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https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1444
Resumo
O presente artigo surge a partir de dificuldades, descobertas e reflexões acerca da prática
clínica como estagiária de psicologia. Trata-se de um estudo qualitativo de natureza explo-
ratória, sustentado teoricamente a partir da psicanálise e teve como objetivo principal
compreender como os estagiários de psicologia vivenciam o lugar de psicoterapeutas ao rea-
lizar intervenções clínicas. Participaram da pesquisa seis estagiárias de psicologia. O méto-
do utilizado para análise de dados foi a análise de conteúdo. Os resultados apontam que o
lugar de psicoterapeuta é acompanhado de diferentes sentimentos e construções subjetivas
sobre a apropriação desse lugar. Identificaram-se a utilização do tripé psicanalítico (super-
visão de casos clínicos, tratamento pessoal e seminários teóricos) e de outros elementos da
psicanálise durante as intervenções. A experiência vivenciada com a prática, ao longo do
tempo, e a supervisão foram consideradas importantes para o estagiário, enquanto que o
desgaste emocional e a infraestrutura do serviço-escola relacionam-se a aspectos que difi-
cultaram a ocupação do lugar de psicoterapeutas.
Palavras-chave: Psicoterapeuta; Prática clínica; Estagiários de Psicologia; Psicanálise
Abstract
This paper emerges from challenges, discoveries and reflections about the clinical practice
throughout my psychology internship. It presents an exploratory qualitative study support-
ed by psychoanalytic theory, and focuses on understanding how the Psychology interns ex-
perience the psychotherapists' place during clinical interventions. Six interns of the second
and third semesters participated on the survey. The methodology used was the content
analysis. The results show the psychotherapists' place comes with different feelings and
subjective constructions about the appropriation of this place. It was identified the use of
the psychoanalytic tripod (supervision of clinical cases, personal treatment and theoretical
seminars) and others elements of the psychoanalysis during the interventions. Experience
with practice over time and supervision are considered key aspects to the intern mean-
while emotional distress and local infrastructure are related to difficult aspects to occupy
the psychotherapist's place.
Keywords: Psychotherapist; Clinical practice; Psychology interns; Psychoanalysis
130 Lopes, Janaína Da Silva Schmitz & Castro, Rosana Cecchini De
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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 131
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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 133
Instrumento
Percurso metodológico
O instrumento utilizado foi a entrevista semi-
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e de na- estruturada, técnica que permite ao pesqui-
tureza exploratória. Este estudo foi realizado sador eleger as questões sobre o tema para
no PAAS, que atualmente trabalha com cerca que o entrevistado fale de forma livre sobre
de 40 alunos estagiários de psicologia, distri- os assuntos que surgem a partir do desenvol-
buídos entre as três supervisões teóricas que vimento da temática proposta (Gerhardt &
atuam no serviço. As supervisões acontecem Silveira, 2009). Foram elaboradas seis ques-
em grupo e a cada novo semestre o grupo tões norteadoras, estruturadas a partir de seis
modifica-se com o ingresso e a saída de mem- categorias escolhidas a priori: 1. Descreva sua
bros. O grupo possibilita um olhar mais atento vivência inicial como estagiário psicoterapeu-
e potente no tocante ao processo de ensino- ta; 2. Descreva sua vivência atual como psico-
aprendizagem, amplia as discussões e possibi- terapeuta; 3. O tripé da psicanálise: supervi-
lita a criação de um espaço acolhedor para o são, tratamento pessoal e seminários teóricos
processo de construção do psicoterapeuta têm exercido que tipo de importância para
(Cipriani et al., 2015). você ocupar o lugar de psicoterapeuta ao rea-
lizar intervenções clínicas?; 4. A psicanálise que essa possibilidade havia sido previamente
trabalha com o inconsciente, a transferência, combinada com o estagiário entrevistado,
a pulsão, a resistência e a repetição. Fale bem como este fora informado dos objetivos
desses elementos em sua prática como psico- do estudo e tinha recebido o termo de con-
terapeuta ao realizar intervenções clínicas; 5. sentimento livre e esclarecido para assinar.
Quais são os aspectos que considera facilita-
Os dados foram agrupados por categorias de-
dores para ocupar o lugar de psicoterapeuta?
finidas, a priori, a partir das questões nortea-
e 6. Quais são os aspectos que considera que
doras elaboradas. As categorias escolhidas fo-
dificultam ocupar o lugar de psicoterapeuta?
ram: Vivência inicial; Vivência atual; Tripé
psicanalítico; Elementos da psicanálise; As-
Procedimentos éticos e de análise de pectos facilitadores e Aspectos dificultadores,
dados que deram origem às questões formuladas nas
perguntas da entrevista semiestruturada.
