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CADERNO

DE
LÍNGUA
PORTUGUESA

MÓDULO 2

LÍNGUA PORTUGUESA / MÓDULO 2 - 1


CAPÍTULO 1 – CONSTRUÇÕES SINTÁTICAS

 Momento de leitura
1. Observe o texto a seguir:

TEXTO 1

 Conhecendo o gênero
O texto apresentado anteriormente é um texto publicitário. Os textos publicitários são aqueles que
têm como objetivo informar acerca de eventos e campanhas, por exemplo, além de anunciar produtos. Os
textos que compõem esse gênero são veiculados pela mídia através de sites, redes sociais, revistas entre
outros canais de comunicação.

O objetivo dos textos publicitários é chamar a atenção do público para um produto, evento ou serviço
por meio de uma linguagem simples e objetiva. Para isso, o autor pode utilizar diferentes tipos de linguagem: a
linguagem verbal (oral ou escrita), a linguagem não verbal (como imagens e desenhos) ou a linguagem mista
(quando há presença da linguagem verbal e não verbal). A criatividade também é um elemento importante para
a criação de publicidade, uma vez que textos criativos e originais têm mais chance de chamar a atenção e
persuadir o interlocutor.

 Conversando sobre o texto


2. Como é possível observar, o Texto 1 é composto por diversos elementos textuais e visuais que o ajudam a
cumprir seu objetivo. Discuta em sala:

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a) Considerando o produto anunciado e os textos presentes no anúncio, qual o objetivo do autor?

b) Por que o autor do texto escolheu utilizar o verbo “bebendo” na construção da propaganda do medicamento?

c) Como as escolhas lexicais, ou seja, as palavras empregadas no texto, se relacionam com a época para a
qual o anúncio se dirige? Exemplifique.

d) Na sua opinião, qual é o elemento que mais chama atenção no texto? Você acredita que o autor teve o
intuito de destacá-lo? Por quê?

e) Na frase “Se é Bayer, é bom.”, a vírgula implica a existência de uma relação entre as orações que não está
explícita por conectivos. Qual é a relação existente que está implícita no texto? Dê sugestões de conectivos
para evidenciá-la. Exemplo: Se é Bayer, então é bom.

 A Construção Sintática

Nos exercícios anteriores, foi possível notar que os textos publicitários apresentam recursos para
ajudar a chamar a atenção do leitor, destacando elementos que são mais importantes para promover o produto
divulgado. Não é apenas no uso de imagens e cores que isso ocorre, mas na construção das sentenças que
serão utilizadas na propaganda.
5. Observe novamente a frase:
“Dor de cabeça. Um dos poucos problemas que você pode resolver bebendo.”
a) A expressão “dor de cabeça” está isolada do restante da frase por meio de um ponto. Por que o autor
escolheu essa estrutura? Como ela influencia o restante da frase?
b) Agora, compare a frase anterior com sua reescrita e discuta:

 Qual estrutura é mais comum no Português?

 Qual o papel da expressão “dor de cabeça” na frase?

A dor de cabeça é um dos poucos problemas que você pode resolver bebendo.

As duas construções se diferem pela organização dos termos da oração. A primeira oração
demonstra um isolamento, ou seja, uma topicalização de um dos termos, enquanto a segunda oração respeita
a ordem esperada para o caso do Português. Para entender essa ordem, é necessário conhecer os termos que
compõem as orações¹:

Termos essenciais da oração

Sujeito Predicado Predicativo Verbo

Simples Nominal Do sujeito De ligação

Composto Verbal Do verbo Transitivo direto

Indeterminado Verbonominal Transitivo indireto

Oculto Bitransitivo

Intransitivo

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Termos integrantes da oração

Complemento Nominal Complemento Verbal Agente da passiva

Objeto direto

Objeto indireto

Termos acessórios da oração

Adjunto nominal

Adjunto verbal

Aposto

Vocativo

¹ Obs.: Para maior aprofundamento, consulte o Módulo 0 – Categorias sintáticas.

Os termos da oração são elementos que, classificados de acordo com sua função na oração, são
utilizados para compor as estruturas sintáticas. O uso desses termos não é aleatório, deve respeitar a
organização sintática da língua. No Português, a ordem mais comum é a SVO (sujeito – verbo – objeto),
acrescentando os demais termos posteriormente. Por esse motivo é mais comum encontrarmos frases como “A
dor de cabeça é um dos poucos problemas que você pode resolver bebendo.”, por se tratar de uma formação
nos moldes da ordem canônica.

A ordem SVO pode ser alterada, como acontece no trecho retirado do Texto 1. No caso do exemplo, há
ocorrência de topicalização, que consiste em um processo no qual parte da oração é posta em destaque por
meio de pontos e vírgulas. O elemento que se posiciona após o tópico é chamado de comentário, por se tratar
do desenvolvimento a respeito do que foi topicalizado.

Além da topicalização, existem outros instrumentos linguísticos usados para mudar a ordem sintática
em vista de um efeito semântico específico, como a inversão sintática, observada no exemplo:

TEXTO 2
…Quem foi que disse que a justiça tarda, mas não falha?
Que, se eu não for um bom menino, Deus vai castigar!
Os dias passam lentos
aos meses seguem os aumentos
cada dia eu levo um tiro que sai pela culatra
eu não sou ministro, eu não sou magnata
eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém
aqui embaixo, as leis são diferentes…
(Música: “Zé Ninguém”, Biquíni Cavadão)

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Analisando o trecho destacado na canção é possível perceber que os elementos que compõem o verso
estão fora da ordem direta, ou seja, da ordem SVO. Essa mudança na ordem é o que caracteriza a inversão
sintática e apresenta consequências semânticas e estilísticas. Para aprofundar a reflexão, realize os seguintes
exercícios:
 Escreva uma proposta de reescrita da frase “aos meses seguem os aumentos” em ordem direta;
 Explique o sentido do verso em relação ao restante do trecho, justificando também o motivo pela
ocorrência da inversão.

