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1a Edição
Expediente
ISBN 85-339-0812-1
06-0011 CDD-869.9
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BARROCO
(1601-1768)
Reprodução
Franz Post, pintor trazido para Pernambuco pelo holandês Maurício de Nassau,
registrou cenas do cotidiano da Colônia à época do Barroco.
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BARROCO: séculos XVII e XVIII
b) no Brasil
• ciclo da cana-de-açúcar
• Bahia e Pernambuco: centros econômicos e
culturais
• bandeiras
• invasões
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Barroco
(1601-1768)
As manifestações literárias do Barroco no Brasil iniciaram-se com a
publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira, em 1601, e
encerraram-se, teórica e oficialmente, em 1768, com a fundação da Arcádia
Ultramarina e a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa.
No entanto, em 1724, com a fundação da Academia Brasílica dos Esqueci-
dos, registra-se o início de uma consciência grupal com a socialização do
fenômeno literário, assinalando, pois, a decadência dos valores defendidos
pelo Barroco e a ascensão do movimento árcade. Vale lembrar que o poe-
ma Prosopopéia é uma imitação de Os Lusíadas, cujo objetivo é louvar Jor-
ge Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernambuco.
Contexto Histórico
O final do século XVI assistiu ao término do ciclo das Grandes Navega-
ções e à derrocada política e econômica de Portugal que, em 1580, depois
da morte de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, cai sob o domínio
espanhol. A dominação, que durou 60 anos, terminou em 1640.
A unificação da Península Ibérica deu força à Contra-Reforma, que
procurava não só recuperar os fiéis perdidos para a Reforma Protestante,
mas também conquistar novos seguidores. O vigilante Tribunal do Santo
Ofício da Inquisição não deixou que os avanços científicos e culturais do
resto da Europa chegassem à Península, impondo severa censura a toda
produção. Judeus e muçulmanos foram convertidos pela força ao catoli-
cismo. Com a fundação da Companhia de Jesus, em 1534, por Santo
Inácio de Loyola, os jesuítas dominaram o ensino tanto em Portugal quan-
to no Brasil.
O domínio espanhol, no entanto, não exerceu muita influência no
plano político brasileiro, uma vez que a Colônia continuou a ser adminis-
trada por portugueses. Durante esse período, começou o processo de
expansão territorial com as bandeiras, que, penetrando o sertão, procu-
ravam escravos, ouro e pedras preciosas. Com a conquista do litoral do
Norte e do Nordeste, os franceses foram expulsos. Os holandeses, de-
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pois de uma tentativa frustrada de se estabelecerem na Bahia entre 1624
e 1625 (o episódio foi objeto de um dos mais importantes sermões de
Vieira), ocuparam a capitania de Pernambuco. Aí permaneceram de 1630
a 1654, explorando a cana-de-açúcar. Expulsos, os holandeses come-
çaram a produzir açúcar nas Antilhas e forçaram a queda dos preços
internacionais do produto, por isso o ciclo da cana-de-açúcar entrou em
declínio no Brasil.
Manifestações Artísticas
O Barroco europeu — expressão artística da crise espiritual vivida
pelo homem do século XVII, dividido entre a racionalidade e o antropo-
centrismo do Renascimento e a volta ao teocentrismo e à espiritualidade
medievais — caracterizou-se pela ostentação, cujo objetivo era impres-
sionar e influenciar o receptor: a fé deveria ser atingida mais pelos senti-
dos e pela emoção do que pelo raciocínio. A arquitetura, a escultura e a
pintura, freqüentemente misturadas, perseguem esse fim usando de re-
cursos como:
Reprodução
a) assimetria – o estilo é retorci-
do, opondo-se à simetria e ao
equilíbrio do Renascimento;
Colunas negras do
Vaticano.
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Reprodução
Êxtase da
Santa Teresa de Bernini.
Descida da cruz,
Pieter Paul Rubens.
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No Brasil, embora o Barroco englobe as primeiras manifestações de
arquitetura jesuítica do século XVI, sua forma mais exuberante, tanto nas
artes plásticas como na arquitetura, só ocorreu no século XVIII, com as
igrejas baianas e mineiras, as esculturas de Aleijadinho, pinturas de Ataíde,
e a música de Lobo Mesquita e José Maurício Nunes Garcia.
O Barroco literário não coincidiu, portanto, com as outras manifesta-
ções culturais.
