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Índice

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1. Introdução................................................................................................................................................1
1.1. Objectivos.............................................................................................................................................1
1.1.2. Geral..............................................................................................................................................1
1.1.3. Específicos.....................................................................................................................................1
1.2. Metodologias usadas.........................................................................................................................1
CAPÍTULO II.............................................................................................................................................2
2. ESTADOS DE EXCEPÇÃO CONSTITUCIONAIS...............................................................................2
2.1. Incorporação constitucional do direito de necessidade.....................................................................2
2.2. História constitucional do direito de necessidade.................................................................................3
2.2.1. Processo de legitimação e legalização do direito de necessidade...................................................3
1. Riots acts, Montins, distúrbios e revoltas populares............................................................................3
2. Lei Marcial e perigo para a tranquilidade pública................................................................................4
3. Estado de paz, Estado de guerra e Estado de sítio................................................................................4
4. Estado de sítio militar e estado de sítio político...................................................................................4
5. Suspensão da Constituição...................................................................................................................5
6. Constitucionalização do direito de necessidade estadual.....................................................................6
2.3. Técnicas de jurisdição constitucional do direito de necessidade do Estado..........................................6
2.4. Estado de necessidade externo..............................................................................................................7
2.5. Estado de necessidade interno..............................................................................................................8
3. Estado de excepção constitucional Moçambicano...................................................................................9
3.1. A suspensão de direitos em estado de excepção...............................................................................9
4. Conclusão..............................................................................................................................................15
5. Referência bibliográfica.........................................................................................................................16
1. Introdução

No presente trabalhado abordaremos sobre Estados de excepção Constitucionais, que são


situações de excepcionalidade e crise, que ponham em ameaça a soberania de um Estado, onde o
chefe do poder executivo poderá utilizar-se temporariamente do mecanismo constitucional do
estado de excepção, que uma vez em vigor suspenderá direitos e garantias constitucionais até que
novamente seja alcançada a ordem interna. Esse período se constitui através de uma “previsão e
delimitação normativo-constitucional de instituições e medidas necessárias para a defesa da
ordem constitucional em caso de situação de anormalidade que, não podendo ser eliminadas ou
combatidas pelos meios normais previstos na Constituição, exigem o recurso a meios
excepcionais.

1.1. Objectivos

1.1.2. Geral
 Conhecer os Estados de excepção Constitucionais.

1.1.3. Específicos
 Conceituar o estado de excepção constitucional;
 Descrever o processo de legitimação e legalização do direito de necessidade;
 Mencionar as técnicas de jurisdição constitucional do direito de necessidade do Estado;
 Descrever o Estado de excepção constitucional Moçambicano.

1.2. Metodologias usadas


 Para a realização deste trabalho usou-se a consulta bibliográfica e busca por informações
em algumas páginas de internet, com a finalidade de obter conteúdos relevantes ao
trabalho.

1
CAPÍTULO II

2. ESTADOS DE EXCEPÇÃO CONSTITUCIONAIS


2.1. Incorporação constitucional do direito de necessidade
Várias expressões são usadas como sinónimos, “a defesa da Constituição”, “defesa da
República”, “suspensão de garantias individuais”, “defesa de segurança e ordem públicas”,
“estado de excepção constitucional”, “protecção extraordinária do Estado”.
Para Canotilho (2003) a constitucionalização do regime de necessidade do Estado é previsão e
delimitação normativo-constitucional de instituições e medidas necessárias para a defesa da
ordem constitucional em caso de situação de anormalidade que, não podendo ser eliminadas ou
combatidas pelos meios normais previstos na Constituição, exigem o recurso a meios
excepcionais. É a submissão das situações de crise e de emergência (guerra, tumultos,
calamidades públicas), à própria Constituição, constitucionalizando o recurso a meios
excepcionais, necessários, adequados e proporcionais, para se obter o restabelecimento da
normalidade constitucional.

A constitucionalização de situações de necessidades, implica a consagração de um direito de


necessidade constitucional e não de um simples estado de necessidade de desculpante.

Canotilho (2003:1085), afirma ser:

“A incorporação constitucional de uma disciplina extraordinária para situações


de emergência, não uma justificação eventualmente excludente de culpa por
factos ou medidas praticadas para defender a ordem constitucional (o que
pressupõe a sua ilicitude constitucional), mas uma causa justificativa que exclua
a ideia de ilicitude dos mesmos factos ou medidas (o reconhecimento do direito e
dever das autoridades constitucionalmente competentes para recorrer a meios
excepcionais, necessários, adequados e proporcionados para afastar perigos
graves ou situações de crise que ameaçam a ordem constitucional democrática).

