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Barroco

Barroco
Prof. Dr. Alan Brasileiro
Michelangelo Caravaggio (1597),
Medusa, Óleo sobre tela, 60 x 55 cm,
Galleria degli Uffizi.
Michelangelo Caravaggio (1599),
Davi com a cabeça de Golias,
Óleo sobre tela, 110 x 91 cm,
Museu do Prado.
Michelangelo Merisi
Caravaggio
(Milão, 1571, - Porto Ercole 1610 )

Foi um pintor italiano, o mais


revolucionário artista do Barroco,
reconhecido pela grande
expressividade de suas obras e pelo
espetacular contraste entre luz e
sombra.
A pintura de Caravaggio, uma das
mais originais da história da arte,
exibiu um realismo cru, desprezando
a beleza ideal para encher suas telas
religiosas de tipos populares
encontrados nas ruas de Roma.
Artemísia Gentileschi
(1614-1620), Judite
decapitando Holofernes,
oleo sobre tela, 125,5 x
158,8 cm, Museu de
Capodimonte, Galleria
degli Uffizi.
Artemísia Gentileschi
(1613), Judite e sua criada,
óleo sobre tela, 114 x 93,5
cm, Palácio Pitti, Florença,
Itália.
Artemísia Gentileschi (1610),
Susana e os anciões, óleo
sobre tela, 114 x 93,5 cm,
Schloss Weissenstein,
Pommersfelden, Alemanha.
Artemísia Gentileschi
(Roma, 1593, - Nápoles 1656 )

Artemisia foi uma pintora da escola


Caravaggesca, considerada uma
revolucionária ícone feminista e uma
artista inovadora pela energia
avassaladora que ela sabia infundir
na representação da figura feminina.
UnB (2019)

A pintura Susana e os anciãos (1610), de Artemisia Gentileschi, retrata a história


bíblica de Susana, narrada no Livro de Daniel, no Antigo Testamento. Segundo
o texto, Susana era uma mulher bela, casada com Joaquim, e sua casa era
frequentada por dois juízes anciãos, que a cobiçavam secretamente. Certo dia,
Susana se preparava para tomar banho no jardim da casa, sem perceber que lá
estavam escondidos os dois anciãos. Logo depois de as criadas que a
acompanhavam saírem do recinto e fecharem as portas do jardim, Susana foi
abordada pelos anciãos, que a chantagearam com a ameaça de denunciá-la
como adúltera caso ela não se entregasse a eles.

Considerando o texto e a obra Susana e os anciãos, de Artemisia Gentileschi,


apresentados anteriormente, julgue os itens a seguir
1 As expressões fisionômicas dos anciãos, apesar de grotescas, não contrastam
com a beleza de Susana, haja vista que a formosura da jovem é encoberta por sua
feição de repugnância, o que indica que a obra não apresenta uma importante
característica da estética barroca: o dualismo beleza-grotesco.

2 Ao imprimir uma postura de repulsa e aflição na Jovem abordada pelos dois


anciãos, a obra de Artemisia Gentileschi suscita reflexão sobre assédio sexual.

3 A escolha compositiva do quadro reforça a opressão vivida por Susana, a


exemplo do fato de os dois anciãos estarem representados em posição superior à
da personagem, o que contribui para a criação de um efeito de peso sobre a
mulher.

4 A obra Susana e os anciãos apresenta as seguintes características do Barroco: o


contraste entre luz e sombra para a criação de um efeito estético, o dinamismo do
movimento e o emprego da linha curva.
1 As expressões fisionômicas dos anciãos, apesar de grotescas, não contrastam com a
beleza de Susana, haja vista que a formosura da jovem é encoberta por sua feição de
repugnância, o que indica que a obra não apresenta uma importante característica da
estética barroca: o dualismo beleza-grotesco.

2 Ao imprimir uma postura de repulsa e aflição na Jovem abordada pelos dois


anciãos, a obra de Artemisia Gentileschi suscita reflexão sobre assédio sexual.

