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Formação e rompimento de laços afetivos

1-Privação parcial: caracterizada pela presença de angústia, acentuada


necessidade de receber amor e intenso sentimento de vingança. Estas
sensações e emoções originam sentimentos de culpa, depressão e transtorno
de personalidade.
2- Privação total: Distingue da privação parcial, porque seus efeitos são mais
danosos sobre o desenvolvimento. Este nível de privação impacta diretamente
na formação da personalidade e pode mutilar completamente no indivíduo a
capacidade de estabelecer relações com as outras pessoas.
Freud não só insistiu no fato óbvio de que as raízes de nossa vida emocional
mergulham na infância, como também procurou explorar de um modo
sistemático a ligação entre acontecimentos dos primeiros anos de vida e a
estrutura e funcionamento da personalidade adulta.
“A felicidade e estabilidade de uma criança nesse período (o estágio final da
infância) ou sua infelicidade e desajustamento na sociedade ou na escola
dependem predominantemente de uma coisa: a adequação de sua formação
nos primeiros anos de vida”.
Donald Winnicott deixou claro que a capacidade para experimentar um
sentimento de culpa constitui atributo necessário da pessoa saudável. “implica
que a ambivalência seja tolerada” e uma aceitação da responsabilidade pelo
nosso amor e o nosso ódio.
Num artigo sobre neurose obsessiva, lembra-nos que “em todas as neuroses,
deparamo-nos com os mesmos instintos reprimidos por trás dos sintomas... o
ódio mantém-se reprimido no inconsciente pelo amor...”
O significado clínico que Freud atribuiu à ambivalência reflete-se em suas
construções teóricas. Na primeira de suas duas principais formulações, o
conflito intrapsíquico tem lugar entre os instintos sexuais e os do ego.
Freud resumiu sua proposição afirmando que “os instintos sexuais e os do ego
desenvolvem facilmente uma antítese que repete a do amor e ódio” (1915). O
mesmo conflito básico reflete-se de novo na segunda de suas formulações — a
que se refere ao conflito entre os instintos de vida e de morte. Nesta
terminologia, verificamos que a ambivalência com que um paciente neurótico
Ficará claro que os passos dados pelo bebê ou a criança ao avançar no
sentido da regulação dessa ambivalência têm importância decisiva para o
desenvolvimento de sua personalidade
Se a criança seguir um caminho favorável, ela crescerá consciente de que
existem, em seu íntimo, impulsos contraditórios, mas estará apta a dirigi-
los e controlá-los, e a ansiedade e culpa que eles engendram será
suportável. Se o seu progresso for menos favorável, a criança será
assediada por impulsos sobre os quais sente não ter controle ou ter um
controle inadequado; em conseqüência disso, sofrerá uma ansiedade
aguda com relação à segurança das pessoas que ela ama e também
temerá o revide que, acredita ela, não deixará de cair sobre sua própria
cabeça.
As condições que, na infância, favorecem ou retardam o desenvolvimento da
capacidade de regular o conflito — quero enfatizar mais uma coisa: não existe
nada de mórbido no conflito. Muito pelo contrário: conflito é, em todos nós, a
condição normal de nossas transações.
Toda a pesquisa recente em psicologia e biologia demonstrou
incontestavelmente que o comportamento, seja no próprio homem ou em
outros organismos, é resultante de um conflito quase contínuo de impulsos
interatuantes: nem o homem como espécie nem o homem neurótico como um
subgrupo atormentado têm o monopólio do conflito. O que caracteriza o
indivíduo psicologicamente doente é a sua incapacidade para regular
satisfatoriamente seus conflitos.
O que sabemos, pois, das condições que geram a dificuldade? Não pode haver
dúvida de que uma característica principal do conflito que toma difícil regulá-lo
é a magnitude de seus componentes. No caso de ambivalência, se o impulso
para obter satisfação libidinal *(2) ou o impulso para magoar e destruir a
pessoa amada for extraordinariamente forte, aumentará o problema de regular
o conflito.
Uma chave para os cuidados com a criança é tratá-la de tal maneira que
nenhum dos dois impulsos que põem em perigo a pessoa amada — a
voracidade libidinal e o ódio — se tome demasiado intenso.
Se um bebê tem o amor e a companhia de sua mãe e logo também a de
seu pai, ele crescerá sem uma pressão exagerada de anseios libidinais e
sem uma propensão irresistível para odiar. Se não tiver essas coisas,
seus anseios libidinais provavelmente serão muito elevados, o que
significa que o bebê estará procurando constantemente amor e afeição, e
será continuamente propenso a odiar aqueles que não conseguem dar
afeto.

Parece existir agora uma razoável certeza de que é por causa da intensidade
da demanda libidinal e do ódio gerados que a separação de uma criança de
sua mãe, depois que formou com ela uma relação emocional, pode acarretar
efeitos tão devastadores para o desenvolvimento de sua personalidade.
Embora seja apenas uma inferência que essa hostilidade é inicialmente dirigida
contra os pais ausentes, certos dados desse estudo estatisticamente
fundamentado são compatíveis com a hipótese, formulada há alguns anos
(Bowlby, 1944), de que um dos principais efeitos da separação mãe-criança é
uma grande intensificação do conflito de ambivalência.

