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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CESA


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

DISCIPLINA: SEMINÁRIO DE SERVIÇO SOCIAL


DOCENTE: MARIA FERNANDES GOMES ESCOBAR
DISCENTES: BRENA ROCHA SILVA
FELICIANA MARIA FERREIRA DO MONTE
LARA BARRETO MESQUITA GOMES
MARIA BIANCA GOMES DO NASCIMENTO
MARIA CLARA MATOS DE HOLANDA
MARIA MYRLA SOUSA DA SILVA

ENTREVISTA COM A ASSISTENTE SOCIAL LAURA CAROLINA PINHEIRO


RODRIGUES BEZERRA
Relatório

FORTALEZA, CE
2023
 Sobre a entrevistada
Laura Carolina Pinheiro Rodrigues Bezerra se formou em Serviço Social pela Universidade
Estadual do Ceará em 2009, possui especialização em Serviço Social, Seguridade Social e
Legislação Previdenciária pela Potere/Ratio. É mestre em Serviço Social, Trabalho e Questão
Social - MASS/UECE. Também atuou como assistente social na Unidade de acolhimento
Casa Santa Gianna Beretta, no Centro de Referência da Assistência Social - CRAS Mucunã,
no município de Maracanaú, Ceará. Atuou, ainda, como docente do Curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará, entre os anos de 2015 a 2018. Tem
experiência na área de Serviço Social, com ênfase em trabalho, infância, adoção e
acolhimento institucional. Assumiu o posto de militar/assistente social da Força Aérea
Brasileira (FAB) do Estado do Ceará em 2019, sua área de atuação até o presente momento.

 Sobre seu ambiente de exercício da profissão


A Força Aérea Brasileira do estado do Ceará foi criada em 1933, com o nome de 6º
Regimento de Aviação, iniciando suas atividades somente de 21 de setembro de 1936, datado
como seu aniversário oficial. Possui projeto arquitetônico formulado pelo húngaro Emílio
Hinko e seu primeiro capitão foi o aviador José Sampaio de Macedo. Apesar do compromisso
da assistência social na FAB de Fortaleza ser posto através do artigo 4º do decreto nº 64.451,
de 02 de maio de 1969, a inserção desses profissionais ocorreu somente em 1982, como
constam registros oficias, com a proposta de desenvolver o trabalho nas organizações
militares de cunho assistencialista. Cabe ressaltar, entretanto, que anteriormente à introdução
de assistentes sociais, já havia servidoras civis desta categoria profissional. A Diretoria de
Intendência (atualmente Diretoria de Administração) foi a principal responsável pela
incorporação das profissionais em Serviço Social no Quadro Feminino de Oficias (QFO), de
maneira efetiva. No ano de 2019, com a publicação da Portaria 933/GC4, foram implantadas
novas mudanças no sistema de assistência social na aeronáutica de Fortaleza, trazendo como
pontos principais a mudança na nomenclatura, que passou de Sistema de Assistência Social
para Sistema de Serviço Social (SISESO), a mudança no órgão central, de Diretoria de
Intendência da Aeronáutica para Diretoria de Administração Pessoal da Aeronáutica e a
definição grupamentos ligados ao SISESO, como as Organizações de Saúde, as Organizações
de Ensino as Organizações de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutica
(COMAER).
 Escolha do/da profissional
A proposta foi sugerida pela integrante Maria Myrla e todas adotaram a ideia positivamente.

 Perguntas/respostas da entrevista
1. A quanto tempo você atua como assistente social da aeronáutica?

Resposta: Entrei em 2019, estou a 4 anos.

2. O que lhe motivou a elaborar sua tese de mestrado, intitulada “Precarização e serviço
social: as condições de trabalho dos assistentes sociais das unidades de acolhimento
institucional”?

Resposta: Eu estagiei no fórum, e estudei as relações e condições de trabalho dos


assistentes sociais no fórum Clóvis Beviláqua. Então já vinha trabalhando, desenvolvendo,
esse estudo na área do trabalho, nas transformações do mundo do trabalho - é um tema
que eu gosto -, e aí eu fiz um estudo lá. E aí na verdade no mestrado eu só fiz mudar o
foco, porque os dois no setor público aí a gente queria trazer as comparações né, porque aí
a gente tinha as unidades de acolhimento de gestão direta, que o Estado mantém, o Estado
manda a comida, o Estado manda tudo. E nós tínhamos - na época, né - unidades de
acolhimento institucional de gestão indireta, que eram as unidades que participavam de
editais para executar as políticas de acolhimento institucionado. Aí essas instituições
recebiam o dinheiro e administravam. Nas de gestão direta normalmente eram
concursados ou terceirizados que entravam via seleção do Estado, então nós tínhamos
relações trabalhistas diversas. E as da gestão indireta era a instituição que contratava.
Tanto é que eu fui contratada assim, oh, me ligaram "tem uma vaga, cê que trabalhar?" Eu
disse "quero" e fui. Então é, assim, as da gestão indireta, que não é mais ONG, é
Organização da Sociedade Civil, elas contratavam quem elas queriam, e automaticamente
elas pagavam também o que elas queriam. Então nós tínhamos diferença de condições
salariais, de condições de trabalho, de tudo. Por que aí eu comecei a trabalhar lá e eu quis
estudar também as condições de trabalho dos assistentes sociais, na execução da política
de acolhimento. Foi por isso.

3. Quais são as suas demandas como assistente social da aeronáutica, e quais atividades
você desenvolve junto aos militares?

