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DIREITO CONSTITUCIONAL, PÚBLICO E PRIVADO

9- UNIDADE: ESTADOS DE NECESSIDADE CONSTITUCIONAL E SUSPENSAO


DO EXERECICIO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
 INCORPORAÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE NECESSIDADE
 A abordagem a ser feita seguirá a seguinte sequencia:
 1. A incorporação constitucional do direito de necessidade, onde
para além da perspectiva histórica do direito de necessidade,
serão apresentadas as técnicas de juridicização constitucional.
 2. O direito de necessidade na Constituição da República de
Moçambique, no qual serão discutidas as tipologias de estado de
necessidade, o problema da suspensão individual dos direitos,
 liberdades e garantias, a disciplina constitucional dos estados de
 necessidade, a responsabilidade e os vícios.
Continuação…

 Tradicionalmente, problema dos estados de necessidade


constitucional e suspensão do exercício de direitos fundamentais,
vem tendo designações que variam no espaço, quiçá no tempo,
nomeadamente: estado de necessidade estadual, direito de
necessidade estadual, defesa da constituição, defesa da
República, suspensão de garantias individuais, defesa de
segurança e ordem públicas, estado de excepção constitucional,
protecção extraordinária do Estado.
 A questão central que se coloca na constitucionalização do direito
de excepção, prende-se na previsão e delimitação normativo-
constitucional de instituições e medidas necessárias para a defesa
da ordem constitucional em caso de situação de anormalidade,
que não podendo ser eliminada ou combatida pelos meios
normais previstos na Constituição, exige o recurso a meios
excepcionais.
O direito de necessidade na história constitucional

 A abordagem histórica do direito de necessidade constitucional


permitirá compreender certos institutos e perspectiva crítica da
problemática das situações de excepções. Com efeito, a
problemática da constitucionalização do direito de necessidade se
enquadra como parte do constitucionalismo do século XIX, sem
com isso significar o direito de necessidade surgiu com o
constitucionalismo, pois este é bem antigo.
 Já no antigo império romano, se falava de jus extremae necessitatis
e salus rei publica suprema ex esto, para exprimir a existência de
um direito de excepção nos casos de crise do Estado e das
colectividades organizadas.
 O processo de legitimação e legalização do direito de
necessidade
 O primeiro modelo jurídico de regulamentação dos motins ou
 perturbações da ordem, surgiu com o Riot Act no seculo XVIII
(1714), que qualificava como crime de felonia a participação em
tumultos com desobediência às ordens de dissolução por parte
das autoridades, e considerava que os agentes encarregues de
restabelecer a ordem estavam isentos de qualquer
responsabilidade.

 Lei marcial e perigo para a tranquilidade pública


 No dia 21 de Outubro de 1789 surgiu a Loi Martiale (lei marcial),
 aprovada pela Assembleia Nacional Francesa, que constituiu o
segundo modelo de regulamentação da ordem pública interna.
Esta lei foi uma lei de autorização das forças armadas a reprimirem
os tumultos geradores de intranquilidade pública.
 Estado de paz, estado de guerra e estado de sítio

 O Decreto de 10 de Julho de 1891 da Revolução Francesa,


referente a “praças de guerra”, distinguia estado de paz, estado
de guerra e estado de sitio, sendo que:
 (a) “estado de paz, pressupunha a separação completa entre
autoridades civis e militares, tendo cada uma a esfera de
competência previamente definida”;
 (b) “estado de guerra: implicava a subordinação das autoridades
civis às autoridades militares, sempre que por decreto do
parlamento sob proposta do rei, ou pelo rei na ausência da
deliberação do corpo legislativo, fosse declarado o estado de
guerra”;
 (c) “estado de sítio: implicava a transferência das competências
das autoridades civis para as autoridades militares no caso de
praça de guerra ter sofrido ataque ou assédio”.
As técnicas de juridicização constitucional do direito de
necessidade
 A forma de constitucionalização das situações de necessidade
estadual varia de Estado para Estado. No entanto, as formas ou
padrões mais comuns são os seguintes:
 2.1. Poderes implícitos
 2.2. Cláusula de plenos poderes
 2.3. Constitucionalização do direito de necessidade
 O DIREITO DE NECESSIDADE CONSTITUCIONAL NA CONSTITUIÇÃO
MOCAMBICANA DE “2004”
 Uma vez que as situações de necessidade ou anormalidade
constitucional não constituem estados sem constituição, pois sim,
são situações que obedecem uma disciplina constitucional
diferente daquela que rege as situações de normalidade.
 Não tem sido prática as constituições preverem de forma
densificada os pressupostos e requisitos do estado de necessidade,
o que fazem é indicar as balizas dentro das quais, e em face da
situação concreta, o órgão competente deverá livremente
qualificar o estado. A CRM aponta como estados de necessidade,
o estado de emergência, o estado de guerra e o estado de sítio
(cf. Artigo 72 n°1).
Continuação…

