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"PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM LESÃO MEDULAR DO


AMBULATÓRIO DE FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA DO HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO REGIONAL DO NORTE DO PARANÁ

Article · January 2003

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4 authors, including:

Juliana Scholtão Luna Roger Souza


Universidade Federal do Acre Universidade Estadual de Londrina
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Marcia Garanhani
Universidade Estadual de Londrina
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“PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM LESÃO MEDULAR DO AMBULATÓRIO DE
FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DO NORTE DO
PARANÁ”

Juliana Maria Citadini1


Juliana Scholtão1
Roger Burgo de Souza2
Márcia Regina Garanhani3

_________________________________________________________________

1
Juliana Maria Citadini, Discente do Curso de Fisioterapia da UEL.
1
Juliana Scholtão, Discente do Curso de Fisioterapia da UEL..
2
Roger Burgo de Souza – Especialista – Docente do Curso de Fisioterapia da UEL e Supervisor do

Ambulatório Lesado Medular do HURNPR.


3
Márcia Regina Garanhani – Mestre – Docente do Curso de Fisioterapia da UEL e Supervisora do

Ambulatório Neurologia Geral.

Resumo
A lesão medular é uma das síndromes incapacitantes mais graves, constituindo um desafio
para a reabilitação. O objetivo deste trabalho foi traçar o perfil dos pacientes com Trauma
Raquimedular (TRM) que receberam atendimento fisioterapêutico no Ambulatório de Fisioterapia
Neurológica em Lesado Medular do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), em
Londrina, Paraná, no período de janeiro à dezembro de 2002. Foram entrevistados 25 pacientes com
paraplegia ou tetraplegia, atendidos no HURNP. Todos os 25 pacientes apresentavam lesões
completas, sendo 5 (20%) tetraplégicos e 20 (80%) paraplégicos. A maioria dos pacientes (75%)
referiu residir na cidade de Londrina e 25% em cidades próximas. Entre as causas da lesão, 50% por
acidente automobilístico, 20,8% por ferimento por arma de fogo, 12,5% por arma branca e 8,3%
seqüelas provenientes de procedimentos cirúrgicos. A média do tempo de lesão foi de 7,6 ± 4,3 e a
do tempo de tratamento fisioterapêutico foi de 5,26 ± 3,68 anos. Do total, 13 (52%) necessitavam de
um cuidador para se dirigirem ao ambulatório, 16 (24%) se dirigiam de automóvel, 6 (24%) de
ambulância e 3 (12%) de outros meios. Todos os pacientes tetraplégicos eram dependentes, e a
maioria dos paraplégicos (65%) era independente para chegarem ao hospital. Vinte e dois (88%)
exerciam atividade laboral antes e, somente 8 (32%) passaram a exercer após a lesão, 19 (76%)
pacientes referiram que a fisioterapia correspondeu as suas expectativas iniciais. As complicações
encontradas foram urinárias, úlceras de pressão e pulmonares. O conhecimento do perfil destes
pacientes contribui para uma melhor adequação dos serviços prestados pelo HURNP.

Palavras-chaves: perfil, lesão medular, fisioterapia.

“ PATIENTS’ EPIDEMIOLOGIC PROFILE WHITH SPINAL CORD INJURY OF THE CLINIC OF


NEUROLOGICAL PHYSIOTHERAPY IN REGIONAL UNIVERSITY HOSPITAL NORTH OF
PARANÁ”