Resposta: Aqui nós temos todas as demandas que a gente tem no CRAS, que a gente tem
no CAPS, porque o serviço social ele é um só, ele vai executar de acordo com a
instituição, local onde ele está inserido. (Por isso o pessoal diz assim "Ah, na prática é
diferente" não existe isso!) A gente aprende na faculdade a forma como a gente vai
enxergar e vai fazer a leitura da situação, da realidade. Aqui nós temos atendimento ao
usuário: atendimento ao militar ou ao familiar do militar, ao pensionista, ao dependente;
temos alguns funcionários civis então a gente faz o atendimento social, faz visita
domiciliar também, faz visita institucional pra fazer articulação, faz visita hospitalar
porque a gente tem um grupo de saúde aqui, é como se fosse um hospital pequeno mas
essas pessoas elas também são hospitalizadas na rede conveniada, então muita vezes a
gente faz a interlocução com a assistente social dessa rede conveniada para saber como é
que tá o paciente, a gente tem demandas de situação de violência contra idoso,
principalmente porque a gente tem, particularmente na base aérea de Fortaleza, a maioria
do nosso efetivo, seja o da ativa ou o da reserva, que é os que estão aposentados, eles são
mais idosos (da ativa não porque a gente tem um tempo limite, ninguém pode ficar idoso
aqui), mas quando eles vão pra reserva a gente tem muitos militares que vem morar em
Fortaleza, além dos que já estavam aqui, os que vem morar em Fortaleza, que estavam
servindo em Manaus, Brasília, Rio de Janeiro, eles vem e ficam ligados à base, então a
gente tem mais de 3.000 pessoas que a gente atende, que estão ligadas à base e a grande
maioria é idoso, e aí a gente tem muitos casos de violência patrimonial, de pessoas que
querem obter o recurso, o salário daquele idoso, que vivem dependendo do recurso
financeiro deles, além de alguma violências físicas, negligência, então a gente também
atende esses casos. Quando a gente faz o atendimento militar a gente vai identificando as
expressões da questão social e a gente acompanha, e se for o caso a gente faz visita. Nós
temos benefícios sócio assistencial disponível pro efetivo como benefício alimentação,
que tem duas modalidades que é o nutrição especial que para aquele público que tem
uma necessidade de alimentação via enteral, parenteral; a gente faz o ressarcimento do
gasto daquele militar, não é um ressarcimento completo mas é uma parte né, aí o militar
passa por uma avaliação sócio econômico, a gente vai avaliar as condições sociais, os
agravos da saúde, os agravos com relação aos vínculos pessoais, comunitário, familiares, e
também a questão financeira, então a gente avalia tudo. A gente tem alguns critérios que
estão na nossa legislação que é a NSCA 163-1/2020. Tudo que a gente faz aqui a gente
tem documentos, a gente não faz nada que não esteja escrito. Também temos dentro do
benefício alimentação a gente tem a cesta básica que também existem critérios para o
recebimento da cesta básica, o militar passa pela avaliação sócia econômica, solicita o
benefício e a gente faz as concessões -vocês viram até uns alimentos que tinham ali né
porque a gente vai montar as cestas- então a gente concede a cesta básica (também
existem os critérios). Na saúde a gente tem três benefícios: benefício de medicação de
uso contínuo e alto custo. É o grande "carro chefe (?) 10:59" porque nós temos muitos
idosos e com a idade os agravos de saúde eles vão surgindo, então a gente tem militar
acamado, a gente tem militar que toma muita medicação, medicação de alto custo. Então a
gente ressarce medicação de uso contínuo e de alto custo que não esteja disponível na rede
do SUS, porque aqui nós somos um fundo de saúde, nós não somos um plano de saúde,
então a gente também é setor público então essas pessoas elas têm acesso a farmácia do
SUS, então quando não tem na rede conveniada, não tem no SUS, a gente também faz o
ressarcimento para garantir a melhoria da qualidade de vida do usuário. Tem o benefício
órtese e prótese que a gente ressarce um valor que é óculos de grau, aparelho auditivo
que é muito caro, CPAP, cirurgia de catarata (a gente ressarce a lente, a gente não ressarce
os procedimento médicos) mas só o material no caso a lente, porque é como se fosse uma
prótese, e a gente tem como parâmetro o próprio Rol da ANS de prótese e órteses (o que é
considerado prótese e o que é considerado órtese). Tudo isso passa pela avaliação sócia
econômica, não é só chegar e pedir, tem avaliação sócio econômica e tem os critérios. E o
último do benefício saúde é o atendimento especializado multidisciplinar, nos temos
também uma demanda muito grande de filhos de militares com autismo, TDAH, ou com
outras deficiências, então às vezes têm uma terapia, um atendimento multidisciplinar que
nem se consegue pelo SUS, e que nem se consegue pela nossa rede conveniada, nem pelo
o nosso hospital. Por exemplo, uma terapia ABA, uma musicoterapia que para os autistas
é bem importante em alguns casos, a gente faz o ressarcimento mediante laudo, indicação
médica, tem todo um protocolo de documentação que eles precisam apresentar para ter
acesso a isso. E por último a gente tem o benefício educação que é voltado pro público de
pessoas com deficiências que a gente tem, por exemplo, ressarcimento de mensalidade
escolar e o tratamento do apoio psicopedagógico - qual é o objetivo desse benefício? - pra