3 A escolha compositiva do quadro reforça a opressão vivida por Susana, a exemplo


do fato de os dois anciãos estarem representados em posição superior à da
personagem, o que contribui para a criação de um efeito de peso sobre a mulher.

4 A obra Susana e os anciãos apresenta as seguintes características do Barroco: o


contraste entre luz e sombra para a criação de um efeito estético, o dinamismo do
movimento e o emprego da linha curva.

Do Renascimento ao Barroco

Renascimento Barroco
Razão, composição Transgressão das
motivada / regras clássicas de
modelada de acordo composição;
com os padrões da Renovação do olhar
arte clássica dos/as artistas
“ A interpretação sobre o Barroco permaneceu,
durante séculos, vinculada a uma postura iluminista
construída pelos artista do estilo que o sucedeu: o
Neoclassicismo
Filippo Bruneslleschi (1430),
Capela Pazzi, Florença. Giacomo dela Porta (1575 -1577),
Igreja de Il Gesù, Roma.
Giacomo dela Porta
(1575 -1577), Igreja de
Il Gesù, Roma.
Francesco
Borromini(1652
-1672), Igreja
de
Sant’Agnese
in Agone ,
Roma.
Francesco
Borromini(1652 -
1672), Igreja de
Sant’Agnese in
Agone , Roma.
Itália, meados do século XVI

Reforma Protestante X Contrarreforma

Martinho Lutero Companhia de Jesus


missão
Barroco catequética

educar e
Contexto moralizar
Histórico artes como
artifício

linguagem
barroca
“ A interpretação sobre o Barroco permaneceu,
durante séculos, vinculada a uma postura iluminista
construída pelos artista do estilo que o sucedeu: o
Neoclassicismo
Annibale Carracci (1599 -1600),
Pietá, Retábulo; óleo sobre tela,
156 x 149 cm; Museo di
Capodimonte, Nápoles.
Michelangelo
Caravaggio (1602-3),
Tomé, o incrédulo,
Óleo sobre tela, 107 x
146 cm, Sanssouci,
Alemanha.
Brasil, do século XVII até o século XVIII

Aprofundamento da empresa colonial


portuguesa

Ciclo do açúcar (Nordeste)


Ciclo do ouro (Minas Gerais)
Barroco

Contexto Urbanização
Histórico
Intensificação e aumento da
produção cultural na colônia
Dramatização da arte

Uso dos contrastes

Criação de uma representação pictórica


Barroco baseada no / na...
Jogo de
Ilusão de Forma
Características luz e
distância aberta
Estéticas sombra

Apelo à recepção
Gian Lorenzo Bernini (1645-52), O
êxtase de Santa Teresa, Mármore,
altura 350 cm; Capela Cornaro, igreja
de Santa Maria dela Vittoria, Roma
Aleijadinho, Cristo no
Horto das Oliveiras, na Via-
Sacra de Congonhas, Minas
Gerais.
Diego Velázquez (1656),
As meninas, óleo sobre
tela, 318 x 276 cm, Museu
do Prado.
ENEM (2015 – SEGUNDA APLICAÇÃO)

Na região mineira, a separação entre cultura popular (as artes mecânicas) e erudita (as
artes liberais) é marcada pela elite colonial, que tem como exemplo os valores
europeus, e o grupo popular, formado pela fusão de várias culturas: portugueses
aventureiros ou degredados, negros e índios. Aleijadinho, unindo as sofisticações da
arte erudita ao entendimento do artífice popular, consegue fazer essa síntese
característica deste momento único na história da arte brasileira: o barroco colonial.

MAJORA, C. BrHistória, n. 3, mar. 2007 (adaptado).


