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ECONOMIA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DO PESCADO:


UMA ABORDAGEM PARA PISCICULTURA

Marcos Ferreira Brabo1, Denys Roberto Corrêa Castro1,


Daniel Abreu Vasconcelos Campelo1, Galileu Crovatto Veras1,
João Vicente Mendes Santana2, Rossineide Martins da Rocha3,
Raimundo Aderson Lobão de Souza4

1
Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto de Estudos Costeiros (IECOS).
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Campus de
Acaraú.
3
Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
4
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Instituto Socioambiental e dos
Recursos Hídricos (ISARH).

1. ASPECTOS GERAIS DA CIÊNCIA ECONÔMICA

A palavra economia deriva dos termos gregos oikos e nomos, que significam
casa e lei, respectivamente. A união dessas expressões denota “regras da casa”,
“administração da casa”, “administração doméstica” ou “administração do Estado”.
Neste contexto, pode-se definir economia como sendo a ciência social que analisa a
produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços pela sociedade
(VASCONCELLOS & GARCIA, 2014). Sua aplicação prática está diretamente
associada à gestão, ou seja, ao gerenciamento de negócios ou ambientes para alcançar
metas preestabelecidas.
A importância desta ciência reside na escassez dos fatores de produção, como
trabalho, capital, terra, recursos naturais e tecnologia, matérias-primas indispensáveis
para a concepção de produtos, sejam eles bens ou serviços, capazes de atender as
ilimitadas e constantemente renovadas necessidades humanas. Esta situação obriga um
indivíduo ou a sociedade a escolher onde empregar seus recursos produtivos, assim
como em que grupo distribuir os seus resultados (MANKIW, 2014). Deste modo,
sabendo que as necessidades humanas não serão plenamente satisfeitas, devem ser
estabelecidas as prioridades de produção baseadas nas variáveis custo e oportunidade.
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A escassez dos fatores de produção e a busca constante dos indivíduos por


produtos capazes de melhorar sua condição de bem estar e padrão de vida acarretam os
problemas econômicos fundamentais: 1) O que e quanto produzir? 2) Como produzir? e
3) Para quem produzir? No sistema econômico capitalista, as definições sobre o
produto, a tecnologia adotada na sua concepção e o público-alvo ocorrem
principalmente por meio do mecanismo de preços estabelecido pelas forças de mercado
de oferta e de demanda (KRUGMAN & WELLS, 2012). Este assunto é contemplado
pela microeconomia, ramo da economia responsável por analisar os comportamentos
individuais de consumidores e empresas no mercado.
A teoria da oferta e da demanda explica a formação de preços em mercados
específicos. Contudo, esses valores dependem diretamente da estrutura de mercado em
questão, ou seja, se há concorrência na oferta do produto ou se ela está concentrada em
uma ou poucas empresas. A concorrência perfeita conta com um grande número de
empresas oferecendo o produto, de tal forma que apenas uma não é capaz de afetar o
preço. No caso de monopólios, oligopólios ou concorrência monopolística, as empresas
conseguem influenciar diretamente no preço do produto, visto que exercem maior
controle sobre a oferta (VASCONCELLOS & OLIVEIRA, 2011).
A demanda pode ser definida como a quantidade de um determinado produto
que os consumidores pretendem adquirir em um dado período de tempo por certo preço.
Para compreendê-la é necessário perceber que o valor do produto baseia-se em sua
utilidade, ou seja, sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas, o que varia
entre os consumidores por aspectos culturais, sociais, pessoais ou psicológicos. Esta
força de mercado é influenciada por: preço do bem ou serviço, preço de produtos
substitutos e complementares, renda do consumidor e suas preferências
(VASCONCELLOS & OLIVEIRA, 2011).
De maneira geral, a quantidade demandada de um dado bem ou serviço é
inversamente proporcional ao seu preço em um determinado mercado, considerando
todos os outros fatores inalterados (VASCONCELLOS & GARCIA, 2014). Assim,
quando o preço de um produto sobe, o poder de compra geral diminui e os
consumidores passam a adquirir bens ou serviços mais baratos, ou seja, quanto maior o
preço menos pessoas estarão dispostas ou poderão comprá-lo. Quando o preço de um
produto baixa, ocorre o inverso, os consumidores passam a comprar uma maior
quantidade.
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Quanto à oferta, pode ser entendida como a quantidade de um determinado


