Você está na página 1de 15

ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –

BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

Uma Análise Comparativa entre Indicadores de Desenvolvimento


Tecnológico e de Crescimento Econômico para Grupos de Países
Janaína Ruffoni
Paulo Antônio Zawislak
Juliana Subtil Lacerda

1. Introdução

A economia mundial vem passando por profundas transformações, dentre as quais destacam-
se aquelas relacionadas ao progresso tecnológico. Neste ambiente, observa-se o domínio da
tecnologia moderna pelos países industrializados em detrimento dos demais e, paralelamente a
isso, identificam-se taxas diferenciadas de crescimento econômico dos países.

É possível afirmar que existe uma relação positiva entre progresso tecnológico e crescimento
econômico, apesar desta relação nem sempre ter sido considerada nos modelos teóricos sobre
o crescimento econômico. Somente a partir de estudos nos anos 1950 é que a tecnologia
passou a ser considerada uma das principais variáveis responsáveis pela explicação das
tendências e padrões de crescimento econômico dos países. Estudos atuais confirmam tal
relação por meio da análise de variáveis que representam o nível de desenvolvimento
tecnológico dos países.

Este trabalho parte da confirmação dos estudos atuais de que países tecnologicamente mais
avançados, em termos de atividades tecnológicas nacionais, são também aqueles com maiores
níveis de crescimento econômico, em termos de renda nacional per capita, e objetiva analisar
como vem se comportando a relação entre nível de desenvolvimento tecnológico e nível de
crescimento econômico dos países ao longo do tempo.

Para tanto, são utilizadas como variáveis proxy do nível de desenvolvimento tecnológico, o
valor investido em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o número de Patentes
(PAT). Como variável do crescimento econômico, é utilizada a taxa de crescimento anual do
Produto Interno Bruto per capita (PIBpc). Partir-se-á do estudo desenvolvido por Fagerberg
(1988), que analisa a relação entre as variáveis citadas para uma amostra de países da OCDE e
para o período de 1973 até 1983, e do estudo realizado por Ruffoni e Zawislak (1998), que
investiga a relação entre P&D e PIB per capita para um grupo de países da OCDE mais Brasil
e para o período de 1983 até 1993.

O trabalho está organizado em mais quatro seções. Na segunda seção é apresentada um


revisão bibliográfica a respeito dos estudos que tratam da relação entre crescimento
econômico e tecnologia, bem como dos trabalhos a respeito dos indicadores utilizados para
mensurar tal relação. A terceira seção apresenta os principais resultados de trabalhos
anteriores, no caso Fagerberg (1988) e Ruffoni & Zawislak (1998). É na quarta seção que são
apresentados novos resultados, relativos a um período mais recentes (1993-2001). Por fim, na
quinta seção, serão apresentadas algumas considerações referentes ao modelo, sua análise e
questões futuras.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

2. Considerações Teóricas a Respeito da Relação entre Crescimento


Econômico e Nível de Investimento em Tecnologia dos Países

O progresso tecnológico nem sempre teve o papel inquestionável que os estudos sobre o
crescimento e desenvolvimento econômico das nações dedicam atualmente. Os primeiros
estudos destinados a identificar as causas do crescimento econômico incluíam somente dois
fatores: o capital e o trabalho. Entretanto, estas variáveis não explicavam a totalidade da
grandeza do crescimento; havia uma parte inexplicável que foi denominada de resíduo.

2.1. Teorias Ortodoxas

O caráter do progresso tecnológico na Teoria Econômica se modificou com os trabalhos


empíricos realizados a partir da década de 1950. O trabalho que mereceu destaque foi o de
Solow (1956), o qual é considerado o ponto de partida para muitos estudos que se destinam a
analisar a evolução das teorias do crescimento econômico.

O modelo de Solow caracteriza-se por uma função de produção que agrega um outro fator,
além do capital e trabalho, que é o progresso técnico. Em 1957, Solow apresentou o seu
modelo com uma nova variável, o qual representou um grande avanço para os estudos
econométricos. Em seu artigo “Technical Change and Aggregate Production Function”, este
autor apresenta uma função agregada da seguinte forma: Y = F (K,A(t)L); onde: Y é a
produção total, K é o capital e A(t)L é a força de trabalho medida por eficiência, pois A
representa o progresso técnico. Sua principal conclusão foi a de que, observando o
comportamento das variáveis para a economia americana, apenas 1/8 dos acréscimo de
produtividade poderia ser explicado pela relação entre K e L. Isto deixava para o progresso
técnico 7/8 deste comportamento.

Apesar de ser um modelo teórico robusto, seu limite, no que tange os estudos atuais sobre as
diferenças nas taxas de crescimento econômico entre os países, é o fato deste basear-se nas
fortes premissas básicas neoclássicas e considerar a tecnologia como um bem público, logo
exógena. A partir desta pressuposição, tal modelo permitiria crer que, por exemplo, o PIB per
capita em todos os países cresceria numa mesma taxa, essencialmente determinada
exogeneamente pelo progresso técnico. O único fator responsável pela explicação da diferença
do nível de crescimento econômico entre os países seria a “dinâmica de transição” 1
(Fagerberg, 1994, p. 1149), caracterizada pelas diferenças nas condições iniciais em que os
países se encontrariam (população, localização, oferta de fatores etc).

