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Ficha Técnica

Título: Resina e Resinagem – Manual Técnico

Autor: RESIPINUS Associação de Destiladores e Exploradores de Resina

Edição: RESIPINUS Associação de Destiladores e Exploradores de Resina

Fotografias: Miguel Santos, Amatar Filmes

Design Gráfico: Miguel Marques – bly.pt

Ano: 2018

Tiragem: 300 exemplares

Cofinanciamento:
Candidatura no âmbito do PDR2020, medida 2.1.4 – Ações de Informação

Todos os direitos reservados a


RESIPINUS Associação de Destiladores e Exploradores de Resina

Rua Anzebino Cruz Saraiva, Edifí�cio Beira Rio, Lote 9, Loja 5, 2415-371 LEIRIA

info@resipinus.pt

www.resipinus.pt
Resina e Resinagem – Manual Técnico

Índice
Ficha Técnica.......................................................................................................................................... 2
�ndice......................................................................................................................................................... 3
�ndice de Figuras.................................................................................................................................. 5

Enquadramento:................................................................................................................................... 7
I. O que é a resina?................................................................................................................ 7
II. Processo de produção de resina pelos pinheiros............................................... 9
III. Resinagem............................................................................................................................. 9
IV. Primeira transformação e derivados de resina................................................... 10
a. Colofónia (pez louro)............................................................................................... 11
b. Essência de Terebentina (aguarrás)................................................................. 12
V. História da produção e transformação de resina em Portugal.................... 13
VI. Produtos resinosos no mundo.................................................................................... 15

Importância da resinagem:............................................................................................................. 19
I. Importância da resinagem na economia florestal
e rural em Portugal........................................................................................................... 19
II. Importância da resinagem para uma gestão florestal sustentável
e prevenção de incêndios rurais................................................................................ 20
III. Importância da resina para a Indústria Nacional.............................................. 22

Técnicas de resinagem:..................................................................................................................... 25
I. Resinagem à vida............................................................................................................... 25
II. Resinagem à morte........................................................................................................... 26
III. Ferramentas utilizadas na resinagem..................................................................... 27
a. Ferramentas utilizadas em ambos os métodos de resinagem............. 31
b. Ferramentas utilizadas para a resinagem com púcaros......................... 31
c. Ferramentas utilizadas para a resinagem com sacos.............................. 31
IV. Preparação de um pinhal para a resinagem......................................................... 31
V. Determinação do potencial de uma área para a resinagem.......................... 33
VI. Organização do trabalho de resinagem.................................................................. 33

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

VII. Descarrasque....................................................................................................................... 33
VIII. Riscagem................................................................................................................................ 34
IX. Abertura da bica................................................................................................................. 35
X. Montagem de serviço...................................................................................................... 35
a. Púcaros........................................................................................................................... 36
b. Sacos................................................................................................................................ 37
XI. Renova.................................................................................................................................... 38
XII. Aplicação de pasta estimulante.................................................................................. 38
XIII. Colheita................................................................................................................................... 39
XIV. “Raspa”.................................................................................................................................... 39
XV. Armazenamento................................................................................................................ 40
XVI. Transporte da resina para a fábrica e chegada à fábrica................................ 40
XVII. Finalização da campanha de resinagem no pinhal............................................ 41

Legislação da atividade de resinagem....................................................................................... 43


I. SiResin – Sistema de Informação da Resina......................................................... 44
II. Registo de operador......................................................................................................... 45
III. Comunicação prévia (declaração de resina)........................................................ 45
IV. Contraordenações (Regime sancionatório).......................................................... 46
V. Legislação Revogada........................................................................................................ 47

Fontes Bibliográficas.......................................................................................................................... 48

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Índice de Figuras
Figura 1 Resina saindo de uma incisão........................................................................... 8
Figura 2 Esquema desde a floresta até à 2ª transformação.................................. 11
Figura 3 Aplicações industriais da colofónia................................................................ 12
Figura 4 Aplicações industriais da terebentina.......................................................... 13
Figura 5 Resinas do petróleo vs resinas do pinheiro (fonte: PCA).................... 16
Figura 6 Resinas naturais quanto à sua origem (fonte: PCA)............................... 16
Figura 7 Produção global de produtos resinosos (2017)
em milhares de toneladas/ano (fonte: PCA)............................................. 17
Figura 8 Pinhal de Leiria antes do incêndio de outubro de 2017...................... 19
Figura 9 Evolução da produção de resina em Portugal desde 1998,
valores em milhares de toneladas/ano (dados INE)............................. 22
Figura 10 Evolução do preço da resina em euros em Portugal (dados INE)... 23
Figura 11 Diâmetro mí�nimo de resinagem...................................................................... 25
Figura 12 Diâmetros e número de fiadas na resinagem à vida.............................. 25
Figura 13 Distância entre fiadas, resinagem à vida..................................................... 26
Figura 14 Distância entre fiadas, resinagem à morte................................................. 26
Figura 15 Fases do pinhal aptas para a resinagem à vida........................................ 32
Figura 16 Descarrasque............................................................................................................ 34
Figura 17 Riscagem..................................................................................................................... 34
Figura 18 Abertura da bica...................................................................................................... 35
Figura 19 Dimensões máximas da incisão para resinagem à vida e à morte.. 35
Figura 20 Resinagem com púcaros...................................................................................... 36
Figura 21 Resinagem com sacos........................................................................................... 37
Figura 22 Renova simples e renova com proteção....................................................... 38
Figura 23 Aplicação da pasta estimulante....................................................................... 38
Figura 24 Transporte da resina para a fábrica............................................................... 40
Figura 25 Esquema SiResin..................................................................................................... 44
Figura 26 Circuito económico da resina............................................................................ 46

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Enquadramento:
Este manual técnico surge pela necessidade de colmatar a ausência de
informação técnica atualizada sobre a atividade da resinagem em Portu-
gal. É� pretendido, com um conjunto de informações transmitidas de forma
clara e objetiva e com recurso a imagens e esquemas simples, contribuir
para o desenvolvimento da atividade resineira em Portugal.
Com este manual é pretendido agregar toda a informação referente à ativi-
dade de extração de resina, de forma a permitir a sua correta implementação
no terreno, bem como dotar todos os interessados e profissionais do sector
de uma ferramenta de consulta e de apoio à tomada de decisão técnica.
Todos os processos de resinagem desde a seleção do local até ao trans-
porte da resina para as fábricas encontram-se mencionados e descritos
neste manual. As práticas descritas encontram-se em linha com a legisla-
ção atualmente em vigor que regula o sector em Portugal, o Decreto-Lei
n.º181/2015. No entanto a utilização deste manual não descarta a neces-
sidade de conhecer e consultar a legislação aplicável ao sector.
Através deste manual é feita igualmente uma breve introdução à temática
de resina e da resinagem, bem como uma resenha histórica da resinagem
em Portugal. São ainda apresentados alguns dados globais do sector das
resinas naturais, resinagem e dos derivados de resina.
Como complemento a este manual a RESIPINUS dispõe de três filmes téc-
nicos sobre a importância da resinagem, a legislação do sector e as princi-
pais técnicas e etapas da resinagem. Os filmes referidos estão disponí�veis
para consulta livre no site oficial da RESIPINUS.

I. O que é a resina?
A resina é um lí�quido viscoso e translúcido, de cor amarela acastanhada,
com um odor caracterí�stico a pinho, que as espécies vegetais libertam, em

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particular as resinosas, quando sofrem algum dano ou incisão no tronco


e nos ramos. Ao sair naturalmente do interior para o exterior do tronco,
cria uma camada protetora contribuindo para a cicatrização. A resina
contribui para a defesa das plantas contra agendes patogénicos como fun-
gos e insetos. Em contacto com o ar a resina seca e após algum tempo,
especialmente com temperaturas baixas, fica dura e quebradiça, formando
cristais.

