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Disposições constitucionais do Direito Penal


A constituição é a lei máxima de um país e é a partir dela que todo o ordenamento
jurídico será moldado. Desta feita, podemos dizer que o código penal brasileiro segue os
princípios explícitos e implícitos contidos na CF.

O direito penal é, basicamente, o estudo da infração penal a qual se divide em duas


espécies: crimes e contravenções penais. Essa divisão é chamada de dicotômica e a
diferenciação básica entre as espécies se dá na gravidade de sua conduta, sendo o crime
uma conduta mais gravosa e a contravenção penal uma conduta de menor gravidade.

Tanto os crimes quanto as contravenções penais seguem a égide dos princípios


constitucionais, como a legalidade, a irretroatividade de lei mais maléfica, a culpabilidade,
humanização das penas, a pessoalidade, a proporcionalidade das penas, entre outros que
veremos a seguir:

Princípios
Expressos/ Princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX da CF; art. 1º do CP): definir de forma
simples que o tipo penal deve estar previsto em lei. É importante salientar que a maioria das
bancas traz o princípio da legalidade e o princípio da reserva legal como sinônimos. No
entanto, caso a banca queira inovar, basta lembrar que o princípio da reserva legal afirma
que uma conduta só pode ser considerada como crime se estiver prevista em lei ordinária
Federal. Da legalidade também surge o princípio da taxatividade o qual defende que a
conduta deve estar descrita de forma exata na Norma penal. Outro conceito que decorre da
legalidade é o chamado princípio da anterioridade de lei que versa que a conduta só pode
ser punida se houver lei descrevendo o fato como criminoso e prevendo sua pena. Ou seja,
condutas anteriores a vigência de uma lei penal não podem ser punidas por lei posterior.

O princípio da irretroatividade de lei mais maléfica defende, conforme art. 5º/CF, que lei penal
posterior mais severa não poderá retroagir para atingir a fatos anteriores à sua vigência. Ou
seja, a lei somente retroagirá para beneficiar o réu. Importante salientar que a irretroatividade
de lei penal mais maléfica e a retroatividade de lei penal mais benéfica não se restringem as
penas, mas há qualquer Norma de natureza penal, como as medidas de segurança.

O princípio da culpabilidade consagra a responsabilidade penal subjetiva, impondo que


ninguém seja responsabilizado penalmente sem que tenha agido com dolo ou culpa. Este
conceito deriva do princípio da dignidade da pessoa humana.

Princípio da dignidade da pessoa humana – segundo o art. 1º, III da constituição Federal, a
dignidade da pessoa humana é o alicerce do Estado democrático de direito. Por isso, O
legislador constituinte dispõe que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos
e liberdades fundamentais elencados no artigo 5º da constituição Federal.

O princípio da humanização das penas ou da humanidade impede que o direito de punir do


Estado atinja a dignidade da pessoa humana. A CF proíbe a aplicação da pena de morte
(salvo em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo de trabalhos forçados de
banimento e cruéis, estabelecendo ainda o respeito à dignidade física e moral dos presos.

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O princípio da pessoalidade determina que somente o autor do delito poderá sofrer a ação
penal conforme dispõe o artigo 5º, XLV, da constituição federal: "nenhuma pena passará da
pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar danos e a decretação do patrimônio
de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas até o
limite do valor do patrimônio transferido". Esse princípio também é chamado de
intranscendência da perna ou personalidade.

O princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF) – o texto constitucional estabelece
que a lei irá regular a individualização da pena. Dentre as penas previstas estão a privação
ou restrição da Liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa e a suspensão
ou interdição de direitos. Este princípio se subdivide em 3 fases: a cominação da pena (fase
legislativa), a aplicação da pena (fase judicial) e a execução da pena (fase administrativa).

O princípio da proporcionalidade das penas prefere que a pena deve ser quantificada com o
propósito de ser suficiente e necessária para cumprir sua função de retribuição e prevenção.
Nesse sentido, O legislador não pode fixar em abstrato sanções penais incompatíveis com
a gravidade do delito, mas deve agir de acordo com o princípio da proporcionalidade,
evitando o excesso.

Implícitos / Princípio da intervenção mínima defende que somente se deve recorrer ao


direito penal quando exauridos todos os meios alternativos de controle social. seu
fundamento pode ser encontrado na declaração dos direitos do homem e do cidadão: "a lei
apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias".

Princípio da fragmentariedade decorre do princípio da intervenção mínima e declara que o


direito penal se caracteriza por seu caráter seletivo, isso é, seu objetivo é proteger os bens
jurídicos mais relevantes. Esse caráter fragmentário e subsidiário deve orientar a política
criminal, corrigindo distorções evidentes.

Princípio da adequação social – segundo este princípio, alguns comportamentos película


apesar de previstos nos elementos descritivos da Norma penal, são aceitáveis pela
sociedade e passam a perder a força como conduta reprovável. Podemos exemplificar a
partir da conduta de lesão corporal ao furar as orelhas de um neném. Ou seja, apesar de ser
formalmente típica, tal conduta não é punida pois já foi socialmente aceita.

Princípio da ofensividade/lesividade – este princípio defende que somente haverá crime se


existir efetiva ofensa a um bem jurídico penalmente protegido não sendo admitida a
responsabilidade penal de um comportamento que não tenha sequer gerado um episódio de
risco ao bem jurídico tutelado.
Tal princípio ainda é muito discutido pela doutrina regular visto que crimes de perigo abstrato
não geram risco, apenas perigo de dano. No entanto, estes crimes são punidos como se
houvessem de fato lesionado bem jurídico tutelado. Sobre tal matéria, o STJ já se posicionou
afirmando que os crimes de perigo abstrato não são inconstitucionais.

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Aplicação da lei penal no tempo e no espaço
Art.1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
A aplicação da lei penal define o que uma conduta para ser penalizada deve estar tipificada
em lei, e para que a pena seja aplicada, essa também deve constar no texto legal. Estes
conceitos, como já vimos, decorrem dos princípios da legalidade e da anterioridade de lei.
Neste capítulo iremos estudar como a lei se comporta em relação ao tempo e ao espaço.

Lei penal no tempo


Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos
fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

O art. 2º caput do CP trata da chamada Abolitio criminis. Este instituto prevê que, por meio
da abolição do crime, todos os efeitos penais serão também extintos, permanecendo apenas
os efeitos extra penais. O parágrafo único, no entanto, define que se a lei posterior for mais
favorável ao réu ela deverá retroagir para beneficiar o autor do delito ainda que este já tenha
sido condenado e esteja cumprindo pena na fase de execução penal.

Veja que, em regra, a lei não pode retroagir, salvo se a lei penal trouxe algum benefício para
o agente no caso concreto. Em caso de lei posterior mais gravosa que tenha revogado outra
lei, a primeira, mesmo sem estar vigente, deverá ser usada se beneficiar o réu, é o que
chamamos de ultratividade de lei.

Mas lembre-se, é vedada a combinação de leis no tempo, segundo a súmula 501 do STJ.
Outro ponto que merece total atenção é o disposto na súmula 711 do Supremo tribunal
Federal, que em sua redação defende que: em caso de crime continuado ou de crime
permanente, deverá ser aplicada a lei penal vigente no momento da cessação do delito ainda
que esta seja mais gravosa.

Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.

Quanto ao tema, o Código Penal brasileiro adotou a chamada Teoria da Ação ou da


Atividade. Aplica-se a lei penal em vigor no momento da ação ou da omissão criminosa,
mesmo que o resultado seja produzido sobre a vigência de outra lei penal, ressalvando-se
sempre a possibilidade de retroatividade de lei penal nova mais benéfica.

Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

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Quanto ao tema o Código Penal brasileiro adota a chamada Teoria Mista ou da Ubiquidade
Segundo esta teoria, é tanto o lugar da atividade criminosa (ação ou omissão), o lugar do
resultado, tem como o local em que o bem jurídico tutelado foi atingido. Teoria da ubiquidade
será aplicada ainda que em nosso território somente aconteça uma das fases do crime.

Lei excepcional ou temporária


Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência.

A lei excepcional ou temporária são leis penais que possuem um período previamente
determinado de vigência, fixado por um prazo ou condicionado a sensação de uma situação
emergencial. A principal característica este tipo de lei é a outra atividade. O que significa que
a lei será aplicada a um fato cometido no período de sua vigência mesmo após a sua
revogação, ainda que prejudique o acusado.

A lei excepcional é aquela que vigora por um tempo indeterminado, enquanto durar uma
situação excepcional. Exemplo: época da piracema, tempo de guerra...

A lei temporária é aquela que surge para vigorar por tempo previamente estabelecido, isto
é, com começo e com fim já prefixado. Exemplo: lei da copa.

A peculiaridade destas leis é que elas são autorrevogáveis, diferente das demais que, em
regra, necessitam de lei posterior que as revogue expressamente.

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Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal
Territorialidade:
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as


embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou


embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.

Em razão do princípio da soberania, a territorialidade penal parte da ideia básica de que os


autores das infrações penais cometidas em território brasileiro devem ser julgados pela lei
penal brasileira. Territorialidade pode ser descrita como aplicação das leis brasileiras aos
delitos cometidos em território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de
soberania.

Para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e


aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que
se encontrem, bem como as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada que se achem em território aéreo correspondente ou em alto mar.

Também aplicável a lei brasileira a crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações


estrangeiras de propriedade privada desde que essas estejam em pouso no território
nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em Porto ou mar territorial do
Brasil.

Ainda, de acordo com o princípio da bandeira ou do pavilhão, consideram-se as


embarcações e aeronaves como extensões territoriais do país em que se achem
matriculadas, quando estiverem em alto mar ou espaço aéreo correspondente. Hidratando,
as embarcações ou aeronaves privadas nacionais que ingressarem em território estrangeiro
não serão consideradas extensão do território brasileiro.

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Extraterritorialidade:
A extraterritorialidade elenca os seguintes princípios:

Princípio da territorialidade – art. 5º, CP.

Princípio da defesa (real ou de proteção) – se o bem jurídico for de proteção especial, aplica-
se a lei penal brasileira independentemente de fronteiras.

Da nacionalidade (ou da personalidade) – será aplicada a lei brasileira autor do crime,


qualquer que tenha sido o local de sua prática, com base no princípio da personalidade ativa.

Da justiça universal (ou cosmopolita) – fica o Brasil obrigado a reprimir determinados delitos
devido a tratados e convenções de direito internacional.

Da representação (pavilhão ou bandeira) – a lei penal brasileira será aplicada aos crimes
ocorridos em aeronaves ou embarcações brasileiras, privadas ou mercantis que se
encontrem em território estrangeiro, desde que lá não tenham sido julgados.

A extraterritorialidade incondicionada é de interesse absoluto do Brasil. Este dispositivo é


uma exceção ao princípio do "ne bis in idem". A extraterritorialidade incondicionada tem
suas hipóteses previstas no inciso primeiro do artigo 7º e não se subordinam a qualquer
condição para atingir a um crime cometido fora do território nacional.