Será a Constituição a consagrar e a definir os pressupostos dos estados de excepção, e não


recorrer-se a princípio de necessidade extra ou supra constitucional, susceptíveis de manipulação
a favor de uma qualquer razão de estado ou de segurança e ordem pública invocada por chefes

2
ou governos, sem qualquer arrimo normativo-constitucional. A regulamentação constitucional é
já uma limitação: enumeratio ergo limitativo.

A essência é a vinculação dos poderes públicos à Constituição, não existindo qualquer outra
fonte legitimidade que não seja a própria Constituição, relativamente à fixação de competência e
à definição dos pressupostos objectivos dos estados de necessidade. O regime das situações de
excepções não significa suspensão da Constituição ou exclusão da Constituição (excepção de
Constituição), mas sim um regime extraordinário incorporado na Constituição e válido para
situações de anormalidade constitucional.

2.2. História constitucional do direito de necessidade


A constitucionalização do direito de necessidade é um pedaço da história do constitucionalismo
do Século XIX. A ideia do direito de necessidade não surgiu com o constitucionalismo, desde o
antigo direito romano que se fala em jus extremae necessitatis e em salus rei publica suprema
lex esto para expressar a existência de um direito de excepção nos casos de crise do Estado e das
colectividades organizadas (res publica).

O direito de necessidade constitucional encontra expressões paralelas no âmbito do direito


internacional (por exemplo, estado de guerra), do direito penal (por exemplo, legitimidade
defesa), direito civil (por exemplo, legítima defesa) e do direito administrativo (exemplo, estado
de necessidade administrativa). Alguns momentos fundamentais de evolução do direito de
necessidade são descritos abaixo.

2.2.1. Processo de legitimação e legalização do direito de necessidade


1. Riots acts, Montins, distúrbios e revoltas populares
No século XVIII (precisamente em 1714) surge o primeiro modelo jurídico de regulamentação
dos motions ou perturbações da ordem – o Riot Act. Nele se qualifica como crime de felonia a
participação em tumultos com a desobediência às ordens de dissolução por parte das autoridades
e se consideram isentos de qualquer responsabilidade (indemnity) por danos os agentes
encarregados do estabelecimento da ordem.
A Martial Law Inglesa significativa a sujeição a comissões militares (comission of the martial
law) dos delitos cometidos por militares e, mais tarde, por outros sectores da solução da
3
população (e contra este alargamento vai reagir a Petition of Right, de 1618, ao pedir a abolição
das comissões militares com julgamento de elementos da população civil).

2. Lei Marcial e perigo para a tranquilidade pública


Com a Loi Martiale, de 21 de Outubro de 1789, da Assembleia Nacional Francesa, surge um
segundo modelo de regulamentação da ordem pública interna. A Lei Marcial, em sentido
Francês, passa a ser uma lei de autorização da força armada no interior do país (utilização do
exército contra os seus nacionais), a fim de se reprimirem tumultos geradores de intranquilidade
pública.

3. Estado de paz, Estado de guerra e Estado de sítio


A Lei Marcial, de 21 de Outubro de 1789, representava um retrocesso quanto aos direitos dos
cidadãos, se comparada a legislação militar referente a praças de guerra (Decreto de 10 de Julho
de 1791 da Revolução Francesa), em que se distinguia:
a) O estado de paz pressupõe a separação completa entre autoridades civis e militares, tendo
cada uma a esfera de competências previamente definida;
b) O estado de guerra implicava a subordinação das autoridades civis às autoridades
militares, sempre que, por decreto do parlamento, sob proposta do rei, ou pelo rei na
ausência da deliberação do corpo legislativo, fosse declarado o estado de guerra;
c) O estado de sítio implicava a transferência das competências das autoridades civis para as
autoridades militares no caso de a praça de guerra ter sofrido ataque ou assédio.
O estado de sítio era quanto às consequências jurídicas, uma situação de mais grave do que o
próprio estado de guerra. Legitimava-se no facto do ataque ou assédio, não dependendo de
qualquer decreto de declaração, legislativo ou real, daí que a própria situação de urgência
justificava a transferência das competências policiais e de segurança para o comandante militar
da praça.