Após a realização das atividades, discuta com seu professor.

 Exercícios de concursos

1. (ENEM/2015)

E: Diva… tem algumas… alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia me contar….
alguma coisa que marcou você? Uma experiência… você poderia contar agora…
I: É… tem uma que eu vivi quando eu estudava o terceiro ano científico lá no Ateneu…né… é: eu gostava
muito do laboratório de química… eu… eu ia ajudar os professores a limpar aquele material todo… aqueles
vidros…eu achava aquilo fantástico… aquele monte de coisa… né… então… todos os dias eu ia… quando
terminavam as aulas eu ajudava o professor a limpar o laboratório… nesse dia não houve aula e o professor
me chamou pra fazer uma limpeza geral no laboratório… chegando lá… ele me fez uma experiência… ele me
mostrou uma coisa bem interessante que… pegou um béquer com meio d’água e colocou um pouquinho de
cloreto de sódio pastoso… então foi aquele fogaréu desfilando… aquele fogaréu… quando o professor saiu…
eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a experiência que eu tinha achado fantástico… só que… eu
achei o seguinte… se o professor colocou um pouquinho… foi aquele desfile… imagine se eu colocasse
mais… peguei o mesmo béquer… coloquei uma colher… uma colher de cloreto de sódio… foi um fogaréu tão
grande… foi uma explosão… quebrou todo o material que estava exposto em cima da mesa eu branca… eu
fiquei…olha…eu pensei que fosse morrer sabe… quando… o colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o
que tinha sido…
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal:
EdUFRN, 1998.

Na transcrição de fala, especialmente, no trecho “eu branca…eu fiquei…olha…eu pensei que fosse morrer
sabe…”, há uma estrutura sintática fragmentada, embora facilmente interpretável. Sua presença na fala revela

A) distração e poucos anos de escolaridade.

B) falta de coesão e coerência na apresentação das ideias.

C) afeto e amizade entre os participantes da conversação.

D) desconhecimento das regras de sintaxe da norma padrão.

E) característica do planejamento e execução simultânea desse discurso.

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2. (VESTIBULAR UFRN/2008 – Adaptado)

Observe, no balão inserido no folheto, a fala do motorista. A relação semântica que, de modo implícito, o
segundo período mantém com o primeiro é a mesma que se estabelece entre os períodos desta opção:

A) Não esqueça o cinto de segurança. Não beba antes de dirigir.

B) O motorista tinha experiência. Não conseguiu evitar o acidente.

C) O motorista atropelou um pedestre. Prestou socorro à vítima.

D) Não buzine defronte a um hospital. Isso perturba os pacientes

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3. (ENEM/2011)

Considerando a autoria e a seleção lexical desse texto, bem como os argumentos nele mobilizados, constata-
se que o objetivo do autor do texto é

A) informar os consumidores em geral sobre a atuação do Conar.


B) conscientizar publicitários do compromisso ético ao elaborar suas peças publicitárias.
C) alertar chefes de família, para que eles fiscalizam o conteúdo das propagandas veiculadas pela mídia.
D) chamar a atenção de empresários e anunciantes em geral para suas responsabilidades ao contratarem
publicitários sem ética.
E) chamar a atenção de empresas para os efeitos nocivos que elas podem causar à sociedade, se
compactuarem com propagandas enganosas.

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4. (ENEM/2019)

Ed Mort só vai
Mort. Ed Mort. Detetive particular. Está na plaqueta. Tenho um escritório numa galeria de Copacabana entre
um fliperama e uma loja de carimbos. Dá só para o essencial, um telefone mudo e um cinzeiro. Mas insisto
numa mesa e numa cadeira. Apesar do protesto das baratas. Elas não vencerão. Comprei um jogo de
máscaras. No meu trabalho o disfarce é essencial. Para escapar dos credores. Outro dia entrei na sala e vi a
cara do King Kong andando pelo chão. As baratas estavam roubando as máscaras. Espisoteei meia dúzia. As
outras atacaram a mesa. Consegui salvar a minha Bic e o jornal. O jornal era novo, tinha só uma semana. Mas
elas levaram a agenda. Saí ganhando. A agenda estava em branco. Meu último caso fora com a funcionária do
Erótica, a primeira ótica da cidade com balconista topless. Acabara mal. Mort. Ed Mort. Está na plaqueta.
VERISSIMO, L. F. Ed Mort: todas as histórias. Porto Alegre: L&PM, 1997 (adaptado).

Nessa crônica, o efeito de humor é basicamente construído por uma

A) segmentação de enunciados baseada na descrição dos hábitos do personagem.


B) ordenação dos constituintes oracionais na qual se destaca o núcleo verbal.
C) estrutura composicional caracterizada pelo arranjo singular dos períodos.
D) sequenciação narrativa na qual se articulam eventos absurdos.
E) seleção lexical na qual predominam informações redundantes.

 Gabarito das questões objetivas

Questão 1 (ENEM/2015) – Alternativa E. Questão 3 (ENEM/2011) – Alternativa A.

