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Quaderns de Psicologia | 2018, Vol.

20, No 2, 129-146 ISNN: 0211-3481

 https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1444

De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo


lugar
From intern to psychotherapist: about the discovery of a new place

Janaína Da Silva Schmitz Lopes


Rosana Cecchini De Castro
Universidade de vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

Resumo
O presente artigo surge a partir de dificuldades, descobertas e reflexões acerca da prática
clínica como estagiária de psicologia. Trata-se de um estudo qualitativo de natureza explo-
ratória, sustentado teoricamente a partir da psicanálise e teve como objetivo principal
compreender como os estagiários de psicologia vivenciam o lugar de psicoterapeutas ao rea-
lizar intervenções clínicas. Participaram da pesquisa seis estagiárias de psicologia. O méto-
do utilizado para análise de dados foi a análise de conteúdo. Os resultados apontam que o
lugar de psicoterapeuta é acompanhado de diferentes sentimentos e construções subjetivas
sobre a apropriação desse lugar. Identificaram-se a utilização do tripé psicanalítico (super-
visão de casos clínicos, tratamento pessoal e seminários teóricos) e de outros elementos da
psicanálise durante as intervenções. A experiência vivenciada com a prática, ao longo do
tempo, e a supervisão foram consideradas importantes para o estagiário, enquanto que o
desgaste emocional e a infraestrutura do serviço-escola relacionam-se a aspectos que difi-
cultaram a ocupação do lugar de psicoterapeutas.
Palavras-chave: Psicoterapeuta; Prática clínica; Estagiários de Psicologia; Psicanálise

Abstract
This paper emerges from challenges, discoveries and reflections about the clinical practice
throughout my psychology internship. It presents an exploratory qualitative study support-
ed by psychoanalytic theory, and focuses on understanding how the Psychology interns ex-
perience the psychotherapists' place during clinical interventions. Six interns of the second
and third semesters participated on the survey. The methodology used was the content
analysis. The results show the psychotherapists' place comes with different feelings and
subjective constructions about the appropriation of this place. It was identified the use of
the psychoanalytic tripod (supervision of clinical cases, personal treatment and theoretical
seminars) and others elements of the psychoanalysis during the interventions. Experience
with practice over time and supervision are considered key aspects to the intern mean-
while emotional distress and local infrastructure are related to difficult aspects to occupy
the psychotherapist's place.
Keywords: Psychotherapist; Clinical practice; Psychology interns; Psychoanalysis
130 Lopes, Janaína Da Silva Schmitz & Castro, Rosana Cecchini De

Introdução no ocupar um espaço de experimentação es-


colhido por ele ao longo de três semestres le-
As primeiras vivências do estagiário como psi- tivos consecutivos, os três últimos semestres
coterapeuta são marcadas por diferentes de- do curso. Neste estudo, o local de pesquisa
safios. No início, o estudante depara-se com o foi Projeto de Atenção Ampliada à Saúde
não saber e com a necessidade de descoberta (PAAS).
do próprio jeito de ser terapeuta (Machado,
2010). O presente estudo aborda a experiên- O PAAS é o serviço-escola interdisciplinar na
cia do lugar de psicoterapeuta de estagiários área da saúde da UNISINOS que atua sem fins
de psicologia durante seu estágio profissional, lucrativos desde 1996. É integrado por estagi-
período em que o aprendizado para tornar-se ários, técnicos e professores dos cursos de en-
psicoterapeuta é um dos seus principais desa- fermagem, nutrição, psicologia e fisioterapia
fios. (Castro, Ruschel & Rivero, 2015a). Como ob-
jetivos, destacam-se a promoção e o desen-
A partir de dificuldades, descobertas e refle- volvimento de práticas em saúde para a popu-
xões acerca do início da prática clínica, sur- lação vulnerável e de risco social de São Leo-
gem alguns questionamentos: que lugar é este poldo-RS, assim como a oferta de atendimen-
que o psicólogo, na condição de psicoterapeu- to ambulatorial à comunidade e as parcerias
ta, deve ocupar? Quais elementos participam com a rede de saúde, educação e assistência
dessa construção? E, ainda, de que forma essa social (Castro et al., 2015b).
vivência acontece?
Após inscrição, nesse ambiente, os interessa-
Quando se fala do lugar do psicoterapeuta, dos participam do grupo de acolhimento para
estamos referindo-nos a uma atitude clínica que suas demandas possam ser escutadas e
subjetiva, a uma postura que deve ser assu- compreendidas para encaminhamento (Ho-
mida pelo estagiário perante o paciente. E es- ffmeister, Luft, Deconto & Arnhold, 2015).
sa atitude é desempenhada de forma seme- Entre as possibilidades de atendimento nas di-
lhante à posição que o analista ocupa, que, ferentes áreas (enfermagem, nutrição, psico-
segundo Eustáchio Portella Nunes (1983, p. logia e intervenções interdisciplinares), de
60) “é a de objeto das projeções transferen- forma individual ou coletiva, está a psicote-
ciais, já que sua tarefa é tornar consciente o rapia individual, que é uma das práticas que o
inconsciente”. Por este motivo, neste traba- estagiário de psicologia tem a oportunidade
lho, usamos termos como analista, psicotera- de vivenciar no serviço.
peuta e terapeuta de forma alternada, por
considerar que nos referimos a um lugar sub- No PAAS, a experimentação do lugar de psico-
jetivo a ser ocupado. O principal objetivo é terapeuta pode acontecer a partir de diferen-
compreender como os estagiários de psicolo- tes supervisões teóricas, como a teoria cogni-
gia, em seu estágio profissional, realizado nos tivo-comportamental, analítico-institucional
três últimos semestres do curso de psicologia, ou psicanálise. Neste estudo, a teoria psica-
vivenciam o lugar de psicoterapeutas na prá- nalítica é o referencial norteador e o territó-
tica clínica. rio de descoberta escolhido para a prática
clínica dos estagiários-alvos da pesquisa.
A profissão de psicólogo vem desenvolvendo
práticas e saberes que, ao longo dos anos, Por meio de um estudo qualitativo com esta-
modificaram-se para dar conta de novas de- giárias do segundo e do terceiro semestres do
mandas (Neto, Oliveira & Souza, 2017). O cur- estágio profissional em psicologia, ancorados
so de psicologia da Universidade do Vale do na abordagem psicanalítica, buscamos identi-
Rio dos Sinos (UNISINOS) tem a duração de ficar como vivenciam a descoberta desse novo
cinco anos e seu objetivo geral, de acordo lugar. A escolha pela teoria psicanalítica deu-
com a Proposta de Revisão Curricular e Proje- se em função de esta ser a teoria que orienta
to Político Pedagógico (Universidade do Vale as intervenções psicoterapêuticas individuais
do Rio dos Sinos, 2009) da UNISINOS, é formar realizadas e supervisionadas no serviço-escola
psicólogos capazes de atuar em diferentes com as quais nos identificamos.
campos profissionais e preparados para os de-
safios das transformações contemporâneas.
O estágio curricular profissional é uma ativi-
dade obrigatória única que possibilita ao alu-

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Teoria psicanalítica e o lugar do psicanálise e psicoterapia psicanalítica torna-