produto que as empresas pretendem oferecer ao mercado em um dado período de tempo.
É influenciada por: preço do bem ou serviço, preço de produtos correlatos, preço dos
fatores de produção, tecnologia e preferências do empresário. A quantidade ofertada de
um produto é diretamente proporcional ao seu preço em um determinado mercado,
considerando todos os outros fatores inalterados (VASCONCELLOS & GARCIA,
2014). Deste modo, o aumento do preço do produto no mercado estimula as empresas a
fabricarem mais, enquanto a diminuição do preço inibe o seu fornecimento.
A interação entre as forças de oferta e demanda determina o equilíbrio de um
produto em um dado mercado, ou seja, o preço e a quantidade que atendem aos anseios
de consumidores e empresas simultaneamente (VARIAN, 2015). Se a quantidade
ofertada se encontrar acima daquela de equilíbrio ocorrerá formação de estoques não
planejados do produto, o que configura excesso de oferta ou escassez de demanda. Se a
quantidade ofertada estiver abaixo daquela de equilíbrio haverá formação de filas de
consumidores, o que denota escassez de oferta ou excesso de demanda. No primeiro
caso, o equilíbrio de mercado será alcançado com a diminuição do preço e no segundo
com o aumento do preço.
Desta forma, quando há competição tanto de empresas quanto de consumidores
existe uma tendência natural ao equilíbrio de mercado, ou seja, o preço e a quantidade
do produto irão se estabilizar no preço em que a quantidade ofertada for igual à
quantidade demandada. O preço praticado quando a quantidade oferecida é igual à
quantidade procurada é chamado de preço de equilíbrio, enquanto a quantidade de
equilíbrio é aquela que iguala a oferta e a demanda (VARIAN, 2015). Esta condição
representa a harmonia entre o preço do produto praticado pelas empresas e o valor pago
pelos consumidores para adquirir este bem ou serviço.
Neste cenário, para compreender a saúde financeira das empresas é necessário
analisar indicadores econômicos como: a receita, o custo de produção e o lucro
(SAMUELSON & NORDHAUS, 2012). A receita representa o valor obtido com a
comercialização dos bens ou serviços produzidos. O custo de produção compreende o
valor pago pelo conjunto de bens ou serviços necessários para conceber uma dada
quantidade de um produto, incluindo o custo de oportunidade, termo usado para
caracterizar um custo por oportunidades renunciadas em função da escolha de
investimento efetuada. O lucro é o valor resultante da diferença entre a receita e o custo
de produção.
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O objetivo dos empresários é maximizar o lucro, para isso precisam diminuir o


custo de produção ou aumentar a receita. A diminuição do custo de produção depende
da eficiência do processo, da logística e da estratégia de aquisição de insumos e de seus
preços. No tocante ao aumento da receita, como o preço do produto é estabelecido pelo
mercado, salvo raras exceções, a única alternativa é incrementar a produção. Mesmo
assim, com o aumento da produção, os custos de produção também aumentarão (DI
SERIO & VASCONCELLOS, 2009). Logo, a tendência é de que quanto menor for o
custo de produção mais competitiva é a empresa, ou seja, maior a sua capacidade de se
sobressair aos concorrentes no mercado por sua produtividade.
Entende-se por produtividade, a relação entre a produção e os fatores de
produção utilizados na concepção de um bem ou serviço, e por competitividade, a
capacidade de formular e implementar estratégias para ampliar ou conservar, de forma
duradoura, uma posição sustentável no mercado, para isso é fundamental uma cadeia
produtiva bem estruturada. A cadeia de produção compreende um conjunto de etapas
sequenciais para concepção de um dado produto final, que mantém relações econômicas
entre si (EVANS, 2013). Neste contexto, o termo competitividade tem sido aplicado à
empresas, cadeias produtivas e até países.
As etapas, também chamadas de elos, de uma cadeia produtiva podem ser
divididas em: insumos, produção, transformação, distribuição e comercialização. Os
insumos influenciam na composição de custos e nos indicadores de produtividade. A
produção é o elo que define o perfil geral da cadeia, englobando o porte, o nível
tecnológico empregado e a finalidade das empresas. A transformação é fundamental na
agregação de valor e na diversidade de produtos ofertados ao consumidor final. No elo
de distribuição, o transporte e a logística adotada pelos atacadistas são os fatores mais
importantes, visto que influenciam diretamente na disponibilidade e na qualidade do
produto. Por fim, a comercialização, geralmente efetuada por varejistas, contribui
decisivamente para a aceitação do produto e o planejamento dos demais elos
(ARBAGE, 2012; BATALHA, 2012).
Os elos de uma cadeia produtiva são afetados por dois ambientes: o institucional
e o organizacional. Entende-se por ambiente, o conjunto de todos os fenômenos
externos que influenciam na cadeia produção de um produto. O institucional contempla
o conjunto de normas e regras que delimitam as ações das empresas em todos os elos da
cadeia, como leis, regulamentos, políticas governamentais e seus órgãos executores. O
ambiente organizacional congrega grupos sociais com objetivos comuns, como
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sindicatos, associações e cooperativas, geralmente concebidas para melhorar a