Figura 1 – Resina saindo de uma incisão

Na constituição da resina encontram-se um conjunto complexo de com-


ponentes orgânicos, tais como ácidos resí�nicos (ácido abiético), terpenos
(alfa e beta pineno), que ocorrem juntamente com óleos essenciais. A re-
sina é insolúvel em água, no entanto apresenta solubilidade nos solventes
orgânicos comuns como álcool.

A resina é produzida por um conjunto alargado de espécies vegetais, pos-


suindo interesse comercial e industrial em algumas espécies de gimnos-
pérmicas do género Pinus (pinheiros), sendo habitualmente explorada sob
a forma de resinagem em diversos paí�ses do Mundo.

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A resina é muito diferente da seiva na sua composição e origem, a seiva é


uma solução aquosa e possui finalidades biológicas diferentes da resina.
A seiva possui funções aproximadamente equivalentes ao sangue dos ani-
mais, nomeadamente o transporte de nutrientes dissolvidos desde as raí�-
zes até às folhas.

II. Processo de produção de resina pelos pinheiros


Nos pinheiros, existem pequenos canais, uns paralelos ao eixo da árvore
e outros perpendiculares, formando uma rede interligada entre si, estes
canais designam-se vulgarmente por canais de resina ou resiní�feros. No
interior destes canais circula a resina, que vai sendo produzida pelas célu-
las que os ladeiam. Os canais de resina são assim constituí�dos e formados
pelos espaços intercelulares das células que produzem e libertam a resina.
A resina produzida vai sendo acumulada nestes canais presentes no tronco
e nos ramos dos pinheiros.
Como referido anteriormente, a produção de resina pelos pinheiros encon-
tra-se diretamente relacionada com os mecanismos de defesa contra inse-
tos e outros agentes responsáveis pelas principais doenças que os afetam.
No caso de um traumatismo, ou ataque causado por um agente patogénico,
a resina é conduzida pelos canais de resina até ao local, atuando como pro-
teção. Em contacto com o ar, os compostos voláteis da resina evaporam,
fazendo com que a resina se torne mais viscosa e seque, formando uma
capa cicatrizadora que protege o local do traumatismo ou ataque.
A exsudação (libertação) de resina ocorre naturalmente nos pinheiros,
sendo a resinagem uma forma de aproveitamento desta exsudação atra-
vés de uma estimulação artificial. Todo o processo envolvido na resinagem
será referido no ponto III.

III. Resinagem
A Resinagem é a atividade florestal praticada manualmente pelo explora-
dor de resina (resineiro), com recurso a ferramentas manuais desenvolvi-
das para o efeito. Esta atividade inclui um conjunto de operações em que
o objetivo é extrair, recolher, limpar e acondicionar a resina de pinheiros,
seguindo esta posteriormente para uma unidade industrial de 1ª trans-
formação. Esta atividade consiste em fazer incisões no tronco do pinheiro,
retirando uma porção da sua casca e entrecasco, fazendo com que a árvore
produza e liberte resina. A resina produzida vai sendo recolhida num re-

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cipiente preso à árvore (saco ou púcaro). Para maximizar a exsudação de


resina pelos pinheiros recorre-se à estimulação quí�mica, através da aplica-
ção de uma pasta ácida na incisão.
A resinagem consiste no processo de extração de resina diretamente dos
pinheiros vivos sem implicar o corte ou a morte dos mesmos. � , no en-
tanto, possí�vel obter resina por outros processos, nomeadamente através
da extração de resina de madeira obtida após abate das árvores (troncos,
cepos e raí�zes).
Em Portugal estão legalmente definidas duas modalidades de resinagem,
a resinagem à vida e a resinagem à morte. A escolha da modalidade
de resinagem a aplicar em determinado povoamento depende do tipo de
gestão e de condução florestal que se pretende aplicar ao povoamento.
Ao longo deste manual serão descritas detalhadamente as duas modali-
dades de resinagem anteriormente referidas, bem como a sua correta
aplicação.

IV. Primeira transformação e derivados de resina


A resina em bruto, isto é tal e qual como é extraí�da do pinheiro não tem
aplicações industriais diretas. No final da campanha de resinagem, a re-
sina é encaminhada para as fábricas de primeira transformação onde é
iniciado o processo industrial com vista à obtenção de derivados, com in-
teresse comercial e industrial.
A primeira etapa industrial a que a resina é submetida é designada por
malaxagem. Este processo é seguido de filtração, visa remover todas as
impurezas (folhas, insetos detritos etc.), decorrentes do processo de re-
sinagem e/ou da permanência da resina nos recipientes de recolha na
floresta. Depois deste processo a resina fica limpa podendo seguir para a
fase de destilação.
Na fase de destilação vão ser obtidos os dois principais derivados da re-
sina, a colofónia ou pez louro e a essência de terebentina ou aguarrás.
Esta separação é induzida através do aquecimento a 110ºC e da injeção de
vapor até 170ºC na resina, permitindo desta forma separar a parte volátil,
a aguarrás, da parte não volátil o pez louro.
Os derivados são posteriormente encaminhados para indústrias de
2ª transformação onde são submetidos a outros processos industriais
com vista à produção de derivados de colofónia ou de terebentina, para
posterior fabrico de bens de consumo e outros produtos.

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Figura 2 – Esquema desde a floresta até à 2ª transformação

a. Colofónia (pez louro)


A Colofónia ou pez louro é o produto que se obtém em maior quantidade
da destilação da resina natural, representa cerca de 80% do total da resina
destilada. À� temperatura ambiente é um sólido translúcido de cor âmbar
com um leve aroma a pinho, insolúvel em água, de aspeto ví�treo e que-
bradiço. Quando aquecido amolece, sendo esse um dos parâmetros para
averiguar a sua qualidade (ponto de amolecimento).

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A colofónia é constituí�da por ácidos resí�nicos, entre os quais se destaca


o ácido abiético. Possui grande interesse para a indústria quí�mica, sendo
uma importante matéria-prima natural, da qual se podem obter dezenas
de derivados diferentes utilizados num conjunto muito vasto de aplicações
e produtos:

Figura 3 – Aplicações industriais da colofónia

b. Essência de Terebentina (aguarrás)


Essência de terebentina ou aguarrás é a fração volátil da resina natural,
representando cerca de 20% do total da resina destilada. À� temperatura
ambiente é um lí�quido inflamável, incolor e insolúvel em água com acen-
tuado aroma a pinho. É� constituí�da principalmente por hidrocarbonetos,
terpenos, principalmente α-pineno e β-pineno, bem como álcoois entre
outras substâncias.
A essência de terebentina para além de aplicações diretas tem à seme-
lhança da colofónia, um elevado interesse para a indústria de 2ª transfor-
mação, possuindo múltiplas utilizações industriais:

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Figura 4 – Aplicações industriais da terebentina

V. História da produção e transformação de resina


em Portugal
O aproveitamento de produtos resinosos faz-se desde a antiguidade, no
entanto a resinagem e a exploração de produtos resinosos em Portugal
tem as suas primeiras referências no século X, em Leiria, com a obtenção
do pez (breu cru) e do piche (breu cozido) a partir da acha resinosa, na
qual se estimulava a exsudação de resina e depois de submetida a com-
bustão rápida. O pez era utilizado em calafetagem, nomeadamente de em-
barcações.
A resinagem de uma forma mais industrializada teve a sua origem em
Portugal ainda no século XIX, tendo a sua evolução sido algo complexa ao
longo de todo o século XX. Neste perí�odo variou entre o domí�nio mundial
e o quase desaparecimento, seguido de um tí�mido ressurgimento nos últi-
mos anos. Seguidamente são apresentadas algumas datas importantes na
história da resinagem em Portugal:
• 1858 – Início da organização de extração de resinas (Mata Na-
cional de Leiria) – Embora antes desta data já houvesse aproveita-

