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República de Moçambique

Ministério da Saúde
Direcção de Recursos Humanos - Departamento de Formação

TECNOLOGIAS
FARMACÊUTICAS
II
© 2011. Ministério da Saúde.
Esta publicação do Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU) foi realizada com apoio da Agência de Cooperação
Internacional do Japão (JICA)
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.
1ª edição – Ano 2011

Elaboração, distribuição e informações:


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Direcção de Recursos Humanos
Departamento de Formação
Repartição de Planificação e Desenvolvimento Curricular (RPDC)
Av. Eduardo Mondlane, 4º andar
Maputo – MZ

Coordenação
Lucy Sayuri Ito (JBPP/DRH ­ Departamento de Formação)
Ermelinda Notiço (DRH ‐ Departamento de Formação)
Suraia Mussá Nanlá (Instituto de Ciência da Saúde – Maputo)

Créditos
Reinaldo da Encarnação Mabeia (Farmacêutico, Hospital Central de Maputo)
Suraia Mussa Nanlá (Farmacêutico, Instituto de Ciência da Saúde ‐ Maputo)

Colaboradores
Ana Cristina Fernandes (Farmacêutico, Hospital Central de Maputo)
Alberto Chambe (Farmacêutico, Hospital Central de Maputo)

Revisor de português: Ermelinda Notiço (DRH‐ Departamento de Formação)

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PREFÁCIO

O presente manual foi concebido para dar apoio aos docentes e estudantes de modo a permitir
melhor compreensão dos conteúdos que nele constam.

O manual caracteriza‐se por abordar de forma integrada as matérias respeitantes a cada uma
delas. É evidente que não foi tarefa fácil preparar esta versão, a qual foi organizada segundo uma
estrutura que obedeceu a sequência do currículo recentemente aprovado, e por continuarmos a
pensar que este manual se destina não só aos docentes mas também aos estudantes.

Porque neste mundo nada é perfeito, estamos conscientes de que também este manual não
escapa a essa regra, por isso, receberemos com muito agrado, todas as críticas e sugestões
tendentes a melhorá‐la em futuras edições, se tal eventualidade nos for proporcionada.

Salientamos que este é o primeiro manual a ser elaborado. Resta‐nos agradecer à JICA o
imprescindível apoio para que, mais uma vez, pudéssemos concretizar um projecto que há muito
tempo ambicionávamos tornar realidade.

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INDICE

CAPÍTULO I. CONCEITOS APLICÁVEIS A TECNOLOGIA FARMACÊUTICA ..................................................................5


CAPÍTULO II. FORMAS FARMACÊUTICAS OBTIDAS POR DIVISÃO MECÂNICA..........................................................6
CAPÍTULO III. PÓS .....................................................................................................................................................8
CAPÍTULO IV. COMPRIMIDOS .................................................................................................................................13
CAPÍTULO V. COMPRESSÃO ..................................................................................................................................20
CAPÍTULO VI.TIPOS ESPECIAIS DE COMPRIMIDOS .................................................................................................23
CAPÍTULO VII. ACONDICIONAMENTO DE COMPRIMIDOS .....................................................................................25
CAPÍTULO VIII. CÁPSULAS.....................................................................................................................................29
CAPÍTULO IX. SUPOSITÓRIOS E ÓVULOS ................................................................................................................31
CAPÍTULO X. ÓVULOS ............................................................................................................................................34
CAPÍTULO XI. PREPARAÇÕES PARA USO AURICULAR............................................................................................35
CAPÍTULO XII. PREPARAÇÕES INJECTÁVEIS ............................................................................................................37
CAPÍTULO XIII. COLÍRIOS .......................................................................................................................................38
CAPÍTULO XIV. ESTABILIDADE DE MEDICAMENTO.................................................................................................41
CAPÍTULO XV. FORMAS FARMACÊUTICAS DE LIBERTAÇÃO MODIFICADA.............................................................43
CAPÍTULO XVI. ESTERILIZAÇÃO...............................................................................................................................45
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................................47

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CAPÍTULO I. CONCEITOS APLICÁVEIS A TECNOLOGIA
FARMACÊUTICA

A tecnologia farmacêutica é uma ciência de aplicação que tem por fim obter preparações
farmacêuticas a que se dá o nome de medicamentos. Estas preparações devem ser dotadas de
máxima actividade, doseadas com a maior precisão e apresentadas sob uma forma que facilite a
sua conservação e administração. A tecnologia farmacêutica estuda, portanto, a transformação
em medicamentos, dos produtos naturais (animais, vegetais e minerais), ou da síntese tornando‐
os susceptíveis de serem administrados aos seres vivos com fins profilácticos, curativos ou
diagnósticos das várias doenças. Os medicamentos apresentam‐se sob diversas formas, que se
chamam formas farmacêuticas. Estas são resultado das várias operações a que se submetem as
substâncias medicamentosas a fim de facilitar a sua posologia e administração, mascarar os
caracteres organolépticos e assegurar a acção desejada.

Para conseguir realizar o seu objectivo, a tecnologia farmacêutica serve‐se de numerosas ciências
fundamentais como a física, a química, a botânica, e ciências de aplicação, como a farmacognosia
e a farmacodinâmica. Conjugando esses conhecimentos a tecnologia farmacêutica ocupa‐se em
obter preparações medicamentosas, susceptíveis de se conservarem com a máxima potência
durante bastante tempo e de permitirem fácil administração. A tecnologia farmacêutica é
subsidiada por numerosas ciências, constituindo ela própria uma ciência de aplicação e
libertando‐se cada vez mais do empirismo que a caracterizou no passado.
Efectivamente a obtenção de medicamentos pressupõe o conhecimento pleno das propriedades
físicas, químicas, e biológicas dos produtos utilizados nas preparações, bem como os fins a que
aqueles se destinam. Isto quer dizer que um técnico ligado a produção de medicamentos deverá
possuir uma sólida cultura científica, abrangendo noções exactas do conhecimento das matérias ‐
primas utilizadas, da sua compatibilidade e estabilidade e, ainda, das respectivas acções
farmacológicas.
Em resumo, a tecnologia farmacêutica estuda os métodos racionais e científicos para a
preparação das formas farmacêuticas, o modo de associar as substâncias medicamentosas, as
incompatibilidades que se podem originar e a conservação, uso, controlo e outros cuidados
inerentes as fórmulas preparadas com aplicação da tecnologia farmacêutica.

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CAPÍTULO II. FORMAS FARMACÊUTICAS OBTIDAS POR DIVISÃO
MECÂNICA

Espécies
As espécies são misturas de plantas ou de partes de plantas secas, divididas em pequenos
fragmentos, as quais podem ser adicionadas de compostos químicamente definidos. As espécies
nunca são preparadas por plantas muito activas que tenham alcalóides ou glicosidos para
evitarem incompatibilidades com os taninos e possíveis intoxicações que possivelmente possam
surgir. Os componentes das espécies são empregados geralmente em igual proporção. As
espécies são usadas para a preparação de outras formas farmacêuticas como macerados, infusos,
digestos, cozimentos e "chás medicinais".

Preparação
Antes da preparação propriamente dita, deve‐se proceder a triagem das matérias‐primas para se
eliminarem os resíduo s de substâncias estranhas a droga e verificar‐se os componentes que já
foram anteriormente esgotados por dissolventes diversos. Na preparação das espécies devem
misturar‐se fragmentos do mesmo tamanho, provenientes da mesma parte da planta; as folhas
devem ser misturadas com folhas, as flores com flores, etc. Eventualmente podem se associar as
folhas com frutos e as raízes com cascas mas as partes usadas devem ser do mesmo tamanho. Se
uma espécie tiver compostos químicamente definidos, podem ser distribuídos no estado de pó
sobre a mistura das plantas. Uma alternativa preferível é dissolver as substancias químicas na
água ou no álcool e humedecer a mistura vegetal com a solução obtida, procedendo‐se
seguidamente a eliminação do solvente por aquecimento a 50°C aproximadamente.

Conservação
Conservam‐se bem as espécies em frascos de vidro, com rolha esmerilada, mantidos em lugar
seco e ao abrigo da luz. Como prazo de validade, não se aconselha ultrapassar um ano após a sua
preparação.

Formas complementares das espécies


 CIGARROS MEDICINAIS

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Os cigarros são formados por folhas secas da plantas medicinais que se introduzem num
invólucro de papel adequado, ao qual se dá forma de cigarro. As folhas são préviamente
impregnadas com uma solução de nitrato de prata potássio, numa quantidade de cerca de 2% em
relação ao total da forma e que servem como facilitadores da combustão das folhas. Os cigarros
medicinais apresentam um peso de 1g cada um, isto é, cada cigarro deve conter 1g de folhas secas.
A actuação dessa forma farmacêutica consiste no facto de os fumos libertados durante a
combustão serem aspirados pelo paciente. Os fumos, ao penetrar no organismo pelas vias
respiratórias, escapam, em grande parte, ao efeito da primeira passagem pelo fígado, o que
representa uma vantagem apreciável, designadamente no que respeita a rapidez de acção e
integridade dos princípios activos.

