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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ - CAMPUS

BELÉM
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
O MUSEU NOS ESTUDOS DE HISTÓRIA
PROFº. BERNARDINO DA COSTA E SILVA JÚNIOR
13 MAR. 2023
ANDRÉ FREIRE NASCIMENTO
FICHAMENTO CADERNO DE RESUMOS - VI EPHIS, REORGANIZANDO O GABINETE:
UMA DISCUSSÃO SOBRE A CATEGORIA DE ‘GABINETES DE CURIOSIDADE' E O
COLECIONISMO NA PRIMEIRA ERA MODERNA
“Nas discussões dos campos da Museologia, História Cultural e História da Arte, as
coleções da primeira Idade Moderna são frequentemente apresentadas como origem
dos museus e das práticas colecionistas contemporâneas. ” (p.1928)
“[...]os “gabinetes de curiosidades” são frequentemente tratados como síntese das
práticas colecionistas do período em questão e como origem dos museus
contemporâneos. ” (p.1929)
“[...]Claudia Fares resume o que seriam esses gabinetes: “Considerados “pais dos
museus”, os gabinetes de curiosidades eram locais de estudo de eruditos, naturalistas,
nobres, profissionais liberais e apoticários que os organizavam, sendo assim seus
mecenas e patronos”. ” (p.1929)
“Esses conteúdos, de acordo com Fares, eram colecionados sem critério –
“amputações indiscriminadas” ou “tudo que atrai e instiga por sua estranheza, beleza
e singularidade”. ” (p.1930)
“Os objetos nessas coleções seriam percebidos como “fontes de espanto e
deslumbramento”, transformados nos gabinetes. “ (p.1930)
“Para o colecionador ou visitante recebido dentro do gabinete, “cada objeto ou
conjunto de objetos desvelava novas facetas pela empatia, feita de ignorância e
espanto, com que era olhado. Em resumo, os gabinetes de curiosidade poderiam ser
apreendidos como “um caos indistinto”. ” (p.1930)
“Para Mauriès, os gabinetes de curiosidade seriam “a própria essência das coleções
restritas e circunscritas”, e, ao mesmo tempo, citando Quiccheberg “Um teatro do
mais amplo escopo, contendo materiais autênticos e reproduções precisas de todo o
universo”. (p.1931)
“Os colecionadores que formavam esses gabinetes seriam “nobres capazes de comprar
qualquer coisa, mercadores com coleções mais especializadas e intelectuais menos
abastados”, todos esses “personagens excepcionais possuídos por um desejo
inalcançável pela completude perfeita” que “dotavam as coleções de personalidade”.
“Médicos, apotecários, cirurgiões e farmacêuticos” teriam sido os primeiros
colecionadores, qualificados pelo autor como ambivalentes porque aliariam atividade
“científica” a hábitos colecionistas baseados em “superstições, gosto pelo espetacular,
aberrações e bizarrices”. “ (p.1931)
“Esses colecionadores individuais partilhariam, de acordo com Mauriès, de um ‘culto
da curiosidade’, definido como a busca pelo “conhecimento de objetos liminares
situados às margens dos territórios mapeados, trazidos de mundos desconhecidos,
desafiando todos os sistemas aceitos de classificação [...] ” (p.1932)
“Patrícia Tavares Raffaini nos apresenta os gabinetes de curiosidades como “coleções
de objetos raros e curiosos” existentes em toda a Europa durante os séculos XVI e XVII,
tributários a uma “cultura da curiosidade” que seria “banida no final do século XVII”,
quando então os gabinetes “se transformam” nos gabinetes de história natural, e são
doados ou adquiridos por universidades, originando as coleções e museus
contemporâneos. José Neves Bittencourt, por sua vez, nos apresenta uma narrativa
genealógica de uma perspectiva informacional, em que os gabinetes de curiosidades
são apresentados como precursores dos museus e das funções de estudo e
classificação de objetos que caracterizam, para o autor, as instituições museológicas
contemporâneas. ” (p.1933)
“Durval Lara Filho, que tanto em sua dissertação de mestrado como na tese de
doutorado, define gabinetes de curiosidades como “pequenos conjuntos de peças
agrupadas num espaço que permitia a presença de poucas pessoas ao mesmo tempo”,
inseridos dentro de uma história dos museus que começa na antiguidade, enfatizando
que essas coleções não teriam a função de estudo e investigação, mas de exibição de
objetos. “ (p.1933)
“Poderíamos multiplicar esses exemplos indefinidamente. Uma característica
compartilhada pela maioria deles, traço marcante dentre os estudos sobre as coleções
da Primeira Idade Moderna, é partir de um fenômeno contemporâneo e tentar
encaixar fenômenos do passado como seus antecessores em uma perspectiva linear e
progressiva, ressaltando, conforme o argumento, sejam as continuidades sejam as
rupturas entre o passado e o presente. “ (p.1934)
“[...]Falguières analisa que a historiografia que se refere aos museus e se impõe em
fins do século XIX teria como leitmotiv a ideia de que a passagem do caos das coleções
de curiosidades e maravilhas à ordem das coleções modernas assinalava uma nova era,
e, destarte, qualquer ‘desordem’ ou traço de confusão percebidos nos museus
(modernos) seriam interpretados como atraso, arcaísmo ou sobrevivência de uma
época ultrapassada. ” (p.1935)
“A diversidade das práticas figura igualmente na análise de Anthony Shelton, que
argumenta que as atitudes em relação às práticas colecionistas entre os séculos XVI e
XVIII não eram uniformes, havendo liberdade para os próprios colecionadores
definirem seus objetivos e construírem discursos de justificativa de suas práticas.
Algumas categorias e recursos retóricos eram mais comumente empregados, como a
noção de que a justaposição de objetos organizados em uma coleção espelhavam as
relações entre os fenômenos ‘naturais’ (isso é, de origem divina), fenômenos
‘artificiais’ (frutos do trabalho dos homens) e os significados ‘intrínsecos’ aos objetos. “
(p.1936-1937)
“Hooper-Greenhill propõe o termo “gabinetes do mundo” (cabinets of the world)
como alternativa a gabinetes de curiosidades, argumentando que essas coleções,
situadas pela autora entre o fim do XVI e início do XVII, teriam em comum a intenção
de produzir imagens ou representações completas ou parciais do mundo através da
reunião e disposição de objetos materiais. “ (p.1937)
“Uma vez mais, a série de exemplos será arbitrariamente interrompida. Eles ilustram a
diversidade e complexidade do fenômeno do colecionismo da Primeira Idade Moderna
e nos dão uma dimensão das dificuldades enfrentadas por aqueles que buscaram e
buscam produzir uma imagem sintética dessas práticas, como a imagem presente nas
narrativas historicizantes que encontramos na Museologia, História Cultural e História
da Arte, seja nos discursos acadêmicos ou naqueles voltados para um público mais
amplo. ” (p.1938)

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