capacidade de negociação ou encaminhar soluções de conflitos para seus atores
(ARBAGE, 2012; BATALHA, 2012).
Atualmente, as cadeias produtivas, além de estruturadas, são coordenadas de
forma a possibilitar interação e cooperação entre os diferentes atores sociais de seus elos
e ambientes, a fim de aumentar a sua competitividade. Portanto, é necessário que a
cadeia produtiva de um produto seja analisada de forma sistêmica para que se
compreenda outra importante definição, a de governança. Este termo representa a
capacidade de um ator formular e estabelecer estratégias, se articular com empresas
diferentes para desenvolver uma atividade de sua cadeia produtiva e provocar mudanças
na estrutura empresarial de outro ator para ser atendido e isto possibilite um benefício
para os demais (FEIJÓ, 2011; BATALHA, 2012; ZYLBERSZTAJN et al., 2015).
Quando a cadeia produtiva, que congrega aspectos econômicos, sociais,
ambientais e políticos, está estruturada em um mesmo território e as empresas nela
inseridas apresentam especialização e vínculos de produção, interação, cooperação e
aprendizagem, mesmo que incipientes, temos um arranjo produtivo local
(CASSIOLATO et al., 2008; OLIVEIRA, 2009). As particularidades deste tipo de
arranjo são: a delimitação de uma área geográfica, onde ocorre a interação entre os
atores; a diversidade dos agentes econômicos, como empresas, cooperativas, sindicatos,
governo e agentes financeiros; o conhecimento gerado e transmitido com a cooperação;
e a governança, que representa a liderança, geralmente exercida por empresários ou suas
organizações.
Esses arranjos podem ser classificados quanto ao seu grau de desenvolvimento
em: incipientes, quando estão desarticulados e carentes de lideranças legitimadas; em
desenvolvimento, quando atraem novas empresas e incentivam a competitividade de
seus agentes; e desenvolvidos, quando geram capacitação social e possibilitam inovação
em produtos e processos, tendo forte impacto sobre o território em geral
(CASSIOLATO et al., 2008; OLIVEIRA, 2009a). Desta forma, a aglomeração de
atividades econômicas torna-se um ponto determinante na geração de renda, emprego,
competitividade e inovação visando compensar as desigualdades entre regiões.
Ao deixar a esfera das empresas e dos consumidores individualmente para focar
numa determinada economia regional ou nacional e até nos mecanismos de busca do
Estado por eficiência e equidade, a análise passa a ser macroeconômica. Este ramo da
economia estuda o resultado agregado de vários comportamentos individuais,
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principalmente no que diz respeito à produção, ao uso de recursos, a geração de renda,


ao nível de preços e ao comércio exterior. Os principais objetivos da macroeconomia
são: o crescimento da economia, o pleno emprego e a estabilidade dos preços
(FROYEN, 2013; VASCONCELLOS & GARCIA, 2014).
A macroeconomia explica como o desemprego, a inflação, a taxa de juros, os
impostos e as políticas públicas podem influenciar diretamente em empresas de todos os
portes e no dia a dia das famílias. Em relação a questões governamentais, a qualidade de
aspectos infraestruturais, como transporte, telecomunicações e energia elétrica, a
disponibilidade de mão de obra qualificada, a carga tributária e a existência de
burocracia são alguns fatores indispensáveis na tomada de decisão de qualquer
empresário em relação a um investimento e decisivos no crescimento econômico de
uma região ou país (VASCONCELLOS & GARCIA, 2014). Por fim, é necessário
compreender que um empreendimento não pode ser concebido com base apenas em
análises microeconômicas, visto que o cenário macroeconômico já está posto, apesar de
dinâmico, e necessita de estratégias que adequem as iniciativas à sua realidade.
Essa abordagem teórica permite ao público em geral entender as relações
existentes entre a sociedade, as empresas e o governo, evidenciando de forma
simplificada a importância da economia para o cotidiano da população, independente de
formação acadêmica ou área de atuação profissional.

2. ASPECTOS ECONÔMICOS DA PRODUÇÃO DE PESCADO

O termo pescado compreende peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, répteis,


mamíferos e algas de água doce ou salgada utilizados na alimentação humana ou na
elaboração de produtos para nutrição animal (BRASIL, 1952). Em 2014, a produção
mundial de pescado foi de 167,2 milhões de toneladas, sendo 146,3 milhões de
toneladas destinadas ao consumo humano e 20,9 milhões de toneladas direcionadas à
fabricação de farinha e óleo, produtos não comestíveis usados em rações para
monogástricos, como peixes, camarões, aves, suínos, cães e gatos. No que diz respeito
ao total consumido por humanos, 46% foi comercializado nas formas vivo ou fresco, o
que atesta uma baixa frequência de beneficiamento ou industrialização do produto
(FAO, 2016a; FAO, 2016b).
O pescado é fonte de proteínas de alto valor biológico, ácidos graxos
poliinsaturados e vitaminas para seres humanos, além de apresentar alta digestibilidade
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(GONÇALVES, 2011). Nas últimas cinco décadas, a produção mundial cresceu a uma
taxa média anual de 3,2%, superando o incremento da população de 1,6% no mesmo
período. Neste contexto, o consumo per capita aparente do produto passou de 9,9 kg por
ano na década de 1960 para 20,1 kg por ano em 2014. Este valor superou o consumo de
outras carnes, como suínos, aves, bovinos, ovinos e caprinos, rendendo ao pescado a
condição de principal fonte de proteína de origem animal para alimentação humana
(FAO, 2016a).
Em relação ao aumento populacional estimado para as próximas décadas, a
expectativa é de que o número de pessoas no planeta chegue a 9,7 bilhões no ano de
2050, o que representaria um incremento de 32% nos atuais 7,3 bilhões de habitantes.
Caso o consumo per capita de pescado se mantenha, a produção precisará sofrer um
incremento de pelo menos 52,8 milhões de toneladas para atender a esta demanda.
Porém, a tendência é que haja acréscimo no consumo atual de pescado, visto que de
maneira geral tem aumentado a busca por alimentos mais saudáveis, a renda da
população e a eficiência nos canais de distribuição dos produtos (FAO, 2016a).
Desta forma, é necessário conhecer e analisar a disponibilidade dos fatores de
produção empregados na obtenção de pescado, bem como as organizações dedicadas a
esta finalidade. O conjunto de cadeias produtivas dedicadas à concepção de produtos
finais análogos de origem agropecuária pode ser denominado de sistema agroindustrial.
No caso do pescado, o sistema agroindustrial é formado por duas cadeias de produção
distintas, uma da pesca, atividade do extrativismo, e outra da aquicultura, atividade
agropecuária (SCORVO FILHO et al., 2010). O termo atividade pesqueira é usual para
caracterizar a cadeia produtiva da pesca como um todo.
No ano de 2014, a pesca foi responsável pela maior parcela da produção mundial
de pescado com 93,4 milhões de toneladas, enquanto a aquicultura contribuiu com 73,8
milhões de toneladas. Contudo, a produção da pesca está estagnada em
aproximadamente 90 milhões de toneladas há cerca de duas décadas, em função
principalmente do estado de sobreexploração da maioria dos estoques. Em
compensação, a aquicultura é o ramo que mais cresce entre as cadeias de produção
animal, cerca de 6,5 ao ano entre 2000 e 2014, superando atividades tradicionais da
pecuária, como a suinocultura, a avicultura e a bovinocultura. Este cenário evidencia
que a demanda mundial por pescado nos próximos anos será atendida sobretudo por
produtos advindos de cativeiro (FAO, 2016a).
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Historicamente, a produção da pesca é baseada principalmente em peixes