Já a estrada territorialidade condicionada necessita de requisitos cumulativos e deve


respeitar o princípio do "ne bis in idem". As hipóteses estão previstas no inciso 2º do artigo
7º e, nesses casos, a lei nacional só pode ser aplicada à crime cometido no estrangeiro se
satisfeitas as condições indicadas no § 2º e nas alíneas a e b do § 3º.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
OBS: Aqui a regra é taxativa, não se incluindo, por exemplo, crimes patrimoniais ocorridos
em face de Presidente da República no Exterior.

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território,


de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação
instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;


OBS: Crimes funcionais praticados por prestadores de serviços contra a Administração
Pública Brasileira (Peculato, concussão, corrupção passiva, etc.)

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;


Importante: Nas quatro hipóteses acima elencadas o Estado Brasileiro terá SEMPRE a
intenção de aplicar sua legislação penal ao fato ocorrido no estrangeiro, ainda que o autor
do delito seja absolvido ou condenado no estrangeiro.

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Nas hipóteses seguintes (abaixo relacionadas), o Estado Brasileiro somente terá a intenção
de aplicar sua legislação penal ao caso se houver o preenchimento de requisitos.
Esses requisitos estão elencados no §2º do art. 7º do CP.
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade


privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido
ou condenado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

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Teoria geral do crime
Fato típico e seus elementos
Conduta (ação ou omissão, subdividem em próprios e impróprios).
Crimes comissivos (se desenvolvem por ações).
Crimes omissivos (se desenvolvem por omissões).

Resultado: Modificação no mundo exterior causado pela conduta.


Crimes materiais: Aqueles em que o tipo penal descreve um resultado naturalístico que deve
ocorrer para que exista o crime (exemplo: Art. 121, art. 155, etc.).
Crimes formais: O tipo penal descreve um resultado. Todavia, não é necessária a sua
ocorrência para que o crime exista (exemplo: art. 288 do CP).
Crimes de mera conduta: O tipo penal somente descreve a conduta, não prevendo a
ocorrência de qualquer resultado.

Nexo causal: É o elo entre a conduta e o resultado.


Teoria adotada: Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais.

Tipicidade: Perfeita adequação/subsunção entre a conduta praticada e o preceito legal.

Crime consumado e tentado:


Art. 14 - Diz-se o crime: Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

Consuma-se o delito quando todos os elementos descritos no tipo penal são realizados
Ex: Art. 121: Matar alguém.

Noções de iter criminis


ATOS
COGITAÇÃO ATOS EXECUTÓRIOS CONSUMAÇÃO
PREPARATÓRIOS

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Se, iniciados os atos executórios o agente não consegue consumar o delito por
circunstancias alheias à sua vontade, haverá a tentativa.

Espécies de Tentativa:
Perfeita (crime falho) – O sujeito esgota seu potencial lesivo.
Imperfeita – O sujeito não consegue esgotar seu potencial lesivo.
Cruenta – O sujeito atinge a vítima.
Incruenta (Branca) – O sujeito não atinge a vítima.

Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz:


Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que
o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

Desistência Voluntária:
Iniciam-se os atos de execução, porém não são completados a ponto de se chegar à
consumação.

Arrependimento Eficaz:
Iniciam-se e encerram-se atos de execução. Após, o agente pratica uma nova ação capaz
de evitar a consumação do crime.

Característica: O agente responderá tão somente pelos atos até então praticados e NÃO
PELA TENTATIVA do delito mais grave anteriormente pretendido.

Essas formas são conhecidas como “Tentativas Qualificadas” a doutrina nomina essas
situações como “Ponte de Ouro”.

Arrependimento Posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano
ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Diferencia-se do arrependimento eficaz porque (aqui) temos já ocorrida a consumação do


delito. Caso o sujeito após o recebimento da denúncia/queixa, repare o dano, apensar de
não ser beneficiado pela causa de diminuição acima, terá sua pena atenuada, desde que
restitua o bem ou repare o dano antes da sentença (art. 65, III, “b”).

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Crime Impossível
Art.17- Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Nominações em concurso: Crime impossível, Tentativa Impossível, Tentativa inadequada,


“Quase-crime”, tentativa Inidônea.
- Teoria adotada pelo CP: “Teoria Objetiva Temperada”.
- Atenção para Súmula 145 do STF:
Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.
OBS: Não deixa de ser uma forma de tentativa (inicia-se atos executórios, porém, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente), contudo o legislador resolveu em
NÃO PUNIR esta forma.

Culpabilidade

Imputabilidade Penal Inimputáveis


Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às


normas estabelecidas na legislação especial.

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:


I - a emoção ou a paixão;
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito
ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,


proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento.

Doentes mentais/possuidores de desenvolvimento mental incompleto ou retardado: Critério


Biopsicológico – Adotado no Brasil. Verificação se o sujeito embora doente mental, tinha
conhecimento da ilicitude da conduta perpetrada (art. 26 CP).

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Sistema Vicariante X Sistema “duplo binário”
Sistema adotado no Brasil: Sistema Vicariante, pelo que se entende que ou o magistrado
determine PENA ao agente ou Medida de Segurança ao doente, mas nunca as duas formas
combinadas.

Não punição em caso de embriaguez completa apenas nos seguintes casos:


Proveniente de caso fortuito (acidental).
Proveniente de Força maior (embriaguez forçada).

Ilicitude e causas de exclusão / Excesso punível


Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.

No caso de ocorrências dessas hipóteses (causas que afastam/excluem a ilicitude), não há


se falar em crime, apesar da ocorrência de fato típico. Ou seja, apesar de João ter matado
José (fato típico – art. 121 do CP), esse fato deixará de ser considerado ilícito/crime caso
João tenha matado em legítima defesa, por exemplo.

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se


também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

Observe que, com o advento do pacote anticrime, redação dada pela lei o nº 13.964 de 2019,
o legislador insere o que a doutrina chama de legítima defesa funcional. Esse
enquadramento jurídico reforça a legítima defesa em prol do agente de segurança pública,
amparando o servidor em eventuais processos administrativos disciplinares ou, até mesmo,
um processo de natureza criminal.

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Estrito cumprimento do dever legal
Hipótese em que o sujeito age conforme lhe determina/lhe autoriza a lei. Ex: João, oficial de
justiça, adentra a residência alheia arrombando suas portas, opondo-se a resistência do
morador, visando dar cumprimento a mandado de busca e apreensão.

Exercício regular do direito


Ocorre quando o sujeito, embora pratique conduta típica (em tese), age conforme lhe
autoriza o ordenamento jurídico. Ex: Lutadores de M.M.A, os quais, entre si, praticam a
conduta descrita no art. 129 do CP (lesão corporal). Todavia, nota-se que o esporte, desde
que regulamentado, autoriza a conduta (em tese) proibida.

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Concurso de pessoas
Concurso de pessoas é a cooperação desenvolvida por vários agentes para o
cometimento de uma infração penal. Ou seja, ocorre quando se tem unidade fato e concurso
de agentes. Pode ser necessário ou eventual, sendo que aquele não apresenta as
dificuldades a serem examinadas. O concurso é necessário nas hipóteses de crimes
plurissubjetivos, os quais exigem a presença de duas ou mais pessoas para sua
configuração. Exemplos: quadrilha ou bando, rixa e bigamia.

E é eventual nos delitos unissubjetivos, os quais são passíveis de execução por um


só agente. Exemplos: homicídio e roubo. A teoria do concurso de pessoas foi desenvolvida
sobre os crimes de concurso eventual. Neste caso, exige-se que todos os sujeitos seja
dotados de culpabilidade, algo que não precisa ocorrer nos crimes de concurso necessário.

Discute-se se a conduta praticada em concurso constitui um ou vários crimes:


Teoria pluralista: Segundo a teoria pluralista, a cada pessoa corresponde uma conduta
própria. A pluralidade de agentes implica, portanto, a pluralidade de crimes.

Teoria dualista: A teoria dualista, por sua vez, consagra dois planos de condutas, um
principal, a dos autores e co-autores, e um secundário, a dos partícipes.

Teoria monista (unitária): Todos aqueles que concorrem para o crime cometem o mesmo
crime. É a teoria adotada pelo Código Penal, explicitada no art. 29, “caput”. Segundo a teoria
monista, não há distinção entre autor e partícipe no sentido de que todos cometem o mesmo
crime. Destarte, todos aqueles que tomam parte na infração penal cometem idêntico delito.
Há unidade jurídica à custa da convergência objetiva e subjetiva das ações dos agentes.

O nosso Código Penal consagra a teoria monista; os parágrafos do art. 29, contudo,
determinam aplicação diferenciada das penas aos concorrentes do crime e, portanto, nas
palavras de Bitencourt, “aproximaram a teoria monística da teoria dualística”.1 5.2
REQUISITOS Para o reconhecimento do concurso de pessoas, a doutrina aponta quatro
requisitos essenciais, quais sejam: A pluralidade de agentes: Ou seja, exigem-se, ao menos,
duas condutas. Uma principal e outra acessória ou duas principais.

Relevância causal de cada uma das condutas: Ou seja, é preciso que a conduta do agente
tenha tido relevância na prática do crime. Ex.: se alguém empresta uma arma a outrem e
este, na prática do homicídio, utiliza uma faca aquela conduta não teve qualquer importância
na prática do delito. Esta é a razão pela qual não se admite, em tese, o concurso de pessoas
após a consumação do delito. Liame subjetivo: É preciso que aqueles que tomem parte do
crime saibam que estão aderindo ao crime. Mas não se exige o acordo prévio. Ainda, não
existe participação culposa em crime doloso e vice-versa. Unidade de fato: Decorrência da
teoria monista, todos aqueles que pratiquem o crime, praticam o mesmo crime.

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AUTORIA E PARTICIPAÇÃO
Identificado o concurso de pessoas, urge definir quem são os autores e quem são os
partícipes na infração, conceitos que não encontram unanimidade na doutrina. Conceito
restritivo de autor: De acordo com essa concepção, autor é aquele que realiza a conduta
típica descrita na lei. Subdivide-se na teoria objetivo-formal, objetivo-material e do domínio
do fato. Para a primeira, destacam-se as características exteriores do agir, isso é, a
conformidade da ação com a descrição formal do tipo. É autor aquele cujo comportamento
se amolda à lei, realizando o verbo nuclear do tipo, e é partícipe aquele que produz qualquer
outra contribuição.

A segunda teoria, por sua vez, considera a maior importância da contribuição do autor
em relação à do partícipe. Ou seja, para este segundo critério, o caso concreto irá dizer, de
acordo com a contribuição mais relevante, quem é autor e quem é partícipe. Conceito
extensivo de autor: Para essa concepção, não há qualquer distinção objetiva entre autoria e
participação. A diferença reside em um critério subjetivo: é autor aquele que age com
“vontade de autor”, pretendendo o resultado como próprio; e é partícipe aquele que atua com
“vontade de partícipe”, pretendendo o resultado como de outrem.