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mento de produtos resinosos em Portugal, a resinagem mais moder-


na teve origem neste ano na Mata Nacional de Leiria.
• 1871 – Primeira unidade de destilação industrial (MN Leiria)
• 1918 (pós 1 ª Guerra Mundial) – Aumento exponencial do número
de fábricas de resina e de resina recolhida.
• 1926 – Escola de resinagem na MN Leiria – Dupard (mestre re-
sineiro francês) – Neste ano a Companhia Nacional de Resinas con-
tratou o mestre resineiro francês Sr. Dupard para formar resineiros
na Marinha Grande segundo o “Sistema Francês” (ou de Hughes).
Neste sistema as incisões eram menos profundas e mais produtivas
em resina.
• 1936 – Criação da Junta Nacional dos Resinosos – A Junta Na-
cional dos Resinosos (JNR) foi criada em 12 de setembro desse ano
como organismo corporativo, de coordenação económica, com fun-
ções oficiais. Esta entidade tinha também como objetivo a promoção
do aperfeiçoamento tecnológico da resinagem.
• Décadas 1950/60 – Introdução dos novos métodos de resina-
gem (conhecido como método americano, apesar de ser tam-
bém muito provavelmente da autoria de um francês) – O método
americano, também designado por resinagem quí�mica, aproxima-se
do método atualmente utilizado em Portugal. Este método já con-
templava a aplicação de um ácido na incisão com a função de esti-
mular e manter durante mais tempo a libertação de resina de cada
incisão. As vantagens sentiram-se na produção média por incisão e
na produtividade do resineiro, com uma redução de mão-de-obra de
cerca de 50%, baixando a componente mais importante dos custos
de produção, a mão-de-obra. Com esta técnica, aumentou-se tam-
bém a resistência das árvores e obteve-se resina de melhor qualida-
de devido à menor quantidade de impurezas.
• Décadas 1970/80 – Portugal é o 3º exportador de colofónia e
terebintina – A década de 70 do século XX, foi o perí�odo de maior
fulgor da indústria resineira nacional. Durante este perí�odo as pro-
duções anuais ultrapassaram várias vezes as 100 mil toneladas. Foi
também nesta década, na campanha de 1974/75, que se atingiu o
valor máximo de produção nacional de gema de 140.000 toneladas
(dados INE).
• Décadas 1990/2000 – Domínio chinês e queda acentuada da
produção. Depois das fulgurantes décadas anteriores, nesta dé-

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cada verifica-se uma quebra acentuada da produção de resina em


Portugal. Esta quebra está associada a vários fatores sendo o mais
relevante a entrada de resina chinesa nos mercados internacionais a
preços muito baixos que tornaram a resina portuguesa muito pouco
rentável.
• 2009/2010 – Tímido retomar da atividade em Portugal – Depois
da grande crise que o sector enfrentou na última década do século
XX e na primeira década do século XXI, as condições nos mercados
internacionais melhoraram, através de um aumento de preços da re-
sina, tendo-se assistido a um ligeiro retomar da atividade em Portu-
gal.
• 2014 – Surgimento da RESIPINUS – De forma a enfrentar os de-
safios e as dificuldades do sector da resinagem, em 2014 um grupo
de empresários ligados ao sector fundou a RESIPINUS, Associação
de Destiladores e Exploradores de Resina, sendo atualmente a única
associação ligada ao sector da resinagem em Portugal, juntando os
explorares de resina (resineiros) e as empresas de primeira trans-
formação (destiladores).
• 2017 – Incêndios catastróficos – Ano especialmente trágico em
matéria de incêndios florestais, atingindo severamente o sector da
resinagem em Portugal. Estimativas da RESIPINUS apontam que
cerca de 1 milhão de bicas se tenham perdido, representando cerca
20% do pinhal resinado em Portugal.

VI. Produtos resinosos no mundo


Consoante a sua origem os produtos resinosos podem ser divididos em
dois grandes grupos, as resinas de origem sintética e as resinas de origem
natural. As resinas de origem sintética são obtidas através de reações quí�-
micas de compostos muitas vezes obtidos a partir da refinação de petróleo.
As resinas de origem natural são obtidas a partir de diversas formas e a
partir de um conjunto alargado de espécies vegetais, nomeadamente es-
pécies de árvores coní�feras do género Pinus, vulgarmente designadas por
pinheiros.
Segundo dados da PCA (Pine Chemicals Association), a mais importante as-
sociação internacional representativa da indústria de derivados quí�micos
de pinheiro, atualmente a utilização de resinas de cada um dos dois gran-
des grupos anteriormente referidos ronda os 50%. Importa salientar que

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

as resinas sintéticas, provenientes do petróleo


têm origem em matérias-primas não renová-
veis e o seu processo de fabrico acarreta im-
portantes e significativos impactos ambientais
de várias ordens.
As resinas com origem em pinheiros são uti-
lizadas em larga escala pela indústria. Sendo
que os derivados não voláteis (colofónias) são
atualmente obtidos a partir de diversas fon-
tes. Segundo dados da PCA (2017), cerca de Figura 5 – Resinas do petróleo
63% destes são vs resinas do pinheiro
obtidos a partir (fonte: PCA)
da colofónia pro-
veniente de resina com origem na resinagem.
Enquanto 36% são obtidas a partir do tall oil
Os restantes 1% do total provêm de extrações
de resina obtida de árvores abatidas ou de ce-
pos. O Tall oil é um subproduto da produção
de pasta de papel, logo a sua disponibilidade
no mercado e a sua produção dependem dire-
Figura 6 – Resinas naturais
tamente da produção de papel.
quanto à sua origem
(fonte: PCA) Atualmente verifica-se que quantidade de tall
oil produzida mundialmente pela indústria,
não é suficiente para suprir todas as necessidades. De forma a colmatar
esta falta de matéria-prima recorre-se à colofónia proveniente da resina-
gem.
Das mais de 100 espécies de pinheiros existentes em todo o mundo, ape-
nas algumas possuem aptidão comercial para a exploração de resina, as
restantes não são viáveis economicamente, por produzirem pequenas
quantidades de resina ou resina de baixa qualidade.
A resinagem é uma atividade com interesse comercial em diversos paí�ses
do mundo, já que existem espécies com potencial para a resinagem na Eu-
ropa, Á� sia e no Continente Americano.
Na tabela seguinte encontra-se representada uma estimativa da produção
anual de resina por continente e por origem da produção, valores referen-
tes a 2017 e em milhares de toneladas (dados PCA):

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Figura 7 – Produção global de produtos resinosos 2017 em milhares de toneladas/ano


(fonte: PCA)

As regiões do mundo que mais se destacam na produção de produtos


resinosos extraí�dos de árvores vivas são a Á� sia, na China e Indonésia e a
América Latina sobretudo no Brasil. Estas regiões globais destacam-se lar-
gamente das restantes. Na União Europeia Portugal e Espanha são atual-
mente os únicos paí�ses que exploram este recurso natural.
O volume total de produtos quí�micos derivados de pinheiro produzidos
mundialmente em 2017 foi de cerca de 1.350 (1 milhão e 350 mil de to-
neladas), sendo que dessas 800 mil toneladas foram provenientes da re-
sinagem.

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Importância da resinagem
I. Importância da resinagem na economia florestal
e rural em Portugal
A história da produção e transformação de resina em Portugal está inti-
mamente ligada à história da principal espécie resiní�fera em Portugal, o
pinheiro-bravo (Pinus pinaster). O pinheiro-bravo é uma espécie caracte-
rí�stica do Mediterrâneo Ocidental, presente na Estremadura Portuguesa
há pelo menos 33.000 anos e de grande peso económico e social na histó-
ria recente do setor florestal português.

Figura 8 – Pinhal de Leiria antes do incêndio de outubro de 2017

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

O pinheiro-bravo é considerada uma espécie impulsionadora do desen-


volvimento económico dos espaços rurais principalmente pela sua madei-
ra, que se destina à indústria da serração, mobiliário, painéis e carpintaria
mas também ainda devido às atividades que esta espécie possibilita de-
senvolver em paralelo entre as quais se destaca a resinagem.