psicoterapeuta ram-se menos rigorosos (Zimerman, 2005).
A psicanálise, para Sigmund Freud Segundo Milena da Rosa Silva, Letícia Gaspa-
(1914/1996), é uma tentativa de explicar a retto e Paula von Mengden Campezatto
transferência e a resistência. Ele reconhece (2015), a discussão acerca do que difere ou
que esse é o ponto de partida para o trabalho assemelha-se entre a prática em psicanálise e
analítico. Regina Schnaiderman (1988), por a psicoterapia psicanalítica é complexa e de
sua vez, afirma que a psicanálise não se reduz difícil conclusão. Para as autoras, algumas ve-
a uma teoria que trabalha com o inconscien- zes, a distinção entre ambas as práticas pare-
te, e sim que representa a atividade que faz ce basear-se em critérios institucionais ou de
falar a pessoa. No âmbito da prática clínica, mercado. Para Michael H. Stone (2005), a psi-
sustenta as intervenções e tem a função de coterapia é considerada um tipo especial de
“nutrir e proteger as reservas de mente” ne- interação terapeuta e paciente, que utiliza
cessárias à posição do analista (Figueiredo, como instrumento a palavra falada.
2008, p. 39).
Segundo Carolina Stopinski Padoan, Marina
Os primeiros contatos de um jovem terapeuta Bento Gastaud e Cláudio Laks Eizirick (2013,
com a prática e o seu desejo de manejar a p. 54):
transferência de forma assertiva, a partir da- A duração da psicoterapia e sua capacidade de
quilo que vivencia contratransferencialmente, tratar são importantes aspectos da técnica que
são acompanhados por muitos desafios. Ocu- devem ser constantemente revisados e ampliados
par este lugar de analista, segundo Juan- para que possam se aplicar ao tempo contempo-
râneo e à demanda atual de pacientes. Espera-se
David Nasio (1999), implica um deslocamento que a dupla terapêutica seja capaz de transfor-
psíquico, uma mudança nas estruturas subje- mar fantasias de adoecimento e cura em planos
tivas necessária para a acolhida do inconsci- para combater o adoecimento e buscar a cura.
ente do outro, pois o analista só pode ouvir e
Sob tal conjuntura, terapeuta e paciente de-
perceber o inconsciente se já fizer parte de- vem compor a experiência terapêutica a par-
le. tir das mesmas ideias de causalidade e cura,
Ainda segundo Nasio (1999, p. 128): de forma que os conflitos passados e atuais
possam ser trabalhados a fim de que o sujeito
O analista só está verdadeiramente disponível pa-
ra a escuta, isto é, o analista só consegue verda- possa, de forma autônoma, modificar o seu
deiramente transformar os derivados inconscien- percurso de vida (Dimenstein, 2000). E, nesse
tes do seu paciente em uma interpretação ou em contexto, a transferência tem a tarefa de
uma percepção alucinada com a condição de dei-
tornar consciente o inconsciente, pois, segun-
xar, abandonar, separar-se do seu Eu, de fazer
calar em si as ambiguidades, os enganos e erros do Nunes (1983), o papel do analista é facili-
do discurso intermediário, para abrir-se enfim à tar o aparecimento da verdade, desse modo,
cadeia das palavras verdadeiras. permitindo que o paciente possa ser mais li-
Sustentar a posição de analista requer uma vre.
capacidade de insistir e suportar um processo O lugar que o analista ocupa no contexto de
de tratamento, visto que sua primeira tarefa tratamento é amplamente discutido. Confor-
é a de suportar e sobreviver ao impacto das me Nunes (1983), Freud defende que a figura
respostas transferenciais e identificações pro- real do analista não deve aparecer. O distan-
jetivas (Figueiredo, 2008). Portanto, a desco- ciamento técnico é favorecedor do tratamen-
berta desse lugar demanda, do estagiário, um to, porquanto, figura real, o analista pode le-
enorme exercício, pois, ao mesmo tempo, var o paciente à imitação ou oposição, impe-
precisa dar conta da proposta de formação da dindo-o de “chegar a ser o que é”.
sua universidade e apropriar-se dos elementos
fundamentais da teoria escolhida para a prá- Por sua vez, Zimerman (2005) compreende
tica em psicoterapia. que a pessoa real do analista influencia no
crescimento mental do analisando. Esse autor
A psicanálise existe há mais de um século e, aduz que a maneira de codificar o material do
ao longo desse tempo, passou e continua pas- paciente tem que ver com algo da constitui-
sando por alterações. Desde o surgimento da ção do próprio psiquismo do profissional. De-
psicanálise contemporânea, os limites entre fende que atributos fundamentais dessa pes-
soa real, como a continência, a boa capacida-

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de de escuta, as atitudes internas e externas, ção de vivências interiores, e a capacidade de


conter as ansiedades e de preservar os limites da
a empatia, o respeito, a sensibilidade, a dis-
própria identidade no contato com o outro. Para
sociação temporária do ego, entre outros, re- empatizar com o cliente é necessário poder colo-
presentam o estilo pessoal de cada um comu- car-se no lugar deste, sem, porém, confundir-se
nicar-se com o paciente. com ele.

A escuta psicanalítica é fundamental, pois é a Assim, para que o estagiário, psicoterapeuta


partir de um conjunto de pressupostos que in- em formação, consiga dar conta desse lugar,
cluem o entendimento do inconsciente, da necessita de supervisão como um meio de sus-
transferência, da pulsão, da resistência e da tentação para a prática (Neto et al., 2017).
repetição que as possiblidades e os limites da Na história da psicanálise, o papel da supervi-
prática clínica se fundamentam. Esses ele- são é fundamental. Clifton Edward Watkins
mentos não foram eleitos de forma aleatória Jr. (2010) refere que, aparentemente, os psi-
neste estudo, mas, sim, por estarem presen- canalistas foram os primeiros praticantes.
tes em qualquer tipo de abordagem psicanalí- Menciona, inclusive, que construções como a
tica e por se apresentarem como essenciais a aliança de trabalho, utilizada por muitas
partir da obra freudiana. Em A História do perspectivas teóricas, devem sua origem à in-
movimento psicanalítico, Freud (1914/1996) fluência psicanalítica.
apresenta os fundamentos nos quais acredita Maíra Bonafé Sei e Maria Lucia de Souza Cam-
que a psicanálise se desenvolve e, ao longo pos Paiva (2011) afirmam que o supervisor
desta escrita, situa-nos em suas descobertas deve trabalhar tanto com os aspectos teórico-
que estão articuladas a esses elementos. práticos da aprendizagem quanto com os con-
A psicanálise sustenta-se a partir de uma ex- flitos e as angústias provocados nos alunos pe-
periência em que alguns fundamentos são la experiência clínica. Para Silva (2003, citado
inegociáveis (Silva, 2012). A autora alerta que por Débora Cipriani et al., 2015), a supervisão
suas fronteiras não são passíveis de delimita- auxilia no desenvolvimento de habilidades de
ções, pois se misturam; no entanto, são ine- trabalho para que cada psicólogo encontre
rentes à prática psicanalítica. sua forma de agir e, por conseguinte, possa
tratar o paciente. A tarefa do supervisor, se-
Atitude clínica gundo Sei e Paiva (2011), é complexa, pois
precisa abarcar a densidade dos casos clínicos
Freud (1912/2010) aponta para certa atitude que se apresentam no serviço-escola, ques-
clínica frente aos pacientes, descrevendo re- tões de ordem emocional, social e didáticas,
comendações sobre a prática capazes de ori- além de apreender os sentimentos que per-
entar o trabalho analítico. O autor disserta meiam o estagiário e nomeá-los.
sobre a escuta, que deve ser desproposital,
flutuante, para que possibilite ao terapeuta O tratamento pessoal constitui-se na segunda
escutar sem precisar notar algo específico. base necessária para o trabalho prático em
Também, considera correto passar de uma psicoterapia. Segundo Giselda Faes Kichler e
atividade psíquica a outra sem especulações. Fernanda Barcelos Serralta (2014), em sua
Acredita que os afetos devem ser deixados de pesquisa a respeito das percepções dos uni-
lado, e ainda, que o próprio inconsciente de- versitários de psicologia sobre o tratamento
ve estar voltado para o inconsciente do paci- pessoal, a psicoterapia pessoal é considerada
ente, sem seleções ou censuras. Recomenda essencial para a formação, dessa forma, con-
certa dose de tolerância e opacidade, de for- tribuindo para o autoconhecimento e aprendi-
ma que apenas reflita o que é mostrado. zagem a partir da experiência. As autoras
apontam que os estudantes buscam tratamen-
Segundo Ana Maria de Barros Aguirre et al. to por meio das demandas e expectativas vi-
(2000, p. 54): venciadas durante os estágios.
Atitude clínica é uma experiência subjetiva que é
objetivada na relação com o cliente. É, portanto,
Em um estudo realizado por Clara E. Hill et
a representante de um fenômeno interno com- al. (2015) sobre o treinamento em psicotera-
plexo, na medida em que muitas variáveis con- pia de 23 formandos pré-doutorais da Univer-
correm para sua produção: o conhecimento teóri- sidade de Maryland, num período entre 12 e
co, as experiências pessoais, as diversas identifi-
cações, as fantasias sobre o papel do psicólogo,
42 meses, de seu externado em uma clínica
as possibilidades de experimentação e investiga- de psicoterapia psicodinâmica/interpessoal,