Teoria do domínio do fato ou teoria normativa: Também está inserida dentro de um


critério restritivo de autor, pois faz a diferença entre autor e partícipe. A teoria do domínio do
fato tem a pretensão de sintetizar os aspectos objetivos e subjetivos, impondo-se como uma
teoria objetivo-subjetiva. O autor não é apenas aquele que executa a ação típica, mas,
também, aquele que possui o domínio final da ação, determinando, inclusive, o seu modo de
consumação, execução e interrupção. O âmbito de aplicação dessa teoria restringe-se aos
delitos dolosos.

A doutrina diverge acerca da adoção, pelo nosso Código Penal, do conceito restritivo
de autor ou da teoria do domínio do fato. O certo é que o Código Penal distinguiu a autoria
da participação, portanto, restou adotado o critério restritivo de autor, seja pela teoria formal-
objetiva, seja pela teoria do domínio do fato. É a teoria mais adotada na atualidade.

Formas de Autoria Co-Autoria: Quando há a realização conjunta, por duas ou mais


pessoas, de uma infração penal, diz-se que há co-autoria. A concepção restritiva exige que
os agentes pratiquem a conduta descrita na lei; a extensiva demanda que atuem com
“vontade de autor”; e, por fim, a teoria do domínio do fato requer que tenham o domínio
diretivo sobre a conduta, ou o chamado co-domínio funcional do fato. Salienta Bitencourt que
não é necessário um acordo prévio para a configuração da co-autoria, basta que haja
consciência, a qual constitui o liame psicológico que une a ação de todos.

Autoria direta ou imediata: No conceito restritivo de autor, é autor imediato aquele que
pratica a conduta descrita no tipo penal, é o seu executor; para a teoria do domínio do fato,
é aquele que tem o domínio direto sobre sua atuação.

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Autoria indireta ou mediata: O autor mediato é o sujeito que realiza a conduta típica por
meio de outrem. As hipóteses mais comuns decorrem do erro, da coação irresistível e do uso
de inimputáveis para a realização do crime. Ex. O médico que utiliza a enfermeira para
ministrar substância letal ao seu desafeto é autor mediato. A enfermeira, por sua vez, é
autora imediata, mas, por ter incidido em erro, desde que invencível, não responde pelo
delito.

Cumpre, por fim, referir que o autor mediato deve reunir todos os elementos que o tipo
exige com relação ao autor. Impossível, portanto, a ocorrência de autoria mediata em crimes
de mão própria, eis que exigem que sejam cometidos pessoalmente pelo agente. Autoria de
escritório: Zaffaroni denomina de autor mediato de escritório “aquele que comunica a ordem
a ser executada por outro autor direto culpável no marco de um aparato antijurídico de
poder”.

”Trata-se, pois, de uma forma especial de autoria mediata. Salienta o mestre portenho
que não se trata de uma associação qualquer para delinqüir, e sim de uma organização
caracterizada pelo aparato do poder organizado. Ex. “SS” no nacional-socialismo alemão.
Autoria por determinação: Zaffaroni refere a autoria por determinação naqueles delitos em
que alguém se valha de outro, que não realiza conduta, para cometer um delito de mão
própria. Ex. antiga redação do crime de estupro: Uma mulher dá sonífero a outra e hipnotiza
um amigo, ordenando-lhe que mantenham relações sexuais. O estupro para este autor, é
um delito de mão própria, que só pode ser cometido por aquele que manteve a conjunção
carnal. Ocorre que o homem não praticou conduta, pois atuou sem vontade, e a mulher
responderá por autoria por determinação.

É de se ponderar, no entanto, que tal posição é isolada, pois o estupro é delito próprio.
Autoria colateral: Quando duas ou mais pessoas, ignorando uma a contribuição da outra,
realizam condutas convergentes à execução de uma infração, diz-se que há autoria colateral.
Não há, portanto, vínculo psicológico entre os agentes. Ex. Dois sujeitos, sem saber um do
outro, desferem tiros ao mesmo tempo na vítima e provocam sua morte. É indispensável
perquirir-se qual dos dois foi o causador do homicídio, pois este responderá pelo delito
consumado e o outro, pelo tentado. Em determinadas situações, torna-se impossível
averiguar quem foi realmente o causador do dano, e a solução é, assim, a punição de ambos
pela forma tentada.

Formas de Participação: A participação é a intervenção em um fato alheio, pressupõe,


portanto, a existência de um autor principal. O partícipe não pratica a conduta descrita no
tipo penal, mas realiza uma atividade secundária que contribui, estimula ou favorece a
execução da conduta. Formas de participação: A participação pode apresentar-se de
diversas formas. A doutrina, porém, atém-se a três espécies: instigação, induzimento e
auxílio. As primeiras são participações morais.

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O partícipe age sobre a vontade do autor, quer provocando-o a cometer o delito
(induzimento), quer estimulando-o a cometê-lo (instigação propriamente dita). Já o auxílio é
a participação material. O partícipe exterioriza a sua contribuição através de um
comportamento, de um auxílio. Participação de menor importância: Prevê o art. 29, §1°, do
Código Penal que “se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída
de um sexto a um terço.”. Refere-se o dispositivo exclusivamente ao partícipe, e não ao co-
autor, ainda que a contribuição deste tenha sido pequena. Com relação à diminuição de pena
prevista, divergem a doutrina e jurisprudência em considerá-la facultativa ou obrigatória.

O certo é que quanto maior a contribuição, tanto menor será a redução. Participação
em crime menos grave: Prevê o art. 29, §2°, do Código Penal que se um dos concorrentes
quis participar de delito menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste, a qual será aumentada
até a metade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. O dispositivo trata do
desvio subjetivo de condutas, que ocorre quando a ação executada difere daquela idealizada
a que aderira o partícipe. Ex. A determina a B que dê uma surra em C, mas, por motivos
pessoais, B mata C, excedendo-se na execução do mandato.

Em virtude do dispositivo ora em análise, A deve responder tão-somente pelo delito


de lesões corporais. Porém, se, em razão da extrema força e agressividade de B, A poderia
prever a morte de C, responderá ou pela lesão com a pena aumentada da metade ou, se
assumiu o risco, como partícipe no delito de homicídio. Tentativa de participação: Prevê o
art. 31 do Código Penal que o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo
determinação em contrário, não são puníveis, se o crime não chega sequer a ser tentado.
Participação por auxílio e favorecimento real: A diferença entre a participação por auxílio e o
crime de favorecimento real reside no momento da prestação do auxílio material. Naquela, o
auxílio é prestado antes da conduta delituosa; neste, depois.

CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES CULPOSOS: a doutrina aceita a co-autoria,


entendendo que os agentes cooperam na causa, na falta de dever de cuidado. Exemplo:
duas pessoas jogam uma mesa pela janela e, assim, lesionam uma terceira pessoa. Não se
admite, contudo, a participação. Há posição minoritária que sustenta a possibilidade de
participação no crime culposo, pois nestes crimes também é possível a identificação da
conduta principal. É a teoria adotada na Espanha, mas não no Brasil. Co-autoria e
concorrência de culpas: A co-autoria não se confunde com a concorrência de culpas, pois,
nesta, os sujeitos não colaboram um com o outro. Exemplo: colisão de veículos.

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CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS: Divergem os doutrinadores acerca
da admissibilidade de concurso de pessoas em crimes omissivos. Parece-nos ser possível a
co-autoria, desde que haja o vínculo psicológico entre os agentes que deveriam agir
(omissivos próprios) – posição de Cezar Roberto Bitencourt - e entre os sujeitos que tinham
o dever de agir e de evitar o resultado (omissivos impróprios). Ex. em crime omissivo próprio:
Dois sujeitos, de comum acordo, deixam de prestar socorro à pessoa gravemente ferida. Ex.
em crime omissivo impróprio: Os pais, em acordo, deixam de alimentar a criança, causando
sua morte. O reconhecimento de participação também parece ser viável em ambas as
espécies de delito. Ex. em crime omissivo próprio: Paciente instiga médico a não comunicar
a existência de uma enfermidade contagiosa à autoridade sanitária. Ex. em crime omissivo
impróprio: Sujeito instiga salva-vidas a não prestar socorro a pessoas que se afogam.

COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS: Prevê o art. 30 do Código Penal que as


circunstâncias e as condições de caráter pessoal não se comunicam, salvo quando
elementares do crime. Assim, a confissão feita (circunstância) e a menoridade (condição)
não se transmitem como atenuantes aos co-autores. Na verdade, as circunstâncias de
caráter subjetivo jamais se comunicam. O dispositivo legal nada menciona acerca das
circunstâncias e condições de caráter objetivo. A doutrina predominante entende que,
afastada a aplicação da responsabilidade objetiva, deve o co-autor atuar ao menos com
previsibilidade quanto à circunstância que não causou diretamente. Ex. A manda B matar C.
B resolve cumprir o mandato empregando “tortura”. A não responderá por homicídio
qualificado pela tortura se não pôde prever que B poderia agir de tal modo.

Quanto às elementares do delito, em que pese haja previsão legal de sua comunicabilidade,
a doutrina entende, também, ser necessário que ingressem na esfera de conhecimento dos
participantes. Ex. Um funcionário público é auxiliado por um particular na apropriação de
dinheiro da repartição em que trabalha. A condição pessoal do funcionário público é
elementar do tipo de peculato e, por isso, deve comunicar-se ao co-autor e partícipe, se ele
tiver conhecimento daquela condição pessoal.

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Regras básicas: Cúmulo material = Havendo pluralidade de crimes devem ser somadas
todas as penas aplicadas. Critério adotado no concurso material de crimes (art. 69 do CP),
com a relativização do tempo máximo de cumprimento de pena em 30 (trinta) anos (art. 75
do CP). Critério adotado no concurso formal impróprio (art. 70, caput, segunda parte, CP) e
concurso das penas de multa (art. 72 do CP).

Exasperação: Havendo pluralidade de crimes, deve-se tomar uma das penas (qualquer
delas, se iguais as infrações, ou a maior, se diversas) e fazer incidir sobre esta determinada
causa de aumento. Critério adotado no concurso formal próprio (art. 70, caput, primeira parte,
do CP) e no crime continuado (art. 71 do CP).

Cúmulo jurídico: Aplicação das penas segundo regra da cumulação legal, e não
simplesmente natural ou material.

Absorção: Desconsideração da pena cominada ao crime menos grave em face daquela


prevista ao delito mais grave.

Concurso material ou real de infrações: Art. 69, caput, CP: Quando o agente, mediante
mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido.

Requisitos:pluralidade de condutas (“mais de uma ação ou omissão”), e não simplesmente


de atos; pluralidade de resultados criminosos (“pratica dois ou mais crimes”).

Consequência: Regra do cúmulo material (“aplicam-se cumulativamente as penas privativas


de liberdade em que haja incorrido”).

