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Prof.

André Mueller
CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
Como o medicamento é processado?
CINÉTICA

Absorção
Como o medicamento funciona?
DINÂMICA
- Antidepressivos (fluoxetina, paroxetina)
- Anestésicos locais (lidocaína) - Glifozinas (dapaglifozina, canaglifozina)
- Bloqueadores de canais de cálcio (nifedipino)
- Anticonvulsivantes (fenitoína)
- Sulfonilureias (glibenclamida) Canais Transportadores
iônicos
ALVOS
Alvos para a maior parte dos fármacos
I) propranolol, anti-histamínicos, Enzimas
metoclopramida, ondansetrona, buspirona; Receptores
II) Nicotina, ketamina; - Anti-inflamatórios AINEs (aspirina, paracetamol,
III) Insulina dipirona, nimesulida, naproxeno, diclofenaco etc);
IV) Corticoides, contraceptivos hormonais - Inibidores da ECA (captopril, enalapril)
- Gliptinas (Sitagliptina, linagliptina)

Latest Advancements on Serotonin and Dopamine Transporters in Lymphocytes - Scientific Figure on ResearchGate. Available from:
Fonte: Kenakin, T. A Pharmacology Primer. 4. ed. Elsevier, 2014. Fig. 1-8. https://www.researchgate.net/figure/Fig-1-General-structure-of-SERT-and-DAT_fig1_41164153
Em geral, medicamentos MODULAM FUNÇÕES FISIOLÓGICAS, ativando ou inibindo proteínas com eficácia, potências e
afinidades variáveis

 Ou seja, atuam em proteínas que naturalmente desempenham uma função fisiológica

 TODO medicamento tem efeito colateral

 Inclusive em caso de quimioterápicos. Paul Ehrlich: quimioterápico age de modo seletivo sobre o
causador da infecção, comportando-se de forma mais inócua possível para o organismo afetado.

Paul Ehrlich (1854 –


1915), Univ. de Leipzig

The Nobel Prize


in Physiology or
Medicine in 1908
Fonte: Kenakin, T. A Pharmacology
Primer. 4. ed. Elsevier, 2014
Iatrogenia “iatros” (médico) + “gênesis” (origem)

➢ Riscos e/ou efeitos negativos associados à intervenção médica Krishnan NR, Kasthuri AS. Med J Armed Forces India. 2005 Jan;61(1):2-6.
Peer RF, Shabir N. J Family Med Prim Care. 2018 Mar-Apr;7(2):309-314.
➢ COMUNICAÇÃO  principal causa em 70% dos eventos

➢ 180.000 mortes anualmente nos EUA como resultado de injúria iatrogênica


Leape LL. JAMA. 1994 Dec 21;272(23):1851-7.
Leape LL. JAMA. 2000 Jul 5;284(1):95-7.

➢ 8ª maior causa de mortes


Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS, editors. National Academies Press (US); 2000.

Polêmico livro
✓ 783.936 mortes
 420.000 mortes por efeitos adversos ou erros na medicação

NULL, G. Death by Medicine. Praktikos Books, 2010


BRASIL
➢ SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas)

 Compilar, analisar e divulgar casos de intoxicação e envenenamento notificados

2015 Dados mais confiáveis

Brasil
Agente Casos Óbitos Letalidade
nº nº %
Medicamentos 28778 62 0,22 FONTE: Sinitox. Disponível em https://sinitox.icict.fiocruz.br

 Representa 31,55% dos 91.203 registros de intoxicação

  10.501
(101 ignorados)
 18.176
 Circunstância: ~30% acidente individual; ~30% de tentativa de suicídio; ~20% uso terapêutico
FONTE: BRUNTON, L.; HILAL-DANDAN, R. ; KNOLLMAN, B. As bases farmacológicas
da terapêutica de Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019. Fig. 4-6.