 Estado de necessidade externo


 Integram os estados de necessidade externo, o estado de guerra e
o estado de emergência.

 Estado de guerra
 Considera-se um estado de guerra sempre que se verifiquem as
seguintes situações:
 a) Agressão efectiva por forças estrangeiras;
 b) Iminência de agressão por forças estrangeiras
 c) Declaração formal do estado de guerra.
 d) Declaração de estado de sítio, se for o caso.
Continuação…
 Estado de emergência (militar)
 O estado de emergência é uma “espécie de pré-estado de
guerra, parcialmente coincidente com o estado de prevenção, e
que não sendo susceptível de precisão normativa, aponta
fundamentalmente para a ideia de uma situação de crise que
sendo já uma ameaça não constitui ainda perigo iminente (o que
justificaria a declaração do estado de guerra)”.

 Estado de necessidade interno


 O estado de emergência e estado de sitio é declarado nos casos
de necessidade interno, resultantes designadamente de:
 (a) grave ameaça ou perturbação da ordem constitucional
democrática,
 (b) calamidade pública.
A intervenção governamental na declaração do estado
de sítio ou de emergência
 No leque das competências do Conselho de Ministros de
Moçambique não se regista nenhum poder de intervenção no
processo de declaração dos estados de necessidade (cf. Artigo
204 da CRM). No entanto, pode ser que do ponto de vista material
o Conselho de Ministros intervenha, uma vez que cabe ao mesmo
garantir a ordem pública e o gozo dos direitos e liberdades dos
cidadãos (cf. Artigo 204 al. a) e b), o que significa que caberá a
esse órgão planificar e executar as medidas decorrentes do estado
de necessidade, quer do ponto de vista orçamental, quer em
termos de meios patrimoniais e humanos. Contudo, considerando
 que formalmente o Conselho de Ministros não se pronuncia a
respeito das medidas do estado de necessidade, o que acresce
ao facto do Presidente da República ser ao mesmo tempo Chefe
do Governo (se calhar essa razão justifique a não intervenção do
Governo para se pronunciar de um acto declarado a ser
declarado pelo seu próprio chefe). Cf. Artigos 146 n°3 e 160 n°1 da
CRM.
Responsabilidade
Responsabilidade política

 Segundo Gomes Canotilho, as exigências de constitucionalidade e de


 legalidade justificam a consagração de crimes de responsabilidade,
 relativamente aos autores que, na execução da declaração do estado
de sitio ou de emergência, violem a lei geral da declaração, punindo-se
 designadamente, a suspensão ou restrição ilícitas de direitos, liberdades e
 garantias efectuados por qualquer titular de cargo político.
10. UNIDADE -INCONSTITUCIONALIDADE E GARANTIA DA
CONSTITUIÇÃO
 Noção restrita de inconstitucionalidade
 A inconstitucionalidade é a relação de contrariedade que se
estabelece entre um acto político (na forma de acção ou de
omissão) e uma norma ou normas constitucionais. Há
inconstitucionalidade quando um acto público viola ou contrária
uma norma ou mais de uma norma da constituição.
 O acto político positivo (por acção) é um acto que ou é praticado
 quando não devia ser praticado, ou é praticado contra uma
norma constitucional.
 Acto negativo (omissão), traduz-se na omissão (falta) de prática de
um acto cuja prática era imposta por uma norma constitucional.
Trata-se da inércia do poder político nos casos em que uma norma
constitucional mandava praticar um acto.
Continuação…
 É verdade que nos termos do número 4 do artigo 2 da CRM as
normas constitucionais sobrepõem-se sobre as demais normas do
ordenamento jurídico, o que significa que todos os actos
infraconstitucionais devem conformar-se com a CRM, já no artigo
244 n°1 a) da CRM fica claro que os actos que estão sujeitos a
fiscalização jurisdicional (ao ajuizamento da inconstitucionalidade
pelo Conselho Constitucional) são os actos normativos (previstos no
artigo 143 da CRM).
 Já o artigo 214 da CRM proíbe aos tribunais a aplicação de leis (lei
em sentido material) e princípios ofensivos à CRM. Destes preceitos,
resulta que ficam excluídos do controlo jurisdicional de
inconstitucionalidade por exemplo os actos praticados por
particular, para os quais, haverá outro regime de
 controlo de legalidade.
Continuação…