Questão 2 (VESTIBULAR/UFRN) – Alternativa D. Questão 4 (ENEM/2019) – Alternativa D.

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CAPÍTULO 2 - OPERADORES ARGUMENTATIVOS

 Momento de leitura

1. Leia o texto a seguir:

TEXTO 1

Carta ao Leitor: Ninguém está acima da lei

VEJA não concorda com as teses reducionistas de que os fins justificam os meios nem que fronteiras podem
ser ultrapassadas para combater a corrupção
Por Da Redação – Atualizado em 15 jul 2019, 15h12 – Publicado em 14 jun 2019, 07h00

Desde o seu início, a Lava-jato vem prestando um grande e relevante serviço na luta anticorrupção no Brasil.
Até maio, foram 61 fases, 321 prisões, 13 bilhões de reais recuperados e 244 condenações. Não há dúvida
sobre os feitos positivos da operação para acabar com a promiscuidade desavergonhada que se instalou
entre os setores público e privado no Brasil. Logo na largada, VEJA compreendeu a importância daquele
momento e apoiou a investigação com uma vasta e intensa cobertura. Em cinco anos, foram 68 capas sobre o
assunto e centenas de reportagens, tanto na edição impressa quanto na versão digital. Evidentemente, nada
muda nesse aspecto. Continuaremos a incansável batalha contra um dos principais males que atrapalham o
desenvolvimento do país: a corrupção.

Mas, como um veículo de comunicação sério e responsável, não podemos deixar de registrar que um dos
maiores ícones da Lava Jato, o ministro da Justiça, Sergio Moro, ultrapassou de forma inequívoca a linha da
decência e da legalidade no papel de magistrado. Os diálogos revelados pelo site The Intercept mostram um
juiz que abandona a equidistância das partes do processo, a imparcialidade intrínseca ao cargo, e passa a
instruir e a apoiar um dos lados, o da acusação. Utilizando sorrateiramente um sistema de comunicação
privado, e não e-mails funcionais, Moro e Deltan Dallagnol combinavam uma ação conjunta. É fundamental
frisar que procurador e juiz não fazem parte de uma mesma equipe. De acordo com o Código Penal brasileiro,
são figuras necessariamente independentes. Talvez fique mais fácil entender a gravidade dessa conduta com
a inversão dos polos. Imagine o juiz Moro instruindo a defesa de um acusado — Marcelo Odebrecht, por
exemplo — a se livrar das denúncias do Ministério Público. Como classificar uma atitude dessas?

A defesa do estado de direito, base lapidar da democracia, não permite brechas. VEJA não concorda com as
teses reducionistas de que os fins justificam os meios nem que fronteiras podem ser ultrapassadas para
combater a corrupção. Na nossa visão, a lei vale para todos. Se alguém discorda de alguma regra, que se
mobilize para alterá-la no Congresso. A burla a esse princípio, vinda de quem quer que seja, merece uma só
sentença: a punição.

Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 263.


Disponível em: https://veja.abril.com.br/revista-veja/carta-ao-leitor-ninguem-esta-acima-da-lei/

 Conhecendo o gênero

O Texto 1 faz parte do gênero textual Carta ao Leitor, que consiste em uma carta aberta direcionada aos
leitores de um determinado veículo de comunicação, como jornais e revistas, por exemplo. Comumente escrita
em primeira pessoa do plural, o autor da carta ao leitor é o editor ou algum jornalista com o objetivo de retificar
algum erro cometido, argumentar acerca de um tema ou pedir perdão por algum equívoco cometido na edição
na qual a carta foi publicada ou em outra edição. Assim, a carta ao leitor é uma forma do jornal ou revista se
posicionar e se aproximar de seus leitores.

 Conversando sobre o gênero

2. Após a leitura do Texto 1, discuta:

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a) Em qual meio de comunicação o texto foi divulgado? Quem o escreveu?

b) O texto discute algum tema específico? Caso afirmativo, qual é o tema abordado?

c) Na sua opinião, qual o objetivo do texto? E para quem ele se dirige?

 Os Operadores Argumentativos

3. Leia novamente os trechos a seguir, retirados do Texto 1:

“Em cinco anos, foram 68 capas sobre o assunto e centenas de reportagens, tanto na edição impressa quanto
na versão digital.”

“Não há dúvida sobre os feitos positivos da operação para acabar com a promiscuidade desavergonhada que
se instalou entre os setores público e privado no Brasil.”

“Mas, como um veículo de comunicação sério e responsável, não podemos deixar de registrar que um dos
maiores ícones da Lava-jato, o ministro da Justiça, Sergio Moro, ultrapassou de forma inequívoca a linha da
decência e da legalidade no papel de magistrado.”

4. Observe os elementos destacados nos trechos recortados do texto da revista VEJA. Qual o sentido que cada
elemento oferece aos trechos? Como eles contribuem para a compreensão da ideia transmitida pelo autor?

Expressões linguísticas como “tanto…quanto”, “para” e “mas” são utilizadas para auxiliar a introdução
de argumentos aos textos, facilitando a compreensão, por parte do leitor, da intensidade dos argumentos
apresentados pelo autor. Essas expressões, chamadas de operadores argumentativos, também são
importantes para a ligação de elementos textuais e para o estabelecimento de relações entre eles.
Os operadores argumentativos são de diferentes tipos, de acordo com a relação que eles estabelecem
entre as sentenças por eles interligadas. Confira:

Tipo de Operador Argumentativo Exemplos

Operadores que indicam o argumento mais forte de Até, mesmo, até mesmo, inclusive, pelo menos, no
um enunciado. mínimo.