“Detesto você, mamãe”, ou “Papai, você é um bruto”. Ao tolerarmos tais


explosões, mostramos aos nosso filhos que não tememos essas manifestações
hostis e que confiamos em que podem ser controladas; além disso,
propiciamos à criança a atmosfera de tolerância e compreensão em que o
autocontrole pode desenvolver-se.

Há dois métodos comuns para fazer isso. Um deles é a expressão veemente


de reprovação por meio do castigo; o outro, mais sutil e explorando o
sentimento infantil de culpa, consiste em incutir na criança a certeza de que
está sendo ingrata, e indicar-lhe o sofrimento. A experiência clínica sugere que
nem um nem outro é muito bem-sucedido na prática.

Ambos tendem a criar personalidades difíceis: o primeiro — a punição —


gerando rebeldes e, se for muito severo, delinqüentes; o segundo — a
vergonha — neuróticos carregados de sentimentos de culpa e de ansiedade.

As frustrações realmente importantes são as que dizem respeito à necessidade


que a criança tem de amor e atenção por parte dos pais. Desde que essas
necessidades sejam satisfeitas, as frustrações de outras espécies importam
muito pouco.

As crianças rapidamente aprendem a saber do que é que nós gostamos e não


gostamos, mas não possuem o equipamento psíquico necessário para
satisfazer sempre os nossos desejos em nossa ausência. A menos que se
aterrorize uma criança ao ponto de levá-la à inércia, o disciplinamento de
nossos filhos está fadado ao fracasso, e aqueles que o tentam só podem
esperar frustração e exaustão.

Uma técnica baseada na concepção que Donald Winnicott nos expôs, de


acordo com os ensinamentos de Melanie Klein — a concepção segundo a qual
existe nos seres humanos a semente de uma moralidade inata que, se tiver
oportunidade de germinar, proporciona à personalidade da criança os alicerces
emocionais do comportamento moral.

No entanto, seria absurdo pretender que os pais não cometam erros. Alguns
erros nascem da ignorância, mas talvez mais numerosos sejam os que são
fruto dos problemas emocionais inconscientes que têm origem em nossa
própria infância.

Muitas das dificuldades com que os pais se defrontam, o que não chega a
causar surpresa a ninguém, resultam da sua incapacidade para regular a
própria ambivalência. Quando nos tornamos pais para uma criança,
poderosas emoções são despertadas, emoções tão fortes quanto as que
vinculam um bebê à mãe ou um amante a outro.

Conflito extrapsíquico e conflito intrapsíqiuco.

O ponto de vista que estou defendendo, como se verá, baseia-se na convicção


de que muita infelicidade e muita enfermidade mental se devem a influências
ambientais, as quais está a nosso alcance mudar.

Cumpre admitir que esse perigo existe e que analistas escreveram livros sobre
os cuidados com a criança focalizando principalmente o conflito
extrapsíquico, ou seja, o conflito entre as necessidades da criança e as
oportunidades limitadas que o meio ambiente proporciona para a
satisfação dessas necessidades.

Quanto ao meio ambiente externo, o que importa é saber em que medida


as frustrações e outras influências impostas por ele desenvolvem o
conflito intrapsíquico de tal forma e com tanta intensidade que o
equipamento psíquico imaturo do bebê não possa regulá-la
satisfatoriamente.

O nosso modelo básico para o comportamento instintivo é, pois, uma unidade


que compreende um padrão de comportamento específico da espécie
governado por dois mecanismos complexos, um que controla a sua ativação e
o outro a sua terminação.
Antes de considerarmos a aplicação desses conceitos à pesquisa do
desenvolvimento infantil, quero referir-me rapidamente a dois outros
conceitos para os quais etologistas e psicólogos têm dado contribuições
— os de fases sensíveis do desenvolvimento *(1) e de regulação do
conflito. Ambos os conceitos são centrais para a psicanálise e a nossa
crescente compreensão de ambos reveste-se de particular interesse para os
clínicos.

As fases sensíveis, que ocorrem comumente, embora não necessariamente, no


início do ciclo vital, afetam o desenvolvimento em, pelo menos, quatro aspectos
diferentes:
(a) se, de fato, a resposta se desenvolve ou não;
(b) a intensidade com que é posteriormente exibida;
(c) a forma motora precisa que assume; e
(d) os estímulos que a ativam ou terminam

Nestas observações preliminares aventurei-me diretamente numa descrição e


exploração etológica do sorriso do bebê. Apresentei a vocês o sorriso
infantil como um detonador social — um padrão de comportamento,
provavelmente específico da espécie, no Homem, que, em circunstâncias
normais, amadurece nas primeiras semanas de vida e que tem como uma
das funções suscitar na mãe o comportamento maternal.