4. Estado de sítio militar e estado de sítio político


Estado de sítio configura-se como uma instituição militar existente nas praças de guerra sujeitas
a ataque ou assédio. É o ponto de partida para ou outro tipo de estado de sítio - estado-de-sítio
político ou fictício.

4
Os momentos da evolução são:
1. Aplicação do estado de sítio a cidades abertas e não apenas a praças de guerra;
2. Declaração de estado de sítio que apontava para uma ficção jurídica, pois a declaração
transportava em si a ideia de legitimidade de um estado de sítio não baseado numa
situação fáctica, numa necessidade real (os pressupostos fácticos são substituídos pelo
acto formal de declaração do governo);
3. Regulamentação jurídica, positiva e negativa, dos estados sítio, exigindo-se, por outro
lado, que a declaração enumerasse os direitos individuais considerados suspensos, e,
exigindo-se, por outro lado, que se fixassem positivamente as competências das
autoridades militares nas situações de excepção.
O estado de sítio transforma-se, deste modo, em pressuposto de suspensão das liberdades, que
assim deixam de constituir obstáculos jurídico-constitucionais para as autoridades militares.
A configuração do estado sítio político começou a ganhar contornos com Restauração (a
expressão estado-de-sítio aparece pela primeira vez na carta Constitucional francesa de 1814),
mas a distinção entre estado de sítio militar e civil é discutida sobretudo a partir de 1829,
ganhando contornos mais ou menos definidos a partir de 1848.

5. Suspensão da Constituição
Através do recurso à suspensão do império da Constituição pretendia-se defender a segurança do
Estado. Considerar fora da Constituição uma praça, um município ou uma província, significava
articular a suspensão da Constituição da Constituição com o estado de sítio, com as
consequências inerentes a este último. Em termos jurídico-constitucionais, abre-se a
possibilidade de, através da lei ordinária ou de outro acto, suspender a vigência da Constituição
em todo ou parte do território e por tempo indeterminado.

Como a suspensão da Constituição implicava, ipso facto, a suspensão dos direitos individuais
que tem precedência na figura anglo-saxónica da suspensão de habeas corpus nela garantidos, a
série de implicações de implicações das excepções da Constituição, torna-se transparente: estado
de excepção (necessidade) - suspensão da Constituição - Suspensão das garantias individuais.

5
6. Constitucionalização do direito de necessidade estadual
Em meados do século XIX, a questão do direito de necessidade estadual estava amadurecida para
se poderem fixar as premissas jurídico-constitucionais dos regimes de excepção:
a) A defesa do Estado e da segurança pública só é compatível com o Estado Constitucional,
se e na medida em ela esteja prevista na constituição e não remetida para o domínio extra
constitucional;
b) A suspensão da Constituição é uma contradito in adjectu, porque ela significa na pátria
um regime sem Constituição (mesmo limitado a parte do território);
c) A defesa do Estado não exige a suspensão da constituição, mas sem a de algumas
garantias individuais;
d) A constitucionalização do regime do regime de excepção não pressupõe uma
normativização constitucional pormenorizada desse regime, podendo a Constituição
remeter para a lei os casos de situação excepcional e as formas e medidas a adaptar em
tais circunstâncias.

2.3. Técnicas de jurisdição constitucional do direito de necessidade do Estado


Canotilho (2003), sugere a constitucionalização das situações de necessidades estadual pode
orientar-se de acordo com os seguintes padrões básicos:

1. Podres implícitos: referência constitucional às situações de necessidade através da simples


indicação dos órgãos de soberania competentes para adopção das medidas necessárias e
apropriadas ao restabelecimento da normalidade constitucional. O exemplo é o da Constituição
dos Estados Unidos em que a maior parte dos poderes exigidos por situações de emergência se
baseiam nos chamados poderes implícitos (implied and inherent powers) ou na cláusula geral
dos poderes de guerra.

2. Cláusula de plenos poderes: assenta na auto-habilitação do Chefe do Estado, conducente ao


exercício de competências acrescidas, indispensáveis à resolução das situações de crise, ou na
concentração de poderes no órgão executivo atingido, nesta segunda hipótese, a natureza de
ditadura presidencial. Exemplo: Constituição da República Francesa.

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3. Constitucionalização do direito de necessidade: estabelecimento de regulamentação
jurídico-constitucional das situações de necessidade, dispondo-se no texto constitucional sobre as
competências, pressupostos, formais, limites e efeitos dos regimes de anormalidade. São
exemplos: a Constituição Portuguesa Constituição Sueca, Constituição Espanhola e a
Constituição Brasileira.

