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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - CAMPUS MATA NORTE

LICENCIATURA EM HISTÓRIA
PROF. DR CARLOS ANDRÉ
ALUNA. YASMIN VITÓRIA DOS SANTOS
III ATIVIDADE ASSÍNCRONA

Decerto a definição do que poderia ser considerado documento histórico foi alvo
de modificações. A Escola Metodista Positivista do século XIX considerava
documento histórico apenas os documentos escritos e oficiais, a metodologia dessa
escola limitava-se apenas a narrar os eventos documentados. Aos poucos o conceito
e a abrangência do termo documento histórico foram sendo ampliados, no século XX
com o surgimento da Escola dos Annales que ia contra o paradigma positivista, esse
conceito ampliou-se ainda mais, para eles o documento histórico seria qualquer
registro e vestígio da expressão ou existência humana, independentemente de sua
característica material, rompendo dessa maneira, com a tradição historiográfica de
que as fontes consideradas pelo historiador encontrava-se apenas nos papéis. Essa
inovação proposta pelos Annales ampliou o universo das pesquisas históricas
realizadas pelos historiadores, esse sistema ficou conhecido como micro-história, e
faz com que o homem obtenha mais espaço na história.
Hoje considera-se documentos históricos quaisquer registros e vestígios sobre o
passado analisados a partir do presente, estabelecendo assim diálogos entre a
subjetividade atual e a subjetividade passada. Entretanto, é necessário cautela para
não cometer anacronismos históricos. Graças a essa evolução envolta sobre o que é
documento histórico, podemos desfrutar dos diferentes tipos, são eles: escritos,
iconográficos, materiais, visuais, sonoros e orais.

Todos os vestígios do passado, sejam eles


voluntários ou não, são passíveis de análise histórica.
No fundo, qualquer coisa, seja ela um texto, um
objeto, uma fotografia, uma estátua ou uma cadeira
velha são vestígios do passado. Mas nem todos
esses objetos são documentos. O que transforma o
vestígio em documento (ou, se utilizarmos a
linguagem historiográfica, em fonte) é justamente o
uso que dele é feito pelo historiador, ou seja, à
medida que o historiador escolhe um vestígio para
analisá-lo, extraindo informações sobre uma
determinada época, ele passa a ser um documento
(Santiago; Araújo; Grinberg, 2011, p.165).

O uso de documentos históricos é indispensável para as narrativas históricas, eles


se tornam de certo modo o apoio e a garantia do respectivo acontecimento,
concedendo dessa forma um maior grau de prestígio à narrativa histórica. Faz-se
necessário que o historiador problematize o documento em questão para extrair sua
historicidade e autenticidade e discernir se ali se encontra uma fonte primária ou
secundária e suas relações, realizando assim um trabalho metodológico em torno da
respectiva narrativa. Os documentos históricos são necessários para que haja
história, sem os mesmos, de modo algum seria possível estudar o passado. O maior
exemplo é a pré-história que ainda é possível estudarmos devido a trabalhos
arqueológicos: escavações e estudo da arte rupestre, que se destaca de uma
subjetividade e construções de diversas teorias.
Como foi visto anteriormente, há uma diversidade considerável de documentos
históricos, tendo em vista que vivemos na era digital, muitas vezes vem à tona a
dúvida de se as fontes digitais podem ser adotadas como documento histórico pelo
historiador. A herança metodológica positivista e a ausência de uma ampla discussão
teórico-metodológica sobre o assunto são apontadas como os pivôs da estranheza
do historiador para com a fonte digital. Para que essa situação seja revertida, é
necessário que seja trabalhada a sistematização teórica e metodológica sobre as
fontes digitais, para isso é necessário que haja maior quantidade de pesquisas que
utilizam essas fontes.
A internet vem crescendo desde os anos 1990, é compreensível que a historiografia
não acompanhe de imediato todas as evoluções tecnológicas da sociedade
contemporânea, mas a mesma não pode se isolar da realidade que pretende estudar.
A história do tempo presente, em especial, tem a necessidade de adaptar-se às novas
tecnologias de informação, os historiadores que estudam o presente precisam estar
abertos às fontes digitais para compreenderem a relação da sociedade com a mesma.
A internet possibilitou um novo espaço de sociabilidade conhecido como
ciberespaço, tornando-se assim uma ferramenta de comunicação poderosa, imediata
e redutora de distâncias.

O ciberespaço (...) é o novo meio de comunicação que surge


da interconexão mundial dos computadores. O termo
especifica não apenas a infraestrutura material da
comunicação digital, mas também o universo oceânico de
informações que ela abriga, assim como os seres humanos
que navegam e alimentam esse universo. (LÈVY, 1999b,
p.17)

A evolução e o aprimoramento da internet possibilitaram até mesmo a participação


ativa das pessoas, dando a possibilidade de elas criarem conteúdos e que os mesmos
fossem compartilhados na internet, temos como exemplo disso os blogs e
posteriormente as redes sociais. A participação das pessoas na construção da
internet possibilitou a percepção dos historiadores de que a rede como fonte de
pesquisa não podia ser negligenciada.
O documento digital é codificado em sistema de dígitos binários, para ter acesso é
necessário que haja uma máquina (aparelhos digitais) para intermediar. Nele
podemos encontrar tanto documentos “primários digitais” que podem ser classificados
como “documentos digitais primários exclusivos” e “documentos primários
digitalizados” e também é possível encontrar os documentos “não primários digitais “.
Pode-se perceber que há uma abundância nas informações digitais, e todas devem
ser consideradas para que não seja negligenciado algum período da história do tempo
presente, certamente é necessário que haja rigor em relação ao método que vai ser
utilizado, fazendo inter-relacionamentos da documentação. Todas as fontes sejam
elas tradicionais ou digitais precisam ser analisadas metodologicamente, mas ao se
trabalhar com fontes da internet é preciso muita atenção, ainda mais quando se trata
de uma fonte primária, onde o historiador terá que verificar a autenticidade da mesma.
A grande quantidade de documentação é ao mesmo tempo um ponto positivo e
negativo, é importante ter várias fontes para expandir a pesquisa, mas é perigoso
para o historiador entrar em um labirinto de informações que não se encontra saída,
por isso é necessário que ele selecione os documentos mais relevantes para sua
análise qualitativa.
Orville Burton (2005) referiu-se a toda essa evolução e alteração digital no meio
das ciências humanas como uma “História Digital”, onde há pontos positivos tais como
o grande potencial de armazenamento de dados, facilidade de acesso, variedade de
formatos (pdf, imagens, áudios, vídeos, podcasts) e a interatividade entre o usuário e
as fontes. Mas também há pontos negativos como a falta de qualidade de boa parte
do material disponível, a necessidade de evolução técnica, a necessidade de
avaliação da autenticidade de determinados documentos, a possibilidade de
cobrança para acessar as fontes, e burocracias como autorizações podem tornar
cada vez mais difíceis as suas publicações digitais etc.…
Faz-se necessário que haja uma metodologia específica para lidar com a
documentação digital, a assimilação das novas tecnologias informativas ainda é um
processo nos pesquisadores em ciências humanas, tendo em vista que tais
tecnologias alteraram a maneira de lidar com as documentações. Desse modo, seria
possível a ampliação de pesquisas históricas que utilizam a internet como fonte
primária de informação.

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