Primeiramente, foram observadas as normas
preconizadas pela Comissão Nacional de Ética Os recortes dos relatos das participantes fo-
em Pesquisas em Seres Humanos e obedecidas ram categorizados e encaminhados a duas juí-
as normas de biossegurança e sigilo ético. Os zas independentes, psicólogas com conheci-
participantes foram informados sobre os obje- mento do tema em estudo que, para, Renata
tivos do estudo e receberam o termo de con- Aparecida Belei, Sandra Regina Gimeniz-
sentimento livre e esclarecido para assinar. Paschoal, Edinalva Neves Nascimento e Patrí-
Também obtivemos do serviço a assinatura da cia Helena Vivan Ribeiro Matsumoto (2008),
carta de anuência para a realização do estu- servem para verificar a fidedignidade das ca-
do. O projeto para a realização deste traba- tegorizações escolhidas e assegurar maior ri-
lho foi encaminhado ao Comitê de Ética da gor à apresentação dos resultados. Estes são
Universidade, tendo sido aprovado de acordo considerados aceitáveis quando a concordân-
com a Resolução 64/2016, de 13 de junho de cia entre a classificação do pesquisador e dos
2016. Num segundo momento, as entrevistas juízes apresente um índice de pelo menos 70%
foram realizadas no PAAS; e os participantes de concordância (Fagundes, 1999). De acordo
receberam a garantia de acesso aos resulta- com a avaliação das juízas, 77,28% dos relatos
dos do estudo após sua conclusão, caso tives- corresponderam à categoria em questão, sen-
sem interesse. Este estudo respeita a resolu- do que as discordâncias apontadas foram em
ção do Conselho Nacional de Saúde (2013) e maior número nas categorias Vivência inicial e
do Conselho de Psicologia, conforme Resolu- Vivência atual do estagiário psicoterapeuta.
ção 466/12.
As entrevistas foram realizadas de forma indi- Resultados e discussão
vidual, com duração aproximada de cinquenta As categorias de análise foram elaboradas a
minutos, sendo gravadas e, posteriormente, priori; na continuidade deste trabalho, são
transcritas. Deram origem a um material ex- expostas as categorias e subcategorias origi-
tenso e as respostas foram analisadas pela nadas a partir do conteúdo das falas das en-
análise de conteúdo de Laurence Bardin trevistadas, sendo os resultados apresentados
(1977), que compreende um conjunto de téc- com suas respectivas análises.
nicas de análise das comunicações em que as
significações de um emissor para um receptor
Categoria 1: Vivência inicial
podem ser decifradas. Para respeitar o sigilo,
os sujeitos foram representados pela letra "E" A primeira categoria descreve os momentos
e numeração sequencial. iniciais da vivência das estagiárias como psi-
coterapeutas. Observamos que essa experiên-
Inicialmente, foi aplicada uma entrevista pi-
cia desencadeia uma sequência de importan-
loto, com um estagiário não previsto como
tes construções subjetivas que acompanham
participante do estudo, para verificar a ade-
todo o período de estágio profissional.
quação e o entendimento sobre as questões
com relação aos objetivos propostos. Como a Esta categoria deu origem a três subcategori-
entrevista piloto não indicou nenhuma refor- as que indicam elementos que circunscrevem
mulação no questionário organizado, optamos a vivência no lugar de psicoterapeuta. O novo
pela inclusão dos dados da entrevista, visto lugar, ao qual se candidatam, promove mu-
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A busca pelo próprio jeito de ser terapeuta Mena Matos (2011), acontece ao longo da vida
pode iniciar com a leitura de prontuários, e da prática clínica e atualiza-se a partir da
com um maior número de entrevistas com compreensão do outro. A curiosidade e a dis-
familiares e escolas ou ainda aproximações ponibilidade sobre a singularidade humana
com rede de assistência do município, como são responsáveis por dar movimento à dinâ-
podemos perceber nos relatos: mica e inacabada experiência de descoberta
Eu li todo o prontuário dele, não consegui enxer-
do lugar de psicoterapeuta.
gar o que estava sendo feito. Não consegui, tipo,
A apropriação do lugar de psicoterapeuta po-
dar uma sequência para aquilo. […] eu chamei
mãe, chamei pai, chamei tia, chamei vó e fui pra de ser contemplada a partir das falas de En-
escola… fiz tudo. Porque eu precisava entender trevistada Nº 1 e Entrevistada Nº 6, que se
da história. E chamei mais de uma vez. E a medi- percebem mais seguras em suas intervenções.
da que eu fui chamando, foi acontecendo. (En-
A contratransferência aparece como elemento
trevistada Nº 2, entrevista pessoal, agosto de
2016) importante dessa vivência, como nos aponta a
fala de Entrevistada Nº 5.