Abstract

The spinal cord injury is one of the most incapaciting syndromes, being one
true challenge for the rehabilitation. The objective of this study was to trace the
patients' profile with spinal cord injury that received physiotherapy treatment in the
ambulatory of Hospital Regional North of Paraná (HURNP), in the city of Londrina,
Paraná, in the period of January to December of 2002. Twenty-five patients were
interviewed. All patients had complete lesions, 5 (20%) tetraplegics and 20 (80%)
paraplegic. The majority of patients (75%) related reside in Londrina and 24% in
another cities close. Among the causes, 50% were for car accident, 20,8% for
firearm, 12,5% for white weapon and 8,3% for sequels of surgical procedures. The
average of the time of lesion it was of 7,6 ± 4,3 and the average of the time of
physiotherapy treatment it was of 5,26 ± 3,68 years. Of the total, thirteen (52%)
needed of an acompanist go to the hospital, 16 (24%) went of car, 6 patients (24%)
went of ambulance and 3 (12%) of another means. All the patient tetraplegics were
dependent, and most of the paraplegics (65%) were independent for arrive to the
hospital. Twenty-two patients (88%) worked before and only, 8 (32%) started to
worked after the lesion. Nineteen (76%) patients referred that the physiotherapy
corresponded its initial expectations and 3 (12%) referred that not. The found
complications were urinary, pressure ulcers and lung. The knowledge of the reality of
the ambulatory of physiotherapy, it contributes with elaboration of the treatment to
patients' needs improving the rendered attendance.

Key words: profile, spinal cord injury, physiotherapy.

Introdução:

A lesão medular é uma das formas mais graves entre as síndromes incapacitantes,
constituindo-se em um verdadeiro desafio para a reabilitação. Tal dificuldade decorre da importância
da medula espinhal, que não é apenas uma via de impulsos aferentes e eferentes entre as diversas
partes do corpo e o cérebro, como também um centro regulador que controla importantes funções
como a respiração, a circulação, a bexiga, o intestino, o controle térmico e a atividade sexual
(LIANZA, 1993).
A lesão medular é definida pela American Spinal Injury Association (ASIA) como sendo uma
diminuição ou perda da função motora e/ou sensória e/ou anatômica, podendo ser uma lesão total ou
parcial, devido ao trauma dos elementos neuronais dentro do canal vertebral (O’ SULLIVAN e
SCHIMITZ, 1993; MAYNARD et al, 1997).
De acordo com o nível medular lesado o indivíduo pode tornar-se paraplégico
ou tetraplégico. A tetraplegia resulta em perda da função dos membros superiores,
bem como do tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos. Já a paraplegia refere-
se a perda de funções motoras e/ou sensórias de segmentos torácicos, lombares e
sacrais da medula espinhal. Com a paraplegia, a função dos membros superiores
está preservada, mas as funções do tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos
podem estar comprometidas de acordo com o nível da lesão (O’ SULLIVAN e
SCHIMITZ, 1993).
Entre as causas de lesão medular encontram-se as de origem traumáticas e as não
traumáticas. Diversas são as perturbações não traumáticas que podem lesionar a medula espinhal,
entre elas as disfunções vasculares, infecções, neoplasia espinhais, subluxações vertebrais
secundárias a artrite reumatóide ou doença articular degenerativa. Estima-se que as etiologias não
traumáticas respondam por 30% de todas as lesões da medula espinhal. As influências traumáticas
são, de longe, a causa mais freqüente de lesão nas populações adultas e resultam dos danos
causados por acidente de automóvel, queda ou ferimento por arma de fogo (UMPHERED e
SCHINEIDER, 1994).
A lesão traumática é uma das mais devastadoras entre as lesões que podem
afetar o ser humano. Atinge principalmente uma faixa etária mais exposta a
acidentes, em geral também a mais produtiva. Cerca de 60% dos casos ocorrem em
pessoas entre 16 e 30 anos de idade, mas a média está aumentando com o
crescimento da longevidade do ser humano e estima-se que no Brasil haja cerca de
6000 casos anuais (NOREAU e FOUGEYROLLAS, 2000). Os homens são mais
atingidos do que as mulheres. Segundo ROLAND, 1997, a razão homem-mulher é
no mínimo 3:1.
A média de morbidade desses indivíduos tem diminuído consideravelmente
de 5 décadas atrás. Conseqüentemente a sobrevivência desses indivíduos tem
aumentado. Essa falta pode ser atribuída ao advento de modernos serviços médicos
de emergência, novos medicamentos e procedimentos cirúrgicos, antibióticos ao
combate a infecções e finalmente a melhora de serviços de reabilitação (VIALLE et
al, 1999).
A fisioterapia tem importante papel na assistência aguda do paciente visando facilitar uma
transição rápida e eficiente para o processo de reabilitação. Isso pode incluir a prevenção de
deformidades, maximização da função muscular e respiratória e aquisição de postura em pé (ZIELIG
et al, 2000; BROMLEY, 1985).
Quando os pacientes se recuperam dos problemas agudos, são feitos planos de reabilitação
baseados no prognóstico de futuras habilidades funcionais. Para se obter um serviço eficiente, os
programas de reabilitação devem ser baseados na escolha de metas realistas (MAYNARD et al,
1997).
Os principais objetivos são evitar as complicações, promover independência em termos de
alimentação e ingestão de líquidos, cuidados no vestir e higiene, controle da bexiga e intestino, sentar
e sair da cadeira de rodas e a capacidade de usa-la, retorno às atividades laborais e se possível
retorno da marcha com uso de dispositivos ortóticos (LIANZA et al, 1993; UMPHERED e
SCHINEIDER, 1994).
Diante das mudanças ocorridas na vida do indivíduo vítima de Trauma Raquimedular (TRM),
a sua reintegração familiar e comunitária dentro das maiores possibilidades físicas e funcionais é
fundamental (LIANZA et al, 1993). A fisioterapia assume então importante papel no tratamento
destes pacientes, e o conhecimento a respeito dessa população tornam-se útil para que se possam
traçar os melhores objetivos e condutas até obter-se o resultado esperado (BROMLEY, 1985).
O ambulatório de Fisioterapia Neurológica em Lesado Medular do HURNP atende vários
pacientes vítimas de TRM, os quais necessitam de um tratamento individual e especializado que tem
como principais objetivos à melhora das atividades funcionais e a adaptação desses pacientes, da
melhor forma possível, ao seu novo estilo de vida.
O tratamento fisioterapêutico se realiza de forma contínua e prolongada, e os pacientes
passam a freqüentar o ambulatório de fisioterapia por um longo período para manutenção do quadro
ou até que adquiram independência funcional.
Sendo assim a realização de um perfil epidemiológico desses pacientes, ajudará a conhecer
melhor essa população, contribuindo com o atendimento prestado e servindo de base para futuras
pesquisas.
O objetivo deste estudo foi traçar o perfil dos pacientes com TRM que receberam atendimento
fisioterapêutico no Ambulatório de Fisioterapia neurológica em Lesado Medular do Hospital
Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNP), na cidade de Londrina, Paraná, no período de
janeiro a dezembro de 2002.