4. Bill de indemnidade: fixação de prerrogativas a favor do Executivo, com posterior bill de


indemnidade pelo Parlamento. Exemplo é oferecido pelo Direito Constitucional Inglês. Através
do recurso ao Act of Indemnity ou Indemnity Bill, o Parlamento legaliza as actuações do governo
consideradas ilícitas no momento da sua prática. O Bill de Indemnidade serve, pois, para apagar
a responsabilidade penal ou civil dos membros de Executivo e seus subordinados quando, em
casos de emergência, violem as condições ou as leis.

2.4. Estado de necessidade externo


Canotilho (2003) afirma que a constituição fornece elementos densificadores de vários conceitos
a saber:
1. Estado de Guerra: existe sempre que se verifique:
a) Agressão efectiva por forças estrangeiras;
b) Iminência de agressão por forças estrangeiras.
Não basta a existência dos dois pressupostos materiais para constitucionalmente se falar em
estado de guerra. É necessário uma declaração formal (acto que compete ao Presidente da
República), mediante prévia da Assembleia da República e proposta do Governo. Esta
declaração não tem propriamente um efeito declaratório, mas um efeito constitutivo.
Daí que os efeitos jurídicos – maxime a suspensão de garantias constitucionais – ligados ao
estado de sítio declarado em virtude da existência de guerra, não resultem da existência objectiva
dos pressupostos; tornam-se necessários dois actos jurídicos formalizados:
i. Declaração do estado de guerra;
ii. Declaração de estado de sítio.
Estes dois actos de declaração são decisões políticas, constituem actos do governo, mas embora
sejam caracterizados por um largo espaço de liberdade de confirmação política, eles não são

7
actos livres ou desvinculados, são actos jurídico-constitucionalmente vinculados aos
pressupostos matérias (subjectivos e objectivos) enumerados na Constituição.
2. Estado de Emergência (militar): é uma espécie de pré-estádio, parcialmente coincidente com
o estado de prevenção, e que não sendo susceptível de precisão normativa, aponta para a ideia de
uma situação de crise que sendo já uma ameaça não constitui ainda perigo iminente (o que
justificaria a declaração do estado de guerra).
Os órgãos constitucionais competentes podem decidir, declarando o estado de sítio ou estado de
emergência conforme lhes afigure necessário à prossecução da defesa nacional. É evidente que o
princípio da proibição do excesso apontará para o recurso à declaração do estado de emergência
se este for suficiente para restabelecer a normalidade constitucional.

2.5. Estado de necessidade interno


Canotilho (2003) afirma que o estado de sítio e o estado de emergência podem ser declarados nos
casos de necessidade interno, nas hipóteses de crise derivadas de:
a) Grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional democrática, suscitam-se
problemas revelados pela história do regime de excepção constitucional:
i. Transformação do estado de sítio ou do estado de emergência em instrumentos
políticos de combate a qualquer situação a qualquer situação de conflitualidade
social, económica e política.
ii. Utilização das forças armadas contra cidadãos.
b) Calamidade pública: entendem-se as catástrofes naturais (terramotos, vulcões,
tempestades, inundações e epidemias).

Os elementos a considerar são dois:


1. O objecto de protecção é a ordem constitucional democrática e não qualquer apriorística e
monolítica, ordem pública ou segurança pública definida a nível infraconstitucional. Não se trata
de defender uma ordem do Estado, mas uma ordem do Estado, mas sim uma ordem
constitucional, isto é uma ordem jurídica normativamente conformada pela constituição
2. Os pressupostos da adopção das medidas do estado de sítio ou de emergência são apenas a
perturbação da ordem constitucional ou a sua grave ameaça. Não basta um perigo abstracto,
exigindo-se antes uma ameaça concreta. A ameaça ou perturbação deve por em causa a ordem

8
constitucional democrática e os seus princípios estruturantes e deve ser de tal modo grave que
não é possível combatê-la a não ser através dos meios extraordinários do estado de sítio ou do
estado de emergência.

3. Estado de excepção constitucional Moçambicano


3.1. A suspensão de direitos em estado de excepção
No Direito Constitucional Moçambicano encontram-se em três figuras designadas estado de
necessidade constitucional: os estados de guerra, de sítio e de emergência.
A ligação do estado de excepção constitucional aos direitos, liberdades e garantias é clara, a
CRM1 apenas admite a sua suspensão na vigência dos estados de guerra, de sítio e de
emergência, em vista das respectivas finalidades e estritamente limitada ao modo por que pode
exercer-se.