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CAPÍTULO III. PÓS

Generalidades
Os pós são preparações farmacêuticas constituídas por partículas sólidas, livres e secas e mais ou
menos finas, devendo apresentar, dentro de cada categoria, uma certa homogeneidade entre as
partículas que os constituem. Os pós resultam da divisão de fármacos animais, vegetais, minerais,
ou obtidos por síntese química, podendo constituir uma forma de administração directa ou
destinam‐se à obtenção de outras formas galênicas.
Na administração directa, são susceptíveis de se aplicarem interna e externamente, conforme a
natureza do fármaco que foi pulverizado. No segundo caso, constituem o ponto de partida para a
minoria das formas medicamentosas. Assim podem ser usados para a preparação de
comprimidos, cápsulas, pastilhas, pílulas, etc. E é necessário pulverizar as drogas constituintes
das respectivas fórmulas que só depois serão usadas para obter o medicamento desejado.

Neste capítulo, vai se estudar e analisar a forma farmacêutica pó para a administração directa. A
redução dos fármacos ao estado de pó apresenta numerosas vantagens. A pulverização cria‐lhes
condições para que apresentem um efeito farmacológico mais rápido e regular, muitos fármacos
só se dissolvem depois de pulverizados, e de um modo geral, a sua extracção pelos dissolventes
vai sendo mais eficaz á medida que diminui o diâmetro das suas partículas. Os pós são tanto mais
activos quanto mais elevado é o seu grau de divisão, pois cada partícula apresenta também maior
superfície específica. Dentre as vantagens dos pós que se apresentam, ainda se pode relembrar a
de que há maior facilidade de deglutição dos pós mesmo quando é elevado o volume que se
administra, e a possibilidade de se misturarem com elementos ou bebidas, o que torna a sua
ingestão mais fácil.

Preparação
A preparação dum pó é uma operação complexa que se pode dividir em três partes fundamentais:
1. Operações preliminares;
2. Operação principal ou pulverização propriamente dita;
3. Operações acessórias.

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Operações preliminares
Triagem ou monda, (á mão, por crivo, por ventilação e por lavagem);

Divisão grosseira
Por secção, por contusão, por rasuração, por granulação, por extinção.

Secagem
Processos de secagem: exposição ao ar livre, secagem pelo ar seco a temperatura ambiente,
secagem pelo ar quente secagem por radiações infravermelhas;

Amolecimento
Estabilização por métodos de destruição de enzimas pelo álcool a ebulição, destruição de enzimas
pelo calor húmido;

Outros métodos
a) Calor seco;
b) Correntes de alta frequência.

Técnicas de pulverização
 Pulverização em almofariz
a) Por contusão;
b) Por trituração.

 Pulverização por intermédio


a) Intermédios sólidos;
b) Intermédios líquidos;
c) Intermédios gasosos

 Pulverização por fricção;


 pulverização química (reacções químicas); porfirização;

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pulverização por moinhos
Moinhos manuais, moinhos accionados por motores (moinhos de laboratório e moinhos de tipo
industrial).

Operações subsequentes a pulverização


Tamisação, determinação do grau de tenuidade de um pó, trociscação.

Pulverização de substâncias moles ou polpação


Aplica‐se exclusivamente a produtos vegetais frescos e carnudos, com o fim de os transformar
numa pasta mole, que se separa das partes fibrosas e duras.

Classificação dos pós


Pós simples e pós compostos; os simples resultam da divisão de uma única droga e os compostos
obtêm‐se misturando dois ou mais pós simples.

Preparação dos pós


 Pós simples: a escolha do processo de pulverização mais adequado a cada caso depende
das propriedades físico – químicas da droga a pulverizar, do grau de divisão pretendido e
da quantidade do pó a preparar a droga a pulverizar é triturada até passar completamente
através de um tamiz correspondente ao pó que se pretende obter. A mais importante
operação acessória da pulverização é a tamização.
 Pós simples titulados: de modo geral, determina‐se o teor de princípio ou princípios
activos do pó, ajustando‐o ao título pretendido por diluição com pós inertes (amido de
arroz, lactose, pó da droga esgotada); os pós titulados apresentam numerosas vantagens,
como:
a) Droga geralmente, em pó fino, de composição constante
b) Fácil manejo na preparação de pós compostos ou de formas complementares dos pós
(cápsulas, pílulas, comprimidos, etc.).
c) Material que, em casos de emergência, pode substituir outras preparações da mesma
droga;

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d) Teor mais elevado em princípios activos do que outras formas farmacêuticas como
tinturas, infusos, macerados;
e) Obtenção mais económica e rápida, sem necessidade de recorrer a dissolventes e a
aparelhagem mais ou menos complicada.

Pós compostos
São aqueles que se obtêm pela mistura de dois ou mais pós simples. A mistura é a operação que
diferencia os pós simples dos compostos. Podem ser obtidos por espatulação ou por
misturadores.

Incompatibilidades dos pós


As principais incompatibilidades dos pós manifestam‐se por formação de misturas euteticas,
misturas explosivas e misturas coradas. A mistura de Bonain eutetica obtêm‐se por mistura de
partes iguais de fenol, mentol e cloridrato de cocaína e é usada como anti‐séptico e anestésico em
odontologia.

Acondicionamento
Os pós preparados em grande quantidade acondicionam‐se em bidões de alumínio, tambores de
plástico, frascos de vidro de capacidade apropriada. De modo geral:
a) Acondicionam‐se em frascos ou caixas, cartão, metal, plástico ou
b) Em doses individuais em invólucros de papel, de plástico, de celofane, etc.

Verificação dos pós


Para verificação da qualidade de um pó podem ser executados variados ensaios. As
características organolépticas, como a cor, o cheiro e o sabor constituem verificações fáceis de
efectuar e são suficientes para orientar um técnico quando a identidade e o estado de
conservação dos pós. Os pós simples, animais ou vegetais identificam‐se geralmente pelo seu
exame microscópico por reacções de coloração ou de precipitação características de alguns dos
seus componentes.

Secagem e processos de secagem

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A secagem é uma das operações preliminares mais importantes que se torna imperioso executar,
sempre que a substância tenha certo grau de humidade, pois nessas condições torna‐se pouco
fiável e resiste a desagregação.
As drogas podem ser exsicadas a temperatura de 25ºC ou pode‐se recorrer a secagem a
temperatura ambiente em exsicadores. Por aquecimento a 25ºC podem secar as seguintes
drogas:
a) As drogas contendo essências: anis
b) Drogas contendo substâncias alteráveis: açafrão
c) Drogas que amolecem a temperaturas mais elevadas: sabão

Granulado
Os granulados são constituídos por substâncias medicamentosas associadas ao açúcar e ou
outros adjuvantes, apresentando‐se formados por pequenos grãos ou grânulos irregulares, cujo
conjunto tem aspecto homogêneo.

Preparação
Os granulados podem ser obtidos por três processos fundamentais: a húmido, a seco e por fusão.

a) A húmido: humedecimento de pós, granulações da massa por meio de um tamiz, secagem


dos grãos húmidos e calibração do granulado.

b) A seco: utiliza‐se na preparação de granulados que constituam uma fase intermediária na


obtenção de alguns comprimidos. A preparação dos granulados por fusão consiste no
aquecimento das substâncias medicamentosas que fundem superficialmente,
aglomerando‐se sob forma de pasta a qual é passada, depois, por um crivo. O aquecimento
efectua‐se geralmente a 90‐105°C.

Verificação
Verifica‐se o tempo de desagregação; a resistência; a humidade; a porosidade; tamanho dos grãos
constituintes e a dosagem dos princípios activos.

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CAPÍTULO IV. COMPRIMIDOS
São formas farmacêuticas de consistência sólida, forma variada, geralmente cilíndrica ou
lenticular, obtidas por agregação de várias substâncias medicamentosas secas e podendo ou não
encontrar‐se envolvidas por revestimentos especiais. Têm especial relevo devido às vantagens
que apresentam, de entre as quais sintetizam‐se as seguintes: Precisão na dosagem; conservação
geralmente ilimitada ou pelo menos muito melhor do que a apresentada pelas soluções; rapidez
na preparação, econômicos, atendendo à facilidade de produção e rendimento; boa apresentação;
fácil deglutição; reduzido volume.

