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Yuri Banov

Capt 27 | Do sintoma à síndrome | Resumo Dalgalarrondo

1)TRANSFUNDO OU ANCORAGEM DAS VIVÊNCIAS PSICOPATOLÓGICAS E SINTOMAS


EMERGENTES (Transfundos estáveis, mutaveis / momentâneos)
2)COMPONENTES DO SURGIMENTO, CONSTITUIÇÃO E MANIFESTAÇÃO DOS SINTOMAS E DOS
TRANSTORNOS MENTAIS (fatores predisponentes, precipitantes)
2.1)Manifestação dos transtornos mentais: patogenia, patoplastia e psicoplastia
3)A EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS TRANSTORNOS MENTAIS (diferença de crônico, agudo)
3.1) Diferença de crise / ataque , reação vivencial anormal , fase , surto , episódio
3.2) Curso dos episódios de Transtorno mental (Remissão, recuperação, recaída, recorrência)
4)CONTEXTUALIZAÇÃO DO SINTOMA EM RELAÇÃO A SUA ORIGEM NEUROBIOLÓGICA OU
SOCIOCULTURAL

1)TRANSFUNDO OU ANCORAGEM DAS VIVÊNCIAS PSICOPATOLÓGICAS E SINTOMAS EMERGENTES


(Transfundos estáveis, mutaveis / momentâneos)
● Na vivência psicopatológica, pode-se adotar 2 perspectivas, numa relação dialética ( figura e o fundo,
a parte e o todo, o pontual e o contextual)(Weitbrecht, 1978)
○ 1)Transfundos ou ancoragens das vivências psicopatológicas: espécie de palco, de contexto
mais geral
■ influência de modo marcante o sentido, a direção, a qualidade específica do sintoma
emergente
■ Existe 2 tipos: estáveis e duradouros (personalidade e inteligência) e os mutáveis e
momentâneos (nível de consciência e atenção; humor e estado afetivo de fundo)
○ 2)Sintomas específicos ou emergentes: aqueles que ocorrem e se desenvolvem de forma
perceptível e delimitável
■ são vivências pontuais dos transfundos

Transfundos Estáveis
● são pouco mutáveis
● Representado pela personalidade e inteligência

Personalidade
● Qualquer experiência (alucinação, delírio, afeto, entre outras) ganha conotação diferente a partir da
personalidade específica do indivíduo que a vivência
● Ex: Pacientes passivos, dependentes, “sem energia” e “astênicos” tendem a vivenciar os sintomas de
modo também passivo. já indivíduos hipersensíveis, explosivos, muito reativos a diferentes estímulos,
tendem a responder aos sintomas de forma mais viva e ampla, e assim por diante

Inteligência
● determina essencialmente os contornos, a diferenciação, a profundidade e a riqueza de todos os
sintomas psicopatológicos
● Pacientes muito inteligentes produzem delírios ricos e complexos, interpretam constantemente suas
vivências e desenvolvem as dimensões conceituais dessas experiências de forma mais acabada.
● Sujeitos com inteligência reduzida criam quadros psicopatológicos indiscriminados, com menos
detalhes, superficiais e, às vezes, pueris
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Transfundos mutáveis e momentâneos
● são representados pelo nível de consciência e atenção e pelo humor e estado afetivo de fundo
● atuam decisivamente na determinação da qualidade e no sentido do conjunto das vivências
psicopatológica
● O nível de consciência e a atenção estabelecem a clareza, a precisão e a nitidez dos sintomas
emergentes
● Sob o estado de turvação da consciência, alucinações auditivas ou visuais, recordações, sentimentos,
são experimentados em uma atmosfera nebulosa, menos clara e até confusa.

Humor e o estado afetivo de fundo


● são momentaneos e passageiros
● influem decisivamente no desencadeamento de sintomas (os chamados sintomas catatímicos) e
promove o colorido e o brilho específico do sintoma
● Uma lembrança, uma alucinação, um delírio, em um contexto ansioso ou irritado intenso, pode ganhar
dimensões muito próprias.
● Em um estado depressivo grave, qualquer dificuldade cognitiva, lembrança ou pensamento recorrente
passam a ter uma importância enorme para o sujeito.

Sintomas emergentes ou específicos


● São todas as vivências psicopatológicas mais destacadas, individualizáveis, que o paciente
experimenta, vivências de todos os capítulos da psicopatologia geral.
● Incluem as esferas que, diferentemente dos transfundos e das ancoragens, são elementos precisos,
mais circunscritos

Exemplo
● alucinação (sensopercepção),
● sentimento determinado (afetividade),
● delírio (juízo),
● pensamento obsessivo (pensamento),
● paramnésia (memória),
● alteração da linguagem ou da vontade.

