pain management: a systematic review and meta-analysis of randomized
controlled trials. Pain Physician 2017; 20:E755-E796.
somatossensorial é considerado parte da corrente «lateral», 3. Modesto-Lowe V, Bojka R, Alvarado C. Cannabis for peripheral neuropathy:
envolvida  nos  aspectos sensoriais do processamento da the good, the bad, and the unknows. Cleveland Clinic Journal of Medicine
dor. Essas duas vias estão fortemente interconectadas.  2018; 85: 943-949.
4. Costa B, et al., The non psychoative cannabis constituinte cannabidiol is an
Libat e colaboradores em seus resultados,  associaram o orally effective Therapeutic agent in rat chronic inflammatory and neuropa-
alívio da dor ao córtex singular anterior - reduções de conec- thic pain. Eur J Pharmacol 2007;556:75-83.
tividade funcionais, sugerindo que o THC pode aliviar a dor 5. Liu C, Walter JM. Effects of a cannabinoid agonist on spinal nociceptive neu-
rons in a rodent model of neuropathic pain. J Neurophisiol 2006;96:2984-94.
experimentada subjetivamente, interrompendo a sincronia 6. Liang YC, Huang CC, Hsu KS. The synthetic cannabinoids attenuate allodynia
e a integração entre essas duas vias de processamento da and hyperalgesia in a rat modelo f trigeminal neuropathic pain. Neurophar-
dor. A redução da conectividade funcional entre áreas sensó- macology 2007;53:169-77.
7. Vera G, et all. Characterization of cannabinoid-induced relief of neuropathic
rio-motoras e afetadas pela dor também foi relatada duran- pain in rat models of type1 and type 2 diabetes. Pharmacol Biochem Behav
te a analgesia por THC no contexto de dor experimental em 2012; 102:335-43.
participantes saudáveis9,10. 8. Mücke M, Phillips T, Radbruch L, Petzke F, Häuser W. Cochrane Cannabis pro-
ducts for adults with chronic neuropathic pain,7 March 2018
Muito se vem aprendendo em relação ao uso do cana- 9. Medical Cannabis for Neuropathic Pain.Curr Pain Headache Rep. 2018 Feb
bidiol medicinal, com ou sem THC e diversos outros com- 1;22(1):8. 
ponentes da planta podem estar envolvidos na eficácia ao 10. Cannabis  analgesia  in  chronic  neuropathic  pains associated with altered
brain connectivity.  Libat Weizman, Lior Dayan, Silviu Brill, Hadas Nah-
combate da dor neuropática. Muito ainda se tem a desco- man-Averbuch, Talma Hendler, Jacob, MD, and Haggai Sharon.Neurolo-
brir com novos estudos. gy 2018;00:e1-e10.

