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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivos realizar uma breve retrospectiva histórica da
educação em Moçambique, compreender como tem sido conduzida a disciplina de Ética no
Ensino Superior em Rovuma - Extensão de Cabo Delgado (Moçambique) e; compreender
quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos professores para conduzir a referida
disciplina no Ensino Superior. Os autores usados para fundamentar o trabalho são Basílio,
Gonçalves, Assane, Machel, Uaciquete. Para a coleta de dados, realiza-se uma pesquisa
qualitativa e aplica-se um questionário com os professores do Curso de Filosofia na
Universidade de Rovuma. Os resultados preliminares mostram que o Curso de Filosofia
evoluiu ao introduzir uma carga horária considerável da disciplina “Ética” no Ensino
Superior; percebe que há mudanças nas posturas e atitudes dos alunos após a
participação na disciplina “Ética”; ressalta a necessidade da realização de vínculo entre as
experiências do povo moçambicano e as questões teóricas apresentadas em sala de aula.
Propõe a necessidade da realização de mais estudos na área “Ética” visando compreender
se os valores iniciais propostos pela FRELIMO se mantém “vivos” na universidade. Sugere
que haja mais parcerias existente entre o grupo de pesquisa HISTEDBR (Brasil) e a
Universidade Rovuma Extensão de Cabo Delgado – Moçambique, objetiva sanar os
problemas que os docentes do Ensino Superior enfrentam em Moçambique.
Palavras chave: educação em Moçambique, crise ética em Moçambique, capitalismo.
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Porém, para conseguir formar este “homem novo”, a Frelimo acabou por iniciar seu
trabalho de libertação nas comunidades rurais, passou a ideia de “socialização do
campo, instituindo as aldeias comunais” (GONÇALVES, p. 1660), na qual “tudo era de
todos”, visou a construção de uma sociedade socialista. Além disso, passaram a
questionar as “antigas” autoridades presentes nas áreas rurais, trouxe a ideia de que a
sociedade existente até então estava desorganizada e precisava se adaptar aos novos
ideais propostos.
Assim, no lugar do “poder tradicional foi implementado o poder popular (...). O líder
tradicional foi substituído pelo secretário do bairro e/ou pelos administradores”
(GONÇALVES, p. 1661), portanto, os valores éticos estabelecidos nas aldeias
exercidos até então pelos líderes tradicionais são substituídos pelo poder instituído pela
Frente. Para alcançar seu projeto, na realização das primeiras eleições para
deputados, a Frente proibiu os líderes tradicionais de se candidatarem e, além disso,
integrantes do partido os humilhavam, gerando uma crise de valores éticos na
sociedade moçambicana. Esta imposição da Frente, diante das lideranças tradicionais,
gerou problemas éticos tanto nas sociedades rurais quanto nas áreas urbanas, pois a
população ficou sem “referenciais” para os conduzir.
Segundo o referido partido, a educação era a solução do problema estabelecido até o
momento; ela deveria romper com as desordens estabelecidas pela sociedade
tradicional (que visava a coerção social), bem como combater com a mentalidade
burguesa colonial existente no país.
Num discurso proferido na 2ª Conferência do Departamento de Educação e Cultura
(DEC), Machel (1973, p.12) afirma que a educação deveria preparar os moçambicanos
para assumirem a nova sociedade e as suas exigências:
Pela primeira vez na nossa história há crianças, há jovens, que crescem fora do
colonialismo, fora das tradições dogmáticas. Há uma geração, a primeira, que se
forma ao calor da revolução. É esta geração que nos próximos anos será
chamada a prosseguir a tarefa que iniciamos. Eles são o viveiro donde sairá a
planta selecionada, que fará triunfar definitivamente a revolução. A este nível a
missão dos professores e quadros da educação é extraordinariamente delicada.
Porque eles, como nós, cresceram e formaram-se no mundo antigo, ainda
trazem em si muitos vícios e defeitos, muito individualismo e ambição, muitos
gostos corruptos e superstições, que são nefastos e podem contaminar as novas
gerações.
Para alcançar suas metas, a Frente retirou todas as matérias de ensino que não
estavam ligadas as suas ideologias, tentou resgatar a identidade do povo
moçambicano, através da inserção da história e geografia do país. Além disso, propôs
mudanças nos mecanismos de gestão e administração das escolas, alterações dos
currículos escolares, permitiu a participação ativa da população na escola, dentre
outras ações buscou alternativas para a construção de uma sociedade livre de
exploração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o levantamento de dados com alguns professores que atuam no Ensino Superior
referente ao tema “Ética em Moçambique” podemos elencar algumas considerações.
Em relação à condução da disciplina “Ética” no Ensino Superior, percebe-se que o país
cresce em relação à evolução dos currículos propostos (em especial em Filosofia),
visto que oferta a disciplina leva à reflexão por parte dos alunos (que serão futuros
professores) a repensar sobre a questão ética na sociedade.
Referências
ASSANE, A.I. Práticas curriculares no ensino básico: tecendo e narrando redes de
experiências na formação continuada dos professores da disciplina de Ofícios em
Moçambique. Niterói, 2017. Universidade Federal Fluminense.
BASÍLIO, G. O estado e a escola na construção da identidade política
moçambicana. Maputo, Publix, 2014. (pp. 113-207).
GONÇALVES, A.C.P. Modernidades moçambicanas e educação: da crise de
referências ao vazio de sentido. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 43, n. 4, p.
1653-1676, out/dez. 2018.