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UFRN/CE/LICENCIATURA PEDAGOGIA

DISCIPLINA: LET0782 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS – 2022.2


DOCENTE: Célia Maria de Medeiros
DISCENTE(S): Belkiss Paula Pinto Cabral e Fernanda Rayssa da Silva Teixeira

Atividade avaliativa – Desafio Pedagógico IV (valor: 2,0)


Análise das estratégias de coesão e coerência textuais

1) Encontre e destaque no texto as estratégias de coesão: repetição (reiteração) /


substituição / associação entre as palavras. Para isso, leias os textos-base
postados no SIGAA e assista ao vídeo.

2) Depois de ter realizado os destaques no texto e observado os aspectos funcionais


das palavras ou proposições maiores, explique o sentido produzido na tessitura
textual dessas marcas linguísticas.

SUGESTÃO: escolha alguns trechos representativos para a análise.

Recurso de coesão

repetição de mesmo item


lexical, paralelismo
Trecho ou sinalização do sintático, paráfrase
trecho análise
substituição por sinonímia,
hiperonímia ou hiponímia,
substituição gramatical

associação semântica entre


as palavras

-Local -Substituição lexical por -Local é uma forma mais


-Achamos, buscarmos e hiperonímia abrangente de se referir ao
descobrimos -Substituição por elipse acampamento, foi
-Mas não a todas as crianças, -Associação semântica entre as importante ser colocado
sorteio e não teve acesso
palavras para evitar a repetição da
-Ajudaram, tinham e podiam
-Indignados
-Substituição por elipse palavra "acampamento".
-Não foram bem -Associação semântica entre as -O pronome pessoal “nós” é
-Eles palavras omitido.
-Estamos -Associação semântica entre as -Estabelecem unidade
-Explodindo de raiva palavras semântica com o termo
-Não consegue e seriam -Substituição gramatical por “azar”, que aparece no
-Nossa revolta anáfora título.
-Escassez de infraestrutura e de -Substituição por elipse -O pronome pessoal “nós” é
recursos humanos -Associação semântica entre as omitido.
-Suas palavras -Estabelece unidade
-Tratamento desigual baseado
-Substituição por elipse semântica entre a palavra
no nascimento
-Há aulas de música, desenho e
-Associação semântica entre as “revolta” presente no título
teatro, cursos de inglês e palavras do texto.
francês, palestras com -Associação semântica entre as -Faz referência à palavra
profissionais apaixonados por palavras “azar”.
seu trabalho -Substituição gramatical por -Retoma os filhos que não
-A nenhuma atividade prevista, anáfora se saíram bem na prova.
a nenhum dos lugares -Associação semântica entre as -O pronome “nós” é
espetaculares, a nenhuma palavras ocultado.
comida saudável -Repetição por paralelismo -Estabelece unidade
-Não assistiram às aulas? Não -Repetição lexical semântica com a palavra
tiveram acesso aos locais das -Repetição lexical “revolta”.
atividades? Dormiram numa
-Repetição por paralelismo -Os pronomes pessoais
casa diferente daquela das
fotos do folheto do -Repetição por paráfrase “ele” e “eles” foram
acampamento? E ainda -Repetição lexical omitidos
tiveram de trabalhar? -Estabelecem associação
-Não apenas alguns meses ou semântica entre a palavra
anos, mas... “revolta”
-Ou seja, na minha família, são, -Estabelece associação
ao menos, seis gerações com semântica entre a palavra
acesso ao ensino superior “azar”
-Não podemos mudar o passado, -O pronome possessivo
mas podemos e devemos mudar substitui o movimento negro
o futuro
e a luta dos povos
originários
-Está associada
semanticamente a palavra
”azar”
-Ocorreu quebra de
paralelismo pois os outros
substantivos referentes a
aulas não estão
acompanhadas da
preposição “de”
-A palavra nenhuma poderia
ter sido omitida nas outras
vezes e mantida apenas na
primeira vez que aparece
nessa frase
-Há a repetição da palavra
“não” com uma quebra de
paralelismo.
-O paralelismo foi marcado
pela expressão “não
apenas... mas”
-Foi importante que essa
informação fosse dita dessa
forma, pois nem todos
poderiam perceber que
foram seis gerações
-As palavras “podemos” e
“mudar” poderiam ter sido
substituídas pelos termos
“mas sim o futuro”
Imaginemos a seguinte situação. Nossos filhos vão a um acampamento de férias
extraordinário. Há aulas de música, desenho e teatro, cursos de inglês e francês,
palestras com profissionais apaixonados por seu trabalho. A alimentação é
balanceada. O local dispõe de áreas verdes, cinema, quadras esportivas, piscina e
uma biblioteca incrível. Não era barato, exigiu sacrifício, mas achamos que valia a
pena.

