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Cigarro eletrônico: porque foi proibido e quais os riscos para a saúde?

Manuel Reis
Setembro 2019

O cigarro eletrônico, também conhecido como e-cigarete, ecigar ou apenas


cigarro aquecido, é um dispositivo com o formato de um cigarro convencional
que não precisa arder para liberar nicotina. Isso porque tem um depósito onde
é colocado um líquido concentrado de nicotina, que é aquecido e inalado pela
pessoa. Esse líquido além da nicotina, possui ainda um produto solvente
(normalmente glicerina ou propilenoglicol) e um químico de sabor.

Este tipo de cigarro foi introduzido no comércio como sendo uma boa opção
para substituir o cigarro convencional, já que não necessita queimar tabaco
para liberar a nicotina. Assim, esse tipo de cigarro também não libera muitas
das substâncias tóxicas do cigarro convencional, que resultam da queima do
tabaco.

No entanto, e embora essas fossem as promessas do cigarro eletrônico, sua


venda foi proibida pela ANVISA em 2009, com a RDC 46/2009, e seu uso
tem sido desaconselhado por vários especialistas na área, entre os quais a
Associação Médica Brasileira.

Porque foi proibido pela Anvisa

A proibição da Anvisa foi emitida em 2009 pela falta de dados científicos que
comprovem a eficiência, eficácia e segurança dos cigarros eletrônicos, mas
essa proibição é apenas sobre a venda, importação ou propaganda do aparelho.

1
Publicado em: https://www.tuasaude.com/cigarro-eletronico/
Assim, e embora exista uma proibição, o cigarro eletrônico pode continuar a
ser usado legalmente, desde que tenha sido comprado antes de 2009 ou fora
do Brasil. Porém, várias entidades reguladoras da saúde, estão tentando
proibir de vez esse tipo de dispositivo devido aos possíveis riscos para a
saúde.

Quais os possíveis riscos para a saúde

O primeiro grande risco do uso do cigarro eletrônico se prende diretamente


com o fato de liberar nicotina. A nicotina é uma das substâncias com maior
poder de viciação conhecidas, por isso, pessoas que utilizam qualquer tipo de
dispositivo que libere nicotina, seja o cigarro eletrônico ou o convencional,
terão maior dificuldade em deixar de fumar, devido à dependência que essa
substância provoca a nível cerebral.

Além disso, a nicotina é liberada na fumaça que é lançada no ar, tanto pelo
aparelho, como pela expiração do utilizador. Isso faz com que as pessoas ao
redor também inalem a substância. Isso é ainda mais grave no caso de
mulheres grávidas, por exemplo, que, quando expostas à nicotina aumentam o
risco de malformações neurológicas no feto.

Já quanto às substâncias liberadas pelo cigarro eletrônico, e embora, não tenha


muitas das substâncias tóxicas liberadas pela queima do tabaco, o cigarro
eletrônico libera outras substâncias que são cancerígenas. Num documento
oficial lançado pelo CDC, é possível ler que o aquecimento do solvente que
carrega a nicotina no cigarro eletrônico, quando queimado a mais de 150ºC,
libera dez vezes mais formaldeído que o cigarro convencional, uma substância
com comprovada ação cancerígena. Outros metais pesados também têm sido
encontrados no vapor liberado por estes cigarros e podem ser ligados ao
material utilizado para a sua construção.
Por fim, as substâncias químicas usadas para criar o sabor dos cigarros
eletrônicos também não têm comprovação de que são seguras a longo prazo.

Doença "misteriosa"

Desde que o uso dos cigarros eletrônicos começou a se tornar mais popular,
cresceu o número de pessoas internadas em hospitais dos Estados Unidos cuja
a única relação em comum que apresentavam era o uso desse tipo de cigarro
com essências. Como ainda não se sabe o que de fato é essa doença e se
realmente está relacionada com o uso do cigarro eletrônico, essa doença
passou a ser denominada doença misteriosa, sendo os principais sintomas
associados:

 Falta de ar;
 Tosse;
 Vômitos;
 Febre;
 Cansaço excessivo.

Esses sintomas duram vários dias e pode deixar a pessoa bastante debilitada,
sendo necessário que a pessoa permaneça em unidade de terapia intensiva
para que receba os cuidados necessários.