Operadores que somam argumentos a favor de uma E, também, ainda, não só… mas também, além de…,
mesma conclusão. além disso…, aliás.

Operadores que indicam conclusão. Portanto, logo, por conseguinte, pois, em decorrência,
consequentemente.

Operadores que introduzem argumentos alternativos Ou, ou então, quer…. quer, seja…. seja.
que levam a conclusões diferentes ou opostas.

Operadores que indicam comparação entre elementos Mais….que, menos….que, tão….quanto,


a fim de uma conclusão. tanto…quanto.

Operadores que indicam causa/explicação. Porque, que, já que, pois, por causa de.

Operadores que introduzem pressupostos no Já, ainda, agora.

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enunciado.

Operadores que contrapõem argumentos orientados Mas, contudo, todavia, no entanto, embora, ainda que,
para conclusões contrárias. apesar de (que).

Operadores que indicam uma relação de condição Se, caso.


entre um antecedente e um consequente.

Operadores que indicam uma relação de tempo. Quando, assim que, logo que, no momento em que…

Operadores que indicam finalidade/objetivo. Para, para que, a fim de…

5. Classifique os operadores argumentativos de acordo com os tipos de operadores introduzidos, não deixando
de buscar no texto o sentido evocado pelas expressões.

 Exercícios de concursos

1. (PISM III – 2014)

Texto II

A publicidade e o consumo consciente

Reinaldo Canto

A publicidade exerce um papel de protagonismo nas relações de mercado, sendo um meio


fundamental na disponibilização de informações sobre produtos e serviços aos consumidores. Raras são as
empresas que não fazem uso sistemático desse meio para garantir o crescimento de suas vendas. Afinal,
como diz o ditado, “a propaganda é a alma do negócio”. Por essa razão somos diuturnamente bombardeados
por peças de propaganda materializadas, muitas vezes, como num passe de mágica, por meio de imagens ou
jingles poderosos e inesquecíveis. Para garantir esse efeito eletrizante, as agências trabalham com dezenas,
centenas de profissionais extremamente criativos em busca da mensagem perfeita que vá “fisgar” o
cliente/freguês/consumidor para a compra do que se pretende vender.

O grau de sofisticação alcançado pelo setor e o desenvolvimento da capacidade de convencimento


não coloca em dúvida as incríveis habilidades dos publicitários em, conforme se dizia antigamente, “vender
geladeiras para esquimós”. Mas será que já não passamos do limite e tenhamos que rever alguns dos valores
dominantes no setor? Será mesmo que vender uma geladeira ou outro produto qualquer para quem não
precisa deva ser visto como positivo ou uma simples trapaça?

Apologia ao consumismo

Vivemos um momento delicado e único da nossa história no qual a combinação entre consumo e alta
tecnologia propiciou acesso inédito a produtos antes disponíveis para alguns poucos privilegiados. Claro que
o fato de mais pessoas poderem adquirir produtos é algo muito positivo, apesar de ainda imperar uma grande
desigualdade. Mas, por outro lado, esse consumo, muitas vezes completamente irracional, vem causando
uma inédita pressão sobre as fontes energéticas e uma utilização predatória e insana dos recursos naturais
do planeta.

E a publicidade possui uma cota significativa de responsabilidade nessa equação totalmente


desequilibrada. Afinal, boa parte do que lemos, ouvimos e assistimos em anúncios associam determinados
produtos ao que certamente, eles não correspondem, melhor dizendo, felicidade, satisfação, conquista e até
mesmo amor e respeito. O apelo cotidiano à emoção e a plena satisfação de desejos via mensagens

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publicitárias na compra de coisas nem sempre úteis ou realmente necessárias só multiplica a sensação de
que algo muito errado domina os destinos da humanidade.

(...)

Hora de Mudar?

Sem que se abandonem seus objetivos profissionais e, claro, contando com o apoio fundamental dos
anunciantes, a categoria dos publicitários não poderia colaborar para que o consumidor faça as melhores
escolhas para si e para o planeta? Como? É óbvio que muito terá de se discutir sobre o assunto, mas
algumas sugestões poderiam aos poucos fazer parte da realidade dos anúncios.

Por que não informar mais sobre o produto em questão focado nas suas características reais ao invés
de usar pirotecnia e subterfúgios para convencer o comprador? (...) Por que não abordar no anúncio as
funcionalidades do produto em lugar de substituir essa análise pela falsa sensação da conquista e do status?
Algumas propagandas de carros, por exemplo, procuram associar características ao veículo que,
efetivamente, não fazem parte da venda.

Tenho certeza de que com a genialidade dos nossos publicitários já demonstrada pelos inúmeros
prêmios internacionais recebidos ao longo dos anos, não deverá ser uma tarefa das mais complicadas
redirecionar seu trabalho para um apoio efetivo no atendimento aos critérios da sustentabilidade e ao
consumo consciente.

Fonte: Carta Capital. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-publicidade-e-o-consumo-consciente

Questão 5 – De acordo com o autor do texto II, de que modo a publicidade pode colaborar para o consumo
consciente?

2. (ENEM 2001)

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe

Nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

Na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

No breve espaço de beijar.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

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Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e expressões
linguísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção
estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido de:

A) comparação

B) conclusão.

C) oposição.

D) alternância.

E) finalidade.

