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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

CURSO DE PSICOLOGIA – DISCIPLINA: Práticas Sociais e Subjetividade

Nome: João Carlos do Prado Junior RA: G2934J9

Turno: Noite Turma: PS6P48 Semestre: 6

Professor: Felipe Oliveira

Tema do Grupo: Subjetividade na Educação – Preconceito e Povos Indígenas

Registro nº: 1

O processo de observação deste relatório foi realizado dentro da Universidade Paulista (UNIP)
durante 5 semestres cursando Direito e 6 semestres cursando Psicologia (no período entre 2018 e
2023), onde notei que a maioria das pessoas negras que eu via trabalhando na universidade,
exerciam cargos de limpeza ou atendimento ao cliente nas lanchonetes, durante aproximadamente
5 anos totais estudando na Unip tive apenas 1 professor negro e não me lembro de ter visto outra
pessoa negra em um cargo a princípio mais bem remunerado. O intuito deste relatório, então, foi
partir dessa observação do meu cotidiano, que por si só é inconclusiva, já que se baseia apenas na
minha experiência e não representa um estudo científico realizado dentro do campus estudantil,
para entender como o racismo estrutural presente no Brasil afeta essa parcela da população e
causa esse tipo de discrepância dentro do ambiente universitário.
Segundo a Agência Senado, pessoas que se declaravam negras em 2020, grupo composto de
pessoas pretas e pardas, representavam, segundo o IBGE, cerca de 56,1% da população brasileira
e mesmo assim é comum notarmos a ausência dessas pessoas em determinados ambientes, como
a própria sala de aula do atual semestre, composta majoritariamente por alunos brancos, fato esse
que não se limita apenas a UNIP, e sim a maioria das instituições de ensino privado, segundo
levantamento do GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa) da UERJ
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro) com base no censo escolar, há um índice de menos
de 10% de estudantes pretos e pardos entre as 20 melhores escolas privadas do Brasil, e o índice
tende a diminuir conforme a escola for melhor colocada no Exame Nacional do Ensino Médio, o
ENEM. Levando em consideração os dados apresentados, é nítido que há um sistema educacional
injusto em vigência no país, a atual baixa qualidade do ensino público e os altos valores do ensino
privado contribuem para que a população mais pobre, composta em maioria por pessoas negras,
se afaste do ensino superior. Utilizando como base a escola de ensino privado que frequentei

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durante 11 anos e comparando com familiares de idade próximas, que frequentavam o ensino
público, era gritante a diferença entre os conteúdos aprendidos, existia um atraso de pelo menos
dois anos entre quando eu aprendia algo e esse mesmo conteúdo era passado para meus
familiares, devido a essa diferença abissal entre a qualidade dos estudos realizados, não seria
justo aplicarmos o mesmo método de avaliação para mim e meus familiares, existe esse conflito
que ocorre em grande parte do país, inclusive na maior prova do país (o ENEM), utilizando uma
corrida como alegoria, é como se naquela época eu corresse por uma pista livre e quem não
possuía acesso ao ensino privado tivesse que ultrapassar inúmeros obstáculos diários apenas para
começar a corrida, o que se concretiza com dados do IBGE que evidenciam que a população
negra é a maioria no Brasil e mesmo assim ocupa 48,3% das vagas universitárias (somando
instituições públicas e privadas), programas governamentais como a Lei nº 12.711/2012,
sancionada em agosto deste ano, que garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno
nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos
oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e
adultos, se fazem extremamente necessários.
O racismo não se apresenta através apenas de gestos e ofensas, há um racismo estrutural que
vigora no Brasil desde sua criação como país, e os reflexos ainda são observáveis nos dias de
hoje, a lei de cotas , então, é ótima como medida remediativa, porém, é necessário que o acesso a
um ensino de qualidade seja popularizado e que todas as parcelas da população tenham acesso a
esse ensino, esse processo deve ser construído durante anos e não deve se basear apenas na
popularização do ensino de qualidade, é necessário o entendimento de que o racismo estrutural e
seus reflexos englobam grande parte das esferas cotidianas da sociedade, inclusive não sendo
nítidos em alguns casos, logo, urge a necessidade de reparação dessa dívida histórica com a
população negra, levando em consideração a educação, a saúde, o bem estar, o lazer, a cultura, a
religião, a política e todos os demais aspectos onde essas pessoas foram negligenciadas,
marginalizadas, excluídas e até proibidas em determinados períodos.
Em relação a observação realizada, fora citado que em aproximadamente 5 anos como aluno da
UNIP, tive apenas um professor negro, porém mesmo com inúmeros obstáculos a serem
ultrapassados, uma pesquisa realizada todos os anos pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, evidencia que o número de professores universitários
negros no contexto universitário cresceu nos últimos anos, entre 2010 e 2021 houve um aumento
de 12,6%, porém ainda há uma longa jornada a ser percorrida para um cenário nacional com
maior equidade e justiça.