Há cerca de 20 anos, Dennis (1935) notou que os bebês (de sete a dezesseis
semanas) sorriam a um rosto e uma voz humanos. Como teórico da
aprendizagem, acreditava que o rosto e a voz não podiam ser os estímulos
não-condicionados e, assim, realizou experimentos para ver se podia identificar
o estímulo não-condicionado. O seu método consistiu em criar os bebês de tal
modo que, tanto quanto possível, sua amamentação e outros cuidados fossem
realizados de forma que eles não pudessem ver um rosto humano e que não
lhes fosse dirigida a palavra; a sua expectativa era de que, com o passar do
tempo, seria possível determinar para o que é que os bebês sorriam
naturalmente.
Dez anos depois, Spitz e Wolf (1946) publicaram mais alguns trabalhos
experimentais sobre o sorriso do bebê. Numa série de experimentos
usando máscaras, eles demonstraram
que em bebês entre dois e seis meses de idade, oriundos de diferentes
origens raciais e culturais, o sorriso é evocado pela qualidade
configurativa visual do rosto humano. Afirmaram ainda que essa
configuração deve incluir como elementos dos olhos na posição frontal
do rosto em movimento.

Parece irrefutável, e esses dois pesquisadores concordam, que pelo menos um


dos estímulos exteroceptivos que evocam um sorriso no bebê de dois para
três meses é uma Gestalt visual relativamente simples.

Spitz não o considera um padrão inato e específico da espécie. Deixou claro,


em comunicações pessoais, que o considera, pelo contrário, uma resposta
motora aprendida em resultado do condicionamento instrumental. Equiparando-
a à aprendizagem da linguagem através da seleção e uso especializado de
fonemas naturalmente dados, Spitz escreve:
“Uma seleção ocorre pela supressão progressiva (ou abandono) dos padrões
não-adaptados aos fins e pelo reforço dos padrões de comportamento
adaptados aos fins.

Uma razão principal para se preferir o programa etológico é que ele já provou
ser fecundo na análise do desenvolvimento e da interação social em outras
espécies, ao passo que a teoria da aprendizagem, como o próprio Gewirtz
sublinhou, foi desenvolvida para explicar fenômenos que são relativamente
mais simples e que, por conseguinte, ainda precisa demonstrar sua pertinência.

Não é esta a ocasião para tentarmos um tão vasto e polêmico


empreendimento. Entretanto, será evidente que noções tais como as de
narcisismo primário e de controle do instinto como resultados exclusivos
da aprendizagem social não merecerão muita atenção, ao passo que as
de relações humanas primárias, inevitabilidade do conflito intrapsíquico,
defesas contra o conflito e modos de regulá-lo, serão noções centrais.

Nos últimos vinte anos, acumularam-se muitas provas que indicam a existência
de uma relação causal entre a perda dos cuidados matemos nos primeiros
anos de vida e o desenvolvimento da personalidade perturbada.

O agente patogênico que nos interessa é a perda da figura materna


durante o período compreendido entre, aproximadamente, seis meses e
seis anos de idade. Durante os primeiros meses de vida, o bebê aprende a
discriminar uma certa figura, usualmente a mãe, e desenvolve um grande
prazer em estar na sua companhia. Depois dos seis meses de idade,
aproximadamente, o bebê mostra suas preferências de modo inconfundível
(Schaffer, 1958). Durante a segunda metade do primeiro ano de vida, e a
totalidade do segundo e terceiro, a criança está intimamente ligada à sua
figura materna, o que significa que fica contente na companhia dela e
aflita quando ela está ausente. Mesmo separações momentâneas levam
freqüentemente a criança a protestar; e as mais demoradas sempre envolvem
os mais vigorosos protestos. Após o terceiro ano, o comportamento de ligação
é suscitado um pouco menos prontamente do que antes, embora a mudança
seja apenas de grau *(1). A partir do primeiro aniversário, outras figuras, como
o pai ou uma avó, também podem tornar-se importantes para a criança, de
modo que a sua ligação não se limita mais a uma única figura. No entanto,
existe usualmente uma preferência bem marcada por uma determinada
pessoa. À luz da filogenia, é provável que os vínculos instintivos que ligam o
bebê humano a uma figura materna sejam construídos de acordo com o
mesmo padrão geral presente em outras espécies mamíferas (Bowlby, 1958;
Rollman-Branch, 1960; Harlow e Zimmermann, 1959).

Entretanto, quando a criança esteve fora por um período superior a seis


meses ou quando houve separações repetidas, de modo a ter sido
alcançado um estágio avançado de desligamento, há o perigo de que a
criança fique permanentemente desligada e nunca mais recupere sua
afeição pelos pais.
Existem, de fato, boas razões para acreditar que a seqüência de respostas
descrita — protesto, desespero e desligamento — é uma seqüência que, numa
variante ou outra, é característica de todas as formas de luto. Após uma perda
inesperada, parece haver sempre uma fase de protesto, durante a qual a
pessoa que sofreu a perda se empenha, na realidade ou em pensamento e
sentimento, em recuperar a pessoa perdida *(2) e a recrimina por sua
deserção. Durante esta fase de desespero e a seguinte, os sentimentos são
ambivalentes, enquanto que o estado de ânimo e a ação variam entre uma
expectativa imediata, expressa numa intimação raivosa para que a pessoa
regresse, até um profundo desespero, expresso em suspiros contidos.