 Inconstitucionalidade e ilegalidade
 O termo legalidade pode-se usar para referir ao mérito ou
conformidade do poder com o Direito a que esse poder se
subordina. É o que pode resultar do artigo 3 da CRM onde se refere
que a República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado
no pluralismo de expressão, na organização politica democrática,
no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do
Homem”, para significar que a legalidade do Estado seria a
vinculação deste ao regime do Estado de direito democrático,
que implica, dentre outros, a submissão aos princípios democrático,
de legalidade (stricto sensu), etc.
Continuação…

 Inconstitucionalidade e hierarquia
 A Constituição prevalece sobre as normas que imediatamente a
seguem. Estas sobrepõem-se sobre as restantes normas
infraconstitucionais que entretanto não se subordinam
directamente à constituição. As normas sobre a produção jurídica
prevalecem sobre as normas de produção jurídica. Os actos
normativos sobrepõem-se aos actos concretos por si regidos. As leis
sobrepõem-se aos regulamentos. Os actos de função jurisdicional e
politica sobrepõem-se aos actos de função administrativa.
Continuação…
 A hierarquia entre as normas em Moçambique pode se
estabelecer da seguinte forma: a Constituição ocupa uma posição
suprema sobre todas as restantes normas do ordenamento.
 As normas de valor acrescentado sobrepõem-se às normas
ordinárias, estas sobrepõem-se aos decretos do conselho de
ministros. Os decretos do Conselho de Ministros prevalecem sobre
os diplomas ministeriais.
Continuação…
 Diferentes tipos e juízos de inconstitucionalidade
 A inconstitucionalidade resulta de um vício, mas ela própria não é
um vício. A inconstitucionalidade pode determinar uma invalidade,
mas não necessariamente. Os tipos de inconstitucionalidade ou
juízos de inconstitucionalidade a apontar são:
inconstitucionalidade por acção ou por omissão,
inconstitucionalidade total ou parcial, inconstitucionalidade
 material ou formal, orgânica, inconstitucionalidade originária ou
 superveniente, inconstitucionalidade presente ou pretérita,
 inconstitucionalidade antecedente ou consequente.
Continuação…
 - Inconstitucionalidade por acção ou positiva
 - Inconstitucionalidade por omissão ou negativa
 - Inconstitucionalidade total
 - Inconstitucionalidade parcial:
 - Inconstitucionalidade material:
 - Inconstitucionalidade formal:
 - Inconstitucionalidade orgânica
 - Inconstitucionalidade orgânica
 - Inconstitucionalidade superveniente:
 - Inconstitucionalidade presente:
 - Inconstitucionalidade pretérita:
 - Inconstitucionalidade antecedente, ETC, ETC…..
11. UNIDADE – ESTRUTURAS
ORGANIZATORIAS E FUNCIONAIS
 Noção de direito constitucional organizatório
 Direito constitucional organizatório é o conjunto de princípios e
 regras constitucionais que regulam a formação, as funções e
 competências dos órgãos constitucionais e definem a forma e a
 actividade desses órgãos.
 O direito constitucional organizatório classifica-se em (i) direito
 organizatório formal e materialmente constitucional e (ii) direito
 organizatório materialmente constitucional.
 Direito organizatório material e formalmente constitucional:
 compreende as regras e princípios organizatórios expressamente
 previstos na Constituição.
Continuação…