gente descontrair um pouco da ideia de que pessoas com deficiências tem que ficar em
casa, porque muitas vezes a gente tem isso, o militar que tem um filho com síndrome de
down, filho com autismo, ele não quer levar pra escola ele quer deixar a criança ali porque
tem medo; alguns alegam que não tem condições de manter em uma escola adequada, ou
que não tem como fazer terapias, então a ideia do benefício é impedir que esse familiar
segregue aquela pessoa com deficiência, porque é um descontração que precisa ser feita,
então o benefício ele vem como um incentivo também para que aquela criança, ou aquele
adolescente, aquele adulto, porque tem uns que já são adultos, que eles continuem tendo
acesso a educação, as terapias e consigam ter a vida em sociedade porque é de fato uma
desconstrução, então esse benefício educação é voltado para essas pessoas, que tem
pessoas com deficiência na família. E tem o benefício habitação, mas eu confesso que a
gente nunca operacionalizou porque além dele ser muito difícil, no âmbito da exigência de
critérios, nós não temos esse perfil aqui, que é.. a gente tem material de construção para
pessoas que passaram por desastres que é enchentes, as enchentes de Recife, né as
assistentes sociais de Recife elas operacionalizam esse benefício porque a gente
disponibiliza mediante ressarcimento ou mediante licitação aquele material de construção;
a gente não paga a reforma, a gente não paga o serviço do pedreiro por exemplo, mas o
material para custear para que aquela pessoa consiga reconstruir. E tem também a
adaptação para a pessoa com deficiência, por exemplo, a gente tem um militar que
sofreu um acidente, esse militar que sofreu um acidente tá acamado vegetativo, a casa
daquela pessoa não estava adaptada para isso porque todos eram "saudáveis" não tinha
ninguém com deficiência, mas a gente tem esse benefício para que a família possa adaptar
a casa para necessidade da pessoa com deficiência. -A gente conseguiu operacionalizar
pra ela? Não. Por quê? Porque os critérios eles são bem precisos e na grande maioria não
se tem o que se exige, que é ter um laudo do corpo de bombeiros, precisa ter um laudo da
defesa civil, precisa que a casa esteja no nome da pessoa, a grande maioria das pessoas
não tem escritura, isso não é uma coisa rara, então fica difícil operacionalizar, então o que
é que gente faz? A gente tenta minimizar os impactos concedendo os outros benefícios,
então ele é usuário do benefício de medicação, do benefício de órtese e prótese, do
benefício alimentação, de forma que a família consiga amenizar os gastos nessa área para
poder conseguir dar conta dos gastos que vai precisar naquele demanda. Então a gente tem
esses benefícios. E nós desenvolvemos também atualmente sete projetos, nós executamos
projetos também aqui, que é voltado pro efetivo; a gente tem o projeto Tome Nota (?
17:00) que é um projeto que a gente faz atividades, inicialmente eram mensais a gente
conseguiu espaçar um pouco então normalmente é a cada dois meses; qual é a ideia desse
projeto? É a gente ter um contato mais próximo com o efetivo geral da base e trabalhar
alguns temas, a gente trabalha para as campanhas nacionais: setembro amarelo, outubro
rosa, novembro azul, trabalho janeiro branco, no mês de março a gente fala sobre a
questão da mulher, a gente fez agosto lilás, a gente trouxe advogada da OAB da comissão
de direito militar, trouxe a cartilha de proteção a mulher, a gente fez isso com o efetivo,
falou sobre assédio, para desmistificar alguns temas e mostrar o que é a realidade; em
abril a gente fez palestra sobre deficiência porque muitas vezes a gente não sabe falar,
lidar, não sabe agir quando a pessoa tem deficiência e isso é muito comum no quartel
porque o quartel ele não é acessível porque ele foi pensado para pessoas com deficiência,
e isso é histórico, vem dos grandes exércitos da Grécia antiga, dos exércitos de Esparta,
então a gente traz um contexto. Então a gente trabalha esse assunto com o efetivo até pro
efetivo entender algumas demandas. A gente tem o projeto Força Aérea Força que
Abriga que é voltado para as crianças de acolhimento institucional, que a gente trás essas
crianças – esse ano a gente ta fazendo com os acolhimentos da prefeitura, a gente fez
todos do Estado – para um dia uma manhã no quartel, então elas vem passeiam pelos
aviões, tira foto, a gente apresenta a história, passeia de caminhão tropa, depois o
caminhão tropa vai pro canil onde tem uma apresentação dos cães de guerra, faz rastejo,
tem tiro de chumbinho, a gente monta aquela ponte de corda, faz camuflagem, então a
proposta é que a gente apresente pra eles um mundo diferente pra gente trabalhar a
questão da autoestima, perspectiva de futuro, porque tem muito militares nossos que
também vem de uma situação mais precária no sentido financeiro, então é pra gente
mostrar pra eles que é possível, a gente tem essa proposta e eles ficam encantados; então
Tome Nota a gente faz 4 vezes por ano, a gente fez um agora em setembro, a gente vai
fazer um em outubro, um em novembro e em dezembro a gente vai fazer o geral que a
gente tem um clube que a gente traz todo mundo, é um caos mas a gente traz todo mundo
que participou de todos os eventos durante o ano, aí disponibiliza a piscina, faz um
almoço com eles, campo de futebol, aí é lazer eles adoram, ficam perturbando por isso.