É somente com o trabalho empírico de Denison (1967) que surgiu o primeiro estudo da
diferença nas taxas de crescimento econômico entre os países. Denison (1967) acrescentou

1
O termo original é transitional dynamics.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

vários novos fatores ao chamado resíduo, tentando assim aumentar o poder de explicação da
diferença no crescimento econômico entre os países. Dentre estes fatores podem ser
destacadas as mudanças na composição da idade, do sexo, na educação e treinamento da força
de trabalho, a melhor utilização das economias de escala e o aperfeiçoamento na alocação de
recursos. Desta forma, o resíduo, ajustado de acordo com a contabilização das contribuições
destes novos fatores, caracterizou um nítido abandono das premissas de equilíbrio do modelo
neoclássico. Entretanto, este autor concordou com Solow ao considerar a tecnologia um bem
público, justificando que o conhecimento é uma mercadoria internacional e, assim, os países
devem se beneficiar da mesma forma (Denison apud Fagerberg, 1994).

Outro trabalho de destaque é o de Romer (1986). Este autor caracteriza o conhecimento como
uma fonte importante de crescimento. Seu objetivo é tentar explicar o crescimento do PIB dos
países através do conhecimento, tanto na forma de tecnologia propriamente dita, como de
capital humano. Romer (1986) enfatiza que o avanço tecnológico provém do que as pessoas
fazem, gerando descobertas, que são diferentes de outros insumos, no sentindo de que muitas
pessoas e firmas podem usufruir destas ao mesmo tempo.

2.2. Teoria Heterodoxa

Em contrapartida ao pensamento dominante, é preciso levar em consideração uma linha


alternativa de interpretação. Iniciada por Schumpeter (1912) e sua “Teoria do
Desenvolvimento Econômico Capitalista”, vários autores ditos neo-schumpeterianos (ver,
principalmente, Nelson & Winter, 1982) passaram a caracterizar o desenvolvimento
econômico como um processo em que ocorrem mudanças revolucionárias e os elementos
principais seriam as firmas e as inovações tecnológicas.

De certa forma – e seguindo a própria visão de Schumpeter (1942) que substitui a figura do
empresário inovador pela da firma inovadora – para que houvesse a introdução de inovações
seria necessário determinado ambiente e planejamento dentro da empresa. Por trás desta
interpretação estaria a idéia de departamentos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) como
substitutos da função primordial do empresário inovador.

A heterodoxia da Teoria Schumpeteriana se deve, principalmente, ao fato da tecnologia não


estar disponível livremente para toda a economia. Ou seja, a tecnologia não seria um bem
público. Para adquirir uma determinada tecnologia são necessários esforços específicos que,
em função de características empresariais, de crédito ou institucionais, estariam à origem das
diferenciações no PIB entre os países.

Dentro desta linha de pensamento, os autores Ohkawa e Rosovsky (1973), apresentaram a


idéia de que os países apresentariam uma certa habilidade de importar e incorporar novas
tecnologias. Esta habilidade foi chamada de capacidade social, caracterizada por competência
técnica (educação) e política, instituições comerciais, financeiras e industriais, etc. Para a
aplicação de uma tecnologia faz-se necessário, então, um processo de adequação às
características do país. As diferenças entre os países (as chamadas “condições iniciais”)
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

referentes ao tamanho do mercado, estratégias das firmas, cultura, localização, oferta de


fatores, entre outras, tenderiam a dificultar o processo de transferência tecnológica, gerando as
tais diferenças, notadamente no PIB. Este aspecto da imitação da tecnologia foi denominado
de congruência tecnológica (Fagerberg, 1994).

Os estudos de Pavitt e Soete (1982) e Fagerberg (1988) apresentaram modelos de regressão


incluindo variáveis que refletem os recursos destinados para as atividades de inovação. Os
resultados encontrados demonstraram que existe uma relação positiva entre o nível destas
atividades de inovação e o da produtividade dos países. Em especial, Fagerberg (1988)
apresenta um modelo para verificar porque as taxas de crescimento econômico entre os países
são diferentes e sustenta suas hipóteses a partir da relação do nível de crescimento econômico
com o nível de investimento em tecnologia (intrinsecamente diferente, em função das razões
acima arroladas).

Neste trabalho, e em outro mais atual (Fagerberg e Verspagen, 2002), o autor analisa a
hipótese de existência de uma relação significativamente positiva entre o nível de crescimento
econômico e o nível de desenvolvimento tecnológico de um país. O autor descreve um mundo
econômico modelado pela tecnologia, que se apresenta na forma de difusão, criação e
exploração. Seguindo estas idéias, os fatores causais do crescimento econômico são: o
crescimento da difusão da tecnologia do exterior para o país, o crescimento da atividade
tecnológica nacional, ou da criação de tecnologia e o crescimento da capacidade de explorar
estes fatores pelo país. Esta estrutura permite tanto a convergência como a divergência das
taxas de crescimento entre os países, permitindo verificar o que de fato ocorre na realidade,
porque reúne duas forças conflitivas, o crescimento da atividade tecnológica nacional
(criação), responsável por aumentar as diferenças tecnológicas entre os países, e o crescimento
da difusão da tecnologia, responsável pela redução das diferenças tecnológicas e, assim, das
taxas de crescimento econômico.

