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Bibliotecas da Antiguidade

Alguns tópicos

A biblioteca foi até aos fins da Idade Média tão-só ou sobretudo um depósito de livros,
como o nome etimologicamente indica.

Bibliotecas “minerais”, compostas de tabletas de argila, terão sido as primeiras a serem


organizadas.

Mesopotâmia

Já na Mesopotâmia foram fundadas bibliotecas. A mais conhecida é a de Ninive,


composta por uma colecção de milhares de placas de argila, que se crê ter sido criada
por Assurbanípal, último grande rei dos Assírios, ca. 670 a.C.

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Bibliotecas de Atenas

Já na Antiguidade Clássica, no tempo do domínio de Atenas (ca. 500-338 a.C.), os


papiros eram coleccionados.

Por volta de 540 a.C., Pisístrato (político, “tirano de Atenas”) tinha já em Atenas uma
grande biblioteca (com o carácter de biblioteca pública), que depois foi continuada
pelos filhos. Terá sido por iniciativa de Pisístratos que as epopeias de Homero foram
passadas a escrito.

A existência de colecções particulares está também documentada. Sabe-se, por


exemplo, que Eurípides (ca. 485-406 a.C.) tinha uma vasta colecção de escritos.
Também Platão, por exemplo, tinha uma biblioteca particular.

Platão fundou em 387 a.C. a Academia (Ἀκαδήμεια), assim chamada em memória de


um herói lendário, Akademos. Foi lá que Aristóteles (384-322 a.C.) estudou durante
vinte anos, até fundar a sua própria escola, o Liceu (Λύκειον, "Lykeion”) num santuário
a Apolos Lykeion. A colecção do filósofo Aristóteles, educador de Alexandre o Grande,
pode ser considerada a primeira biblioteca científica. 2

Biblioteca de Alexandria

A biblioteca mais importante da Antiguidade foi a grande biblioteca de Alexandria,


fundada em 286 a.C. por Ptolomeu I, segundo o modelo da biblioteca ateniense ligada à
escola de Aristóteles.

O grande objectivo de Ptolomeu I era reunir toda a literatura grega e legar essa
biblioteca ao Museion (Casa das Musas), ou seja, à primeira “escola superior” da
Antiguidade. No ano da fundação, a colecção tinha já 200 000 rolos. Para além desta
biblioteca, foi alojada uma mais pequena, a biblioteca Serapeion, no Templo de
Serapis.

Ptolomeu II, filho de Ptolomeu I, continuou a ampliar a biblioteca de Alexandria (duas,


na verdade: a do Museion e a de Serapion). O mesmo fez o seu próprio filho, Ptolomeu
III.

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Quando, no Inverno de 48-47 a.C., Júlio César veio auxiliar Cleópatra na sua guerra
contra o irmão Ptolomeu (XIII), a biblioteca de Alexandria teria cerca de 700 000 rolos
de papiro. Foi nessa altura que milhares de livros da biblioteca de Alexandria se
perderam, na sequência de um incêndio.

Com a conquista do Egipto por Aureliano, no século III d.C., o Museion chega ao fim e
será o Serapeion a garantir a posição de Alexandria como centro de ciência. Mas no
século IV d.C. o velho templo de Serapeion foi transformado num templo cristão e a
colecção foi espalhada ao quatro ventos.

A organização da biblioteca de Alexandria, sob o bibliotecário Kallimachos (300-245


a.C,) , também poeta helenístico e erudito, convidou à imitação. Kallimachos
desenvolveu com os seus pinakes (dísticos) um primeiro tentamen de bibliografia. Fez
um registo de autores e dos seus escritos originais, indicando a extensão, o que garantiu
alguma defesa contra falsificações. O catálogo de Kallimachos estava organizado
segundo géneros literários, como épica, lírica, retórica e drama, os autores eram
ordenados alfabeticamente, eram identificados com uma curta bibliografia e seguia-se,
depois, a indicação das obras, com registo da palavra de início e do número de linhas. O 3
catálogo de Kallimachos ocupava 120 rolos.