Casuística e métodos

O presente estudo foi desenvolvido no Ambulatório de Fisioterapia


Neurológica do HURNP em Londrina. Participaram da pesquisa, 25 pacientes com
diagnóstico de paraplegia ou tetraplegia, com lesão medular traumática e atendidos
regularmente neste local. Somente foram incluídos no estudo aqueles pacientes com
lesão medular completa, e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido com parecer favorável do Comitê de Ética desta instituição. Os
pacientes que abandonaram o tratamento fisioterapêutico nesse período ou que
foram a óbito, foram excluídos do estudo.
Os dados foram colhidos através de entrevista com o paciente, com questões
relacionadas a dados pessoais (idade, sexo e procedência), causa, tempo e nível
(motor e sensitivo) da lesão medular, tempo, freqüência semanal e expectativa
tratamento fisioterapêutico realizado no local estudado, complicações mais
freqüentes desenvolvidas pelos pacientes em estudo, uso de órteses, orientações de
exercícios a serem realizados em casa e independência para se dirigirem à
fisioterapia (necessidade de um cuidador e meio de transporte utilizado).
Para a compilação dos dados foi utilizado o programa EPIDATA 2.1B e para a
análise estatística o programa STATISTICA 5.1. Durante a análise dos dados foram
excluídos dados incompletos e foi considerado como fator de correlação entre
variáveis um p ≤ 0,05.