Archibugi e Coco (2003) afirmam que a capacidade tecnológica sempre foi um componente
fundamental do crescimento econômico e do bem-estar da sociedade. Os autores apresentam a
construção de um indicador de capacidade tecnológica para países desenvolvidos e em
desenvolvimento, denominado de “ArCo”. Para a construção deste indicador, diferentes
dimensões foram definidas, tais como: a criação de tecnologia, a infra-estrutura tecnológica e
o desenvolvimento das habilidades humanas. Essas dimensões contemplam variáveis como:
patentes, artigos científicos, penetração da internet, consumo de energia, etc. Este estudo parte
do pressuposto da necessidade de novos indicadores do nível de atividade tecnológica dos
países, para que seja possível contemplar as questões complexas da realidade.

Em suma, a linha de pensamento heterodoxo desta área da economia considera que o


progresso tecnológico deve ser descrito levando-se em conta os aspectos da congruência
tecnológica e da capacidade social dos países. Para esta linha de pensamento, o
desenvolvimento tecnológico é entendido como um processo complexo, principalmente para
aqueles países distantes da fronteira tecnológica, pois vários esforços devem ser realizados,
tanto por parte dos agentes privados como dos agentes públicos.

Considerando as questões descritas nesta seção, pode-se concluir que há uma relação
explicativa entre o investimento em tecnologia e o nível de crescimento econômico dos países,
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

pois, em última análise, tecnologia é sinônimo de riqueza. O que se pretende neste trabalho é,
então, demonstrar como vem se comportando esta relação para um determinado grupo de
países ao longo de quase três décadas. Para tanto, utiliza-se como referência principal os
trabalhos de Fagerberg (1988) e de Ruffoni e Zawislak (1998), bem como novos dados,
detalhados a seguir.

3. Relação entre Crescimento Econômico e Desenvolvimento Tecnológico de


Países: estudos anteriores

A referência inicial – e o principal estímulo para a realização deste trabalho – foi o estudo de
Jan Fagerberg de 1988. Neste estudo, conforme já mencionado anteriormente, o autor verifica
a hipótese de existência de uma relação positiva entre o nível de crescimento econômico e o
nível de desenvolvimento tecnológico de um país. O autor apresenta como fatores causais do
crescimento econômico: o crescimento da difusão da tecnologia do exterior para o país, o
crescimento da atividade tecnológica nacional (ou da criação de tecnologia) e o crescimento da
capacidade de explorar estes fatores pelo país.

Estas três variáveis consideradas - difusão, criação e exploração - são vistas como
representantes do conhecimento. Estas variáveis são dividas em duas formas de conhecimento:
o conhecimento gerado dentro do país e o conhecimento apropriado pelo país. O
conhecimento gerado dentro do país, refere-se à criação própria de tecnologia, ou o nível de
atividade tecnológica nacional. Como proxy para o conhecimento, Fagerberg (1988) utiliza as
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e o número de aplicações externas de
patentes (PAT). O conhecimento apropriado pelo país se refere ao total de técnicas em
funcionamento, se inventado dentro do país ou difundido para o país do exterior. Não existe
uma maneira de mensurar este conhecimento diretamente, o que pode ser medido é o resultado
do processo em que estas técnicas estão sendo usadas, o grau de produtividade do processo, ou
ainda, o aumento do valor agregado do país. A variável proxy para isto seria o PIB per capita
(PIBpc), que se refere ao valor agregado de todos os bens e serviços finais.

Assim, as variáveis envolvidas no estudo de Fagerberg (1988) são: atividades de pesquisa e


desenvolvimento (P&D), Aplicações Externas de Patentes (PAT), Produto Interno Bruto per
capita (PIBpc). As duas primeiras são as variáveis independentes e a última é a variável
dependente.

3.1. Período de 1973-83

A relação entre estas variáveis foi testada por Fagerberg (1988) para o período de 1973 até
1983. A Figura 1 apresenta os resultados encontrados pelo autor (Fagerberg, 1988, p. 443).
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

A amostra de países utilizada para verificar a relação entre P&D2 e PIBpc3, consistiu em vinte
nações da OCDE mais Índia, Coréia do Sul, Brasil e Argentina. A amostra de países para
verificar a relação entre PAT4 e PIBpc é dos mesmos vinte países da OCDE mais Índia, Coréia
do Sul, Taiwan, México, Brasil, Argentina e Hong Kong.

P&D e PIB pc 1973-1983 (médias)


40,00

35,00

30,00
PIB pc (US$ mil)

25,00

20,00

15,00
CAN SUEEUA ALE SUI
10,00 AUS.DIN FIN NORFRA
GRE ESP NOZ AU JAP
ITA BEL REU HOL
5,00 BRA IRL
ARG COR
0,00 IND
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50
P&D (% do PIB)

Patentes e PIB per capita 1973-1983 (médias)


15,00
PIB per capita (US$ mil)

NOR SUI
HOL,DIN SUE
CAN EUA
10,00 BEL ALE
REU
AUS FRA
NOZ AU,FIN JAP
IRL ESP ITA
GRE,HK
5,00 ARG
MEX,BRA
TAI
COR
IND
0,00
0 200 400 600

Aplicações Externas de Patentes/Exportações

Fonte: Fagerberg (1998)


Figura 1: Relação entre P&D e PIBpc e entre PAT e PIBpc de 1973 a 1983 (valores médios
da década)

2
No estudo de Fagerberg (1988), os dados de P&D foram ajustados para preços fixos de 1980 em US$ e PPP e calculados
como percentual do PIB per capita. Foram considerados o gastos brutos domésticos em P&D civil (não em P&D militar).
3
No estudo de Fagerberg (1988), os dados do PIB per capita foram ajustados para o índice de paridade do poder de compra
(PPP) e para preços fixos (índice de preços implícitos do PIB) de 1980 em dólar.
4
No estudo de Fagerberg (1988), os dados dos números de patentes foram ajustados para os valores das exportações de cada
país, como medida de relatividade. O autor utilizou os dados do número de patentes desenvolvidas por um determinado país
que são aplicadas por esse no exterior, denominadas de aplicações externas de patentes.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