Então esse é o força aérea que o efetivo adora, o pessoal participa, se engaja e esse projeto
faz mais bem a gente do efetivo do que as próprias crianças, a gente tem um engajamento
muito positivo com relação a quem participa do projeto. Tem o Educação Financeira, a
gente trabalha ao longo do ano o tema de educação financeira para o efetivo, então a gente
faz palestra, atividades, faz estudo de caso para ensinar o efetivo a usar o dinheiro, saber
como usar o dinheiro. Tem o projeto A Bordo da Nossa História que a gente tá
encerrando agora que é com o pessoal da terceira idade, o pessoal da reserva. A gente fez
alguns encontros, a gente trabalhou a questão da história de vida e aí o fruto desse projeto
é um livro que a gente vai lançar, o livro já tá pronto, com memórias, o tema do livro é a
bordo da nossa história: um voo pelas histórias da base aérea de Fortaleza. São
memórias, a gente quer contar a história da base a partir das memórias de quem passou
aqui, não é uma história institucional, a gente quer falar das vivências de quem já passou;
o livro tá muito legal a gente vai fazer um lançamento, trazer essas pessoas para a gente
poder também reconhecer a importância –aí entra a questão intergeracional - de valorizar
o veterano, de valorizar aquela pessoa que já passou aqui, que contribuiu para construir a
história da base. A gente tinha o Saberes e Sabores, mas a gente cancelou ano passado
porque era voltado para as esposas dos militares. Por quê? É aquela história da pesquisa
né a gente vai pra realidade e quando a gente chega lá a gente volta e faz a avaliação;
então quando a gente avaliou a gente viu que não era o que a gente esperava. Por quê?
qual é o perfil da mulher do militar? Normalmente é aquela que não trabalho porque não
consegue fazer um vínculo profissional porque o marido é toda hora transferido, então a
gente achava que essa era a realidade de Fortaleza então a gente fez um projeto pra elas,
na pandemia esse projeto foi essencial porque a gente fez online então a gente trabalhou
questão de saúde mental, transtorno alimentar, o que fazer com os filhos porque ficavam
todos em casa, e a gente militar não deixou de trabalhar, então os pais militares vinham
trabalhar e as mães ficavam surtando em casa tendo que dar conta da casa, e dos meninos
e das tarefinhas que a escola mandava; então a gente trabalhou um pouco isso, deu super
certo na pandemia só que depois a gente viu que não era mais necessário porque essa não
é a realidade de Fortaleza, a grande maioria dos militares que estão aqui, estão aqui a
muito tempo, 15 anos, 14 anos, 20 anos, então essas pessoas elas trabalham, a grande
maioria das esposas trabalham então elas não tinham tempo para vir para os nossos
eventos, então a gente viu que não era a nossa realidade, então esse projeto ele não
condizia com a realidade que a gente tinha, então a gente suspendeu e esse ano a gente
não tá executando ele porque realmente era um desgaste muito grande pra gente preparar e
vinha uma pessoa, o online dava mais gente, mas na pandemia que estavam todos em
casa. Tem o programa de atenção ao recruta todo ano, duas vezes por ano entra turma
de recruta que formam os soldados, então a gente trabalha com eles uma palestra de
educação financeira que a grande maioria tá recebendo o salário pela primeira vez na vida
porque são jovens, 18 anos, a grande maioria, boa parte sustenta a família então a gente
trabalha a educação financeira tanto pra eles saberem como administrar da melhor forma o
dinheiro quanto também pra eles saberem até que ponto eles tem a parcela deles na família
e tudo, porque muitos acabam carregando tudo pra si, as vezes o militar, o soldado ele é o
único que tem uma renda fixa a grande maioria os pais são autônomos, não tem emprego,
estão inseridos precariamente no mercado de trabalho, então a gente trabalha essas
questões com eles; também a gente faz uma outra instrução próximo ao encerramento do
período de formação sobre o uso indevido de álcool e outras drogas porque são muitos
jovens e sobre o Serviço Social, então a gente apresenta as nossas ações, os nosso projetos
e também a gente faz um sobre projeto de vida pessoal, a gente trabalha com eles o
planejamento para que eles possam se organizar e planejar o que eles querem pra vida
deles, então a gente trabalha com eles o passo a passo pra executar isso. E por fim o
Programa de Preparação Para Reserva que é um programa que a gente faz com os
militares que estão a pelo menos dois anos de ir para a reserva. Porque o que é que
acontece? O militar ele passa a vida inteira nessa "batida intensa" ser militar não é
dedicação exclusiva é dedicação integral, você está ali servindo ao Estado e muitas vezes
eles chegam pra ir para a reserva e não sabem o que fazer, e vão para reserva muito novos,
as vezes com 50 anos, 45, dependendo se ele já entrou na AFA (Academia da Força
Aérea) porque já conta os 4 anos que ele estava estudando, já conta como tempo, ele já é
militar, então a gente trabalha esse pós, para inibir até possíveis casos de suicídio,
depressão, porque fica um buraco ali, a pessoa vivia pro quartel e de repente ela não tem
mais o quartel, então a gente tem esse projeto. E as outras demandas do Serviço Social, a
gente atende tudo, faz acompanhamento, relatório, encaminha relatório ao ministério
público. E é isso.