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foi constatado que, no decurso do tempo, os Participantes


estagiários aumentaram a capacidade de es-
As características dos sujeitos participantes
tabelecimento da aliança de trabalho e rela-
deste estudo são apresentadas no Tabela 1.
cionamento real, bem como a capacidade de
Eram seis alunas do curso de psicologia da
usar habilidades de ajuda. Da mesma forma,
UNISINOS, do estágio profissional, com idades
verificou-se a ampliação sobre o gerencia-
entre vinte três e quarenta anos. Elas compu-
mento da contratransferência e a compreen-
nham a totalidade de estagiários do estágio
são sobre si mesmos e como ser um terapeu-
profissional em psicologia do PAAS, frequen-
ta. O estudo teórico é a terceira base neces-
tando o segundo e terceiro semestres do es-
sária para a prática em psicanálise, compre-
tágio na época da pesquisa e cujos casos indi-
endendo ele a própria teoria como objeto ou
viduais que atendiam eram supervisionados
estudando a metapsicologia como uma ferra-
pela abordagem psicanalítica. Com relação à
menta que pode ser utilizada na escuta clíni-
experiência prévia, apenas duas já haviam se
ca.
colocado no lugar de psicoterapeuta anteri-
Flávio Carvalho Ferraz (2014) e Juan Adolfo ormente à experiência de estágio profissional.
Brandt (2017) abordam o tripé psicanalítico, Os critérios de inclusão foram: estar sendo
que afirma se tratar de um campo de conhe- supervisionado pelo viés da psicanálise e estar
cimentos que propõe os seus próprios elemen- no período intermediário e final do estágio.
tos perante uma visão do homem que lhe é Os períodos intermediário e final foram esco-
própria, a partir do reconhecimento do sujei- lhidos respectivamente por entendermos que
to do inconsciente. A abordagem destes con- os estagiários que se encontram cursando o
ceitos é de essencial importância para o de- primeiro semestre estão iniciando a prática,
senvolvimento da prática clínica e para ocu- portanto, não possuindo, ainda, a vivência
par o lugar de psicoterapeuta. necessária para os fins deste estudo.

Instrumento
Percurso metodológico
O instrumento utilizado foi a entrevista semi-
Trata-se de uma pesquisa qualitativa e de na- estruturada, técnica que permite ao pesqui-
tureza exploratória. Este estudo foi realizado sador eleger as questões sobre o tema para
no PAAS, que atualmente trabalha com cerca que o entrevistado fale de forma livre sobre
de 40 alunos estagiários de psicologia, distri- os assuntos que surgem a partir do desenvol-
buídos entre as três supervisões teóricas que vimento da temática proposta (Gerhardt &
atuam no serviço. As supervisões acontecem Silveira, 2009). Foram elaboradas seis ques-
em grupo e a cada novo semestre o grupo tões norteadoras, estruturadas a partir de seis
modifica-se com o ingresso e a saída de mem- categorias escolhidas a priori: 1. Descreva sua
bros. O grupo possibilita um olhar mais atento vivência inicial como estagiário psicoterapeu-
e potente no tocante ao processo de ensino- ta; 2. Descreva sua vivência atual como psico-
aprendizagem, amplia as discussões e possibi- terapeuta; 3. O tripé da psicanálise: supervi-
lita a criação de um espaço acolhedor para o são, tratamento pessoal e seminários teóricos
processo de construção do psicoterapeuta têm exercido que tipo de importância para
(Cipriani et al., 2015). você ocupar o lugar de psicoterapeuta ao rea-

Experiência anterior como


Participante Idade Sexo Período do estágio
psicoterapeuta
E1 23 F Intermediário Não
E2 25 F Final Não
E3 24 F Intermediário Não
E4 40 F Intermediário Não
E5 24 F Intermediário Sim
E6 27 F Final Sim

Tabela 1. Dados das estagiárias entrevistadas

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lizar intervenções clínicas?; 4. A psicanálise que essa possibilidade havia sido previamente
trabalha com o inconsciente, a transferência, combinada com o estagiário entrevistado,
a pulsão, a resistência e a repetição. Fale bem como este fora informado dos objetivos
desses elementos em sua prática como psico- do estudo e tinha recebido o termo de con-
terapeuta ao realizar intervenções clínicas; 5. sentimento livre e esclarecido para assinar.
Quais são os aspectos que considera facilita-
Os dados foram agrupados por categorias de-
dores para ocupar o lugar de psicoterapeuta?
finidas, a priori, a partir das questões nortea-
e 6. Quais são os aspectos que considera que
doras elaboradas. As categorias escolhidas fo-
dificultam ocupar o lugar de psicoterapeuta?
ram: Vivência inicial; Vivência atual; Tripé
psicanalítico; Elementos da psicanálise; As-
Procedimentos éticos e de análise de pectos facilitadores e Aspectos dificultadores,
dados que deram origem às questões formuladas nas
perguntas da entrevista semiestruturada.
Primeiramente, foram observadas as normas
preconizadas pela Comissão Nacional de Ética Os recortes dos relatos das participantes fo-
em Pesquisas em Seres Humanos e obedecidas ram categorizados e encaminhados a duas juí-
as normas de biossegurança e sigilo ético. Os zas independentes, psicólogas com conheci-
participantes foram informados sobre os obje- mento do tema em estudo que, para, Renata
tivos do estudo e receberam o termo de con- Aparecida Belei, Sandra Regina Gimeniz-
sentimento livre e esclarecido para assinar. Paschoal, Edinalva Neves Nascimento e Patrí-
Também obtivemos do serviço a assinatura da cia Helena Vivan Ribeiro Matsumoto (2008),
carta de anuência para a realização do estu- servem para verificar a fidedignidade das ca-
do. O projeto para a realização deste traba- tegorizações escolhidas e assegurar maior ri-
lho foi encaminhado ao Comitê de Ética da gor à apresentação dos resultados. Estes são
Universidade, tendo sido aprovado de acordo considerados aceitáveis quando a concordân-
com a Resolução 64/2016, de 13 de junho de cia entre a classificação do pesquisador e dos
2016. Num segundo momento, as entrevistas juízes apresente um índice de pelo menos 70%
foram realizadas no PAAS; e os participantes de concordância (Fagundes, 1999). De acordo
receberam a garantia de acesso aos resulta- com a avaliação das juízas, 77,28% dos relatos
dos do estudo após sua conclusão, caso tives- corresponderam à categoria em questão, sen-
sem interesse. Este estudo respeita a resolu- do que as discordâncias apontadas foram em
ção do Conselho Nacional de Saúde (2013) e maior número nas categorias Vivência inicial e
do Conselho de Psicologia, conforme Resolu- Vivência atual do estagiário psicoterapeuta.
ção 466/12.
As entrevistas foram realizadas de forma indi- Resultados e discussão
vidual, com duração aproximada de cinquenta As categorias de análise foram elaboradas a
minutos, sendo gravadas e, posteriormente, priori; na continuidade deste trabalho, são
transcritas. Deram origem a um material ex- expostas as categorias e subcategorias origi-
tenso e as respostas foram analisadas pela nadas a partir do conteúdo das falas das en-
análise de conteúdo de Laurence Bardin trevistadas, sendo os resultados apresentados
(1977), que compreende um conjunto de téc- com suas respectivas análises.
nicas de análise das comunicações em que as
significações de um emissor para um receptor
Categoria 1: Vivência inicial
podem ser decifradas. Para respeitar o sigilo,
os sujeitos foram representados pela letra "E" A primeira categoria descreve os momentos
e numeração sequencial. iniciais da vivência das estagiárias como psi-
coterapeutas. Observamos que essa experiên-
Inicialmente, foi aplicada uma entrevista pi-
cia desencadeia uma sequência de importan-
loto, com um estagiário não previsto como
tes construções subjetivas que acompanham
participante do estudo, para verificar a ade-
todo o período de estágio profissional.
quação e o entendimento sobre as questões
com relação aos objetivos propostos. Como a Esta categoria deu origem a três subcategori-
entrevista piloto não indicou nenhuma refor- as que indicam elementos que circunscrevem
mulação no questionário organizado, optamos a vivência no lugar de psicoterapeuta. O novo
pela inclusão dos dados da entrevista, visto lugar, ao qual se candidatam, promove mu-

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danças, transformações e evoluções psíquicas. 1996). Dessa forma, ao perceber-se frente à