oriundos de ambiente marinho, com destaque para a China, a Indonésia, o Estados
Unidos, a Índia e o Peru. Este último país é diretamente influenciado por fenômenos
climáticos de ocorrência no Oceano Pacífico, como o El Niño, que promovem grandes
oscilações no volume de captura. Na aquicultura, a produção de espécies continentais é
tradicionalmente superior aos números da aquicultura marinha, tendo a China, a Índia, o
Vietnã, a Indonésia e Bangladesh como maiores produtores. É importante ressaltar que a
China participa com 62,6 milhões de toneladas na produção mundial de pescado, o que
representa 37,4% do total. No que diz respeito à produção por continente, as maiores
participações são da Ásia, América, Europa, África e Oceania, respectivamente (FAO,
2016b).
Em termos monetários, o pescado movimentou cerca de US$600 bilhões em
2014, sendo aproximadamente US$140 bilhões em exportações, valor superior ao das
carnes suína, bovina e de aves juntas. Um total de 73% das importações foi efetuado por
países desenvolvidos, com a União Europeia, o Estados Unidos e o Japão representando
os maiores mercados consumidores. Em relação às exportações, apesar da China e da
Noruega serem os principais responsáveis, os países em desenvolvimento apresentaram
um importante papel neste cenário, em especial integrantes do continente asiático, como
Taiwan e Vietnã (FAO, 2016b).
No tocante à geração de ocupação e emprego, as atividades vinculadas ao
sistema agroindustrial do pescado tiveram cerca de 56,6 milhões de pessoas envolvidas
diretamente no ano de 2014, com a Ásia concentrando 84,4% deste contingente. No que
diz respeito exclusivamente à aquicultura, 18,8 milhões de pessoas estavam ligadas a
este setor, com mais de 94% em países asiáticos. Esses valores podem ser justificados
por este continente apresentar sete países entre os dez maiores produtores e deter mais
de 85% da produção aquícola mundial. A maioria dos envolvidos em pesca ou
aquicultura foi do sexo masculino, apenas 19% eram mulheres, entretanto no
processamento e comercialização quase metade da força de trabalho foi do sexo
feminino (FAO, 2016a).
Em relação aos aspectos econômicos da produção de pescado, o conhecimento
do custo de produção é indispensável para análise do investimento necessário para a
operação de qualquer negócio. A pesca geralmente apresenta o combustível usado nas
embarcações como principal componente do custo de produção, seguido da
remuneração da tripulação e dos itens alimentares disponíveis para consumo a bordo.
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Em determinadas circunstâncias, a manutenção da embarcação, do motor e do apetrecho


de pesca também pode representar um item relevante. No caso da aquicultura, a ração
comercial, a remuneração dos funcionários e a aquisição de formas jovens
habitualmente são os itens mais significativos do custo de produção (SCORVO FILHO
et al., 2010; CAPELLESSO & CAZELLA, 2011).
No Brasil, de maneira geral, o custo para armação das embarcações pesqueiras
vem aumentando em uma proporção maior do que o preço do pescado. Na aquicultura, a
piscicultura continental, a carcinicultura marinha e a produção de moluscos bivalves
marinhos são os ramos mais desenvolvidos em termos de produção, número de
empreendimentos e movimentação de recursos financeiros, entretanto vêm passando por
situação semelhante a da pesca no que concerne aos aspectos econômicos (MPA, 2013;
VILELA et al., 2013). Esta condição exige um maior rigor na gestão econômica dos
negócios inseridos nesses setores, no sentido de aumentar a eficiência do processo
produtivo e diminuir custos, a fim de garantir uma rentabilidade atraente aos
investidores.
Neste contexto, o menor custo de produção das atividades de pesca e aquicultura
de outros países em relação ao Brasil, além de questões macroeconômicas, vem
estimulando as importações e fazendo com que a balança comercial do pescado se
mantenha deficitária (MIURA et al., 2012). O salmão do Atlântico Salmo salar vindo
do Chile e o bacalhau procedente da Noruega, produto seco e salgado elaborado a partir
de várias espécies, são voltados para uma faixa da população de poder aquisitivo mais
elevado. Os filés congelados de merluza Merluccius hubbsi da Argentina, polaca do
Alasca Theragra chalcogramma da China e panga Pangasius hypophthalmus do Vietnã
concorrem diretamente com peixes populares de carne branca capturados ou produzidos
no Brasil, tendo valores de mercado mais atrativos aos consumidores. Uma
particularidade da polaca do Alasca é que apesar de capturada na costa americana, o
produto é processado na China, que o exporta para o Brasil.
O filé de tilápia Oreochromis niloticus congelado é um exemplo de produto
nacional diretamente afetado pelas importações, visto que o preço praticado superior ao
dos produtos concorrentes diminui a sua participação no mercado. Essa situação reflete
nos fornecedores de formas jovens, nas fábricas de ração, nas propriedades produtoras,
nas unidades de beneficiamento e até nos atacadistas e varejistas, de modo a gerar uma
quantidade menor de ocupação, emprego e renda no país (SCORVO FILHO et al.,
2010). Até camarões marinhos, produtos tradicionais na pauta de exportação brasileira,
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já foram importados da Argentina em detrimento da produção pesqueira e aquícola