No século XVIII, a arte brasileira, mais especificamente a de Minas Gerais, apresentava a
valorização da técnica e um estilo próprio, incluindo a escolha dos materiais. Artistas
como Aleijadinho e Mestre Ataíde têm suas obras caracterizadas por peculiaridades que
são identificadas por meio

a) do emprego de materiais oriundos da Europa e da interpretação realista dos objetos


representados.
b) do uso de recursos materiais disponíveis no local e da interpretação formal com
características próprias.
c) da utilização de recursos materiais vindos da Europa e da homogeneização e
linearidade representacional.
d) da observação e da cópia detalhada do objeto representado e do emprego de
materiais disponíveis na região.
e) da utilização de materiais disponíveis no Brasil e da interpretação idealizada e linear
dos objetos representados.
No século XVIII, a arte brasileira, mais especificamente a de Minas Gerais, apresentava a
valorização da técnica e um estilo próprio, incluindo a escolha dos materiais. Artistas
como Aleijadinho e Mestre Ataíde têm suas obras caracterizadas por peculiaridades que
são identificadas por meio

a) do emprego de materiais oriundos da Europa e da interpretação realista dos objetos


representados.
b) do uso de recursos materiais disponíveis no local e da interpretação formal com
características próprias.
c) da utilização de recursos materiais vindos da Europa e da homogeneização e
linearidade representacional.
d) da observação e da cópia detalhada do objeto representado e do emprego de
materiais disponíveis na região.
e) da utilização de materiais disponíveis no Brasil e da interpretação idealizada e linear
dos objetos representados.
Articulação da linguagem no texto
literário

Expressão das contradições humanas

Dualidades, Antítese,
oposições paradoxo
Barroco
Linguagem sinestésica e lúdica
Características
Estéticas Desperta simultaneamente a visão,
a audição e o tato
Suscita a participação do leitor /
espectador na construção dos
sentidos da obra
Triste Bahia! Ó Quão Dessemelhante
Gregório de Matos

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante


Estás, e estou do nosso antigo estado! Deste em dar tanto açúcar excelente
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante. Simples aceitas do sagaz brichote.

A ti tocou-te a máquina mercante, Oh se quisera Deus, que de repente


Que em tua larga barra tem entrado, Um dia amanheceras tão sisuda
A mim foi-me trocando, e tem trocado Que fora de algodão o teu capote!
Tanto negócio, e tanto negociante.

O filho d’algo em apuros não tolera o comerciante forâneo
nem o desenvolto mercador cristão-novo. O que está em
jogo não é uma forma irritada de consciência nacionalista
ou baiana, mas uma rija oposição estrutural entre a
nobreza, que desce, e a mercania, que sobe.

Alfredo Bosi

A linguagem barroca

Cultismo Conceptismo
Exercício retórico de Explicar um conceito
caráter lúdico e (uma ideia abstrata)
encantatório por meio de uma
linguagem concreta.
Gongorismo
Quevedismo
Jogo de
Palavras Jogo de Ideias

A linguagem barroca

Cultismo Conceptismo
Hipérbato Alegorias,
comparações e
Aliteração, metáfora
assonância e anáfora
Sequência discursiva
Disseminação e lógica.
recolho
UERJ (2017)
Ao valimento que tem o mentir

Mau ofício é mentir, mas proveitoso...


Tanta mentira, tanta utilidade
Traz consigo o mentir nesta cidade Perdi o principal, que eram verdades,
Como o diz o mais triste mentiroso. Perdi os interesses de estimar-me,
Perdi-me a mim em tanta soledade;
Eu, como um ignorante e um baboso,
Me pus a verdadeiro, por vaidade; Deram os meus amigos em deixar-me,
Todo o meu cabedal meti em verdade Cobrei ódios e inimizades...
E saí do negócio perdidoso. Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.
O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem
rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo
de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico.

O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas


vertentes. Identifique-a e justifique sua resposta.
O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem
rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo
de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico.

O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas


vertentes. Identifique-a e justifique sua resposta.

Vertente: conceptismo.

O poeta estabelece um jogo entre os conceitos de mentira e verdade por meio de um


raciocínio lógico, mostrando as consequências da opção pela verdade.
“ "Se gostas de afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam
culto, não me leias. Quando esse estilo florescia, nasceram as primeiras
verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me
entendiam comecei a ser ouvido. (...) Esse desventurado estilo que hoje se
usa, os que querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam
chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é
escuro, é negro (...) e muito cerrado. É possível que somos portugueses e
havemos de ouvir um pregador em português e não havemos de entender o
que diz?!"