FONTE: BRUNTON, L.; HILAL-DANDAN, R. ; KNOLLMAN, B. As bases farmacológicas da


terapêutica de Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019. Table 4-3
Principais efeitos adversos associados ao uso clínico de fármacos
Cardiovascular (ex.: arritmias, hipotensão, hipertensão, dor no peito, insuficiência cardíaca)
Hematológico (ex.: sangramento, agranulocitose, anemia)
Renal (ex.: nefrite, disfunção renal, disfunção da bexiga)
Dermatológica (ex.: urticária, acne, alopecia)
Musculoesquelético (ex.: mialgia, miopatia, rabdomiólise, osteoporose, congestão nasal, depressão respiratória)
Respiratório (ex.: obstrução aérea, edema pulmonar)
Endócrino (ex.: disfunção sexual, hiperuricemia, galactorreia, ginecomastia, hiponatremia)
Metabólico (ex.: hiper hipoglicemia, hiper hipocalemia, acidose metabólica)
Oftálmico (ex.: catarata, glaucoma)
Gastrointestinal (ex.: ulceração, diarreia, constipação, hepatite)
Neurológico (ex.: tremor, convulsão, sonolência, dor de cabeça, efeitos extrapiramidais)
Otológico (ex.: distúrbios vestibulares, surdez)
Psiquiátrico (ex.: confusão, delírio, distúrbio cognitivo, alucinação, paranoia, esquizofrenia, distúrbio do sono)
Fonte: Kenakin, T. A Pharmacology Primer. 4. ed. Elsevier, 2014. Table 10-1.
Classificação dos efeitos tóxicos
Efeitos (esperados) indesejáveis Tremor nas mãos com uso de broncodilatadores agonistas de β2-ARs (ex.:
salbutamol, fenoterol)
Efeitos desejáveis (excessivos) Hipoglicemia induzida por insulina
Efeitos (inesperados) indesejáveis Crise hipertensiva na reação do “tipo queijo” com iMAOs
Pouco previsível Alergias, carcinogênese, mutagênese, dependência
Fonte: Kenakin, T. A Pharmacology Primer. 4. ed. Elsevier, 2014. Table 10-2.
Polifarmácia
➢ Uso concomitante de vários medicamentos. Frequentemente definida como o uso rotineiro de cinco ou mais
medicamentos, e incluídos os de venda livre, com prescrição e/ou tradicionais (ex.: ervas, chás)

Automedicação aumenta
riscos de reações
adversas (RAMs)
Difícil acesso ao médico,
comércio/lobby, comodidade, https://enfermagemilustrada.
hábito com/para-que-serve-cada-
tarja-do-medicamento/

Exemplos:
✓ Automedicação com AINE e tomar antiácidos constantemente;
✓ Tosse seca com captopril e buscar xaropes na Farmácia para aliviar a tosse.
Polifarmácia
➢ Comum em > 65 anos (~45%);
➢ Pacientes suscetíveis a eventos como interações medicamentosas, maior risco de quedas, RAMs, comprometimento
cognitivo, não adesão ao tratamento e baixo estado nutricional.

Algumas das possíveis causas:


• >3 doenças crônicas
• Múltiplos prescritores e falta de comunicação
• Automedicação
• Prescrições inefetivas
• Falta de revisão geral na medicação
• Pacientes idosos com problemas de memória
Etapas principais para garantir a segurança na medicação

Medication Safety in Polypharmacy. Technical Report. Geneva: World Health Organization. 2019 (WHO/UHC/SDS/2019.11). Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/325454/WHO-UHC-SDS-2019.11-eng.pdf?ua=1
Hipócrates: “Em primeiro lugar, não faça mal”.
(460 a.C. – 377 a.C.)

Há apenas uma diferença quantitativa entre o fármaco e um


veneno (Walter Straub, 1937)

Medication Without Harm


Objetivo: reduzir danos graves evitáveis relacionados à
medicação em 50% globalmente em 5 anos.

https://www.who.int/patientsafety/medication-safety/medication-without-
harm-brochure/en/
World Smart Medication Day https://iuphar.org/clinical-division/world-smart-medication-day/
5 perguntas antes de usar qualquer
medicação:

➢ Identificação
✓ Para quê?
- Certifique-se que você tem o
medicamento correto;
➢ Necessidade
✓ Eu realmente preciso disso?
- Avaliar riscos e benefícios;
➢ Restrições
✓ Há restrições?
- Alergias, interação medicamentosa,
condições de saúde;
➢ Dosagem
✓ Como e quanto tomar?
- dose, tempo entre dosagens, tomar
após refeições ou não;
➢ Uso
✓ Quando parar?
- Quanto tempo (dias, semanas, meses)
ou uso contínuo.
https://iuphar.org/wp-content/uploads/2021/04/11-Medications-
without-harm_correct-use-save-lives.pdf
Interações Medicamentosas

Circunstância em que
a farmacologia de  Aumento ( toxicidade)
ou
um medicamento1 é  Diminuição ( fracasso terapêutico)

alterada por outro2

Legenda:
1 vítima, objeto, substrato
2 perpetrador, precipitante, interagente
Interações Medicamentosas