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30 COMITÊ ONDAS DE CHOQUE

Tratamento de Ondas de
Choque Extracorpóreas nas
Tendinopatia Calcária do Ombro
O ombro doloroso é uma das patologias ortopédicas mais tamento cirúrgico aberto ou artros-
comuns. Em aproximadamente 75% dos casos, os sintomas se copia e mais recentemente; agulha-
originam no espaço subacromial, mas também pode ser uma mento orientado pelo ultrassom.
dor referida de várias regiões como coluna cervical, vísceras
abdominais, ápice pulmonar e as vezes, pode estar relaciona- TERAPIA POR ONDAS DE
da à isquemia do miocárdio. Sendo assim, um diagnóstico pre- CHOQUE EXTRACORPÓREAS
ciso é fundamental para se indicar o tratamento apropriado. (ESWT) NA TENDINOPATIA
CALCÁRIA DO MANGUITO
TENDINOPATIA CALCÁRIA DO MANGUITO ROTADOR ROTADOR
Calcificações do manguito rotador são uma doença relativa- O tratamento pela ESWT surgiu Dra. Ana Claudia
mente comum de causa desconhecida, caracterizada pela pre- como uma alternativa quando Pinto de Souza
sença de deposição de cristal de hidroxiapatita de cálcio em o tratamento conservador falha Médica
São Paulo/SP
tendões que podem ser multifocais e evoluir para resolução e como alternativa aos procedi-
espontânea com eventual reparo do tecido comprometido. O mentos cirúrgicos. Seu uso é mencionado na literatura há
local mais comum desse depósito é no tendão supraespinhal duas décadas. A indicação é considerada quando o trata-
(80%), seguido pelo infraespinhal (15%), tendão do redondo mento conservador falha após 6 meses e nos casos onde
menor e subescapular em aproximadamente 5%. O diagnós- os depósitos calcários são estágios I e II da Classificação
tico é por meio clínico, radiológico, sendo o ultrassom o mais de Gartner (Tabela 1), pois os estágios III têm grandes
eficaz, sensível e barato; e ressonância magnética (RNM) para chances de desaparecer espontaneamente (Figura 1).
concluir o estudo e excluir patologias. Embora a história natu-
ral possa evoluir para uma resolução espontânea, o ciclo pode
estagnar em qualquer estágio. O tratamento inicial de escolha Tabela 1 – Classificação Radiológica de Gärtner e Heyer para
é conservador, incluindo repouso, analgésicos, anti-inflamató- Tendinite Calcária do Ombro
rios não esteroides, reabilitação e infiltrações com corticoste- Tipo I – Bordas bem demarcadas, calcificação densa
roides, com resultados favoráveis em 9%0 e 99% dos casos, Tipo II – Bordas contorno suave, irregulares. Densidade
considerando a cirurgia como uma indicação excepcional. Os diminui/transparente
procedimentos invasivos estão indicados quando evoluírem
para progressão dos sintomas; dor constante e intratável e/ Tipo III - Alteração das bordas/translúcido e
ou falha do tratamento conservador. As opções são pelo tra- nublado/“algodoado“

Figura 1 – A: Tipo I. B: Tipo II. C: Tipo III. Classificação de Gärtner. Reprodução.


Fonte: B.W Oudelaar et at. – European Journal of Radiology 84 (2015) p2257.