Resultados:

O Ambulatório de Fisioterapia Neurológica Adulto do Hospital Universitário Regional do Norte


do Paraná para pacientes com lesão medular é composto por 53 pacientes, sendo 25 pacientes com
lesão medular completa, dos quais 5 (20%) são tetraplégicos e 20 (80%) paraplégicos, de acordo
com a classificação da American Spinal Injury Association (ASIA).
Do total dos pacientes estudados, 5 (20%) eram do sexo feminino e 20 (80%)
do sexo masculino (Figura 1), com idade variando de 18 a 47 anos, média de 34,64
± 7,91 anos.

20%

Mulher
Homem

80%

Figura 1– Distribuição dos pacientes com lesão medular atendidos


no Ambulatório de Fisioterapia do HURNP.

Quanto à procedência dos pacientes em estudo, 75% residiam na cidade de Londrina e 24%
em outras cidades próximas, todas do estado do Paraná.
Dentre as várias etiologias citadas na literatura, este estudo verificou que 50% dos casos
atendidos no Ambulatório de Fisioterapia Neurológica Adulto do HURNP foram por acidente
automobilístico, 20,8% por ferimento por arma de fogo, 12,5% por ferimento por arma branca e 8,3 %
por seqüelas provenientes de procedimentos cirúrgicos (Figura 2).

Esporte
Trabalho
4%
8%
Cirurgia
8%
Automobilístic
Ferimento o
Arma Branca 48%
12%

Ferimento
Arma de Fogo
20%

Figura 2 – Distribuição dos pacientes com lesão medular atendidos


no Ambulatório de Fisioterapia do HURNP.

A média do tempo de lesão dos pacientes deste estudo foi de 7,6 ± 4,3 anos
sendo que 12% apresentavam menos de 1 ano de lesão e 40% tem mais de 10 anos
de lesão. A média do tempo de tratamento fisioterapêutico no ambulatório foi de 5,26
± 3,68 anos, sendo que 21 (84%) pacientes recebiam atendimento 1 vez por
semana, 3 (12%) recebiam 2 vezes por semana e 1 (4%) 3 vezes por semana.
Houve relação entre a freqüência de tratamento fisioterapêutico com o tempo da
lesão, sendo quanto maior o tempo da lesão, menor a freqüência de tratamento (p=
0,011).
Do total de pacientes do estudo, treze (52%) necessitavam de um cuidador para se dirigirem
ao Ambulatório de Fisioterapia Neurológica Adulto do HURNP. Quanto ao meio de transporte utilizado
pelos pacientes, 16 (24%) se dirigiam ao hospital de automóvel, 6 (24%) de ambulância e 3 (12%)
utilizavam-se de outros meios como ônibus urbano e vans.
Ao relacionar o nível da lesão com a necessidade ou não de um cuidador
para o paciente se dirigir ao hospital, pôde-se verificar que todos aqueles que tinham
o diagnóstico de tetraplegia, eram dependentes, e a maioria diagnosticados como
paraplégicos (65%) eram independentes para chegarem ao hospital, porém não
houve correlação estatisticamente significativa (p= 0,158).
Dos 25 pacientes, 22 (88%) exerciam alguma atividade laboral antes da lesão e somente, 8
(32%) passaram a exercer alguma atividade após a lesão (Figura 3). Verificou-se relação significativa
entre a realização de atividade laboral após a lesão com o maior tempo de lesão (p= 0,016) e de
tratamento fisioterapêutico (p= 0,024).

17 Não trabalha
Trabalha
22

ANTES DEPOIS

Figura 3 – Distribuição dos pacientes com lesão medular atendidos


no Ambulatório de Fisioterapia do HURNP de acordo
com a Atividade Laboral antes e depois da lesão.