Padre Antonio Vieira, “Sermão da Sexagésima”


Padre Antonio Vieira
(Lisboa, 1608, - Salvador, 1697 )

Aos sete anos vem para o Brasil com a


família; fixam-se na Bahia onde o pai passa a
exercer cargo na administração colonial.
Considerado um exemplo na Companhia de
Jesus, o padre passou a pregar, alcançando a
fama de inteligente, culto e admirável
homem, envolvido com os problemas do seu
tempo. Defendeu os índios contra a
escravidão, mas, “não protestou contra a
escravidão dos negras, apesar das frases
grandiosas que encontrou para comparar o
inferno ao engenho de açúcar.
Sermão da Sexagésima
Padre Antonio Vieira

Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas
esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo
isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas,
tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e
sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter
um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que
são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos
hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e
ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios; há de
ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo, há de ter frutos, que é o fruto o fim
a que se há de ordenar o sermão.
De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de haver
folhas, há de haver ramos; mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só
matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é
sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são versas. Se tudo são
varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem tudo
frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, à que
podemos chamar “árvore da vida”, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das
flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos; mas tudo isto
nascido e formado de um só tronco e esse não levantado no ar, senão fundado nas
raízes do Evangelho: Seminare semen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui
como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles.
ENEM PPL (2014)

Sermão da Sexagésima

Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois
se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em
um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que
se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra
não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a
palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da
palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero
começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a
vós, que aprendais a ouvir.

VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965.


No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para
tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por
objetivo principal

a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no
sermão.
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.
UNICAMP (2018) “O que é então o verossímil? Para encurtar: tudo aquilo em que a confiança
é presumida. Por exemplo, os juízes nem sempre são independentes, os médicos nem sempre
capazes, os oradores nem sempre sinceros. Mas presume-se que o sejam; e, se alguém afirmar
o contrário, cabe-lhe o ônus da prova. Sem esse tipo de presunção, a vida seria impossível; e é
a própria vida que rejeita o ceticismo.”

Olivier Reboul. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 97-98.

Considerando o segundo “Sermão da Quarta-feira de Cinza” (1673), de Antonio Vieira, é


correto afirmar que a presunção de confiança por parte do auditório cristão do século XVII
decorre da

a) habilidade política do pregador.


b) atenção disciplinada dos ouvintes.
c) crença na salvação e na danação eternas.
d) defesa institucional da Igreja Católica feita pelo clero.
Gregório de Matos
(Salvador, 1636 - Recife, 1696 )

O poeta mais importante do Barroco no


Brasil nasceu em dezembro de 1633 e
estudou no colégio dos Jesuítas de
Salvador na Bahia.
Em 1694, incomodou tanto os poderosos
da Bahia com seus poemas debochados,
que os amigos houveram por bem enviá-
lo para Angola, a fim de protege-lo.
Retornou do “exílio” no ano seguinte,
envolvido mais uma vez em enrascadas.
Teve de morar no Recife, lá
permanecendo até sua morte, aos 59
anos.

A poesia de Gregório de Matos

Sacra Lírica Satírica


Poemas em
comemoração a Explora tanto a
festas de idealização do Ridiculariza os
santos; amor quanto a membros da
psicologia sociedade
Poemas de amorosa.
reflexão moral.
Despede-se o Autor da Cidade da Bahia na Ocasião Em Que Ia
Degredado para Angola de Potência, Pelo Governador D. João
de Alencastre
Gregório de Matos