Sueli Hisada (2002) e Donald Winnicott consi- necessidade de ocupar o lugar de psicotera-
deram a mudança psíquica desejável, equiva- peutas, entendemos que as entrevistadas ma-
lente ao crescimento emocional, que, no en- nifestaram um sofrer pelo desconhecimento
tanto, vem acompanhada de angústias de se- acerca daquilo que compõe esse lugar, viven-
paração e perda frente a novas situações. ciando um momento de crise que, posterior-
mente, possibilita um deslocamento em dire-
Leon Grinberg e Rebeca Grinberg (1971, p.
ção à descoberta deste lugar. Para Renata
118) inferem:
Lisboa Machado (2010), a angústia pode ser
A mudança implica uma incursão no desconheci- transformada no encontro com o supervisor,
do, implica comprometer-se com fatos futuros que auxilia na motivação e na construção do
que não são previsíveis, e afrontar suas conse-
quências. Provoca sentimentos de ansiedade e trabalho terapêutico. Isso corrobora nossas
depressão e tendência a ater-se ao conhecido e percepções frente à importância conferida
familiar e sucumbir à compulsão à repetição para pelas participantes à supervisão.
evitar o novo. O temor é a perda da identidade.
Fernanda Doretto Barbosa, Maria Aparecida
Portanto, o momento do estágio profissional Laurenti e Miguel Mello Silva (2013) referem
pode ser considerado um período de transi- que a angústia do aluno como psicoterapeuta
ção, em que ser estagiário em atendimentos é enfrentada por meio do mecanismo de ne-
clínicos é fator importante e constitutivo da gação, que distorce o alcance do trabalho clí-
identidade profissional (Gabriades, 2008). Os nico, desconsiderando a complexidade do so-
primeiros atendimentos promovem um desa- frimento psíquico com o qual vai deparar-se
comodar, que ora se apresenta como desafio, em sua prática. Nos relatos do Entrevistada Nº
ora como exigência, em um momento repleto 1 e Entrevistada Nº 3, a vivência inicial desse
de incertezas perante a singularidade do en- lugar parece conter insegurança, ansiedade,
contro com o paciente (Araújo & Boaz, 2013). angústia e um não saber que corresponde ao
As primeiras experiências clínicas são consi- que está sendo construído ao longo de seus
deradas especiais para o estagiário e as prin- processos de aprendizagem.
cipais dúvidas relacionam-se ao próprio de- Me dava uma angústia porque eu não queria dei-
sempenho em suas atividades práticas (Aguir- xar meu paciente na mão. Eu queria que fosse
re, 2000). Ana Maria de Barros Aguirre (2000) uma coisa legal para ele, que eu pudesse ajudar
de fato, que não fosse que eu tô ali só para
considera, ainda, que a ansiedade é uma con- aprender, sabe (Entrevistada Nº 1, entrevista pes-
dição inerente ao processo e surge em dife- soal, agosto de 2016)1.
rentes momentos do percurso, todavia exige
Eu lembro que no início eu ficava pensando, as-
discussão e esclarecimentos. A ansiedade po- sim, como é que ia ser de eu estar sozinha com
de ser entendida como uma expectativa dian- uma pessoa dentro da sala. […] Me sentia muito
te de novas descobertas. Bruna Adames e ansiosa, assim, e me segurando, assim, para não
Gustavo Angeli (2017) destacam que a psica- falar, sabe? Muito ansiosa e tentando ficar ouvin-
do mais do que falar. (Entrevistada Nº 3, entre-
nálise nos ensina sobre a singularidade dos vista pessoal, agosto de 2016)
processos transferenciais, assim, cada estagi-
ário, no lugar de psicoterapeuta, junto de seu Para Loiva. N. P. de Araújo e Cristiane Boaz
paciente, experimentará uma vivência exclu- (2013, p. 42):
siva. As primeiras práticas na clínica podem trazer à
tona sentimentos e sensações experimentadas pe-
Subcategoria 1.1: Angústia envolvida los estagiários, frente ao início da necessidade de
concretizar o embasamento teórico na prática,
Chama-nos atenção que o sentimento mais que se contextualizará mediante o estar frente a
frente com o paciente, na condição de psicólogo
presente na vivência inicial é a angústia, que, em formação. As primeiras práticas, de certa
segundo Freud (1926/1997), pode ser enten- forma, convidam o estagiário então a um desa-
dida como um estado afetivo, um desprazer comodar-se frente ao novo e, a partir desse mo-
que sinaliza ao ego, a partir de uma imagem mento, este atuará tentando percorrer o campo
da subjetividade de seu paciente como forma de
mental revivida, uma situação de perigo, re- construção da prática de seu saber.
lacionada, em um primeiro momento, à perda
de objeto.
A angústia pode referir-se também a uma 1 As entrevistadas foram enumerada visando preservar o
condição de sofrimento do sujeito (Hanns, anonimato.

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Em entrevistada Nº 1, pudemos identificar lação às interpretações, às associações livres


uma preocupação com o conhecimento ou e ao uso do recalcado. Enfatiza, no entanto,
com a falta dele. Mas o que devemos de fato que as maiores dificuldades se encontram no
saber ao ocupar o lugar de psicoterapeutas? manejo da transferência.
Para Rita Helena Cuce Nobre Gabriades Com esta senhora não sei muito por que, mas se
(2008), o estagiário-psicoterapeuta, ao per- estabeleceu uma transferência bem legal, logo de
ceber-se sozinho com o paciente, depara-se início assim, já com a criança tive um pouco mais
com o medo e o vazio de não saber o que fa- de dificuldade diante do processo terapêutico,
porque era uma criança bem regressiva, que não
zer e coloca suas habilidades e competências falava muito e acho que isso também, contra-
em dúvida. transferencialmente pra mim era difícil. (Entre-
vistada Nº 1, entrevista pessoal, agosto de 2016)
O estudante descobre que ele próprio consti-
tui seu instrumento de trabalho, cujas princi- Meu primeiro paciente, […] se deu uma transfe-
rência erótica, […]. Acho que esta foi minha pri-
pais ferramentas são a escuta, a continência meira experiência, superforte e que me colocou
e a acolhida. Talvez, esta seja uma possível num lugar de muita ética e de muito profissiona-
resposta para a questão lançada anteriormen- lismo ou eu me constituía uma terapeuta ou nada
te. O paciente participa desta descoberta e aconteceria. (Entrevistada Nº 6, entrevista pesso-
al, agosto de 2016)
contribui para que o estagiário consiga ocupar
o lugar de psicoterapeuta. Beatriz S. Fernan- Neville Symington (2012) afirma que alguns
des (2016) afirma que muito aprendemos com pacientes, no início de seus tratamentos, tes-
nossos pacientes, pois nos ensinam a suportar tam seus analistas a fim de confirmar se é
a dor de uma espera e acompanham-nos pelos possível confiar-lhes seu verdadeiro self. O
caminhos da psicoterapia. que, segundo o autor, oportuniza que o pró-
Minha primeira experiência foi um caso de passa- prio analista avalie se está preparado para
gem, foi meio angustiante, porque eu não sabia uma busca mais desafiadora. Assim, o estagiá-
muito bem o que fazer. (Entrevistada Nº 1, entre- rio psicoterapeuta vai apropriando-se das en-
vista pessoal, agosto de 2016) grenagens que possibilitam o deslocamento e
a construção de seu lugar.
Subcategoria 1.2: Transferência - desafio da
prática clínica Bruna Adames e Gustavo Angeli (2017) reite-
ram que, de acordo com a psicanálise, apren-
Esta subcategoria contempla a complexidade demos que os laços transferenciais são exclu-
de lidar com os manejos transferenciais e po- sivos, construídos de modo singular. O modo
de ser considerada um desafio para o estagiá- de lidar ou falar com um paciente ou o lugar
rio que inicia a prática em psicoterapia, con- que o usuário coloca o profissional não será
forme a fala de Entrevistada Nº1. Já Entrevis- igual para todos os indivíduos, sendo que de-
tada Nº 6 descreve a transferência erótica terminada intervenção pode funcionar com
que foi estabelecida no início de sua vivência alguns e, com outros, ser um fracasso.
como psicoterapeuta. A transferência diz res-
peito ao investimento libidinal que o paciente Subcategoria 1.3: Estratégias de intervenção
lança ao terapeuta, de modo que irá reviver e experimentação
na relação com o analista os modelos das
imagos parentais (Freud, 1912/1997). Esta subcategoria desvela estratégias criadas
durante a vivência inicial para experimentar o
Conforme Camila Gomes da Silva (2015, p. lugar de psicoterapeuta. Quando o estagiário
20): recebe seus primeiros casos para atendimen-
A transferência erótica consiste no direcionamen- to, precisa de certo tempo para apropriar-se
to de afetos amorosos e eróticos à figura do tera- das demandas e para o planejamento de suas
peuta. De um lado, caracteriza-se como positiva,
ações. Nesse momento, então, inicia sua tra-
em virtude dos afetos amorosos. Do outro, po-
rém, qualifica-se também como negativa, pois jetória e a construção de um determinado
torna-se um obstáculo que ameaça a continuida- modo de postar-se diante do paciente, o que
de do tratamento. Não se trata, portanto, de um Ana Maria de Barros Aguirre et al. (2000)
outro “tipo” de transferência, mas sim de um fe-
chamam de atitude clínica. São diferentes
nômeno que transita entre aquilo que Freud iden-
tifica como positivo ou negativo. tentativas e estratégias que cada aluno de-
senvolve, conforme suas características e que
Freud (1915/1997) alerta para as dificuldades vão dando contorno ao seu modo de ser tera-
que assustam o psicanalista iniciante com re- peuta.