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O mecanismo de absorção de cálcio após a ESWT não foi clui que o uso de alta energia determina uma maior taxa de
totalmente elucidado. Branes, Guiloff et al.1 foram capazes de reabsorção da calcificação e melhor resposta funcional, com
demonstrar presença de fenômenos de neolinfangiogênese nível de evidência I. Em geral, ao aplicar ESWT de alta ener-
com biópsias pós cirurgias de reparo de MR, previamente tra- gia, a aplicação de anestesia ou sedação pode ser justificada
tados com ESWT. Sobre a eficácia da ESWT, em um estudo de de acordo com a tolerância à dor.
mais de 30 meses, Wang2 comparou prospectivamente dois As contraindicações absolutas para a ESWT na patologia
grupos: o grupo da ESWT havia 90,9% excelentes ou bons do ombro são tumores malignos ou infecção aguda no cam-
resultados, 3% regulares e 6,1% ruins; e desaparecimento po do uso das ondas de choque. As complicações mais co-
completo da calcificação em 57,6% dos pacientes. O grupo muns são eventos adversos relacionados a dor local, princi-
da ESWT-placebo apresentou 16,7% de resultados regulares, palmente quando usamos ESWT de alta energia e, em casos
83,3% de resultados ruins e desaparecimento da calcificação extremos, intolerância, petéquias e hematomas.
em 16,7% dos casos. Gerdesmeyer3 em um ensaio clínico A terapia por Ondas de Choque Extracorpóreas surge
randomizado de 144 pacientes relatou melhores resultados como forte aliada terapêutica para patologia do ombro e
em pacientes tratados com ESWT, ambos baixos energia e existem evidências para apoiar seu uso no tratamento das
alta energia, em comparação com o placebo. Rompe4 com- tendinopatias calcárias do MR.
parou os resultados da cirurgia com a ESWT, observando
que não houve diferença nos resultados em um ano, mas, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. J. Branes, H. Contreras, P. Cabello, V. Antonic, L. Guiloff, M. Branes, Shoulder
com melhora nos pacientes tratados com ESWT durante dois rotator cuff reponses to extracorporeal schockwave Therapy: morphological
anos de acompanhamento. Hsu5 em um estudo prospectivo and inmunohistochemical analysis, J. Shoulder Elb. Surg. 4 (3) (2012) 163e168.
com um grupo controle alcançou 87,9% de bons e excelen- 2. C.J. Wang, K.D. Yang, F.S. Wang, H.H. Chen, J.W. Wang, Shock wave therapy for
calcific tendinitis of the shoulder: a prospective clinical study with two-year
tes resultados utilizando ESWT de alta energia. Os autores follow-up, Am. J. Sports Med. 31 (2003) 425e426.
concluem que preferem usar a ESWT como a primeira op- 3. L. Gerdesmeyer, S. Wagenpfeil, M. Haake, Extracorporeal shock wave therapy
ção terapêutica por ser um método não invasivo, evitando for the treatment of chronic calcifying tendonitis of the rotator cuff: a rando-
mized controlled trial, JAMA 290 (2003) 2573e2580.
as possíveis complicações envolvidas com o procedimento 4. J.D. Rompe, J. Zoellner, B. Nafe, Shock wave therapy versus conventional sur-
cirúrgico. Os métodos para traçar e marcar as calcificações e gery in the treatment of calcifying tendinitis of the shoulder, Clin. Orthop.
atingi-las com as ondas de choque são: marcos topográficos Relat. Res. 387 (2001) 72e82.
5. C.J. Hsu, D.Y. Wang, K.F. Tseng, Y.C. Fong, H.C. Hsu, Y.F. Jim, Extracorporeal