Espécies: Concurso material homogêneo = crimes praticados em concurso material são


idênticos (ex: roubo e roubo), independentemente se na forma simples, majorada,
privilegiada ou qualificada.

Concurso material heterogêneo: crimes praticados em concurso material não são idênticos
(ex: roubo e lesões corporais).

Primazia na execução: “No caso de aplicação cumulativa das penas de reclusão e de


detenção, executa-se primeiro aquela (reclusão)” (art. 69, caput, do CP).

“Quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um
dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código
(substituição por penas restritivas de direitos)” (art. 69, § 1°, do CP).

Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá


simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais” (art.69, §
2°, do CP).

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Concurso material ou real de infrações: Art. 70, caput, CP: “quando o agente, mediante
uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não”.

Requisitos: Unidade de conduta gera múltiplos resultados (lesão diversos bens jurídicos).

Espécies: Homogêneo ou Heterogêneo Conforme os delitos resultantes da unidade de


conduta sejam iguais (dois homicídios) ou diferentes (um homicídio e uma lesão corporal).

Concurso formal próprio ou perfeito: Quando a unidade de conduta e a multiplicidade de


resultados implicam na aplicação da pena mais grave dentre as cabíveis (se distintas) ou,
se iguais, em somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até a
metade (art. 70, caput, primeira parte, CP).

Critério de exasperação da pena.


Ex: “A” dispara arma de fogo em direção a “B”, contudo o projétil, além de atingi-lo de
“raspão” (lesões corporais), ocasiona a morte de “C”, que se encontrava logo atrás de “B”. *
Solução = aplica-se a pena do crime mais grave (homicídio) aumentada de 1/6 até a 1/2.

Concurso formal impróprio ou imperfeito: Embora haja unidade de conduta dolosa, os


resultados criminosos resultam de desígnios autônomos. Art. 70, caput, segunda parte, do
CP: “As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e
os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior”.

Critério da cumulação material (em sede de concurso formal): “A” dispara arma de fogo
em direção a “B” e “C”, pretendendo, com um único projétil, atingir ambos os desafetos. *
Solução = morrendo “B” e “C”, “A” será punido somando penas dos dois homicídios dolosos.

Regra benéfica do concurso material: A aplicação do critério da exasperação, em sede


de concurso formal, não poderá resultar em pena mais alta que aquela cabível pela regra do
cúmulo material (art. 70, parágrafo único, do CP).

Crime Continuado:
Art. 71: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro.

Solução= aplicação da “pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se


diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”.

Elementos objetivos: pluralidade de condutas; pluralidade de crimes da mesma espécie;


circunstâncias semelhantes (nexo temporal, espacial, modal e outras semelhantes).

Aplicabilidade: admissível em “delitos culposos, nos crimes tentados ou consumados,


comissivos ou omissivos, nas contravenções penais, bem como nos delitos que ofendem
bens personalíssimos (v.g. vida, integridade corporal, honra), sem qualquer restrição” (Luiz
Régis Prado).

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Distinções:
crime continuado X reiteração criminosa;
crime continuado X crime habitual;
crime continuado X crime permanente.

Pena de multa:
Art. 72, CP: No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e
integralmente.

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Crimes contra a pessoa
Homicídio.
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos

Homicídio é a morte de um homem provocada por outro homem. É a eliminação da vida de uma
pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência. “Como dizia Impallomeni, todos os
direitos partem do direito de viver, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos bens é o bem vida.
O homicídio tem a primazia entre os crimes mais graves, pois é o atentado contra a fonte mesma da
ordem e segurança geral, sabendo-se que todos os bens públicos e privados, todas as instituições se
fundam sobre o respeito à existência dos indivíduos que compõem o agregado social”. (Fernando
Capez).

ELEMENTO SUBJETIVO
O elemento subjetivo do homicídio se dá pela vontade do agente de matar alguém, ”dolo”, tendo
sua conduta, consciente para finalidade de matar alguém, ser humano com vida.

Direto
DOLO Eventual
Indireto
ELEMENTO Alternativo
SUBJETIVO
Consciente Imprudência
CULPA
Inconsciente Negligência

Imperícia

Este delito embora tenha seu objetivo que é a morte do ser humano em momento futuro, se
caracteriza sua consumação no momento da sua ação ou omissão como bem prevê o Art. 4º do CP.
Pode ser caracterizado uma tentativa quando por motivo alheio aos meios usados pelo agente o fato
não se consume com o resultado morte.

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DOLO INDIRETO ALTERNATIVO:
No dolo alternativo, o agente prevê pluralidade de resultados e dirige sua conduta na busca de
realizar qualquer um deles indistintamente. Exemplo: o agente quer praticar lesão corporal ou
homicídio indistintamente. O agente tem a mesma vontade de um ou de outro.

DOLO INDIRETO EVENTUAL:


Aqui, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado, mas sim para algo diverso;
sendo que mesmo prevendo que o evento possa ocorrer, o agente assume o risco de causá-lo.
Essa possibilidade de ocorrência do resultado não detém o agente e ele pratica a conduta,
consentindo no resultado. Há dolo eventual, portanto, quando o autor tem seriamente como possível
a realização do tipo legal se praticar a conduta e se conforma com isso.
EX: Uma pessoa dirige em uma rua movimentada a 200 KM/h, ele pode até não querer atropelar
ninguém, mas sabe qualquer pessoa sabe que nesta velocidade é muito provável que se atropele
alguém ao se locomover em uma rua muito movimentada.

É O FAMOSO “FODA-SE”
CULPA CONCIENTE:
A culpa consciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra,
supondo que pode evitá-lo com a sua habilidade.
EX: Brilhante atirador de facas que, acreditando ser muito bom no que faz- e o faz a muito tempo-,
atira facas em sua assistente de palco e acaba por acertá-la.

É O FAMOSO “IH FUDEU”


CULPA INCONCIENTE:
Culpa inconsciente, o agente não prevê o resultado, que, entretanto, era objetiva e subjetivamente
previsível.

ATENÇÃO!
No homicídio culposo existe o dispositivo do PERDÃO JUDICIAL. Desse modo o juiz, estando presentes os
requisitos, DEVERÁ (na lei está escrito PODERÁ) aplicar o perdão judicial.

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HOMICÍDIO DOLOSO
O homicídio doloso é dividido em: qualificado, simples e privilegiado.

QUALIFICADO:
Existem 7 qualificadoras a saber:

1. Mediante a paga ou promessa de recompensa ou qualquer outro motivo torpe.


A paga ou promessa é são conhecidas como “homicídio mercenário”, em que o pistoleiro trabalha
como ceifador de vidas.
Entendimento doutrinário: a paga ou promessa de recompensa atinge tanto o pistoleiro quanto o
mandante, porém, não se transmite ao mandante de forma automática. O STF entende que é preciso
entender a motivação do mandante.
EX: um pai que paga um pistoleiro para que este mate o estuprador de sua filha, Este mandante não
responderá pela qualificadora e sim na privilegiadora que estudaremos depois.
A paga ou promessa de recompensa poderá ser sexo? Não! O instrumento utilizado para esta paga
ou promessa teria que ter um “reflexo patrimonial” (carro, terreno, algo valorável). Mas esta paga
com sexo não fica impune, ele pode entrar no motivo TORPE.
Motivo torpe se define como a pior razão de matar dentre as razões de matar. (REPUGNANTE,
OGERIZA, ASCO).

2. Motivo fútil.
É a razão de matar que não se consegue compreender, nem por meio da própria razão. (Heleno C.
Fragroso).
EX: “Matei por que ele me olhou”. “ Matei por que ele estava usando a camisa do vasco”.

MOTIVO AUSÊNCIA
FÚTIL DE MOTIVO

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Sem motivo é a ausência de motivo, o motivo fútil tem uma razão, fútil, mas tem! Um exemplo de
ausência de motivo é o assassino que mata por simples prazer.
Nunca confunda fútil com torpe, a torpeza traz uma razão macabra e a futilidade traz uma razão
pequena. EX:

3. Meio insidioso ou cruel.


INSIDIOSO:
Consiste em algo camuflado, uma conduta verdadeiramente traiçoeira, como ocorre no referido caso
de emprego de substância venenosa.
GRAVE BEM. A vítima NÃO SABE que está ingerindo o veneno!

CRUEL:
É o ato de causar na vítima um sofrimento desnecessário, o criminoso não quer simplesmente matar,
mas fazer a vítima sofrer. Tem-se por cruéis os homicídios cometidos com fogo, asfixia, ou através da
prática de tortura. Ressalte-se que asfixia não se confunde com enforcamento. Asfixia se refere à
suspensão de respiração por qualquer meio. Logo, o enforcamento pode ser considerado como uma
forma de asfixia, mas não é a única. O afogamento, por exemplo, traduz forma recorrente de asfixia,
conforme ilustra o acórdão abaixo:
"Quem, movido pela vingança, por causa de uma agressão sofrida três dias antes, elimina o
ofendido com golpes de pedaços de pau e, em seguida, asfixia-o nas águas de um rio, comete
um crime de homicídio qualificado, pelo motivo fútil e pelo meio cruel" (TJMG. Número do
processo: 1.0000.00.304442-7/000. Rel. Des. Edelberto Santiago. Data do acordão:
11/03/2003)

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Armas de fogo, facas e pedaço de madeira, por si só, são considerados meio cruel?
Não, porque senão todo homicídio cometido com emprego de tais armas seria qualificado. É
necessário que cause sofrimento desnecessário, por exemplo, um criminoso mata sua vítima com
uma facada (simples), um criminoso mata sua vítima, lentamente, com cinquenta facadas por todo o
corpo (cruel).

4. Emboscada, traição, dissimulação ou outro meio de execução que dificulte ou torne impossível
a defesa da vítima.
5.
A palavra chave é a SURPRESA, pois tanto a traição quanto a emboscada e a dissimulação são
exemplos trazidos pela lei penal de situações em que a vítima, surpreendida pelo comportamento
sorrateiro do agente, tem sua possibilidade de reação reduzida ou até eliminada por completo. Todos
os exemplos mencionados possuem entre si uma característica em comum, qual seja a surpresa.

6. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:


PARA ASSEGURAR A EXECUÇÃO = TELEOLÓGICA

Ocorre a conexão teleológica quando o homicídio é meio para executar outro crime, finalidade última
do agente.

OCULTAÇÃO, IMPUNIDADE OU VANTAGEM DE OUTRO CRIME = CONSEQUENCIAL

É consequencial quando praticado para ocultar a prática de outro ilícito ou para assegurar a
impunidade ou vantagem do produto, preço ou proveito dele.

25
7. Feminicídio
Feminicídio é diferente de femicídio, neste basta ser mulher, naquele, além da necessidade de ser
mulher, o sujeito tem que discriminar ou menosprezar a CONDIÇÃO de mulher da vítima.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;(Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência
ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação
dada pela Lei nº 13.771, de 2018)
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III
do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

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8. Contra autoridade ou agente.
Estas autoridades e agentes estão descritos nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição.

VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de
2015)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

GRUPO DE EXTERMÍNIO e MILÍCIA não qualificam o homicídio, mesmo figurando no rol dos crimes
considerados hediondo, no caso do grupo de extermínio, não é o suficiente para torna-lo uma qualificadora.
Ambos os casos serão considerados para aumentar a pena, de 1/3. a 1/2.

Parricídio (matar o próprio pai) e matricídio (matar a própria mãe) não é qualificadora. Também não
qualifica se o crime for premeditado.

HOMICÍDIO PRIVILEGIADO.
O homicídio é privilegiado porque se tem situações que beneficiam o agente, pois são razões de
matar e circunstâncias que o levam a matar menos graves e reprováveis que as formas qualificadas.
Ele é dividido em três tipos que estudaremos a seguir:

Relevante valor moral.


É uma motivação de natureza nobre e individual. A exemplo, tem-se a eutanásia que consiste em
findar o sofrimento de uma pessoa querida que é dada pelos médicos como um caso que não há
solução. Outro exemplo clássico é o do pai que assassina o estuprador da filha.

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Relevante valor social.
É uma motivação de natureza nobre, mas diferente do relevante valor moral, aqui é de ordem
coletiva. A exemplo, a doutrina utiliza o caso de uma pessoa que mata alguém que traiu a pátria.

Sob domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima.


Este ponto é dividido em três requisitos:
1. DOMÍNIO DA VIOLENTA EMOÇÃO – É diferente de influência, pois, no domínio, a pessoa está
totalmente descontrolada (ação de curto circuito).
2. INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA – Sem injusta provocação, não se fala em privilegiadora.
3. LOGO APÓS – O intervalo de tempo deve ser muito curto, não é aceito a premeditação.

É um requisito temporal, diferentemente do “relevante valor moral” e do “relevante valor social”


que podem ser depois de um mês, um ano...

HOMICÍDIO CULPOSO.
O homicídio doloso está previsto no artigo 121, p. 1-2 do Código Penal Brasileiro. O homicídio culposo
é quando uma pessoa mata outra sem a intenção, quando a culpa é inconsciente. As causas do
homicídio culposo são norteadas pela negligência, imprudência ou imperícia.
O homicídio culposo poderá ser aumentado de 1/3 caso:

INOBSERVÂNCIA NÃO PROCURAR


FOGE PARA EVITAR
DE REGRA TÉCNICA DEIXAR DE PRESTAR DIMINUIR AS
PRISÃO EM
DE ARTE, OFÍCIO IMEDIATO SOCORRO CONSEQUENCIAS
FLAGRANTE
OU PROFISSÃO DOS ATOS

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HOMICÍDIO HÍBRIDO

QUALIFICADO PRIVILEGIADO HÍBRIDO

Pode existir homicídio híbrido, desde que, a qualificadora do homicídio seja de natureza objetiva. As
qualificadoras de natureza objetiva estão previstas nos incisos III e IV do § 2º do art. 121 do CP. Ex:
eutanásia, modalidade de homicídio qualificado pelo relevante valor moral. Josué matou o pai
aplicando veneno: é homicídio privilegiado, mas é qualificado pelo veneno.

Matar o traidor da pátria: homicídio privilegiado pelo relevante valor social, se o matar mediante
emboscada, também será qualificado. João, sob domínio de violenta emoção, matou a mulher
mediante asfixia (violenta emoção privilegiado e asfixia qualificado). Se a qualificadora for subjetiva
não é possível: mata a empregada porque o feijão queimou (motivo fútil). Fixação da pena para o
sujeito ativo deste homicídio híbrido: é a pena do homicídio qualificado de 12 a 30 anos reduzida no
§ 1º, de 1/6 a 1/3.

ATENÇÃO!
O STJ decidiu que o FEMINICÍDIO é uma qualificadora OBJETIVA. Privilegiado qualificado é hediondo? Não.

Induzimento ou instigação ao suicídio


Como sempre, vamos iniciar analisando a letra da lei e observando seus verbos.

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe


auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência

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§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede
virtual.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza
gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze)
anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.

Olhe bem, quando o legislador diz induzir, também quer dizer convencer, nós já sabemos que não se
deve incriminar alguém por alguma ação que não esteja tipificada em lei, mas entenda que
induzimento e convencimento, para o entendimento deste crime, são quase sinônimos. Logo, se em
seu concurso vier convencimento em vez de induzimento marque como certa.

E como podemos diferenciar induzimento de instigação? Bem tranquilo, enquanto no induzimento o


sujeito coloca a ideia na cabeça da vítima, ou seja, a vítima é convencida de que a solução para o seu
problema é cercear a própria vida (AUXÍLIO MORAL), no auxílio esta vítima já possuía a ideia do
suicídio (AUXÍLIO MATERIAL).

ATENÇÃO!!!
Se tem alguém que está prestes a cometer um suicídio, por exemplo pulando de um prédio, e outras pessoas
ficam gritando para ela pular, essas pessoas que gritaram entram perfeitamente no art. 122.

ATENÇÃO!!!
O auxílio jamais poderá ser o determinante da morte da pessoa. Por exemplo: João quer se matar, Maria lhe
empresta uma corda e uma cadeira para que ele consiga.
João sobe na cadeira, enrola a corda no pescoço, amarra na árvore, mas não consegue pular, então pede a
Maria que empurre a cadeira. Se ela fizer este ato estará cometendo HOMICÍDIO e não SUICÍDIO pois o ato foi
determinante para a morte de João.

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AMBICÍDIO (PACTO DE MORTE)
Nelson Hungria, grande nome do direito, dava este exemplo para ilustrar quando várias pessoas
concorrem para destruírem suas vidas concomitantemente. EX: A, B, C e D são pessoas que decidiram
o suicídio e resolveram fazer isso juntos na câmara de gás. Todos entram na câmara e A abre a
torneira do gás, porém, o plano deles é frustrado pela chegada da polícia que logo abre a porta. No
entanto, a polícia encontra D já morto. Quais crimes a polícia deverá lavra para A, B e C?

B e C = responderão pelo art. 122 – auxílio ao suicídio.


A = responderá pelo art. 121 – homicídio pois a conduta de abrir o gás foi determinante para a morte
de D. Este crime é, doutrinariamente, conhecido como CRIME DE AÇÃO VINCULADA. Pois no suicídio
tem que acontecer um dos dois resultados, a MORTE ou a LESÃO CORPORAL GRAVE. Se a vítima for
inimputável (sem capacidade de entendimento por doença ou menor) o crime deixa de ser
induzimento e passa a ser HOMICÍDIO.

ROLETA RUSSA:
Essa prática consiste em inserir uma única bala no tambor de um revólver e sucessivamente, cada
pessoa puxa o gatilho contra sua própria cabeça até que a bala atinja alguém. As pessoas que não
morreram responderão no art. 122.

Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após: Pena - detenção, de dois a seis anos.
Objeto material: O tipo penal descreve o ato de matar, sem destacar alguma forma preestabelecida
para tanto.

O crime precisa acontecer durante ou logo após o parto, ainda estando autora sob a INFLUÊNCIA DO
ESTADO PUERPERAL. Perceba que o crime traz um elemento temporal, pois o ato deve ser praticado
durante o parto ou logo após. Se for praticado antes do parto, será aborto. Se for praticado muito
após o parto, será homicídio. Sem ignorar, também, o estado puerperal. O estado puerperal é
considerado um desequilíbrio fisiopsíquico da mãe, não sendo suficiente para reconhecê-lo apenas
alguma motivação moral para o crime.

Sujeito ativo: É um crime PRÓPRIO porque a lei impõe ao sujeito ativo uma qualidade especial. No
caso, a mãe da vítima será a autora do crime de infanticídio (“Matar, sob a influência do estado
puerperal, o próprio filho...”). Há doutrinadores que nomeiam este crime como BIPRÓPRIO pelo
motivo de tanto o sujeito ativo ser pré- determinado (mãe) quanto o sujeito passivo do crime (próprio
filho).

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Apesar de se considerar crime próprio, reconhece-se no infanticídio a coautoria e a participação de
terceiros, que também responderão por ele, mesmo que, sob o aspecto fisiopsíquico, não estejam
sob influência do estado puerperal. Isso ocorre sob o argumento de que as condições de caráter
pessoal, no caso, são elementares do tipo, assim, elas se comunicam a terceiros.

Sujeito passivo: Recém-nascido, quando possuírem vida. A prova da vida deve ocorrer através de
exame pericial, pelas docimasias respiratórias e não respiratórias, mas não vamos aprofundar muito
neste assunto pois ele é cobrado em medicina legal.

Elemento subjetivo: É o dolo. Por não prever a norma penal modalidade de infanticídio culposo, a
autora só responderá pela prática de homicídio culposo.

Consumação: O crime se consuma com a morte da vítima, admitindo-se a tentativa quando o óbito
não sobrevém por circunstâncias alheias à vontade do autor.

Participação: Tanto a doutrina quanto a jurisprudência vêm entendendo que, em alguns casos, é
possível se ter a participação de alguém no referido crime (CONCURSO DE PESSOAS).
EX: Uma mulher, logo após dar a luz e sob influência do parto, resolve matar o recém- nascido, para
isso, pede ajuda a enfermeira que a ajuda a segurar a criança e jogá- la ao chão.

Aborto
Vamos estudar, aqui, a letra de lei conforme formos passando pelos tópicos, pois o crime tem
bastantes nuanças. Vamos iniciar pelo caput:
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF
54) Pena - detenção, de um a três anos.

Temos que o aborto pode se dar por três modos: ACIDENTAL, NATURAL E CRIMINOSO.

O aborto natural não é considerado crime, logo, não será objeto de nossos estudos. O aborto
acidental, por imprudência ou Negligência, seria um modo de aborto culposo, porém, o legislador
não previu a forma culposa para este crime, logo, não há o que se falar em crime neste caso.
O aborto criminoso será o nosso objeto de estudos.

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ABORTO PELA GESTANTE (art. 124).
Como vimos no art. 124, a gestante que provocar em si mesma o aborto ou consentir para que
terceiro o faça cometerá o crime de aborto com detenção de 1 a 3 anos. É um crime PRÓPRIO, que
possui duas alternativas, ou a gestante comete o auto aborto ou ela consente – deixa outro causá-lo.
EX: Gestante que busca ajuda médica para causar o aborto.

ABORTO POR TERCEIROS (art. 125).


Art.125 - Provocar aborto, sem consentimento da gestante: Pena reclusão de três-dez anos.
Este tipo de aborto é o causado por terceira pessoa SEM QUE A GESTANTE SAIBA. O sujeito deve agir
de modo a causar o aborto de modo furtivo, sorrateiro.

ABORTO POR TERCEIROS (art. 126).


Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro
anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de
quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante
fraude, grave ameaça ou violência.