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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 137

A busca pelo próprio jeito de ser terapeuta Mena Matos (2011), acontece ao longo da vida
pode iniciar com a leitura de prontuários, e da prática clínica e atualiza-se a partir da
com um maior número de entrevistas com compreensão do outro. A curiosidade e a dis-
familiares e escolas ou ainda aproximações ponibilidade sobre a singularidade humana
com rede de assistência do município, como são responsáveis por dar movimento à dinâ-
podemos perceber nos relatos: mica e inacabada experiência de descoberta
Eu li todo o prontuário dele, não consegui enxer-
do lugar de psicoterapeuta.
gar o que estava sendo feito. Não consegui, tipo,
A apropriação do lugar de psicoterapeuta po-
dar uma sequência para aquilo. […] eu chamei
mãe, chamei pai, chamei tia, chamei vó e fui pra de ser contemplada a partir das falas de En-
escola… fiz tudo. Porque eu precisava entender trevistada Nº 1 e Entrevistada Nº 6, que se
da história. E chamei mais de uma vez. E a medi- percebem mais seguras em suas intervenções.
da que eu fui chamando, foi acontecendo. (En-
A contratransferência aparece como elemento
trevistada Nº 2, entrevista pessoal, agosto de
2016) importante dessa vivência, como nos aponta a
fala de Entrevistada Nº 5.
No início, eu escrevia, minha postura era mais ou
menos igual a tua, sentada, com um papel e eu Segura. Antes eu me sentia totalmente insegura,
escrevia e não podia! Mas eu morria de medo de sem saber o que fazer. Com a sensação de não
esquecer, porque eu tinha que levar pra supervi- estar fazendo nada, medo de machucar, de não
sora pra aí a gente conversar. E eu escrevi até o saber. […] Hoje eu sei mais o que tô fazendo. […]
dia que ele chegou com um caderno e sentou as- o meu olhar tá muito pra isso, porque eu também
sim na minha frente e eu me vi nele! Daí eu parei entrei muito pra dentro da rede. Então eu olhei
de escrever… (risos)… daí eu nunca mais escrevi pra outros casos também, que eu acompanho.
nada! (Entrevistada Nº 1, entrevista pessoal, (Entrevistada Nº 2, entrevista pessoal, agosto de
agosto de 2016) 2016)
Eu acho que hoje eu já posso me considerar uma
Categoria 2: Vivência atual psicoterapeuta! Acho que toda a insegurança que
eu falei que experimentei e vivi no início, se
A segunda categoria corresponde à descrição transformou no pensamento de que sim, eu me
da vivência de um semestre letivo das estagi- tornei uma psicoterapeuta a partir das experiên-
árias no novo lugar; e origina uma subcatego- cias que eu vivi. Não tem como comparar o jeito
que eu entrei com o jeito que eu saio. (Entrevis-
ria marcada por novos elementos que partici- tada Nº 6, entrevista pessoal, agosto de 2016)
pam da vivência das entrevistadas no lugar de
psicoterapeuta. Então, eu acho que o que tá diferente hoje, tam-
bém, é poder ver o processo que eu passei, em
Os momentos iniciais destacam-se pelo pri- dado momento tu pega o que é a contratransfe-
rência, o que é o problema da pessoa e daí tu
meiro encontro com a prática clínica e por começa a fazer as intervenções e a pessoa come-
inúmeras descobertas, que, a partir de então, ça a andar. […]. Também, me sinto muito mais
abrem espaço para uma experiência, acom- tranquila, mais segura, sabendo lidar com o que
panhada por maior segurança nas interven- vem na contratransferência, […] Acho que isso é o
que ficou pra mim, assim, que eu vou levar como
ções. Este segundo momento, portanto, pos- essência do trabalho psicoterapêutico. (Entrevis-
sibilita aprofundar-se e ir adiante a partir de tada Nº 5, entrevista pessoal, agosto de 2016)
uma base já constituída desse lugar.
A contratransferência é um instrumento para
Myrna Pia Favilli (2013, p. 29) afirma: a compreensão da dinâmica do paciente (Val-
Cada analista deve procurar, dentro do si mesmo, verde & Pasqualini, 2014). Porém arriscamos
qual força motora o leva a desencadear, dentro inferir que, para o estagiário-psicoterapeuta,
de si, o desvelamento dos mistérios humanos. A também funciona como ferramenta para que
clínica se inicia assim, da antiguidade interna,
mesmo que suas molduras sejam obscurecidas por
ele possa apropriar-se do seu lugar. A contra-
aquilo que chamamos vida profissional. A forma- transferência refere-se a um modo de deixar-
ção se inicia no primeiro momento de um encon- se colocar diante do outro (Figueiredo, 2008).
tro especial para cada um. Algo antigo sempre es- E parece-nos que essa é a essência que emer-
tá nas fímbrias da revelação.
ge a partir da contratransferência nesta cate-
goria, pois o cultivo desta disposição subjeti-
Subcategoria 2.1: Apropriação do lugar de va é um aspecto-chave para sustentar o lugar
psicoterapeuta de psicoterapeuta.
Esta subcategoria permite-nos discorrer sobre
o processo de tornar-se psicoterapeuta, que,
segundo Helena Moura de Carvalho e Paula

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Categoria 3: Tripé psicanalítico - vivi a doença da minha mãe, né. Então isso foi al-
go que mexeu comigo, né, enquanto terapeuta e
supervisão, tratamento pessoal e seminários
que da mesma forma precisei levar pra supervi-
teóricos são, também falei disso na minha terapia, porque
acaba que a gente relaciona a experiência do
As estagiárias-psicoterapeutas identificam a nosso paciente com aquilo que a gente já viveu.
supervisão, os seminários e o tratamento pes- (Entrevistada Nº 6, entrevista pessoal, agosto de
soal como essenciais. Esta categoria originou 2016)
uma subcategoria. A relação com a teoria foi Acho que isso foi bem importante, e acho que a
trazida para além dos seminários teóricos do psicoterapia foi algo que me ajudou a ocupar este
serviço escola, sendo que houve articulação lugar. Acho que a supervisão acadêmica, tam-
bém, assim, me convidando pra ocupar este lu-
com as atividades acadêmicas. O crescimento
gar, assim, acho que foi bem importante. (Entre-
pessoal foi apontado como experiência signi- vistada Nº 5, entrevista pessoal, agosto de 2016)
ficativa para o lugar de psicoterapeuta. A su-
pervisão aparece como um dos mais impor- A supervisão é o ponto de maior relevância
tantes elementos, percebida como um espaço para uma “passagem” de estudante a analista
acolhedor e capaz de traduzir aquilo que as (Brant, 2017). No entanto o autor questiona a
mobiliza na relação terapêutica. Esse dado efetividade de uma supervisão de casos em
reforça o parecer de Ricardo Goldenberg e psicanálise em um contexto universitário,
Ernesto Duvidovich (2007) sobre a supervisão quando comparado aos âmbitos de formação
na clínica psicanalítica, em que assevera que em psicanálise. De todas as formas, destaca
o supervisor é colocado em posição de onisci- que a oportunidade da supervisão constitui-se
ência e onipotência, pois se espera que deci- em um espaço no qual o supervisor, junto ao
fre os enigmas existentes nos materiais apre- supervisionando, pode aportar reflexões e
sentados. orientações que lhe permitam aprimorar o uso
do método e das técnicas psicanalíticas, assim
O desamparo do psicoterapeuta iniciante é como conhecer melhor sobre a transferência
carregado de incertezas e angústias próprias de seu paciente e analisar sua própria contra-
desse momento e sua busca é por um saber transferência.
que represente aprovação, reconhecimento e
autorização. Assim, deposita no supervisor a Subcategoria 3.1: Efeitos da escuta e a
tarefa de definir o certo e o errado, o que, necessidade de uma atitude clínica
para Ernesto Duvidovich (2007), é uma tarefa
equivocada, embora possível em parte do Esta subcategoria apresenta o quanto os con-
processo. Conforme Eliana Rodrigues Pereira teúdos densos, trazidos pelos pacientes, se-
Mendes (2012), a supervisão é um processo guidos da inexperiência presente neste mo-
com momentos de elaboração e confronto, é mento de formação, mobilizam as estagiárias.
um dispositivo articulador entre o saber e o Letícia Tavares Neves (2007) afirma que a es-
não saber e estabelece uma ponte entre a ex- cuta analítica se constitui a partir das esco-
periência clínica e o estudo teórico. lhas e afinidades do analista e ocorre em num
campo intersubjetivo, entre as subjetividades
Mônica Medeiros Kother Macedo e Carolina da dupla analista-analisando. A capacidade de
Newmann de Barros Falcão (2005, p. 72) afir- escuta, portanto, compõe algo essencial do
mam que: trabalho psicoterapêutico, sendo a palavra a
A teoria psicanalítica não pode ocupar o lugar da via de acesso aos conteúdos inconscientes que
história de vida do paciente. Os fantasmas do habitam o outro (Esteves & Laguárdia, 2010;
analista não podem ensurdecê-lo no encontro Perrone & Moraes, 2014).
com o paciente. Desta forma, o famoso tripé –
formação teórica, atividade de supervisionar-se e Ocupar o lugar de psicoterapeuta requer das
análise pessoal – constitui os recursos na qualifi-
cação do processo de escutar o outro.
estagiárias uma permanente construção de si
mesmas. A escuta analítica inicia com o im-
A supervisão e o tratamento pessoal apare- pacto de narrativas carregadas de eventos vi-
cem com mais frequência nas falas, como po- olentos e de pesada carga emocional, que
demos observar nas falas seguintes entrevis- inauguram as primeiras tentativas de distin-
tadas: ção entre o Eu sujeito e o Eu terapeuta. Tare-
Lembrei de uma paciente adolescente que traz fa esta exaustiva e desafiadora nesse momen-
muito um sofrimento em função da doença da to de formação e descobertas.
mãe e lembro que um tempo antes eu também

