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NPPA/MESTRADO EM ANTROPOLOGIA
DISCIPLINA: MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA EM ANTROPOLOGIA
PROF. DR. ULISSES NEVES RAFAEL
ALUNA: ELZA GUIMARÃES
Quando de sua apresentação à obra de Victor Turner, Roberto Da Matta faz questão de
iniciar comentando ser este um dos grandes mestres que modificaram o rumo da antropologia
social ao longo do século XX. Sua admiração pelo grande intelectual, entusiasta de uma nova
antropologia do simbolismo, é evidente, e o antropólogo brasileiro destaca ser esta advinda,
principalmente, de seu contato pessoal com o mesmo.
Ele destaca sua predisposição a estudos de temas pouco abordados no seio acadêmico,
o que era o reflexo de sua criatividade reveladora, livre do “isolamento neurótico e elitista”,
desde que tais temas estivessem nas categorias de “(...) assuntos relevantes e vitais para a vida
social.” (p. 16)
É o próprio Victor Turner que explica, ainda em sua introdução, alguns aspectos gerais
do sistema ritual dos Ndembu. Expõe uma das grandes preocupações do antropólogo, a qual
também serve para justificar a importância da pesquisa etnográfica, quando refere-se ao
desaparecimento “das antigas idéias e práticas religiosas dos africanos, em virtude do contato
com o homem branco e seus costumes”. (p. 29)
Ele comenta a constante circulação dos indivíduos entre tais aldeias, no que ele
percebe problemas de dinâmica social e processos de ajustamento, adaptação e mudança. É aí
que o antropólogo vê a possibilidade maior de descoberta, inclusive dos aspectos rituais. Ele
comenta: “Foi uma experiência espantosa e enriquecedora ver o contraste entre a relativa
simplicidade e monotonia da economia e da vida doméstica desses caçadores e agricultores
ordenada e o simbolismo colorido de sua vida religiosa.” (p. 30)
Ainda no que concerne à estrutura da aldeia, há que se dizer que é influenciada pelo
casamento matrilinear e pelo casamento virilocal. Turner explica que, numa sociedade
matrilinear como é o caso dos Ndembu, é justo que a matrilinearidade interfira nos direitos à
residência, bem como na sucessão de cargos.
Sobre o que vem ser a virilocalidade unida a matrilinearidade que bem explicitam a
organização social da sociedade estudada, o autor justifica como “grupos móveis de
parentesco matrilinear masculino, mudando de locais de residência duas vezes a cada década
e em competição entre si por mulheres e crianças.” (p. 33) Destaca também o aspecto de
solidariedade presente entre pais, filhos e irmãos masculinos.
Embora o aspecto matrilinear seja decisivo e determine a maioria das relações sociais,
ao pai é dada importância fundamental nos aspectos rituais. Ele oferece como exemplo os
rituais de caça e, logo em seguida, relembra o casamento virilocal. Assim, “Caça e sexo para
os homens, sexo e maternidade para as mulheres parecem ser os valores mais claramente
ressaltados (...)” (p. 37)
Tais cerimônias, destaca ele: “não dizem respeito apenas ao indivíduo que ocupa o
lugar central nelas, mas também marcam mudanças nas relações de todas as pessoas ligadas a
ele por laços de sangue, casamento, dinheiro, controle político e muitas outras formas”. (p.
36) O que o leva à conclusão de que tais mudanças não ocorrem somente para o indivíduo,
mas também para todos que estão à sua volta.
Tudo para explicar, de forma clara e sucinta, que: “Cada tipo de ritual tem seu próprio
ritmo de tambores, sua própria “canção tema”, sua própria combinação de poções, seu próprio
comportamento estilizado, expresso em danças e gestos, e seu próprio tipo de santuário e
aparato ritual.” (p. 44)