Produção Literária
O Barroco brasileiro foi fruto de manifestações isoladas, visto que a
Colônia ainda não dispunha de um grupo intercomunicante de escrito-
res, nem de um público leitor influente, nem de vida cultural intensa,
situação agravada pela proibição da imprensa e pela falta de liberdade
de expressão.
Reflexo da literatura escrita na Península Ibérica, a produção dessa época
também revela a crise do homem do século XVII, dividido entre os valores
antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval
reabilitado pela Contra-Reforma. Essa tensão manifesta-se no confronto
pecado/perdão, terreno/celestial, vida/morte, amor platônico/amor carnal,
fé/razão, céu/inferno.
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Observe essa dualidade neste último terceto do soneto A Jesus Cristo
crucificado estando o poeta para morrer, de Gregório de Matos:
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Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido.
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Fazer pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode pro-
ceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da
parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se con-
verter por meio de um sermão, há de haver três concursos:
há de concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há
de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de
concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver
a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz.
Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se
tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de
luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos.
Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem
dentro em si e ver-se a sim mesmo? Para esta vista são neces-
sários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O prega-
dor concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre
com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que
é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por
meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do
pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que
falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por
parte de Deus?
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Sua obra não foi publicada na época e só no final do século XIX Gregório foi
redescoberto. Entre 1923 e 1933, a Academia Brasileira de Letras publicou
seis volumes com a compilação de sua poesia.
Seguindo modelos barrocos europeus, o poeta escreveu uma lírica que
engloba poesias amorosas, religiosas, satíricas e filosóficas.
Nas amorosas está presente o dualismo carne/espírito, mulher-anjo/
mulher-demônio. Observe que neste soneto o nome da amada sugere as
duas imagens em torno das quais se organiza toda a expressão poética.
A mesma D. Angela
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Desenganos da vida humana metaforicamente
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Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Décima
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Padre Antônio Vieira (1608-1697)
Reprodução
Padre Antônio Vieira
Vieira nasceu em Portugal e aos seis anos veio para o Brasil. Aqui orde-
nou-se padre jesuíta e, em 1640, quando terminou o período de dominação
espanhola, voltou a Portugal. Atacado pela Inquisição por defender cris-
tãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo), voltou ao Brasil em 1652.
Expulso do Maranhão por criticar a escravidão a que os colonos submetiam
os indígenas, foi proibido de pregar e condenado a prisão domiciliar.
Suspensa a pena, Vieira seguiu para Roma para pedir a anulação do pro-
cesso. Voltou ao Brasil, onde morreu.
Missionário, homem de ação, político doutrinador e mestre no uso da
palavra, Vieira talvez tenha vivido na época ideal, pois a Colônia não dis-
punha de imprensa, o público leitor era extremamente reduzido, sendo a
linguagem oral o meio mais adequado para divulgar idéias e persuadir
auditórios.
Sua obra divide-se em:
1) obras de profecia: em que conjuga seu estilo alegórico de interpre-
tação da Bíblia à crença no Sebastianismo, segundo a qual um futu-
ro de glórias estaria reservado a Portugal: História do futuro, Espe-
ranças de Portugal e Clavis Prophetarum.
2) cartas: em que discorre sobre sua atuação, a situação da Colônia e
a política da época — as relações entre Portugal e Holanda, a
Inquisição, os cristãos-novos.
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3) sermões (cerca de 200): longos e elaborados segundo raciocínios
claros. Seus sermões compõem-se de:
• intróito ou exórdio: a parte introdutória, de apresentação;
• desenvolvimento ou argumento: defesa da idéia, com base, qua-
se sempre, na exemplificação bíblica;
• peroração: a conclusão, a parte final do sermão.
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e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos
e pertubados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas
que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam;
e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a
desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou o ho-
mens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina,
com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um:
Et fructum fecit centuplum.
Frutas do Brasil
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No período barroco apareceram entre nós as primeiras academias lite-
rárias centralizadas na Bahia: em 1724, é fundada a Academia Brasílica dos
Esquecidos e, em 1759, a Academia Brasílica dos Renascidos. Elas foram
importantes porque, além de intensificarem o sentimento nativista, repre-
sentaram a primeira tentativa de intercomunicabilidade literária (reuniram
intelectuais e escritores e estabeleceram uma aproximação cultural entre os
principais centros urbanos de então) e de contato com o público. As acade-
mias também fizeram um importante trabalho de pesquisa histórica. Sebas-
tião da Rocha Pita, cujo pseudônimo era Vago, pertenceu à Brasílica dos
Esquecidos e escreveu História da América Portuguesa.
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