No seu texto, “As liberdades e garantias individuais só podem ser suspensas ou limitadas
temporariamente em virtude de declaração do estado de guerra, do estado de sítio ou estado de
emergência nos termos estabelecidos em constituição”2.

Gouveia (2015:664), afirma que “as fontes normativas da regulação do estado de excepção não
limitam, ao texto constitucional, realçando que as fontes internacionais como fontes legais;
Moçambique encontra-se vinculado aos sistemas de protecção dos direitos do homem da ONU
(Organização da Nações Unidas), e aplica os respectivos textos”.

O estado de excepção constitucional segundo Gouveia (2015) pode considerar os seguintes:


a) Os pressupostos do estado de excepção (situações de crise político-social):
A CRM, no número 1 do Artigo 282º considera três situações possíveis para se levar a cabo a
decretação:
i. “Agressão efectiva ou iminente” situação de carácter militar internacional, em que se
regista a ofensa da integridade territorial do Estado;
ii. “Grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional” situação de carácter político-
institucional, na qual se põe em causa a estrutura constitucional do Estado, nos seus
aspectos e princípios nucleares;
1
CRM, abreviatura usada para fazer referência a Constituição da República de Moçambique.
2
Artigo 72, no 1 da Constituição da República de Moçambique.
9
iii. “Calamidade pública” situação social, de elevados prejuízos e que atinge um grande
número de pessoas, causada por acidentes tecnológicos ou por catástrofes naturais.

Há que ponderar a gravidade dos pressupostos que justifiquem a opção por um dos estados de
excepção previstos. A menor gravidade dos pressupostos da declaração determina a opção pelo
estado de emergência, devendo, em todo o caso, respeitar-se o princípio da proporcionalidade e
limitar-se, nomeadamente, quanto à extensão dos meios utilizados e quanto à duração, ao
estritamente necessário ao ponto restabelecimento da mortalidade constitucional.

b) O procedimento de decretação (intervenção determinante do poder executivo):


Há procedimento que envolve os órgãos do Estado, que a CRM atribui a devida importância à
diante da situação de excepção constitucional. O processo de declaração do estado de sítio e do
estado de emergência, duas subsecções: a subsecção sobre a “ratificação” e a “apreciação” da
declaração.

A declaração é da competência do Presidente da República: preenchidos os respectivos


pressupostos, cabe ao Chefe do Estado tomar a decisão de emergência é fundamentada e
específica as liberdades e garantias cujo exercício é suspenso ou limitado. A declaração produz
efeitos por si, dado o carácter urgente, não obstante a subsequente intervenção da Assembleia da
República, ainda que por isso não resulte muito claro do texto constitucional.

Antes de decretar o estado de excepção, o Presidente da República deve obter a opinião de


órgãos que previamente se pronunciam: o parecer do Conselho de Estado e o parecer do
Conselho Nacional de Defesa e Segurança.

Após a decisão de decretar o estado de excepção, intervém a Assembleia da República, a quem


compete a ratificação da declaração “tendo declarado o estado de sítio ou de emergência, o
Presidente da República submete Assembleia da República, no prazo de vinte e quatro horas, a
declaração com a respectiva fundamentação, para efeitos de ratificação”3.

3
Artigo 285º, número 01 da Constituição da República de Moçambique.
10
A Assembleia da Republica tem um papel igualmente decisório na declaração do estado de
excepção, intervenção que juridicamente oscila entre o “ratificar” do texto CRM e o “sancionar”
como sua competência cujo texto afirma “sancionar a suspensão de garantias constitucionais e a
declaração do estado de sítio ou do estado de emergência”4.

Tratando-se de um assunto urgente, “se a Assembleia da República não estiver em secção é


convocada em reunião extraordinária, devendo reunir-se no prazo máximo de cinco dias” 5. A
decisão parlamentar tem carácter de urgente pois “a Assembleia da República delibera sobre a
declaração no prazo máximo de quarenta e oito horas, podendo continuar em secção enquanto
vigorar o estado de sítio ou de emergência”6

A Dúvida relevante que se assinala relaciona-se com o facto de se saber qual a instância
parlamentar que deve intervir na fase da ratificação da declaração presencial do estado de
excepção. Embora o texto constitucional se faca referência apenas ao plenário da Assembleia da
Republica, até pela existência de que o mesmo deve resumir-se, se não estiver cm sessão, certo é
que, o mesmo texto da CRM alude à competência da Comissão Permanente da Assembleia da
Republica para “autorizar ou confirmar, sujeito a ratificação, a declaração do estado de sítio ou
do estado de emergência sempre que a Assembleia da Republica não esteja reunida”7.