nacional. Neste caso, a espécie em questão era o Pleoticus muelleri e o concorrente
direto era o camarão cinza Litopenaeus vannamei, única espécie de camarão marinho
produzida comercialmente no Brasil.
Esse panorama mercadológico depende de ações dos setores público e privado
que possam tornar os preços dos produtos nacionais mais competitivos em relação aos
estrangeiros. No setor público, a diminuição da carga tributária, a melhoria da eficiência
das instituições e da infraestrutura de estradas e locais de comercialização, a diminuição
da burocracia para regularização das atividades e o acesso ao crédito seriam as
estratégias mais viáveis, enquanto no setor privado, a organização social e a
profissionalização das atividades de pesca e aquicultura diminuiriam custos e o
desperdício, melhorando os rendimentos (OSTRENSKY et al., 2008; CAVALLI &
FERREIRA, 2010; SIDONIO et al., 2012).
Em 2014, a produção brasileira de pescado foi de 1,3 milhão de toneladas, sendo
767 mil toneladas oriundas da pesca e 561,8 mil toneladas da aquicultura. A produção
oriunda do extrativismo foi predominantemente marinha e tem experimentado
incrementos pouco expressivos nos últimos anos, principalmente em função do estado
de sobreexploração dos principais estoques pesqueiros. A produção da aquicultura tem
crescido significativamente, em especial a criação de peixes de água doce, atividade que
carrega a expectativa de tornar o Brasil um dos maiores produtores mundiais de pescado
(IBGE, 2014; FAO, 2016b). Contudo, esses números ainda são inferiores aos de outras
carnes, visto que a produção de frango foi de 12,7 milhões de toneladas, de bovino 8,2
milhões de toneladas e de suíno 3,4 milhões de toneladas (IBGE, 2014).
Em relação ao consumo per capita de pescado, o Brasil alcançou 10,6 kg em
2014, valor abaixo da média mundial e dos consumos nacionais de frango com 42,7
kg/habitante, bovino com 39,6 kg/habitante e suíno com 14,7 kg/habitante (ABPA,
2015). Este cenário é propiciado por diversos fatores, em especial pelo preço do
produto, principal responsável pelo frango ser a proteína animal mais consumida no
Brasil. O pescado também apresenta uma menor variedade de produtos beneficiados ou
industrializados ofertada ao consumidor final do que as demais carnes, o que influencia
diretamente no aspecto praticidade e até na preferência dos clientes (SIDONIO et al.,
2012). Por fim, os métodos de conservação e os locais de comercialização podem ser
considerados dois agravantes para este baixo consumo, visto que a maior parte do
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pescado comercializado ainda é fresco e adquirido em feiras livres ou mercados


públicos, geralmente sem as devidas condições higiênico-sanitárias.
O número de pessoas envolvidas direta ou indiretamente no sistema
agroindustrial do pescado no Brasil não é conhecido, mas seguramente ultrapassa um
milhão. As estatísticas atuais estão deturpadas por interesses políticos, em função
principalmente do seguro desemprego no período do defeso concedido à pescadores
durante a vigência desta medida de ordenamento, ou pela ineficiência dos órgãos
públicos, como no caso da aquicultura, em que não existe um controle eficiente do
número de produtores e de suas estratégias de produção (CAPELLESSO & CAZELLA,
2011; SIDONIO et al., 2012). Ainda assim, é inegável a importância socioeconômica
dessas atividades no território brasileiro, seja na produção de alimento ou na geração de
ocupação, emprego e renda.
Apesar da importância da produção pesqueira no Brasil, a expectativa de
crescimento da produção é maior na aquicultura, visto que o país conta com
características favoráveis ao desenvolvimento das mais diversas modalidades aquícolas,
como 12% da água doce do planeta, 5,5 milhões de hectares de lâmina d’água em
reservatórios públicos, um litoral de 8.500 km, uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE)
de 4,5 milhões de km2, clima tropical na maior parte do território, significativa
produção de grãos e uma grande diversidade de espécies com potencial zootécnico e
mercadológico. Esses atributos o credenciam a ser um dos poucos aptos no mundo a
aumentar a oferta de pescado nos próximos anos, condição corroborada por sua taxa
média de crescimento da aquicultura superior a 10% ao ano na última década (MPA,
2013a; MPA, 2013b).
Atualmente, a piscicultura continental, a carcinicultura marinha e a
malacocultura são os ramos mais desenvolvidos da aquicultura brasileira. Essas
atividades são baseadas principalmente em espécies exóticas ou não nativas, sendo
praticadas em diversos ambientes, modalidades e estratégias de produção. A
carcinicultura de água doce, a ranicultura, a algicultura e a quelonicultura também
contam com empreendimentos comerciais, apesar do número reduzido de iniciativas
(MPA, 2013a; MPA, 2013b).
A expansão dessas atividades de maneira sustentável depende da organização de
suas cadeias de produção e do fortalecimento de seus elos, além de seus ambientes,
institucional e organizacional (VALENTI, 2008). Essa condição é um requisito para a
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sustentabilidade econômica dos empreendimentos, visto que um elo ou ambiente fraco


