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Eurivalda Santana
RESUMO: Esse texto tem como objetivo principal elencar pontos de reflexões a respeito
da estrutura geral da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e seu diálogo com a sala
de aula de Matemática do Ensino Fundamental – Anos Finais. A BNCC foi implementada
pelo Ministério da Educação objetivando ser um documento de caráter normativo, que
define condições progressivas de aprendizagens essenciais para os estudantes de todas
as redes da Educação Básica do Sistema Educacional Brasileiro. Para a etapa do ensino
fundamental a área de Matemática é composta por cinco unidades temáticas (Números,
Álgebra, Geometria, Grandezas e medidas e, Probabilidade e estatística) que mobilizam
os objetos de conhecimento e as habilidades para a formação do cidadão. Nesse
contexto é que colocamos em debate quais elementos didáticos pode o professor de
Matemática utilizar nas ações de ensino em sala de aula de modo a potencializar e
dinamizar esse processo formativo.
INTRODUÇÃO
Na BNCC são colocadas dez competências gerais como premissas essências para
consubstanciar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento do estudante, e, essas
competências devem ser estabelecidas ao longo da Educação Básica. Essas dez
competências gerais precisam ser estabelecidas ao longo dos anos escolares que
compõem a Educação Básica. Mas, o que são competências?
A BNCC define competência como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e
do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 8).
Esse autor adentra nas ideias advindas de Jean Piaget, que foram retomadas nas
pesquisas de Gérard Vergnaud, para explicar a mobilização dos conhecimentos. Para
que o indivíduo possa agir é preciso que seja confrontado com situações. Aqui, situação
é compreendida como atividade, problema ou tarefa a ser realizada.
São as situações que dão sentido aos conceitos que, por sua vez, são oriundos do
conhecimento. Tem-se uma tríade que sustentam o conceito, formada por situações,
invariantes operatórios do conceito e representações (VERGNAUD, 1996). Em
matemática podemos dizer que as situações são as tarefas que apresentamos ao
estudante, os invariantes operatórios do conceito são as propriedades, relações,
teoremas e, as representações são os símbolos que se utiliza para operacionalizar e
registrar a resolução da situação apresentada.
Para que se possa resolver uma situação o estudante aciona esquemas de resolução,
que são definidos como a “organização invariante da conduta para uma dada classe de
situações.” (VERGNAUD, 1990, p. 136, tradução nossa, grifo do autor)1. Baseada nessa
afirmativa, posso dizer que o esquema atende a uma organização feita pelo próprio
sujeito que tem como objetivo principal conduzir o processo de resolução de uma dada
situação.
Existem esquemas simples como usar o algoritmo da adição, mas um esquema pode ser
mais complexo e, utilizar por exemplo, algoritmos, propriedades e a construção de
gráficos ou a determinação de medidas estatísticas.
Em toda e qualquer situação que somos confrontados na vida, utilizamos esquemas.
Fazer um argumento para convencer uma pessoa ou um público é um tipo de esquema.
Contudo, uma competência não é apenas um esquema. O que compreendemos é que o
esquema é uma totalidade que sustenta uma ação e a competência tem outra
complexidade e pode envolver diversos esquemas de percepção, pensamento,
1
[...] << schéme>> l’organisation invariante de la conduite pour une classe de situations donnée.
(VERGNAUD, 1990, p. 136).
avaliação, que comportam inferências, diagnóstico, busca de informações,
planejamento, tomada de decisões, dentre outros elementos (PERRENOUD, 2007).
No Quadro 1 são apresentadas essas dez competências gerais que constam na BNCC e
são direcionadas para toda a Educação Básica.
O Ciclo Investigativo PPDAC, proposto por Wild e Pfannkuch (1999), é constituído por
cinco fases (Figura 1), a saber: Problema (P), que diz respeito ao conhecimento do
contexto dos dados, definição do problema ou fenômeno a ser investigado;
Planejamento (P), que inclui a definição das ações para a investigação; Dados (D), que
inclui o processo de coleta de dados; Análise (A) que diz respeito ao tratamento e análise
dos dados e a Conclusão (C), que encerra a investigação sobre o problema colocado com
um posicionamento crítico, reflexivo, com a comunicação dos dados. É possível a
geração de novas ideias e novos questionamentos.
Proble-
ma
Conclu- Plane-
são jamento
Análise Dados
Temos que ter consciência das riquezas em se planejar situações, e essas estejam
engajadas em contextos sociais e políticos, busque a troca de ideias entre os estudantes
e o professor, mobilizem conhecimentos matemáticos para tomada de decisões, e
consequentemente, a comunicação e as informações sejam motivadas pelo uso do
conhecimento matemático e oriundas de relações, regularidades e padrões observados.
Contudo, esse é um dos desafios postos para a implementação da BNCC. Como fazer a
inserção da Cultura Digital na realidade da maioria das escolas públicas do território
brasileiro? Não são disponibilizados esses objetos na maioria das escolas públicas e,
essas, não têm acesso gratuito a internet. O que fazer?
2
Carta da Transdisciplinaridade (Adotada no Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade -
Convento de Arrábida, Portugal, 2-6 novembro, 1994). Comitê de redação: Lima de Freitas, Edgar Morin
e Basarab Nicolescu.
entendo que, o papel que as ciências Exatas, como por exemplo, a matemática, tem,
nesse novo cenário, ampla condição de se ver entrelaçada ao conhecimento
multidimensional a que nos atenta (MORIN, 2011).