Diferentemente do crime do artigo 125, neste artigo o terceiro TEM O CONSENTIMENTO DA


GESTANTE. Ele provoca o aborto na gestante a pedidos dela ou com a sua permissão. EX: A gestante
busca uma clínica de aborto clandestino e paga para que um médico lhe cause o aborto. Este médico
cometerá o crime de aborto do artigo 126.

Não existe concurso de pessoas

Seguindo o exemplo dado acima, cada ator cometerá crime tipificado em artigo diferente.
GESTANTE = artigo 124 MÉDICO = artigo 125.
PARAGRAFO ÚNICO =Se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou
se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência a pena é de RECLUSÃO de
3 a 10 ANOS porque não será considerado CONSENTIMENTO, logo recairá sob o art. 125 e não do art.
126.
Não existe unidade delitiva, pois o legislador adotou, neste caso, a TEORIA PLURALISTA.

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QUALIFICADORA
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte.

Logo temos como qualificadora:


Morte; e
Lesão corporal grave

Observe que a lei nada fala sobre a lesão corporal considerada GRAVÍSSIMA, porém, e de bom senso
que se entenda que, se a lesão grave é considerada qualificadora, também a lesão gravíssima o será.
Também se deve ter em mente que estas qualificadoras são de caráter PRETERDOLOSO. O causador
da lesão ou morte da gestante de modo nenhum pode ter como dolo estas intenções sendo elas,
então, classificadas como condutas culposas.

Aborto - Doloso

Resultado morte ou lesão grave - Culposo

EXCLUDENTES DA ILICITUDE.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.

A lei considera duas formas de aborto como excludentes da ilicitude, vejamos:

ABORTO NECESSÁRIO (TERAPEUTICO)


Esta modalidade de aborto é realizada pelo médico para salvar a vida da gestante, ele não precisa de
consentimento da mesma pois o médico tem o dever de salvar a vida da gestante.

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ABORTO SENTIMENTAL (ESTUPRO)
Esta modalidade é de vontade da própria mulher, O médico não pode realizar esta conduta caso a
mulher não queira. À mulher, ao chegar na unidade de saúde, basta dizer que foi vítima de estupro
e terá o direito de realizar esta modalidade de aborto.

ABORTO DE ANENCÉFALO.
STF - não se fala em aborto, nestes casos, pois não existe vida ainda, logo, é considerado interrupção
da gravidez e não aborto. Assim, não existe o FATO TÍPICO, pois a conduta não atinge a nenhum bem
jurídico tutelado em direito. MINISTRO BARROSO - “Até a 12ª semana não se considera aborto pois
o feto não tem sua estrutura nervosa totalmente formada ( não há atividade cerebral)”.

CUIDADO!!!
O aborto eugênico ( retirar a vida do feto por ter ele anomalias) não é autorizado, logo, consiste em crime de
aborto quem o faz.

Lesão corporal
Art.129. Ofender integridade corporal ou saúde de outrem: Pena detenção 3 meses~1 ano.

Nos crimes de lesão corporal, identificam-se três tipos: LEVE, GRAVE E GRAVÍSSIMO (doutrinário). A
lesão culposa não é dividida, somente a lesão dolosa é que tem esta divisão. Não só a integridade
física como também a mental é alvo da lesão. Ocupações habituais é diferente de trabalho, pois
aquele pode ser entendido como toda atividade rotineira da pessoa como, praticar exercícios
regularmente, limar a casa, alimentar os animais...

STJ – transmitir o vírus da AIDS dolosamente é crime de lesão corporal gravíssima.


ABORTO- É necessário que o causador do aborto saiba que a mulher estava grávida.

PRETERDOLO.
Já sabemos que se considera preterdolo quando de uma ação dolosa acaba por gerar um resultado
diferente do pretendido, ou seja, culposamente. Neste sentido, pode haver o preterdolo no caso de
um sujeito querer apenas lesionar alguém e acabar por matar esta pessoa culposamente.

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Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

DIMINUIÇÃO DA PENA:
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

SUBSTITUIÇÃO DA PENA:
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

AUMENTO DE PENA:
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e
6o do art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.

LESÃO E MARIA DA PENHA


§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas
no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

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§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada
de um a dois terços.

Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e
iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Essa parte do código penal é bem tranquila de se estudar, basicamente é entender a letra da lei e se
atentar aos tipos (verbos), basicamente se resume em deixar de prestar assistência ou não pedir
socorro da autoridade pública.
O que você precisa saber e que pode vir a ser objeto de prova é que este crime é considerado
OMISSIVO PURO (PRÓPRIO), ou seja, basta deixar de fazer algo, de imediato, observasse-se a pessoa
prestou socorro (aí não há crime) ou se ela deixou de fazê-lo (configurando o crime).
Este crime não admite TENTATIVA pois o simples fato de deixar de fazer algo já se enquadra na
conduta típica. O que é interessante de entender é que, mesmo que outro alguém socorra, ainda
ficará configurada a omissão de socorro pelo primeiro que deixou de prestar o socorro.

GARANTIDOR.
Se o agente for garantidor e a vítima venha a falecer por falta de socorro, não responderá pela
omissão de socorro e sim por HOMICÍDIO.

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial


Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta
lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.

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Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato
da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

QUALIFICADORA
Outros pontos que devemos observar são as qualificadoras do crime que são lesão corporal grave e
a morte.
O mais peculiar é o fato de que, havendo morte no contexto da rixa, os participantes não responderão
por homicídio, mas sim por rixa qualificada. Já se conseguir identificar claramente quem foi o
causador dessa morte este responderá também pelo homicídio, vejamos:
Na festa de abertura da copa do mundo, onde pessoas de todos os países se reuniram e beberam
para comemorar os jogos, 5 pessoas acabaram por se encontrarem em um beco: um brasileiro, um
argentino, um paraguaio, um chileno e um peruano. Eis que, sem nenhuma afronta um ao outro,
começaram a brigar, um desferindo socos e pontapés nos outros mutuamente. Em um dado
momento a briga termina com a chegada da polícia e tem como resultado a morte do argentino. Após
a investigação, a polícia, por meio de uma câmera de uma das casas do beco, observou que o
argentino havia sido morto por uma facada disferida pelo chileno, nesse caso.
O brasileiro, o paraguaio e o peruano = responderão por rixa qualificada O chileno = responde pela
rixa qualificada + homicídio.
Mas e o bis in idem? O chileno não foi prejudicado? A posição majoritária entende que não se
configura nesse caso.

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Crimes contra o patrimônio
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O furto é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, exceto na forma qualificada
pelo abuso de confiança (CP, art. 155, § 4º, II), em que o agente deve ser pessoa em quem a vítima
deposite confiança.

O proprietário da coisa também não pode ser autor do crime de furto, ainda que ela esteja sob a
posse legítima de terceiro, situação que pode caracterizar o crime do art. 346 do CP: “Tirar, suprimir,
destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou
convenção”.

Caso a coisa subtraída seja de propriedade comum do agente e do terceiro prejudicado, o crime será
o do art. 156 do CP: “Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum”. A lei não exige qualidade especial da vítima.

Furto de coisa comum


Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a
que tem direito o agente.

O elemento subjetivo do furto é o dolo de subtração (“animus furandi”). Contudo, é essencial que o
agente tenha a intenção de apoderar-se definitivamente da coisa (“animus rem sibi habendi”), e não
somente usá-la temporariamente.

Os Tribunais Superiores firmaram entendimento no sentido de que, para a consumação do delito de


roubo, assim como no de furto, não é necessária a posse mansa e pacífica do bem subtraído, sendo
suficiente a inversão da posse, adotando-se, portanto, a teoria da APPREHENSIO ou AMOTIO.

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§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir
a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

Temos aqui o aumento da pena fixado de 1/3 caso o furto seja praticado durante o repouso noturno.
Por repouso noturno entende-se o período, não importando se esteja dormindo ou não.

O crime de furto é considerado PRIVILEGIADO se:


 Sujeito primário.
 For a coisa de pequeno valor.

A privilegiadora pode beneficiar o agente das seguintes maneiras:


 Substituir a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.
 Substituir a pena privativa de liberdade por pena de multa.
 Diminuir até 1/3 da pena.

QUALIFICADORAS
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Cumpre destacar alguns apontamentos sobre as qualificadoras. A destruição do obstáculo nunca


pode ser a própria coisa, a exemplo do bandido que quebra o vidro do carro para subtraí-lo,
diferentemente acontece se este mesmo bandido quebrar o vidro do carro para roubar uma bolsa
que está em seu interior, este sim é qualificado.

No concurso de agentes, leva-se em conta, também, para fins de quantidade de pessoas, os menores
que participarem, ou seja, os menores não cometem o crime qualificado, mas servem para
caracterizar a qualificadora para os outros participantes maiores.

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No abuso de confiança a relação deve ser praticamente íntima, não configura esta qualificadora a
simples relação empregatícia. Não confundir esta qualificadora com o crime de FAMULATO que
consiste no roubo do empregado ao empregador.

A fraude no furto é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância da vítima, que, por
desatenção, tem seu bem subtraído, diferente do que acontece na hipótese de estelionato em que a
fraude é usada como meio para obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega
voluntariamente o bem.

No furto com destreza a vítima não pode participar para o seu acontecimento, Exemplo: se alguém
larga o carro aberto e é furtado sem que ninguém veja, não pode configurar a qualificadora pois
houve facilitação por parte da vítima. A destreza é bem exemplificada no caso do PUNGISTA que é o
famoso “batedor de carteira”. Alguns destes criminosos são tão habilidosos que conseguem abrir a
mochila de alguém e subtrair-lhes seus bens sem que ninguém perceba.

A qualificadora da escalada pode confundir muitos candidatos pois também é considerado escalada
o fato de o criminoso abrir um buraco no chão para alcançar o objeto do furto.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de


explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.

Atente-se bastante a estes dispositivos, principalmente o parágrafo 4º pois é muito recente esta
tipificação! A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

Outra dica bem relevante que vem sendo objeto de questão é o fato de o estabelecimento estar
totalmente monitorado, isso não torna o furto impossível, mas as perguntas sempre tentam induzir
o candidato a entender que seria impossível roubar um local totalmente vigiado.
Poderá existir o furto PRIVILEGIADO + QUALIFICADO, caso a qualificadora seja da ordem objetiva.
Não há furto de uso, pois se a intenção é SOMENTE utilizar o bem alheio, não á o animus de
assenhoramento exigido pelo tipo penal.

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Roubo
Vamos agora estudar o crime de roubo, este delito passou por recentes modificações que, com
certeza, serão objetos de questões das provas.

Objeto jurídico. O patrimônio, bem como a incolumidade física e a liberdade individual.


Sujeito ativo. Qualquer pessoa
Sujeito passivo. O dono do bem subtraído e demais pessoas que sofrerem violência no mesmo ato.
Consumação. No momento em que o agente se apossa do bem da vítima, ainda que não obtenha a
posse mansa e pacífica ou desvigiada (Súmula 582 do STJ). É crime de ação penal pública
incondicionada e não admite o princípio da insignificância ou roubo de uso.