4. Você desenvolve ações junto com outros profissionais, por exemplo, com psicólogos?

Resposta: Sim, por exemplo no setembro amarelo. Nós não tínhamos psicólogos até
2021. A gente tinha, mas eles saíram, porque eram temporários, quando eu cheguei não
tinha. Isso é importante pra vida de vocês, quando a gente chega em alguma instituição a
gente precisa fazer um diagnóstico para saber a onde é que eu estou, quais são as minhas
demandas, quais barganhas eu consigo fazer, até onde eu posso ir, como é que aquela
instituição se organiza. Pra gente não ficar remando contra a maré, pra não ficar se
desgastando e não sair do canto. Quando eu cheguei aqui, não tinha assistente social a
mais de 1 ano. 3 que essa é uma nova visão que a gente tem né, de investir nos projetos,
então não tinha isso. E aí, como não tinha psicólogos, acabei assumindo, no tome nota
chamava uma pessoa, chamava uma psicóloga pra fazer janeiro branco, setembro amarelo,
outubro rosa também, chamava um médico, trabalhar com outros profissionais, para que
eles pudessem dar uma melhor orientação né. E aí, hoje como a gente tem psicólogas, a
gente tem duas, essas ações além desse trabalho de campanhas, setembro amarelo, janeiro
branco, a gente trabalha em parceria. Tanto que ontem foi o dia todo de atividades, e a
última atividade que foi a palestra, foi a psicóloga que ficou a frente. Então a gente vai se
organizando, e também a gente faz um trabalho articulado no âmbito dos casos. As vezes
eu atendo uma pessoa aqui que não tá bem, que vem por outras demandas, mas que a
gente sinaliza que aquela pessoa tá com alguma questão de saúde mental. Não sou
psicóloga, não sou psiquiatra, não posso dizer assim, você precisa fazer terapia. O que eu
faço, eu encaminho pra psicologia, ou as vezes até falo com a psicóloga, ó atendi tal
pessoa aqui, acho que ela não tá bem, tu tá atendendo ela? Porque as vezes aquela pessoa
já é atendida e eu não sei, se ela tá sendo atendida beleza, mas se ela não tá a gente
encaminha para que ela seja atendida pela psicologia, a gente atua dentro dos limites
profissionais de cada um. A gente também fez articulação com profissionais da educação
física, a gente tem um educador dic. A gente usa todo mundo, essa é que é a verdade, e o
pessoal gosta da gente. A gente já fez parceria com nutricionista, fisioterapeuta,
fonoaudiólogo, a gente traz os profissionais. Em maio a gente trata da questão do trabalho,
então a gente fez uma atividade laboral, para prevenir condições de lesões por conta do
trabalho. O serviço social precisa se articular, não tenho como fazer tudo. A gente
operacionaliza as políticas, a gente organiza, faz a gestão das atividades, mas nem sempre
é a gente que executa tudo, a não ser que seja algo privativo, um atendimento do usuário,
um parecer social, aí tudo bem, mas o resto que é projetos, a gente faz em conjunto, a
gente não trabalha só.

5. Quais foram os maiores desafios em atuar na base aérea de Fortaleza?

Resposta: Eu acho que o grande desafio é dar visibilidade ao serviço social. Como em
todo canto. Quando a gente chegou em 2019, é. Não se tinha esse trabalho de projeto.
Agora, qual foi a minha sorte? A gente pegou uns bons comandos e aqui muda de
comando a cada 2 anos, né? Nós pegamos comandos que favoreciam o trabalho do serviço
social. Então, todos os projetos que eu levava, o comandante falava pode fazer e aí a gente
tem uma vantagem muito boa que é assim, aqui a gente tem um quadro de trabalho
semanal, que é assinado pelo comandante e todos precisam ir não tem pra onde correr. Vai
ter uma palestra e ta lá, cabos e soldados, tem que ir. O que é ótimo, porque a gente
acaba, é claro, atingindo todo mundo, porque tem que ir, né? Mas assim, a grande questão
é a gente dar essa visibilidade, não só porque é obrigado a ir, mas mostrar o quanto o
serviço social é necessário. E assim a gente conseguiu mudar, a visão do efetivo que sobre
a gente. Quando eu cheguei quase não tinha atendimento, e a ano passado fomos a
organização militar que mais atendeu no país inteiro com uma única assistente social que
sou eu, e temos locais que tem 3 assistentes sociais. Isso é fruto de o efetivo ir se sentindo
seguro, um dos um dos desafios é isso que o efetivo se sinta à vontade e seguro. Por que
eu sou militar, porque muitos que vem aqui estão abaixo de mim, e tem essa insegurança
todos nós que trabalhamos aqui, assinamos um termo de sigilo, né? Comprometimento de
sigilo, que é publicado. Se alguém quebrar o sigilo além do nosso código de ética. É,
grave, né? Porque é uma falta grave. É uma falta disciplinar. o efetivo precisa sentir
segurança. Porque eu acho que a gente tem vencido essa Barreira, mas o grande desafio é
dar visibilidade. Por isso fazemos tantas ações. Como tome nota, essa proposta de eles se
sentirem próximos do serviço social, a ponto de a gente chegar a ele. Nós somos 600
pessoas trabalhando +3000 que estão na reserva. Assim como saber que fulano está bem?
Se ele não chegar até mim, eu não tenho como saber. E não tenho como saber que o
senhorzinho lá estar sofrendo violência doméstica? Se você não vier até mim. Então a
nossa proposta é fazer os projetos, para que eles saibam que existe. O serviço social, e aí
toda a ação do serviço social a gente fala que eu tenho slide pronto, do que o serviço
social , quais são os nossos benefícios que a gente assegura. E a gente tem percebido que.
Tem crescido muito, tanto que quando fizemos uma atividade sobre a pessoa com
deficiência. No final teve um militar que era subi. Tenente, eu queria parabenizar a
senhora porque eu não acreditava no serviço social. Mas agora, depois que a senhora
falou isso, mudou minha visão sobre o serviço social, e esse militar, ele vai para tudo.
Porque a gente faz, mas tem uns que escapam né? Mas ele vai para tudo, e o engraçado é
que tudo que eu peço eles fazem, e eu peço muito. Mas se fossem outras pessoas eles não
fariam, mas a gente vai conquistando o efetivo e eles agora sabem a importância e os
impactos. Mas eu não faço isso só, às vezes eu tenho a ideia e às vezes nem a ideia eu
tenho, eu tenho a ajuda do Matheus, e agora temos mais pessoas com a gente para nos
ajudar para termos mais impactos.

