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Barroco
Prof. Dr. Alan Brasileiro
Michelangelo Caravaggio (1597),
Medusa, Óleo sobre tela, 60 x 55 cm,
Galleria degli Uffizi.
Michelangelo Caravaggio (1599),
Davi com a cabeça de Golias,
Óleo sobre tela, 110 x 91 cm,
Museu do Prado.
Michelangelo Merisi
Caravaggio
(Milão, 1571, - Porto Ercole 1610 )
Renascimento Barroco
Razão, composição Transgressão das
motivada / regras clássicas de
modelada de acordo composição;
com os padrões da Renovação do olhar
arte clássica dos/as artistas
“ A interpretação sobre o Barroco permaneceu,
durante séculos, vinculada a uma postura iluminista
construída pelos artista do estilo que o sucedeu: o
Neoclassicismo
Filippo Bruneslleschi (1430),
Capela Pazzi, Florença. Giacomo dela Porta (1575 -1577),
Igreja de Il Gesù, Roma.
Giacomo dela Porta
(1575 -1577), Igreja de
Il Gesù, Roma.
Francesco
Borromini(1652
-1672), Igreja
de
Sant’Agnese
in Agone ,
Roma.
Francesco
Borromini(1652 -
1672), Igreja de
Sant’Agnese in
Agone , Roma.
Itália, meados do século XVI
educar e
Contexto moralizar
Histórico artes como
artifício
linguagem
barroca
“ A interpretação sobre o Barroco permaneceu,
durante séculos, vinculada a uma postura iluminista
construída pelos artista do estilo que o sucedeu: o
Neoclassicismo
Annibale Carracci (1599 -1600),
Pietá, Retábulo; óleo sobre tela,
156 x 149 cm; Museo di
Capodimonte, Nápoles.
Michelangelo
Caravaggio (1602-3),
Tomé, o incrédulo,
Óleo sobre tela, 107 x
146 cm, Sanssouci,
Alemanha.
Brasil, do século XVII até o século XVIII
Contexto Urbanização
Histórico
Intensificação e aumento da
produção cultural na colônia
Dramatização da arte
Apelo à recepção
Gian Lorenzo Bernini (1645-52), O
êxtase de Santa Teresa, Mármore,
altura 350 cm; Capela Cornaro, igreja
de Santa Maria dela Vittoria, Roma
Aleijadinho, Cristo no
Horto das Oliveiras, na Via-
Sacra de Congonhas, Minas
Gerais.
Diego Velázquez (1656),
As meninas, óleo sobre
tela, 318 x 276 cm, Museu
do Prado.
ENEM (2015 – SEGUNDA APLICAÇÃO)
Na região mineira, a separação entre cultura popular (as artes mecânicas) e erudita (as
artes liberais) é marcada pela elite colonial, que tem como exemplo os valores
europeus, e o grupo popular, formado pela fusão de várias culturas: portugueses
aventureiros ou degredados, negros e índios. Aleijadinho, unindo as sofisticações da
arte erudita ao entendimento do artífice popular, consegue fazer essa síntese
característica deste momento único na história da arte brasileira: o barroco colonial.
Dualidades, Antítese,
oposições paradoxo
Barroco
Linguagem sinestésica e lúdica
Características
Estéticas Desperta simultaneamente a visão,
a audição e o tato
Suscita a participação do leitor /
espectador na construção dos
sentidos da obra
Triste Bahia! Ó Quão Dessemelhante
Gregório de Matos
Alfredo Bosi
“
A linguagem barroca
Cultismo Conceptismo
Exercício retórico de Explicar um conceito
caráter lúdico e (uma ideia abstrata)
encantatório por meio de uma
linguagem concreta.
Gongorismo
Quevedismo
Jogo de
Palavras Jogo de Ideias
“
A linguagem barroca
Cultismo Conceptismo
Hipérbato Alegorias,
comparações e
Aliteração, metáfora
assonância e anáfora
Sequência discursiva
Disseminação e lógica.
recolho
UERJ (2017)
Ao valimento que tem o mentir
Vertente: conceptismo.
Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas
esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo
isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas,
tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e
sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter
um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que
são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos
hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e
ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios; há de
ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo, há de ter frutos, que é o fruto o fim
a que se há de ordenar o sermão.
De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de haver
folhas, há de haver ramos; mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só
matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é
sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são versas. Se tudo são
varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem tudo
frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, à que
podemos chamar “árvore da vida”, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das
flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos; mas tudo isto
nascido e formado de um só tronco e esse não levantado no ar, senão fundado nas
raízes do Evangelho: Seminare semen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui
como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles.
ENEM PPL (2014)
Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois
se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em
um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que
se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra
não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a
palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da
palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero
começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a
vós, que aprendais a ouvir.
a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no
sermão.
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.
UNICAMP (2018) “O que é então o verossímil? Para encurtar: tudo aquilo em que a confiança
é presumida. Por exemplo, os juízes nem sempre são independentes, os médicos nem sempre
capazes, os oradores nem sempre sinceros. Mas presume-se que o sejam; e, se alguém afirmar
o contrário, cabe-lhe o ônus da prova. Sem esse tipo de presunção, a vida seria impossível; e é
a própria vida que rejeita o ceticismo.”