A causa da doença misteriosa ainda não é certa, no entanto acredita-se que os


sintomas de insuficiência respiratória estejam relacionadas com as substâncias
colocadas no cigarro, podendo ser consequência da exposição a substâncias
químicas.

O cigarro eletrônico ajuda a deixar de fumar?


Segundo a Sociedade torácica americana, os vários estudos feitos sobre a ação
dos cigarros eletrônicos para ajudar a deixar de fumar não mostraram qualquer
efeito ou relação e, por isso, o cigarro eletrônico não deve ser usado da mesma
forma que outros produtos comprovados para a cessação tabágica, como os
adesivos ou a chicletes de nicotina.

Isso porque o adesivo vai reduzindo gradualmente a quantidade de nicotina


que é liberada, ajudando o corpo a abandonar a dependência, enquanto que o
cigarro libera sempre a mesma quantidade, além de não existir regulação para
a dose de nicotina que cada marca coloca nos líquidos usados no cigarro. A
OMS também apoia esta decisão e aconselha o uso de outras estratégias
comprovadas e seguras para conseguir deixar de fumar.

Além de tudo isso, o cigarro eletrônico pode até contribuir para o aumento do
vício na nicotina e no tabaco, já que os sabores de aparelho apelam para um
grupo mais jovem, que pode acabar desenvolvendo o vício e iniciando o uso
do tabaco.
CIGARRO ELETRÔNICO FAZ MAL? CONHEÇA OS RISCOS E
BENEFÍCIOS2

O que é o cigarro eletrônico?

O cigarro eletrônico, também chamado de e-cigarro, é um dispositivo movido


à bateria, que simula a experiência de um cigarro comum, supostamente com
menos riscos à saúde por conter apenas vapores de nicotina, sem o alcatrão
nem as centenas de outras substâncias nocivas do cigarro. Porém, conforme
explicaremos, ter menos risco não significa estar isento de riscos.

Os cigarros eletrônicos têm ganhado popularidade nos últimos anos,


principalmente entre a população mais jovem e os fumantes que desejam uma
forma menos nociva de consumir a nicotina. Mesmo no Brasil, onde o e-
cigarro tem a sua comercialização proibida*, o produto tem gerado muita
curiosidade e angariado adeptos, que adquirem o dispositivo através da
Internet ou em viagens a países que permitem a sua venda, tais como Estados
Unidos, França, Itália ou Portugal.

* No Brasil, a lei não permite a produção e a comercialização dos cigarros


eletrônicos, mas o seu uso não é considerado crime.

Neste artigo vamos fornecer uma visão geral sobre o cigarro eletrônico,
incluindo informações sobre os diferentes tipos de dispositivos, efeitos
adversos para a saúde, uso como tratamento para parar de fumar e o seu
impacto sobre a saúde pública.

2
Dr. Pedro Pinheiro
11 setembro 2019
https://www.mdsaude.com/dependencia/cigarro-eletronico/
Como é o cigarro eletrônico?

Os cigarros eletrônicos entraram no mercado em 2003, na China. Em 2006,


eles chegaram aos Estados Unidos e à Europa. Na maioria dos países, os e-
cigarros entram no mercado como produtos comuns, sem regulamentação do
governo. Somente nos últimos anos, com a popularização do produto, é que os
órgãos estatais de controle de vários países passaram a prestar mais atenção ao
cigarro eletrônico.

Inicialmente, os cigarros eletrônicos eram produzido por pequenas empresas,


mas já há alguns anos, de olho no rápido crescimento desses produtos, as
grandes empresas de tabaco adquiriram e passaram a desenvolver também
essa forma de cigarro.

Os cigarros eletrônicos consistem em:

 Um reservatório que contém um líquido, geralmente rico em nicotina.


 Um atomizador, que é o dispositivo responsável por aquecer o líquido e
gerar o vapor.
 Um sensor que ativa o atomizador toda vez que o usuário faz uma
inalação (alguns funcionam através de um botão).
 Uma bateria.
 Um recarregador de bateria.

O utilizador ativa o atomizador através da inalação ou ao apertar um botão,


dependendo das características do dispositivo. O atomizador aquece o líquido
no reservatório e cria uma fumaça de vapor, que se parece, mas não é igual à
fumaça dos cigarros comuns. O cigarro eletrônico, portanto, simula a
experiência de fumar um cigarro convencional, mas sem combustão e sem a
inalação de todas as substâncias tóxicas presentes no tabaco.