3. (ENEM 2011)

Cultivar um estilo de vida saudável é extremamente importante para diminuir o risco de infarto, mas também de
problemas como morte súbita e derrame. Significa que manter uma alimentação saudável e praticar atividade
física regularmente já reduz, por si só, as chances de desenvolver vários problemas. Além disso, é importante
para o controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de glicose no sangue. Também ajuda a diminuir o
estresse e aumentar a capacidade física, fatores que, somados, reduzem as chances de infarto. Exercitar-se,
nesses casos, com acompanhamento médico e moderação, é altamente recomendável.

ATALIA, M. Nossa vida. Época. 23 mar. 2009.

As ideias veiculadas no texto se organizam estabelecendo relações que atuam na construção do sentido. A
esse respeito, identifica-se, no fragmento, que

A) a expressão “Além disso” marca uma sequenciação de ideias.

B) o conectivo “mas também” inicia oração que exprime ideia de contraste.

C) o termo “como”, em “como morte súbita e derrame”, introduz uma generalização.

D) o termo “Também” exprime uma justificativa.

E) o termo “fatores” retoma coesivamente “níveis de colesterol e de glicose no sangue”.

4. (ENEM 2018)

Para os chineses da dinastia Ming, talvez as favelas cariocas fossem lugares nobres e seguros: acreditava-se
por lá, assim como em boa parte do Oriente, que os espíritos malévolos só viajam em linha reta. Em vielas
sinuosas, portanto, estaríamos livres de assombrações malditas. Qualidades sobrenaturais não são as únicas
razões para considerarmos as favelas um modelo urbano viável, merecedor de investimentos infraestruturais
em escala maciça. Lugares com conhecidos e sérios problemas, elas podem ser também solução para uma
série de desafios das cidades hoje. Contanto que não sejam encaradas com olhar pitoresco ou preconceituoso.
As favelas são, afinal, produto direto do urbanismo moderno e sua história se confunde com a formação do
Brasil.

CARVALHO, B. A favela e sua hora. Piauí, n. 67, abr. 2012.

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Os enunciados que compõem os textos encadeiam-se por meio de elementos linguísticos que contribuem para
construir diferentes relações de sentido. No trecho “Em vielas sinuosas, portanto, estaríamos livres de
assombrações malditas”, o conector “portanto” estabelece a mesma relação semântica que ocorre em

A) “[...] talvez as favelas cariocas fossem lugares nobres e seguros [...].”

B) “[...] acreditava-se por lá, assim como em boa parte do Oriente [...].”

C) “[...] elas podem ser também solução para uma série de desafios das cidades hoje.”

D) “Contanto que não sejam encaradas com olhar pitoresco ou preconceituoso.”


E) “As favelas são, afinal, produto direto do urbanismo moderno [...].”

5. (ENEM 2015)

Da timidez

Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou
notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta
atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua
timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo
psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de
inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.

[…]

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido,
duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma plateia, o tímido não
pensa nos membros da plateia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e
dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não adianta pedir para a plateia fechar os olhos,
ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta. O tímido, em
suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado
quando as estrelas virarem pó.

VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Entre as estratégias de progressão textual presentes nesse trecho, identifica-se o emprego de elementos
conectores. Os elementos que evidenciam noções semelhantes estão destacados em:

A) “Se ficou notório por ser tímido” e” [...] então tem que se explicar”.

B) “[...] então tem que se explicar “e” [...] quando as estrelas virarem pó".

C) "[...] ficou notório apesar de ser tímido [...] “e” [...] mas isto não é vantagem [...]".

D) “[...] um estratagema para ser notado [...] “e” Tão secreto que nem ele sabe".

E) “[...] como no paradoxo psicanalítico […] “e” [...] porque só ele acha [...]".

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6. (ENEM 2012)

Labaredas nas trevas Fragmentos do diário secreto de Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski
20 DE JULHO [1912]
Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado
senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre
Stephen Crane. Ririam da sugestão. […] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen
Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe.”
20 DE DEZEMBRO [1919]
Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua
inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros
também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que,
segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar
o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os
dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de

A) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a
consequência.
B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas
partes em questão.
C) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende
de circunstâncias apresentadas na outra.
D) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação
argumentativa distinta e oposta à outra.
E) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por
exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.

 Gabarito das questões objetivas

Questão 2 (ENEM 2001) – Alternativa c. Questão 3 (ENEM 2011) – Alternativa a

Questão 4 (ENEM 2018) – Alternativa e. Questão 5 (ENEM 2015) – Alternativa c.

Questão 6 (ENEM 2012) – Alternativa b.

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CAPÍTULO 3 – CONECTORES
 Momento de leitura
1. Faça a leitura do Texto 1 - “A Necessidade das Diferenças”:
TEXTO 1

A Necessidade das Diferenças

De acordo com a Teoria da Evolução, criada pelo cientista inglês Charles Darwin, o que possibilita a formação
do mundo como conhecemos hoje foi a sobrevivência dos mais aptos ao ambiente. A seleção se baseia na
escolha das características mais úteis e não nas diferenças. É do conhecimento geral que alguns governos
totalitários promoveram e promovem genocídios por considerarem determinadas raças inferiores.

Do meu ponto de vista, se no âmbito biológico as variações são imprescindíveis à vida, no sociológico, não
pode ser diferente. Uma vez todos iguais, seríamos atingidos pelos mesmos problemas, sem perspectivas de
resolução, já que todas as ideias e os problemas seriam semelhantes bem como todas as formas de ação
para solucioná-los.