compromete o desempenho da cadeia como um todo.

3. CUSTO DE PRODUÇÃO E RENTABILIDADE NA PISCICULTURA

A carpa comum Cyprinus carpio foi a primeira espécie de peixe a ser


domesticada no mundo, fato ocorrido na China durante a Idade Antiga, quando
exemplares capturados no ambiente natural eram mantidos em lagos artificiais para
consumo humano ou como ornamentação (LI & MOYLE, 1993; OLIVEIRA, 2009b).
Posteriormente, esta espécie foi introduzida em vários países para fins de aquicultura,
primeiro no continente europeu e depois no americano, sendo a principal responsável
pela difusão da piscicultura no mundo. Mais recentemente, outras espécies também
contribuíram significativamente para a dispersão da atividade em escala global, como as
tilápias, as carpas chinesas e as trutas (PILLAY, 1993).
As primeiras experiências de criação de peixes no Brasil, com formas jovens
obtidas em cativeiro, ocorreram no final do século XIX e na primeira metade do século
XX, com a importação de espécies não nativas ou exóticas, como a carpa comum e as
tilápias. Contudo, a atividade passou a ser praticada de forma comercial apenas na
década de 1980, impulsionada por avanços como o domínio da reprodução induzida de
peixes nativos reofílicos, o desenvolvimento da técnica de reversão sexual de tilápias e
o surgimento das primeiras rações balanceadas para peixes, bem como pela demanda de
pesque-pagues por peixes vivos na região Sudeste (OSTRENSKY et al., 2008).
Na década seguinte, a tecnologia de criação de peixes em tanques-rede chegou
ao país e se consolidou, em especial após o surgimento de linhagens e híbridos com
melhores desempenhos zootécnicos e rações extrusadas de alta digestibilidade
(SCORVO FILHO et al., 2010). Atualmente, um dos maiores problemas enfrentados
pela piscicultura brasileira é sua lenta, mas contínua, transição de uma fase amadora
com baixo controle zootécnico e econômico para uma atividade praticada de forma
profissional. Em 2014, a produção piscícola nacional foi de 474,3 mil toneladas, sendo
baseada principalmente na criação de tilápia em tanques-rede e de peixes redondos em
viveiros escavados (OSTRENSKY et al., 2008; MPA, 2013a; IBGE, 2014).
Quando praticada de acordo com os preceitos técnicos e econômicos, a
piscicultura apresenta uma rentabilidade bastante atrativa aos investidores em
comparação a outras atividades agropecuárias (FURLANETO, 2009). Porém, uma
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maior segurança e melhor rendimento econômico dos empreendimentos perpassam pela


resolução ou atenuação de problemas clássicos do meio rural brasileiro, como a
dificuldade de regularização fundiária e ambiental, a burocracia para obtenção de
crédito e o elevado preço de insumos (OSTRENSKY et al., 2008). Depende ainda, de
uma mudança de mentalidade, onde o produtor deixe de tomar decisões meramente
técnicas e passe a agir como um microempresário, analisando também os aspectos
econômicos do negócio praticado.
Apesar da piscicultura de água doce ter experimentado um crescimento
significativo nos últimos anos, uma parcela considerável dos produtores ainda não
realiza a gestão econômica dos projetos de forma eficiente. Em empreendimentos
comerciais, essa situação dificulta o planejamento e a tomada de decisão dos
piscicultores, levando à adoção de sistemas, estruturas ou estratégias de produção
incompatíveis com a realidade do investidor, desconhecimento do custo de produção, do
montante financeiro empregado, da viabilidade econômica e até da rentabilidade
(BRABO et al., 2013).
De acordo com Lopes et al. (2009), um produtor empresário precisa considerar a
informação como um insumo de grande importância, conhecendo o seu sistema
produtivo, a cadeia onde ele está inserido e o seu custo de produção. Deve ainda, refazer
continuamente as análises técnicas e financeiras da atividade, juntamente com
simulações de diversas situações produtivas, visando subsidiar sua tomada de decisão.
Uma análise econômica, rígida e criteriosa, de um projeto de investimento é a base para
a sua realização, prevenindo empirismos causadores de fracassos (MARQUEZAN &
BRONDANI, 2006).
As informações referentes aos custos de implantação e de produção têm grande
relevância para a piscicultura, em especial pelo fato da atividade estar inserida em um
mercado que se aproxima da concorrência perfeita, onde o preço não pode ser
administrado por nenhum piscicultor de forma individual. Deve-se então, potencializar a
gestão do custo de produção para se manter competitivo e melhorar a rentabilidade do
negócio (SABBAG et al., 2011).
O custo de implantação compreende o valor desembolsado com serviços, bens
de capital e bens de consumo para concepção da infraestrutura necessária para a
operação do projeto. São exemplos de componentes do custo de implantação na
piscicultura: aquisição do terreno, limpeza da área, levantamento topográfico, serviços
de terraplanagem, tubos e conexões, construção de galpão ou depósito para
14