No início, eu escrevia, minha postura era mais ou
menos igual a tua, sentada, com um papel e eu Segura. Antes eu me sentia totalmente insegura,
escrevia e não podia! Mas eu morria de medo de sem saber o que fazer. Com a sensação de não
esquecer, porque eu tinha que levar pra supervi- estar fazendo nada, medo de machucar, de não
sora pra aí a gente conversar. E eu escrevi até o saber. […] Hoje eu sei mais o que tô fazendo. […]
dia que ele chegou com um caderno e sentou as- o meu olhar tá muito pra isso, porque eu também
sim na minha frente e eu me vi nele! Daí eu parei entrei muito pra dentro da rede. Então eu olhei
de escrever… (risos)… daí eu nunca mais escrevi pra outros casos também, que eu acompanho.
nada! (Entrevistada Nº 1, entrevista pessoal, (Entrevistada Nº 2, entrevista pessoal, agosto de
agosto de 2016) 2016)
Eu acho que hoje eu já posso me considerar uma
Categoria 2: Vivência atual psicoterapeuta! Acho que toda a insegurança que
eu falei que experimentei e vivi no início, se
A segunda categoria corresponde à descrição transformou no pensamento de que sim, eu me
da vivência de um semestre letivo das estagi- tornei uma psicoterapeuta a partir das experiên-
árias no novo lugar; e origina uma subcatego- cias que eu vivi. Não tem como comparar o jeito
que eu entrei com o jeito que eu saio. (Entrevis-
ria marcada por novos elementos que partici- tada Nº 6, entrevista pessoal, agosto de 2016)
pam da vivência das entrevistadas no lugar de
psicoterapeuta. Então, eu acho que o que tá diferente hoje, tam-
bém, é poder ver o processo que eu passei, em
Os momentos iniciais destacam-se pelo pri- dado momento tu pega o que é a contratransfe-
rência, o que é o problema da pessoa e daí tu
meiro encontro com a prática clínica e por começa a fazer as intervenções e a pessoa come-
inúmeras descobertas, que, a partir de então, ça a andar. […]. Também, me sinto muito mais
abrem espaço para uma experiência, acom- tranquila, mais segura, sabendo lidar com o que
panhada por maior segurança nas interven- vem na contratransferência, […] Acho que isso é o
que ficou pra mim, assim, que eu vou levar como
ções. Este segundo momento, portanto, pos- essência do trabalho psicoterapêutico. (Entrevis-
sibilita aprofundar-se e ir adiante a partir de tada Nº 5, entrevista pessoal, agosto de 2016)
uma base já constituída desse lugar.
A contratransferência é um instrumento para
Myrna Pia Favilli (2013, p. 29) afirma: a compreensão da dinâmica do paciente (Val-
Cada analista deve procurar, dentro do si mesmo, verde & Pasqualini, 2014). Porém arriscamos
qual força motora o leva a desencadear, dentro inferir que, para o estagiário-psicoterapeuta,
de si, o desvelamento dos mistérios humanos. A também funciona como ferramenta para que
clínica se inicia assim, da antiguidade interna,
mesmo que suas molduras sejam obscurecidas por
ele possa apropriar-se do seu lugar. A contra-
aquilo que chamamos vida profissional. A forma- transferência refere-se a um modo de deixar-
ção se inicia no primeiro momento de um encon- se colocar diante do outro (Figueiredo, 2008).
tro especial para cada um. Algo antigo sempre es- E parece-nos que essa é a essência que emer-
tá nas fímbrias da revelação.
ge a partir da contratransferência nesta cate-
goria, pois o cultivo desta disposição subjeti-
Subcategoria 2.1: Apropriação do lugar de va é um aspecto-chave para sustentar o lugar
psicoterapeuta de psicoterapeuta.
Esta subcategoria permite-nos discorrer sobre
o processo de tornar-se psicoterapeuta, que,
segundo Helena Moura de Carvalho e Paula
Categoria 3: Tripé psicanalítico - vivi a doença da minha mãe, né. Então isso foi al-
go que mexeu comigo, né, enquanto terapeuta e
supervisão, tratamento pessoal e seminários
que da mesma forma precisei levar pra supervi-
teóricos são, também falei disso na minha terapia, porque
acaba que a gente relaciona a experiência do
As estagiárias-psicoterapeutas identificam a nosso paciente com aquilo que a gente já viveu.