Regras gerais de preparação de comprimidos


Uma vez bem estruturada teoricamente a fórmula, a preparação de comprimidos não pode ser
considerada difícil. Fundamentalmente, trata‐se de obter um pó, a maioria das vezes composto, o
qual se granula a seco ou a húmido, segundo os casos. Se a granulação é executada a húmido há
que seguir a técnica de preparação dos sacaretos granulados, tendo apenas em atenção a escolha
do crivo adequado para o peso dos comprimidos a obter. Seco o granulado, procede‐se à sua
calibração e, por último, associa‐se‐lhe o lubrificante ou mistura de lubrificantes, depois do que
se procede à compressão. Preparado o granulado, o mesmo é lançado no distribuidor da máquina
que se regula para o peso sobre um certo número de unidades estipuladas pela farmacopéia (20
comprimidos), passa‐se a regular a compressão, o que é susceptível de se executar modificando o
curso do punção superior. São estas, em resumo, as fases da preparação de comprimidos de
materiais não directamente compressíveis.
Quanto às substâncias directamente compressíveis, pode‐se dizer que a obtenção de
comprimidos consiste, fundamentalmente, na compressão. No entanto, é também necessário que
o sólido directamente compressível esteja dividido em partículas de dimensões semelhantes e
adequadas ao tamanho dos punções escolhidos.

Manipulação dos pós


Para que se consiga fazer a compressão da maioria das substâncias é necessário a presença de
adjuvantes, que têm por fim diluir o produto, aglutinar as suas partículas, facilitar a desagregação
do comprimido, evitar as aderências do pó aos punções e à matriz, facilitar o escoamento do

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distribuidor. Os adjuvantes utilizados na preparação de comprimidos dividem‐se em: diluentes,
absorventes, aglutinantes, desagregantes, lubrificantes, molhantes, corantes, tampões,
aromatizantes, edulcorantes, etc.

Diluentes
Servem para diluir a substância medicamentosa. Usam‐se sobretudo para a obtenção de
comprimidos de substâncias muito activas, permitindo que os comprimidos possam ter um peso
mais consentâneo com a facilidade da sua fabricação.
Podem ser solúveis, como a sacarose, lactose, manita, cloreto de sódio, etc, ou insolúveis, como:
Os amidos, nomeamente de batata (fécula) de trigo, milho, mandioca, arroz, etc. Estas substâncias
(amidos) retêm, no geral; 5‐8% de água, pelo que normalmente deverão ser secos em estufa a
1500c até que o seu teor de humidade baixe para mais ou menos 3%. Evitam o perigo da hiper‐
dosagem.

Absorventes
São substâncias destinadas a fixar princípios voláteis tais como as essências, ou absorver água
dos extractores, ou ainda a incorporar princípios medicamentosos higroscópicos, que assim
deixam de fixar a humidade atmosférica. Exemplos: alguns pós vegetais de alteia e de alcaçús,
glícidos, lactose e desetrina, fosfato tricálcio, caulino, bentonite, terra de infusórios, geles de sílica
pulverizadas, que são muito leves e de pós largos, mais vulgarmente utilizados com o nome de
Levelite. A levelite é capaz de absorver duzentas (200) vezes o seu peso em água, continuando
com o aspecto de seca.

Aglutinantes
São substâncias que se usam para facilitar a agregação de outras de difícil compressão, como:
carvão, gelase, fenacetina, etc. devem usar‐se na mesma quantidade possível para que não seja
prejudicada oportunamente a necessária desagregação dos comprimidos. Exemplos de
aglutinantes: açucares em pó ou solução, amidos sob a forma de cozimento, gomas arábica e
adraganta, sob a forma de mucilagem, gelatina em solução, polivenilpinolidona, peptona,
metilcelulose, etilcelulose, carboxietilcelulose, parafina, ácido esteárico, óleo de cacau e os
carbowaxes ou polietilenoglicóis.

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Desagregantes
Destinam‐se a provocar o rompimento e desagregação dos comprimentos; devem ser juntados
aos granulados medicamentosos e não incorporados nestes. Os desagregantes podem actuar por
inchaço ou tumefacção. Exemplos: Amidos. Pó de laminária, peptina, agar‐agar, caseína,
derivados de celulose, etc. Podem também regular por libertação de gazes na reacção de água,
carbonatos, bicarbonatos, peróxidos e misturas efervescentes ou ainda podem actuar por simples
dissolução, o que determina destruição da estrutura do comprimido; para tais usam‐se: glucose,
lactose, o cloreto de sódio, etc.

Lubrificantes
São substâncias que se juntam à massa do comprimido, à massa granulada e seca dos
comprimidos com a finalidade de facilitar o escorregamento do granulado ao longo do
alimentador das máquinas de compressão para as respectivas matrizes ou ainda para diminuir a
tendência de adesão dos comprimidos à matriz e aos punções, e consequentemente facilitar a
ejecção do comprimido, isto é, têm fins deslizantes e anti‐aderentes, pelo que, no geral, são
constituídos por misturas de uma ou mais substâncias isto sempre que uma única substância não
possa por si só satisfazer esta dupla finalidade. Exemplos: deslizantes, talco, carbowaxes, anti‐
edulscorantes vários, estearatos, gorduras, parafinas.

Molhantes
São substâncias que se juntam à massa dos comprimidos, para combater as propriedades
hidrófobas dos lubrificantes, provocando na maior parte dos casos, um aumento de velocidade de
desagregação dos comprimidos, isto é, além de dificultar a produção de pó durante a compressão,
o que é sempre vantajoso e muito principalmente se as substâncias a comprimir forem tóxicas ou
muito activas. Exemplos: sulfato de lauril e sódio, sais de trietanalamina, Tween 80.

Tampões
São misturas de substâncias que se juntam aos comprimidos para evitar que, com o tempo, o
valor de pH do comprimido se altere, e com ele os principais activos; servem ainda para corrigir a
acidez do estômago que poderia destruir a droga medicamentosa, ex.: a penicilina. Entre as

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substâncias usadas como tampões podem indicar‐se os fosfatos alcalinos, o carbonato de cálcio, o
citrato de sódio, o tricilicato de magnésio e a gli‐cola.

Aromatizantes
São substâncias que se adicionam aos comprimidos para lhes conferir um bom odor. Para este
efeito usam‐se diversas essências, citando‐se, entre as mais usadas (substâncias): a essência de
laranja, limão, cereja, fambroesas, anis, hortelã‐pimenta, baunilha.

Edulcorantes
Estes destinam‐se a corrigir o gosto de certas substâncias comprimidas. Exemplos: a sacarose e a
sacarina.

Nota: A doçura dos comprimidos tem dado lugar a numerosos acidentes de intoxicação, por parte
das crianças, por os tornar como guloseima, e há tendência para imitar muito o emprego de
edulcorantes.

Corantes
Usam‐se ma preparação dos comprimidos para:
a) Revelar a perfeita distribuição das substâncias activas ou a necessidade de uma melhor
homogeneização.
b) Dar aspecto aos comprimidos.
c) Revelar a presença de substâncias muito tóxicas.
d) Para que o doente possa por si só distinguir um ou mais medicamentos que lhe estejam a
ser administrados na mesma altura embora a horas diferentes.
e) Padronizar e diferenciar formas farmacêuticas durante a sua preparação e
acondicionamento, evitando assim, os enganos.

Não há, porém, regras estabelecidas e universalmente aceites, quanto ao emprego de


substâncias corantes na fabricação de comprimidos, motivo pelo qual reina certa confusão
quando se encara o assunto à escala internacional.

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Note‐se que há um número reduzido de corantes que podem ser utilizados na indústria
farmacêutica, já que muitos deles apresentam forte toxicidade e se revelaram cancerígenos ou
apresentaram outros inconvenientes graves.

As características ideais dum corante, para adição alimentar ou medicamentosa podem


resumir‐se nos seguintes aspectos:
1. Não serem nocivos para a saúde.
2. Ser hidrossolúvel, ainda que alguns possam ser limpossolúveis ou alcoossolúveis.
3. Possuir marcado poder corante, afim de poder ser utilizado em doses mínimas.
4. Constituir uma espécie química definida e pura.
5. Ser completamente estável, tanto à luz como ao calor, para que em largos períodos de
tempo a alteração seja práticamente insolúvel.
6. Ser indiferente aos valores do pH.
7. Ser compatível com os medicamentos e mascarar as reacções de identificação da substância
activa.
8. Não possuir sabor nem cheiro desagradáveis.
9. Ser barato.
10. Não ser absorvido por substâncias pulverulentas em suspensão. É necessário muito
cuidado na escolha de substâncias a empregar, dada a possibilidade de se virem a manifestar
os inconvenientes.

Granulação
1ª fase: Esta fase consiste propriamente na dosagem e mistura dos componentes, os quais
devem ser finamente triturados. Na pesagem usam‐se balanças de sensibilidade adequada às
quantidades a pesar e às actividades de cada um dos componentes; normalmente usam‐se
balanças eléctricas com dispositivo para Tara.