A exploração de resina através da resinagem constitui uma das formas


mais antigas de aproveitamento económico dos pinhais autóctones portu-
gueses. Contribui para o desenvolvimento rural, criação de emprego e de
riqueza nas regiões rurais bem como para o desenvolvimento de um setor
industrial com forte vocação exportadora. A resinagem representa mais-
-valias, diretas (financeiras) e indiretas (vigilância e proteção), importan-
tes para o proprietário que podem duplicar a rentabilidade do pinhal.
A exploração de resina assume grande interesse para a manutenção e
valorização dos pinhais, na medida em que aumenta a rentabilidade da
silvicultura e permite ao produtor florestal obter rendimentos anuais,
facultando condições financeiras para a prática de uma gestão florestal
mais ativa.
Em Portugal o pinheiro-bravo é de longe a espécie resineira mais repre-
sentativa e importante para o sector da resinagem. No entanto nos últi-
mos anos tem-se verificado o aumento da área pinheiro-manso (Pinus
pinea) em que a resina é explorada. Este maior interesse pela resinagem
em áreas de pinheiro-manso deve-se essencialmente à diminuição que
a área de pinheiro-bravo tem sido sujeita e a consequente busca por al-
ternativas. Será de prever que a proporção de resina de pinheiro-manso
continue a aumentar nos próximos anos em Portugal devido à grande ex-
pansão que se tem verificado nas áreas desta espécie e na cada vez menor
disponibilidade de áreas de pinhal bravo para a resinagem.

II. Importância da resinagem para uma gestão florestal


sustentável e prevenção de incêndios rurais
A falta de gestão pública de Perí�metros Florestais e de Matas Nacionais e a
desertificação humana do território e dos espaços florestais, que durante
as últimas décadas têm vindo a afetar de forma particular o Centro e o
Norte de Portugal, são as principais causas estruturais para o desenvolvi-
mento de incêndios catastróficos. Para contrariar esta situação urge po-
tenciar as atividades económicas ou empresariais que consigam fixar as

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

pessoas nos meios rurais e florestais. De entre as atividades florestais que


mantêm pessoas na floresta, a resinagem é uma das que mais se destaca,
por ser a que apresenta maior intensificação de mão-de-obra no tempo,
por unidade de superfí�cie
Para a realização da resinagem é necessária uma visita individual a cada
um dos pinheiros resinados, em média a cada 15 a 21 dias durante a cam-
panha de resinagem. De forma geral considera-se que a campanha de
resinagem vai de março a novembro, com especial incidência nos meses
de verão (meses de maior produção de resina pelos pinheiros). Isto re-
presenta um elevado grau de presença humana, especialmente no perí�o-
do crí�tico de incêndios, que não é comparável com mais nenhuma outra
atividade produtiva ou extrativa desenvolvida em espaço florestal. Esta
presença constante de resineiros em espaços florestais poderia e deveria
ser aproveitada na gestão florestal e particularmente na DFCI (Defesa da
Floresta Contra Incêndios), em cada uma das suas vertentes:
• Através da vigilância – Enquanto trabalha o resineiro encontra-se
atento ao que se passa no espaço florestal que o rodeia, podendo dar
o alarme rapidamente em caso de fogos nascentes.
• Elemento dissuasor – A presença constante em espaços florestais
torna o resineiro num importante elemento dissuasor de incendia-
rismo, roubos de madeira ou outros delitos.
• Conhecimento do terreno – As equipas de resineiros conhecem mui-
to bem todos os caminhos e acessos nos espaços florestais em que
trabalham, podendo em caso de fogo colaborar com os operacionais
ao ní�vel da orientação e posicionamento de meios de combate ao
fogo.
• Primeira intervenção e rescaldo – Os resineiros quando preparados e
equipados poderão prestar apoio tanto na primeira intervenção (são
muitas vezes os primeiros a chegar ao local da ocorrência) como nas
operações de rescaldo, quando já há menos meios de combate no
terreno.
• Gestão da vegetação – A execução da resinagem requer algum con-
trolo da vegetação espontânea, contribuindo, para a redução dos
materiais combustí�veis, diminuindo desta forma o risco de incêndio.
Importa ainda referir a rapidez com que são detetados pelos resineiros
os problemas sanitários que cada vez mais afetam os pinhais portugue-
ses, detetáveis normalmente na incisão, devido à secagem do entrecasco
e quebra na produção de resina, antes de serem visí�veis por outra forma.

21 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

A resinagem representa assim uma atividade económica que pode e deve


complementar as medidas tradicionais de DFCI e de gestão florestal, já
que informalmente, sem enquadramento nem equipamento adequado,
todos os pontos referidos já são pontualmente executados pelos resinei-
ros em Portugal. Infelizmente até ao presente, e apesar da racionalidade,
da insistência e da persistência dos agentes do setor, a entidade pública
responsável pelo desenvolvimento e salvaguarda do mesmo – Instituto de
Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) – tem dificuldades em com-
preender desta necessidade e oportunidade.

III. Importância da resina para a Indústria Nacional


A resinagem conheceu ao longo do século passado uma evolução comple-
xa, quer a ní�vel nacional, quer a ní�vel internacional, atravessando diversas
fases de maior e menor fulgor a ní�vel nacional. Chegou a ser uma ativida-
de com uma dimensão económica e social muito relevante em Portugal,
que contribuiu claramente para o desenvolvimento da economia florestal
do nosso Paí�s.
Depois das fulgurantes décadas de 70 e 80 do século XX, em que Portugal
foi um dos lí�deres mundiais do sector, seguiu-se um perí�odo de grande
declí�nio e quase desaparecimento da resinagem em Portugal. Como é vi-
sí�vel no gráfico seguinte (dados INE), a partir do ano de 2008 notou-se
uma tí�mida recuperação da atividade, que continuou a ser visí�vel nos anos
seguintes. As condições nos mercados internacionais voltaram a ser favo-

Figura 9 – Evolução da produção de resina em Portugal desde 1998,


valores em milhares de toneladas/ano (Dados INE)

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 22


Resina e Resinagem – Manual Técnico

ráveis ao aumento da produção de resina nacional, levando ao acréscimo


da procura de novas áreas para a produção de resina.
A tendência de recuperação que se fazia sentir foi no entanto travada em
2016 e 2017, devido essencialmente aos catastróficos incêndios que se
verificaram em Portugal. Estas ocorrências provocaram uma diminuição
do potencial produtivo do sector e colocaram muitos profissionais do sec-
tor em dificuldades.
No gráfico seguinte encontra-se representada a evolução do valor pago
pela resina ao resineiro em euros/kg desde o ano de 1999 (dados INE).
Os valores mí�nimos médios, pagos por kg de resina foram atingidos no
ano de 2004, com apenas 0,42€/kg. Nos anos seguintes as condições tor-
naram-se mais favoráveis para a resinagem, tendo-se verificado uma ten-
dência de aumento do valor da resina até ao ano de 2010. Seguiu-se uma
tendência de subida de estabilização em valores de 1,00€ e 1,20€ que se
verifica até ao corrente ano.

Figura 10 – Evolução do preço da resina em euros em Portugal (Dados INE)

Atualmente a indústria portuguesa de derivados de resina é uma das


mais destacadas a ní�vel mundial, a produção nacional de resina consegue
suprir apenas cerca de 10% das necessidades dessa indústria. Devido a
este facto a indústria tem a necessidade de recorrer a resina ou derivados
importados para poder laborar, sendo o Brasil o principal fornecedor de
matéria-prima da indústria nacional.

23 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

Técnicas de resinagem
I. Resinagem à vida
A resinagem à vida consiste numa
forma de exploração de resina que
é realizada ao longo da vida do pi-
nheiro. Legalmente pode ter iní�-
cio a partir do momento em que
o tronco do pinheiro atinja um
diâmetro à altura do peito (DAP)
mí�nimo de 20 cm, (63cm de perí�-
metro) a 1,30m do solo. Nesta mo-
dalidade, em função do diâmetro
do pinheiro apenas se pode fazer
1 ou 2 fiadas por pinheiro (ver
art. 4º do Decreto-Lei). É� uma for-
ma de resinagem de longo prazo, Figura 11 – Diâmetro mínimo de resinagem
de intensidade baixa/moderada,
que permite que as árvores continuem a crescer e a produzir madeira
normalmente.
Na seguinte tabela encontram-se representados os limites mí�nimos (perí�-
metro / diâmetro) previstos na legislação para a resinagem à vida:

Figura 12 – Diâmetros e número de fiadas na resinagem à vida

25 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

Como demonstrado na tabela o


número de fiadas autorizadas está
diretamente relacionado com o
diâmetro do pinheiro. Para pinhei-
ros com diâmetro superior a 25cm
é possí�vel a instalação de duas fia-
das desde que a distância entre as
fiadas seja no mí�nimo de 10cm,
esta distância entre fiadas desig-
na-se de presa e o seu incumpri-
Figura 13 – Distância entre fiadas,
resinagem à vida
mento pode originar coimas.