supervisão, os seminários e o tratamento pes- (Entrevistada Nº 6, entrevista pessoal, agosto de
soal como essenciais. Esta categoria originou 2016)
uma subcategoria. A relação com a teoria foi Acho que isso foi bem importante, e acho que a
trazida para além dos seminários teóricos do psicoterapia foi algo que me ajudou a ocupar este
serviço escola, sendo que houve articulação lugar. Acho que a supervisão acadêmica, tam-
bém, assim, me convidando pra ocupar este lu-
com as atividades acadêmicas. O crescimento
gar, assim, acho que foi bem importante. (Entre-
pessoal foi apontado como experiência signi- vistada Nº 5, entrevista pessoal, agosto de 2016)
ficativa para o lugar de psicoterapeuta. A su-
pervisão aparece como um dos mais impor- A supervisão é o ponto de maior relevância
tantes elementos, percebida como um espaço para uma “passagem” de estudante a analista
acolhedor e capaz de traduzir aquilo que as (Brant, 2017). No entanto o autor questiona a
mobiliza na relação terapêutica. Esse dado efetividade de uma supervisão de casos em
reforça o parecer de Ricardo Goldenberg e psicanálise em um contexto universitário,
Ernesto Duvidovich (2007) sobre a supervisão quando comparado aos âmbitos de formação
na clínica psicanalítica, em que assevera que em psicanálise. De todas as formas, destaca
o supervisor é colocado em posição de onisci- que a oportunidade da supervisão constitui-se
ência e onipotência, pois se espera que deci- em um espaço no qual o supervisor, junto ao
fre os enigmas existentes nos materiais apre- supervisionando, pode aportar reflexões e
sentados. orientações que lhe permitam aprimorar o uso
do método e das técnicas psicanalíticas, assim
O desamparo do psicoterapeuta iniciante é como conhecer melhor sobre a transferência
carregado de incertezas e angústias próprias de seu paciente e analisar sua própria contra-
desse momento e sua busca é por um saber transferência.
que represente aprovação, reconhecimento e
autorização. Assim, deposita no supervisor a Subcategoria 3.1: Efeitos da escuta e a
tarefa de definir o certo e o errado, o que, necessidade de uma atitude clínica
para Ernesto Duvidovich (2007), é uma tarefa
equivocada, embora possível em parte do Esta subcategoria apresenta o quanto os con-
processo. Conforme Eliana Rodrigues Pereira teúdos densos, trazidos pelos pacientes, se-
Mendes (2012), a supervisão é um processo guidos da inexperiência presente neste mo-
com momentos de elaboração e confronto, é mento de formação, mobilizam as estagiárias.
um dispositivo articulador entre o saber e o Letícia Tavares Neves (2007) afirma que a es-
não saber e estabelece uma ponte entre a ex- cuta analítica se constitui a partir das esco-
periência clínica e o estudo teórico. lhas e afinidades do analista e ocorre em num
campo intersubjetivo, entre as subjetividades
Mônica Medeiros Kother Macedo e Carolina da dupla analista-analisando. A capacidade de
Newmann de Barros Falcão (2005, p. 72) afir- escuta, portanto, compõe algo essencial do
mam que: trabalho psicoterapêutico, sendo a palavra a
A teoria psicanalítica não pode ocupar o lugar da via de acesso aos conteúdos inconscientes que
história de vida do paciente. Os fantasmas do habitam o outro (Esteves & Laguárdia, 2010;
analista não podem ensurdecê-lo no encontro Perrone & Moraes, 2014).
com o paciente. Desta forma, o famoso tripé –
formação teórica, atividade de supervisionar-se e Ocupar o lugar de psicoterapeuta requer das
análise pessoal – constitui os recursos na qualifi-
cação do processo de escutar o outro.
estagiárias uma permanente construção de si
mesmas. A escuta analítica inicia com o im-
A supervisão e o tratamento pessoal apare- pacto de narrativas carregadas de eventos vi-
cem com mais frequência nas falas, como po- olentos e de pesada carga emocional, que
demos observar nas falas seguintes entrevis- inauguram as primeiras tentativas de distin-
tadas: ção entre o Eu sujeito e o Eu terapeuta. Tare-
Lembrei de uma paciente adolescente que traz fa esta exaustiva e desafiadora nesse momen-
muito um sofrimento em função da doença da to de formação e descobertas.
mãe e lembro que um tempo antes eu também
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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 139
Os efeitos da escuta terapêutica podem ser Neste estudo, observamos que as participan-
observados nas falas de: tes sinalizaram a existência desses elementos.
