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POLÍTICA DE COTAS NAS UNIVERSIDADES PUBLICAS

TEXTO CIENTIFÍCO

ANTÔNIO JOSÉ COSTA LIMA FILHO

VALENÇA-BA

06/11/2018
POLÍTICA DE COTAS NAS UNIVERSIDADES PUBLICAS

TEXTO CIENTÍFICO

Criada para ser uma das principais ferramentas de ampliação das


oportunidades sociais e educacionais no Brasil, a Lei nº 12.711 foi sancionada
em agosto de 2012 e, desde então, vem lutando para ser precursora de
mudanças significativas na democratização do acesso ao ensino superior e na
redução da desigualdade social no país.

ANTÔNIO JOSÉ COSTA LIMA FILHO

VALENÇA-BA

06/11/2018
Introdução

Criada para ser uma das principais ferramentas de ampliação das oportunidades
sociais e educacionais no Brasil, a Lei nº 12.711 foi sancionada em agosto de
2012 e, desde então, vem lutando para ser precursora de mudanças
significativas na democratização do acesso ao ensino superior e na redução da
desigualdade social no país.

Embasamento Científico

Perante o Art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, baseado na


igualdade universal de todos os brasileiros não existe igualdade universal. A
igualdade não deve ser um princípio descritivo das relações sociais, mas uma
meta, um imperativo que estruture as ações políticas dos governos e as ações
sociais dos grupos e organizações. Nas democracias apenas formais, como é o
caso da nossa, que convivem com enormes assimetrias econômicas e sociais,
o princípio da igualdade apenas legítima a lógica do mérito, permitindo que a
estrutura de poder mantenha os grupos distantes em termos de acesso aos
serviços e benefícios sociais. Neste sentido, para que se construa efetivamente
um projeto de sociedade igualitária, é preciso tratar os desiguais de forma
desigual, permitindo-lhes acesso privilegiado ao trabalho e a educação de
qualidade, a fim de que em alguns anos possamos ter a equidade social, e aí
sim corridas meritocráticas justas, em que todos saem do mesmo ponto e com
as mesmas chances.

A Lei 12.711 de 2012, “lei das cotas”, tenta resolver problemas de desigualdade
de acesso que historicamente se construíram no Brasil e que impedem o
desenvolvimento do nosso país. Economistas modernos, como Paul Krugman
(Nobel de economia em 2008), já perceberam que não há desenvolvimento sem
igualdade. Os negros no Brasil têm renda que beira a metade da renda dos
brancos, eles ocupam as piores posições sociais, têm taxas de mortalidade
infantil mais elevadas, menor expectativa de vida e são a maioria da nossa
população prisional. É impossível construir um país desenvolvido sem a inclusão
de um grupo que compõe, em termos demográficos, 50% da nossa população
(pretos e pardos no Censo de 2010). A Lei 12.711 tem um foco maior nas cotas
sociais, ela procura incluir nas universidades os alunos de escolas públicas e
dentre estes os que possuem renda per capita de até 1,5 salários mínimos. Este
foco social por si só não resolve o problema do racismo no Brasil. As pessoas
negras têm mais dificuldade de acesso à escola, há estudos que mostram que
são discriminados no ambiente escolar e mesmo na atribuição de notas pelos
professores. De tal forma que, ainda sendo um avanço, a “lei das cotas” precisa
ser aperfeiçoada, pois a inclusão da chamada nova classe média nas
Universidades públicas do país ainda não implica na inclusão de negros e
brancos de forma equânime.
Vivemos no Brasil quase 500 anos de naturalização do racismo, de achar que
tudo estava bem organizado como aparece na expressão clássica de Gilberto
Freyre em Casa grande & Senzala: “os índios nas matas, os negros na cozinha
e os brancos na sala”. A psicologia social, por exemplo, minha área de interesse,
apenas no início da década de 1990 descobriu que há racismo no Brasil.
Estamos aos poucos acordando deste sonho feliz de democracia racial e
percebendo o que o racismo é capaz de fazer com as pessoas e com um país.
Neste sentido, as posições mais antagônicas contra as políticas de ação
afirmativa tendem a ser questionadas pelo debate mais ampliado sobre a
situação dos negros no Brasil, fazendo com que as pessoas se tornem mais
abertas e conscientes da desigualdade e dos meios de combatê-la. No entanto,
o que o nosso estudo revela é outro cenário. Queiroz e Santos perguntaram a
pessoas de modo geral, sem situações de ameaça aberta à posição dos grupos,
ao status quo. Nosso estudo pergunta sobre cotas aos estudantes universitários
não cotistas logo depois da entrada dos cotistas na universidade. Neste contexto,
a competição é alta, o sentimento de que “estão retirando nossos direitos” faz
com que se abandone a histórica retórica paternalista, presente nas teses de
Freyre sobre a democracia racial, e se assume posições ideológicas mais
flagrantemente violentas de defesa de território e privilégios sociais. Penso que
o racismo no Brasil está nesta fase. E, neste contexto, os movimentos sociais de
defesa dos interesses dos grupos minoritários nas relações de poder têm enorme
contribuição a dar.