Obviamente, nem todas as diferenças são benéficas. Por exemplo, a diferença entre as classes sociais, como
é hoje na sociedade brasileira, uma das mais acentuadas do mundo, não podem ser concebíveis. Para somar
à diferença social, é importante uma distribuição de renda mais igualitária, aliada à oportunidade de trabalho,
educação e saúde para todos.

Mas há quem se baseie nessas diferenças para excluir os menos favorecidos. Há atos que entraram para a
história como exemplos de vergonha para a humanidade, basta lembrar o Holocausto imposto pelos nazistas
aos judeus na Alemanha ou a matança dos curdos do Iraque promovido pelo ex-ditador daquele país.

Dessa forma, devemos nos conscientizar de que somos todos iguais em espécie, mas conviver com as
diferenças, por difícil que pareça, nos enriquece como pessoas. Nossos esforços devem ser voltados contra
discriminações vis, como racismos e perseguições religiosas, que apenas nos desqualificam como seres
humanos.

Fonte: http://thunderms1.blogspot.com/2009/05/modelo-de-dissertacao_12.html(Adaptado).

 Conhecendo o gênero
O texto “A Necessidade das Diferenças” se trata de um Artigo de Opinião, gênero que faz parte do
agrupamento Expor/Argumentar. A finalidade dos artigos de opinião é apresentar um ponto de vista sobre
determinado assunto, apresentando-o e argumentando sobre ele. Textos do gênero são estruturados em
introdução (apresentação do posicionamento e apresentação do tema), desenvolvimento (introdução de
argumentos) e conclusão (reafirmação da tese com base nos argumentos) e costumam apresentar um título
referente ao tema. Os artigos de opinião podem ser encontrados em jornais, revistas, sites, blogs etc. A
linguagem é formal e objetiva, podendo variar, no que diz respeito ao tempo/modo verbal, entre presente do
indicativo e o imperativo. Já no que se refere à pessoa do discurso, é comum que esteja escrito na 1ª ou na 3ª
pessoa do singular ou plural.

 Conversando sobre o texto


2. Discuta, de acordo com a leitura do texto, as questões a seguir:

a) Observe o título “A Necessidade das Diferenças” e, de acordo com o restante do texto, responda: Para o
autor, as diferenças são importantes? Como é possível identificar a sua posição?

b) Agora, analise a fonte da qual o texto foi retirado. Qual parece ser o público-alvo desse artigo de opinião?
Justifique sua resposta.

 Os Conectores

LÍNGUA PORTUGUESA / MÓDULO 2 - 16


3. Retome os termos destacados no Texto 1 e observe como eles se relacionam com as informações que o
autor utiliza na construção do texto. Escolha três termos e registre o significado depreendido por você de cada
um, de acordo com os demais elementos do texto.

4. As expressões destacadas contribuem para a compreensão do texto? Justifique sua resposta, de preferência
utilizando exemplos.

Como já visto, o Texto 1 discute a necessidade de diferenças e, se tratando de artigo de opinião, ou


seja, de um texto argumentativo, o autor se posiciona acerca do tema e apresenta informações – os
argumentos – para sustentar sua opinião. As expressões destacadas ajudam na exposição clara e organizada
dessas informações, portanto são chamadas de Conectores, também utilizados para relacionar frases,
introduzir paragráficos etc. Assim como os operadores argumentativos, os conectores são classificados de
acordo com o significado por ele dado ao texto. Observe os tipos de conectores na tabela a seguir:

Tipo de Conector Exemplos

Adição E, pois, além disso, e ainda, mas também, por um lado … por outro.

Causa É evidente que, certamente, naturalmente, evidentemente, por.

Reafirmação Nesse sentido, nessa perspectiva, em outras palavras, ou seja, novamente, em


suma, em resumo, dessa forma, outrossim, dessarte, destarte.

Semelhança Do mesmo modo, tal como, assim como, pela mesma razão.

Oposição/Restrição Mas, apesar de, no entanto, entretanto, porém, contudo, todavia, tampouco, por
outro lado.

Ligação Temporal Atualmente, contemporaneamente, após a década de, antes de, em seguida, até
que, quando.

Opinião A meu ver, creio que, em meu/nosso entender, parece-me que, (in)felizmente,
incrível como, admito que, (não) penso dessa forma/assim, obviamente.

Hipótese A menos que, supondo que, mesmo que, salvo se, exceto se.

Finalidade Para, para que, com o intuito de, com o objetivo de, a fim de.

Exemplificação Por exemplo, isto é, como se pode ver, a exemplo de.

Esclarecer (Não) significa que, quer dizer, isto é, não pense que, com isto, (não)
pretendemos.

Enfatizar Efetivamente, ainda assim, com efeito, na verdade, como vimos, como pudemos
refletir, mais uma vez.

Dúvida Talvez, é provável, é possível, provavelmente, possivelmente, porventura.

Chamar atenção Note-se que, atentar para o fato de que, constata-se que, verificamos, mais uma
vez.

Conclusão Portanto, logo, enfim, à guisa de conclusão, em suma, concluindo, para que.

LÍNGUA PORTUGUESA / MÓDULO 2 - 17


Certeza Evidentemente, certamente, decerto, naturalmente.

Proporção À medida que, da mesma forma.

Conformidade Conforme o(a), de acordo com, consoante, em conformidade.

5. Recupere os termos escolhidos no exercício 3 e classifique os conectores de acordo com a classificação


apresentada anteriormente. Compare sua resposta no primeiro exercício com a classificação e discuta com seu
professor a relação entre elas.

 Exercícios de concursos

1. (ENEM 2016)

O senso comum é que só os seres humanos são capazes de rir. Isso não é verdade?