Mistura
Faz‐se em misturadores, de que há vários modelos, tais como misturadores cúbicos e
misturadores em V. Uma vez misturados convenientemente os componentes, procede‐se à
granulação dos mesmos e esta operação pode apresentar duas modalidades:

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1. Granulação a seco ou por via seca.
A granulação a seco, os pós sem lubrificantes, são lançados nas maquinas de comprimir,
resultando comprimidos imperfeitos, designados por briquets ou slergs, os quais são depois
fragmentados, por passagens, em crivos, ou moinhos ou tamizes granuladores, obtendo‐se
assim um granulado. Este granulado obtido é adicionado dos lubrificantes e entra novamente
nas máquinas para compressão definitiva. Na primeira compressão referida ou pré‐
compressão, usam‐se no geral, punções maiores e requer‐se uma maior potencia. Utiliza‐se
este processo de granulação, na obtenção de comprimidos de substâncias higroscópicas, de
substâncias alteráveis pela humidade e termoláveis, porque se evita o aquecimento mais ou
menos prolongado, necessário à secagem dos granulados. Usa‐se também para evitar
incompatibilidades de certas substâncias, motivadas pela presença de água.

2. Granulação por via húmida


A granulação a húmido ou por via húmida consiste nas seguintes fases:
1. Humedecimento dos pós e obtenção duma massa homogênea.
2. Granulação da massa homogênea.
3. Secagem do granulado obtido.
4. Calibração do granulado.

O humedecimento dos pós consiste na adição aos pós de um líquido, que, note‐se, por vezes,
não aquoso, e sua perfeita homogeneização, em máquinas misturadoras, de sistema de
agitação helicoidal ou planetário. Como líquidos de humedecimento mais vulgares, usam‐se:
água, álcool etílico, mais ou menos diluído, éter, álcool isopropílico, etc, conforme a natureza
da substância a comprimir.
No entanto, o molhante mais usado, e que é um aglutinante, é sem dúvida, o cozimento de
amido; usam‐se diversas outras soluções de substâncias aglutinantes, como as de sacarose,
glicose, lactose, sorbitol, etc, ou pseudo‐soluções de gelatina, metil‐celulsoe, gamas, etc.
Não se pode estabelecer um rigor, e com antecedência, a quantidade de líquido molhante a
utilizar, por vários factores, e só a prática conduz a resultados satisfatórios. No entanto, e de
modo geral, pode dizer‐se que a quantidade varia entre 1/10 e 1/5 da quantidade da matéria
a granular. Um granulado fino necessita de menor quantidade de molhante que um granulado

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grosso. Na prática, considera‐se que a massa devidamente homogeneizada e humedecida
quando comprimida entre as mãos e mantém firmeza bastante, pode‐se conservar sob a
forma arredondada. A granulação pode fazer‐se manualmente, obrigando a massa a passar
através de peneiras, por compressão pela mão, mas o mais vulgar, por ser mais rendoso e
higiênico é fazer‐se a granulação por meio de máquinas granuladoras que conduzem também
ao maior rendimento com a granulação manual pode conseguir‐se no máximo uns 25 Kg de
granulado em duas horas, enquanto que em máquinas próprias, pode obter‐se a mesma
quantidade em poucos minutos. Há vários tipos de máquinas de granular, mas
fundamentalmente, são todas constituídas por uma peça que exerce a pressão sobre a massa e
por uma grelha onde a massa é obrigada a passar.

Secagem do granulado
O granulado, uma vez preparado, e antes de entrar nas máquinas de comprimir, carece de ser
seco. A secagem pode realizar‐se ao ar ou em estufas aquecidas e temperaturas baixas, isto é,
de 40‐45º. C por 4‐5 horas, conforme a natureza da substância e o grau de humidade. Outro
processo de secagem consiste no emprego de estufas do tipo aromático, em que o granulado é
suspendido num turbilhão de ar a quente, e seco insuflado. Com estas estufas conseguem‐se
secagens em 30‐60 minutos, ou mesmo bastante menos. No final de secagem, o granulado
deve conter ainda uma pequena quantidade de humidade, para que os comprimidos não
fiquem excessivamente friáveis, quer dizer a secagem não deverá ser total, e muitas vezes
para prevenir esta hipótese adiciona‐se 1‐3% de um líquido ou humectante, como a glicerina
ou sorbitol, os quais permitem uma boa adesão aos comprimidos. Os granulados para a
secagem, tanto no ar como nas estufas, são colocados em tabuleiros, e para a secagem em
estufa de turbilhão de ar quente, são colocados em bacias especiais com fundo de rede que
fazem parte do aparelho.

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CAPÍTULO V. COMPRESSÃO
A indústria farmacêutica usa exclusivamente máquinas automáticas de compressão. Existem
dois tipos: máquinas excêntricas ou alternativas e as máquinas rotativas.
As máquinas excêntricas são constituídas, na parte que é mais interessante, por uma câmara
de compressão ou matriz e dois punções, um superior e outro inferior. O inferior serve de
fundo à câmara de compressão; tem ainda o distribuidor de pó ou granulado, denominado
Tremonha ou Torva, e que é uma peça móvel que se aproxima da câmara de compressão,
quando o punção inferior desce, isto é, verifica‐se logo após a ejecção do comprimido,
resultando daí voltar a encher‐se a câmara com granulado necessário para novo comprimido.
Tanto a matriz como os punções tem de ser constituídos com aço especial, sendo os
movimentos dos punções ou pistons e da Tremonha, comandados por um mesmo sistema
mecânico de alavancas e rodas dentadas. No funcionamento destas máquinas podem
considerar‐se os tempos seguintes:
1. Encontrando‐se os punções nas suas posições extremas, o distribuidor desliga sobre a
mesa da máquina e vai encher a matriz.
2. O distribuidor retira‐se rapidamente e o punção superior desce e realiza a compressão.
3. O punção superior sobe, e o inferior eleva‐se também de modo a trazer o comprimido ao
nível da mesa da máquina.
4. O comprimido é arrastado para fora, pelo bordo da tremonha ao mesmo tempo que o
punção inferior volta para a sua posição mais baixa, o que permite o retorno das
operações, do primeiro tempo. O valor máximo da compressão que uma máquina pode
exercer, sem emprego de ruptura de qualquer peça denomina‐se Potência da máquina.

Rendimento
Denomina‐se rendimento o número de comprimidos obtidos por hora, o qual, como é
evidente, é igual à cadência a multiplicar pelo número de pares de punções, sendo em média
aproximadamente igual a 5000 (cinco mil) comprimidos por par de punções.

Máquinas rotativas

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Estas realizam uma compressão progressiva do granulado resultante do movimento em
sentidos contrários dos dois punções, no entanto nas duas faces do comprimento, e desta
forma fica com uma estrutura mais homogênea e menos ar engolido. Estas máquinas
apresentam consequentemente algumas vantagens mas não isentas de inconvenientes.

Vantagens
1. Maior rendimento.
2. Comprimidos homogêneos.
3. Eliminação praticamente completa de vibrações, pela transformação do movimento
alternativo em movimento circular.

Inconvenientes
1. Maior preço, sensivelmente o dobro.
2. Maior dificuldade na substituição das matrizes e punções, para produção de comprimidos
de dimensão diferente.
3. As cabeças dos punções podem gastar‐se de um só lado.
4. Dificuldade na compressão; durante a compressão de comprimidos podem observar‐se
atritos que dificultam a operação e conduzem a comprimidos imperfeitos.

Resumo esquemático da fabricação de comprimidos

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1. Granulação a seco 2. Granulação via húmida
Substâncias activas+adjuvantes Substâncias activas+adjuvantes
a) Misturar a) Misturar
b) Pré‐compressão b) Adicionar líquido de
c) Granulação a seco+calibração granulação
d) Adicionar lubrificantes c) Granulação a húmido
e) Misturar d) Secagem do granulado
f) Compressão e) Calibração do granulação
f) Adicionar lubrificantes
g) Misturar
h) Compressão

22
CAPÍTULO VI.TIPOS ESPECIAIS DE COMPRIMIDOS
Comprimidos para uso externo
Usam‐se para a preparação de soluções antissépticas, adstringentes, aromáticas para
gargarejos. Ex: comprimidos de HCl e os de cianeto de mercúrio. Devem dissolver‐se bem
na água e devem conter NaCl e KCl como adjuvantes e utilizar‐se ácido bórico como
lubrificante.