Impulsos para recuperar e para recriminar a pessoa perdida: seu papel na


psicopatologia.
Nem sempre se percebe que a raiva constitui uma resposta imediata à perda,
comum e talvez invariável. Em lugar da raiva indicando que o luto está
seguindo um curso patológico — uma opinião sugerida por Freud e comumente
sustentada — as provas existentes evidenciam que a raiva, incluindo a raiva
com relação à pessoa perdida, é parte integrante da reação de pesar. A função
dessa raiva parece ser a de reforçar o ímpeto dos esforços vigorosos tanto
para reaver a pessoa perdida como para dissuadi-la de uma nova deserção,
que são marcas distintivas da primeira fase do luto. Como até hoje não se tem
prestado muita atenção a essa fase e como, além disso, ela parece ser crucial
para um entendimento da psicopatologia, toma-se necessário explorá-la mais
completamente.

Somente depois que todos os esforços foram feitos para reaver a pessoa
perdida é que, segundo parece, o indivíduo adquire um estado de ânimo capaz
de fazê-lo admitir a derrota e de reorientá-lo para um mundo em que a pessoa
amada é aceita como irreparavelmente ausente.

Logo, se tanto o esforço inútil para recuperar a pessoa perdida como as


recriminações furiosas contra ela por ter desertado não são sinais de patologia,
poder-se-á perguntar: então, de que modo se distingue o luto patológico do luto
saudável? O exame dos elementos de demonstração sugere que uma das
principais características do luto patológico é a incapacidade para
expressar abertamente esses impulsos para reaver e recriminar a pessoa
perdida, com toda a saudade do desertor e toda a raiva contra ele que
esses impulsos implicam.

Em outras palavras, na infância o indivíduo reage à perda com processos de


luto que habitualmente *(1) enveredam por um caminho que, nos adultos, é
considerado patológico.

O que parece acontecer na infância (e no luto patológico de anos


ulteriores), por outro lado, é a aceleração do desenvolvimento de
processos defensivos. Como resultado disso, os impulsos de recuperação e
recriminação não tem uma oportunidade de extinguir-se e, pelo contrário,
persistem, com sérias consequências.
Dois termos técnicos comuns são usados para designar os processos em ação:
fixação e repressão. Inconscientemente, a criança permanece fixada à mãe
que perdeu: seus impulsos para reavê-la e recriminá-la, e as emoções
ambivalentes a eles ligados, sofreram repressão.
Um outro processo defensivo, estreitamente relacionado com a repressão
e alternativo para esta, também pode ocorrer em consequência da perda.
Trata-se da “divisão do ego”.

Tal como no caso da repressão, as divisões do ego também culminam em


doença psiquiátrica.

o processo defensivo que resulta de uma perda na infância como uma


alternativa do luto significa omitir aqueles processos defensivos de espécies
semelhantes mas de menor grau e início mais tardio que também participam do
luto saudável, e esquecer também que o que é patológico não são tanto os
próprios processos defensivos mas, sobretudo, a sua intensidade e o seu início
prematuro

Assim, um exame da literatura mostra que, apesar do significado fortemente


patogênico atribuído à perda de um dos pais e à perda de amor, na tradição
principal da teorização psicanalítica a origem do luto patológico e da
conseqüente doença psiquiátrica no adulto não está ligada à predisposição dos
processos de luto para adotarem um curso patológico quando ocorrem após
uma perda sofrida na infância.
Acredito que uma importante contribuição de Melanie Klein (1935, 1940) foi ter
estabelecido essa relação. Afirma que bebês e crianças pequenas se afligem e
passam por fases de depressão, e que seus modos de responder em tais
períodos são determinantes da maneira como, no resto da vida, responderão a
novas perdas.

Efeitos sobre o comportamento do rompimento de um vínculo afetivo

Os psicanalistas, pelo contrário, há muito reconheceram a importância imensa


dos vínculos afetivos nas vidas e problemas de seus pacientes, mas
demoraram para desenvolver uma estrutura científica adequada, dentro da qual
a formação, manutenção e rompimento de tais vínculos possam ser
entendidos.

A característica essencial da vinculação afetiva é que os dois parceiros tendem


a manter-se próximos um do outro. Quando, por qualquer razão, se separam,
cada um deles procurará o outro, mais cedo ou mais tarde, a fim de reatar a
proximidade. Qualquer tentativa, por parte de terceiros, para separar um par
vinculado encontrará vigorosa resistência

De uma forma um tanto paradoxal, o comportamento de tipo agressivo


desempenha um papel decisivo na manutenção de vínculos
afetivos. Assume duas formas distintas: primeiro, ataques e
afugentamento de intrusos e, segundo, a punição de um parceiro errante,
seja ele esposa, marido ou filho.

Os vínculos afetivos e os estados subjetivos de forte emoção tendem a ocorrer


juntos, como sabem todos os romancistas e autores teatrais. Assim, muitas das
mais intensas emoções humanas surgem durante a formação, manutenção,
rompimento e renovação de vínculos emocionais.

Na tentativa de compreenderem por que adultos se ligam uns aos outros, o


sexo foi comumente considerado a explicação óbvia e suficiente. Entretanto,
quando as provas são minuciosamente examinadas, verifica-se que essas
explicações são insuficientes.