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Podemos notar que o crime de roubo possui redação muito semelhante ao crime de furto, porém,
com peculiaridades que diferenciam bem os dois crimes. No crime de roubo, há a condicionante de:
MEDIANTE GRAVE AMEAÇA, ou VIOLÊNCIA.

Note, também, que o legislador descreve outra conduta que é a de IMPOSSIBILITAR QUE A VÍTIMA
RESISTA. Essa parte do dispositivo é referente ao que chamamos de ROUBO PRÓPRIO COM
VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA. É chamado assim pelo fato de que a violência empregada, nestes casos, é
mais “sorrateira”, isto é, não existe uma violência propriamente dita, o que acontece é que o
criminoso se utiliza de modos que eliminam o entendimento da vítima quanto ao roubo, exemplo
clássico é o “boa noite cinderela” que consiste em se utilizar um medicamento que cause
rebaixamento da consciência da vítima para depois roubá-la. Não confunda o que foi falado acima
com o roubo IMPROPRIO! São dispositivos diferentes.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro.

Observe que o legislador trouxe no parágrafo primeiro o ROUBO IMPRÓPRIO. Por que é chamado de
roubo improprio?

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Ele é assim chamado porque a violência empregada se dá DEPOIS de ter subtraído a coisa pretendida,
diferentemente do roubo próprio em que a violência é empregada ANTES de haver a subtração da
coisa. O roubo impróprio, geralmente, acontece de um “furto que deu errado” como assim?

Imagine que um casal que estava viajando resolve voltar para casa mais cedo, ao abrirem o portão
de sua casa, se deparam com ladrões que estava saindo com vários pertences do casal, PARA
GARANTIR O SUCESSO DO CRIME, um dos bandidos saca um revolve e AMEAÇA o casal a ficarem bem
quietos enquanto eles fogem.

Repare que o crime apresentado era de furto (se o casal não resolvesse chegar antes em casa, os
bandidos teriam furtado tudo e só depois o casal veria que foi lesado). Mas neste caso o furto ia dar
errado por isso teve de se empregar VIOLÊNCIA DEPOIS, o que transforma o até então furto em roubo
impróprio.

Outros dois pontos são importantes que você tenha no caderno sobre o roubo impróprio:
Não se admite tentativa (diferentemente do roubo próprio)
Não pode ser praticado com violência imprópria.

AUMENTO
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
II - concurso de duas ou mais pessoas.
III - vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - subtração veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado/exterior.
V - agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI – subtração de substâncias explosivas/acessórios que, conjunta/isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
VII – violência/grave ameaça é exercida com emprego de arma branca.

§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):


I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum.

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

Perceba que o legislador modificou esta parte recentemente, revogou-se o inciso I (que falava sobre
armas – no geral-) e criou outro AUMENTO FIXO DE 2/3 mas apenas para o crime cometido com
ARMA DE FOGO. Isso causou muita polêmica pois todas as pessoas que tiveram aumento de pena
em seus crimes de roubo por terem o cometido com uma arma BRANCA, puderam pedir a redução
de suas penas já que o legislador (ao revogar o inciso I do artigo 2 e criar o artigo 2-A) havia esquecido
de falar novamente sobre as armas brancas.

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O roubo praticado com emprego de uma arma branca agora volta a integrar o rol dos casos de
aumento de pena, (de 1/3 até metade). Outra alteração importante que o Pacote Anticrime trouxe
foi a aplicação do dobro da pena do caput (reclusão, de quatro a dez anos, e multa) se a violência ou
grave ameaça for exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, Outro ponto
muito importante que vem caindo em prova é o emprego de EXPLOSIVO no roubo, você não pode
esquecer que ele também aumenta a pena do roubo em exatamente 2/3.

ROUBAR O EXPLOSIVO
AUMENTA A PENA DE 1/3 A 1/2

ROUBAR COM EXPLOSIVO


AUMENTA A PENA EM 2/3

QUALIFICADORA
§ 3º Se da violência resulta:
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

Desta parte do dispositivo, o que precisa ser bem observado é o inciso II pois quando há morte no
cenário do roubo, fala-se em LATROCÍNIO.

Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
o agente a subtração de bens da vítima.”

Observe bem que o latrocínio é consumado no momento da MORTE e não no momento da subtração
do bem, tanto que mesmo que não haja sucesso na subtração, mas, ainda sim haja morte, o latrocínio
é considerado CONSUMADO!

Quanto à configuração típica, observo, inicialmente, que, superado o questionamento


probatório, não há divergência no que se refere ao cerne dos fatos: em um assalto contra
dois motoristas de caminhão, um foi alvejado e faleceu e o outro sofreu ferimentos, mas
sobreviveu. O Recorrente, diante da tentativa de fuga dos motoristas, efetuou disparos de
arma de fogo em sua direção, vindo a atingi-los. Não foi esclarecido na denúncia ou na
sentença e acórdão, se o Recorrente logrou obter a subtração patrimonial. Entretanto, a
questão perde relevância diante da morte de uma das vítimas, incidindo na espécie a
Súmula 610 desta Suprema Corte: "Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma,
ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima".
[RHC 107.210, voto da min. Rosa Weber, 1ª T, j. 10-9-2013, DJE 210 de 23- 10-2013].

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Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter
para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar
de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

O crime de extorsão carrega semelhança com o crime de roubo, mas estudaremos um ponto muito
importante que fará você entender a diferença entre eles.

Crime formal – se consuma no momento em que o criminoso constrange alguém mediante violência
ou grave ameaça a FAZER, DEIXAR DE FAZER ou TOLERAR QUE SE FAÇA alguma coisa. É conhecido
como crime de resultado cortado, pois a consumação é antecipara, ou seja, a obtenção da vantagem
econômica é mero exaurimento do crime.

ROUBO ≠ EXTORSÃO.

ROUBO EXTORSÃO
A participação da vítima é DISPENSÁVEL, ou seja, o A participação da vítima é INDISPENSÁVEL, ou seja,
criminoso consegue obter sucesso na investida o criminoso não consegue obter sucesso caso a
mesmo sem a participação da vítima. vítima não colabore.

Observe os exemplos:
Em um bairro, um criminoso armado entra em um ônibus e começa a exigir dos passageiros que
entreguem as suas carteiras e celulares. Em outro ponto do bairro, outro pilantra armado exige que
uma senhora saque todo seu dinheiro do caixa eletrônico e o entregue. Veja que o “modos operandi”
é basicamente igual nos dois casos e que em ambos ouve exigência da entrega de bens materiais
economicamente consideráveis. Porém, observe o ponto diferencial que é muito cobrado em prova.
Na primeira cena, o criminoso consegue obter o bem mesmo se as pessoas ficassem imóveis, bastaria
que ele alcançasse os objetos e pronto. Já na segunda cena, o pilantra não iria obter o dinheiro caso
a senhora não “COLABORASSE” e digitasse a senha para ele.

AUMENTO
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-
se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

Observe que, diferentemente do crime de roubo, aqui o legislador não modificou o aumento pelo
emprego de arma, ou seja, continua valendo arma branca ou arma de fogo. E o parágrafo segundo
fala sobre a conduta de gerar lesão corporal grave ou a morte da vítima, do mesmo modo que já
tratamos no crime de roubo.

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SEQUESTRO RELÂMPAGO
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é
necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12
(doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas
previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.

É diferente da extorsão mediante sequestro!

Extorsão mediante sequestro


Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei nº 10.446, de
2002) Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

O crime consiste em privar alguém de sua liberdade como moeda de troca de uma vantagem. Esse
crime é formal, se consuma no exato instante que se tem o sequestro, ainda que o criminoso não
consiga a vantagem. É UM CRIME HEDIONDO.

EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO ≠ SEQUESTRO RELÂMPAGO


EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SEQUESTRO RELÂMPAGO
Privar alguém para obter uma Privar alguém de sua liberdade
moeda de troca, um resgate para obrigar a fazer algo.

A moeda de troca referida na extorsão mediante sequestro deve, necessariamente, ter natureza
PATRIMONIAL, por isso, se a moeda de troca for uma pessoa não será considerado extorsão mediante
sequestro.

Veja um caso concreto.


Os bandidos de uma facção sequestram o filho do diretor de um presídio, e como resgate, exigem
que o diretor solte um dos membros desta facção que se encontra preso na prisão em que este
diretor trabalha.

Qual crime esses bandidos cometem: Artigo 148 CP – sequestro; Lei 9.455/87 tortura.

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QUALIFICADORAS:
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.Vide Lei nº 8.072,
de 25.7.90 (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003). Pena - reclusão, de doze a vinte
anos.(Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

PRIVILEGIADORA:
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade,
facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.(Redação
dada pela Lei nº 9.269, de 1996)

Apropriação indébida
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.

PRIMEIRO MOMENTO: Posse LÍCITA da coisa.

SEGUNDO MOMENTO: O criminoso incorpora a coisa em seu patrimônio.

RESUMINDO: O dolo do criminoso, obrigatoriamente, tem que ser posterior, primeiro ele deve ter o
bem em sua posse de maneira lícita e só depois disso deve ter o DOLO de se apoderar de tal coisa.
Se o dolo for desde o início, ou seja, desde o momento da posse, o crime passa a ser o de
ESTELIONATO.

EX: uma noiva vai casar e aluga um vestido. Passado o seu casamento, ela se esquece de devolver o
vestido e, nesse momento, decide ficar com o vestido. (apropriação indébita).

EX2: Uma pessoa empresta dinheiro a um amigo, mas este amigo não devolve o dinheiro.
(apropriação indébita). Caso a intenção deste amigo fosse desde o início de não devolver, seria
estelionato.

Pode-se ter uma posse lícita e o crime não ser de apropriação indébita? Sim, pode ser caracterizado
o crime de furto. Caso a posse lícita seja uma posse VIGIADA, e o sujeito leva a coisa, haverá
configurado o FURTO! Por exemplo, se uma mulher pede a uma vendedora que lhe mostre algumas
roupas para experimentar e esconda em sua bolsa uma das peças e saia da loja, configurará FURTO
pois as roupas estavam sobre a vigilância da vendedora.

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Dando continuidade ao crime de apropriação indébita. Apropriação de coisa havida por erro, caso
fortuito ou força da natureza.

Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou
força da natureza: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
O parágrafo único também traz hipóteses em que a pena se dará de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: Apropriação de tesouro
- quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito
o proprietário do prédio;

Apropriação de coisa achada


- Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze
dias. Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º

ACHADO NÃO É ROUBADO?


De fato, não é roubado, mas não deixa de ser crime pois é tipificado no inciso II do paragrafo único
do crime de apropriação indébita! Se não se sabe quem é o dono da coisa ou não se dá para saber,
quem achou a coisa terá o prazo de 15 dias para entrega-la às autoridades, caso contrário incorrerá
no crime de apropriação indébita de coisa achada. Não se considera a coisa perdida quando esta
coisa está perdida dentro da própria casa do dono, logo, se a empregada achar e ficar para ela, não
cometerá apropriação indébita de coisa achada, mas sim furto.