A questão da violência bate forte, porque eu en-
Contudo mostraram-se divergentes em suas
quanto mulher ouvir que uma pessoa, indepen- percepções com relação à presença deles em
dente do gênero, masculino ou feminino, mas tu sua prática.
ter que escutar de uma violência é violento. Me
lembro muito que este foi um caso que eu levei A fala das entrevistada aponta para a impor-
bastante pra supervisão. Porque mexe com a gen- tância dos elementos, porém denuncia a difi-
te, mobiliza. (Entrevistada Nº 6, entrevista pes-
culdade de identificá-los durante os primeiros
soal, agosto de 2016)
ensaios no lugar de psicoterapeuta:
Eu não vejo assim, a gente atuar sem ter este tri-
pé, principalmente na psicanálise, que não é uma Acho que são conceitos muito válidos que a gente
coisa dada, né. […] ‘Ler’ estas metáforas. Da on- precisa se apropriar. (Entrevistada Nº 6, entrevis-
de que elas tiram isso? Mas o quanto que a gente ta pessoal, agosto de 2016)
vai conseguindo ter uma dimensão maior, seja de
um desenho, seja da brincadeira, conforme a Jay R. Greenberg e Stephen Mitchell (2003)
gente vai lendo e falando em supervisão. (Entre- apontam que o objeto da psicanálise é aquilo
vistada Nº 4, entrevista pessoal, agosto de 2016) que é alvo da pulsão. Freud (1915/1997) afir-
Ao escutar, o analista deve voltar o seu in- ma que a pulsão é o que atua entre o somáti-
consciente para o inconsciente do paciente, co e o psíquico, cuja meta é a satisfação: tra-
para os ditos e não ditos, entendendo que há ta-se do objeto libidinal. A pulsão na cena
algo além do que foi dito para ser escutado clínica aponta para as relações objetais, o
(Broza, Ortolan, Sei & Victrio, 2017). Alcimeri que, conforme a fala da Entrevistada Nº 1,
Kühl Amaral Veiga Prata e Elisa Maria de não costuma ser percebido ao ocupar o lugar
Ulhôa Cintra (2017), por sua vez, reforçam de psicoterapeuta.
que o analista, ao escutar o outro, acolhe sua Já Entrevistada Nº 5 percebe que esse ele-
angústia, seus sofrimento e desespero e que mento aparece de forma intensa em sua prá-
se encontra em posição de ampará-lo e guiá- tica, indicando que, nos primeiros contatos
lo pelo seu desamparo, acreditando nas po- com a prática, a pulsão somente é identifica-
tencialidades do sujeito do inconsciente. As- da mediante as atuações oriundas dos aten-
sim, a escuta psicanalítica possibilita que a dimentos de pacientes que apresentam pato-
dor seja transformada em experiência, sendo logias mais graves (Figueiredo, 2008).
esta uma atitude clínica que permite a elabo-
A pulsão para mim, não é muito, muito clara, não
ração da experiência emocional. é uma coisa que eu trabalho tão direto, assim.
(Entrevistada Nº 1, entrevista pessoal, agosto de
Categoria 4: Elementos da psicanálise: 2016)
inconsciente, transferência, pulsão, Vou utilizar alguns exemplos de casos para ficar
resistência e repetição mais fácil. Tem um paciente em específico que
me desafia muito e que ele é pulsão pura. Ele co-
A quarta categoria refere-se ao inconsciente, loca no corpo e em mim, toda esta energia psí-
à transferência, à pulsão, à resistência e à quica que não encontra lugar. Eu acho que isso se
articula a transferência, porque inconsciente-
repetição, que representam o edifício teórico
mente eu sou a mãe dele. É bem difícil suportar
da técnica a partir das leituras freudianas. De toda esta culpa, raiva e agressividade que o
acordo com Ana Cecília Carvalho (2006), esses atendimento me coloca. Foi um desafio pra mim.
elementos são fundamentais para a prática Ele tentava me tirar deste lugar de terapeuta e
eu tinha que voltar. (Entrevistada Nº 5, entrevista
psicanalítica e possibilitam transitar entre as
pessoal, agosto de 2016)
dimensões técnica e ética deste lugar.
A contratransferência aparece nesta catego-
Segundo a mesma autora (2006), os distanci- ria, segundo nossa avaliação, como um sexto
amentos e as aproximações destes elementos elemento, ou seja, um elemento diferente
na prática clínica devem ser atentamente ob- daqueles inicialmente pesquisados, mas um
servados. Nossos objetivos, a partir desta ca- importante componente das vivências das es-
tegoria, envolvem a identificação da presença tagiárias ao ocupar o lugar de psicoterapeu-
do inconsciente, da transferência, da pulsão, tas. Acreditamos que compreender os efeitos
da resistência e da repetição durante as in- contratransferenciais auxilia de forma signifi-
tervenções das estagiárias ao ocupar o lugar cativa o aluno na descoberta do lugar de te-
de psicoterapeutas. rapeuta.