Constata-se na Figura 1 que os países apresentam uma tendência de relação positiva entre o
nível de desenvolvimento tecnológico e o de crescimento econômico. O valor do coeficiente
de correlação ajustado (R2)5 da relação entre P&D e PIBpc, para o período analisado, é de 0,53
e valor deste coeficiente para a relação entre PAT e PIB pc é de 0,75. A conclusão é que a
análise realizada confirma a hipótese de relação positiva6 entre crescimento econômico e
desenvolvimento tecnológico.

A análise apresentada por Fagerberg (1988) neste estudo foi feita por grupos de países com o
objetivo de se obter uma melhor comparação entre os elementos da amostra. Ao todo foram
definidos quatro grupos.

O grupo A refere-se a países da fronteira tecnológica: Suíça (SUI), Estados Unidos (EUA),
Alemanha (ALE), Suécia (SUE) e Japão (JAP); estes apresentam elevados níveis de atividades
tecnológicas e de crescimento econômico. O grupo B, caracterizado por economias com níveis
médios de crescimento econômico e tecnológico: França (FRA), Reino Unido (REU), Itália
(ITA), Nova Zelândia (NOZ), Áustria (AU), Finlândia (FIN) e Holanda (HOL); estes países,
assim como aqueles do grupo A, reforçam a existência de uma relação direta entre o grau de
atividades tecnológicas e o nível de desenvolvimento econômico. O grupo C caracterizado por
países chamados de “contraditórios” por apresentarem alto desenvolvimento econômico
juntamente com um baixo grau das atividades tecnológicas nacionais: Bélgica (BEL), Canadá
(CAN), Austrália (AUS), Dinamarca (DIN) e Noruega (NOR); esta contradição pode ser
explicada recorrendo-se às características peculiares destes países, que seriam, entre outras, o
tamanho e/ou a estrutura industrial baseada em fontes de recursos naturais, fazendo com que
não sejam necessários grandes esforços para um desenvolvimento tecnológico significativo. E,
por último, o grupo D que é formado por países de industrialização recente: Coréia (COR),
Taiwan (TAI), México (MEX), Brasil (BRA), Argentina (ARG), Grécia (GRE), Hong Kong
(HKG), Irlanda (IRL) e Espanha (ESP); a taxa de crescimento do PIB destas regiões, no
período entre 1973 até 1983, foi a mais elevada quando comparada com toda a amostra; este
fato é explicado principalmente pelo aproveitamento destes países da difusão da tecnologia e
pelas altas taxas de investimentos nestas economias, que gozam da situação de economias
emergentes; por outro lado, o nível de desenvolvimento (PIB per capita) destas é o mais baixo
da amostra. A Índia (IND) não se localiza em nenhum grupo específico. Em termos de
atividades tecnológicas assemelha-se ao grupo D, mas apresenta uma renda per capita muito
inferior.

Duas hipóteses são apresentadas por Fagerberg (1998). A primeira refere-se ao grupo C,
segundo a qual esta posição contraditória poderia ser modificada por meio de uma maior
utilização do conhecimento como fonte propulsora de desenvolvimento econômico, caso
contrário, estes países permanecerão no nível em que estão. A segunda hipótese é que os
países do grupo D não poderiam continuar confiando somente na importação de tecnologia e
nos elevados investimentos externos como uma garantia para o crescimento. Alternativas para

5
É fundamental compreender os limites da interpretação deste coeficiente. O objetivo da análise em questão é de verificar a
existência e o sentido (direta ou inversa) da relação entre os indicadores definidos. Não é adequado considerar o resultado
deste coeficiente como a totalidade do nível de explicação de uma variável pela outra, pois para explicar a relação entre o
nível de crescimento econômico e de investimento em tecnologia é necessário testar um modelo que inclua outras variáveis
para que, então, seja possível definir, de fato, qual é o nível explicativo da variável “investimento em tecnologia”
especificamente.
6
Os melhores resultados da análise foram obtidos com PIBpc e LnP&D e PIBpc e LnLnPAT (Fagerberg, 1988, p.443).
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

uma melhor utilização dos recursos existentes nestes países deveriam ser mais bem
exploradas. Políticas de incentivos para as exportações de produtos que apresentam elevado
valor agregado (tecnologia), para os programas com desenvolvimento de pesquisas, tanto
básicas como aplicadas, para investimentos em mão de obra (que são fontes de conhecimento),
etc seriam formas de proporcionar desenvolvimento tecnológico.

3.2. Período de 1983-1993

Ruffoni e Zawislak (1998), realizaram uma análise comparativa do estudo de Fagerberg


(1988) com dados para o período 1983 a 19937. A amostra para os dados de P&D8 e PIBpc9
consiste nos mesmos vinte países da OCDE (considerados na análise do período 1973-1983)
mais Coréia e Brasil. A amostra para os dados de PAT contém os mesmos vinte países da
OCDE10. Para a análise comparativa são apresentados dois gráficos, conforme pode ser
verificado na Figura 2.