Não se verificou, neste estudo, relação entre o nível da lesão e a realização


de alguma atividade laboral pelos pacientes (p= 0,496), já que a maioria dos
pacientes que trabalhavam, apresentavam lesão em nível torácico alto (T4 – T7), e
um deles apresentava lesão em nível cervical (C7).
Em relação à expectativa quanto ao tratamento fisioterapêutico recebido pelos pacientes
deste estudo, 19 (76%) pacientes referiram que foram correspondido em relação as suas
expectativas iniciais, 3 (12%) referiram que não correspondeu porque esperavam maior recuperação,
e 3 (12%) referiram não ter criado expectativa em relação à fisioterapia.
Dezenove pacientes (76%) referiram receber orientações dos estagiários que os assistia para
realização dos exercícios em casa e 18 (72%) referiram realizar os mesmos. Encontrou-se relação
significativa entre as orientações e a prática dos exercícios (p= 0,014) demonstrando a importância da
orientação ao paciente.
Quanto ao uso de órteses, 10 (40%) pacientes referiram possuir e usá-las
somente para ortostatismo. Destes pacientes, 5 (20%) tinham lesão torácica alta e 5
(20%) lesão torácica baixa. Nenhum paciente com lesão cervical referiu uso de
órteses.
Entre as complicações mais freqüentes relatadas pelos pacientes deste estudo estão as
complicações urinárias, as úlceras de pressão e as pulmonares, respectivamente. Onze pacientes
(44%) referiram complicações urinárias, 6 (24%) não referiram apresentar complicação, 2 (8%)
pacientes referiram úlceras de pressão como única complicação, 4 (16%) pacientes referiram úlceras
de pressão e infecções urinárias, 1 (4%) paciente referiu infecções e complicações pulmonares e
outro referiu úlcera de pressão e complicações pulmonares.

Discussão:

O ambulatório de fisioterapia neurológica adulto do HURNPr atende a um grupo de pacientes