A declara presidencial nunca produzira efeitos sozinha, com necessária intervenção parlamentar
nunca produzira efeitos sozinha, com necessária intervenção parlamentar, ora pela Comissão
Permanente, ora pelo plenário, ainda que a expressão do carácter “nulo” da declaração do estado
de excepção feita pelo chefe de Estado em caso de recusa parlamentar pareça equívoca: do que
se trata, verdadeiramente, não é de uma recusa de autorização, sem a qual que o acto nem se quer
se consumaria, mas de uma recusa de ratificação, pelo que não se pode aludir a uma eficácia
“anulatória” de um acto que somente provisoriamente produziu efeitos.

4
Artigo 179o, número 02, alínea g) da Constituição da República de Moçambique.
5
Artigo 285º, número 02 da Constituição da República de Moçambique.
6
Artigo 285º, número 03 da Constituição da República de Moçambique.
7
Artigo 195o, alínea d) da Constituição da República de Moçambique.
11
No caso de o plenário intervir mais tarde, o teor da sua intervenção só pode revestir a natureza de
uma ratificação-confirmação, a qual implica a consolidação da declaração autorizada pela
Comissão Permanente, que possuía apenas uma eficácia provisória.

Se isso não aceder e a Assembleia da República recusar a ratificação, a declaração, desde que
devidamente autorizada, deixará de produzir os seus efeitos para o futuro, mantendo-se válidos
os efeitos anteriormente produzidos, pelo que neste caso o carácter nulo da declaração é ainda
mais equivoco porque, tendo sido inicialmente autorizada pela comissão Permanente, é uma
cessação de vigência para o futuro, e não propriamente de uma anulação de um efeito que se
tivesse produzido invalidamente.

c) Os efeitos materiais (a suspensão de direitos, liberdades e garantias): a decisão de decretação


do estado de excepção, do estado de guerra, seja do estado de sítio, do estado de emergência, tem
carácter discricionário, sendo internamente delimitada pelo princípio da proporcionalidade,
impondo a contenção, segundo os termos exigentes desse princípio fundamental de Direito
Público, dos seguintes efeitos:

- Os efeitos materiais: na suspensão de direitos fundamentais;


- Os efeitos organizatórios: na tomada das medidas administrativas apropriadas;
- Os efeitos territoriais: escolha da parcela do território nacional em que esses efeitos vão ter
lugar;
- Os efeitos temporários: na duração desses mesmos efeitos.
Os efeitos de índole material abarcaram a suspensão dos direitos, liberdades e garantias previstas
na CRM8, embora em alguns direitos texto constitucional adiante os termos da limitação:
- Obrigação de permanência em local determinado; Detenção; Detenção em edifício não
destinado a acusados ou condenados por crime comuns; Restrições relativas às
inviolabilidades da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informação e
à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão; Busca e apreensão em domicílio;
Suspensão de liberdade de reunião e manifestação; Requisição de bens e serviços.
O regime das detenções obedece a um figurino especial que é constitucionalmente definido: “as
detenções que se efectuam ao abrigo do estado de sítio ou emergência observam os seguintes
princípios:
8
Artigo 72º, número 01 da Constituição da República de Moçambique.
12
a) Deve ser notificado imediatamente um parente ou pessoa de confiança do detido por este
indicado, a quem se da conhecimento do enquadramento legal, no prazo de cinco dias;
b) O nome do detido e o enquadramento legal da detenção são tornados públicos, no prazo
de cinco dias;
c) O detido apresentado a juízo, no máximo de dez dias”9.

Há ainda para a CRM direitos absolutos ou intangíveis, cuja suspensão se apresenta proibida: os
direitos à vida, à integridade pessoal, à capacidade civil e à cidadania, a não retroactividade da
lei penal, o direito de defesa dos arguidos e a liberdade de religião10.