A curva estimada para o período de 1983-1993 apresenta um formato semelhante ao da curva


do período anterior. O valor do coeficiente de correlação ajustado (R2) da relação entre P&D e
PIBpc, para o período analisado, é de 0,64 e o valor deste coeficiente para a relação entre PAT
e PIB pc é de 0,33. Esses foram os melhores resultados obtidos e, da mesma forma que
Fagerberg (1988), provêm de uma relação log-linear11. Constatam-se alterações significativas
nos coeficientes de correlação, observando-se um aumento no caso de P&D e PIBpc e uma
redução na relação entre PAT e PIBpc.

Na Figura 2 (a seguir), o grupo A comprova sua superioridade em termos de crescimento


econômico e tecnológico. Observa-se, porém, algumas mudanças quanto a posição destas
economias dentro do próprio grupo. A Suíça (SUI) aparece na ponta desta figura. Apresentou
um volume de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (em relação ao PIB) de 3,37%
(em 1993). Os Estados Unidos surpreendeu pela baixa taxa de crescimento em P&D (14,51%),
distanciando-se da média da amostra. A Suécia (SUE) caracteriza-se por um aumento
significativo nas atividades de P&D, sendo o País, dentro deste grupo, que mais aumentou
7
Em um estudo de 2002, Fagerberg e Verspagen apresentam mais resultados da análise da relação entre as mesmas variáveis
para os períodos de 1966-1972, 1973-1983 e 1990-1995. Os resultados de Fagerberg e Verspagen (2002), mostram que ao
longo de todo período analisado, há a manutenção do coeficiente ajustado da correlação (R2) entre P&D e PIBpc em torno de
0,68, sendo que no período de 1973-1983 constatou-se o menor R2 que foi de 0,55.
8
O valor dos gastos de P&D foram fornecidos em dólares e ajustados para preços fixos (índice de preços implícitos do PIB)
do ano de 1993. A parte respectiva aos gastos com P&D militar foi retirada como feito no estudo de Fagerberg (1988).
9
O PIB foi ajustado para a paridade do poder de compra (PPP) e para preços fixos do ano de 1993. A base de preços utilizada
foi a de 1993 para que fosse possível comparar estes dados com os do período posterior (1994-2001). É fundamental levar em
consideração a diferença da base de preços deste estudo daquela utilizada por Fagerberg (1988). Infelizmente, não foi possível
obter os dados do período analisado por este autor (1973-1983), para que fosse,então, viável a troca de base de 1980 para
1993 e, então, realizar uma comparação adequada entre os dados. Entretanto, para a análise entre os estudos de 1983-1993 e
1994-2001 (próximos resultados a serem apresentados) foi possível estabelecer uma base comum (preços fixos de 1993) e
então estabelecer uma comparação adequada entre os valores analisados, tanto de PIBpc, quanto P&D e PAT.
10
Nestas amostras não estão Índia, Coréia do Sul Taiwan, México, Brasil, Argentina e Hong Kong pelo fato da não obtenção
dos dados.
11
Os melhores resultados desta análise também foram obtidos com PIBpc e LnP&D e PIBpc e LnLnPAT. Os resultados dos
testes de autocorrelação e multicolineariedade demonstraram a não existência destes elementos na amostra de dados
analisados.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

seus gastos nestas atividades. Este país, conforme verificado na Figura 1, apresentava os
menores níveis dos indicadores de desenvolvimento tecnológico de todas as outras nações
deste grupo. Os gastos em P&D do Japão ultrapassaram os da Suíça (SUI). Os japoneses são
responsáveis pelo segundo maior volume de investimentos em P&D (em relação ao do PIB
per capita) que é de 3,26%. Estes investimentos em tecnologias se refletiram no expressivo
crescimento do PIB per capita japonês, como pode ser observado.

P&D e PIB pc 1983-1993 (médias)


40

35

30
PIB pc (US$ mil)

25

20
EUA
CAN SUI
15 AUS DIN NOR FRA
FIN JAP
NOZ HOL
10 ESP AU BEL REU SUE ALE
ITA
IRL COR
5
GRE
BRA
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

P&D (% do PIB)

Patentes e PIB per capita 1983-1993 (médias)

30

25
PIB per capita (US$ mil)

20
EUA
CAN SUI
15 DIN JAP AUS
BEL NOR
HOL ALE
FRA
AU FIN SUE
10 IRL ITA REU
NOZ
ESP
5
GRE
0
0 200 400 600 800 1000 1200

Aplicações Externas de Patentes/Exportações

Fonte: elaborados com base em Ruffoni e Zawislak (1998)12

Figura 2: Relação entre P&D e PIBpc e PAT e PIBpc de 1983 a 1993 (valores médios da
década)

12
O gráfico não apresenta exatamente a mesma figura que está no trabalho de Ruffoni e Zawislak (1998), pois os dados foram
atualizados para valores de 1993 (naquele trabalho os valores tinham base em 1985).
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

Como visto na sub-seção anterior, os países de nível médio de desenvolvimento tecnológico e


econômico estão no grupo B. A Itália (ITA) destaca-se por apresentar um aumento
significativo dos investimentos nas atividades de P&D (34,43%) e o maior aumento no PIB
per capita (143,41%), destacando-se na Figura 2 por localizar-se acima da curva estimada, ao
contrário da Figura 1. A Holanda (HOL) ao contrário da Itália, apresenta um crescimento
pequeno no PIB per capita deste grupo, o que pode ser notado pela comparação entre os
gráficos. No primeiro a Holanda (HOL) está próxima ou acima da curva, denotando um
melhor nível de desenvolvimento econômico, enquanto que no segundo, este país aparece
abaixo da curva.