Os primeiros e-cigarros foram concebidos de forma a terem um design muito


parecido com os cigarros convencionais, tanto em formato quanto em
tamanho. Existiam até versões descartáveis, que não podiam ser recarregadas.
O paciente fumava e jogava fora o e-cigarro quando o seu conteúdo acabava.

Com o passar dos anos, a tecnologia por trás dos cigarros eletrônico evoluiu.
Atualmente, a maioria dos e-cigarros tem uma aparência mais parecida com a
de uma grande caneta. Eles possuem baterias de longa duração, que podem ser
recarregadas, reservatórios de líquido que podem ser reabastecidos,
reguladores para controlar a quantidade de vapor e a temperatura do
atomizador, luz LED e uma grande variedade de opções em relação a cores e
aparência do e-cigarro, como pode ser visto na imagem mais abaixo.

Quais substâncias existem no líquido do e-cigarro?

Ao contrário dos cigarros convencionais, que queimam tabaco pra gerar fumo,
os cigarros eletrônicos vaporizam um líquido, que alguns chamam de e-
líquido, e-suco ou e-juice. Esse e-líquido é comprado à parte em pequenos
frascos (chamados de refills), já havendo no mercado mais de 7000 variações
de sabores.
Muitas pessoas acreditam incorretamente que esses e-cigarros produzem
vapor de água, quando, na verdade, eles criam aerossóis que contêm
substâncias químicas nocivas e partículas ultra-finas que são inaladas para os
pulmões.

A maior parte dos líquidos à venda são compostos por nicotina (existem
também e-líquidos sem nicotina), propilenoglicol (glicerol) e aromas. Porém,
uma grande variedade de outras substâncias já foram identificadas, tais como
estanho, chumbo, níquel, crômio, nitrosaminas e compostos fenólicos, alguns
destes com potencial carcinogênico, conforme veremos mais à frente quando
formos discutir os malefícios dos e-cigarros.

O teor de nicotina contido no e-líquido costuma variar de zero até 36 mg/mL.


As concentrações mais comuns são as de 6 mg/mL, 12 mg/mL, 18 mg/mL ou
24 mg/mL.
Porém, estudos têm mostrado que o teor de nicotina atestado pelos fabricantes
nem sempre é confiável, sendo frequentemente maior do que aquele indicado
nos rótulos. Há inclusive e-líquidos que dizem ser livres de nicotina, mas que
ao serem analisados, apresentavam nicotina no seu conteúdo.

Quais são os malefícios do cigarro eletrônico?

Se por um lado parece ser verdade que o cigarro eletrônico é menos


prejudicial que os cigarros convencionais, também é verdade que eles não são
de forma alguma produtos isentos de riscos à saúde.

Por ser um produto relativamente novo e que passou a receber atenção dos
órgãos governamentais somente recentemente, não há ainda grandes estudos
científicos sobre as consequências do uso prolongado do e-cigarro. Apesar de
teoricamente ser mais seguro que o cigarro comum, não há evidencias
científicas que confirmem essa suposta maior segurança. Esse é o motivo pelo
qual países como Brasil, Áustria, Argentina, Canadá e Colômbia não
permitem a sua comercialização. Outros, como Austrália, Dinamarca, Bélgica
e Austrália só permitem a venda de cigarros eletrônicos sem nicotina.

Mas as preocupações com o cigarro eletrônico não estão apenas relacionadas à


falta de estudos a longo prazo. Algumas das substâncias presentes no e-líquido
são sabidamente nocivas.

Nicotina

A nicotina, por exemplo, é uma substância, que além de altamente viciante,


também causa danos à saúde. Pessoas que fumam cigarros eletrônicos
conseguem inalar quantidades de nicotina muito parecidas com aquelas
inaladas nos cigarros comuns.
A nicotina está relacionada, entre outros efeitos, a um aumento do risco de
eventos cardiovasculares, a atraso no desenvolvimento fetal, maior risco de
aborto espontâneo, maior risco de parto prematuro e a alterações no
desenvolvimento cerebral de jovens e adolescentes.