Esta modalidade de resinagem é a que apresenta mais vantagens quer


para o resineiro, quer para o proprietário. Pelo facto de possuir uma maior
duração, permite ao resineiro mais estabilidade na organização dos traba-
lhos, bem como alcançar mais facilmente o retorno do seu investimento,
quer a ní�vel de material quer de recursos humanos. É� importante ter em
consideração, que o primeiro e segundo ano de exploração apresentam
geralmente produções de resina mais baixas, tendo nos anos seguintes,
os seus picos de produtividade. Do ponto de vista do proprietário permi-
tirá, através do aluguer dos pinheiros para a resinagem, obter uma receita
anual do seu pinhal por um perí�odo mais longo (mais de 20 anos), reali-
zando o seu corte final posteriormente.

II. Resinagem à morte


Na resinagem à morte, a extração de resina é efetuada no curto prazo,
sendo legalmente limitada, em exclusivo, ao perí�odo de até 4 anos que
antecedem o corte dos pinheiros. �
uma forma de resinagem mais in-
tensa, em que, desde que seja res-
peitada uma distância entre fiadas
(presa) de 8 cm, não há limite para
o número de fiadas que se podem
instalar por árvore. A designação
“à morte” não deve ser mal inter-
pretada, uma vez que esta moda-
lidade de resinagem não causa a Figura 14 – Distância entre fiadas,
mortalidade das árvores como o resinagem à morte

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 26


Resina e Resinagem – Manual Técnico

nome parece indicar. A designação de “à morte” deve-se apenas por se


tratar duma modalidade de exploração que se realiza imediatamente an-
tes do abate/corte dos pinheiros. Esta prática deveria chamar-se de resi-
nagem de abate e não de resinagem “à morte”.
Ao contrário do que sucede na resinagem à vida, na resinagem à morte
não se considera a existência de um diâmetro / perí�metro mí�nimo para se
poder realizar a resinagem.

III. Ferramentas utilizadas na resinagem


Para a realização da atividade de resinagem são necessárias um conjunto
alargado de ferramentas, sendo algumas especialmente concebidas para
cada uma das operações de resinagem.
Algumas das ferramentas utlizadas diferem consoante o método de re-
colha aplicado, ou seja caso seja feita resinagem com recurso a sacos de
plásticos ou com púcaros.
Os procedimentos para a instalação da resinagem à vida e à morte são
idênticos, variando apenas a intensidade da resinagem.

Arranca-bicas Bica curva e Bica direita (meia


Espécie de alicate especialmente con- bica) – Placa ou lâmina de metal que
cebido para retirar as bicas dos pi- se fixa no tronco do pinheiro, abaixo
nheiros no final de cada campanha. da incisão executada. As bicas têm
como finalidade encaminhar a resi-
na recém-extraí�da para o púcaro. É�
colocada uma bica curva logo abaixo
da incisão, enquanto as bicas direitas
são colocadas lateralmente nas zo-
nas em que a escorrência natural da
resina por gravidade não a encami-
nhe para o recipiente coletor (saco
ou púcaro).

27 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

Descarrascadeira ou Desencar- Espátula – Espátula semelhante à


rascadeira – Ferramenta de cabo utilizada por pedreiros. Consiste
comprido com uma lâmina de dois numa pá plana utilizada para trans-
gumes, que tem como finalidade re- ferir a resina dos púcaros para a lata
mover casca (descarrascar) na zona de colha.
do tronco onde se irão proceder às
operações de resinagem.

Lata de colha – Bilha de metal com


Ferro de renova – Ferramenta de capacidade para cerca da 20 litros,
cabo comprido, utilizada para fazer utilizada para recolher a resina dos
as incisões (renovas). Possui uma lâ- púcaros e transporte para os bidões.
mina especialmente concebida para Em alternativa alguns resineiros uti-
esse efeito. lizam um carro de mão com uma lata
de colha acoplada, de forma a facili-
tar e agilizar o trabalho de recolha
da resina.

Maço – Martelo grande de madeira Mete-bicas curvo e Mete-bicas di-


ou plástico, que tem como finalidade reito – Ferramentas metálicas utili-
bater no cabo do mete-bicas quan- zadas para fazer a fenda no tronco
do se pretende fazer o entalhe para do pinheiro e consequentemente
colocar a bica no tronco do pinheiro. cravar a bica ao tronco. A forma des-
Serve igualmente para fixar o prego tas ferramentas varia consoante a
que irá suportar o púcaro. forma da bica, pode ser mete-bicas
curvo (para bicas curvas) ou mete-
-bicas direito (para bicas direitas).

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Púcaro – Vaso de barro ou mais fre- Pulverizador – Frasco de plástico


quentemente de plástico utilizado com tampa do tipo borrifador, utili-
para recolher e acondicionar a resi- zado para pulverizar a incisão com a
na que escorre da incisão. É fixado pasta estimulante.
ao tronco do pinheiro através de um
prego e de uma bica curva.

Raspadeira – Ferramenta de cabo Riscador – Ferramenta utilizada


longo, com uma lâmina na ponta, para riscar (marcar) no tronco do
utilizada no final da campanha para pinheiro, os bordos laterais da inci-
raspar e retirar resina seca, a desig- são. O riscador limita a largura da in-
nada “raspa”, que ficou agarrada à cisão no máximo de 12cm, o máximo
fiada de renovas. legalmente permitido em Portugal.

Sarapilheira – Tipo de esteira que Machado – Machado robusto, que


tem como finalidade recolher a resi- pode ser utilizado para facilitar a
na seca raspada do pinheiro no final operação de descarrasque, comple-
da campanha. mentando ou substituindo o traba-
lho realizado com a descarrasca-
deira.

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

Prego – Peça metálica que será Bidão – Recipiente de grande capa-


cravada na árvore com recurso ao cidade (200lt), que tem como finali-
maço, que tem como objetivo supor- dade armazenar a resina recolhida
tar o púcaro na posição correta sob a no pinhal durante a campanha ou no
incisão, para que este possa recolher fim desta. É� dentro de bidões que a
a resina libertada pelo pinheiro. resina será transportada para a fá-
brica e onde ficará armazenada até
ao momento de entrada no processo
industrial.

Turquês – Alicate utilizado para re- Saco de plástico – Recipiente com a


tirar os pregos dos pinheiros no final mesma função do púcaro. É� fixo ao
da cada campanha. tronco do pinheiro através de agra-
fos.

Agrafador – Ferramenta utilizada Agrafos – Peça metálica usada para


para agrafar os sacos de plástico ao fixar o saco de plástico à árvore, são
tronco do pinheiro. colocados através do agrafador.

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Resina e Resinagem – Manual Técnico

a. Ferramentas utilizadas em ambos os métodos de resinagem


Riscador
Ferro de renova
Machado
Pulverizador
Raspadeira
Sarapilheira
Bidão
Descarrascadeira ou Desencarrascadeira

b. Ferramentas utlizadas para a resinagem com púcaros


Mete-bicas curvo e Mete-bicas direito
Maço
Bica curva e Bica direita (meia bica)
Púcaro
Prego
Arranca-bicas
Turquês
Lata de colha
Espátula

c. Ferramentas utilizadas para a resinagem com sacos


Saco de plástico
Agrafador
Agrafos

IV. Preparação de um pinhal para a resinagem


As operações no âmbito da gestão florestal que antecedem a resinagem
são da responsabilidade da pessoa ou da entidade proprietária ou ges-
tora do povoamento. São raras as situações em que o responsável pela
resinagem é também gestor do povoamento, apesar de se tratar de
uma situação em que seria bastante vantajoso em que estas situações
coincidissem, pelas vantagens mútuas e pelo ganho de escala que daí�
adviria.