✓ Interações farmacêuticas: antes da administração

✓ Interações terapêuticas: após a administração


Interações terapêuticas

▪ pH ▪ Mucosa
▪ Quelação ▪ Motilidade

▪ Competição por ligação a


proteínas plasmáticas
Transportador
Farmacocinética Glicoproteína-P
▪ Indução e (P-gp)
▪ Inibição enzimática

▪ Filtração ▪ Reabsorção
4. Excreção
▪ Secreção ▪ Ciclo êntero-hepático

▪ Não receptor
Farmacodinâmica
▪ Receptor
CLASSIFICAÇÃO

A Nenhuma interação conhecida

B Nenhuma ação necessária

X Evitar a combinação
As interações medicamentosas são mais prováveis nos seguintes casos:

➢ Baixo índice terapêutico  um pequeno aumento na concentração plasmática pode


causar efeitos tóxicos

➢ Metabolismo de primeira passagem elevado  fármacos extensamente metabolizados


no fígado ou no TGI são sensíveis à indução ou inibição metabólica/enzimática.

➢ Mecanismo único envolvido na eliminação (ex.: depuração renal)  um fármaco


interagente pode levar a um aumento significativo na concentração plasmática do outro.
Baixo índice terapêutico (< segurança) Alto índice terapêutico (> segurança)

FONTE: http://www.icp.org.nz/icp_t7.html?htmlCond=1
Dose usual Circunstância: dose elevada

Circunstância: dose baixa

FONTE: https://icp.org.nz/drug-interactions/pharmacokinetic
Circunstância: co-administração com indutor enzimático
Interações
Ex.: interação farmacocinética

Dose usual

Circunstância: co-administração com inibidor enzimático

FONTE: https://icp.org.nz/drug-interactions/pharmacokinetic
Dicas
➢ Compilar a lista atual de todos os medicamentos (prescritos, isentos de prescrição e fitoterápicos) tomados pelo
paciente;

➢ Avisar o paciente de possíveis interações, pois ele pode não estar ciente;

➢ Leitura constante: O raciocínio farmacológico pode possibilitar o profissional a ter uma rápida dedução de
eventos adversos.

Ex.: sulfato de magnésio x nifedipino

Ambos bloqueiam / inibem Ca2+  Efeito aditivo

Por reduzirem a disponibilidade de cálcio em células musculares, podem potencializar os


efeitos e levar à toxicidade, como depressão respiratória.

A pressão arterial deve ser cuidadosamente monitorada


FONTE: https://drug-interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
FONTE: https://drug-interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
Inhibitors

FONTE: https://drug-
interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
Inhibitors

FONTE: https://drug-interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
Inducers

FONTE: https://drug-interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
Inducers

FONTE: https://drug-
interactions.medicine.iu.edu/MainTable.aspx
https://www.covid19-druginteractions.org/checker
https://www.covid19-
druginteractions.org/checker
https://crediblemeds.org/index.php/healthcare-providers/common-
drug-interactions
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
Exemplo

https://www.guidetopharmacology.org
https://www.guidetopharmacology.org

Bromocriptina
BACHMANN, K. A., LEWIS, J. D., FULLER, M. A.,
BONFIGLIO, M. F. Interações medicamentosas: o
Interações Medicamentosas de Stockley novo padrão de interações medicamentosas e
Autor: Williamson, Elizabeth, Driver, Samuel, fitoterápicas. 2. ed. Barueri: Manole, 2006.
Baxter, Karen. Artmed.

Lakshman Karalliedde, Simon F.J. Clarke, Ursula


Interações Medicamentosas. FONSECA Collignon, Janaka Karalliedde. Interações
e Almir L. da. EPUB. Medicamentosas Adversas. 2012. Guanabara Koogan
https://www.wolterskluwer.com/pt-br/solutions/uptodate
https://www.uptodate.com/contents/search
https://reference.medscape.com/drug-interactionchecker
https://www.drugs.com/drug_interactions.html
Para a próxima semana

ROTEIRO e FORMA
1. TÍTULO (Sugestão: “Interação farmacológica entre ____ X ____”)

2. DISCUSSÃO (com citações  estilo monografia)


- Classificação de risco (severidade);
- Confiabilidade da informação;
- Discussão da interação;
- Definir qual é a “vítima” e qual é perpetrador;
- Resumo da interação;
- Conduta.
Perguntas?
3. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

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