O consumo agudo de doses elevadas de nicotina tem potencial de intoxicação,


provocando sintomas que vão desde náuseas e vômitos até convulsões e
depressão respiratória, nos casos mais graves. Isto é particularmente
verdadeiro em crianças, cujo limiar para intoxicação por nicotina é bem mais
baixo que nos adultos. Já há casos, inclusive, de crianças que morreram por
envenenamento após usarem os e-cigarros dos pais. Só para se ter uma ideia
do risco, a dose de nicotina considerada potencialmente fatal para uma criança
é de 10 mg. Um refill comum de 5 mL de e-líquido na concentração de 18
mg/dL possui 90 mg de nicotina, 9 vezes mais que a dose potencialmente
fatal.

Como muitos cigarros eletrônicos são ativados pela inalação, é muito fácil
para uma criança, querendo imitar os pais, conseguir fumar um cigarro
eletrônico. Esse é um dos motivos pelo qual alguns países estão exigindo que
os e-cigarros venham com algum tipo de lacre de segurança contra o uso
acidental por parte das crianças.

Substâncias carcinogênicas

Como já referido anteriormente, várias das substâncias carcinogênicas do


cigarro convencional podem ser encontradas em algumas marcas de e-cigarro.

Testes laboratoriais realizadas em 2009 pelo FDA (o órgão norte-americano


equivalente à ANVISA) identificaram produtos químicos cancerígenos e
tóxicos, incluindo ingredientes usados como anti-congelante, em 20 marcas de
e-cigarros.
Pouco se sabe sobre a segurança geral ou os efeitos carcinogênicos do
propilenoglicol ou glicerol quando aquecido e aerossolizado.

Em altas temperaturas, o propilenoglicol se decompõe e pode formar óxido de


propileno, um provável carcinógeno humano. O glicerol produz a toxina
acroleína, embora os níveis produzidos sejam menores que os cigarros
convencionais. Tanto o propilenoglicol como o glicerol se decompõem para
formar os carcinógenos formaldeído e acetaldeído, com níveis que dependem
da voltagem da bateria usada no e-cigarro.

Um estudo de 2014 descobriu que o aerossol produzido a partir dos cigarros


eletrônicos com maior potência do atomizador continha grandes quantidades
de formaldeído e acetaldeído.

Outras substâncias perigosas

Os sabores artificiais dos cigarros eletrônicos são também uma fonte de


preocupação, não só porque eles servem para atrair o público mais jovem, mas
porque eles próprios podem ser nocivos. Os fabricantes dos e-cigarros dizem
que os aromas artificias são seguros, pois eles são os mesmos utilizados nos
alimentos industrializados. O problema, porém, é que a segurança destes
aromatizantes só foi estudada em relação à ingestão. Não sabemos se a
vaporização e a inalação destes produtos é segura.

Além disso, algumas marcas de cigarro eletrônico utilizam o diacetil, que é


um produto químico com sabor amanteigado, frequentemente presente nas
pipocas de microondas, que estão associados a uma grave e irreversível lesão
do pulmão, vulgarmente conhecida como “pulmão da pipoca” ou “doença da
pipoca de microondas”.
Estudos em animais e em laboratórios sugerem que mesmo os cigarros
eletrônicos sem nicotina podem fazer mal aos pulmões. Esses trabalham
mostraram que o vapor inalado irrita as células e atrapalha o bom
funcionamento dos tecidos e cílios do tecido da árvore respiratória.

Doença pulmonar de origem ainda obscura

A partir de Julho de 2019, centenas de caso de uma misteriosa doença


pulmonar começaram a ser descritos por todos os Estados Unidos. Em
comum, havia o fato dos pacientes serem usuários de cigarros eletrônicos.

Os sintomas mais frequentes desse quadro respiratório são tosse, falta de ar e


cansaço. Alguns pacientes também apresentavam febre, dor no peito, perda de
peso, náusea e diarreia.

A maioria dos pacientes respondeu bem ao tratamento com corticoides, mas


vários casos graves foram descritos, com necessidade de ventilação mecânica
e alguns óbitos.

Até o momento, nenhum produto químico específico ou agente infeccioso foi


identificado como culpado, embora em muitos casos – mas não todos – a
substância inalada seja um canabinoide, produto derivado do THC, substância
ativa da maconha.