31 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

Estas operações que visam uma correta condução e manutenção do po-


voamento florestal, deverão realizar-se desde a sementeira, plantação ou
aproveitamento da regeneração natural, e deverão ser efetuadas até ao
corte final, se for esse o objetivo último da exploração do povoamento. A
exploração da resina deve ser efetuada em povoamentos onde se efetua
uma correta gestão florestal, podendo a resinagem constituir-se como um
complemento importante a essa mesma gestão e valorização.
Considerando as cinco fases de desenvolvimento de um povoamento flo-
restal regular: nascedio, novedio, bastio, fustadio e alto-fuste (Figura 16),
e considerando os limites mí�nimos legais para a resinagem (> 20cm de
DAP para resinagem à vida), a resinagem à vida enquadra-se a partir do fi-
nal da fase de bastio e essencialmente nas fases de fustadio e de alto-fuste.

Figura 15 – Fases do pinhal aptas para a resinagem à vida

Os pinheiros sinalizados para sair em desbaste poderão também ser re-


sinados na modalidade à morte, por um perí�odo de até quatro anos antes
do corte e respeitando as normas legais (ver capí�tulo resinagem à morte).
Antes de uma área de pinhal ser resinada, por vezes é necessária e impor-
tante uma redução da densidade através de desbaste, para reduzir a com-
petição entre as árvores e melhorar as condições de desenvolvimento e de
produção. Deverão desta forma ser retiradas as árvores mal conformadas,
decrépitas e dominadas, favorecendo a entrada de alguma luz e de calor
que incida nos troncos dos pinheiros. O aquecimento dos troncos pela luz
solar direta vai favorecer a produção de resina pelos pinheiros. Da mes-
ma forma, para uma correta aplicação da resinagem, os pinheiros deverão
estar desramados até uma altura no mí�nimo de 3 metros, ou idealmente
de 4 metros.

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 32


Resina e Resinagem – Manual Técnico

V. Determinação do potencial de uma área para a resinagem


O planeamento prévio da atividade de resinagem é essencial para uma
eficaz e correta aplicação da resinagem no pinhal.
A primeira etapa deste processo consiste em determinar o potencial de
resinagem existente. Para tal, recorrendo a um SIG (Sistema de Infor-
mação Geográfica), é necessário fazer-se previamente em gabinete uma
prospeção de áreas potenciais, através da identificação dos limites das
áreas, dos acessos e densidade geral do copado, podendo e devendo pro-
ceder-se à estratificação de densidades. Posteriormente é necessária uma
visita ao terreno, de forma a fazer-se um levantamento mais pormenori-
zado, através de inventário florestal, para estimar o número de pinheiros
a resinar, as suas dimensões e avaliação do estado fitossanitário. A partir
dos dados recolhidos no campo é possí�vel estimar o número potencial de
bicas e o número necessário de trabalhadores para a realização do traba-
lho de resinagem.

VI. Organização do trabalho de resinagem


Nesta fase é necessário definir qual o método de resinagem a aplicar, con-
soante os objetivos de gestão do povoamento florestal.
De seguida é definida a modalidade de resinagem, se será com púcaros ou
com sacos. A escolha de uma ou de outra modalidade traz implicações ao
ní�vel da execução, nomeadamente ao ní�vel da instalação e da colheita da
resina, conforme o que já foi abordado neste manual.
Após análise do pinhal e das suas condições e levando-se em consideração
o diâmetro das árvores inicia-se o processo de instalação da resinagem.

VII. Descarrasque
A resinagem no pinhal inicia-se com a operação de desencarrasque ou
descarrasque. Esta operação consiste na remoção da camada superficial
de casca (carrasca) do pinheiro. É� efetuada na face do tronco onde se irá
realizar a montagem do serviço, isto é na face onde se irão realizar todas
as etapas seguintes do processo de resinagem. As dimensões do descar-
rasque são normalmente, cerca de 50 cm de altura e aproximadamente de
30 cm de largura.
O descarrasque é efetuado com auxí�lio da descarrascadeira e/ou poderá
ser também utilizado o machado. O machado é indicado para os pinheiros

33 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

que apresentem uma casca muito espessa, ou


ainda para o descarrasque junto ao solo, local
do tronco que apresenta habitualmente uma
maior espessura de casca.
Esta operação é necessária para facilitar todas
as operações de resinagem que se irão reali-
zar posteriormente. Para além disso a porção
de tronco em que foi realizado o descarrasque
tenderá a aquecer mais facilmente por ação da
luz solar, o que irá aumentar a fluidez da resina
e consequentemente aumentar a quantidade
libertada pelo pinheiro através da incisão.
Na resinagem à vida apenas se realiza o descar-
rasque na face do pinheiro em que se vai pro-
ceder à abertura da bica. Na resinagem à morte
Figura 16 – Descarrasque
é por vezes efetuado o descarrasque em todo o
perí�metro do tronco do pinheiro, já que a su-
perfí�cie – largura – a resinar pode ser bastante maior.
Na resinagem à vida o primeiro descarrasque, e consequente montagem
do serviço, deverá ser feito na face do pinheiro que à partida produzirá
mais resina, isto é na face virada a sul/sudoeste, já que esta face tende a
aquecer mais por ação da luz solar. Nos pinheiros tortos ou inclinados o
primeiro descarrasque deverá ser feito na parte côncava do tronco ou na
parte de dentro da inclinação, por empiricamente serem os que produ-
zem mais, levantando no entanto mais dificuldades na colocação do reci-
piente para recolha de resina.

VIII. Riscagem
A riscagem consiste na marcação prévia
da fiada. Tem como finalidade servir como
orientação para os limites de largura má-
xima que a incisão pode ter (12cm para a
resinagem à vida). Faz-se com recurso ao
riscador, resultando em dois sulcos (ris-
cos) paralelos na casca do pinheiro, des-
de a base do tronco até à altura em que se
perspetiva realizar as renovas (cerca de
50cm por ano). Figura 17 – Riscagem

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 34


Resina e Resinagem – Manual Técnico

IX. Abertura da bica


A abertura da bica consiste na aber-
tura da primeira incisão ou ferida no
tronco do pinheiro. Esta poderá ter no
máximo 1cm de profundidade tanto
para a resinagem à vida como para a
resinagem à morte. A ferramenta utili-
zada para a realização desta tarefa é o Figura 18 – Abertura da bica
ferro de renova.
Na resinagem à vida a incisão poderá ter 12cm de largura no 1º, 2º e
3º ano de exploração. No 4º ano de exploração a incisão não poderá ultra-
passar os 11cm de largura.
Na resinagem à morte é permitida uma largura da incisão ligeiramente
superior, de 14cm nos primeiros 3 anos, e de 12cm no último ano, confor-
me o exemplificado na figura seguinte.

Figura 19 – Dimensões máximas da incisão para resinagem à vida e à morte

No primeiro ano de resinagem a aquando da abertura da primeira incisão


esta deve feita a uma altura de 20cm do solo para a resinagem à vida e
para a resinagem à morte.

X. Montagem de serviço
Operação central da resinagem, que pode ser feita recorrendo a dois mé-
todos distintos, serviço com púcaro, prego e bica (chapa que se insere no
pinheiro) ou serviço com sacos de plástico, onde estes são agrafados ao
tronco do pinheiro. Dado que os dois métodos são muito utilizados em

35 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

Portugal e exigem técnicas de aplicação diferentes, serão apresentados de


seguida, separadamente.