da anatomia, feedback do paciente com a palpação e sensi- shockwave therapy for calcifying tendinitis of the shoulder, J. Shoulder Elb.
bilidade máxima, ultrassonografia, radiologia por fluorosco- Surg. 17 (1) (2008) 55e59.
pia e tomografia computadorizada. Em relação aos níveis de 6. F.U. Verstraelen, N.J. In den Kleef, L. Jansen, J.W. Morrenhof, High-energy
versus low-energy extracorporeal shock wave therapy for calcifying tendi-
energia, a tendência tem sido considerar que energia mais nitis of the shoulder: which is superior? A meta-analysis, Clin. Orthop. Relat.
alta é mais eficaz. Verstraelen6 reafirma esse conceito e con- Res.472 (9) (2014) 2816 e 2825.

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32 COMITÊ DE TÉCNICAS INTENVERSIONISTAS EM DOR

Procedimentos
Intervencionistas em
Dor em Pediatria
A dor crônica em crianças é um problema de saúde preva- INFILTRAÇÃO DE PONTOS DE GATILHO
lente e, ainda hoje, sub reportado, com grande impacto psi- A síndrome miofascial é bem conhecida em crianças e ado-
cológico, emocional e social para a criança e família e físico e lescentes. A infiltração de pontos de gatilho com anestésico
funcional para esses pacientes1. local é uma técnica simples que pode ser bastante efetiva. É
Os procedimentos minimamente invasivos para o controle importante tentar identificar os fatores desencadeadores ou
da dor têm seu papel reconhecido no manejo da dor no adul- perpetuadores e combatê-los5.
to, especialmente num contexto de tratamento multidiscipli-
nar. Entretanto, o uso dessas técnicas em crianças é suportado BLOQUEIOS NO NEURO-EIXO
apenas por relatos de casos, séries de casos e pouquíssimos Não encontramos relatos quanto a aplicação de corticos-
estudos randomizados e controlados. A maioria dos estudos teroides peridural em pediatria.
randomizados focaram no uso de baclofeno intratecal1. De Acreditamos que o uso de técnicas contínuas através de
forma contrária à população adulta em que as técnicas inter- cateteres peridural ou intratecal tenham maior aplicabili-
vencionistas têm frequentemente emprego precoce seja para dade. Têm indicação nas crises de anemia falciforme6, no
fins diagnósticos ou terapêuticos, em pediatria, ainda são controle da dor e dessensibilização na síndrome dolorosa
guardadas para os casos de falha terapêutica1. complexa regional, e no controle da dor oncológica e em
Os procedimentos intervencionistas têm indicações diag- pacientes em cuidados paliativos com dor regional, em qual-
nósticas, terapêuticas e prognósticas3. Podem ter boa aplica- quer segmento abaixo de C5, de difícil controle7. Além disso,
bilidade no âmbito da reabilitação, podendo fa-
cilitar o processo através de um bom controle da
dor. Na dor aguda, é padrão ouro para cirurgias
como amputação de membro inferior e toracoto-
mia, associando-se a excelente controle da dor e
redução de risco de cronificação da dor e outras
complicações, principalmente respiratórias3.
As técnicas guiadas por imagem (radioscopia,
ultrassom ou tomografia computadorizada),
se relacionam à maior efetividade e segurança
quando comparadas às técnicas baseadas ape- Dr. Gustavo Rodrigues Dr. Renato Bender Dr. Guilherme Augusto
Costa Lages Castro Ciaco de Carvalho
nas em referências anatômicas, além de pode-
Anestesiologista Anestesiologista Anestesiologista
rem contribuir para fazer diagnósticos4. Belo Horizonte/MG Porto Alegre/RS Mogi Guaçu /SP