Os efeitos daquilo que é projetado são senti- de todos esses componentes integrados possa
dos a partir das manifestações no analista. O ter sido uma tarefa demasiadamente difícil e
sono aparece, de acordo com a participante, que justifique que apenas pulsão e resistên-
durante determinado atendimento: cia, nos pacientes, tenham sido identificadas
Bom, na contratransferência, como te falei antes,
durante as intervenções do estagiário no lugar
eu sentia muito sono, que foi… nossa! Muito pre- de psicoterapeuta.
sente, eu consegui entender na pele! A questão
da resistência, em uma outra paciente, aonde se Categoria 5: Aspectos facilitadores
percebe a dificuldade de adesão do tratamento,
as faltas, os não desmarcar. Isto fala muito desta As entrevistadas descreveram como principais
resistência. (Entrevistada Nº 2, entrevista pesso-
al, agosto de 2016)
aspectos facilitadores aqueles ligados ao pas-
sar do tempo, a características pessoais e ao
Zimerman, (2010, p. 350) refere: tripé psicanalítico. O tempo para a psicanáli-
O fenômeno contratransferencial resulta das se é importante. Ana Aparecida Nascimento
identificações projetivas oriundas do analisando, Martinelli Braga (1998) assinala que ele versa
que provocam no analista um estado de uma con- não apenas sobre o tempo do tratamento e de
tra-identificação projetiva, conforme uma con-
tudo que o envolve, mas também sobre o
ceituação de Grinberg (1963). Para esse autor, os
conflitos particulares do analista não são os que tempo do inconsciente de cada um, visto que
determinam a contratransferência; o que sim- é a linguagem do inconsciente, enquanto
plesmente acontece é que ele fica impregnado atemporal, que está em jogo numa análise.
com as cargas maciças das identificações projeti-
Dessa forma, arriscamo-nos a inferir que te-
vas do paciente e fica sendo dirigido, passiva-
mente, a sentir e a executar determinados pa- rapeuta e paciente descobrem juntos seus
péis. tempos, cada um com sua singularidade e
questões, mas que, de alguma forma, dividem
A resistência, de acordo com a Entrevistada
o mesmo setting terapêutico.
Nº 2, é representada através das faltas e dos
atrasos de sua paciente, que podem estar, se- O tempo no qual se desenrola o estágio é o
gundo Joseph Sandler, Christopher Dare e momento em que se inauguram os primeiros
Alex Holder (1986), atuando como forças do ensaios técnicos para que o aluno possa seguir
paciente em oposição ao tratamento. No en- rumo à experiência de ser psicólogo. Dessa
tanto esse elemento pode ser pensado tam- forma, a experiência vivenciada com a prática
bém a partir da relação transferencial, e a ao longo do tempo é trazida como aspecto fa-
ausência desta associação pode sinalizar uma cilitador na fala da participante:
fragilidade técnica instalada nesse momento Acho que a experiência, acho que isso te dá uma
da formação. tranquilidade. Acho que quando tu chega no es-
tágio, vem com uma angústia e com uma fantasia
Percebemos que a complexidade desses ele- muito grande assim, do que é e do que não é. […]
mentos dificulta a associação direta com a E até tu entrar nesta posição, entender como ela
prática clínica, durante o estágio profissional, funciona é acho que talvez uma das coisas mais
angustiantes. Então acho que experiência e tem-
refletindo, possivelmente, a própria resistên-
po de estágio auxiliam neste processo. (Entrevis-
cia das estagiárias como psicoterapeutas. tada Nº 1, entrevista pessoal, agosto de 2016)
Brant (2017), ao referir-se sobre a supervisão
da prática clínica psicanalítica, formula algu- A supervisão e o conhecimento teórico, con-
mas reflexões a respeito da resistência, a par- forme a fala da entrevistada, são também
tir da retomada das discussões realizadas por considerados aspectos facilitadores. O que
Freud ao longo de toda a sua obra. Em seu nos leva a inferir que o estagiário passa, aos
resgate, assinala que a resistência está sem- poucos, a preservar o espaço analítico, dei-
pre presente em algum grau nos momentos de xando de ocupá-lo com aspectos envolvidos
supervisão. na construção do lugar de psicoterapeuta. Pa-
ra Patrick Casement (1986), o analista visa ser
Complementando, Brant (2017, p. 7) aduz que o servo do paciente; não o seu senhor.
“entrar em contato com o reconhecimento de
Supervisão… em primeiro lugar! Sou uma pessoa
que foi a contratransferência que levou ao que eu escolhi este lugar, porque eu sabia que
que poderia ser visto como ‘erro’ técnico, aqui eu teria uma supervisão, né… eu acho que
pode constituir forte ameaça ao reconheci- isso é fundamental. Os seminários teóricos, não
mento de si mesmo como profissional da Psi- só aqui, mas as leituras da faculdade, todo co-
nhecimento teórico de qualquer lugar (Entrevis-
canálise”. Somado a isso, refletir a respeito tada Nº 4, entrevista pessoal, agosto de 2016).