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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 139

Os efeitos da escuta terapêutica podem ser Neste estudo, observamos que as participan-
observados nas falas de: tes sinalizaram a existência desses elementos.
A questão da violência bate forte, porque eu en-
Contudo mostraram-se divergentes em suas
quanto mulher ouvir que uma pessoa, indepen- percepções com relação à presença deles em
dente do gênero, masculino ou feminino, mas tu sua prática.
ter que escutar de uma violência é violento. Me
lembro muito que este foi um caso que eu levei A fala das entrevistada aponta para a impor-
bastante pra supervisão. Porque mexe com a gen- tância dos elementos, porém denuncia a difi-
te, mobiliza. (Entrevistada Nº 6, entrevista pes-
culdade de identificá-los durante os primeiros
soal, agosto de 2016)
ensaios no lugar de psicoterapeuta:
Eu não vejo assim, a gente atuar sem ter este tri-
pé, principalmente na psicanálise, que não é uma Acho que são conceitos muito válidos que a gente
coisa dada, né. […] ‘Ler’ estas metáforas. Da on- precisa se apropriar. (Entrevistada Nº 6, entrevis-
de que elas tiram isso? Mas o quanto que a gente ta pessoal, agosto de 2016)
vai conseguindo ter uma dimensão maior, seja de
um desenho, seja da brincadeira, conforme a Jay R. Greenberg e Stephen Mitchell (2003)
gente vai lendo e falando em supervisão. (Entre- apontam que o objeto da psicanálise é aquilo
vistada Nº 4, entrevista pessoal, agosto de 2016) que é alvo da pulsão. Freud (1915/1997) afir-
Ao escutar, o analista deve voltar o seu in- ma que a pulsão é o que atua entre o somáti-
consciente para o inconsciente do paciente, co e o psíquico, cuja meta é a satisfação: tra-
para os ditos e não ditos, entendendo que há ta-se do objeto libidinal. A pulsão na cena
algo além do que foi dito para ser escutado clínica aponta para as relações objetais, o
(Broza, Ortolan, Sei & Victrio, 2017). Alcimeri que, conforme a fala da Entrevistada Nº 1,
Kühl Amaral Veiga Prata e Elisa Maria de não costuma ser percebido ao ocupar o lugar
Ulhôa Cintra (2017), por sua vez, reforçam de psicoterapeuta.
que o analista, ao escutar o outro, acolhe sua Já Entrevistada Nº 5 percebe que esse ele-
angústia, seus sofrimento e desespero e que mento aparece de forma intensa em sua prá-
se encontra em posição de ampará-lo e guiá- tica, indicando que, nos primeiros contatos
lo pelo seu desamparo, acreditando nas po- com a prática, a pulsão somente é identifica-
tencialidades do sujeito do inconsciente. As- da mediante as atuações oriundas dos aten-
sim, a escuta psicanalítica possibilita que a dimentos de pacientes que apresentam pato-
dor seja transformada em experiência, sendo logias mais graves (Figueiredo, 2008).
esta uma atitude clínica que permite a elabo-
A pulsão para mim, não é muito, muito clara, não
ração da experiência emocional. é uma coisa que eu trabalho tão direto, assim.
(Entrevistada Nº 1, entrevista pessoal, agosto de
Categoria 4: Elementos da psicanálise: 2016)
inconsciente, transferência, pulsão, Vou utilizar alguns exemplos de casos para ficar
resistência e repetição mais fácil. Tem um paciente em específico que
me desafia muito e que ele é pulsão pura. Ele co-
A quarta categoria refere-se ao inconsciente, loca no corpo e em mim, toda esta energia psí-
à transferência, à pulsão, à resistência e à quica que não encontra lugar. Eu acho que isso se
articula a transferência, porque inconsciente-
repetição, que representam o edifício teórico
mente eu sou a mãe dele. É bem difícil suportar
da técnica a partir das leituras freudianas. De toda esta culpa, raiva e agressividade que o
acordo com Ana Cecília Carvalho (2006), esses atendimento me coloca. Foi um desafio pra mim.
elementos são fundamentais para a prática Ele tentava me tirar deste lugar de terapeuta e
eu tinha que voltar. (Entrevistada Nº 5, entrevista
psicanalítica e possibilitam transitar entre as
pessoal, agosto de 2016)
dimensões técnica e ética deste lugar.
A contratransferência aparece nesta catego-
Segundo a mesma autora (2006), os distanci- ria, segundo nossa avaliação, como um sexto
amentos e as aproximações destes elementos elemento, ou seja, um elemento diferente
na prática clínica devem ser atentamente ob- daqueles inicialmente pesquisados, mas um
servados. Nossos objetivos, a partir desta ca- importante componente das vivências das es-
tegoria, envolvem a identificação da presença tagiárias ao ocupar o lugar de psicoterapeu-
do inconsciente, da transferência, da pulsão, tas. Acreditamos que compreender os efeitos
da resistência e da repetição durante as in- contratransferenciais auxilia de forma signifi-
tervenções das estagiárias ao ocupar o lugar cativa o aluno na descoberta do lugar de te-
de psicoterapeutas. rapeuta.