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ao promoverem analgesia dinâmica de boa qualidade, favo- BLOQUEIOS SIMPÁTICOS


recem atividades de reabilitação física. Indicados para o manejo da dor e manifestações autonômicas
No Brasil, temos disponíveis cateteres 20, 19 e 18G, permi- da síndrome dolorosa complexa regional (SDCR), herpes zoster,
tindo a inserção desses também em crianças pequenas. Quan- dor oncológica visceral, doenças vasculares são indicações clássi-
do inseridos por radioscopia, é possível posicionar a ponta do cas para adultos, mas com poucas publicações em pediatria.
cateter no nível e mesmo no lado desejado (nos casos de anal- Bloqueio do gânglio estrelado pode ser usado em SDCR
gesia de um membro). Muitos cateteres são radiopacos, seu acomentendo os membros inferiores, em alguns quadros de
preenchimento prévio com contraste, facilita a visualização dor facial e, quadros isquêmicos (Síndrome de Klippel–Trenau-
pela radioscopia. Os cateteres devem ser tunelizados. nay–Weber...). O procedimento deve ser guiado por imagem
No nosso meio, três grupos de drogas são usadas isolada- para reduzir o risco de injeções vasculares ou lesão de esôfago.
mente ou em associações: anestésicos locais, opioides e clo- Em acometimentos semelhantes nos membros inferiores,
nidina (essa geralmente em associação). o bloqueio simpático lombar estaria indicado. Muitas vezes
Os anestésicos locais mais utilizados são a bupivacaina ou são necessários bloqueios seriados ou o uso de cateteres.
levobupivacaina nas concentrações de 0,0625% a 0,125% e O bloqueio do plexo celíaco tem sido utilizado com suces-
ropivacaina 0,1% a 0,2%. São anestésicos em concentrações so para o bloqueio anestésico ou neurólise principalmente
suficientes para boa analgesia sem comprometimento mo- em casos de dor visceral maligna do abdome superior4.
tor. Casso haja bloqueio motor, simpático (hipotensão) ou Não encontramos a descrição de bloqueio do plexo hipo-
sensitivo importante (sensação de dormência), a concentra- gástrico para criança.
ção deve ser reduzida. Um interessante relato de bloqueio de gânglio ímpar foi
A dose de morfina a ser utilizada no neuro-eixo em pa- publicado por Restrepo-Garces e colaboradores, para con-
cientes já em uso de opioide deve 30 vezes menor que a trole da dor perineal oncológica em criança de 3 anos9.
dose diária de morfina VO para o uso peridural ou 300 vezes
menor, no caso do uso intratecal. Os opioides no neuro-eixo BLOQUEIO INTRA-ARTICULAR
têm boa indicação em pacientes que não estejam tolerando Deve ser considerado nos casos de artrite idiopática e reu-
seu uso sistêmico. matoide infantil4.
A administração pode ser feita através de bolus intermiten- Diversas complicações são descritas com as técnicas, des-
te, variando de 2 a 4 aplicações diárias dependendo da solu- de hematoma, infecção local e punção dural inadvertida a
ção utilizada ou em infusão contínua em bomba. pneumotórax, lesão nervosa, hematoma e abscesso peridu-
Baclofeno pode ser usado intratecal com mais eficácia e ral, lesão medular, meningite, paralisias e morte.
menos efeitos colaterais para o tratamento de espasticida-
de e distonia em crianças com esclerose múltipla, paralisia CONCLUSÃO
cerebral, TCE, TRM, mielite transversa. Antes do implante de As técnicas intervencionistas para o controle da dor podem
bomba intratecal, uma administração previa da droga (blo- ser úteis em crianças, quando indicadas de forma individuali-
queio prognóstico) deve ser realizada4. zada e em centros de tratamento multidisciplinar de dor. Tendo
Neurólise intratecal é uma possibilidade, especialmente em vista, os riscos potencialmente graves associados às técni-
para crianças oncológicas com dor em dermátomos sacrais cas, fazem-se necessários estudos prospectivos maiores e mais
irresponsivas a outras terapêuticas4. acurados para que sejam indicadas de forma mais rotineira.
Eletroestimulação medular pode ser considerada em al-
guns casos de dor neuropática refratária. Há relatos do seu REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Walker SM. Pain in children: recent advances and ongoing challenges. Br J
uso em criança com síndrome dolorosa complexa regional8. Anaesth. 2008;101:101–110.
2. Kato J, Gokan D, Ueda K, et al. Successful pain management of primary and
BLOQUEIO DE NERVOS PERIFÉRICOS independent spread sites in a child with CRPS type I using regional nerve
blocks. Pain Med. 2011;12:174.
Os bloqueios de nervos periféricos e plexos nervosos 3. Lin BF, Cherng CH, Fan YM, et al. Changes in regional cerebral blood flow and
em punção única, bloqueios seriados ou através de ca- three-phase bone scan after repeated somatic nerve blocks for sympatheti-
teteres, podem ser úteis como diagnóstico e tratamento cally independent pain. Clin Nucl Med. 2010;35:391–395.
4. Shah RD, Cappiello D, Suresh S. Interventional Procedures for Chronic Pain
de neuralgias, tratamento da dor oncológica, musculoes- in Children and Adolescents: A Review of the Current Evidence. Pain Pract.
quelética e como técnica para facilitar reabilitação intra e 2016;16(3):359-69.
extra hospitalar. 5. Graboski CL, Gray DS, Burnham RS. Botulinum toxin A versus bupivacaine
trigger point injections for the treatment of myofascial pain syndrome: a ran-
Os bloqueios nervosos da parede tóraco-abdominal (para- domised double blind crossover study. Pain. 2005;118:170–175.
vertebral, intercostal, bainha do reto, TAP block, nervo ilioin- 6. Yaster M, Tobin JR, Billett C, et al. Epidural analgesia in the management of
guinal). Podem ser úteis no tratamento de neuralgias do severe vaso-occlusive sickle cell crisis. Pediatrics. 1994;93:310–315.
7. Rork JF, Berde CB, Goldstein RD. Regional anesthesia approaches to pain ma-
intercostal, dor persistente pós toracotomia, diagnóstico di- nagement in pediatric palliative care: a review of current knowledge. J Pain
ferencial de dor abdominal visceral ou somática (TAP block), Symptom Manage. 2013;46:859–873.
tratamento da neuralgia do n ilioinguinal (dor persistente 8. Olsson GL, Meyerson BA, Linderoth B. Spinal cord stimulation in adolescents
with complex regional pain syndrome type I (CRPS-I). Eur J Pain. 2008;12:53–59.
pós herniorrafia), tratamento da síndrome do encarceramen- 9. Berde CB, Sethna NF, Fisher DE, et al. Celiac plexus blockade for a 3-year-old
to do nervo cutâneo anterior pós-cirúrgica. boy with hepatoblastoma and refractory pain. Pediatrics. 1990;86:779–781.

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