Na verdade, o nosso estudo demonstra, e esta é uma linha que merece


aprofundamento empírico, que o avanço dos negros em termos de igualdade de
direitos, no caso específico o direito ao ensino superior, pode fazer com que o
racismo no Brasil mude sua forma de manifestação, abandonando as lógicas do
paternalismo, da sutileza, da suposta “docilidade dominadora” para assumir um
viés mais aberto, virulento e ressentido. Penso que esta transposição de forma
de expressão contribui para desnudar o racismo e torná-lo uma preocupação
não só dos movimentos de minorias sociais e de alguns políticos mais à
esquerda no espectro político, mas efetivamente uma preocupação de todos
nós, dos pais na socialização dos filhos, das escolas, dos grupos informais e
formais que compõem nossa sociedade. Isto pode ser benéfico, a longo prazo,
pois admitir e trazer à luz o racismo do Brasil é uma fase necessária e
incontornável para combatê-lo.
Considerações finais do Autor

Como enxergo o sistema de cotas no Brasil a médio e longo prazo, considerando a


interferência da política pública?

O sistema de cotas é uma ação do governo brasileiro que consiste na reserva de vagas
das universidades públicas para negros, índios, alunos em escolas públicas, entre
outros grupos. Para os negros, as universidades reservam 20% das vagas para o aluno
concorrer pelos sistemas de cotas.

Para participar da reserva de vagas, o candidato deve se candidatar para o sistema de


cotas e se declarar negro no momento de inscrição do vestibular. Na inscrição, o
interessado deve assinar uma declaração específica exigida pela banca na
universidade. Essa declaração será avaliada por uma comissão de representantes de
movimentos sociais envolvidos com o assunto, e especialistas que decidirão se a
inscrição do candidato deve ser aprovada ou não após uma entrevista.

Na Universidade de Brasília (UnB), o cotista deve se dirigir a um posto de atendimento


da universidade e tirar fotos no Centro e Seleção e de Promoção de Eventos
(Cespe/UnB), órgão responsável pela prova. Essa foto deverá ser anexada à ficha de
inscrição e avaliada pela banca da universidade.

Se a banca decidir que a inscrição não foi aprovada, o candidato deixa de concorrer
pelas vagas reservadas e passa a concorrer pelas vagas universais. Caso o candidato
discorde da homologação, ele pode entrar com recurso ou tirar qualquer dúvida quanto
ao pedido de reserva pelo sistema de cotas com a comissão.

A inclusão de negros nas universidades pelo sistema de cotas foi adotada pela primeira
vez na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 2001. A UnB foi a primeira
instituição federal de ensino superior a adotar o sistema de cotas, em 2004.

Até 2007, 40 instituições públicas adotaram o sistema de cotas, sendo 18 universidades


estaduais e 22 federais. Em 2013 o sistema de cotas completou 10 anos com cerca de
32 universidades estaduais que já aplicavam ações afirmativas para o ingresso de
estudantes. Toda política de ação afirmativa deve ter uma data para ser abolida, ela
deve cuidar de tornar efetivamente igualitária a situação dos grupos propondo um
tratamento desigual. Este tratamento desigual é, portanto, provisório. O que ocorre
muitas vezes é um tipo de política de ação afirmativa que ganha contornos de
demagogia por não tratar o problema na sua causa original, ou seja, por cuidar só do
sintoma e não da doença. Caso o governo não invista efetivamente na melhoria do
ensino público no Brasil, na geração de oportunidades de acesso e permanência de
crianças pobres e também de crianças negras a boas escolas, creches e serviços de
saúde, não adiantará muito a médio e longo prazo ter criado cotas nas universidades.
Ou seja, se não cuidarmos dos problemas mais gerais de desigualdade no país,
corremos o risco de termos algo como os norte-americanos têm, uma mobilidade social
de alguns negros que não implica em mudança social do grupo como um todo.
Referências bibliográficas
Ação Afirmativa ao Redor do Mundo - 19 maio de 2016
Thomas Sowell (Autor), Joubert de Oliveira Brizida (Tradutor)

Cotas raciais na universidade

Steil Carlos Alberto (Autor) - Empório Do Livro

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