Explosões

Falhas da bateria do e-cigarro podem resultar em explosões e queimaduras.


Um estudo publicado pelo Jornal Britânico de Medicina (BJM) mostrou que
entre 2015 a 2017 os departamentos de emergência dos hospitais dos EUA
atenderam a cerca 2000 casos de queimaduras resultantes de explosões de e-
cigarros.
Cigarro eletrônico como tratamento para parar de fumar

Como o cigarro comum é um dos mais nocivos produtos de livre


comercialização já criados, é natural que, mesmo com todos os problemas, os
cigarros eletrônicos ainda consigam ser menos maléficos à saúde.

Algumas das vantagens dos cigarros eletrônicos em relação ao cigarro


tradicional são:

 Exposição a menos substâncias químicas tóxicas, ainda que haja


substâncias tóxicas no e-cigarro.
 Não deixa os dentes amarelados.
 Não provoca mau cheiro.
 É menos poluente.
 É mais barato.
 O fumo passivo parece ser menos tóxico.
 Parece haver um menor risco de doenças pulmonares, apesar de haver
riscos.

Ainda que existam algumas vantagens, por tudo o que foi exposto até aqui, a
imensa maioria dos médicos e das associações médicas não recomenda o
cigarro eletrônico como forma de tratamento para o tabagismo por conta de 4
problemas:

1- Os cigarros eletrônicos aparentemente não são produtos isentos de


toxicidade. Há opções mais seguras e com maior embasamento científico,
como fármacos e chicletes ou adesivos de nicotina.
2- As pessoas que usam o e-cigarro até diminuem o consumo de cigarros
tradicionais, mas um estudo de 2013 mostrou que 77% dos usuários do cigarro
eletrônico continuam a fumar cigarros comuns. Em muitos casos, o consumo
de nicotina não é reduzido e o paciente continua tão viciando quanto antes.

3- Não há conhecimento científico adequado sobre esse produto. Não sabemos


se a longo prazo o cigarro eletrônico é realmente mais seguro que os cigarros
convencionais.

4- O estímulo ao uso do cigarro eletrônico pode, após anos de queda


consistente, devido às campanhas anti-tabágicas, provocar um aumento no
número de pessoas viciadas em nicotina. A falsa impressão de segurança pode
fazer com que o número de fumantes volte a crescer. Há estudos que mostram
que ex-fumantes, que tinham parado completamente de fumar cigarros
comuns, voltaram a fumar, agora com cigarros eletrônicos.

Do ponto de vista de saúde pública, a popularização do cigarro eletrônico


pode significar um passo atrás no controle do tabagismo. Já há, inclusive,
pessoas que querem fumar o e-cigarro em locais fechados, pois acham que o
fumo passivo deste tipo de cigarro é seguro.

O que sabemos até o momento

Usar e-cigarros é provavelmente menos prejudicial à saúde do que fumar


cigarros convencionais, mas não sabemos exatamente o quão seguros eles são
para os fumantes ativos e passivos.

O cigarro eletrônico mantém a exposição do usuário à nicotina, muitas vezes


em níveis semelhantes ao do cigarro comum. A nicotina é uma substância
altamente viciante, mas o seu consumo a longo prazo não parece elevar o risco
cardiopulmonar nem de câncer.
As consequências para a saúde da exposição ao vapor do e-líquido ainda são
desconhecidas, mas os estudos iniciais apontam para alterações na função
respiratória. Essas alterações, porém, parecem ser menos graves que aquelas
provocadas pelo cigarro comum.

O uso de alguns produtos derivados do THC nos e-cigarros parece estar


associado a grave complicação pulmonar aguda.
Epidemia ligada a cigarro eletrônico avança nos Estados Unidos 3

A epidemia de doenças pulmonares relacionadas ao uso do cigarro eletrônico


(“vaping”) continua avançando nos Estados Unidos, onde os casos passaram
de 380 para 530, enquanto o número de mortos se manteve em sete, segundo o
informe semanal da última quinta-feira.

Mais da metade dos pacientes têm menos de 25 anos, e três quartos são
homens, disse Anne Schuchat, subdiretora do Centro de Controle e Prevenção
de Doenças. Dezesseis por cento dos pacientes são menores de 18 anos.