onde a maioria é do sexo masculino (80%) em uma proporção de 4:1, e com uma média de idade de
34,64 ± 7,91 anos, variando entre 18 a 47 anos.
GARDNER et al. apud ROWLEY et al, 2000, concluiu em seu estudo que a proporção entre
casos masculinos e femininos de lesão medular, é aproximadamente 5:1, mostrando um resultado
próximo ao encontrado em nossa população. O autor relatou também que a incidência varia com a
idade, sendo maior na faixa etária dos 20 a 39 anos (45%), seguida pelas faixas de 40 a 50 anos
(24%) e 0 a 19 anos (20%). Estes mesmos autores relatam que as pessoas com mais de 60 anos
apresentam uma incidência de 11% (ROWLEY et al, 2000). Em nosso estudo não foi possível
verificar essa relação, já que o grupo apresentava-se bem homogêneo em relação à idade dos
pacientes.
A principal causa de lesão medular apresentada pelos pacientes do nosso estudo foi por
acidente automobilístico, representando 50% dos casos, vindo em seguida, aquelas por agressões
com armas de fogo e armas brancas, 33,3% dos casos.
WHALLEY, 1995, coloca que as principais causas de lesões traumáticas da
medula são por acidente automobilístico, 39% dos casos, e em menor escala estão
os ferimentos por arma de fogo ou arma branca, representando 4% dos casos, o que
condiz com o resultado que encontramos (NORTH, 1999).
WEHMAN et al, 2000, também obteve resultado semelhante. Em seu estudo com 226
indivíduos com lesão medular verificou que a causa de 51% dos casos foi por acidente
automobilístico, representando a grande maioria dos casos. Entre as outras causas ele encontrou
19% por quedas, 13% por atividades esportivas, 11% por agressões e 5% por causas não
traumáticas.
ANDRADE & JORGE, 2001, estudaram as características dos acidentes de transporte
ocorridas em 1996 na cidade de Londrina - Paraná, mesmo locais do nosso estudo, e verificaram que
a maior parte deles estava relacionada com acidentes com motos, carros e caminhonetes
respectivamente, e envolvia mais homens do que mulheres, numa proporção de 1,8:1(ANDRADE e
JORGE, 2001). Nosso estudo, mesmo realizado 5 anos após este levantamento obteve resultados
semelhantes, com os acidentes automobilísticos representando 50% do total e envolvendo mais
homens do que mulheres.
Quanto à independência dos pacientes em nosso estudo, verificamos que todos aqueles com
diagnóstico de tetraplegia eram dependentes de um cuidador para se dirigirem ao ambulatório de
fisioterapia do HURNP, enquanto que a maioria daqueles com diagnóstico de paraplegia (65%) eram
independentes para se dirigirem ao hospital.
NOREAU & FOUGEYROLLAS, 2000, sugerem em seu estudo que a maioria das pessoas
com tetraplegia completa necessita de maior assistência para realizar algumas atividades enquanto
que a maioria das pessoas com paraplegia não apresentam muitas dificuldades ao realizar as
atividades como higiene pessoal, vestir-se e preparar alimentos.
No presente estudo, a maioria dos indivíduos 22 (88%) exercia atividade
laboral antes de sofrerem a lesão, e uma pequena parte 8 (32%) estavam exercendo
alguma atividade após terem sofrido a lesão medular. No entanto, não verificamos
relação entre o nível da lesão e a realização ou não de alguma atividade laboral, já
que a maioria dos pacientes (um número de 7) que exerciam alguma ocupação
apresentavam lesão medular em nível torácico alto (T4 – T7), e um paciente
apresentava lesão cervical (C7). Porém observamos relação entre a realização de
atividade laboral com o maior tempo de tratamento fisioterapêutico.
WEHMAN et al, 2000, também verificou que a maioria dos indivíduos com
lesão medular, em seu estudo, encontravam-se desempregados após a lesão, e
estes atribuem essa condição ao fato de sofrerem problemas de saúde,
incapacidade de encontrar um emprego adequado às suas condições, dificuldade
com meios de transporte e medo ou perda da confiança em suas próprias
capacidades em meio à sociedade.
Entre as complicações encontradas nos pacientes incluídos no estudo estão aquelas
relacionadas a infecções urinárias, alterações dérmicas (úlceras de pressão) e alterações
pulmonares. A maioria, 11 (44%) pacientes, no entanto, apontou infecções urinárias com sendo a
complicação mais freqüente. SODEN et al, 2000, e NORTH, 1999, em seus estudos também
puderam verificar as doenças do trato urinário como as principais afecções que acometem o paciente
lesado medular, tanto tetraplégicos quanto paraplégicos. NORTH, 1999, verificou ainda que muitos
pacientes chegam à morte devido a casos de septicemia.

Conclusão:

A realização do perfil dos pacientes com lesão medular atendidos no


ambulatório de fisioterapia do HURNP permitiu um maior conhecimento sobre a
patologia em questão e as características comuns a estes pacientes. Verificou-se a
importância das orientações durante o tratamento, tanto ao paciente quanto ao
cuidador, quando for o caso, a necessidade em se estar trabalhando para possibilitar
maior independência ao paciente e quando possível o seu retorno a alguma
atividade laboral e a importância de atuar na prevenção das complicações.
Foi possível conhecer a realidade do ambulatório de fisioterapia, o que
contribui com elaboração de um plano de tratamento fisioterapêutico adequado às
necessidades destes pacientes aumentando assim a qualidade do atendimento
prestado pela instituição.

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AUTORES:

- Márcia Regina Garanhani – Mestre – UEL / 33712288; hergaran@bol.com.br / Av. Robert Koch, 60

– Vila Operária, Londrina – Paraná – Brasil

- Roger Burgo de Souza – Especialista – UEL / 33712288; spine@uel.br / Av. Robert Koch, 60 – Vila

Operária, Londrina – Paraná – Brasil

- Juliana Maria Citadini – Discente – UEL / 3445391 jucitadini@zipmail.com.br / Av Paraná 307 apto
12

- Juliana Scholtão – Discente – UEL / (0xx31) 3285 3645; juscholtao@hotmail.com / Rua Venezuela, 341,

Ap. 203, Sion, 30315-250. Belo Horizonte, MG.

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