 Direito organizatório materialmente constitucional:


 compreende as regras e princípios organizatórios relevantes, mas
 não expressamente previstos na constituição, exemplos: leis
 eleitorais, regimento da Assembleia da Republica, etc.
Os conceitos operatórios: competência, tarefa, responsabilidade,
procedimento e controlo
 Caracterização sumária: definição de termos
 Poderes: o termo poder é usado, nalgumas constituições para
 significar os órgãos do Estado; noutras vezes usa-se os termos
 poder politico, órgãos de soberania, poderes do Estado. Em termos
 rigorosos, quando se fala de poderes do Estado, refere-se aos
 poderes legislativo, executivo e judicial; “os poderes são sistemas
 ou complexos de órgãos aos quais a Constituição atribui certas
 competências para o exercício de certas funções”. A CRM
 utiliza no título V o termo “ poder politico” e no artigo 133, órgãos
 de soberania”.
 Competência: é o “poder de acção e de actuação atribuído aos
 vários órgãos e agentes constitucionais com o fim de prosseguirem
Continuação…
 as tarefas de que são constitucional ou legalmente incumbidos”.
 A competência implica: (i) que ao órgão lhe seja conferida uma
 tarefa e lhe sejam dados os meios de acção (poderes) necessários
 para a realização da tarefa, (ii) a delimitação do âmbito de actuação
 de um órgão ou agente em relação aos restantes órgãos. Define os
 limites de actuação dos órgãos.
 Função: a função pode ser encarada como actividade ou como
 poder do Estado; no entanto, segundo Gomes Canotilho, tendo em
 conta a ordenação material das funções do Estado, se concebe a
 função como relação referencial, isto é, função “é uma relação de
 referencial entre uma norma de competência e os fins dessa mesma
 norma”.
Continuação…
 Tarefa: é uma missão constitucionalmente definida para que seja
 cumprida pelos órgãos aquém foi atribuído poderes ou
 competências. A competência conferida a um órgão constitui um
 meio para a realização da tarefa.

 Controlo: é a fiscalização que se faz às actividades dos órgãos, e


 pode traduzir-se em controlo primário ou subjectivo, que incide
 sobre os próprios titulares dos órgãos, ou controlo secundário ou
 objectivo, que incide sobre os actos dos órgãos.

 Representação: do ponto de vista organizatório-funcional, a


 representação politica consiste num esquema de selecção
baseado na eleição dos governantes.
Continuação…

 Competência
 Podem se destacar as seguintes formas de revelação e classificação das
competências:
 (i) competência legislativa, executiva, judicial,
 (ii) competências constitucionais e competências legais,
 (iii) competências exclusivas, competências concorrentes e
competências-quadro,
 (iv) competências implícitas e competências explicitas,
 (v) competências estaduais e competências comunitárias (para os Estados
que fazem parte da Comunidade Europeia).
Responsabilidade
 O termo responsabilidade constitucional pode ser usado em vários
 sentidos, designadamente: (i) para referir a responsabilidade civil
das entidades públicas, (ii) responsabilidade politico-criminal dos
titulares dos cargos políticos e (iii) responsabilidade politica.
 O sentido que aqui interessa é o da responsabilidade
politicoconstitucional, que, sendo independente da existência de
culpa pessoal, dolo ou negligência, implica a responsabilidade
pelas disfunções verificadas nos serviços. exemplo, um ministro
pode responder politicamente pelas disfunções no serviço, mesmo
quando não haja lugar a responsabilidade criminal, civil ou
disciplinar.
Princípio da separação e forma de governo
 Forma de governo
 A forma de governo está muito relacionada com o principio de
 separação e interdependência dos órgãos de soberania. Não
cabe aqui a caracterização das formas de governo sob ponto de
vista politico-ideologico184, mas apenas pretende-se visualizar que
a forma de governo influi na definição e concretização do
principio da separação e interdependência dos órgãos.
 Órgãos constitucionais
 O conceito de órgãos constitucionais, em sentido amplo, refere-se
 a todos os órgãos mencionados na Constituição e engloba órgãos
 de soberania e outros órgãos do Estado.
Continuação…

 Órgãos constitucionais e direcção política


 O relacionamento institucional entre os órgãos de soberania
permite aferir a forma de governo constitucionalmente constituido,
nomeadamente, o modo de organização adoptado para a
realização dos fins constitucionalmente normativizados.