Os rolos não tinham, geralmente, mais de 6 a 7 metros, para serem manejáveis, e a


altura variava entre 12 a 30 cm. Textos curtos eram agrupados num só rolo, obras
extensas ocupavam vários rolos.

Em 2002 foi aberta ao público a grande Biblioteca Alexandrina, financiada em parte


pela UNESCO.

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Na Grécia clássica, eram as bibliotecas que forneciam as oficinas dos copistas. Como
explica Labarre (História do Livro, p. 15): “Nesses centros, fazia-se um exemplar único
de cada obra literária, a partir do qual era feito o arquétipo. Este arquétipo servia de
modelo às cópias que eram difundidas.”

Biblioteca de Pérgamo

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Pérgamo, hoje Bergama (Turquia), era uma importante cidade grega, localizada na
Anatólia. Sob o reinado de Eumenes II (século II a.C.), Pérgamo tornou-se uma cidade
desenvolvida, que rivalizava, também culturalmente, com a cidade de Alexandria. Foi
Eumenes II quem mandou construir uma biblioteca em Pérgamo.

Bibliotecas do Império Romano

A ascensão de Roma a Império (27 a.C., com Gaius Octavius Iulius Thurinus, Octávio
Augusto) levou à queda político-militar da Grécia, mas os vencedores não arruiraram a
cultura grega.

Entre os tesouros trazidos da Grécia pelos romanos contam-se bibliotecas, por exemplo,
a de Atenas.

A elite romana adoptou a tradição de instrução e educação dos gregos. Eruditos gregos,
que vieram para Roma como escravos e refugiados, contribuíram para que a
organização da escola helenística fosse adoptada e se estabelecesse até final do século
II.

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Em 39 d.C. Gaius Asinius Pollio fundou no Atrium Libertatis (junto ao Forum) a
primeira biblioteca pública da cidade de Roma, com alas destinadas a escritos em grego
e latim. Com o tempo, as colecções em língua latina começaram a ganhar cada vez mais
importância.

Em 28 d.C. o Imperador Augusto fundou uma biblioteca greco-romana no templo de


Apolo, situada no Palatino, uma das sete colinas de Roma. Depois das bibliotecas de
Alexandria e de Pérgamo, a biblioteca Ulpia, mandada construir pelo Imperador Trajano
(Marcus Ulpius Nerva Traianus, 53-117 d.C.), foi a mais famosa, tendo sobrevivido até
meados do século V d.C. Até ao tempo do Imperador Constantino (século IV) estima-se
que Roma contasse com 28 bibliotecas públicas.

Terão sido imigrantes gregos a introduzir o comércio livreiro em Roma e a contribuir


para que ele se animasse. Inicialmente, copista e vendedor eram uma e a mesma pessoa.
Os escravos que copiavam rolos destinados a serem transaccionados eram os servi
litterati, ou scriptores, amanuenses ou librarii. O copista de textos literários era
chamado de librarius, o de textos antigos antiquarius. Mais tarde, a designação de
librarius passou a designar o proprietário de uma oficina onde trabalhavam escravos 5
copistas.

A edição propriamente dita surge com o florescimento da literatura latina. Pomponius


Atticus, amigo de Cícero (146 – 43 a.C.), é um dos primeiros editores de Roma.

Foram escravos entretanto libertados (que tinham aprendido o ofício de copista) quem
terá, com o tempo, passado a dominar o mercado livreiro em Roma e espalhado o
comércio pelas outras províncias do Império. Nos primeiros cem anos do Império
Romano desenvolveu-se um mercado livreiro diversificado.

NB: O texto foi composto sobretudo com base no capítulo “Antike Büchersammler und
Bibliotheken” do livro Das Buch vom Buch de Janzin e Güntner.

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Bibliografia:

Battles, Matthew (2003), A conturbada história das bibliotecas, São Paulo, Planeta

Casson, Lionel (2001), Libraries in the ancient world, New Haven & London, Yale
University Press

Martins, Wilson, A palavra escrita (op. cit.)

Janzin, Marion / Güntner, Joachim , Das Buch vom Buch (op. cit.)

http://www.roman-empire.net/articles/article-005.html

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