O grupo C caracteriza-se pelos chamados países contraditórios, que apresentam um nível alto
de desenvolvimento econômico, mas baixo em termos de atividades tecnológicas. Mas, como
é observado na Figura 2, alguns países deste grupo vêem alterando esta característica, dentre
estes está a Noruega (NOR).

O grupo D é formado pelos países semi-industrializados, como o Brasil (BRA), Espanha


(ESP), Coréia do Sul (COR), Irlanda (IRL) e Grécia (GRE). Neste grupo é interessante
observar a diferença de trajetória, nos vinte anos analisados, de dois países específicos: Coréia
do Sul e Brasil. De certa forma, estes dois países cristalizam as hipóteses aqui em questão. Se,
de um lado, a Coréia do Sul parece ter ingressado em um círculo virtuoso entre P&D e PIBpc,
uma vez que o aumento de investimento em tecnologia é evidente, o Brasil, de outro lado,
mantém praticamente inalterada sua posição.

A partir dos dados analisados, reforça-se a tese de que gastos mais elevados de P&D tendem a
empurrar um país para patamares superiores de renda. Já a manutenção dos gastos, mantém o
país no mesmo grupo. Mais do que isso, deverá haver um valor mínimo ótimo de investimento
em P&D para gerar um impacto significativo na renda per capita.

4. Relação entre Crescimento Econômico e Desenvolvimento Tecnológico de


Países: resultados recentes

Para a análise do período recente foram consideradas as mesmas variáveis utilizadas nos
períodos de 1973-1983 e 1983-1993. Os dados do PIBpc, dos investimentos e P&D e das
exportações foram ajustados para valores reais de 1993. Os dados de P&D utilizados refletem
o P&D civil, tendo sido retirado o valor referente ao P&D militar para aqueles países em que
isso é necessário (conforme já mencionado anteriormente). As informações do número de
patentes são aquelas que se referem ao indicador da OCDE de “Aplicações Externas de
Patentes”. No caso deste indicador foram obtidos dados até o ano de 1998 (último período de
divulgação deste indicador pela OCDE). Os dados das três variáveis (PIBpc, P&D e PAT)
foram retirados dos documentos da OCDE (2001/1 e 2003/2).

Deste terceiro período analisado, é importante destacar que nitidamente há uma “mistura” de
grupos, ou, provavelmente, a criação de novos grupos. Este fenômeno reforça, ao mesmo
tempo, as teses da divergência e da convergência.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

P&D e PIB pc 1991 - 2001 (médias)

35,00

EUA
30,00
NOR
PIB pc (US& mil)
SUI
25,00 CAN DIN
ITA IRL AUS HOL
REU AU FIN SUE
BEL
20,00 FRA ALE JAP
GRE
NOZ
ESP COR
15,00

10,00

5,00
BRA
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50

P&D (% PIB)

Patentes e PIB per capita 1988 - 1998 (médias)

30,00

25,00 EUA
PIB per capital (US$ mil)

CAN NOR SUI


ALE DIN
20,00 BEL ITA HOL AUS SUE
AU
FRA JAP REU
IRL FIN
15,00 NOZ
ESP
10,00
GRE
5,00

0,00
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800

Aplicações Externas de Patentes/Exportações

Fonte: elaborado pelos autores


Figura 3: Relação entre P&D e PIBpc de 1991-2001 e PAT e PIBpc de 1988 a 1998 (valores
médios da década)

Os resultados estatísticos confirmaram um coeficiente de correlação ajustado (R2) da relação


entre P&D e PIBpc para o período descrito de 0,22 e, para a relação entre PAT e PIB pc, de
0,31. Os melhores resultados obtidos também foram de uma relação log-linear13. Constatam-se
alterações nos coeficientes de correlação em relação ao período subseqüente, mas de forma
contrária. No período mais atual, observou-se uma redução significativa na relação entre P&D
e PIBpc e uma manutenção na relação entre PAT e PIBpc.
13
Os melhores resultados desta análise também foram obtidos com PIBpc e LnP&D e PIBpc e LnLnPAT. Os resultados dos
testes de autocorrelação e multicolineariedade demonstraram a não existência destes elementos na amostra de dados
analisados.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

Por um lado, há países que buscaram um posicionamento mais significativo, dentro de uma
tendência evolucionária de diferenciação, escapando, assim, do cluster dominante. Ressaltam-
se, principalmente, os casos da Coréia do Sul (COR) e da Irlanda (IRL). Inicialmente no
Grupo D, estes países poderiam ser classificados, neste último período, respectivamente, numa
situação que se assemelha a do Grupo B e do Grupo C. Da mesma forma, a Finlândia (FIN)
pode, sem qualquer dúvida, ser classificada para este último período analisado em uma
situação que se assemelha a do Grupo A (países da fronteira tecnológica).

Por outro lado, é interessante notar que se mantém a aglomeração de países em torno de
valores de P&D e de PIBpc semelhantes. Mas, diferente das constatações relativas ao segundo
período (1983-1993), os valores médios de P&D, por exemplo, migraram da faixa de 1,5-2%
para 2-2,5%. Um incremento médio de 0,5 ponto percentual pode sinalizar, justamente, a
necessidade de lidar com processos de desenvolvimento cada vez mais complexos. Isto é
adequadamente expresso pelo comportamento dos países do Grupo C, que passaram de
valores médios de 1,5% de investimento em P&D para 2%. O mesmo raciocínio vale para os
países do Grupo A, cujos valores de P&D passaram de 2,5-3% para 3-3,5%. Os países destes
grupos, aliás, mantém entre si posicionamentos aproximadamente idênticos ao do período
anterior. Isso pode ser observado na Figura 3 abaixo.

