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A Quem pertence os nossos genes?

A favor e contra

A informação genética "mexe" com alguns dos nossos valores mais


importantes, por vezes contraditórios:

 o direito a decidir sobre a nossa vida;


 o direito à privacidade e à
confidencialidade;
 o direito a trabalhar, a ter uma casa e a
ser um membro activo da sociedade;
 o direito a recusar saber;
 o direito à não discriminação;
 a responsabilidade relativamente a
terceiros;
 os interesses das entidades patronais e
das seguradoras.

A seguir são apresentadas algumas das mais importantes questões e


dilemas éticos levantados pela informação genética.

A privacidade e confidencialidade porque "estes genes são


meus"
Um dos argumentos mais usados em defesa da confidencialidade
afirma que a nossa informação genética faz parte de nós próprios e
deve ser tratada como qualquer outro tipo de informação pessoal,
sujeita às mesmas regras de confidencialidade.

Confidencialidade por medo da


discriminação
Alguém que tenha uma condição genética
conhecida poderá sofrer discriminações quer na
compra de casa quer no emprego, por exemplo.

O receio de ser discriminado constitui uma razão


importante para uma pessoa não autorizar o
acesso de terceiros sem consentimento prévio à
informação genética.

No entanto… será que a privacidade abrange o círculo da família?


Por vezes, os testes genéticos envolvem directamente outros
membros da família e, por essa razão, cruzam-se as esferas da
confidencialidade individual. Por forma a obter os necessários
consentimentos para a realização de testes, é essencial divulgar
alguns pormenores da doença.
E quando os resultados dos testes forem conhecidos, a quem
pertencem? Ao indivíduo? Ao indivíduo e ao cônjuge? A toda a
família?

Não merecemos todos ser protegidos?


Mesmo estando em risco de desenvolver no futuro uma doença
genética, não deveria ser possível obter um seguro de vida ou um
empréstimo bancário a um custo aceitável?

Mais: e se a longo prazo for descoberta uma cura? Seria aceitável


penalizar a pessoa agora? Não deveria a sociedade em geral cobrir
parte destes custos, com a constituição por exemplo de um fundo
financeiro para esse efeito?

Dilemas relacionados com as seguradoras


Por um lado, e ao contrário das doenças
infecciosas, as doenças genéticas existem com
uma incidência bastante estável na nossa
sociedade e há muito tempo. Não existe
nenhuma epidemia de situações genéticas e,
além disso, já aparecem nas tabelas utilizadas
pelas seguradoras para estabelecer os prémios.
Ou seja, os testes genéticos não trazem nada
de intrinsecamente novo relativamente ao que já
havia.

Por outro lado, é ou não verdade que se soubesse que tinha uma
doença genética teria tendência a fazer imediatamente um seguro de
vida? A uma escala global, seria isso justo para as companhias de
seguros?

Dilemas relacionados com o sigilo médico


Deverão os médicos revelar aos pacientes os resultados dos testes
genéticos relativamente a doenças para as quais não existe hoje uma
cura? Mesmo que o teste tenha sido feito por outro motivo qualquer?
Por exemplo, será que os pacientes testados relativamente ao estado
cardíaco deveriam ser informados do risco de contrair uma doença
genética para a qual a medicina actual pouco ou nada pode fazer?

Deviam os médicos considerar a informação genética como sendo


propriedade de toda a família? Note-se que neste caso, o conceito de
família é complicado, porque inclui aqueles que ainda não nasceram.
Poderá tal abrangência colocar em risco o sigilo médico, pelo menos
no sentido tradicional e individual?
Permanecer na ignorância por receio de penalizações futuras
Imagine, por exemplo, que um contrato de seguro exige que o
indivíduo assine uma declaração em como não tem conhecimento de
ser portador de nenhuma doença. Pode dar-se o caso das pessoas
não querem efectuar testes genéticos para não poderem ser acusadas
posteriormente de assinar declarações falsas (caso os testes dêem
resultados positivos). Uma pessoa nesta situação poderia muito bem
decidir permanecer ignorante, para não ser penalizada mais tarde.

Permanecer na ignorância, simplesmente porque saber traz


preocupações
Ter conhecimento de que se pode vir a desenvolver uma doença
genética traz preocupações: culpa, ansiedade, diminuição da auto-
estima, um estigma social e uma possível discriminação a nível social
e profissional.