armazenamento de ração e equipamentos, bombas hidráulicas, redes de despesca,


tanques-rede, embarcações, puçás, balanças, tratores, instrumentos para aferição de
parâmetros físicos e químicos de qualidade de água e até os serviços de elaboração do
projeto e regularização do empreendimento, entre outros (BRABO et al., 2016) (Figura
1).

Figura 1. Exemplo de planilha orçamentária com a discriminação do custo de implantação de uma


piscicultura.
Fonte: Brabo et al., 2015.

Caso não sejam considerados todos os itens do custo de implantação de um


projeto, o piscicultor terá uma visão restrita do real valor referente ao seu investimento.
Deste modo, custos indiretos como a depreciação de máquinas e equipamentos deve ser
um item obrigatório na análise, mesmo não sendo um desembolso real para o produtor.
A depreciação representa a desvalorização que as máquinas e equipamentos sofrem ao
longo de sua vida útil e, no caso da metodologia do custo operacional, é elencada no
custo operacional total (MATSUNAGA et al., 1976; SABBAG et al., 2011).
O custo de produção de um produto equivale ao total de recursos financeiros que
serão necessários para adquirir os componentes que farão parte do processo de
concepção e comercialização, incluindo as externalidades, em algumas análises. A
determinação do custo de produção é uma importante ferramenta para a tomada de
decisão dos investidores, visto que auxilia na definição do preço de primeira
comercialização do pescado, além de permitir a avaliação de seus itens mais
significativos (BOECHAT et al, 2015).
15

Assim, para estimar os custos, é necessário que se conheça as quantidades de cada


insumo e seus respectivos preços, a fim de responder se a estratégia de produção
adotada é eficiente ou se há alguma anormalidade no processo. São exemplos de itens
do custo de produção: formas jovens, rações, produtos para calagem e fertilização, mão
de obra fixa e eventual, encargos sociais, energia elétrica, combustível, serviços de
manutenção, entre outros (BRABO et al., 2016) (Figura 2).

Figura 2. Exemplo de planilha orçamentária com a discriminação do custo de produção de uma


piscicultura.
Fonte: Brabo et al., 2015.

Diversos estudos têm sido realizados no Brasil acerca da análise de investimento


em piscicultura (SANCHES et al., 2008; FURLANETO et al., 2009; FURLANETO et
al., 2010; KODAMA et al., 2011; SABBAG et al., 2011; SILVA et al., 2012; BRABO
et al., 2013; PONTES & FAVARIN, 2013; SANCHES et al., 2013). Neste contexto, os
principais indicadores econômicos utilizados para avalição de rentabilidade são: o Valor
Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR), a Relação Benefício Custo
(RBC) e o Período de Retorno do Capital (PRC) (MARTIN et al., 1998) Estes
indicadores são baseados na projeção de fluxo de caixa, instrumento de gestão que
projeta para períodos futuros todas as entradas e saídas de recursos financeiros do
empreendimento, indicando como será o saldo para o período (Figura 3).
16

Figura 3. Exemplo de projeção de fluxo de caixa de uma piscicultura.


Fonte: Brabo et al., 2015.

O Valor Presente Líquido (VPL) é classificado como um indicador de fluxo de


caixa, o qual nos permite fazer análises da viabilidade econômica do empreendimento
em longo prazo, a partir dos valores atuais dos benefícios menos os valores atuais dos
custos ou desembolsos ocorridos. Quando o VPL é positivo, o investimento será
recuperado e remunerado com a taxa mínima de atratividade (TMA) requerida, quando
é nulo, há empate de capital, e quando o VPL é negativo, o investimento não é indicado
ou interessante (LAPONI, 2000).
De acordo com Megliorini e Vallim (2009), a TMA é a taxa de juros mínima que
cada projeto deve proporcionar para remunerar o capital investido nele. Assaf Neto e
Lima (2014) afirmaram que a TMA pode ser considerada o retorno que o investidor
espera pelo capital que está empregado no empreendimento, sendo pessoal e
intransferível, pois a propensão ao risco varia de pessoa para pessoa. O custo de
oportunidade e o risco do negócio são dois fatores decisivos na definição deste
parâmetro.
A utilização do VPL, no entanto, informa somente se o projeto gerará lucro ou
prejuízo e qual será esse valor. Assim, analisar esse indicador de forma isolada não
possibilita avaliar o quão atrativo ou não é o projeto. É necessário avaliar em conjunto a
sua Taxa Interna de Retorno, que mostrará em percentual o retorno que o projeto trará,
considerando o investimento e os fluxos de caixas (BILHAR, 2013).
A Taxa Interna de Retorno permite fazer a avaliação da rentabilidade do
empreendimento, sendo definida como a taxa de juros que iguala as inversões ou os
17