Olivier Reboul. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 97-98.
No Brasil, a Fidalguia
Adeus, Povo da Bahia, no bom sangue nunca está;
digo, canalha infernal: nem no bom procedimento:
e não falo da Nobreza, pois logo em quê pode estar?
tábula em que se não dá.
Porque o Nobre, enfim é nobre: Consiste em muito dinheiro,
quem honra tem, honra dá: e consiste em o guardar:
pícaros, dão picardias; cada um o guarde bem
e ainda lhes fica que dar. para ter que gastar mal.
Define a Sua Cidade
Gregório de Matos
há de dizer que esta terra
De dous ff se compõe de dous ff se compõe.
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder. Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
Recopilou-se o direito, errada a ortografia,
e quem o recopilou a grande dano está posta:
com dous ff o explicou eu quero fazer aposta
por estar feito, e bem feito: e quero um tostão perder,
por digesto, e colheito que isso a há de perverter,
só com dous ff o expõe, se o furtar e o foder bem
e assim quem os olhos põe não são os ff que tem
no trato, que aqui se encerra esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
Epílogos
Gregório de Matos
O chamado Século de Ouro, que vai de fins do século XVI a fins do seguinte, é um dos
momentos dourados e mais radiantes do Barroco, um estilo artístico que é também uma
expressão de vida, uma visão de mundo, uma maneira de sentir, de ver, de se vestir e até de
ser. Por isso, volta e meia a gente recorre a esse movimento procurando decifrar o país: será
o Brasil um país barroco e, portanto, meio difícil de entender?
Parece que sim. O Brasil não só nasceu culturalmente barroco, como o barroco é “a alma
do Brasil”, para citar o livro de Affonso Romano de Sant‟Anna sobre o tema. Graças ao estilo,
o país foi capaz de criar esplendores como Ouro Preto, erguer obras-primas como algumas
igrejas de Minas, Salvador, Recife e Olinda, e dar ao mundo um gênio como Aleijadinho. É
por causa do barroco que o visitante sente aquela vertigem, um quase delírio, uma febre do
ouro ao entrar na Igreja de São Francisco, em Salvador, e olhar para as paredes.
O barroco não foi. Ele ainda é, continua presente em quase todas as manifestações da
cultura brasileira, da arquitetura à pintura, da comida à moda, passando pelo futebol e pelo
corpo feminino. [...] Barroca é a técnica de composição que Villa-Lobos usou para criar suas
nove “Bachianas”. Barroco é o cinema de Glauber Rocha, é nossa exuberante natureza, é o
futebol de Pelé e de todos os que, driblando a racionalidade burra dos técnicos, preferem a
curva misteriosa de um chute ou o esplendor de uma finta. Afinal, o barroco é o estilo em
que, ao contrário do renascentista, as regras e a premeditação importam menos que a
improvisação. Quer coisa mais barroca que o Guga?
Há ainda certa resistência em aceitar o barroco como expressão de nossa alma. [...] Às
vezes se toma depreciativamente o estilo por seus excessos – confusão, ênfase e paradoxos.
Mas isso é barroquismo, não é barroco. A evolução etimológica ajuda a entender. Barroco,
na origem, designa uma pérola grande e com defeito – assim como um país que a gente
conhece.
“Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em dias, em horas, mas todas estas
partes são tão duvidosas, e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde tão
robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro.”
(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de morrer. São Paulo: Nova
Alexandria, 1994, p. 79.)
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673, Antônio Vieira retomou os
argumentos da pregação que fizera no ano anterior e acrescentou novas
características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de anáforas.
“O vento da vida, por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança; o vento da fortuna
pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade, que se afogue nela o mesmo vento
da vida.”
(Antônio Vieira, “Sermão de quarta-feira de cinza do ano de 1672”, em A Arte de Morrer. São Paulo: Nova
Alexandria, 1994, p. 56.)
No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira
recorre a uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.
Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.
“Mortos, mortos, desenganai estes vivos! Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos
foram os vossos, quando entrastes e saístes pelas portas da morte. (...) Entre essas duas
portas se acha subitamente o homem no momento da morte, sem poder tornar atrás, nem
parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh que
transe tão apertado! Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!”
(Antonio Vieira, “Sermão de 1672”. Sermões de Quarta-feira de Cinza. A arte de morrer: São Paulo: Nova
Alexandria,1994, p. 65.)
a) Identifique e explique as duas estratégias retóricas utilizadas por Vieira ao
encaminhar-se para a conclusão do Sermão de 1672.
Vieira, através de vocativos começa por conclamar os mortos para que venham
informar os vivos sobre os pensamentos e sentimentos que experimentaram nos
momentos finais da sua vida, já que não podem recuar nem escapar da
inexorabilidade dessa instância. O uso de interjeições, “Oh que transe tão apertado!
Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!”, acentua o aspecto
trágico de todos os que não se preocuparam, em vida, em obedecer às leis da igreja
e estarão, por isso, sujeitos às penas do julgamento final.