No Brasil, a Fidalguia
Adeus, Povo da Bahia, no bom sangue nunca está;
digo, canalha infernal: nem no bom procedimento:
e não falo da Nobreza, pois logo em quê pode estar?
tábula em que se não dá.
Porque o Nobre, enfim é nobre: Consiste em muito dinheiro,
quem honra tem, honra dá: e consiste em o guardar:
pícaros, dão picardias; cada um o guarde bem
e ainda lhes fica que dar. para ter que gastar mal.
Define a Sua Cidade
Gregório de Matos
há de dizer que esta terra
De dous ff se compõe de dous ff se compõe.
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder. Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
Recopilou-se o direito, errada a ortografia,
e quem o recopilou a grande dano está posta:
com dous ff o explicou eu quero fazer aposta
por estar feito, e bem feito: e quero um tostão perder,
por digesto, e colheito que isso a há de perverter,
só com dous ff o expõe, se o furtar e o foder bem
e assim quem os olhos põe não são os ff que tem
no trato, que aqui se encerra esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
Epílogos
Gregório de Matos

Que falta nesta cidade?................Verdade Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio


Que mais por sua desonra?...........Honra Quem causa tal perdição?.............Ambição
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha. E o maior desta loucura?...............Usura.
O demo a viver se exponha, Notável desventura
Por mais que a fama a exalta, de um povo néscio, e sandeu,
numa cidade, onde falta que não sabe, que o perdeu
Verdade, Honra, Vergonha. Negócio, Ambição, Usura.
Quais são os seus doces objetos?....Pretos Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas
Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos. Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.

Dou ao demo os insensatos, Os círios lá vêm aos centos,


dou ao demo a gente asnal, e a terra fica esfaimando,
que estima por cabedal porque os vão atravessando
Pretos, Mestiços, Mulatos. Meirinhos, Guardas, Sargentos.
Valha-nos Deus, o que custa,
o que El-Rei nos dá de graça,
E que justiça a resguarda?.............Bastarda que anda a justiça na praça
É grátis distribuída?......................Vendida Bastarda, Vendida, Injusta.
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Que vai pela clerezia?..................Simonia
E pelos membros da Igreja?..........Inveja
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.
E nos frades há manqueiras?.........Freiras O açúcar já se acabou?..................Baixou
Em que ocupam os serões?............Sermões E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu
Não se ocupam em disputas?.........Putas. Logo já convalesceu?.....................Morreu.

Com palavras dissolutas À Bahia aconteceu


me concluís na verdade, o que a um doente acontece,
que as lidas todas de um Frade cai na cama, o mal lhe cresce,
são Freiras, Sermões, e Putas. Baixou, Subiu, e Morreu.
A Câmara não acode?...................Não pode
Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.

Que haverá que tal pense,


que uma Câmara tão nobre
por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.
O Alegre Dia Entristecido
Gregório de Matos

O alegre dia entristecido,


O silêncio da noite perturbado, Soa a trombeta da maior altura,
O resplendor do sol todo eclipsado, A que vivos e mortos traz o aviso
E o luzente da lua desmentido. Da desventura de uns, de outros ventura.

Rompa todo o criado em um gemido. Acabe o mundo, porque é já preciso,


Que é de ti, mundo? onde tens parado? Erga-se o morto, deixe a sepultura,
Se tudo neste instante está acabado, Porque é chegado o dia do juízo.
Tanto importa o não ser, como haver sido.
Discreta e Formosíssima Maria
Gregório de Matos

Discreta e formosíssima Maria,


Enquanto estamos vendo a qualquer hora Goza, goza da flor da mocidade,
Em tuas faces a rosada Aurora, Que o tempo trota a toda ligeireza,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: E imprime em toda a flor sua pisada.

Enquanto com gentil descortesia Oh não aguardes, que a madura idade


O ar, que fresco Adônis te namora, Te converta em flor, essa beleza
Te espelha a rica trança voadora, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Quando vem passear-te pela fria:
Contemplando nas Cousas do Mundo Desde o Seu Retiro, lhe Atira
com Ápage, Como Quem a Nado Escapou da Tormenta
Gregório de Matos

Neste mundo é mais rico o que mais rapa:


Quem mais limpo se faz, tem mais carepa; A flor baixa se inculpa por tulipa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa: Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
O velhaco maior sempre tem capa. Mais isento se mostra o que mais chupa.

Mostra o patife da nobreza o mapa: Para a tropa do trapo vazo a tripa,


Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; E mais não digo, por que a Musa topa
Quem menos falar pode, mais increpa: Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
FUVEST (2022)
Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,


Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender, é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;


Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!


Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
No soneto, o eu lírico:

a) expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo


epíteto de “o Boca do Inferno”.
b) opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas
perturbações de foro íntimo.
c) explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar
expressão aos seus sentimentos.
d) estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da
natureza e da guerra.
e) revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de
seu sofrimento.
No soneto, o eu lírico:

a) expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo


epíteto de “o Boca do Inferno”.
b) opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas
perturbações de foro íntimo.
c) explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar
expressão aos seus sentimentos.
d) estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da
natureza e da guerra.
e) revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza
de seu sofrimento.
UPE (2022) O barroco é estilo ou será a alma do Brasil?

O chamado Século de Ouro, que vai de fins do século XVI a fins do seguinte, é um dos
momentos dourados e mais radiantes do Barroco, um estilo artístico que é também uma
expressão de vida, uma visão de mundo, uma maneira de sentir, de ver, de se vestir e até de
ser. Por isso, volta e meia a gente recorre a esse movimento procurando decifrar o país: será
o Brasil um país barroco e, portanto, meio difícil de entender?
Parece que sim. O Brasil não só nasceu culturalmente barroco, como o barroco é “a alma
do Brasil”, para citar o livro de Affonso Romano de Sant‟Anna sobre o tema. Graças ao estilo,
o país foi capaz de criar esplendores como Ouro Preto, erguer obras-primas como algumas
igrejas de Minas, Salvador, Recife e Olinda, e dar ao mundo um gênio como Aleijadinho. É
por causa do barroco que o visitante sente aquela vertigem, um quase delírio, uma febre do
ouro ao entrar na Igreja de São Francisco, em Salvador, e olhar para as paredes.
O barroco não foi. Ele ainda é, continua presente em quase todas as manifestações da
cultura brasileira, da arquitetura à pintura, da comida à moda, passando pelo futebol e pelo
corpo feminino. [...] Barroca é a técnica de composição que Villa-Lobos usou para criar suas
nove “Bachianas”. Barroco é o cinema de Glauber Rocha, é nossa exuberante natureza, é o
futebol de Pelé e de todos os que, driblando a racionalidade burra dos técnicos, preferem a
curva misteriosa de um chute ou o esplendor de uma finta. Afinal, o barroco é o estilo em
que, ao contrário do renascentista, as regras e a premeditação importam menos que a
improvisação. Quer coisa mais barroca que o Guga?
Há ainda certa resistência em aceitar o barroco como expressão de nossa alma. [...] Às
vezes se toma depreciativamente o estilo por seus excessos – confusão, ênfase e paradoxos.
Mas isso é barroquismo, não é barroco. A evolução etimológica ajuda a entender. Barroco,
na origem, designa uma pérola grande e com defeito – assim como um país que a gente
conhece.

Zuenir Ventura. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI156437-15518,00.html.


Acesso em: 16 ago. 2021. Adaptado.
Para defender seu ponto de vista, o autor do texto estabelece semelhanças entre o
movimento Barroco e o Brasil/o brasileiro. Segundo o autor, eles têm em comum o
fato de

a) serem muito complexos para explicar e valorizarem a improvisação.


b) produzirem artistas geniais e gostarem da confusão e dos paradoxos.
c) terem muita resistência e raiz etimológica com sentido de "pérola defeituosa".
d) explorarem a exuberância da natureza e produzirem cidades esplendorosas.
e) tenderem aos excessos e provocarem vertigem e delírios nos visitantes.
Para defender seu ponto de vista, o autor do texto estabelece semelhanças entre o
movimento Barroco e o Brasil/o brasileiro. Segundo o autor, eles têm em comum o
fato de

a) serem muito complexos para explicar e valorizarem a improvisação.


b) produzirem artistas geniais e gostarem da confusão e dos paradoxos.
c) terem muita resistência e raiz etimológica com sentido de "pérola defeituosa".
d) explorarem a exuberância da natureza e produzirem cidades esplendorosas.
e) tenderem aos excessos e provocarem vertigem e delírios nos visitantes.
UNICAMP (2021)

“Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas
partes são tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão
robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro.”