Comprimidos para aplicação local


Destinam‐se à dissolução lenta na boca, com uma acção tópica, ou absorção pela mucosa ou
ainda para absorção sub‐lingual. Devem ter uma superfície relativamente grande e podem
ter:
a) Acção antisséptica como os comprimidos de antibióticos e formol.
b) Acção antisséptica local, comprimidos de anestesina. Quanto aos comprimidos sub‐
linguais, ou de administração perilingual, destinam‐se à dissolução debaixo da língua, com
passagem rápida e directa dos princípios activos para o sangue, através das veias sub‐
linguais, da veia maxilar interna e depois por confluência pelas jugulares. Recomenda‐se
sempre que a substância activa seja destruída no meio estomacal, ou pelos fermentos
digestivos gástricos ou intestinais; a desagregação deve demorar 0‐60 minutos.

Comprimidos vaginais
Têm geralmente a forma ovóide ou arredondada. Como o seu nome indica, destinam‐se à
aplicação na vagina, para acção local, normalmente, microbicida ou regeneração do epitélio

Comprimidos efervescentes
São obtidos pela compressão simultânea e dois granulados diferentes, capazes de reagirem
entre si em presença de água. A efervescência é devida à libertação de CO2 ou de oxigênio,
consegue‐se pela função, um dos granulados de um ácido, como o ácido cítrico, o ácido
tartárico e o outro granulado, que é um carbonato ou bicarbonato. Ex: os comprimidos
efervescentes de ácido acetilsalicílico, de bicarbonato de sódio e ácido cítrico, de Vit C, de
complexo B, etc.

23
Comprimidos estéreis
Destinam‐se à preparação de soluções injectáveis extemporâneas ou para implantação.
Prepara‐se em ambiente estéril.

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CAPÍTULO VII. ACONDICIONAMENTO DE COMPRIMIDOS
Até que sejam embalados definitivamente, os comprimidos são normalmente guardados
em armazém, podendo para isso, servirem frascos de vidro, recipientes em aço inox,
alumínio, lata, ferro, plástico, etc.
Os comprimidos de NaCl, penicilina, estreptomicina, não devem ser acondicionados em
recipientes de ferro, ao passo que os plásticos são contra indicados para o
acondicionamento de comprimidos, contudo substâncias voláteis. Os comprimidos de
dimensões reduzidas devem ser guardados em frascos pequenos, para evitar‐se assim a sua
deterioração por fricção ou por peso excessivo.
Cada frasco de armazém deve conter um saco poroso, com uma substância exsicadora que
evite a acção da humidade. A substância mais utilizada por satisfazer bem ao fim em vista e
por ser facilmente regenerada, é o gel de sílica, corado pelo cloreto de cobalto, substância
esta que é rósea (exsicada), servido, portanto, de indicador do estado de eficácia.
Como as alterações que se observam nos comprimidos se deve à acção do ar e da luz, a
embalagem definitiva deve evitar tanto quanto possível a acção dos factores que lhe são
inerentes.

Escolha de embalagens
A escolha de embalagens deverá ser feita, por conseguintes, de modo a prevenir as
possíveis alterações dos comprimidos a que se destinam.
As embalagens podem ser unitárias ou múltiplas. As embalagens múltiplas correspondem
ao acondicionamento dos comprimidos em tubos, frascos ou caixas, podendo variar de
matéria prima destes recipientes, vidro, alumínio, baquelite, plástico, cartão, etc. Na grande
industria farmacêutica, o enchimento dos frascos ou tubos de comprimidos, é feito por
meio de maquinas próprias com dispositivos de contagem automática.

Verificação dos comprimidos


Determinação, visando o conhecimento das características físicas.
Os ensaios de controlo de comprimidos são executados durante a sua fabricação e após ela
ter terminado. Fazem‐se as determinações da humidade do granulado, do peso dos

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comprimidos, do tempo de desagregação, o que de certo modo está dependente da potência
de compressão. Assim podem considerar‐se dois grupos distintos:

1. Determinação das características físicas.


2. Determinação da caracterização química e dosagem dos princípios.

Características físicas
a) Exame à superfície
b) Observação da cor
c) Determinação das medidas
d) Variação do peso
e) Determinação da velocidade e tempo de desagregação
f) Determinação da resistência (dureza, friabilidade, resistência à agitação e
rolamento)

Comprimidos revestidos
Os comprimidos revestidos também chamados drageias, são aqueles que possuem ou estão
revestidos por um conjunto de camadas acessórias. O revestimento dos comprimidos ou
drageificação, tem em vista alcançar os seguintes fins:
a) Administração de substâncias medicamentosas, privadas de sabor desagradável que
lhes seja próprio.
b) Facilitar o emprego de substâncias que ataquem normalmente a mucosa estomacal
ou para evitar as acções eméticas das substâncias a administrar.
c) Preservar as substâncias medicinais sensíveis ao ataque do suco gástrico, quer a sua
elevada acidez, quer derivada da acção dos fermentos digestivos em meio intestinal.
d) Para melhorar a duração e concentração, por meio duma acção eficaz contra a
humidade e agentes externos.
e) Para permitir a acção sucessiva de princípios medicinais ou de emitir uma absorção
mais prolongada da substância medicinal.

Processo de obtenção
26
Para a fabricação de drageias (comprimidos revestidos) usam‐se comprimidos lenticulares
ou abaulados, isto é, convexos, com bordos finos e afastados no máximo 1 (um) mm, e
ainda, os mais duros possíveis, dentro, evidentemente, da compatibilidade com uma
desagregação oportuna. A aparelhagem necessária resume‐se a uma bacia de drageficação
e a um polidor. Uma drageficadora com um diâmetro de mais ou menos 90 (noventa) cm
pode servir para revestir simultaneamente 120.000 comprimidos de 10 mm de diâmetro e
0,3g de peso. A bacia é posta em movimento rotatório, por um sistema mecânico que
permite regular a velocidade que geralmente é de 30 (trinta) rotações por minuto. A
drageficação vulgar compreende 3 (três) fases:

1ª fase. Revestimento: No qual tem se a considerar a aplicação das seguintes camadas:


camada isoladora, camada elástica e alisante.

2ª fase. Adição de Xarope

3ª. fase: Polimento: Que completa a fabricação; o polimento obtém‐se nas polidoras que
são uma espécie de tambores rolantes, com abertura mais reduzida do que os
drageficadores e revestidos interiormente de camurça ou flanela.

Camada isolante: Usa‐se, no geral, na drageficação de comprimidos de substâncias


hidroscópicas, como sejam: extractos, sais biliares, etc. A camada isolante pode ser
constituída por soluções de varias substâncias como as de: gomalaca, bálsamo de Tolú,
ténia, polievenilpiorolidona.

Camada elástica: Destina‐se a conferir à drageia uma certa elasticidade, a qual é resultante
da presença de gelatina na composição de líquidos que se adicionam. Esta camada é
conseguida pela adição alternada, por um xarope de gelatina e de um pó lubrificante,
muitas vezes com base em talco.

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Camada alisante: Esta visa tornar lisa a superfície dos comprimidos e é conseguida pela
adição repetida 6‐8 vezes, também à temperatura de 70‐80ºC, de uma suspensão,
açucarada, de talco e carbonato de cálcio. Depois de cada adição, as dragéias devem ser
roladas por 20 minutos, ao mesmo tempo que vão sendo exercidos por uma corrente de ar
quente e seco ou radiações infra‐vermelhas.

Adição de xarope
Na adição de xarope, que pode ou não conter substâncias corantes, usa‐se xarope comum,
preparado a frio, se se desejam drageias brancas, ou xarope adicionado de substância
corrente, se se pretende obter drageias coloridas. A última aplicação deve ser de uma
mistura de xarope e água em partes iguais, para as drageias ficarem húmidas
exteriormente. A ultima fase da fabricação de drageias é o polimento. Nesta fase, as
dragéias são adicionadas de uma solução alcoólica etérea, ou em tetracloreto de carbono,
de parafina, de ceras naturais ou sintéticas, a qual se lança a pouco e pouco, deixando‐se
rodarem as drageias por cerca de vinte minutos até aparecerem revestidos de uma camada
cera e possuindo já um aspecto polido.

Verificação
Para dragéias vulgares há uma maceração prévia, em água destilada por cinco minutos,
sendo depois agitados em solução de pepsina acida, e por ultimo em solução de pancreatina
alcalina, devendo a desagregação de metal observar‐se numa hora. Em casos de dragéias
gastro‐resistentes, faz‐se uma agitação em solução de pepsina ácida durante duas horas
seguidas, uma lavagem com água destilada e um subsequente ataque com pancreatina
alcalina. A desagregação deve estar bem completada ao fim de 1 (uma) hora a partir do
início deste ataque.