Ao buscarmos os nossos filhos, descobrimos que o acampamento proporcionou


tudo o que havia prometido, mas não a todas as crianças. No primeiro dia, houve
um sorteio e metade dos participantes não teve acesso a nenhuma das atividades
previstas, a nenhum dos lugares espetaculares, a nenhuma comida saudável. Essas
crianças dormiram noutro pavilhão e, durante o dia, ajudaram a organizar as
atividades, a cozinhar, a arrumar as camas, a limpar os banheiros. No final do dia,
tinham um tempo de descanso, no qual podiam ver televisão.

Ficamos indignados. “Meus filhos não assistiram às aulas? Não tiveram acesso aos
locais das atividades? Dormiram numa casa diferente daquela das fotos do folheto
do acampamento? E ainda tiveram de trabalhar?

“Sim”, confirma o coordenador do acampamento. “Foi o que ocorreu”, diz. “Além


disso, no último dia, houve uma prova com todas as crianças e seus filhos não foram
bem. Eles ficaram entre os 25% piores de todo o acampamento.”

Estamos, agora, explodindo de raiva. “Que maluquice é essa? A mesma prova para
crianças que tiveram acesso a aulas e atividades completamente diferentes?” No
entanto, o coordenador está impassível. Não consegue compreender por que teriam
de ser provas diferentes. “São crianças da mesma idade”, diz. “E não houve
nenhuma discriminação na divisão do primeiro dia. Foi por sorteio. Todos tiveram a
mesma chance de participar.”

Por último, como se começasse a entender nossa revolta, o coordenador menciona


um aspecto positivo do acampamento. “Apesar da divisão inicial que tivemos de
fazer por escassez de infraestrutura e de recursos humanos, todas as crianças se
comportaram muito bem. Não houve revoltas. Elas conviveram em harmonia. É
preciso dizer: seus filhos não se saíram bem na prova, mas foram exemplarmente
obedientes, cumpriram, sem reclamar, as tarefas que lhes foram encarregadas.”

Certamente, tudo isso seria um grande pesadelo. Não é possível que tenha ocorrido
tamanha loucura, tamanha injustiça, tamanha insensibilidade. Nossos filhos
passaram um mês em condições desumanas e limitadoras por causa de um maldito
sorteio?

A situação acima é fictícia, mas – não nos enganemos – todos passamos por um
sorteio ainda mais drástico quando nascemos, que afeta não apenas alguns meses
ou anos, mas define vidas e famílias por gerações. O que seria se esse acampamento
tivesse acontecido no século 18 e, desde então, os descendentes daqueles primeiros
desafortunados no sorteio nunca tivessem acesso às melhores oportunidades de seu
tempo?

É preciso rever nossa compreensão sobre mérito, igualdade de oportunidades, ações


afirmativas e outras políticas sociais inclusivas. Em especial, precisamos de um
novo olhar sobre o movimento negro e a luta dos povos originários. Suas
reivindicações não geram um “conflito artificial”, como se vivêssemos numa
sociedade com equidade racial que passou a ser injustamente atacada, nos últimos
anos, por “ideias estrangeiras”. Normalizamos por séculos um tratamento desigual
baseado no nascimento.

Não faria mal um pouco de realismo – e menos condescendência com nossa


realidade particular – para notar as desigualdades e os privilégios vigentes.
Recentemente, descobri que um tataravô meu, Joaquim de Almeida Ramos, o Barão
de Almeida Ramos, formou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco
em 1859. Outro tataravô, Manoel do Nascimento Machado Portella, o Conselheiro
Portella, formou-se na Faculdade de Direito de Olinda em 1855, tendo sido depois,
em 1892, diretor da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de
Janeiro. Ou seja, na minha família, são, ao menos, seis gerações com acesso ao
ensino superior. Não é apenas mérito, nem apenas sorte, que meus quatro irmãos e
eu tenhamos estudado em universidades públicas – o que não significa desmerecer
a prioridade vital que meus pais, não sem sacrifício, deram à educação de seus
filhos. Mas, ao longo desses mais de 160 anos, quantas famílias foram privadas
dessa mesma oportunidade?

Quantas gerações viram reproduzir um sistema que fixava seu lugar social num
patamar, inteiramente diferente, de liberdade, de autonomia, de reconhecimento?
É sempre emocionante ouvir “sou o primeiro da minha família a fazer curso
superior”. Devemos comemorar cada uma dessas histórias, mas precisamos
multiplicar essas histórias. A igualdade de oportunidades é ainda uma grande
mentira. Muitas pessoas continuam sem acesso, durante toda a vida, a condições
mínimas de desenvolvimento pessoal. Até quando repetiremos o discurso do
coordenador do acampamento? Não podemos mudar o passado, mas podemos e
devemos mudar o futuro.

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