Vivência psicopatológica
● Transfundos
○ Estáveis e duradouros
○ Mutáveis e momentâneos
● Sintomas específicos

2)COMPONENTES DO SURGIMENTO, CONSTITUIÇÃO E MANIFESTAÇÃO DOS SINTOMAS E DOS


TRANSTORNOS MENTAIS (fatores predisponentes, precipitantes)
● em relação tanto aos sintomas como às síndromes, deve-se buscar esclarecer quais são os possíveis
○ Fatores predisponentes
○ Fatores Precipitantes
○ surgimentos dos transtornos mentais

Adolf Meyer (1866-1950)


● do dos fatores genéticos, gestacionais e perinatais, que precedem o início propriamente dito da vida
de relações de um sujeito, estão os fatores predisponentes
● antes de nascer, as pessoas carregam consigo a vulnerabilidade constitucional (hereditariedade,
constituição) para os distintos transtornos.
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● fatores predisponentes (predisposing events) são aqueles que se configuram com a articulação da
vulnerabilidade constitucional e as primeiras experiências, no início da vida, que ocorrem na primeira e
na segunda infância (0-6 anos) (Meyer, 1951; Rahe, 1990).

Fatores predisponentes
● carga genética, experiências emocionais na infância e adolescência, condições pregressas de vida
● sensibilizam o indivíduo para as diversas situações que a vida lhe colocará e tornam as pessoas mais
ou menos vulneráveis para os fatores precipitantes (precipitating ou life-events)
● podem incluir, além da genética, eventos ocorridos nos primeiros anos de vida, como a morte de um
dos pais, ab*so sex*al, violência ou negligência física ou emocional, entre outros.
● Os fatores predisponentes tornam as pessoas mais ou menos vulneráveis para a ação dos fatores
precipitantes (Meyer, 1951).

Fatores precipitantes
● estresses, perdas, fatores atuais ou mais recentes
● também chamados de eventos de vida, ou life events
● são geralmente eventos estressantes e/ou traumáticos que ocorrem em proximidade ao
deflagramento do transtorno mental, como morte de pessoa próxima, brigas familiares importantes,
separações conjugais, desemprego, mudanças no trabalho ou estudo, casamento, perda ou ganho
financeiros, traição de parceiro(a), reprovações escolares, brigas com amigos, entre outros
● associados à vulnerabilidade constitucional e a fatores predisponentes, ocorrem sempre em um sujeito
com uma história de vida específica (Lebensgeschichte).
○ Tal história é absolutamente única, só ocorre uma vez, em um contexto socioeconômico,
político e cultural determinado, em certo período histórico
○ A história de vida de um sujeito relaciona-se a um projeto de vida (Lebensentwurf), com toda a
densidade existencial e a complexidade que as noções de sujeito, projeto existencial e história
de vida implicam(Janzarik ,1996)
● Resiliência: capacidade de absorver e lidar com os fatores precipitantes, é fundamental no processo
de saúde-doença no campo da psicopatologia.

2.1)Manifestação dos transtornos mentais: patogenia, patoplastia e psicoplastia


● Desde o século XIX, os clínicos têm percebido que nem todos os aspectos da manifestação de uma
doença derivam diretamente do processo patológico de base
● Existe três fatores envolvidos nas manifestações das doenças mentais (Birnbaum,1923):

Fator patogenético (patogênese)


● está mais relacionado à manifestação dos sintomas diretamente produzidos pelo transtorno mental de
base
● Ex: há o humor triste, o desânimo e a inapetência relacionados à depressão, ou as alucinações
auditivas e a percepção delirante relacionadas à esquizofrenia

Fator patoplástico
● inclui as manifestações relacionadas à personalidade pré-mórbida do paciente (antes do transtorno)
● Inclui à história de vida específica do sujeito e aos padrões de sentir e se comportar relacionados à
cultura de origem do indivíduo, seu meio familiar, religioso, de classe social, profissional, que lhe eram
particulares desde antes de adoecer
● São fatores externos e prévios ao processo patológico de base,
● intervêm de forma marcante na constituição e na conformação dos sintomas e na exteriorização do
quadro clínico
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Fator psicoplástico
● relaciona-se aos eventos e às reações do indivíduo e do meio psicossocial posteriores ao adoecer
● São as reações aos conflitos familiares, à desmoralização, às perdas sociais e ocupacionais
associadas aos episódios e ao curso da síndrome ou do transtorno
● reações do meio, o padrão de interação do indivíduo adoentado e seu meio sociofamiliar contribuem
para determinar o quadro clínico resultante