Quanto à função, a observação de animais em seu habitat natural sugere


nitidamente que a função biológica de quase toda, senão de toda a vinculação
entre indivíduos da mesma espécie é a proteção contra predadores — uma
função tão importante quanto a nutrição ou a reprodução para a sobrevivência
de uma população, mas que geralmente tem sido menosprezada por
investigadores confinados entre as quatro paredes de um laboratório e
preocupados apenas com o homem que vive em sociedades economicamente
desenvolvidas.

é muito provável que uma capacidade de vinculação tenha um valor de


sobrevivência para uma espécie, tão grande quanto qualquer dessas outras
capacidades estudadas desde longa data.

Foi sistematicamente apurado que duas síndromes psiquiátricas e duas


espécies de sintomas associados são precedidos por uma elevada
incidência de vínculos afetivos desfeitos durante a infância. As síndromes
são a personalidade psicopática (ou sociopática) e a depressão; os
sintomas persistentes, a delinqüência e o suicídio.

Mais provável é que as perdas tenham ocorrido durante os primeiros cinco


anos de vida e tenham sido causadas não só pela morte de um dos pais, mas
também por outras causas permanentes, principalmente a ilegitimidade e o
divórcio. Nesses aspectos, os pacientes suicidas tendem a assemelhar-se aos
sociopatas e, como se verá mais adiante, a diferir dos depressivos.

Incidência de perda ou ausência contínua de um ou de ambos os pais naturais


durante pelo menos 12 meses antes de completar 15 anos.
Idade da perda: 0-4 anos.
Pacientes não-psiquiátricos %: 9.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 9.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 26.
Idade da perda: 5-9 anos.
Pacientes não-psiquiátricos %: 12.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 10.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 11.
Idade da perda: 10-14 anos.
Pacientes não-psiquiátricos %: 7.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 7.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 11.
Idade da perda: duvidoso.
Pacientes não-psiquiátricos %: 0.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 2.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 1.
Idade da perda: 0-14 anos.
Pacientes não-psiquiátricos %: 28.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 28.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 49.
Idade da perda: N.
Pacientes não-psiquiátricos %: 156.
Pacientes psiquiátricos não-suicidas %: 156.
Indivíduos que tentaram o suicídio %: 156.

Uma outra condição que está associada a uma incidência


significativamente maior de perda na infância é a depressão. Entretanto, o
tipo de perda experimentada tende a ser de uma espécie diferente da
deterioração familiar geral, que é típica da infância de psicopatas e de
indivíduos que tentam o suicídio. Em primeiro lugar, na infância de depressivos,
a perda deve-se mais freqüentemente à morte de um dos pais do que à
ilegitimidade, divórcio ou separação. Em segundo lugar, nos depressivos, a
incidência de orfandade tende a ser maior durante o segundo qüinqüênio da
infância e, em alguns estudos, também no terceiro.

Assim, parece agora razoavelmente certo que, em numerosos grupos de


pacientes psiquiátricos, a incidência de rompimento de vínculos afetivos
durante a infância é significativamente elevada.

É comprovadamente útil o postulado de que, em cada tipo de caso, o


comportamento perturbado do adulto representa uma persistência, ao longo
dos anos, de padrões desviantes do comportamento de ligação que se
estabeleceram em conseqüência do rompimento de vínculos afetivos durante a
infância.

apurou que meninos que no parto tinham sofrido um período de asfixia


são muito mais sensíveis à mudança ambiental, inclusive separação da
mãe, do que meninos que não sofreram asfixia

Além disso, sabe-se que as interrupções prolongadas ou repetidas do vínculo


entre a mãe e o filho pequeno, durante os primeiros cinco anos de vida da
criança, são especialmente frequentes em pacientes diagnosticados mais tarde
como personalidades psicopáticas ou sociopáticas.

O que antes era enumerado como fases 1, 2 e 3, foi reordenado, portanto,


como fases 2, 3 e 4. As quatro fases agora reconhecidas são:
1. Fase de torpor ou aturdimento, que usualmente dura de algumas horas a
uma semana e pode ser interrompida por acessos de consternação e (ou) raiva
extremamente intensas.
2. Fase de saudade e busca da figura perdida, durando alguns meses e, com
freqüência, vários anos.
3. Fase de desorganização e desespero.
4. Fase de maior ou menor grau de reorganização.

A hipótese central em toda a nossa tese é que muitas características da


segunda fase do luto devem ser entendidas como aspectos não só da saudade
mas também da busca real da figura perdida. Essa hipótese está intimamente
relacionada, é claro, com o quadro de comportamento de ligação que foi
descrito por um de nós (Bowlby, 1969). Argumento que o comportamento de
ligação é uma forma de comportamento instintivo que se desenvolve tanto em
seres humanos como em outros mamíferos, durante a infância, e que tem
como objetivo ou meta a proximidade de uma figura materna. Sugere-se que a
função do comportamento de ligação é a proteção contra predadores. Embora
o comportamento de ligação se manifeste de maneira especialmente forte *(1)
durante a infância, quando é dirigido para as figuras parentais, ele continua em
atividade durante a vida adulta, quando geralmente é dirigido para alguma
figura ativa e dominante, muitas vezes uma pessoa da família mas, outras
vezes, um patrão ou alguma pessoa mais velha da comunidade A teoria
enfatiza que o comportamento de ligação é suscitado sempre que uma pessoa
(criança ou adulto) está doente ou em dificuldades, e é muito intenso quando
ela está assustada ou quando a figura de ligação não pode ser encontrada.