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A observação se iniciou de maneira natural e foi construída durante anos de ensino em
instituições privadas, tanto no ensino fundamental, quanto no superior, onde sempre foi possível
notar a ausência de pessoas negras e uma maioria esmagadora de pessoas brancas frequentando
esses ambientes, há 19 anos atrás, quando entrei pela primeira vez em uma escola particular,
havia apenas uma pessoa negra em toda escola, e ela atuava como faxineira, com o decorrer dos
anos o cenário não mudou drasticamente e até a minha saída dessa escola, sempre fora possível
contar nos dedos os alunos, professores e trabalhadores negros que a frequentavam, no ensino
superior o cenário se manteve muito similar, no 1º semestre cursando direito em 2018 o número
de pessoas negras na sala de aula era maior que na escola onde estudava e estava habituado,
porém muitos acabaram não trancando sua matrícula e no meu último semestre no curso, o
número de estudantes negros era de aproximadamente 3 entre mais de 40 alunos, e hoje no curso
de Psicologia a maioria em sala de aula, segue sendo branca. Após as orientações passadas pelo
professor para elaboramos o trabalho, a primeira ideia que tive foi essa, a observação, então, diz
respeito a uma experiência longínqua e não a um recorte observável de algumas horas, porém
através dos dados colhidos pude concluir que a minha observação possui respaldo em dados
científicos e elucida a importância de programas governamentais que estimulem a presença da
população negra no ensino superior, sendo dever do estado (que por hora não é cumprido)
garantir ensino de qualidade e que todas as necessidades básicas das pessoas sejam atendidas.

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Bibliografia
https://querobolsa.com.br/revista/universidades-com-maior-presenca-de-alunos-negros-
no-brasil-segundo-o-mec

https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2020/08/negros-representam-56-da-
populacao-brasileira-mas-representatividade-em-cargos-de-decisao-e-baixa#:~:text=noticias
%2Flogo.png-,Negros%20representam%2056%25%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o
%20brasileira%2C%20mas%20representatividade%20em,cargos%20de%20decis%C3%A3o
%20%C3%A9%20baixa&text=Os%20negros%20representam%20a%20maioria,que%20re
%C3%BAne%20pretos%20e%20pardos

https://mundonegro.inf.br/cresce-o-numero-de-professores-universitarios-negros

https://porvir.org/pesquisa-aponta-que-menos-de-10-dos-alunos-de-escolas-privadas-de-
alto-desempenho-sao-negros/

https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/05/23/negros-sao-menos-de-10-dos-alunos-das-
20-top-escolas-privadas-do-brasil.htm#:~:text=Educa%C3%A7%C3%A3o-,Negros%20s
%C3%A3o%20menos%20de%2010%25%20dos%20alunos%20nas,top%20escolas%20privadas
%20do%20Brasil

http://portal.mec.gov.br/cotas/perguntas-frequentes.html

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