(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São Paulo: Nova
Alexandria, 1994, p. 79.)
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os
argumentos da pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas
características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.

Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no


sermão.

a) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo.


b) A repetição busca demonstrar aos fiéis o temor de uma vida longeva.
c) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o valor de cada etapa da vida.
d) A repetição busca demonstrar aos fiéis a insegurança de uma vida cristã.
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os
argumentos da pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas
características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.

Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido pelas repetições no


sermão.

a) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do


tempo.
b) A repetição busca demonstrar aos fiéis o temor de uma vida longeva.
c) A repetição busca sensibilizar os fiéis para o valor de cada etapa da vida.
d) A repetição busca demonstrar aos fiéis a insegurança de uma vida cristã.
UNICAMP (2021)

“O vento da vida, por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança; o vento da fortuna
pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade, que se afogue nela o mesmo vento
da vida.”

(Antônio Vieira, “Sermão de quarta-feira de cinza do ano de 1672”, em A Arte de Morrer. São Paulo: Nova
Alexandria, 1994, p. 56.)
No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira
recorre a uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.
Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.

a) A vida dos fiéis é comparável à tranquilidade da brisa em alto-mar.


b) A fortuna dos fiéis é comparável à força das intempéries marítimas.
c) A fortuna dos fiéis é comparável à felicidade eterna.
d) A vida dos fiéis é comparável à ventura dos navegadores.
No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira
recorre a uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.
Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.

a) A vida dos fiéis é comparável à tranquilidade da brisa em alto-mar.


b) A fortuna dos fiéis é comparável à força das intempéries marítimas.
c) A fortuna dos fiéis é comparável à felicidade eterna.
d) A vida dos fiéis é comparável à ventura dos navegadores.
UNICAMP (2021)

Peroração, do latim perorātio, peroratiōnis, de perorāre, significa concluir, arrematar,


acabar. Corresponde à parte final do sermão, caracterizada geralmente pela recapitulação,
pela amplificação de uma ideia e pela comoção do auditório. Sua finalidade última é
comover e mover os ouvintes, isto é, emocionar e mover o ânimo do público para a ação.

(Adaptado de Flávio Antônio Fernandes Reis, “Peroração”. Disponível em


www.edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/peroracao. Acessado em 06/10/2020.)

“Mortos, mortos, desenganai estes vivos! Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos
foram os vossos, quando entrastes e saístes pelas portas da morte. (...) Entre essas duas
portas se acha subitamente o homem no momento da morte, sem poder tornar atrás, nem
parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh que
transe tão apertado! Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!”

(Antonio Vieira, “Sermão de 1672”. Sermões de Quarta-feira de Cinza. A arte de morrer: São Paulo: Nova
Alexandria,1994, p. 65.)
a) Identifique e explique as duas estratégias retóricas utilizadas por Vieira ao
encaminhar-se para a conclusão do Sermão de 1672.
Vieira, através de vocativos começa por conclamar os mortos para que venham
informar os vivos sobre os pensamentos e sentimentos que experimentaram nos
momentos finais da sua vida, já que não podem recuar nem escapar da
inexorabilidade dessa instância. O uso de interjeições, “Oh que transe tão apertado!
Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!”, acentua o aspecto
trágico de todos os que não se preocuparam, em vida, em obedecer às leis da igreja
e estarão, por isso, sujeitos às penas do julgamento final.

b) Com que sentimentos o pregador busca sensibilizar os ouvintes? Que ação


procura estimular nos cristãos?
O pregador busca sensibilizar os ouvintes incutindo neles sentimento de ansiedade
e medo do castigo divino no momento em que já não existem condições de reparar
o mal que fizeram em vida. Com esse estilo de retórica, Vieira pretende sensibilizar
os ouvintes para a prática de uma vida terrena de acordo com os ensinamentos da
Igreja para alcançarem, depois da morte, a graça divina.

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