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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 141
la, apontamos a hipótese de que os lugares de tante conteúdo, por longas falas, o que pode
estagiário e de psicoterapeuta possam estar ser percebido a partir dos desdobramentos
sobrepostos, por conseguinte, causando certa desta categoria. Inferimos que isso sugere o
confusão. impacto do início da prática clínica. Esse
momento é percebido a partir de sentimentos
A fala de Entrevistada Nº 4, talvez, indique o
de angústia e ansiedade, em que o estagiário
desejo de ocupar um lugar maior do que
se depara com os desafios da prática e, dessa
aquele possível no próprio estágio, enquanto
forma, lança mão de estratégias para delimi-
que a Entrevistada Nº 5 e a Entrevistada Nº 6,
tar esse lugar. O novo lugar, ao qual se candi-
entrevista pessoal, nos remetem ao estagiário
data, traz mudanças, transformações e evolu-
que problematiza uma demanda para a insti-
ções psíquicas.
tuição na qual está inserido. Conforme Carva-
lho (2006), a maneira como o analista irá po- Passados os primeiros encontros, vai aconte-
sicionar-se diante do sofrimento do paciente cendo uma apropriação desse lugar; e a vi-
direciona suas intervenções, interpretações e vência atual, então, consegue ser percebida
construções no setting analítico. de forma diferente. Neste estudo, evidenci-
ou-se não só a identificação do tripé psicana-
Adames e Angeli (2017) fazem referência à in-
lítico durante as intervenções, como, tam-
serção e à prática da psicanálise nas universi-
bém, sua importância no decurso de toda a
dades como sendo uma possibilidade de cons-
experiência do estágio, podendo isso ser per-
truir um espaço de escuta do sujeito do in-
cebido em diferentes verbalizações que apon-
consciente. Nesse sentido, os estágios não se
tam como principal elemento a supervisão.
destinam à conclusão do processo de forma-
ção, entretanto podem permitir o início de Os elementos da psicanálise: inconsciente,
estudos e o interesse pela prática psicanalíti- pulsão, resistência, repetição e transferência
ca. foram identificados dos pelas entrevistadas.
No entanto não se deu uma evidência de arti-
Aduzimos a essas ideias, a importância de
culação entre os conceitos e a prática. É im-
identificar as diferentes posições que o esta-
portante ressaltar que este estudo não objeti-
giário, em seu estágio profissional, ocupa.
vou dar conta da densidade dos conceitos psi-
Afinal, ocupar o lugar de psicoterapeuta é
canalíticos, mas minimamente compreender a
uma tarefa inerente a esse momento de for-
forma como estes aparecem ao longo do pro-
mação, que independe do desejo de ser tera-
cesso de descoberta do lugar de psicoterapeu-
peuta no futuro, mas que, todavia, compre-
ta. A experiência adquirida com o passar do
ende certa clareza a respeito daquilo que
tempo, a implicação e as condições do tera-
pertence a esse lugar.
peuta são apontadas como aspectos facilita-
dores para ocupar o lugar de psicoterapeuta.
Considerações finais Já o desgaste emocional, atribuído a fatores
pessoais e institucionais, foi considerado as-
Ao longo do estudo, buscamos compreender pecto dificultador que, ao invadir o setting
como estagiários de psicologia, em seu está- terapêutico, viabiliza certa transgressão, uma
gio profissional, vivenciam o lugar de psicote- vez que o estagiário estaria deixando que
rapeuta ao realizar intervenções clínicas. O questões relativas à sua subjetividade emer-
momento do estágio profissional, na maioria jam durante o atendimento.
das vezes, corresponde ao primeiro ensaio
prático para ocupar esse lugar. Descrevemos, Algumas peculiaridades estiveram presentes
com tal perspectiva, como as vivências são ao longo da elaboração deste trabalho. Os es-
percebidas, procuramos identificar a utiliza- tudos encontrados sobre a construção do lu-
ção do tripé psicanalítico e de elementos da gar de psicoterapeuta, especificamente no
psicanálise durante as intervenções e ainda período de estágio profissional, apontavam ou
compreender quais aspectos facilitam e difi- para um primeiro contato do estagiário com
cultam ocupar o lugar de psicoterapeuta sua prática ou para vivências específicas do
psicoterapeuta. Conjugar essa construção e
Ao descrever sua vivência enquanto psicote- ainda abarcar os principais elementos da psi-
rapeuta, as estagiárias de psicologia relatam canálise em um só estudo foi um desafio,
toda a intensidade que acompanha esse mo- principalmente pelo fato de uma das pesqui-
mento. A vivência inicial é expressa com bas- sadoras ser também um sujeito participante
http://quadernsdepsicologia.cat
De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 143
desta construção, pois ocupa o lugar de esta- sias presentes no atendimento e na supervisão.