 Funções de direcção politica: é “a conformação dos objectivos


 politico-constitucionais mais importantes e a escolha dos meios
 ou instrumentos idóneos e oportunos para os prosseguir”. E esta
 função é exercida pelos órgãos de soberania.
ESTRUTURA E FUNÇÃO DOS ÓRGÃOS DE SOBERANIA
MOÇAMBICANA POLITICAMENTE CONFORMADORES
 Posição jurídico-constitucional
 O Presidente da Republica (PR) é um órgão constitucional de
 soberania, uma vez que, não só é mencionado na Constituição
 (artigo 133 da CRM), como também encontra o seu estatuto
 jurídico-constitucional expresso na CRM (artigo 146 e ss).

 O PR é o Chefe de Estado (artigo 146 n°1), porquanto representa


 juridicamente o Estado nos planos interno e internacional e nas
 dimensões de permanência, continuidade e direcção do Estado
 (cf. Artigo 7 da Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados.
Continuação…
 O PR é sim guardião da Constituição (cf. Artigo 146 n°2 da CRM),
na medida em que está vinculado a defender e fazer cumpri-la, e
como tal, toma decisões politico-constitucionais com vinculação
definitiva, e não é mero guardião da Constituição no sentido
clássico de Carl Schmitt, em que é neutro.
 Nem é um super-poder, porquanto a função de PR é
interdependente e limitada por outras funções, tais como a
 legislativa e a judicial.
Os poderes do Presidente da República
 Poderes próprios e poderes partilhados
 Dentre os poderes próprios do PR podem se indicar os seguintes:
 a dissolução da AR (artigo 188 da CRM), nomear ministros,
viceministros (artigo 160 n°2 al. a), celebrar tratados internacionais
 (artigo 162 al. b).
 Entre os poderes partilhados, pode-se indicar a decisão sobre a
 realização do referendo, mediante proposta da AR (cf. Artigo 136
 da CRM).
 Direcção política
 Uma das funções de direcção politica do PR é a dissolução da
 AR, demissão do Primeiro-Ministro, declaração do estado-de-sítio
 e promulgação de leis.
A Assembleia da República

 Posição jurídico-constitucional
 O artigo 168 n°1 da CRM estabelece que “a Assembleia da
 República é uma assembleia representativa de todos os cidadãos
 moçambicanos”. 2. “o deputado representa todo o país e não
 apenas o círculo pelo qual é eleito”, o que significa que este órgão
 de soberania representa tanto aos cidadãos que participaram no
 sufrágio quanto aos que não tomaram parte.
Continuação…
 Actualmente a relação entre deputado-eleitor é feita
 principalmente em termos triangulares, designadamente: partido
 vs eleitores – partido vs deputados – deputado vs eleitores, uma
 vez que o eleitorado não escolhe directamente os deputados, mas
 os escolhe através da eleição do respectivo partido, isto é, a
 eleição do deputado é feita por mediação partidária (cf. Artigo
 170 da CRM), o que poderia ser conotado como um mandato
 imperativo, no entanto, o mandato é sempre livre.
Continuação…

 Função legislativa
 É a função de fazer leis. É o órgão legiferande primário, porquanto
não exerce em exclusivo essa função, uma vez que o Conselho de
Ministros produz decretos-leis e decretos, os ministros produzem
diplomas ministeriais e as autarquias locais são dotadas de poder
regulamentar. Em determinadas matérias assiste-se uma reserva
legislativa absoluta, pois só a AR pode legislar, não podendo o
Governo legislar (por exemplo, as indicadas no n°2 do artigo 179
da CRM). Noutras matérias pode haver reserva legislativa relativa,
casos em que o Governo pode legislar (cf. n°3 do artigo 179 da
CRM).
Função de controlo

 Essa função política de controlo realiza-se através de inspecção e


 de fiscalização. Dentre outros os actos típicos de controlo tem
 sido os seguintes: perguntas, interpelações, inquéritos, petições e
 moções de censura. Note-se que esse é um controlo politico e não
 jurídico.