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CAPÍTULO VIII. CÁPSULAS
As cápsulas são preparações farmacêuticas constituídas por um invólucro de natureza,
forma e dimensões variadas, contendo substâncias medicinais sólidas, pastosas ou líquidas.
O acondicionamento das substâncias medicamentosas nos referidos invólucros (cápsulas)
apresenta muitas vantagens:
1. O uso de cápsulas constitui um meio de administração de substâncias nauseosas ou
de sabor desagradável sob uma forma em que não se apercebe o seu gosto.
2. As paredes das cápsulas amiláceas e gelatinosas são digestíveis e libertam
rapidamente os medicamentos depois da ingestão.
3. Graças à elasticidade das suas paredes, as cápsulas são de mais fácil deglutição do
que os comprimidos.
4. As cápsulas gelatinosas são susceptíveis de serem revestidas por invólucros gastro‐
resistentes, podendo passar pelo estômago sem serem desagregadas ou
constituírem um preparado de acção modificada.

Cápsulas gelatinosas
São preparações constituídas por invólucros gelatinosos ocos, de forma esférica, ovóide,
corados ou não, os quais contêm substâncias medicamentosas sólidas, pastosas ou líquidas.
São preparadas por gelatina, adicionada ou não de substâncias emolientes, como glicerina,
sorbitol, as quais modificam a sua consistência. Classificam‐se em cápsulas duras (só
gelatina) e em cápsulas moles ou elásticas (gelatina+emolientes).

As cápsulas moles dividem‐se em quatro tipos: cápsulas propriamente ditas,


capsulinas, pérolas e glóbulos. A preparação dos invólucros das cápsulas moles é feita
por dois processos fundamentais: por imersão e por compressão.

As cápsulas duras são constituídas por duas partes cilíndricas, arredondadas nos
extremos, apresentando diâmetro e comprimento diferentes. São preparadas
industrialmente. A preparação das cápsulas duras consiste fundamentalmente no seu
enchimento, já que os respectivos invólucros são adquiridos no comércio.

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A dosificação correcta das cápsulas duras depende de três factores fundamentais:
a) Escolha de invólucros de capacidade exacta.
b) Método de enchimento.
c) Produto a encapsular.

Vantagens
a) Resistência à abertura durante o transporte e contagem em aparelhos
automáticos.
b) Possibilidade de serem submetidas a tratamentos para se tornarem gastro‐
resistentes sem o perigo de se abrirem.
c) Facilidade de acondicionamento automático em alvéolos porque apresentam
dimensões constantes.

Acondicionamento
Deve‐se ter em atenção a região onde o produto é consumido, cujo clima pode influir na
estabilidade do mesmo, e a sensibilidade relativa da preparação. Deve‐se ter também
cuidado com climas húmidos e quentes.

Verificação
Devem‐se controlar os seguintes parâmetros
1. Peso
2. Tempo de dissolução ou desagregação
3. Agua existente nos invólucros das cápsulas de gelatina

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CAPÍTULO IX. SUPOSITÓRIOS E ÓVULOS
Generalidades e conceitos
Por conceito, o supositório é uma forma farmacêutica sólida, para administração nas
cavidades inferiores do corpo, como o recto, a vagina e a uretra. Por definição, os
supositórios são preparações farmacêuticas sólidas, de forma e peso adequados, que se
destinam a serem introduzidas no recto, onde devem fundir, dissolver ou emulsionar ou,
por qualquer processo desagregar.
As farmacopéias mais recentes definem os supositórios como preparações farmacêuticas
de consistência sólida, contendo cada, uma dose unitária de um ou vários princípios activos.
São destinados a uma acção local ou à absorção de um princípio activo.
A sua forma, volume e consistência são adaptadas à administração por via rectal. Os
princípios activos são triturados e tamisados, e em seguida dispersos ou dissolvidos num
excipiente simples ou composto, solúvel ou dispersível na água ou que funde à temperatura
corporal. Na preparação de supositórios são utilizados diversos excipientes, tais como a
manteiga de cacau, glicerídeos semi‐sintéticos, polietilenoglicóis e misturas de consistência
de gele, contendo, por vezes, gelatina, glicerina e água. Os supositórios podem preparar‐se
com excipientes de sebo, cera branca ou amarela, gorduras diversas, mel cozido e manteiga
de cacau. Se se usar a manteiga de cacau como excipiente, ela deve ser préviamente
amolecida (amolecida) num almofariz, a quente, preparando‐se um suporte para as
substâncias medicamentosas. Os supositórios podem destinar‐se a um tratamento local
(adstringentes, desinfectantes, anestésicos, anti‐inflamatórios, laxativos) ou a substituírem
as preparações que se administram por via gastrointestinal (fármacos irritantes, nauseosos,
com cheiro e sabor desagradáveis; existência de lesões gástricas, impossibilidade de
deglutição; tratamento em pediátrica, etc.) os supositórios podem ainda substituir as
medicações parenterais, hipodérmicas e intramusculares, sempre que os fármacos
determinem reacções locais, como endurecimento, infiltração dolorosa, tumefacção, etc. ou
quando as substâncias medicamentosas influenciem o metabolismo muscular ou seja
inactivadas pelas enzimas produzidas localmente.

Forma, peso e dimensões dos supositórios

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De modo geral, os supositórios apresentam forma cônica ou ovóide. O tipo de supositórios
(ovóide) que actualmente está muito vulgarizado é o mais adequado para promover uma
absorção sistêmica. O peso dos supositórios varia para adultos, entre 2‐3 g, tendo mais
vulgares os que pesam 2,5 g. Para as crianças utilizam‐se supositórios 1,5‐2g, sendo de 1g o
supositório para lactentes. As dimensões devem estar relacionadas com o formato, sendo
para adultos usados supositórios com 3,5 cm de cumprimento por 1,2 cm largura; para as
crianças 2,5 x 0,8 a 1cm. Seja qual for o formato, peso e dimensão do supositório, estes
devem apresentar a sua superfície lisa, sem rugosidade e sem cristalização dos fármacos e
devem ter aspecto homogêneo, tanto no interior como externamente.

Excipiente para supositórios


Os excipientes devem apresentar várias qualidades como por exemplo:
a) Ausência de efeitos terapêuticos próprios; ausência de toxicidade; não provocarem
qualquer acção irritante sobre as mucosas.
b) Consistência adequada para o manuseio e que permita fácil aplicação.
c) Facilidade de fusão, de dissolução ou de emulsificação no líquido rectal.
d) Viscosidade, no estado líquido, adequada à acção medicamentosa.
e) Compatibilidade com fármacos.
f) Ausência de formas ou modificações instáveis, como acontece com os produtos que
apresentam polimorfismo, como a manteiga de cacau.
g) Capacidade de contracção por arrefecimento, permitindo que os supositórios se
destaque facilmente dos moldes onde foram preparados.
h) Apresentarem hidrofilia suficiente para que possam absorver água e soluções
aquosas.
i) Poderem servir para preparar supositórios por fusão e por compressão.
j) Serem incolores ou levemente corados e destituídos de cheiro.
k) Apresentarem apreciável estabilidade frente aos agentes atmosféricos e à invasão
pelos microrganismos.
l) Libertarem os fármacos que veiculem de forma apropriada e no tempo desejável.

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Essencialmente são de dois tipos os excipientes que se empregam na preparação de
supositórios: lipossolúveis ou gordos e hidrodispersíveis ou mucilaginosas.
Lipossolúveis: manteiga de cacau, copraol (óleo de coco), óleos hidrogenados (como óleo
de amendoim, óleo de palma, óleo de sementes de algodão hidrogenado).
Mucilagenosos: glicerina solidificada.

Adjuvantes para supositórios


Correctores do ponto de fusão e da consistência, como ceras, espermacetes, ácido esteárico,
parafina, álcool cetílico; correctores de viscosidade e tixotropia; conservantes, anti‐
oxidantes, emulgentes, corantes.

Preparação de supositórios
A preparação de supositórios faz‐se, em geral, por dois processos fundamentalmente: por
fusão ou por compressão.
Na fusão, misturam‐se ou dissolvem‐se os princípios medicamentosos no excipiente
fundindo, vazando‐se depois a massa líquida em moldes adequados.
Na compressão, misturam‐se intimamente os excipientes raspados com os fármacos e se
comprime a massa obtida nos alvéolos de uma máquina apropriada.

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CAPÍTULO X. ÓVULOS
São preparações farmacêuticas de forma ovóide, raras vezes cônicos, de consistência sólida,
em regra geral mole, destinados a serem introduzidos na vagina. Obtêm‐se por
incorporação de princípios medicamentosos em excipiente hidrodispersíveis, como a
glicerina‐gelatinada. O peso dos óvulos varia entre 2 e 16 g. os fármacos mais
administrados sob a forma de óvulos, contam‐se maioritariamente, os seguintes: mercurio
cromo (anti‐séptico), tanino, alúmen, sulfato de zinco(adstringente), o ópio e derivados da
beladona (calmantes), a antipirina (anti‐hemorrágico) certas hormonas, etc.