giária-psicoterapeuta. Ademais, falar em psi- Psicologia: Teoria e Prática, 2(1), 03-31.
canálise, no âmbito do serviço-escola, faz Aguirre, Ana Maria de Barros; Herzberg, Eliana;
emergir consigo singularidades, pois não se Pinto, Elisabeth Batista; Becker, Elisabeth; Car-
trata de uma formação em psicanálise propri- mo, Helena Moreira e Silva & Santiago, Mary Do-
amente dita, porquanto se dá na universidade lores Ewerton (2000). A formação da atitude clí-
e sob a diretrizes de um curso de graduação. nica no estagiário de psicologia. Psicologia USP,
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Rosane Zétola Lustoza e Nadja Nara Barbosa 65642000000100004
Pinheiro (2014) asseveram, contudo, que a
Araújo, Loiva. N. P. de & Boaz, Cristiane (2013).
universidade pode oferecer espaço para os es-
Sentimentos sobre as primeiras práticas do esta-
tudantes, para uma abertura, no sentido de giário na clínica. Revista Psicologia em Foco,
um reconhecimento inicial da psicanálise, que 5(6), 40-47.
lhes permitiria um posterior engajamento
num percurso psicanalítico efetivo. Barbosa, Fernanda Doretto; Laurenti, Maria Apare-
cida & Silva, Miguel Mello (2013). Significados do
Assim, este estudo oportunizou a escuta das estágio em psicologia clínica: percepções do alu-
estagiárias de psicologia naquilo que vivenci- no. Encontro: Revista de Psicologia, 16(25), 31-
am no período intermediário e final do está- 53.
gio profissional e no quanto já sentem presen- Bardin, Laurence (1977). Análise de conteúdo. Lis-
tes, nesse momento, em sua prática, o tripé boa: Edições, 70.
psicanalítico e outros elementos da psicanáli-
Belei, Renata Aparecida; Gimeniz-Paschoal, Sandra
se durante a realização de suas intervenções Regina; Nascimento, Edinalva Neves & Matsumo-
clínicas. Da forma como os aspectos destaca- to, Patrícia Helena Vivan Ribeiro (2008). O uso
dos como integrantes de uma formação em de entrevista, observação e videogravação em
psicanálise são recorrentes nas falas das par- pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação,
ticipantes, identificamos que, mesmo no es- 17(30), 187-199.
tágio, a possibilidade de passagem à condição Braga, Ana Aparecida Nascimento Martinelli (1998).
de psicoterapeuta vai tornando-se possível e O tempo em análise !!!. Psicologia Ciência e Pro-
firmando-se à medida que a experiência fissão, 18(3), 42-47.
avança com o decorrer do tempo. Além disso,
Brandt, Juan Adolfo (2017). Supervisão em grupo
foi possível perceber o estágio como um im-
da prática clínica psicanalítica: algumas refle-
portante espaço de aprendizagem relativo à xões. Vínculo, 14(1), 1-10.
psicanálise que, quem sabe, tem aí seu início
para uma posterior consolidação. Broza, Ana Claudia Daher; Ortolan, Maria Lúcia
Mantovanelli; Sei, Maíra Bonafé e Victrio, Kawa-
Os resultados, contudo, não podem ser gene- ne Chudis (2017). Plantão psicológico a partir de
ralizados, sendo produto da subjetividade das uma escuta psicanalítica. Semina: Ciências Soci-
entrevistadas. No entanto servem como dispa- ais e Humanas, 38(2), 147-158.
rador de questionamentos para novas pesqui- https://doi.org/10.5433/1679-
sas. As falas das participantes indicaram uma 0383.2017v38n2p147
grande riqueza de significados em que inúme- Carvalho, Ana Cecília (2006). O ofício do psicana-
ras análises seriam possíveis. Portanto, em lista. Percurso. Revista de Psicanálise, 1(37), 17-
virtude da complexidade envolvida na cons- 26.
trução do lugar do psicoterapeuta, percebe-se Carvalho, Helena Moura de & Matos, Paula Mena
a necessidade de maiores investigações sobre (2011). Ser e tornar-se Psicoterapeuta parte I:
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DIRECCIÓN DE CONTACTO
janaschmitzlopes@gmail.com; rosana@pro-tecno.com
FORMATO DE CITACIÓN
Lopes, Janaína Da Silva Schmitz & Castro, Rosana Cecchini De (2018).De estagiário à psicoterapeuta:
sobre a descoberta de um novo lugar. Quaderns de Psicologia, 20(2), 129-146.
http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1444
HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 14-01-2018
1ª Revisión: 24-04-2018
Aceptado: 28-06-2018
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