Figura 20 – Resinagem com púcaros


a. Púcaros
A resinagem com púcaros é o método mais utilizado nas regiões centro
e sul de Portugal. Neste método de resinagem os púcaros são fixados aos
pinheiros, amparados sobre um prego e com a extremidade superior colo-
cada sob uma chapa (bica) que encaminha a resina para o púcaro. Durante
a campanha a resina contida nos púcaros vai sendo recolhida conforme se
justifique, podendo ser efetuadas várias colhas – retirada da resina dos
púcaros para envio para a indústria durante a campanha.

a. Vantagens:
• Os púcaros podem ser reutilizados durante vários anos;
• Permitem a realização de colheitas intermédias de forma mais
prática;
• São uma solução mais ecológica com menor produção de resí�duos
plásticos.

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 36


Resina e Resinagem – Manual Técnico

b. Desvantagens
• Instalação dos púcaros é tecnicamente mais difí�cil e demorada do
que a instalação dos sacos;
• Preço dos púcaros consideravelmente mais elevado do que os sa-
cos;
• Ao fim de alguns anos os púcaros necessitam de ser substituí�dos;
• Em caso de vento muito forte podem cair derramando a resina
armazenada.

b. Sacos
A resinagem com sacos consiste numa al-
ternativa à resinagem com púcaros. Neste
método de resinagem os sacos são agrafa-
dos ao pinheiro após a realização da ope-
ração de descarrasque, ficando no pinhei-
ro até ao final da campanha. Se no decorrer
da campanha o saco ficar cheio poderá ser
agrafado um ou mais sacos, imediatamen-
te acima, no mesmo pinheiro. Em algumas
explorações realiza-se uma colheita in-
termédia, despejando o conteúdo do saco
para um recipiente de colheita.
Figura 21 – Resinagem com sacos
a. Vantagens:
• Instalação fácil e rápida apenas com recurso a um agrafador;
• Baixo custo dos sacos.

b. Desvantagens:
• Os sacos não podem ser reutilizados;
• Exige que no final da campanha a resina tenha que ser separada
manualmente de cada saco;
• Opção menos ecológica pela maior produção de resí�duos plásti-
cos.
• Acrescem os custos anuais da atividade, uma vez que no final de
cada campanha devem ser encaminhados para entidade acredita-
da para o efeito.
37 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina
Resina e Resinagem – Manual Técnico

XI. Renova
A renova consiste na abertura de uma nova incisão acima da que foi feita
anteriormente (na mesma fiada). Este processo é repetido ao longo de
toda a campanha com intervalos de15 a 21 dias, dependendo das opções
de gestão e da disponibilidade de mão-de-obra. Durante os meses nor-
mais de exploração poderão ser feitas até cerca de 10 renovas.

Figura 22 – Renova simples e renova com proteção

Para uma melhor qualidade da resina obtida a renova poderá ser feita
com recurso a um protetor colocado em cima dos sacos ou púcaros, evi-
tando que pedaços de casca, agulhas ou outras impurezas caiam dentro da
resina contida no púcaro.

XII. Aplicação de pasta estimulante


Após a renova é aplicada a pasta esti-
mulante na parte superior da incisão.
Esta pasta consiste num composto
ácido à base de ácido sulfúrico, que
tem como finalidade estimular a pro-
dução de resina e retardar o fecho dos
canais de resina, fazendo com que a
sua exsudação ocorra durante um pe-
rí�odo mais longo. A aplicação da pasta
é essencial para uma resinagem eficaz
e produtiva, a sua não aplicação ou
uma aplicação mal efetuada implica
o fecho do canal resiní�fero muito ra-
pidamente (3 a 4 dias), havendo uma
Figura 23 – Aplicação da pasta
menor produção de resina.
estimulante

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 38


Resina e Resinagem – Manual Técnico

XIII. Colheita
A colha ou colheita da resina consiste na recolha da resina acumulada que
se encontra nos recipientes de recolha (púcaros ou sacos). A resina depois
de colhida é normalmente encaminhada para bidões onde irá ser arma-
zenada e posteriormente transportada para a fábrica que a irá processar.
Na resinagem com púcaros são efetuadas diversas colhas ao longo do ano,
em função do ritmo da produção que se verifica, do risco de incêndio e das
necessidades de recuperação de investimento. Normalmente são efetua-
das 3 colhas ao longo de toda a campanha. Nesta modalidade a recolha da
resina é feita com recurso a uma espátula, que ajuda a retirar a resina do
púcaro para uma lata de colha, sendo a resina posteriormente depositada
num bidão.
Na resinagem com sacos, a resina libertada pelo pinheiro fica normal-
mente no saco sendo recolhida apenas no final da campanha. No entanto
nalgumas situações, sobretudo em função do risco meteorológico de in-
cêndio, pode optar-se por realizar uma colha intermédia de forma a salva-
guardar parte da produção, evitando assim a perda total da produção em
caso de incêndio ou roubo. Na resinagem com sacos a operação de colha
faz-se retirando os sacos dos pinheiros onde foram agrafados, sendo estes
levados para um estaleiro, posteriormente os sacos serão abertos um a
um e a resina será depositada igualmente num bidão.

XIV. “Raspa”
No final da campanha, depois da última colheita, justifica-se na maioria
das explorações a colheita da “raspa”. Designa-se de raspa toda a resina
que foi ficando acumulada sobre a incisão ao longo da campanha (como
resultado da evaporação dos compostos voláteis da resina). Esta resina
embora de inferior qualidade, possui apesar de tudo, interesse para a in-
dústria. No final da campanha é habitual esta resina, que ficou acumulada,
ser raspada com o auxí�lio de uma ferramenta própria. Este processo con-
siste em raspar toda a face do tronco que foi resinada ao longo da campa-
nha, de forma que a resina raspada caia sobre uma sarapilheira ou esteira
plástica previamente colocada na base do tronco do pinheiro. A resina
raspada será posteriormente armazenada em sacos de grande dimensão
e encaminhada para a fábrica.

39 RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina


Resina e Resinagem – Manual Técnico

XV. Armazenamento
A resina depois de colhida no pinhal é habitualmente armazenada em bi-
dões de metal de 200 litros. Os bidões utilizados para este fim são, na sua
grande maioria, recuperados e reutilizados a partir de outras atividades
económicas. Antes de se proceder à colocação da resina nos bidões o inte-
rior destes deverá ser revestido por um saco de plástico de grande dimen-
são. Desta forma evitam-se contaminações que possam advir do contacto
da resina com substâncias presentes nos bidões ou mesmo provocadas
pela reação quí�mica entre o metal e a resina. Eventuais contaminações
de resina por produtos quí�micos implicam a rejeição de toda a resina do
bidão, uma vez que as caracterí�sticas quí�micas da resina poderiam ser
deterioradas e os critérios de qualidade pretendidos para os derivados
não fossem atingidos.
Em algumas explorações o armazenamento dos bidões é feito, ainda que
temporariamente, no próprio pinhal, no entanto esta opção tem riscos,
nomeadamente a perda da resina armazenada em caso de incêndio ou au-
mento da probabilidade de roubo. Algumas empresas optam pela retirada
da resina do pinhal aquando da colha, optando pelo armazenamento em
estaleiro ou armazém.

XVI. Transporte da resina para a fábrica e chegada à fábrica

Figura 24 – Transporte da resina para a fábrica

RESIPINUS – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina 40


Resina e Resinagem – Manual Técnico

No final da campanha de resinagem, ou quando o resineiro / empresa de


resinagem, tenha armazenado uma quantidade de resina que assim o jus-
tifique, procede-se ao transporte da resina para a fábrica.
O transporte é na maioria dos casos efetuado pela empresa de primeira
transformação, normalmente com recurso a um camião munido de uma
grua para efetuar o carregamento dos bidões de resina. O carregamento
do camião também pode ser efetuado de forma manual, isto é sem recurso
a grua sendo este processo muito mais moroso e dispendioso.
Ao chegar à fábrica a resina é descarregada do camião e é armazenada até
à data em que se vai proceder à sua destilação. O tempo de armazenamen-
to em fábrica é muito variável e depende da disponibilidade de resina na
fábrica e do ritmo de laboração. Normalmente o pico de chegada de resina
às fábricas ocorre no final do verão, altura em que se acentuam as opera-
ções de colheita e consequente necessidade de transporte.