Permanecer na ignorância por razões pessoais


O simples facto de se saber que se é portador de um
gene causador de uma doença na idade adulta causa
naturalmente ansiedade e depressão. Além disso,
mesmo se os resultados de um teste genético fossem
negativos, algumas pessoas poderiam viver a reacção
normalmente conhecida como "culpa do sobrevivente,"
à medida que contemplam as eventuais perspectivas
de outros familiares com menos sorte.

Estas reacções podem variar de pessoa para pessoa.


Somos diferentes na forma como lidamos com as
desilusões e tragédias das nossas vidas.

No entanto, será uma atitude responsável permanecer na


ignorância?
Caso um indivíduo sofra da doença de Huntington, o seu filho terá
50% de probabilidades de também contrair esta doença. Se a irmã,
mãe e tia de uma mulher sofrerem de cancro da mama, então é
provável que a mulher pertença a um grupo de risco mais elevado de
contrair o cancro da mama do que a população em geral. Será
responsável permanecer ignorante?

Deveria ser instituído o direito a recusar "ser testado"?


Por outro lado, será que deveria existir o direito a "não fazer" rastreios
genéticos? Os testes genéticos deverão ser incluídos nos chamados
"cuidados básicos de saúde"? Será que o direito que as pessoas têm
de recusar o tratamento inclui o direito de recusar os testes genéticos?
Contudo, será esta uma atitude responsável?
Estas perguntas não têm resposta clara.
ogm
O Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Miguel d'Escoto Brockmann,
falou no Encontro de Alto Nível relativo aos Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio das Nações Unidas, a 25 de Setembro de 2008, em Nova Iorque. Entre
outros pontos, afirmou:
"O objectivo essencial da comida, que é de alimentar pessoas, foi subordinado aos
interesses económicos de meia dúzia de empresas multinacionais que monopolizam
todas as fases da produção alimentar, desde as sementes às grandes cadeias de
distribuição, e elas têm sido as principais beneficiárias da crise alimentar mundial.
Olhando para os números de 2007, que foi quando a crise começou, mostra que
empresas como a Monsanto e a Cargill, que controlam o mercado dos cereais,
tiveram subidas nos lucros da ordem dos 45% e 60%, respectivamente; as
principais empresas de fertilizantes químicos, como a Mosaic Corporation, uma
subsidiária da Cargill, duplicaram os seus lucros num único ano."

Os alimentos transgénicos, ou plantas geneticamente modificadas,


têm sido apresentados como solução para tudo: fome no mundo,
alterações climáticas, agricultura química, doenças e subnutrição...
Mas a verdade pode ser bem diferente, e as razões abaixo, entre
outras, justificam a proibição pura e simples destes frutos da
engenharia genética.

1. Os transgénicos não resolvem a crise alimentar

"A crise climática foi usada para promover os biocombustíveis, o que ajudou a criar a crise alimentar. E agora a

crise alimentar está a ser usada para dar um novo fôlego à indústria da engenharia genética."*1

Daniel Howden, correspondente em África do jornal britânico The Independent

"O meu lado cínico acha que eles estão a usar a actual crise alimentar e energética como mola para impulsionar

os transgénicos a nível político. Percebe-se porque é que o fazem, mas o problema é que essas alegações de

que os transgénicos vão resolver os problemas da seca ou da fome no mundo não passam de palermice."*2

Prof Denis Murphy, Director de Biotecnologia da Universidade de Glamorgan, Reino Unido

• Um relatório de 2008 do Banco Mundial*3 concluiu que a produção de


biocombustíveis é responsável pela subida dos preços dos alimentos a nível
mundial. A Monsanto, a maior multinacional dos transgénicos, tem estado na
primeira linha a fazer pressão política a favor deste tipo de energia, que usa os
alimentos para alimentar carros, e não pessoas. Ao mesmo tempo, enquanto a
crise atingia o auge, a empresa conseguia lucros inimagináveis com a venda de
sementes e pesticidas a preços inflacionados. Para 2008 a Monsanto já anunciou
lucros líquidos de 11 mil milhões de dólares - em relação a 2007 isto representa um
aumento de três mil milhões de dólares!*4 Para rematar, a mesma empresa tem
defendido publicamente os (seus) transgénicos como solução para a crise alimentar
que ajudou a criar.

