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O repórter dispõe de menos informação do O repórter dispõe de mais informação que


que a maioria das suas fontes. qualquer uma das suas fontes.
As fontes não podem ser identificadas para
As fontes normalmente são identificadas.
manter a sua segurança.
Resultados
A história visa penetrar ou expor uma dada
O repórter não espera obter resultados além
situação, para que seja reformada ou
de informar o público.
denunciada.
A reportagem não requer um engajamento Sem engajamento pessoal do repórter, a
pessoal por parte do repórter. história nunca será completada.
Reportagem aponta vítimas, heróis e
Reportagem sem viés ou juízo.
malfeitores, pode oferecer um veredito.
Utiliza uma estrutura dramática e leva a uma
Não utiliza a estrutura dramática e a história
conclusão oferecida pelo repórter ou uma
não precisa ter um desfecho.
fonte.
Erros não podem ser cometidos pelo repórter,
Erros podem ser cometidos pelo repórter,
pois podem levar a sanções e destruir sua
normalmente sem consequências sérias.
credibilidade e do veículo de comunicação.
Fonte: Hunter e Hanson (2013). Adaptado pelo autor.

Lage (2020) faz um comparativo entre o repórter de atualidades e o investigativo. O


primeiro é um profissional que depende das fontes e não tem acesso às “fontes das fontes” e
aos documentos primários que originaram a notícia. Já o repórter investigativo tem como
característica principal ser o profissional que busca os documentos originais. O autor divide
uma reportagem investigativa em fases.
a) A primeira pode partir de diversas experiências: fatos curiosos ou sem
explicações, observações, leituras, notícias novas ou pistas concedidas por
informantes.
b) Na segunda fase, verifica-se a existência de documentos e fontes acessíveis e
disponíveis, se há recursos, tempo e a que resultados pode levar a investigação.
c) A terceira fase é a da pesquisa com as fontes.
d) A quarta é o desenvolvimento de um plano de ação, definindo custos, métodos de
arquivamento e cruzamento de informações.
e) A quinta fase é colocar todo o plano em prática.
f) Na sexta fase, reavalia-se o material apurado para que sejam completados os
vazios de informação.
Já nas etapas finais, realizam-se a avaliação final, a redação, a revisão e a publicação.
Essas investigações resultam em uma grande quantidade de textos, tornando inviável a
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publicação em páginas de diários, sendo mais comum serem publicadas na forma de livros ou
documentários em vídeo.
Para os autores Noronha e Rocha (2018), o jornalismo investigativo requer mais
esforço e engajamento do repórter. Consequentemente, exige um maior empenho no
levantamento de informações, entrevistas, checagem e rechecagem. Sendo assim, é necessário
mais tempo para concluir o trabalho.
Pode-se concluir que o jornalismo investigativo é uma categoria que se diferencia das
outras áreas do jornalismo por ter processos mais trabalhosos e aprofundados de investigação,
requerendo recursos e tempo. Além disso, os processos são delicados e até arriscados de se
produzir e colocar em prática. Esse tipo de jornalismo, segundo Sequeira (2005), pode ser
encontrado nas publicações dos veículos de comunicação brasileiros desde a metade dos anos
1970, no final da ditadura militar, quando findou a censura prévia aos jornais.
O jornalismo investigativo, além de produzir um material de qualidade e conteúdo,
também tem seu papel social. Moser (2019) pondera sobre a importância do jornalismo
investigativo como um instrumento para a promoção dos direitos humanos, com foco na
realidade brasileira, com um histórico de desigualdades, violências e autoritarismo. “Como
agentes do exercício da liberdade de expressão, a partir de práticas de investigação, jornalistas
desempenham papel central na ampliação do debate público desta temática” (MOSER, 2019,
p. 1).
Caco Barcellos e Daniela Arbex, duas referências no jornalismo investigativo
brasileiro, em entrevistas concedidas a Moser (2019, p. 2), trazem questionamentos relevantes.
Caco diz que “as pessoas deixaram de ser ouvidas e os problemas reais de serem vistos com o
afastamento de jornalistas das ruas e a disseminação de matérias feitas das redações” (apud
MOSER, 2019, p. 2). Ainda defende que, no Brasil, a questão de classe deve ser obrigatória,
não importa a temática: “Por que em Higienópolis a expectativa de vida é de 74 anos e em
Capão Redondo é de 48?” (apud MOSER, 2019, p. 2), exemplificando bairros com grande
contraste social na cidade de São Paulo. Também faz críticas às abordagens midiáticas contra
pobres e programas sensacionalistas de fim de tarde, acreditando que a imprensa é frágil e
covarde contra os poderosos, e conclui dizendo que o jornalismo crítico deve usar a lógica
contrária. Já para Daniela os direitos humanos devem fazer parte da ética e do cotidiano do
profissional, em um país em que a sociedade é machista, individualista, preconceituosa e
intolerante, que acredita que há vidas que valem mais do que outras, pensamento secular de
uma sociedade higienista (apud MOSER, 2019, p. 2).

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