6. Como foi o processo seletivo?

Resposta: Foi punk, (RISADAS) não assim a primeira fase da seleção você conseguir ler
o edital porque ele é gigantesco, mas assim aqui na FAB e no exército é só currículo que
você entra no site e preenche e coloca seu currículo, já na marinha é mais exigente tem
prova escrita, e aqui não. Aqui você se inscreve mais tem várias fases e pontuações, aqui
na FAB todos que foram inscritos são chamados e apresenta toda a documentação ai vai
ser recalculada as pontuações. Fiquei em primeiro lugar, porque já tinha mestrado,
especialização e já tinha todo o tempo de experiência profissional, ai tem a inspeção de
saúde que tem vários exames que você tem que fazer, e depois você faz também aqui (na
FAB), ai você passou? Tem o teste físico, ai você passou vai para a concentração final,
que é quando você vai trazer os originais do que você apresentou, se você trouxer alguma
coisa errada, certidão errada. Não dá para voltar. Inclusive, eu deixei a mais. Porque se
você esquecer e perguntar se alguém pode ir deixar não pode, a chance já vai para a
segunda colocada. Não pode entrar acompanhada você entra sozinha. E isso eu estava na
UECE a um mês e estava com a disciplina de estágio, e depois saiu a a listagem para a
incorporação e quando você vai se apresentar você já fica e é sem hora para sair. Foi
desafiante porque não é nossa realidade do serviço social, fazer teste físico, o mais
desafiante foi o teste físico e a tensão.

7. Como aconteceu o primeiro contato com a área a qual você atua hoje?

Resposta: Tipo estava em casa. Sério, estava em casa que eu tinha tido meu filho. Já
estava em casa a quase um ano e meio, eu consegui ficar com ele. Eu entrei aqui e ele
tinha 1 ano e meio. E meu marido estava olhando os editais olhando que ele adora né? Aí
olha Carolina esse edital o salário tá ótimo, ai quando eu olhei disse que era nada haver.
Ai quando eu vi o teste físico eu disse que não iria conseguir, porque eu estava acima do
peso, tinha desenvolvido também uns problemas de saúde, fazia muito tempo que eu não
fazia nada, aí ele falando que ia dar certo. Ai como era só o currículo ai eu mandei e fiquei
em uma colocação boa e me chamaram, aí fiquei caramba vai dar certo. Aí comecei a
treinar de manhã e de noite porque primeiro eu estava acima do peso e segundo pra
conseguir fazer, cheguei aqui de paraquedas porque não sabia o que me aguardava, e na
minha família não tinha nenhum militar e agora tem minha irmã porque eu a influenciei,
ela é na área de contábeis, mais assim eu não tinha ninguém vim com a cara e a coragem.
Mas eu gosto da área e se não tivesse que transferir eu ficaria a vida toda eu acho.

8. Quais são os principais recursos disponíveis para os militares e suas famílias?

Resposta: Temos unidade de acolhimentos de gestão indireta, pois realizamos


atendimento social ao efetivo e seus dependentes, operacionalizamos a concessão de
benefícios sócio assistenciais e executamos projetos sociais junto ao efetivo. Educação
financeira: é voltada para o ressarcimento de medicação de uso contínuo e alto custo que
não tenha pelo SUS, e o grande carro chefe por ter muitos idosos militares, como também
ressarcir, próteses, óculos de grau, lentes, aparelhos auditivos, cirurgia de cataratas, claro
tudo isso tem que passar por avaliação socioeconômica e seus critérios para se beneficiar..
Temos também benefício de cesta básica onde o militar passar por uma entrevista e
seleção para os critérios da avaliação social, outro beneficio educação voltada para o
público com deficiência digo filhos de militares com autismo, TDAH, e os pais acham que
não pode frequentar escolas normais onde entra nosso trabalho de assistente social dar
encaminhamento para ressarcimento para escolas, psicopedagoga uso de terapias para
melhor incentivo de contato com a sociedade.

9. Quais são os procedimentos para lidar com questões de saúde mental e bem estar
emocional dentro das forças armadas?

Resposta: Nesses casos precisamos que o militar chegou até nós para podermos fazer um
diagnóstico do efetivo, ficando mais próximo fazendo um levantamento do que está
acontecendo se está fazendo uso de medicação para ansiedade ou até mesmo depressão, e
poder dar um melhor suporte em atendê-lo. Fazemos palestras convidamos profissionais
da área damos lazer incentivamos esportes no quartel para sair da rotina militar então
tentamos dar todo apoio moral e psicológico com ajuda de profissionais, psicólogos e
médicos.

10. Quais são os programas de apoio disponíveis para a transição para a vida civil após o
serviço militar?

Resposta: Não oferecemos assim diretamente programas de apoio para os militares e sim
damos proteção para todos civis no território nacional com as três forças armadas:
Marinha, Exército e Aeronáutica para melhor servi-lo. Tomamos de conta do nosso
espaço aéreo, trabalhando nas fronteiras, missão das forças armadas proteção do espaço
nacional.

11. Como você se sente e quais dificuldades você encontrou ao trabalhar em um ambiente
predominantemente composto por homens?