 Função de fiscalização
 Essa função, que é mais profunda que o mero controlo politico,
 manifesta-se através do controlo dos estados de necessidade
 constitucional, controlo dos actos do governo, controlo das contas
 e orçamento do Estado, etc.
Continuação…
 Função autorizante
 A função de autorizar manifesta-se, entre outros exemplos, nas
seguintes alíneas do n°2 do artigo 179 da CRM: g), j), p),
nomeadamente, sancionando a declaração dos estados de
necessidade, deliberando o programa do Governo e autorizando
o governo a contrair empréstimos, respectivamente. Alguns autores
têm qualificado essa função da AR como sendo actos de
codecisão.

 Função de representação
 Traduz-se em a AR representar a todos os cidadãos
moçambicanos. Essa função tem se notado igualmente na
“parlamentarização”das funções que classicamente pertenciam
exclusivamente aos monarcas ou chefes de Estado,
nomeadamente, a necessidade de ratificação dos tratados
 internacionais, o sancionamento do estado de sítio, etc.
Continuação…
 O Governo
 O termo governo comporta vários significados, designadamente,
 (i) como complexo organizatório do Estado (conjunto de órgãos)
 com competência de direcção politica (ex: forma de governo); (ii)
 conjunto de todos os órgãos que desempenham tarefas e funções
 não enquadráveis no poder legislativo e judicial (ex: poder
 executivo); (iii) órgão constitucional de soberania com
 competência para a condução da politica geral do país e
 superintende na administração publica197 (cf. artigo 203 da
 CRM). É este ultimo sentido que interessa.
Continuação…
 O principio da colegiabilidade impõe a definição de linhas gerais
da politica pelo Conselho de Ministros e a obrigatoriedade deste
Conselho executar essa política.

 Principio da solidariedade significa que cada membro do governo


não só é responsável pelos seus actos, como também é
responsável pela política geral do governo, incluindo a parte
 executada por outros membros do governo (cf. artigo 209 da
 CRM).
Continuação…

 A responsabilidade politica do governo


 Responsabilidade política perante a Assembleia da República
 Nos termos dos artigos 202 e 207 da CRM o Conselho de Ministros,
para alem de responder perante o PR, também responde perante
AR, cabendo ao Primeiro-Ministro representar o Governo perante a
AR (cf. artigo 206 da CRM).

 Responsabilidade política perante o Presidente da República


 Nos termos do artigo 207 da CRM o Conselho de Ministros responde
politicamente perante o PR, e nos do artigo 208 cada membro do
Conselho de Ministros responde individualmente perante o PR e
perante o Primeiro-Ministro.
Continuação…
 As funções do governo
 O Governo exerce funções politicas, legislativas e Administrativas.

 A função politica ou de governo “é um complexo de funções


 legislativas, regulamentares, planificadoras, administrativas e
 militares, de natureza económica, social, financeira e cultural,
 dirigidas à individualização e graduação dos fins
 constitucionalmente estabelecidos.
 A função politica é acompanhada de uma grande margem de
 liberdade de conformação, isto é, de discricionariedade, dai que
 “governar ou fazer politica implica, iniciativa, coordenação,
 combinação, planificação e liberdade de conformação.
Continuação…

 Função legislativa
 O Governo tem competência legislativa e regulamentar, traduzida
 em produção de decretos-leis e decretos do Conselho de Ministros.
Os regulamentos podem ser executivos ou autónomos.
 Cf. 210, 204 e 143 da CRM.

 Funções administrativas
 Nos termos do artigo 203 da CRM o Conselho de Ministros assegura
a administração do País. Entretanto, a destrinça entre a função
politica e administrativa não é linear.
O Conselho de Estado

 O Conselho de Estado, apesar de ser órgão do Estado, não é


órgão de soberania (cf. artigo 133 da CRM), é sim, um órgão
político de consulta do Chefe de Estado, criado na revisão
constitucional operada em 2004 (artigos 164 – 167 da CRM.
 É composto pelo Presidente da AR, Primeiro-Ministro, Provedor
 de Justiça, antigos PR não destituídos, antigos presidentes da AR,
 7 personalidades de mérito eleitas pela AR, 4 personalidades
 designadas pelo PR e o Segundo Candidato mais votado ao cargo
 de PR (cf. artigo 164 n°2 da CRM).
 As competências do Conselho de Estado constam do artigo 166
 da CRM e funciona nos termos definidos no artigo 167 da CRM.
 FIM DO MODULO

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