Para Morin (2003) “conhecimentos fragmentados só servem para usos técnicos. Não
conseguem conjugar-se para alimentar um pensamento capaz de considerar a situação
humana no âmago da vida, na terra, no mundo, e de enfrentar os grandes desafios de
nossa época” (p.17). As atividades a serem propostas em sala de aula precisam abordar
conhecimentos necessários para vivermos e solucionarmos situações do século XXI.
Assim, a abordagem dos conceitos matemáticos deve ser feita sem fragmentações,
dando sentido a situações reais, ou que se aproximem ao máximo de situações reais.
Assumir essa postura de ação em sala de aula requer um pensar e repensar das práticas
assumidas para o ensino de matemática ao longo dos séculos. Skovsmove (2007) traz
sugestões de abordagens para a sala de aula afirmando que aborda “a matemática e a
educação matemática, [...]. Eu tocarei na filosofia da matemática, tecnologia e ciência.
Encaminho questões sociológicas, mas não finjo que estou desenvolvendo estudo
sociológico: apenas estou lançando olhares sobre questões como globalização,
sociedade de conhecimento, sociedade de risco.” (p.21).
Podemos lançar olhares sobre muitas situações do mundo real e não apenas abordar a
matemática de maneira abstrata, distante de contextos reais. O autor indica como isso
é possível.
Unidades
6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO
temáticas
Números Sistema de numeração decimal: Múltiplos e divisores de um número Notação científica. Potenciação e Necessidade dos números
características, leitura, escrita e natural. Cálculo de porcentagens e de radiciação. O princípio reais para medir qualquer
comparação de números naturais e de acréscimos e decréscimos simples. multiplicativo da contagem. segmento de reta. Números
números racionais representados na Números inteiros: usos, história, Porcentagens. Dízimas periódicas: irracionais: reconhecimento e
forma decimal. Operações (adição, ordenação, associação com pontos da fração geratriz. localização de alguns na reta
subtração, multiplicação, divisão e reta numérica e operações. Fração e numérica. Potências com
potenciação) com números naturais. seus significados: como parte de expoentes negativos e
Frações: significados (parte/todo, inteiros, resultado da divisão, razão e fracionários. Números reais:
quociente), equivalência, comparação, operador. Números racionais na notação científica e
adição e subtração; cálculo da fração de representação fracionária e na problemas. Porcentagens:
um número natural; adição e subtração decimal: usos, ordenação e problemas que envolvem
de frações. Operações (adição, subtração, associação com pontos da reta cálculo de percentuais
multiplicação, divisão e potenciação) com numérica e operações. sucessivos.
números racionais. Aproximação de
números para múltiplos de potências de
10. Cálculo de porcentagens por meio de
estratégias diversas, sem fazer uso da
“regra de três”.
Álgebra Propriedades da igualdade. Problemas Linguagem algébrica: variável e Valor numérico de expressões Funções: representações
que tratam da partição de um todo em incógnita. Equivalência de expressões algébricas. Associação de uma numérica, algébrica e gráfica.
duas partes desiguais, envolvendo razões algébricas: identificação da equação linear de 1º grau a uma Razão entre grandezas de
entre as partes e entre uma das partes e regularidade de uma sequência reta no plano cartesiano. Sistema espécies diferentes.
o todo. numérica. Problemas envolvendo de equações polinomiais de 1º Grandezas diretamente
grandezas diretamente proporcionais grau: resolução algébrica e proporcionais e grandezas
e grandezas inversamente representação no plano inversamente proporcionais.
proporcionais. Equações polinomiais cartesiano. Equação polinomial de Expressões algébricas:
do 1º grau. 2º grau do tipo ax2 = b. Variação fatoração e produtos notáveis.
de grandezas: diretamente Resolução de equações
proporcionais, inversamente polinomiais do 2º grau por
meio de fatorações.
proporcionais ou não
proporcionais.
No Quadro 3, é possível observar o desenvolvimento linear dos conhecimentos matemáticos estabelecidos pela BNCC ao longo do Ensino
Fundamental II. É pertinente ressaltar que mais importante do que trabalhar linearmente é dar sentido aos conceitos com situações que se
aproximem do sentido de ser cidadão e poder atuar na sociedade em que vivemos, fazendo uso do conhecimento matemático para as
tomadas de decisões e as resoluções de problemas.
CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação; Secretaria da Educação Básica, 2018. Disponível em: <
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/12/BNCC_19dez201
8_site.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2019.
Santana, E.; Alves, A. A.; Nunes, C. B. A Teoria dos Campos Conceituais num Processo de
Formação Continuada de Professores. Bolema, 29 (53), 1162-1180, 2015.
https://doi.org/10.1590/1980-4415v29n53a18
Santana, E.; Lautert, S. L.; Castro Filho, J. A. De; Santos, E. M. Observatório da Educação
em Rede: as Estruturas Multiplicativas e a Formação Continuada. Revista Educação
Matemática em Foco. 5 (01), 77-96, 2016.
______. A Teoria dos Campos conceituais. In. BRUN, J. Didáctica das matemáticas.
Tradução por Maria José Figueiredo. Lisboa: Instituto Piaget, p. 155-191, 1996.