Resposta: Então, quando eu cheguei aqui, achei estranho. Como a sociedade é machista e
a gente tem uma série de coisas relacionadas ao preconceito contra a mulher, a gente acha
que vai sofrer aqui também. Mas por incrível que pareça, eu, Carolina, nunca sofri um
assédio. Porque aqui eu sou militar! Aqui eu não sou "a Carolina", eu sou militar. Mas
aqui é realmente um ambiente masculino, como a gente viu a palestra sobre assédio... a
gente, às vezes, aqui, como é um ambiente masculino, eu tô aqui conversando - sou
homem -, tô aqui conversando com outro homem, tô tirando uma brincadeira que, para
uma mulher, é constrangedora, e às vezes eles não sabem porque isso é o natural deles.
Então a gente tenta trabalhar isso, dessa forma eu percebo que o Serviço Social ganhou
um espaço de forma que as pessoas escutam. Às vezes eu falo coisas que são bem críticas,
libertárias... mas não sei se é porque eu já conquistei o público, ninguém se estressa
comigo. Mas assim, deve ter, onde tem homem, pode ter um assédio. Assim, eu nunca
sofri, ou pelo menos se sofri não percebi. Mas realmente é estranho, porque só tem
homens. Na Educação Física, por exemplo, só tinha eu de mulher, agora tem várias
mulheres. Antes eu me sentia estranha, porque eu estava em um ambiente masculino.
Quando eu cheguei aqui só tinha eu de mulher, eu comecei a deixar a sala mais feminina,
trouxe xícaras! O Coronel uma vez olhou pra mim e disse: Carolina, mulher realmente faz
a diferença. Porque eu nunca tinha pensado que a gente não tem xícara. Eu respondi: pois
é, a gente não tem xícara! Eles também vão se acostumando à nossa presença, eu acho que
o conhecimento é fundamental. A gente precisa conversar, a gente precisa falar, eles
foram socialmente construídos dessa forma, às vezes uma mulher também reforça o
machismo. Então a gente precisa ir desconstruindo isso no dia a dia. Antes eu achava
esquisito, agora não mais.

12. De que forma você concilia sua vida profissional com sua vida familiar?

Resposta: Da melhor forma possível (risadas)! É tranquilo, é tranquilo. Aqui a gente


trabalha como militar né, aqui a gente não trabalha 30 horas, porque eu sou primeiro
militar e depois assistente social. Aqui é assim. Na saúde, todo mundo da área da saúde
trabalha 30 (horas) porque é a legislação da saúde da FAB. Então, se eu tivesse
trabalhando na área da saúde eu estaria trabalhando 30 horas. Mas aqui eu trabalho 7
horas, não faz muita diferença, porque é de 8 às 4 (16 horas). Tem a hora de almoço né,
mas dar quase 30 horas, e na sexta a gente trabalha só até o meio dia. Então já deu as 30
horas faz é tempo, porém, eu tiro serviço armado né, então eu entro 1 a cada 40 dias mais
ou menos, eu entro num dia e saio no outro dia às 9. Entro 07:30 e saio no outro dia
quando a equipe me rende. Mas continua o expediente até meio dia. Então tem esses
momentos, tem as representações... por exemplo: vai ter prova do ITA, a gente vai
fiscalizar. A gente não ganha hora extra por isso, tá? Um evento sobre Santos Dummont,
uma exposição... Podia ser pior, poderíamos estar na guerra. A questão da vida familiar é
respeitada, salvo condições extremas que a gente é demandado. Fora isso, vou pra casa,
vivo minha vida normal, meu final de semana normal, tudo direitinho.

