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Parece existir agora uma razoável certeza de que é por causa da intensidade
da demanda libidinal e do ódio gerados que a separação de uma criança de
sua mãe, depois que formou com ela uma relação emocional, pode acarretar
efeitos tão devastadores para o desenvolvimento de sua personalidade.
Embora seja apenas uma inferência que essa hostilidade é inicialmente dirigida
contra os pais ausentes, certos dados desse estudo estatisticamente
fundamentado são compatíveis com a hipótese, formulada há alguns anos
(Bowlby, 1944), de que um dos principais efeitos da separação mãe-criança é
uma grande intensificação do conflito de ambivalência.
No entanto, seria absurdo pretender que os pais não cometam erros. Alguns
erros nascem da ignorância, mas talvez mais numerosos sejam os que são
fruto dos problemas emocionais inconscientes que têm origem em nossa
própria infância.
Muitas das dificuldades com que os pais se defrontam, o que não chega a
causar surpresa a ninguém, resultam da sua incapacidade para regular a
própria ambivalência. Quando nos tornamos pais para uma criança,
poderosas emoções são despertadas, emoções tão fortes quanto as que
vinculam um bebê à mãe ou um amante a outro.
Cumpre admitir que esse perigo existe e que analistas escreveram livros sobre
os cuidados com a criança focalizando principalmente o conflito
extrapsíquico, ou seja, o conflito entre as necessidades da criança e as
oportunidades limitadas que o meio ambiente proporciona para a
satisfação dessas necessidades.
Há cerca de 20 anos, Dennis (1935) notou que os bebês (de sete a dezesseis
semanas) sorriam a um rosto e uma voz humanos. Como teórico da
aprendizagem, acreditava que o rosto e a voz não podiam ser os estímulos
não-condicionados e, assim, realizou experimentos para ver se podia identificar
o estímulo não-condicionado. O seu método consistiu em criar os bebês de tal
modo que, tanto quanto possível, sua amamentação e outros cuidados fossem
realizados de forma que eles não pudessem ver um rosto humano e que não
lhes fosse dirigida a palavra; a sua expectativa era de que, com o passar do
tempo, seria possível determinar para o que é que os bebês sorriam
naturalmente.
Dez anos depois, Spitz e Wolf (1946) publicaram mais alguns trabalhos
experimentais sobre o sorriso do bebê. Numa série de experimentos
usando máscaras, eles demonstraram
que em bebês entre dois e seis meses de idade, oriundos de diferentes
origens raciais e culturais, o sorriso é evocado pela qualidade
configurativa visual do rosto humano. Afirmaram ainda que essa
configuração deve incluir como elementos dos olhos na posição frontal
do rosto em movimento.
Uma razão principal para se preferir o programa etológico é que ele já provou
ser fecundo na análise do desenvolvimento e da interação social em outras
espécies, ao passo que a teoria da aprendizagem, como o próprio Gewirtz
sublinhou, foi desenvolvida para explicar fenômenos que são relativamente
mais simples e que, por conseguinte, ainda precisa demonstrar sua pertinência.
Nos últimos vinte anos, acumularam-se muitas provas que indicam a existência
de uma relação causal entre a perda dos cuidados matemos nos primeiros
anos de vida e o desenvolvimento da personalidade perturbada.
Somente depois que todos os esforços foram feitos para reaver a pessoa
perdida é que, segundo parece, o indivíduo adquire um estado de ânimo capaz
de fazê-lo admitir a derrota e de reorientá-lo para um mundo em que a pessoa
amada é aceita como irreparavelmente ausente.
A personalidade saudável, quando vista sob essa luz, mostra não ser tão
independente quanto os estereótipos culturais supõem. Os ingredientes
essenciais são a capacidade para confiar nos outros quando a ocasião
requer, e para saber em quem é conveniente confiar. Uma pessoa
funcionando de modo saudável é, pois, capaz de trocar papéis quando a
situação muda. Ora está fornecendo uma base segura a partir da qual seu
companheiro ou companheiros podem atuar; ora sente satisfação em
confiar em um ou outro de seus companheiros que, em compensação, lhe
proporciona essa base.
O ponto fundamental de minha tese é que existe uma forte relação causal
entre as experiências de um indivíduo com seus pais e sua capacidade
posterior para estabelecer vínculos afetivos, e que certas variações
comuns dessa capacidade, manifestando-se em problemas conjugais e
em dificuldades com os filhos, assim como nos sintomas neuróticos e
distúrbios de personalidade, podem ser atribuídas a certas variações
comuns no modo como os pais desempenham seus papéis.
É evidente que, para ser bem-feito, esse trabalho exige do terapeuta não só
uma boa apreensão dos princípios, como também a capacidade de empatia e
de tolerar uma emoção intensa e penosa.