Por exemplo, uma passagem freqüentemente citada de Totem e Tabu (1902-3)


diz o seguinte: “O luto tem uma tarefa psíquica muito precisa a executar: a sua
função é desligar as lembranças esperanças do sobrevivente em relação ao
morto”

Em nossos estudos, e também nos de Maddison e Walker, foi apurado que


quanto mais jovem é uma mulher ao enviuvar, mais intenso é o seu
sentimento de luto e maior a probabilidade de que sua saúde esteja
alterada ao cabo de doze meses de viuvez. Em contrapartida, se uma
mulher já passou dos 65 anos quando seu marido morre, o golpe será
provavelmente muito menos incapacitador. É como se os laços entre eles
já estivessem começando a afrouxar.

Condições que favorecem ou dificultam o luto saudável.


Atualmente, os psiquiatras em geral concordam em que, para que o luto
leve a um resultado favorável, e não desfavorável, é necessário que a
pessoa que sofreu uma perda expresse — mais cedo ou mais tarde —
seus sentimentos e emoções. “Soltai as palavras tristes”, escreveu
Shakespeare, “as penas que não falam sufocam o coração extenuado e
fazem-no quebrantar”.

Existem hoje provas de que os afetos mais intensos e perturbadores


provocados por uma perda são o medo de ser abandonado, a saudade da
figura perdida e a raiva por não reencontrá-la — afetos que estão associados,
por um lado, ao anseio de buscar a figura perdida e, por outro, a uma tendência
para recriminar furiosamente quem quer que pareça ser o responsável pela
perda ou estar dificultando a recuperação da pessoa que foi perdida.
Nosso papel deve ser, então, o de um companheiro pronto a oferecer todo
o apoio, preparado para explorar, em nossas discussões, todas as
esperanças e desejos e tênues possibilidades improváveis que a pessoa
ainda acalenta, somados a todas as recriminações, remorsos e
decepções que a afligem.

Evitar o luto é uma importante variante patológica do pesar mas não é,


acreditamos, a única. Existem muitos adultos que sofrem perda os quais,
ao procurarem a ajuda de psiquiatras, dão poucas provas da inibição
emocional que foi descrita acima.

Acumulam-se evidências de que seres humanos de todas as idades são mais


felizes e mais capazes de desenvolver melhor seus talentos quando estão
seguros de que, por trás deles, existem uma ou mais pessoas que virão em
sua ajuda caso surjam dificuldades. A pessoa em quem se confia, também
conhecida como uma figura de ligação (Bowlby, 1969), pode ser considerada
aquela que fornece ao seu companheiro (ou à sua companheira) uma base
segura a partir da qual poderá atuar.

Vista sob esta luz, o funcionamento da personalidade saudável em toda e


qualquer idade reflete, em primeiro lugar, a capacidade do indivíduo para
reconhecer figuras adequadas que estão dispostas e aptas a
proporcionar-lhe uma base segura, e, em segundo lugar, a sua
capacidade para colaborar com essas figuras em relações mutuamente
gratificantes. Em contrapartida, muitas formas de funcionamento da
personalidade perturbada refletem a reduzida capacidade de um indivíduo para
reconhecer figuras adequadas e dispostas a fornecer uma base segura.

A personalidade saudável, quando vista sob essa luz, mostra não ser tão
independente quanto os estereótipos culturais supõem. Os ingredientes
essenciais são a capacidade para confiar nos outros quando a ocasião
requer, e para saber em quem é conveniente confiar. Uma pessoa
funcionando de modo saudável é, pois, capaz de trocar papéis quando a
situação muda. Ora está fornecendo uma base segura a partir da qual seu
companheiro ou companheiros podem atuar; ora sente satisfação em
confiar em um ou outro de seus companheiros que, em compensação, lhe
proporciona essa base.

Ainsworth notou como os bebês, uma vez adquirida mobilidade, comumente


usam a mãe como uma base a partir da qual realizam suas explorações.
Quando as condições são favoráveis, afastam-se da mãe em saídas
exploratórias e regressam para junto dela de tempos em tempos. Por volta dos
oito meses de idade, quase todos os bebês observados que tinham tido uma
figura materna estável a quem estavam ligados mostraram esse
comportamento; mas em caso de ausência da mãe, tais saídas organizadas
tornavam-se muito menos evidentes ou cessavam.

Pontos de diferença em relação às formulações teóricas atuais.