13. Uma frase que lhe defina no momento atual?

Resposta: Parece àquela coisa de entrevista de emprego, né? Eu gosto muito daqui, eu
gosto do trabalho, eu acho que a gente se envolve num trabalho muito legal, pra mim foi
uma grata surpresa, que eu tinha uma visão totalmente, que eu tinha na academia sobre as
forças armadas, e quando eu comecei a atender as pessoas, eu vi que são pessoas, porque a
gente não, a gente personaliza, objetifica, na verdade são as forças armadas, só que as
forças armadas são pessoas, que também tem questões, como qualquer outra pessoa, que
sofrem com as retrações das questões sociais e às vezes nem percebem que sofrem os
impactos da questão social, que expressam isso, mas eu gosto do meu trabalho, eu gosto
do trabalho, como eu falei, a gente tem uma estrutura, a gente tem uma sala pra atender, a
gente tem carro disponível pra fazer visita, hoje a gente apoio do comando que tudo que a
gente - a gente inventa que só - tudo que a gente inventa, ele abraça, ele incentiva e fala
no grupo dos oficiais, e manda os chefes mandar o povo, tem gente que já bota assim
quando a gente começa a palestra “ palestra do serviço social, cadê o povo?” “venham já
tá todo mundo aqui”. Então, assim a gente vai vendo que hoje a gente tem um ambiente
bom de trabalhar. Então acho que, eu acho que como profissão, esse daqui é um dos
melhores lugares que eu já trabalhei, pela estrutura e pelo apoio que a gente tem. Pode ser
quem uma pessoa entrando aqui não tenha o apoio que eu tenho, não consiga desenvolver
o trabalho como a gente consegue, mas acho que a gente já alcançou muito aqui, desde a
questão da pessoa, o pessoal já me para e fala assim “tenente como é, não pode falar
especial né” “não pode, porque eu sou especial pro meu marido, pro meu filho, pra minha
mãe, todo mundo é especial” e a gente vai tirando onda, vai tirando brincadeira, porque
precisa entrar, e a gente vai aprendendo por repetição. Então é legal ter esse feedback e
aqui a gente tem uma coisa que muitas vezes a gente não tem lá fora, o seu usuário você
vê ele sempre, na grande maioria das vezes eu atendia uma pessoa e conseguia
acompanhar o processo, eu atendo uma pessoa no CRAS pode ser que ela nunca mais
volte e na loucura do CRAS de não ter carro, muitas vezes de não ter como dá conta das
50 mil famílias que você tem que dar conta, você nunca mais vê aquele usuário, e aqui não
a gente sabe como tá todo mundo, a gente consegue acompanhar e isso é bom porque o
serviço social sofre porque a gente não vê começo, meio e fim, a gente não tem como
calcular como vai terminar, “ah vou encerrar esse ciclo”, projeto tem o bom de trabalhar
com projeto é isso tem começo, meio e fim, e no final você fica atingi, não atingi, você
consegue, mas no dia a dia, no atendimento com o usuário, em alguns lugares você não
tem esse feedback e isso é bom pra gente como profissional a gente fica olhando assim, ah
tá indo no caminho certo, ou não tá indo no caminho certo, “como melhorar aquilo?”,
então assim de estrutura, de apoio, de -apesar de tudo- liberdade pra trabalhar, inclusive
aqui eu tenho mais liberdade pra trabalhar do que quando eu trabalhava no CRAS do
município que assim se você fizer uma coisa que o prefeito não quer o pessoal já chega e “
quem é essa menina, que tá fazendo isso”, e num sei o que. Então assim a gente tem muito
mais liberdade pra atuar, inclusive a gente faz um relatório pro Ministério Público, o
coronel não ler os relatórios porque não pode, mas o ofício sai daqui então ele tem que
assinar o ofício, e em muitos lugares é difícil, mas ele já, eu disse coronel “coronel, o
senhor assina o ofício” “mas Carolina como que eu vou assinar esse ofício se eu não sei
nem o que é que tu tá mandando” “não coronel, mas sou eu que vai responder o relatório”
“ então tá bom”, então ele assina, em alguns lugares não acontece, ou é com mais
dificuldade. Então assim a gente tem essa liberdade toda pra trabalhar, pra inclusive
mandar o que tem que ser mandado, faz o relatório encaminha pro Ministério Público, que
a gente tem um limite também de atuação, a pessoa chega pra mim dizendo que tá
sofrendo a violência, eu faço visita, faço relatório social e mando pro Ministério Público,
porque eu não posso pegar ela e botar debaixo do braço e trazer pra cá, ou então ir lá
pegar quem tá violentando e prender aqui, não tem como, então a gente tem um limite, aí
o que é que eu faço? eu aciono o CRAS, o CREAS, o posto de saúde, o CAPS, a gente
trabalha em rede, e o Ministério Público que aí a gente tem que comunicar, aí o Ministério
Público faz a visita, dá a medida protetiva e a gente vai tendo o feedback, mas é isso.
(Feliciana) Sua frase final é “eu amo as forças armadas” (Carolina) Eu gosto, amar é
muito forte, mas eu conheço um pouco mais do que eles fazem, eu amo o serviço social
das forças armadas.

14. O que a motivou para idealizar o projeto “Força aérea, força que abriga”?

Resposta: É um projeto voltado para as crianças de acolhimento institucional, que a gente


traz essas crianças - esse ano a gente tá fazendo com os acolhimentos da prefeitura, a
gente fez todos do Estado - a gente traz as crianças para um dia, uma manhã, no quartel.
Então elas vem passeiam pelos aviões, tiram fotos, a gente apresenta a história, passeiam
de caminhão tropa depois o caminhão tropa vai pro canil onde tem uma apresentação dos
cães de guerra, faz rastejo, faz tiro de chumbinho - essa parte tu corta, não brincadeira -
tem tiro de chumbinho, a gente monta aquela ponte de corda, faz camuflagem, então é
uma proposta que a gente apresente pra eles um mundo diferente, pra gente trabalhar a
questão da autoestima, perspectiva de futuro, porque tem muitos militares nossos que
também vem de uma situação mais precária, no sentido da financeira, então é pra gente
mostrar pra eles que é possível. Então a gente tem essa proposta e eles ficam encantados.
Muita gente vem pedir, inclusive escolas particulares, mas a gente, o nosso projeto é
voltado para esses né, quando a gente terminar todo mundo a gente pensa em abrir para
outros, mas de vez em quando vem um penetra né, quando vem o filho de uma pessoa,
pede pra abrir e a gente deixa porque a ideia é dar aquele dia de diversão. Então, o tome
nota a gente faz quatro vezes por ano, a gente fez um agora em setembro, a gente vai fazer
um em outubro, um em novembro e em dezembro a gente vai fazer um geral que a gente
tem um clube, que a gente traz todo mundo, é um caos, mas a gente traz todo mundo que
participou de todos os eventos durante o ano, as crianças, aí disponibiliza a piscina, faz
um almoço com eles, o campo de futebol, aí é lazer, eles adoram, ficam perguntando por
isso. Então, esse é a força aérea que o efetivo adora, o pessoal participa se engaja. E esse
projeto faz mais bem a gente, do efetivo, do que as próprias crianças, a gente tem um
engajamento muito positivo com relação a quem participa do projeto.

 Cronograma de atividades da equipe

DATA ATIVIDADE RESPONSÁVEL


Contato via Whatsapp com a
18/09 profissional para estabelecer Maria Myrla.
data/horário da entrevista.
Reunião para estabelecer quais
18/09 perguntas seriam realizadas na Em grupo.
entrevista.
Criação do documento
18/09 contendo as perguntas que seria Lara Barreto.
o norteador durante a
entrevista.
20/09 Entrevista e visita institucional. Em grupo.
Cada integrante ficou
21/09 – 23/09 Transcrição das respostas da responsável por transcrever
entrevista. a resposta cuja pergunta
formulou.
21/09 Elaboração do relatório. Lara Barreto.
11/10 Criação do slide. Maria Myrla.
23/10 Ensaio para a apresentação. Em grupo.

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