Não. O riso básico — o da brincadeira, da diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da
vocalização — nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas vocalizações
ultrassônicas — que nós não somos capazes de perceber — e que eles emitem quando estão brincando de
“rolar no chão”. Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa
de fazer essa vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que está sendo atacado. O
que nos diferencia dos animais é que não temos apenas esse mecanismo básico. Temos um outro mais
evoluído. Os animais têm o senso de brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a parte
superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos corticais que nos permitem,
por exemplo, interpretar uma piada.

Disponível em: http://globonews.globo.com. Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado).

A coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto. Analisando o trecho
“Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local específico no cérebro”, verifica-se que ele
estabelece com a oração seguinte uma relação de

A) finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a falta de vocalização dos
ratos.

B) oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é contrário à vocalização dos ratos.

C) condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não haja vocalização dos ratos.

D) consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o dano causado no
cérebro.

E) proporção, já que à medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que haja vocalização dos ratos.

2. (ENEM 2014)

Miss Universo: “As pessoas racistas devem procurar ajuda”

SÃO PAULO – Leila Lopes, de 25 anos, não é a primeira negra a receber a faixa de Miss Universo. A primazia
coube a Janelle "Penny" Commissiong, de Trinidad e Tobago, vencedora do concurso em 1977. Depois dela
vieram Chelsi Smith, dos Estados Unidos, em 1995; Wendy Fitzwilliam, também de Trindad e Tobago, em
1998, e Mpule Kwelagobe, de Botswana, em 1999. Em 1986, a gaúcha Deise Nunes, que foi a primeira negra a
se eleger Miss Brasil, ficou em sexto lugar na classificação geral. Ainda assim a estupidez humana faz com
que, vez ou outra, surjam manifestações preconceituosas como a de um site brasileiro que, às vésperas da

LÍNGUA PORTUGUESA / MÓDULO 2 - 18


competição, e se valendo do anonimato de quem o criou, emitiu opiniões do tipo “Como alguém consegue
achar uma preta bonita?” Após receber o título, a mulher mais linda do mundo - que tem o português como
língua materna e também fala fluentemente o inglês – disse o que pensa de atitudes como essa e também
sobre como sua conquista pode ajudar os necessitados de Angola e de outros países.

COSTA, D. Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 10 set 2011 (adaptado)

O uso da expressão “ainda assim” presente nesse texto tem como finalidade

A) criticar o teor das informações fatuais até ali veiculadas.

B) questionar a validade das ideias apresentadas anteriormente.

C) comprovar a veracidade das informações expressas anteriormente.

D) introduzir argumentos que reforçam o que foi dito anteriormente.

E) enfatizar o contrassenso entre o que é dito antes e o que vem em seguida.

3. (ENEM 2014)

Tarefa

Morder o fruto amargo e não cuspir


Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
Mas avisar aos outros quanto é injusto
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis…
E quando em muitos a não pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para além de sua função sintática,

A) a ligação entre verbos semanticamente semelhantes.

B) a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis.

C) a introdução do argumento mais forte de uma sequência.

D) o reforço da causa apresentada no enunciado introdutório.

E) a intensidade dos problemas sociais presentes no mundo.

4. (ENEM 2010)

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si,
malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava
estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas

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cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo
horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas.

LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento apresentado. Observando aspectos da
organização, estruturação e funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas

a) expressa o mesmo conteúdo nas duas situações em que aparece no texto.

b) quebra a fluidez do texto e prejudica a compreensão, se usado no início da frase.

c) ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na abertura da frase.

d) contém uma ideia de sequência temporal que direciona a conclusão do leitor.


e) assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso.

5. (ENEM 2010)

O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contém
vários conectivos, sendo que

A) após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter rebatido a bola de cabeça.

B) enquanto tem um significado alternativo, porque conecta duas opções possíveis para serem aplicadas no
jogo.

C) no entanto tem o significado de tempo, porque ordena os fatos observados no jogo em ordem cronológica
de ocorrência.

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D) mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter dificuldade não é algo naturalmente
esperado.

E) por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo motivaram o Botafogo a
fazer um bloqueio.

6. (PISM 2017)

Leia o Texto 1, retirado do catálogo da 32ª Bienal de Arte de São Paulo:

Texto1

Arte porque sim


Júlia Rebouças
Na tarde de 5 de novembro de 2015 uma barragem de rejeitos de mineração de ferro rompeu no município de
Mariana, Minas Gerais, despejando cerca de sessenta milhões de metros cúbicos de lama e metais pesados e
em seiscentos e sessenta e três quilômetros de extensão do rio Doce, que deságua no oceano Atlântico. O
volume de lama divulgado é contestado pela empresa responsável, assim como a toxidade do material.
Registram-se índices de chumbo, arsênio e manganês acima de níveis seguros para o ecossistema. De
acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, condicionantes do licenciamento ambiental da barragem
estavam sendo desrespeitadas, sem que houvesse a devida fiscalização, o que incluía um plano de
emergência que poderia ter evitado a morte de dezessete pessoas e a total destruição do vilarejo de Bento
Rodrigues. O território dos indígenas krenak, no vale do rio Doce, é totalmente destruído pela contaminação
da lama. Não há mais possibilidade de pesca, plantio ou criação de animais. Sagrado para os Krenak, o rio é
a entidade Watú – avô – por sua importância, grandiosidade e pelo respeito que emana. Hoje uma cerca
separa as pessoas da margem intoxicada e infértil. Os rios somos nós todos, seres de água. Cada criança
que nasce é uma nascente. […] A cantora Elza Soares vem a público e entoa o fim do mundo. […] Elza canta
para não enlouquecer, diz. Sua carreira começou num show de calouros na televisão, aos treze anos, a fim de
levantar dinheiro para comprar remédios para seu filho recém-nascido. Diante de seu corpo negro, franzino,
vestido com trajes risíveis para a plateia domingueira, ouviu do apresentador Ary Barroso a pergunta
debochada de que planeta ela tinha vindo. Elza respondeu que vinha do planeta fome. Em dezembro de
2015, sábado à noite, cinco jovens negros estavam num carro na Zona Norte do Rio de Janeiro quando foram
executados por policiais com cento e onze tiros de fuzil e revólver. Os policiais fraudam a cena do crime e
forjam um auto de resistência. Extinção, especulamos sobre essa ameaça, que já é iminência. Como fazer
brotar do solo humilhado, como abrir frestas para novas formas de vida? O amanhã está aqui e se parece
com ontem. […] O xamã yanomami Davi Kopenawa trabalha com o etnólogo Bruce Albert para desenhar na
pele do papel registros da cosmologia de seu povo. Narra sua história, que não é de um indivíduo, mas de um
coletivo, com seus conhecimentos, narrativas, profecias. A história dos Yanomami, transmitida por meio de
sonhos, chega na forma de um livro que escapa aos gêneros e às disciplinas do saber hegemônico ocidental.
Generosamente, olha para nós, sujeitos do alheamento, e nos explica que a terra dos antigos brancos era
parecida com a nossa. Lá eram tão poucos quanto nós agora na floresta. Mas seu pensamento foi se
perdendo cada vez mais numa trilha escura e emaranhada […] Puseram-se a desejar o metal mais sólido e
mais cortante, que ele [Omama] tinha escondido debaixo da terra e das águas. Aí começaram a arrancar o
minério do solo com voracidade. Construíram fábricas para cozê-los e fabricar mercadorias em grande
quantidade. Então, seu pensamento cravou-se nelas e eles se apaixonaram por esses objetos como se
fossem belas mulheres. Isso os fez esquecer a beleza da floresta […] E, assim, as palavras das mercadorias
e do dinheiro espalharam-se por toda a terra de seus ancestrais. É o meu pensamento. Antes de o ano
acabar, um menino kaingang de dois anos é degolado no colo da mãe por um homem que se aproximou lhe
fazendo um afago. Um país na vertigem do presente. […] A arte vai à frente, as instituições vão atrás. Realizar
a Bienal de São Paulo que se assenta em 2016 compreende o exercício de pensar, sempre e mais uma vez,
no que pode a arte. Ou para que arte, ou para quem? […] Os estudantes secundaristas ocupam suas escolas.
A demanda é educação de qualidade e repúdio ao sucateamento do ensino público. Denunciam o desvio de
verba que seria usada para a compra de merenda escolar. Merenda escolar. […] A polícia se chama choque e
arranca os estudantes da escola. As mulheres ocupam. Na caminhada, um cordão de frente de mães que
carregam seus bebês. A polícia se chama choque e acompanha o cortejo como se fosse um bicho esfomeado
e açoitado, prestes a atacar. Os corpos das mulheres têm marcas de tinta da cor vermelha. A televisão da
padaria transmite o debate num programa matutino. Os especialistas discutem se é estupro ou não o caso de

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uma jovem de dezesseis anos violentada por trinta e três homens. Vídeos com cenas do ocorrido viralizam
nas redes sociais. Não há tinta vermelha suficiente para representar tanto sangue. […] Junho de 2016, dois
meninos, um de dez e outro de onze anos, furtam um carro em um bairro nobre de São Paulo. Perseguidos, o
de dez anos, que dirige o automóvel, é morto pela polícia militar. Dez anos. É feito um auto de resistência – o
menino teria atentado contra a polícia. Os moradores do bairro nobre juntam-se para contratar advogados e
defender os policiais em caso de processo. […] Uma semana antes de chegar junho, tem-se a notícia de que
pelo menos oitocentos e oitenta imigrantes afogaram-se no mar Mediterrâneo tentando chegar ao continente
europeu. Uma boate frequentada pela comunidade gay de Orlando, na Flórida, é invadida por um atirador que
mata cinquenta pessoas. […] Como forjar imagens grávidas, palavras-sementes, formas mutantes. A
necessidade da arte. O povo Aymará dos Andes chilenos diz que o futuro está em nossas costas, incógnito,
enquanto o passado está na nossa frente, diante de nossos olhos. […] Um artista de mãos dadas a um pajé
tukano, soprando uma nuvem, pousados sobre o centro geodésico da América do Sul. Hoje é dia 14 de junho
de 2016.
REBOUÇAS, Júlia. Arte porque sim. VOLZ, J.; REBOUÇAS, J. (Org.) 32ª Bienal de São Paulo:
Incerteza Viva: Catálogo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016.

QUESTÃO 1 – A partir de elementos retirados do texto, explique o título (“Arte porque sim”), esclarecendo o
fato de “porque” ali ser escrito desta forma.

 Gabarito das questões objetivas


Questão 1 (ENEM 2016) – Alternativa C. Questão 2 (ENEM 2014) – Alternativa E.

Questão 3 (ENEM 2014) – Alternativa C. Questão 4 (ENEM 2010) – Alternativa E.

Questão 5 (ENEM 2010) – Alternativa D.

LÍNGUA PORTUGUESA / MÓDULO 2 - 22

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