Embora o esquema teórico aqui apresentado não seja muito diferente daquele
adotado implicitamente por muitos clínicos, ele difere num certo número de
pontos de boa parte da teoria correntemente ensinada. Entre essas diferenças,
citaremos as seguintes:
(a) Uma ênfase, no esquema atual, sobre o parâmetro ambiental familiar-
estranho, a qual não existe na teoria tradicional;
(b) Ênfase, no esquema atual, sobre os muitos outros componentes da interação
mãe-bebê além da amamentação; sustenta-se que a excessiva ênfase sobre a
amamentação prejudicou imensamente a nossa compreensão do
desenvolvimento da personalidade e as condições que o influenciam;
(c) A substituição dos conceitos de “dependência” e “independência”
pelos conceitos de ligação, confiança, segurança e autoconfiança;
(d) A substituição da teoria da oralidade derivada da teoria dos objetos internos
por uma teoria de modelos operacionais do mundo e do eu, os quais são
concebidos como sendo construídos por cada indivíduo em resultado de sua
experiência, determinam suas expectativas, e com base nos quais o indivíduo
traça seus planos.

Como termos e conceitos para expressar a teoria aqui proposta, “dependência”


e “independência” têm um certo número de graves inconvenientes; por
conseguinte, são substituídos por termos e conceitos tais como “confiar em”,
“ligado a”, “contar com” e “autoconfiança”. Em primeiro lugar, dependência e
independência são inevitavelmente concebidas como sendo mutuamente
exclusivas; ao passo que, como já foi enfatizado, confiar em outros e
autoconfiança não só são compatíveis como são mutuamente
complementos. Em segundo lugar, descrever alguém como “dependente”
implica inevitavelmente um matiz pejorativo, ao passo que descrever
alguém como “confiante em outra pessoa” nada tem de depreciativo. Em
terceiro lugar, enquanto o conceito de ligação subentende sempre ligação
a uma ou mais pessoas especialmente amadas, o conceito de
dependência não implica tal relacionamento mas, pelo contrário, tende a
ser anônimo.

O conceito de “objeto interno”, um conceito que é ambíguo sob múltiplos


aspectos (Strachey, 1941). Em seu lugar pode ser colocado o conceito,
derivado da psicologia cognitiva e da teoria do controle, de um indivíduo
que desenvolve dentro de si mesmo um ou mais modelos operacionais
representando as principais características do mundo à sua volta e de si
mesmo como um agente nesse mundo.

O que na teoria tradicional é denominado um “objeto bom”, pode ser


reformulado, dentro deste quadro de referência, como um modelo operacional
de uma figura de ligação que é concebida como acessível, confiável e pronta
para ajudar, quando solicitada. Analogamente, o que na teoria tradicional é
designado como um “objeto mau”, pode ser reformulado como um modelo
operacional de uma figura de ligação a quem se atribuem características tais
como acessibilidade incerta, relutância em prestar ajuda ou, talvez,
probabilidade de uma reação hostil.
que foi o primeiro a considerar a ansiedade de separação como um problema-
chave, sugeriu que, para os seres humanos, “a situação fundamental de perigo
é uma situação reconhecida, recordada e esperada de impotência e
desamparo”

Em crianças entre o segundo e o quinto anos de vida, relata Jersild, existe um


certo número de situações bem definidas que habitualmente suscitam medo.
Por exemplo, as descrições de 136 crianças, num período de três meses,
mostram que nada menos de 10 % delas mostraram medo, pelo menos numa
ocasião, quando colocadas em confronto com cada uma das seguintes
situações: (a) ruído e eventos associados a ruído; (b) altura; (c) pessoas
estranhas, ou pessoas conhecidas com indumentária estranha; (d) objetos e
situações de natureza insólita; (e) animais; (f) dor ou pessoas associadas à dor.

Uma autoconfiança bem fundamentada, podemos concluir, é, geralmente,


o produto de um crescimento lento e não reprimido, da infância até a
maturidade, durante o qual, através da interação com outros,
incentivadores e confiáveis, a pessoa aprende a combinar a confiança
nos outros com a confiança em si mesma.

O que, por uma questão de conveniência, designo como teoria da ligação, é


um modo de conceituar a propensão dos seres humanos a estabelecerem
fortes vínculos afetivos com alguns outros, e de explicar as múltiplas
formas de consternação emocional e perturbação da personalidade,
incluindo ansiedade, raiva, depressão e desligamento emocional, a que a
separação e perda involuntárias dão origem.

Embora incorpore muito do pensamento psicanalítico, a teoria da ligação difere


da psicanálise tradicional ao adotar um certo número de princípios que derivam
das disciplinas relativamente novas da etologia e teoria do controle; assim
fazendo, está habilitada a dispensar conceitos tais como os de energia psíquica
e impulso, e a estabelecer estreitos laços com a psicologia cognitiva.

Os vínculos entre indivíduos desenvolvem-se, segundo era sustentado, porque


um indivíduo descobre que, para satisfazer certos impulsos, como por exemplo
de alimentação na infância e de sexo na vida adulta, é necessário um outro ser
humano. Esse tipo de teoria propõe duas espécies de impulsos, primários e
secundários; classifica o alimento e o sexo como impulsos primários, e a
“dependência” e outras relações pessoais como secundários. Embora os
teóricos das relações objetais (Balint, Fairbairn, Guntrip, Klein, Winnicott)
tentassem modificar essa formulação, os conceitos de dependência, oralidade
e regressão persistiram
Lorenz tinha verificado que, pelo menos em algumas espécies de aves, durante
os primeiros dias de vida, desenvolvem-se fortes vínculos com uma figura
materna, sem qualquer referência à alimentação e simplesmente através da
exposição do filhote à figura em questão, com a qual se familiarizou.