Alguns casos específicos merecem comentários. Ressalta-se, primeiramente, a Espanha (ESP),


a Grécia (GRE) e, mais uma vez, a Irlanda (IRL). Estes são países que se integraram à
Comunidade Econômica Européia nestes últimos dois períodos e, por força das políticas
comunitárias e da abertura de seus mercados, acabaram colhendo nítidos frutos de crescimento
econômico, o que é sinalizado pelo aumento do PIBpc. Mesmo se, para isso, o incremento de
P&D não tenha sido tão significativo.

Em extremo oposto, encontra-se o Brasil (BRA), país que, ao longo dos anos 1970, apresentou
as mais acentuadas taxas de crescimento e que, no primeiro período analisado, melhor
representava as características do Grupo D. No entanto, apresenta neste último período valores
de P&D e PIBpc praticamente idênticos ao do período inicial. No limite, o Brasil poderia ser
caracterizado como um caso único de um país em grupo algum. Ao longo destas quase três
décadas, os valores médios de investimento em P&D jamais foram além da média de 0,7%. Da
mesma forma que, o PIBpc está estagnado em valores inferiores a US$ 4 mil.

5. Considerações Finais: rumo a um modelo de rendimentos do investimento


em tecnologia

Constata-se uma evolução significativa das idéias quanto ao papel da tecnologia como um
fator explicativo das diferenças nas taxas de crescimento econômico entre os países. Desde as
considerações teóricas e ao longo dos dados apresentados, a importância da tecnologia como
uma fonte de crescimento econômico ficou evidente.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

A análise para o período completo (1983-2001), porém, demonstra um R2 ajustado da relação


entre P&D e PIBpc de 0,39 e da relação entre PAT e PIBpc de 0,3214. Nitidamente, há, na
análise dos três períodos, uma “diluição” dos impactos do desenvolvimento tecnológico no
crescimento econômico. Uma primeira impressão poderia ser a de que o modelo clássico,
baseado na relação de dependência do produto Y a dois fatores de produção (e.g. K e L), seria
mais robusto do que se imaginaria. A impressão, porém, é que as razões sejam outras.

Se, para Solow (1957), o progresso técnico explicaria até 7/8 dos aumentos de produtividade,
desfazendo a idéia central do modelo clássico, aproximadamente 50 anos depois deste trabalho
seminal, podemos afirmar que, muito além do desenvolvimento tecnológico (entendido aqui
como resultado concreto de investimentos em P&D), os aumentos de produto e renda
(denotados por Y) devem ser explicados por outros elementos residuais. É a função de
produção ficando cada vez mais complexa.

Entre estes elementos, acredita-se que são dignos de nota os seguintes: 1) o aumento do nível
de conhecimento técnico-científico do pessoal de P&D (uso crescente de doutores para a
inovação) e da difusão do uso de equipes integradas e interdisciplinares aumentam a eficiência
do processo de desenvolvimento tecnológico; 2) o advento da Internet, o desenvolvimento dos
meios de comunicação, o uso de sistemas baseados nas TIs e a aplicação de novas técnicas de
classificação/seleção de informação ampliam a qualidade e o fluxo de conhecimento
disponível; 3) relacionamentos interfirmas (redes de empresas, alianças estratégicas) e de
blocos econômicos, aliada à globalização, amplia as alternativas de comércio, retirando uma
suposta exclusividade do progresso das técnicas na explicação do crescimento econômico; e 4)
o rendimento econômico decrescente da P&D, tende a atingir o limite de algo em torno de 3%.

É, justamente, com base neste último item que se buscam novas explicações. As curvas que
representam a relação entre desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico,
apresentadas até o momento, possuem nitidamente um formato semelhante, o que permite
supor ser possível identificar diferentes graus de rendimentos em relação aos investimentos em
atividades que desenvolvem tecnologia e seus impactos no crescimento econômico.

Ruffoni e Zawislak (1998) já haviam apresentado a idéia de que haveria rendimentos


diferentes (e decrescentes) para cada um dos grupos de países. Essencialmente o que fora feito
naquele artigo – e será, de certa forma, reproduzido aqui – foi analisar as curvas a partir dos
rendimentos observados em três principais partes da curva.

A parte I (origem) apresenta rendimentos crescentes entre investimento em tecnologia e


crescimento econômico. Por exemplo, cada U$ 1,00 investido em P&D deve poder gerar mais
do que U$ 1,00 em renda per capita. A parte II (parte intermediária), por sua vez, apresenta
uma tendência de rendimentos constantes, onde para cada U$ 1,00 investido em P&D, ocorre
um aumento de (mais ou menos) U$ 1,00 em renda per capita. E, por último, a parte III
(aquela em que estão os valores elevados dois eixos das abscissas e ordenadas) é a que
apresenta os rendimentos mais baixos, como pode ser observado pela sua inclinação. Nesta
parte, um incremento nos gastos em P&D, resulta em um incremento menor em crescimento
econômico (renda per capita), do que na parte I ou II.