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Os efeitos daquilo que é projetado são senti- de todos esses componentes integrados possa
dos a partir das manifestações no analista. O ter sido uma tarefa demasiadamente difícil e
sono aparece, de acordo com a participante, que justifique que apenas pulsão e resistên-
durante determinado atendimento: cia, nos pacientes, tenham sido identificadas
Bom, na contratransferência, como te falei antes,
durante as intervenções do estagiário no lugar
eu sentia muito sono, que foi… nossa! Muito pre- de psicoterapeuta.
sente, eu consegui entender na pele! A questão
da resistência, em uma outra paciente, aonde se Categoria 5: Aspectos facilitadores
percebe a dificuldade de adesão do tratamento,
as faltas, os não desmarcar. Isto fala muito desta As entrevistadas descreveram como principais
resistência. (Entrevistada Nº 2, entrevista pesso-
al, agosto de 2016)
aspectos facilitadores aqueles ligados ao pas-
sar do tempo, a características pessoais e ao
Zimerman, (2010, p. 350) refere: tripé psicanalítico. O tempo para a psicanáli-
O fenômeno contratransferencial resulta das se é importante. Ana Aparecida Nascimento
identificações projetivas oriundas do analisando, Martinelli Braga (1998) assinala que ele versa
que provocam no analista um estado de uma con- não apenas sobre o tempo do tratamento e de
tra-identificação projetiva, conforme uma con-
tudo que o envolve, mas também sobre o
ceituação de Grinberg (1963). Para esse autor, os
conflitos particulares do analista não são os que tempo do inconsciente de cada um, visto que
determinam a contratransferência; o que sim- é a linguagem do inconsciente, enquanto
plesmente acontece é que ele fica impregnado atemporal, que está em jogo numa análise.
com as cargas maciças das identificações projeti-
Dessa forma, arriscamo-nos a inferir que te-
vas do paciente e fica sendo dirigido, passiva-
mente, a sentir e a executar determinados pa- rapeuta e paciente descobrem juntos seus
péis. tempos, cada um com sua singularidade e
questões, mas que, de alguma forma, dividem
A resistência, de acordo com a Entrevistada
o mesmo setting terapêutico.
Nº 2, é representada através das faltas e dos
atrasos de sua paciente, que podem estar, se- O tempo no qual se desenrola o estágio é o
gundo Joseph Sandler, Christopher Dare e momento em que se inauguram os primeiros
Alex Holder (1986), atuando como forças do ensaios técnicos para que o aluno possa seguir
paciente em oposição ao tratamento. No en- rumo à experiência de ser psicólogo. Dessa
tanto esse elemento pode ser pensado tam- forma, a experiência vivenciada com a prática
bém a partir da relação transferencial, e a ao longo do tempo é trazida como aspecto fa-
ausência desta associação pode sinalizar uma cilitador na fala da participante:
fragilidade técnica instalada nesse momento Acho que a experiência, acho que isso te dá uma
da formação. tranquilidade. Acho que quando tu chega no es-
tágio, vem com uma angústia e com uma fantasia
Percebemos que a complexidade desses ele- muito grande assim, do que é e do que não é. […]
mentos dificulta a associação direta com a E até tu entrar nesta posição, entender como ela
prática clínica, durante o estágio profissional, funciona é acho que talvez uma das coisas mais
angustiantes. Então acho que experiência e tem-
refletindo, possivelmente, a própria resistên-
po de estágio auxiliam neste processo. (Entrevis-
cia das estagiárias como psicoterapeutas. tada Nº 1, entrevista pessoal, agosto de 2016)
Brant (2017), ao referir-se sobre a supervisão
da prática clínica psicanalítica, formula algu- A supervisão e o conhecimento teórico, con-
mas reflexões a respeito da resistência, a par- forme a fala da entrevistada, são também
tir da retomada das discussões realizadas por considerados aspectos facilitadores. O que
Freud ao longo de toda a sua obra. Em seu nos leva a inferir que o estagiário passa, aos
resgate, assinala que a resistência está sem- poucos, a preservar o espaço analítico, dei-
pre presente em algum grau nos momentos de xando de ocupá-lo com aspectos envolvidos
supervisão. na construção do lugar de psicoterapeuta. Pa-
ra Patrick Casement (1986), o analista visa ser
Complementando, Brant (2017, p. 7) aduz que o servo do paciente; não o seu senhor.
“entrar em contato com o reconhecimento de
Supervisão… em primeiro lugar! Sou uma pessoa
que foi a contratransferência que levou ao que eu escolhi este lugar, porque eu sabia que
que poderia ser visto como ‘erro’ técnico, aqui eu teria uma supervisão, né… eu acho que
pode constituir forte ameaça ao reconheci- isso é fundamental. Os seminários teóricos, não
mento de si mesmo como profissional da Psi- só aqui, mas as leituras da faculdade, todo co-
nhecimento teórico de qualquer lugar (Entrevis-
canálise”. Somado a isso, refletir a respeito tada Nº 4, entrevista pessoal, agosto de 2016).

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De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 141

Alguns aspectos pessoais como a implicação, o gio correspondem a aspectos dificultadores.


empenho e a vontade são apontados como fa- Ocupar o lugar de psicoterapeuta, então, sig-
cilitadores nas falas de Entrevistada Nº 5. A nifica dispor de tempo e dedicação para que
noção de implicação está o todo tempo sendo seja possível a construção desse lugar. Parece
construída, constantemente, sendo dinamiza- importante eliminar da mente os conteúdos
da, desse modo, ocupando um lugar de desta- do terapeuta. O trabalho do analista apoia-se
que na caminhada de cada um (Nascimento & sobre o seu inconsciente e sua posição em re-
Coimbra, 2008). Para as autoras, colocar em lação aos conflitos dos pacientes, conquanto
análise o lugar que ocupamos é uma forma de não exclua seus desejos (Petry, 2008).
pensar que considera sentimentos, ações e O que dificulta assim, é que ser psicoterapeuta
percepções. exige dedicação. A gente trabalha, a gente tem
as disciplinas e uma família. Então ser psicotera-
Estar inteiro é outro aspecto apontado pela peuta também tem um preço. […] É difícil equili-
Entrevistada Nº 3 e que entendemos que des- brar tudo isso, encontrar um espaço pra ti. Ser
vela uma condição que envolve tanto o dire- psicoterapeuta exige um custo que demanda mui-
to. (Entrevistada Nº 5, entrevista pessoal, agosto
cionamento dos conteúdos do analista quanto
de 2016)
suprir suas necessidades básicas. O tratamen-
to pessoal, então, assume um pouco a respon- Acho que uma dificuldade também é a questão da
carga horária. Tu tem que cumprir esta carga ho-
sabilidade de sustentar esse aspecto. Os estu- rária e tem diferentes atividades dentro do servi-
dos de Kischler e Serralta (2014) reconhecem ço. (Entrevistada Nº 4, entrevista pessoal, agosto
os limites e as possibilidades frente às de- de 2016)
mandas, resolver questões pessoais e autoco-
Pensamos na possibilidade de as preocupa-
nhecimento são considerados alguns dos moti-
ções referentes às necessidades pessoais e a
vos importantes para a realização da psicote-
cumprir a carga horária, ao invadir o setting
rapia individual. terapêutico, tenham alguma relação com a
Cecília Rodrigues Medeiros e Rui Aragão Oli- transgressão, pois o estagiário estaria deixan-
veira (2012) fazem referência a Oliveira et al. do questões relativas à sua subjetividade
(2009/2010), em pesquisa a respeito das vi- emergirem durante o atendimento. As trans-
vências de pacientes em tratamentos psicana- gressões são uma categoria distinta do com-
líticos, e destacam que eles valorizam as in- portamento profissional, secretas e acompa-
tervenções de seus psicoterapeutas e as nhadas de culpa, pois, conscientemente, o
transformações decorrentes do processo, des- analista descompromete-se do processo tera-
se modo, evidenciando a evolução ocorrida; pêutico para satisfazer uma necessidade pes-
sendo que, segundo os autores, alguns pacien- soal (Slochower, 2010).
tes mencionam mudanças no plano intrapsí-
Aspectos relativos às condições do prédio e
quico, no plano relacional e na conflitiva com
dos materiais também aparecem como difi-
o outro. Além disso, parece haver um incre-
cultadores para ocupar o lugar de psicotera-
mento dos recursos conscientes, o que viabili-
peuta. Entendemos que tais dificuldades pos-
za, entre outros aspectos, a expressão das
sam influenciar os atendimentos, visto que o
transformações experimentadas. ambiente, conforme a fala da entrevistada,
Entrevistada Nº 3, entrevista pessoal, agosto de algumas vezes, apresenta-se insalubre.
2016: E a outra questão é procurar estar inteiro,
assim… procurar descansar, se alimentar bem an- A condição física do prédio, acho que isso a gente
tes de atender. Eu já atendi, assim, algumas ve- também tem que levar em conta, porque às vezes
zes, com fome, não foi legal. Tentar assim, se tu tá numa sala, que pode ser considerada insalu-
manter o mais tranquilo possível, né. bre, […] Acho que neste sentido são as maiores
dificuldades e pra mim ocupar este lugar de esta-
giário. (Entrevistada Nº 6, entrevista pessoal,
Categoria 6: Aspectos dificultadores agosto de 2016)
O desgaste emocional e os aspectos instituci- A maioria das entrevistas aponta aspectos ex-
onais são apontados como dificultadores para ternos como dificultadores; processos inter-
ocupar o lugar de psicoterapeuta. Ao anali- nos e de aprendizagem não são explorados
sarmos o conteúdo das falas de Entrevistada nesta categoria. Estariam todos os dificulta-
Nº 5 e Entrevistada Nº 4, percebemos que dar dores fora das terapeutas? Talvez, esta ques-
conta de diferentes “lugares” e tarefas e, tão necessite de mais estudos para ser melhor
ainda, cumprir as exigências do local do está- compreendida e respondida, mas, a partir de-