Exemplo
● um homem de 50 anos é acometido de um episódio depressivo grave (fator patogenético)
○ humor triste, a perda do apetite e a anedonia podem ser atribuídos aos fatores patogenéticos
● ele sempre teve personalidade extrovertida, ativa e enérgica; e é filho de italianos napolitanos (fatores
patoplásticos)
○ A manifestação dramática e demonstrativa dos sintomas depressivos fica por conta dos fatores
patoplásticos
● Após alguns meses do início dos sintomas depressivos, estando ele muito descuidado com suas
tarefas profissionais, acaba por perder o emprego (fator psicoplástico)
○ as sensações de fracasso, de inutilidade e de desmoralização diante da vida são devidas aos
fatores psicoplásticos

3)A EVOLUÇÃO TEMPORAL DOS TRANSTORNOS MENTAIS (diferença de crônico, agudo)

● Segundo a concepção psicopatológica, com base na patologia geral e na escola jasperiana, os cursos
longitudinais dos transtornos mentais crônicos podem ser de dois tipos:
○ 1)processo
○ 2)desenvolvimento
● Já os fenômenos agudos ou subagudos, com caráter episódico, classificam-se em
○ 1)crises ou ataques,
○ 2)reações vivenciais,
○ 3)fases
○ 4)surtos

Processo
● refere-se a uma transformação lenta e insidiosa da personalidade, decorrente de alterações
psicologicamente incompreensíveis, de natureza endógena
● é irreversível
● supostamente de natureza corporal (neurobiológica),
● rompe a continuidade do sentido normal do desenvolvimento biográfico de uma pessoa
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● ex: para caracterizar a natureza de um quadro esquizofrênico de evolução insidiosa(aparece
lentamente, sem sinais ou sintomas alarmantes ou graves.), que lenta e radicalmente transforma a
personalidade do sujeito acometido.

Desenvolvimento
● refere-se à evolução psicologicamente compreensível de uma personalidade
● Essa evolução pode ser normal, configurando os distintos traços de caráter do indivíduo
● ou anormal, determinando os transtornos da personalidade e as neuroses.
● Nesse caso, há uma conexão de sentido, uma trajetória compreensível ao longo da vida do sujeito.
Fala-se, então, em “desenvolvimento histriônico”, “desenvolvimento hipocondríaco”

3.1) Diferença de crise / ataque , reação vivencial anormal , fase , surto , episódio

Fenômenos agudos/subagudos
● 1) crises ou ataques,
● 2) reações vivenciais,
● 3) fases e
● 4) Surtos.

Crise/ ataque
● surgimento e término abruptos,
● Duração: segundos ou minutos, raramente horas.
● Utilizam-se os termos “crise” ou “ataque” para fenômenos como crises epilépticas, crises ou ataques
de pânico, crises dissociativas, crises de agitação psicomotora, entre outros.

Reação vivencial anormal


● fenômeno psicologicamente compreensível, desencadeado por eventos vitais significativos para o
indivíduo que os experimenta
● Duração: pode durar semanas ou meses, eventualmente alguns anos
● É designada reação anormal por causa da intensidade muito marcante e duração prolongada dos
sintomas
● Ocorre geralmente em personalidades vulneráveis, predispostas a reagir de forma anormal a certas
ocorrências da vida
● Passada a reação vivencial, o indivíduo retorna ao que era antes, sua personalidade não sofre ruptura;
pode empobrecer-se ou enriquecer-se, mas não se modifica radicalmente.
● ex: Após a morte de uma pessoa próxima, a perda do emprego ou a separação conjugal, o indivíduo
reage, por exemplo, apresentando um conjunto de sintomas depressivos ou ansiosos, sintomas
fóbicos ou mesmo paranoides