custos totais aos retornos ou benefícios totais obtidos no tempo de vida útil do projeto,
sendo bastante utilizado na tomada de decisão de investimento. A TIR é calculada
dividindo-se o valor do lucro líquido pelo investimento total, devendo ser comparada
com o custo de oportunidade do capital em uso alternativo, dado pela taxa mínima de
atratividade ou taxa de desconto (LAPONI, 2000).
De acordo com Torres e Diniz Júnior (2013) igualar a taxa de desconto com o
valor presente líquido é um dos principais critérios da TIR. Contudo, os autores citaram
como deficiência deste indicador a necessidade de calculadora financeira ou planilha
eletrônica para elaborá-la. Para Bruni et al. (1998), como a TIR mostra o valor do custo
de capital que torna o VPL nulo, ela é uma taxa que remunera o valor que foi investido
no projeto e quando é superior ao custo de capital do projeto, o mesmo deve ser aceito.
Entretanto, os autores relataram que o maior problema da TIR ocorre quando há
inversões de sinais do fluxo de caixa mais de uma vez. Em outras palavras, mesmo
demonstrando o retorno do investimento realizado, TIR não deve ser o único fator de
decisão de um projeto, pois caso ocorra um reinvestimento durante seu tempo de vida, o
resultado encontrado não será correto.
A Relação Benefício Custo (RBC) é um indicador que comprova se o projeto
será viável economicamente ou não, auxiliando o investidor na tomada de decisão desde
que o fator de desconto adotado no processo de atualização dos fluxos de custos e
benefícios seja maior ou igual ao custo de oportunidade do capital. Deve-se levar em
consideração um investimento quando a RBC for maior que um. É adimensional e
estima a expectativa de retorno para cada unidade de capital imobilizada no projeto analisado
(SANTOS et al., 2009).
O Período de Retorno do Capital (PRC) ou Payback é o indicador que determina
o prazo de recuperação de um investimento, também chamado de Payout. Este
parâmetro é utilizado para avaliar a atratividade de um investimento, mas deve ser
analisado em conjunto com outros indicadores. O payback pode ser simples, quando
não considera o valor do dinheiro no tempo, ou pode ser descontado, quando considera
o valor do dinheiro no tempo adotando uma taxa mínima de atratividade
(MARQUEZAN & BRONDANI, 2006).
O PRC é geralmente utilizado preliminarmente a outros indicadores, de forma
que se o payback for superior ao tempo máximo estipulado pelo empresário para
recuperar o investimento, este pode não ser aceito, mesmo com uma TIR superior ao
custo de capital ou VPL positivo. Esse indicador serve como parâmetro de liquidez e de
18

risco, de modo que, quanto menor seu valor, mais é o investimento e, portanto menos
arriscado (BRUNI et al., 1998).
Outros indicadores, baseados exclusivamente em resultados contábeis, também
podem ser empregados para avaliar economicamente os empreendimentos de
piscicultura, são eles: a Receita bruta (total produzido multiplicado pelo preço médio de
venda), que representa a remuneração obtida com a comercialização do produto; o
Lucro operacional (diferença entre a receita bruta e o custo operacional total), que
corresponde ao valor disponível para o empreendedor após a quitação de todos os custos
e despesas; a Margem bruta (diferença entre a receita bruta e o custo operacional total,
dividida pelo custo operacional total), que representa o retorno obtido em relação custo
operacional total; o Índice de lucratividade (lucro operacional divido pela receita bruta),
que é taxa disponível para o empreendedor após a quitação de todos os custos e
despesas; e o Ponto de equilíbrio (produção mínima necessária para cobrir os custos e
despesas), que é a quantidade a ser produzida para que não haja prejuízo no negócio ou
o preço que promove o empate do capital (BRABO et al., 2013; BRABO et al., 2016)
(Figura 4).

Figura 4. Exemplo de indicadores utilizados na avaliação econômica de uma piscicultura.


Fonte: Brabo et al., 2015.

Neste contexto, os interessados em investir na criação de peixes em escala


comercial devem pautar sua tomada de decisão em projetos técnico-econômicos capazes
de indicar os bens e serviços necessários para a sua implantação e execução, bem como
suas respectivas quantidades demandadas e preços. Essas informações, juntamente com
um estudo de mercado, permitem analisar a viabilidade econômica e a rentabilidade do
empreendimento, além de possibilitar a adoção do sistema, da estrutura de criação e da
19

estratégia produtiva mais indicados para a realidade do produtor ou de sua propriedade.


No caso de projetos em funcionamento, o controle rigoroso do custo de produção e a
capacidade de reconhecer oportunidades na cadeia produtiva são características
essenciais aos empresários de sucesso.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão de conceitos da ciência econômica, como demanda, oferta e


equilíbrio de mercado, concede aos investidores o embasamento necessário para definir
o que, quanto, como e para quem produzir. Essas informações combinadas ao
conhecimento dos aspectos econômicos dos sistemas de produção de pescado, em
especial da cadeia de produtiva em questão, são fundamentais para o sucesso de
qualquer empreendimento. Neste contexto, os elementos apresentados evidenciam a
piscicultura continental enquanto oportunidade de negócio, bem como destacam a
necessidade de planejamento e gestão dos projetos comerciais de forma criteriosa, visto
que não são raros os casos de insucesso.

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