Um bebê macaco, apurou Harlow, agarrar-se-á a um boneco que não o


alimenta, desde que esse boneco seja macio e confortável.
Em suma, o comportamento de ligação é concebido como qualquer forma
de comportamento que resulta em que uma pessoa alcance ou mantenha
a proximidade com algum outro indivíduo diferenciado e preferido, o qual
é usualmente considerado mais forte e (ou) mais sábio. Embora seja
especialmente evidente durante os primeiros anos da infância, sustenta-se que
o comportamento de ligação caracteriza os seres humanos do berço à
sepultura. Os padrões de comportamento de ligação manifestados por um
indivíduo dependem, em parte, de sua idade atual, sexo e circunstâncias, e, em
parte, das experiências que teve com figuras de ligação nos primeiros anos de
sua vida.
Como um modo de conceituar a manutenção da proximidade, a teoria da
ligação, em contraste com a teoria da dependência, enfatiza as seguintes
características *(2):
(a) Especificidade. O comportamento de ligação é dirigido para um ou
alguns indivíduos específicos, geralmente em ordem clara de preferência.
(b) Duração. Uma ligação persiste, usualmente, por grande parte do ciclo
vital.
(c) Envolvimento emocional A formação de um vínculo é descrita como
“apaixonar-se”, a manutenção de um vínculo como “amar alguém” e a
perda de um parceiro como “sofrer por alguém” Do mesmo modo, a
ameaça de perda gera ansiedade e a perda real produz tristeza; enquanto
que cada uma dessas situações é passível de suscitar raiva. A
manutenção inalterada de um vínculo afetivo é sentida como uma fonte
de segurança, e a renovação de um vínculo, como uma fonte de júbilo.

D - Ontogenia. Na grande maioria dos bebês humanos, o comportamento


de ligação com uma figura preferida desenvolve-se durante os primeiros
nove meses de vida.

Cumpre assinalar que o conceito de ligação difere substancialmente do


conceito de dependência. Por exemplo, a dependência
não está especificamente relacionada com a manutenção da proximidade, não
se refere a um indivíduo específico, nem está necessariamente associada a
uma emoção forte. Nenhuma função biológica lhe é atribuída. Além disso, no
conceito de dependência há implicações de valor que são o oposto exato
daquelas que o conceito de ligação subentende. Enquanto que qualificar uma
pessoa como dependente tende a ser depreciativo, descrevê-la como ligada a
alguém pode muito bem ser uma expressão de aprovação.

No que se segue, o indivíduo que manifesta o comportamento de ligação é


usualmente mencionado como criança, e a figura de ligação como mãe.

Vista sob este prisma, a ansiedade em torno da separação involuntária de uma


figura de ligação assemelha-se à ansiedade que o comandante de uma força
expedicionária sente quando as comunicações com a sua base são cortadas
ou ameaçadas.
Isso leva à conclusão de que a ansiedade em torno de uma separação
involuntária pode ser uma reação perfeitamente normal e saudável. O que
pode ser difícil de explicar é por que tal ansiedade é despertada em algumas
pessoas com uma intensidade tão grande ou, ao contrário, em outras, com tão
pouca intensidade. Isso nos conduz a questões de etiologia e psicopatologia.

O ponto fundamental de minha tese é que existe uma forte relação causal
entre as experiências de um indivíduo com seus pais e sua capacidade
posterior para estabelecer vínculos afetivos, e que certas variações
comuns dessa capacidade, manifestando-se em problemas conjugais e
em dificuldades com os filhos, assim como nos sintomas neuróticos e
distúrbios de personalidade, podem ser atribuídas a certas variações
comuns no modo como os pais desempenham seus papéis.

Um padrão de comportamento de ligação que é abertamente o oposto da


ligação ansiosa é o descrito por Parkes (1973) como autoconfiança
compulsiva. Ao invés de buscar o amor e os cuidados de outros, uma
pessoa que apresenta esse padrão insiste em agüentar firme e em fazer
tudo por si mesma, sejam quais forem as condições. Também essas
pessoas são passíveis de desmoronar sob estresse e apresentar
sintomas psicossomáticos ou depressão.
Muitas dessas pessoas tiveram experiências semelhantes às dos indivíduos
que desenvolvem uma ligação ansiosa; mas reagiram a elas de modo
diferente, inibindo o sentimento e o comportamento de ligação, e negando,
talvez até ridicularizando, qualquer desejo de relações estreitas com quem quer
que pudesse dar amor e carinho.

Já enfatizei que, em minha opinião, uma importante tarefa terapêutica consiste


em ajudar um paciente a descobrir quais são as situações, atuais ou passadas,
com que os seus sintomas se relacionam, quer se trate de respostas a essas
situações ou de efeitos secundários da tentativa de não reagir a elas.
Entretanto, como foi o paciente que esteve exposto à situação em questão, ele
já possui, num certo sentido, todas as informações relevantes.

É evidente que, para ser bem-feito, esse trabalho exige do terapeuta não só
uma boa apreensão dos princípios, como também a capacidade de empatia e
de tolerar uma emoção intensa e penosa.

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