Excipientes
Usam‐se os excipientes gordos como a manteiga de cacau, gliceridos semi‐sintéticos, óleos
hidrogenados e os excipioentes hidrodispersíveis como a glicerina‐gelatinada, gelose,
polietilenglicóis, etc.

Preparação
A preparação é idêntica à dos supositórios. Dissolvem‐se ou dispersam‐se os fármacos no
excipiente liquefeito e a massa obtida é vasada em moldes apropriados. O processo é pró
fusão e nunca se usa o de compressão para a preparação de óvulos.

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CAPÍTULO XI. PREPARAÇÕES PARA USO AURICULAR
Introdução
As preparações para uso auricular incluem na sua composição compostos que variam
desde o ácido acético, antibióticos, sulfonamidas, anestésicos locais, fungicidas, etc.
São preparações destinadas a serem instiladas no canal auditivo para tratamento de otites
externas e médias ou para a lavagem auricular. Estas preparações para uso auricular não
incluem apenas preparações líquidas mas também as pomadas e os pós, que se destinam a
serem instiladas, pulverizadas, insulfladas ou aplicadas no conduto auditivo ou à lavagem
auricular.
Quando acondicionadas em recipientes para dose única, devem conter um conservante
antimicrobiano apropriado, em concentrações conveniente, não sendo, porém, necessário
se a própria preparação possuir propriedades antimicrobianas.

Preparação
Na preparação de soluções auriculares usam‐se dissolventes a glicerina, o propilenglicol e
os óleos (azeite, amêndoas doces, etc.) e poucas vezes os álcoois etílico e isopropílico. Os
solventes devem ter adesividade ao canal auditivo, e por isso estes dissolventes devem ser
líquidos viscosos, como a glicerina e os óleos, com excepção do propilenoglicol.
O pH óptimo para as preparações de uso auricular deve situar‐se entre 5 e 7,8.
O processo de preparação é o habitual para todas as soluções, com uso de todas as
metodologias comuns para dissolver ou estabilizar certos fármacos. O ácido salicilico que é
bacteriostático e fungicida é empregado em gotas auriculares numa concentração que
oscila entre 0,8 e 2%. Como é solúvel no etanol, sugere‐se que seja dissolvido em álcool de
cerca de 50°, que se obtem por mistura de 50 ml de etanol e água destilada q.b.p. 100 ml.
Usam‐se frequentemente gotas auriculares constituídas pela solução de três antibióticos
bactericidas, a bacitracina (10.000U.I), o sulfato de neomicina (50 mg) e o sulfato de
polimexina B (100.000 unidades) em propilenoglicol (10ml). Contudo é uma preparação
instável; deve se conservar à temperatura de 8°C, e ao abrigo da luz, com um prazo de
validade que não ultrapasse a 8 (oito) dias.

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Os óleos são utilizados popularmente, depois de aquecidos, para instilar no ouvido e
facilitar a remoção do cerúmen. Para remoção de cerúmen têm sido propostas várias
preparações, quer baseadas na potencial capacidade de saponificação do material
(carbonato de sódio), quer na libertação do oxigênio que auxiliaria a destacar a cera do
conduto auditivo, além de exercer uma acção germicida e desodorizantes.

Formulário das preparações para uso auricular


I
Aminobenzoato de etilo (Benzocaína)‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐0,1 g
Antipirina‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐0,4 g
Glicerina anidra q.b.p ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐10 ml
Uso: Analgésico

II
Sulfato de magnésio‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐10 g
Água destilada‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐40 ml
Glicerina, q.b.p‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐100 ml
Uso: Inflamação local auricular

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CAPÍTULO XII. PREPARAÇÕES INJECTÁVEIS
As preparações injectáveis são soluções, suspensões e emulsões estéreis de substâncias
medicamentosas em veículos aquosos, oleosos ou outros apropriados, para serem
administrados por via parentérica. As preparações injectáveis podem apresentar‐se sob a
forma de soluções ou dispersões (dispersões coloidais, suspensões e emulsões) aquosas,
oleosas ou em outros líquidos. A preparação de soluções injectáveis obedece às regras
gerais de preparações de soluções tantos veículos aquosos como oleosos mas a sua
esterilização deve efectuar‐se no mesmo dia da preparação.

As matérias‐primas, isto é, os princípios activos usados nestas preparações são diversas:


penicilinas, cafeína, vitaminas, fenobarbital, apomorfina, heparina, etc. Geralmente
acondicionam‐se em ampolas, desde que tenham condições exigidas pelas boas práticas de
fabrico. A embalagem das ampolas e frascos é a operação final a que se procede e que é
conduzida na secção de embalagem do laboratório.

Verificação
O controlo do produto acabado nos medicamentos injectáveis (ampolas ou frascos) incide
nos seguintes pontos:
a. Apreciação dos caracteres organolépticos
b. Verificação físico‐química
c. Caracterização e dosagem
d. Esterilidade
e. Apirogenia
Para a produção industrial de soluções injectáveis, em principio, são sugeridas ou
propostas as seguintes qualificações dos responsáveis da produção.

Farmacêutico: PHD, Mestrado ou pelo menos Licenciado, gostar de trabalhar em equipa;


ter boas relações humanas ou relações de trabalho industrial; normas de trabalho em
engenharia industrial ou química, planificação de produção, contabilidade de custos,
controlo dos inventários, inglês comercial e redacção de relatórios.

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CAPÍTULO XIII. COLÍRIOS
Define‐se por colírio qualquer medicamento destinado a ser aplicado na mucosa ocular. Os
colírios são as preparações farmacêuticas líquidas administradas sob a forma de gotas ou
suspensões.
Os colírios são os únicos medicamentos líquidos que se destinam a tratar as diferentes
afecções do globo ocular, incluindo as afecções das pálpebras, da conjuntiva e da córnea. As
soluções destinadas a serem instiladas no olho podem originar acidentes graves, incluindo
a cegueira, se não forem preparadas com os devidos cuidados e se não obedecerem aos
padrões de qualidade estabelecidos.
É preciso ter‐se sempre em mente que a instilação de uma gota oftálmica pode constituir
um acto de consequências extremamente graves e este conceito deve presidir sempre à
preparação de colírios.
As preparações farmacêuticas para aplicação oftálmica devem ser manipuladas com muito
cuidado e obedecer aos seguintes requisitos:
a) Precisão de composição.
b) Apresentarem‐se líquidos, salvo se constituírem suspensões.
c) Serem isotônicas.
d) Possuírem um pH compatível com o do líquido lacrimal.
e) Serem estéreis.

Como o pH das lágrimas é 7.4 é de prever que os colírios serão tanto melhor tolerados
quanto mais o seu pH se aproximar daquele valor (7.4). Contudo a sensação dolorosa ou
irritante de um colírio pode ser provocada não só pelo pH, mas também pelas substâncias
medicamentosas que entrem na sua composição. O pH de uma solução oftálmica tem um
efeito apreciável sobre a actividade terapêutica, a sua estabilidade, a solubilidade dos
fármacos e o conforto do paciente.

Esterilidade

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Esta é uma das qualidades mais importantes que se exige nas soluções para o uso oftálmico,
pois tem se registado infecções oculares graves resultantes do uso de colírios
contaminados com microrganismos.

Solventes utilizados na preparação de colírios


Algumas farmacopéias exigem que a água destilada pura deve ser esterilizada quando for
destinada à preparação de colírios. Além da água destilada pura, outros solventes são
usados na preparação extemporâneo ou industrial de colírios como a solução isotôica de
cloreto de sódio, solução a 2% de acido bórico e outras diversas soluções tampões; estes
solventes devem ser conservados em recipientes herméticamente fechados e esterilizados
por aquecimento a 120ºC, durante 15 minutos na autoclave, ou aquecendo o solvente,
adicionado de um conservante, à ebulição durante 30 minutos.

Adjuvantes usados na preparação de colírios


Estes desempenham um papel importante na preparação de colírio; fazem com que as
soluções oftálmicas sejam estáveis, não sejam irritantes para a mucosa ocular, isentas de
contaminação microbiana e apresentam suficientemente a tal desejada actividade
terapêutica, prolongam a acção medicamentosa, favorecem a conservação de colírios (os
antioxidantes e os conservantes); um agente anti‐microbiano deve apresentar o maior
numero possível das seguintes características:
1. Largo espectro de acção
2. Continuidade de acção
3. Acção rápida
4. Acção não alérgica nem sensibilidade
5. Atoxicidade
6. Compatibilidade
7. Estabilidade (quimicamente)
8. Inactivação
9. Solubilidade

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Preparação dos colírios aquosos
1. Dissolução dos princípios activos e dos adjuvantes
2. Filtração
3. Acondicionamento em recipientes apropriados
4. Esterilização
5. Controlo da preparação

Rotulagem
No rótulo destas preparações deve indicar‐se em particular:
1. No caso dos recipientes multidose, o prazo de utilização, contado a partir da
abertura do recipiente.
2. O nome e a concentração do ou dos agentes antimicrobianos e de todas as
substâncias adicionadas à preparação.