2. Os transgénicos não aumentam a produção

"Vamos falar claro. Neste momento [2008], não há variedades transgénicas em uso que tenham melhoria

intrínseca de produtividade. Da mesma forma, não há qualquer transgénico disponível que resista à seca, use

menos fertilizantes ou proteja o solo. Nem um."*5

Dr Doug Gurian-Sherman, previamente especialista em biotecnologia da Agência de Protecção Ambiental do

governo americano e consultor em transgénicos da Autoridade de Segurança Alimentar (FDA) do governo

americano.

• De acordo com números oficiais do governo americano,*6 não há transgénicos à


venda que sejam mais produtivos do que as variedades de ponta convencionais.
Apesar das promessas, o transgénico mais cultivado no mundo, a soja, tem uma
produtividade reduzida face à soja convencional que pode atingir os 10% de quebra
(400 kg por hectare).*7 O maior estudo europeu*8 sobre a matéria, realizado em
Espanha, verificou que há mais regiões onde o milho transgénico não dá mais lucro
face ao convencional do que o contrário.

3. Os transgénicos aumentam o uso de pesticidas

"A promessa era de que íamos usar menos químicos e obter mais produção. Mas deixem-me dizer-vos que

nada disso é verdade."*9

Bill Christison, presidente da Associação Americana de Agricultura Familiar

• Dados publicados pelo Departamento de Agricultura americano*10 mostram que


nos Estados Unidos as culturas transgénicas conduziram a um aumento - e não a
uma redução - da aplicação de pesticidas, quando comparadas com culturas
convencionais.
4. Há maneiras melhores de alimentar o mundo

"Actualmente já sabemos que quase todos os problemas que [os transgénicos] dizem que vêm resolver podem

ser solucionados em poucos dias, se houver vontade política adequada."

Hans Herren, director geral do Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia do Insecto, Quénia, e vencedor do

Prémio Mundial da Alimentação de 1995

• Em 2008 foi publicado o maior estudo*11 jamais realizado sobre a agricultura


mundial, financiado pelas Nações Unidas e Banco Mundial. No seu relatório final,
compilado por mais de 400 especialistas de todo o mundo ao longo de quatro anos
e ratificado já por 58 países, concluiu-se que os transgénicos têm pouco a oferecer
à agricultura no que toca aos grandes desafios futuros: reduzir a pobreza, matar a
fome, fazer frente às alterações climáticas e preservar a biodiversidade. Ainda
segundo este documento, existem soluções melhores que podem desde já ser
postas em prática. Haja vontade política.

5. Estão disponíveis outras e melhores tecnologias agrícolas

"Está a acontecer uma revolução silenciosa na área do mapeamento dos genes, que nos ajuda a entender

melhor as variedades agrícolas. Isto já é uma realidade actualmente, e pode ter muito mais impacto na

agricultura [do que os transgénicos]."*12

Prof John Snape, director do departamento de genética agrícola do Centro John Innes, Reino Unido

• A gestão integrada, o recurso a variedades tradicionais e outras metodologias de


baixo consumo de recursos, incluindo a agricultura biológica, têm-se mostrado
altamente eficazes no controlo de pragas, na minimização da poluição e na
obtenção de uma produtividade sustentável ao longo do tempo.*13 Outras
abordagens não-transgénicas para o melhoramento de variedades, como a selecção
assistida por marcadores, têm grande potencial para contribuir para a melhoria
futura da produtividade sem os perigos que a engenharia genética implica.*14

6. Está por demonstrar a segurança dos alimentos transgénicos

"Estamos a ser confrontados com a tecnologia mais poderosa que o mundo alguma vez conheceu, que está a

ser generalizada rapidamente e sem praticamente nenhuma preocupação quanto às suas consequências."

Dra Suzanne Wuerthele, toxicóloga da Agência de Protecção Ambiental do governo americano

• A engenharia genética é uma técnica rudimentar e imprecisa de introduzir


material genético (de vírus, bactérias, ou mesmo genes sintéticos) em plantas
agrícolas. As consequências biológicas são, por definição, imprevisíveis, e nenhum
dos transgénicos em circulação em Portugal foi objecto de qualquer estudo sobre os
seus efeitos na saúde humana, quer a longo prazo, quer nas próximas gerações,
apesar de serem testes obrigatórios previstos na legislação europeia. Alguns
estudos preliminares de curta duração já detectaram efeitos preocupantes.*15
Existe um único estudo*16 sobre os efeitos directos em pessoas que comem
transgénicos, onde se verificou que as bactérias do intestino incorporaram os
transgenes provenientes da soja.

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