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la, apontamos a hipótese de que os lugares de tante conteúdo, por longas falas, o que pode
estagiário e de psicoterapeuta possam estar ser percebido a partir dos desdobramentos
sobrepostos, por conseguinte, causando certa desta categoria. Inferimos que isso sugere o
confusão. impacto do início da prática clínica. Esse
momento é percebido a partir de sentimentos
A fala de Entrevistada Nº 4, talvez, indique o
de angústia e ansiedade, em que o estagiário
desejo de ocupar um lugar maior do que
se depara com os desafios da prática e, dessa
aquele possível no próprio estágio, enquanto
forma, lança mão de estratégias para delimi-
que a Entrevistada Nº 5 e a Entrevistada Nº 6,
tar esse lugar. O novo lugar, ao qual se candi-
entrevista pessoal, nos remetem ao estagiário
data, traz mudanças, transformações e evolu-
que problematiza uma demanda para a insti-
ções psíquicas.
tuição na qual está inserido. Conforme Carva-
lho (2006), a maneira como o analista irá po- Passados os primeiros encontros, vai aconte-
sicionar-se diante do sofrimento do paciente cendo uma apropriação desse lugar; e a vi-
direciona suas intervenções, interpretações e vência atual, então, consegue ser percebida
construções no setting analítico. de forma diferente. Neste estudo, evidenci-
ou-se não só a identificação do tripé psicana-
Adames e Angeli (2017) fazem referência à in-
lítico durante as intervenções, como, tam-
serção e à prática da psicanálise nas universi-
bém, sua importância no decurso de toda a
dades como sendo uma possibilidade de cons-
experiência do estágio, podendo isso ser per-
truir um espaço de escuta do sujeito do in-
cebido em diferentes verbalizações que apon-
consciente. Nesse sentido, os estágios não se
tam como principal elemento a supervisão.
destinam à conclusão do processo de forma-
ção, entretanto podem permitir o início de Os elementos da psicanálise: inconsciente,
estudos e o interesse pela prática psicanalíti- pulsão, resistência, repetição e transferência
ca. foram identificados dos pelas entrevistadas.
No entanto não se deu uma evidência de arti-
Aduzimos a essas ideias, a importância de
culação entre os conceitos e a prática. É im-
identificar as diferentes posições que o esta-
portante ressaltar que este estudo não objeti-
giário, em seu estágio profissional, ocupa.
vou dar conta da densidade dos conceitos psi-
Afinal, ocupar o lugar de psicoterapeuta é
canalíticos, mas minimamente compreender a
uma tarefa inerente a esse momento de for-
forma como estes aparecem ao longo do pro-
mação, que independe do desejo de ser tera-
cesso de descoberta do lugar de psicoterapeu-
peuta no futuro, mas que, todavia, compre-
ta. A experiência adquirida com o passar do
ende certa clareza a respeito daquilo que
tempo, a implicação e as condições do tera-
pertence a esse lugar.
peuta são apontadas como aspectos facilita-
dores para ocupar o lugar de psicoterapeuta.
Considerações finais Já o desgaste emocional, atribuído a fatores
pessoais e institucionais, foi considerado as-
Ao longo do estudo, buscamos compreender pecto dificultador que, ao invadir o setting
como estagiários de psicologia, em seu está- terapêutico, viabiliza certa transgressão, uma
gio profissional, vivenciam o lugar de psicote- vez que o estagiário estaria deixando que
rapeuta ao realizar intervenções clínicas. O questões relativas à sua subjetividade emer-
momento do estágio profissional, na maioria jam durante o atendimento.
das vezes, corresponde ao primeiro ensaio
prático para ocupar esse lugar. Descrevemos, Algumas peculiaridades estiveram presentes
com tal perspectiva, como as vivências são ao longo da elaboração deste trabalho. Os es-
percebidas, procuramos identificar a utiliza- tudos encontrados sobre a construção do lu-
ção do tripé psicanalítico e de elementos da gar de psicoterapeuta, especificamente no
psicanálise durante as intervenções e ainda período de estágio profissional, apontavam ou
compreender quais aspectos facilitam e difi- para um primeiro contato do estagiário com
cultam ocupar o lugar de psicoterapeuta sua prática ou para vivências específicas do
psicoterapeuta. Conjugar essa construção e
Ao descrever sua vivência enquanto psicote- ainda abarcar os principais elementos da psi-
rapeuta, as estagiárias de psicologia relatam canálise em um só estudo foi um desafio,
toda a intensidade que acompanha esse mo- principalmente pelo fato de uma das pesqui-
mento. A vivência inicial é expressa com bas- sadoras ser também um sujeito participante

http://quadernsdepsicologia.cat
De estagiário à psicoterapeuta: sobre a descoberta de um novo lugar 143

desta construção, pois ocupa o lugar de esta- sias presentes no atendimento e na supervisão.
giária-psicoterapeuta. Ademais, falar em psi- Psicologia: Teoria e Prática, 2(1), 03-31.
canálise, no âmbito do serviço-escola, faz Aguirre, Ana Maria de Barros; Herzberg, Eliana;
emergir consigo singularidades, pois não se Pinto, Elisabeth Batista; Becker, Elisabeth; Car-
trata de uma formação em psicanálise propri- mo, Helena Moreira e Silva & Santiago, Mary Do-
amente dita, porquanto se dá na universidade lores Ewerton (2000). A formação da atitude clí-
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Pinheiro (2014) asseveram, contudo, que a
Araújo, Loiva. N. P. de & Boaz, Cristiane (2013).
universidade pode oferecer espaço para os es-
Sentimentos sobre as primeiras práticas do esta-
tudantes, para uma abertura, no sentido de giário na clínica. Revista Psicologia em Foco,
um reconhecimento inicial da psicanálise, que 5(6), 40-47.
lhes permitiria um posterior engajamento
num percurso psicanalítico efetivo. Barbosa, Fernanda Doretto; Laurenti, Maria Apare-
cida & Silva, Miguel Mello (2013). Significados do
Assim, este estudo oportunizou a escuta das estágio em psicologia clínica: percepções do alu-
estagiárias de psicologia naquilo que vivenci- no. Encontro: Revista de Psicologia, 16(25), 31-
am no período intermediário e final do está- 53.
gio profissional e no quanto já sentem presen- Bardin, Laurence (1977). Análise de conteúdo. Lis-
tes, nesse momento, em sua prática, o tripé boa: Edições, 70.
psicanalítico e outros elementos da psicanáli-
Belei, Renata Aparecida; Gimeniz-Paschoal, Sandra
se durante a realização de suas intervenções Regina; Nascimento, Edinalva Neves & Matsumo-
clínicas. Da forma como os aspectos destaca- to, Patrícia Helena Vivan Ribeiro (2008). O uso
dos como integrantes de uma formação em de entrevista, observação e videogravação em
psicanálise são recorrentes nas falas das par- pesquisa qualitativa. Cadernos de Educação,
ticipantes, identificamos que, mesmo no es- 17(30), 187-199.
tágio, a possibilidade de passagem à condição Braga, Ana Aparecida Nascimento Martinelli (1998).
de psicoterapeuta vai tornando-se possível e O tempo em análise !!!. Psicologia Ciência e Pro-
firmando-se à medida que a experiência fissão, 18(3), 42-47.
avança com o decorrer do tempo. Além disso,
Brandt, Juan Adolfo (2017). Supervisão em grupo
foi possível perceber o estágio como um im-
da prática clínica psicanalítica: algumas refle-
portante espaço de aprendizagem relativo à xões. Vínculo, 14(1), 1-10.
psicanálise que, quem sabe, tem aí seu início
para uma posterior consolidação. Broza, Ana Claudia Daher; Ortolan, Maria Lúcia
Mantovanelli; Sei, Maíra Bonafé e Victrio, Kawa-
Os resultados, contudo, não podem ser gene- ne Chudis (2017). Plantão psicológico a partir de
ralizados, sendo produto da subjetividade das uma escuta psicanalítica. Semina: Ciências Soci-
entrevistadas. No entanto servem como dispa- ais e Humanas, 38(2), 147-158.
rador de questionamentos para novas pesqui- https://doi.org/10.5433/1679-
sas. As falas das participantes indicaram uma 0383.2017v38n2p147
grande riqueza de significados em que inúme- Carvalho, Ana Cecília (2006). O ofício do psicana-
ras análises seriam possíveis. Portanto, em lista. Percurso. Revista de Psicanálise, 1(37), 17-
virtude da complexidade envolvida na cons- 26.
trução do lugar do psicoterapeuta, percebe-se Carvalho, Helena Moura de & Matos, Paula Mena
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JANAÍNA DA SILVA SCHMITZ LOPES


Psicóloga Clínica

ROSANA CECCHINI DE CASTRO


Psicóloga, Doutora em Psicologia Saúde e Família - Universidad de Deusto-Espanha, Coordenadora do
Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e supervisora de Estágio Pro-
fissional.

DIRECCIÓN DE CONTACTO
janaschmitzlopes@gmail.com; rosana@pro-tecno.com

FORMATO DE CITACIÓN
Lopes, Janaína Da Silva Schmitz & Castro, Rosana Cecchini De (2018).De estagiário à psicoterapeuta:
sobre a descoberta de um novo lugar. Quaderns de Psicologia, 20(2), 129-146.
http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1444

HISTORIA EDITORIAL
Recibido: 14-01-2018
1ª Revisión: 24-04-2018
Aceptado: 28-06-2018

http://quadernsdepsicologia.cat

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