14
Os melhores resultados desta análise foram obtidos também em uma relação log-linear, com PIBpc e LnP&D e PIBpc e
LnLnPAT. Não há autocorrelação e multicolineariedade na amostra de dados analisados.
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

Isso leva a conclusão que os países que apresentam maiores investimentos em P&D são os
mesmos que estão num limite em termos de gerar crescimento econômico através da variável
tecnológica. O contrário é dito para os países que apresentam níveis mais baixos de
investimentos em P&D, pois, desta forma, a variável tecnológica pode ser capaz de refletir
rendimentos mais elevados em termos de PIB per capita.

Os países da fronteira tecnológica localizam-se na parte III da curva, o que significa que os
rendimentos de seus gastos em P&D tendem a ser menores do que dos outros países da
amostra, que se localizam na parte I e II. Como estes países já gastam, em média, valores
próximos do limite identificado de P&D, para permanecerem nesta posição, eles devem
manter seus gastos em tecnologia. Neste sentido, os incrementos são menores, pois a partir
deste limite (em torno de 3% do PIB) esses gastos não têm grandes retornos em termos de
crescimento econômico (∆Ypc). Eles apenas tendem a garantir um ritmo equilibrado de
crescimento da produtividade.

Na parte II estão as economias que tendem a aumentarem seus gastos em pesquisa (em média
de 2% do PIB) até alcançarem a mesma proporção dos gastos dos países da parte III. Verifica-
se que o grupo C, juntamente com o grupo B e a Coréia do Sul, está se aglomerando em torno
desta área, tendendo a apresentar maiores rendimentos na relação P&D e PIB per capita.

Na parte I estão os países que podem vir a apresentar os maiores rendimentos em relação aos
incrementos em atividades tecnológicas. É importante salientar, porém, que para esses países
incrementarem seus investimentos em tecnologia é necessária a realização de grandes esforços
(desde que haja decisão política), pois precisam criar uma base tecnológica para chegar num
nível superior.

Assim podemos classificar os investimentos em P&D em três faixas distintas de acordo com
os rendimentos destes: abaixo de 1%; entre 1% e 2%; e acima de 2% (tendendo ao limite de
3%). Para cada um dos níveis de investimentos em P&D existe uma política estratégica para o
desenvolvimento de tecnologia e para o crescimento econômico diferente.

As conclusões deste estudo indicam que os países devem direcionar seus investimentos para
uma melhor utilização do conhecimento, aperfeiçoando suas capacidades de adaptação e de
desenvolvimento de P&D. A simples compra de tecnologia não gera o incremento de renda
per capita que se almeja para saltar de uma parte (I e II) para outra (respectivamente, II e III).
Ao mesmo tempo, deve ser considerado que o nível atual de desenvolvimento tecnológico é
capaz de identificar os rendimentos que um determinado país obtém, de fato, em termos de
crescimento econômico e poderá obter, no futuro, a partir de uma política tecnológica
adequada.

6. Referências Bibliográficas
ANAIS DO XXIII SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 19 A 22 DE OUTUBRO DE 2004 - CURITIBA –
BRASIL / AUTORES: RUFFONI, ZAWISLAK E LACERDA.

ARCHIBUGI, Daniele & COCO, Alberto. A New Indicator of Technological Capabilities for
Developed and Developing Countries (ArCo). Conferência Internacional sobre Sistemas de
Inovação e Estratégias de Desenvolvimento para o Terceiro Milênio (Globelics), Rio de
Janeiro, novembro de 2003. Anais, ...

DENISON, Edward F. Why growth rates differ: post-war experience in nine Western
Countries. Washington, DC, Brookings Institution, 1967.

FAGERBERG, Jan. Why growth rates differ. IN: DOSI, Giovanni. Technical Change and
Economic Theory. London: Pinter Publishers Limited. ed. 2. parte 6, cap. 20, p. 433-57, 1988

FAGERBERG, Jan. Technology and International Differences in Growth Rates. Journal of


Economic Literature, volume XXXII, p. 1147-1175, setembro de 1994.

FAGERBERG, Jan & VERSPAGEN. Technology-gaps, innovation-difusion and


transformation: an evolutionary interpretation. Research Police, número 31, p. 1291-1304,
2002.

NELSON, R.R. & WINTER, S.G. An Evolutionary Theory of Economic Change. Cambridge
(MA), Belknap, 1982.

OCDE. Main science and technology indicators. Paris: OCDE, 2000/1

OCDE. Main science and technology indicators. Paris: OCDE, 2003/1

OHKAWA, Kazushi & ROSOVSKY, Henry. Japanese economic growth. Stanford: Stanford
University Press. p. 432-57, 1973

PAVITT, Keith & SOETE, Luc G. International differences in economic growth and the
international location of innovation. IN: GIERSCH, H. 1982.

ROMER, Paul M. Increasing returns and long-run growth. Journal of Political Economy, 94:5,
p.1002-37, outubro de 1986.

RUFFONI, Janaína & ZAWISLAK, Paulo. Knowledge and Economic Development.: a


comparative study. 7th International Conference on Management of Technology (IAMOT),
Estados Unidos, Orlando, 1998. Anais …

SCHUMPETER, Joseph Alois. The theory of economic development. Cambridge, (MA):


Harvard University Press, 1912.

SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro, Fundo


de Cultura S.A., 1942

SOLOW, Robert. A contribution to the theory of economic growth. The Quarterly Journal of
Economics, v. 70, n. 1, p. 65-94, fevereiro de 1956.

SOLOW, Robert. Technical change and aggregate production function. Review of Economics
and Statistics , v. 39, n. 3, p. 312-20, agosto de 1957.

Você também pode gostar