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CAPÍTULO XIV. ESTABILIDADE DE MEDICAMENTO
Um medicamento considera‐se estável quando cumpre com os requisitos de manter por
um período largo as suas características organolépticas e suas propriedades terapêuticas.
Os medicamentos devem ter uma sólida estabilidade tanto física, química com
microbiológica. Os medicamentos estáveis não perdem, por destruição, mais de 10 ou 15%
dos seus princípios activos, durante um certo prazo, determinado pelo produtor.

A estabilidade de um medicamento está muito relacionada com a determinação do seu


prazo de validade, pois o prazo de validade o medicamento é o período determinado pelo
produtor, durante o qual se processa a destruição de mais de 10 ou 15% dos seus
princípios activos. Os factores que contribuem para a degradação dos medicamentos são
vários mas os mais predominantes para esse efeito são os factores ambientais (ar, luz, calor
e humidade), o material de embalagem utilizado.

A incompatibilidade farmacêutica ocorre quando há antagonismo nos componentes de


fórmula e também quando se administram em simultâneo duas formas farmacêuticas de
acção farmacologia antagônica. As causas das incompatibilidades podem ter as seguintes
origens:
1. Interacção dos componentes da preparação farmacêutica.
2. Uma técnica incorrecta utilizada na preparação ou um processo tecnológico inadequado.
3. Factores ambientais (ar, luz, calor, humidade).
4. O material de embalagem utilizado.

As incompatibilidades classificam‐se em: I = Físicas, II = Químicas e III = Terapêuticas.

Os processos usados para a solucionar ou corrigir incompatibilidades são os seguintes:


1. Adaptação do processo tecnológico sem mudança da fórmula.
2. Adaptação ou mudança dos medicamentos e excipientes.
3. Mudança de saborizantes.
4. Alteração ou mudança do veículo.

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5. Adaptação ou mudança da forma farmacêutica.

O material de embalagem utilizado pode causar incompatibilidades farmacêuticas: Uma


tampa de alumínio pode precipitar o timerosal; o fenol ataca os carbonos da goma; verifica‐
se hidrólise de vidro como consequência da interacção que contém o frasco e assim pode
provocar a precipitação de algum componente ao elevar‐se o pH.

Por isso, deve‐se analisar o material de embalagem antes do seu uso. Este material de
embalagem deve ser objecto duma aprovação prévia antes da sua utilização. O material de
embalagem deve ter certos requisitos:
 Deve proteger a preparação (fórmula) do meio circulante.
 Não deve transmitir à preparação cheiro nem sabor; nem variar as características
orgamolépticas da preparação.
 Deve ser inócuo e não brindar qualquer material tóxico à preparação.
 O material de embalagem deve ser adaptável ao processo de enchimento.
 O material de embalagem não deve reagir com o produto que nele vai ser embalado.

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CAPÍTULO XV. FORMAS FARMACÊUTICAS DE LIBERTAÇÃO
MODIFICADA
Há vários sistemas medicamentosos, aparecendo com expressões para os caracterizar e
definir como acção repetida, acção retardada, acção prolongada, acção sustentada, a par de
outras como libertação controlada, libertação modificada, libertação programada, etc. É
claro, por exemplo, que o sistema de libertação controlada permitia o prolongamento da
actividade dos fármacos que tivessem semi‐vidas de eliminação curtas, como por exemplo,
menores que 8 (oito) horas. Assim, os efeitos secundários e a frequência das
administrações medicamentosas puderem ser minimizados, criando‐se condições para
uma mais completa adesão do paciente à medicação, que passou a apresentar menores
riscos.

Formas elementares de acção prolongada


É possível planificar uma fórmula medicamentosa de modo que no tracto gastrointestinal a
camada mais externa seja dissolvida após um certo intervalo de tempo, fornecendo a dose
de acção imediata. À medida que as camadas se desintegram, dar‐se‐á a cedência de outras
quantidades de fármacos, que irão permitir elevar de novo o nível sanguíneo para valores
convenientes. O processo pode ser conduzido por drageificação, em que cada zona de
envolvimento é obtida com substâncias cujas características de solubilidade nos sucos
digestivos são diferentes.

Sistema transdérmicos
Esta designação pretende tratar de medicamentos que aplicados na pele, libertam
substâncias activas com uma velocidade controlada, as quais devem atravessar todo o
tegumento, atingindo a circulação geral.

Resumindo o que foi desenvolvido neste tema sobre disponibilidade modificada e


completamente certos aspectos, podemos considerar actualmente as seguintes formas de
libertação medicamentosa:

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1. Libertação convencional: que se regista com a maioria dos medicamentos, que em
regra, é apreciada por tempo de desagregação, para as formas orais, menores que
trinta minutos e por tempo de dissolução que permitam uma biodisponibilidade de
80‐100% em menos de uma hora.
2. Libertação retardada: em que o fármaco não é imediatamente cedido após a
administração, como acontece com os comprimidos simultaneamente gastro‐
resistentes (pelo menos durante duas horas) e enterossolúveis (não mais que uma
hora).
3. Libertação (acção) sustentada ou prolongada: quando uma dose activa do
fármaco é libertada rapidamente, seguindo‐se uma libertação lenta que permite
espaçar adequadamente as administrações.
4. Libertação controlada: quando a cedência do fármaco é feita a velocidade pré‐
determinada e de tal forma que a sua concentração plasmática se mantenha
invariável em função do tempo.
4.1. Libertação dirigida a um órgão ou tecido, sempre que a cedência é feita
total ou quase totalmente, num órgão específico e só nele.
4.2. Libertação dirigida a células ou receptores específicos, quando o fármaco
é cedido em células ou receptores pré‐determinados (sistemas cito‐específicos
ou cito‐trópicos).

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CAPÍTULO XVI. ESTERILIZAÇÃO
Entende‐se por esterilização todo e qualquer processo técnico que tenha por fim a
completa destruição ou remoção de todas as formas de vida, incluindo as formas
esporuladas bem como a inactivação do vírus existentes num material qualquer. Este
processo de esterilização realiza‐se com a finalidade de destruir todos os microrganismos
do objecto ou da preparação. Não há esterilidade ou esterilização parcial.

Métodos de Esterilização
1. Métodos físicos
2. Métodos químicos
3. Métodos mecânicos

1. Métodos físicos
São os mais usados, empregando calor que pode ser seco ou húmido de modo geral, o calor
destrói os microrganismos, contudo a sua efectividade depende de:
a) A temperatura aplicada
b) O tempo de exposição
c) A humidade presente
Se não se alcançar uma temperatura de esterilização adequada, pode se conseguir uma
esterilização efectiva alargando o tempo de esterilização. O calor seco usa‐se naqueles
matérias que resistem a altas temperaturas. Usa‐se em materiais de vidro e metais; em
preparações como azeites fixos, pós farmacêuticos, sempre que não sejam termoláveis. O
calor húmido é o mais utilizado na esterilização; é mais rápido e mais prático. O mecanismo
consiste em coagular as proteínas pela humidade presente com menor temperatura. Não se
usa autoclave para esterilizar: matérias termoláveis, material gorduroso e em pós.

2. Métodos químicos
Usam‐se agentes químicos mas o método não garante uma esterilização efectiva a 100% na
destruição de esporas como os métodos anteriores; apenas há uma desinfecção.
Agentes químicos mais usados: Fenóis, álcool etílico, formaldeído.

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3. Métodos por processos Mecânicos = Filtração
Esterilizam‐se e com bons resultados os materiais que são termoláveis: vitaminas,
hormonas e proteínas.

Indicadores de esterilização
Deve haver uma certeza de que a esterilização foi efectiva. Existem diversos indicadores
nesta área:
1. Uns que se fundem a 121°C, exemplo o enxofre funde‐se na câmara de esterilização
a 121°C e solidifica‐se quando a esterilização termina.
2. Outros indicadores são de papel que mudam de cor a 121°C.
3. Bioindicadores = são suspensões de bactérias muito resistentes ao calor. Colocam‐se
em bulbos e espalham‐se em toda a câmara. Se há vida, as bactérias desenvolvem‐
se. Se as bactérias proliferam, haverá mudança de cor e de pH no dia seguintes. Se
isto não ocorre, a esterilização foi efectiva.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Prista, L. Nogueira. Tecnologia Farmacêutica, Volume I, II e III. 4ª. Edição. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1995.

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