Fase
● refere-se particularmente aos períodos de depressão e de mania dos transtornos afetivos (transtorno
bipolar e transtorno depressivo recorrente).
● Duração: pode durar semanas ou meses, menos frequentemente anos, e há sempre (ou quase
sempre) restitutio ad integrum (ou seja, recuperação total)
● Passada a fase, o indivíduo retorna ao que era antes dela, sem alterações duradouras na
personalidade, ou seja, não há sequelas na personalidade
● A fase é, em sua gênese, incompreensível psicologicamente e tem um caráter endógeno
● ex: fase depressiva, fase maníaca e período interfásico assintomático, eutímico
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Surto
● é uma ocorrência aguda, que se instala de forma mais ou menos repentina, fazendo eclodir uma
doença de base endógena, não compreensível psicologicamente
● produz sequelas irreversíveis, danos à personalidade e/ou à esfera cognitiva e/ou afetiva do indivíduo.
● ex:após o primeiro surto de esclerose múltipla, o paciente “sai”, geralmente, com alguma sequela
sensitiva ou motora após o primeiro surto de esquizofrenia (com alucinações, delírios, percepção
delirante, etc.), que pode durar de 3 a 4 meses; por exemplo, o indivíduo “sai diferente”, seu contato
com os amigos torna-se mais distanciado, o afeto modula menos, e ele tem dificuldades na vida social,
as quais não consegue explicar ou entender
● Isso decorre de “déficit pós-esquizofrênico”, devido àquilo que Eugen Bleuler (1960, p. 268) afirmava:
“Do ponto de vista científico, na esquizofrenia não há restitutio ad integrum (recuperação completa), ou
pelo menos ao status quo ante (estado anterior à doença)”.
● Ex: surto esquizofrênico agudo, um surto catatônico, entre outros tipos.
● Estado residual: Após vários anos de doença, nos quais vários surtos foram se sucedendo (ou um
processo insidioso foi se implantando de forma lenta), em geral o paciente se encontra no chamado
estado residual da patologia, apresentando apenas sinais e sintomas que são sequelas desta,
sintomas predominantemente negativos.

Episódio
● é uma designação genérica, não específica
● Duração: dias até semanas
● Tanto o termo crise como o termo episódio não especificam a natureza do fenômeno mórbido: são
denominações referentes apenas ao aspecto temporal dele
● ex: episódio maniatimorfo (ou maniatiforme), episódio paranoide. episódio apático-depressivo,
episódio esquizofreniforme.
● Quando o diagnóstico está mais bem estabelecido, deve-se usar, por exemplo, os termos fase
maníaca, fase depressiva, surto esquizofrênico.

Atenção***
● é incorreto falar em surto maníaco, fase esquizofrênica, crise maníaca;
● Na dúvida, quando não se conhece ainda o tipo de fenômeno e o curso temporal do ocorrido,
sugere-se utilizar o termo neutro episódio (assim não haverá erro ao chamar de episódio ou crise algo
que é, de fato, um surto esquizofrênico ou uma fase maníaca)
● A personalidade pré-mórbida e os sinais pré-mórbidos são aqueles elementos identificados em
períodos da vida do paciente claramente anteriores ao surgimento da síndrome ou transtorno
propriamente dito, em geral na infância.
● Já pertencendo ao início do transtorno, fala-se em sinais e sintomas prodrômicos, que representam de
fato a fase precoce, inicial, do adoecimento.

3.2) Curso dos episódios de Transtorno mental (Remissão, recuperação, recaída, recorrência)
● A literatura psiquiátrica, principalmente a de língua inglesa, utiliza os seguintes termos em relação ao
curso dos episódios de transtornos mentais (Frank et al., 1991)
○ 1)Remissão (remission).
○ 2)Recuperação (recovery).
○ 3)Recaída ou recidiva (relapse).
○ 4)Recorrência (recurrence)
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Curso dos episódios Definição
de transtornos
mentais

Remissão -É o retorno ao estado normal tão logo acaba o episódio


agudo

-Remissão espontânea: quando o paciente se recupera sem o


auxílio de intervenção terapêutica

Recuperação -É o retorno e a manutenção do estado normal, já tendo


passado um bom período de tempo (geralmente se considera
um ano) sem que o paciente apresenta recaída do quadro

Recaída -É o retorno dos sintomas logo após haver ocorrido melhora


parcial do quadro clínico ou quando o estado assintomático é
ainda recente (não tendo passado um ano do episódio agudo).

Recorrência - É o surgimento de um novo episódio, depois de o indivíduo


apresentar-se assintomático por um bom período (pelo menos
por cerca de um ano).

-Pode-se dizer que a recorrência é um novo episódio da


doença.

4)CONTEXTUALIZAÇÃO DO SINTOMA EM RELAÇÃO A SUA ORIGEM NEUROBIOLÓGICA OU


SOCIOCULTURAL
Yuri Banov
● certos sintomas são tidos como intimamente dependentes de alterações neuronais, como os sintomas
neurológicos primários (paralisias, anestesias, perdas sensoriais) ou os sintomas neuropsicológicos
(afasias, agnosias, apraxias, algumas formas de amnésias).
● há sintomas mais “independentes” de determinações e fatores neurobiológicos e mais associados a
processos e mecanismos psicológicos, subjetivos e simbólicos (mediados pela cultura)

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Esse resumo foi feito pelo Yuri e foi disponibilizado gratuitamente
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