Os efeitos de cariz organizatório são muito mais limitados se comparados com os efeitos
materiais. Obtém-se o reforço das competências administrativas das autoridades públicas,
apresentando-se prevalecente uma intervenção da função administrativa por parte do poder
público.
As competências constitucionalmente estabelecidas dos órgãos de soberania, a orientação geral
são a da respectiva intangibilidade: “A declaração do estado de sítio ou de emergência não pode
afectar a aplicação da Constituição quanto à competência, ao funcionamento dos órgãos de
soberania e quanto aos direitos imunidades dos respectivos titulares ou membros”11.

O estado de excepção tem, em certos casos, o efeito contrário de congelar o exercício de outras
competências constitucionais, as quais não podem ser exercidas enquanto se mantiver a
respectiva vigência: é o caso da proibição da revisão constitucional na pendência dos estão de
sítio ou de emergência12.

Os efeitos de índole temporal da declaração do estado de excepção são ainda a considerar em


termos limitativos, uma vez que a CRM expressamente afirma que “O tempo de duração do
estado de sítio ou emergência não pode ultrapassar os trinta dias, sendo prorrogável por iguais
períodos até três se persistirem as razões que determinam a sua declaração”.

9
Artigo 288º da Constituição da República de Moçambique.
10
Artigo 286º da Constituição da República de Moçambique.
11
Artigo 289º da Constituição da República de Moçambique.
12
Artigo 284º Constituição da República de Moçambique.
13
d) O controlo de execução (de feição parlamentar e jurisdicional):

São dois os tipos de controlo segundo Gouveia (2015):

1. Controlo de natureza política – toma o nome de “apreciação”, compete à Assembleia da


República, a quem se atribui o poder de fiscalizar, a posteriori, a execução do estado de
excepção.

De acordo com CRM, “no termo do estado de sítio ou de emergência, o Presidente da República
faz uma comunicação à Assembleia da República com uma informação detalhada sobre as
medidas tomadas ao seu abrigo e a relação nominal dos cidadãos atingidos”13.

2. Controlo de natureza jurisdicional efectiva-se, pelo poder judicial, a quem compete verificar a
constitucionalidade dos actos de decretação e de execução do estado de excepção que tenham
natureza normativa, além da legalidade dos actos não normativos, bem como aplicação da
responsabilidade penal e civil que decorra da sua prática.

A esse propósito, a CRM tem uma importante disposição: “A cessação do estado de sítio ou
emergência faz cessar os efeitos, sem prejuízos da responsabilidade por actos ilícitos cometidos
pelos executores ou agentes”14.

4. Conclusão

Terminado o trabalho, concluímos que em situações de crises agudas, a própria democracia


mantém a possibilidade de um método arriscado ser aplicado pelo chefe do executivo, ainda que

13
Artigo 290º, número 01 da Constituição da República de Moçambique.
14
Artigo 290º, número 02 da Constituição da República de Moçambique.
14
isso signifique uma afronta directa à supremacia dos direitos fundamentais. A justificativa legal
se baseia no facto de que o estado de excepção, por ser importante mecanismo constitucional
destinado a restabelecer a ordem interna, necessite temporariamente suspender determinados
direitos políticos, civis e sociais.

O fortalecimento da Democracia está intimamente relacionado com o respeito aos direitos


fundamentais, sendo dever do Estado garanti-los por meio da preservação das instituições
democráticas e do equilíbrio constitucional. Dessa forma, a constitucionalização do estado de
excepção, como salvaguarda da ordem pública e do Estado Democrático de Direito, com a
consequente suspensão de algumas garantias fundamentais em carácter temporário, nada mais é
que uma forma de permitir que esse ente abstracto defenda a Constituição.

O grande risco em relação à utilização dessa medida é que dado o seu carácter antidemocrático,
sua natureza temporária pode se tornar permanente, abrindo margem para que uma ditadura
constitucional seja implantada. Para garantir a integridade da democracia em períodos de grande
alvoroço nacional, o papel da sociedade civil mostra-se estritamente necessário. Para lidar com
esta situação de modo efectivo, os governos necessitam da cooperação dos cidadãos, sendo, pois,
injustificada a supressão total dos direitos e garantias constitucionais.

5. Referência bibliográfica

15
Canotilho, J. J. (2003). Direito Constitucional e Teoria da Constituição (7ed.). Lisboa:
Almedina.

Gouveia, J. B. (2015). Direito Constitucional de Moçambique. Lisboa/Maputo: IDiLP.

Constituição da Republica de Moçambique

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