Os laboratórios da Agência de Drogas e Alimentos (FDA) estão analisando


mais de 150 amostras suspeitas, mas ainda não identificaram as substâncias
responsáveis por essas doenças pulmonares agudas, disse Mitch Zeller, diretor
da divisão de tabaco do órgão.

“Não existe denominador comum sobre os produtos utilizados, como foram


usados, onde foram comprados e o que pode ter acontecido entre o momento
da compra e o do uso, em que é inalado”, insistiu Zeller.

Os pesquisadores são muito cautelosos sobre a possível causa das doenças,


seja por uma marca, um produto ou uma fonte. Em muitos casos, as recargas
envolvidas continham THC, o princípio psicoativo da maconha.

Em 11 de setembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que seu


governo proibirá nos próximos meses os produtos de “vaping” com sabor.

Na ocasião, o secretário de Saúde, Alex Azar, indicou que, após o lançamento


de uma nova guia reguladora, haverá 30 dias de prazo para sua entrada em

3
Por AFP
21/09/19
vigor, momento a partir do qual “todas as cargas com sabor de cigarros
eletrônicos, exceto o tabaco, terão que ser retiradas do mercado”.

A indústria do cigarro eletrônico movimentou US$ 10,2 bilhões no mundo em


2018, segundo a empresa de estudos de mercado Grand View Research. O
produto é vendido desde meados dos anos 2000.

Para as pessoas que já fumam, o consenso científico atual é que substituir o


cigarro pelo vaporizador é menos nocivo: a nicotina fica, mas as substâncias
cancerígenas presentes nos cigarros deixam de ser inaladas.

“Embora seja difícil quantificar com precisão a toxicidade em longo prazo do


cigarro eletrônico, evidentemente esta é muitíssimo menor que a do cigarro
tradicional”, indicou em 2015 a Academia de Medicina francesa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) se mostra mais prudente, tomando


como referência um informe de 2014: “Não há provas suficientes para
quantificar o nível preciso de risco”, mas, de qualquer forma, “os Sistemas
Eletrônicos de Administração de Nicotina (Sean) são inquestionavelmente
nocivos e deverão ser regulados”.

No Brasil

Preocupada com os casos de doenças pulmonares associadas ao uso de cigarro


eletrônico nos EUA, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
divulgou um comunicado para que profissionais fiquem atentos caso recebam
pacientes com náuseas, tosse, falta de ar e dor na região do tórax, sobretudo se
forem usuários do “vaping”.

A sociedade sugeriu, ainda, que médicos brasileiros avisem os pacientes sobre


os potenciais riscos desses utensílios. Diagnosticado com pneumonia no início
do mês, o publicitário Pedro Ivo Brito, 29, teve o quadro agravado por fazer
uso do dispositivo. Há um ano, o design sofisticado do cigarro atraiu sua
curiosidade.

“Quando eu disse que fazia uso do cigarro eletrônico no hospital, os médicos


falaram que não era o único motivo, mas que agravou o meu quadro”, diz.

O publicitário ficou internado por cinco dias no Hospital Beneficência


Portuguesa, em São Paulo, e teve de passar até por uma cirurgia torácica para
drenar a água que estava nos pulmões. Brito começou a fumar cigarro comum
aos 15 anos. O eletrônico, ele conheceu há um ano, nos EUA.

“Em Miami, é comum ver as pessoas fumando cigarro eletrônico até nas ruas.
Nunca foi minha intenção substituir o cigarro comum pelo eletrônico. Só que
comecei a fumar mais o eletrônico”, conta. Para ele, o trauma foi o melhor
tratamento para abandonar os dois tipos de cigarros. “Não desejo a ninguém o
que eu passei”, fala. (Com Estadão Conteúdo)

Entenda

O ‘vaping’ consiste em inalar vapores gerados pelo aquecimento de um


líquido no cigarro eletrônico.

Esses líquidos contêm nicotina – substância que causa dependência e pode


afetar o desenvolvimento do cérebro antes dos 25 anos

Não contêm alcatrão (cancerígeno) nem monóxido de carbono (causa de


doenças cardiovasculares), mas têm partículas finas com potencial tóxico,
como metais (níquel, chumbo), e aditivos ainda não estudados sob a forma
vaporizada.

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