XVII. Finalização da campanha de resinagem no pinhal


No final da campanha de resinagem e tal como está definido na legislação
que regula o sector, todos os materiais e equipamentos utilizados deverão
ser retirados do pinhal de forma a evitar a sua degradação e salvaguardar
o ambiente.
A permanência de materiais ou equipamentos no pinhal após o término
da campanha representa contraordenação que é puní�vel com coima.

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Legislação da atividade de resinagem

O renovado interesse na atividade levou à vontade por parte do ICNF em


criar um novo regime jurí�dico para a resinagem e circulação de resina, sob
o pretexto de pretender alegadamente promover a simplificação, consoli-
dação legislativa e da diminuição dos custos de contexto. Na prática e até
ao momento limitou-se a aumentar os tempos improdutivos com tarefas
administrativas, sem qualquer reflexo positivo.
Assim, é publicado o Decreto-Lei n.º181/2015, que estabelece o novo re-
gime jurí�dico da resinagem e da circulação da resina em Portugal Con-
tinental. Aplica-se a todos os operadores envolvidos ao longo do ciclo
económico da resina, a extração, o armazenamento, o transporte, e as fá-
bricas de 1ª transformação, passando igualmente pelos importadores e
exportadores.

O regime jurí�dico da resinagem definido pelo Decreto-Lei referido esta-


belece:
• Os requisitos para a resinagem (à vida e à morte) (ver capitulo res-
petivo);
• Os procedimentos de registo de operador, comunicação prévia (de-
claração de resina) e fiscalização;
• A criação do SiResin – Sistema de Informação da Resina preenchido
pelos operadores e gerido pelo ICNF;
• O regime sancionatório (contraordenações, coimas e sanções aces-
sórias).

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I. SiResin – Sistema de Informação da Resina


O SiResin é uma plataforma informática (http://fogos.icnf.pt/manifesto),
que reúne todas as funcionalidades referentes ao registo de operadores e
à emissão de declarações de resina, que são as seguintes:
• Apresentação da declaração de resina;
• Submissão do pedido de registo de operador de resina;
• Consulta pelo operador da informação constante do seu registo e das
declarações de resina próprias;
• Comunicação das alterações aos dados constantes no registo de ope-
rador de resina e o pedido de atualização, de retificação ou de elimi-
nação de dados, nos termos estabelecidos na lei;
• Registo de utilizadores;
• A criação de códigos de autenticação únicos de registo de operador
de resina e o envio de mensagens automáticas aos interessados;
• A disponibilização de manual de apoio ao utilizador e sistema de aju-
da;
• A gestão, a manutenção, a atualização e o cancelamento dos registos
de operador de resina;
• A gestão da base de dados para criação de relatórios e consultas.

Figura 25 – Esquema SiResin

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II. Registo de operador


Todos os operadores que desenvolvem a atividades ou operações relacio-
nadas com a resina estão obrigados a efetuar o Registo de Operador de
Resina.
O Registo de Operador de Resina é submetido eletronicamente através do
SiResin, previamente à primeira atividade ou operação sujeita a declara-
ção de resina e é válido até ao seu cancelamento.
Elementos essenciais do pedido de registo, estando sujeitos a declaração
do operador de resina:
• Identificação do operador de resina, (nome ou denominação social,
residência ou sede, NIF e contactos).
• Descrição da(s) atividade/atividades a desenvolver no circuito eco-
nómico da resina. (Exploração, armazenamento, transporte da 1ª
transformação).
Compete ao ICNF assegurar a manutenção, a atualização e o cancelamen-
to do Registo de Operador de Resina.

III. Comunicação prévia (declaração de resina)


Com este novo regime jurí�dico ficam sujeitas comunicação prévia obri-
gatória ao ICNF (declaração de resina), todas as operações de resinagem
ao longo do ciclo económico da resina desde a extração de resina, impor-
tação, exportação, transporte, armazenamento e entrada em fábrica de
1ªtransformação. A Declaração de Resina é submetida eletronicamente,
através do SiResin.
A Declaração de Resina deve incluir os seguintes pontos:
• Número do registo de operador de resina e identificação;
• Identificação da atividade – Extração, Transporte, Armazenamento,
Transformação, Importação ou Exportação de resina;
• Indicação da duração prevista da exploração de resina;
• Espécie de pinheiro a resinar (bravo, manso ou outra) e modalidade
de resinagem (vida ou morte), com número previsto de árvores a
resinar;
• Resina Nacional – Identificação dos prédios de extração da resina,
localização, área da parcela/parcelas, localização, previsão (estima-
tiva) da quantidade de resina a extrair por prédio;
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• Resina importada – Identificação do paí�s de origem e a quantidade


importada;
• Indicação do destino da resina, nacional ou importada, identificando
o operador recetor mencionando a residência/sede, NIF e local ou
locais de receção da resina.
A declaração de resina deve obrigatoriamente acompanhar a circulação e
a detenção da resina ao longo do circuito económico, desde a importação,
quando aplicável, ou desde a extração e até à exportação, ou à entrada em
indústria de 1ª transformação.
Os operadores de resina estão obrigados a transmitir ao adquirente su-
cessivo ou outro detentor legí�timo, um exemplar da declaração de resina
correspondente, bem como cópias das declarações que comprovam as
transmissões antecedentes.
Figura 26 – Circuito económico da resina

Operadores de resina que transportam, armazenam, transformam ou ex-


portam resina, devem exigir no ato da sua receção a entrega de um exem-
plar de todas a declarações emitidas ao longo do circuito económico, sen-
do obrigados a conservá-las durante três anos.

IV. Contraordenações (Regime sancionatório)


As seguintes situações consistem em contraordenações puní�veis com
coima:
• Ausência de comunicação prévia;
• Incumprimento das obrigações de operador de resina;
• Circulação e detenção de resina de pinheiro não documentadas (sem
declaração);
• Não conservação dos exemplares de declaração de resina, pelo pe-
rí�odo de 3 anos;
• Falta de registo e comunicação de alteração dos dados de Registo de
Operador de Resina;
• Incumprimento das condições especí�ficas da resinagem para fins de
investigação;
• A não marcação prévia das fiadas (riscagem);
• Profundidade da incisão >1 cm;

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• Não recolha dos equipamentos após terminar a resinagem;


• Resinagem à morte – a exploração simultânea de várias fiadas na
mesma árvore (presas <8 cm);
• Incumprimento dos requisitos da resinagem à vida (dimensão do
DAP dos pinheiros a resinar, largura das incisões, dimensão das pre-
sas entre fiadas, iní�cio das incisõess a uma altura superior a 20cm da
base do tronco);
• É� admissí�vel uma tolerância ate 10% relativa ao número total de pi-
nheiros a resinar na(s) parcela(s) superior ou inferior, aos limites
previstos para os requisitos da resinagem:
○ Profundidade das incisões (<1cm);
○ Dimensão dos DAP das árvores;
○ Largura das incisões;
○ Dimensão das presas;
○ Altura de iní�cio das incisões na base do tronco.

V. Legislação Revogada
Com este Decreto-Lei é revogada a legislação anterior referente à resi-
nagem, nomeadamente:
• Os artigos 11.º e 12.º e a secção III da Lei n.º 30/2006, de 11 de julho;
• O artigo 6.º do Decreto n.º 13658, de 23 de maio de 1927;
• O Decreto-Lei n.º 33529, de 15 de fevereiro de 1944;
• O Decreto-Lei n.º 38273, de 29 de maio de 1951 alterado pelo Decre-
to-Lei n.º 41033, de 18 de março de 1957, e pela Lei n.º 30/2006, de
11 de julho;
• O Decreto-Lei n.º 38630, de 2 de fevereiro de 1952, alterado pelo De-
creto-Lei n.º 41033, de 18 de março de 1957, e pela Lei n.º 30/2006,
de 11 de julho;
• O Decreto-Lei n.º 41033, de 18 de março de 1957, alterado pelo De-
creto-Lei n.º 129/88, de 20 de abril.

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