Apropriação indébita previdenciária.


Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos, e multa.

O bem jurídico tutelado é o patrimônio de todos que participam do sistema de seguridade, mais
precisamente o previdenciário. Nota-se que a conduta prevista no tipo penal é a de deixar de
repassar, ou seja, basta que o agente deixe de transmitir ao órgão previdenciário o valor recolhido
do contribuinte. Além do mais, no artigo 168-A há três personagens, o administrador da pessoa
jurídica que recolhe a contribuição, o contribuinte e a Previdência Social.

Sujeito ativo é a pessoa que tem o dever legal de repassar à Previdência Social a contribuição
recolhida dos contribuintes. Nota-se que não é possível imputar o delito à pessoa jurídica, mas
somente aos seus administradores.

48
Sujeito passivo é a Previdência Social, podendo concorrer com ela os segurados lesados pelo
comportamento do agente. Esse crime não admite a forma tentada pois é CRIME OMISSIVO PURO
OU PRÓPRIO. (deixar de repassar). O pagamento desta dívida será causa de EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE, seja ela em qualquer momento.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:


I – recolher no prazo legal contribuição/outra importância destinada à prev. social que tenha
sido descontada de pagamento efetuado a segurados a terceiro/arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas
contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem
sido reembolsados à empresa pela previdência social.

§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o


pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

É um crime MATERIAL: se consuma quando a pessoa é enganada e o criminoso consegue a coisa. Por
isso, cabe a tentativa.
Esta vantagem ilícita deve ser de origem PATRIMÔNIAL. Caso esta vantagem seja de cunho sexual, o
crime a ser cometido será aquele do artigo 215 (violação sexual mediante fraude).

TORPEZA BILATERAL.
É quando duas pessoas tentam se enganar reciprocamente. Exemplo: João tenta enganar Pedro
vendendo um carro que não é seu. Por sua vez, Pedro paga a João com um cheque sem fundo. Ambos
são enquadrados no estelionato. João – disposição de coisa alheia como própria.

Pedro – emissão de cheque sem suficiente profissão de fundos dolosamente. Vejamos o que diz a
SUMULA 554 do STF.
“O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia,
não obsta ao prosseguimento da ação penal”.

ATENÇÃO!
Esta súmula só se aplica no caso do estelionato na modalidade de emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundo, prevista no art. 171, § 2°, inc. VI.

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Súmula 554: inaplicabilidade aos crimes de estelionato na sua forma prevista no artigo 171, caput,
do Código Penal
1. Inviável a pretendida aplicação analógica do art. 34 da Lei 9.249/1995, obstada pelos
princípios da legalidade e da especialidade, sendo certo que a analogia pressupõe uma
lacuna involuntária. 2. A Súmula 554 do Supremo Tribunal Federal não se aplica ao crime
de estelionato na sua forma fundamental: "Tratando-se de crime de estelionato, previsto
no art. 171, "caput", não tem aplicação a Súmula 554-STF" (HC nº 72.944/SP, Relator o
Ministro Carlos Velloso, DJ 8/3/96). A orientação contida na Súmula 554 é restrita ao
estelionato na modalidade de emissão de cheques sem suficiente provisão de fundo,
prevista no art. 171, § 2°, inc. VI, do Código Penal (Informativo 53 do STF). 3. A reparação
do dano antes da denúncia é tão- somente uma causa de redução da pena, nos termos do
art. 16 do Código Penal, e não uma causa de excludente de culpabilidade. 4. Não cabe
acolher a prescrição da pena de multa considerando que mesmo no estelionato
privilegiado (art. 171, § 1º, do CP) possível é a aplicação de pena de detenção em
substituição à de reclusão ou a diminuição de um a dois terços (art. 155, § 2º, do CP).
Entendendo o Juiz de aplicar a pena de multa, então, poderá no mesmo ato conhecer a
prescrição. 5. Habeas corpus denegado. Ordem concedida de ofício para que o Juízo aprecie
a impetração com base no art. 171, § 1º, do Código Penal. [HC 94.777, rel. min. Menezes
Direito, 1ª T, j. 5-8-2008, DJE 177 de 19-9-2008.]

FRAUDE PARA RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO OU VALOR DE SEGURO


Destaco o inciso V do paragrafo 2ª do artigo 171 pois ele cai muito em prova.
“ V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou
agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;”
Vale ressaltar que quem pratica autolesão não comete crime(princípio da auteridade), mas como ele
é mero meio para atingir o crime fim que é o estelionato, ele será punido!

PRIVILEGIADORA.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena
conforme o disposto no art. 155, § 2º.
 Prejuízo de pequeno valor.
 Pessoa for primária.

AÇÃO PENAL
De acordo com o § 5º, incluído pelo Pacote Anticrime, a ação penal é, em regra, pública condicionada
a representação da vítima. Ou seja, a ação só será pública incondicionada se o estelionato for
cometido contra a Administração Pública (direta ou indireta); contra criança ou adolescente; contra
pessoa com deficiência mental; ou se a vítima for maior de 70 anos de idade ou incapaz. Lembrando
que, se o crime for cometido contra idoso, aplica-se a pena em dobro (§ 4º).

50
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
ou oculte:(Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
 Crime comum.
 Doloso, na receptação simples e na qualificada. Culposo no caso do § 3º, do art. 180 do CP.
Material na receptação própria.
 Formal na receptação imprópria
 Comissivo, salvo na modalidade de ocultar que é omissivo.
 Instantâneo, salvo nas formas de transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito e expor à venda
que é permanente.
 Unissubjetivo.
 Plurissubsistente e acessório, pois depende do crime antecedente. Sujeito ativo e passivo, ambos
podem ser comuns.
 Objeto jurídico, o patrimônio.

Trata-se de crime autônomo, não se podendo falar em autoria ou participação quando o agente
pratica a conduta após a consumação do delito antecedente. Com a redação que lhe foi dada pela
Lei 9.426, de 24 de dezembro de 1996, tem-se para o crime de receptação dolosa (artigo 180 do
Código Penal): Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou
oculte.¨ (tem que ser produto de CRIME)Pena: reclusão de um a quatro anos e multa.

A ação penal é pública incondicionada e pode ser proposta no local em que se consumou a
receptação ou, havendo conexão, diante da regra constante do artigo 76, III, do Código de Processo
Penal. É conhecido como delito PARASITÁRIO, pois para se obter receptação precisa de um crime
anterior. Não precisa provar a autoria do crime anterior para que a pessoa que receptou seja
condenada! Um crime não condiciona o outro. Se a pessoa pediu para outra adquirir tal objeto, não
responderá por receptação mas, sim por furto ou roubo como participação ou autoria do crime
anterior.

51
RECEPTAÇÃO QUALIFICADA:
O criminoso se vale de atividade comercial ou industrial para a prática do delito.

RECEPTAÇÃO DOLOSA:
Dolo eventual: A pessoa deve saber que tal objeto é produto de crime.
Dolo direto: A pessoa sabe que tal objeto é produto de crime.

RECEPTAÇÃO CULPOSA:
O sujeito deveria saber que é produto de crime devido à diferença bruta do valor da coisa, ou até
pela natureza e condições da pessoa que está oferecendo a coisa.

RECEPTAÇÃO IMPROPRIA:
Influir para que terceiro de boa fé adquira produto de crime. Pode existir receptação de receptação.
EX: Tiago compra celular da mão de Jr e sabe que é produto de furto, e presenteia Maria com este
celular e conta para ela que é produto de furto e mesmo assim aceita.
O produto do ato infracional análogo ao furto cometido por menor de 18 anos que é vendido para
outra pessoa maior de idade configura a receptação! Mesmo sendo produto de ato infracional!

ATENÇÃO!
Não comete receptação quem tem seu bem furtado, descobre onde ele está
e compra de volta o próprio bem!

Atualizações
Vamos observar algumas das mais recentes atualizações quanto aos crimes contra o patrimônio.
Essas mudanças, possivelmente, serão objetos da sua prova.

FURTO
Qualificadoras:
Furto de semovente domesticável de produção.
1. Vivo
2. Abatido no local e dividido em partes. Pena: 2 – 5 Anos.
Subtração de substância explosiva ou de acessórios que conjunta ou isoladamente possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
Pena: 4 – 10 anos.

52
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.

§ 2º A PENA E AUMENTADA 2/3.


*se a violência ou grave ameaça é exercida com arma de FOGO
*se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo em comum.

ATENÇÃO AO EXPLOSIVO!
Se o objeto do crime for o explosivo:

NO FURTO QUALIFICADORA (4-10 ANOS)

NO ROUBO AUMENTO DE PENA (1/3 a 1/4)

ESTELIONATO
Aplica-se a pena EM DOBRO se o estelionato for contra pessoa idosa.

RECEPTAÇÃO
Art. 180-A: Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime Pena: 2 – 5 Anos.

Imunidades
O artigo 181 do Código Penal traz disposições gerais sobre isenção de pena quanto aos
crimes contra o patrimônio.

IMUNIDADE: Absoluta = É isento de pena: Cônjuge, na constância da sociedade conjugal, Ascendente


ou descendente (de sangue ou adotado); Relativa (só procede mediante representação) = Cônjuge
separado, Irmão (de sangue ou adotado), entre tio e sobrinho que coabitem.

NÃO SE ADMITE A IMUNIDADE


Se praticado com emprego de violência ou grave ameaça Ao “estranho” que participar.
EX: um filho comete estelionato contra o pai com a ajuda de seu amigo, a imunidade só servirá para
o filho, não abarcando o amigo.
Se a vítima for MAIOR de 60.

53
Crimes contra a fé pública
Moeda falsa
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso
legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta,
adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui
à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois
anos, e multa.

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou diretor,
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou
emissão:
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não
estava ainda autorizada.

O objeto jurídico do crime em questão é a fé pública, especificamente quanto à emissão e a


circulação de moedas. O objeto material é a moeda metálica e o papel-moeda de curso legal
no país ou no estrangeiro. Tem-se como sujeito ativo qualquer pessoa e o sujeito passivo é
sempre o Estado.

O legislador não exigiu fim econômico da conduta ou o propósito de auferir lucro. Não existe
elemento especial do tipo, isto é, um fim para o qual a conduta deve se direcionar. Dessa
forma, o desenvolvimento da falsificação, da fabricação ou da alteração é o suficiente para
o delito se aperfeiçoar. Por fim, somente admite a forma dolosa.

O crime admite a forma tentada, pois ha possibilidade de se particionar o iter criminis, em


quais quer dos seguintes verbos: falsificar, fabricar ou alterar. A letra trazida pelo §1º exige
que o agente saiba que a moeda é falsa.

Existe a forma privilegiada do crime que consiste na restituição da moeda falsa ou alterada
à circulação por quem a receber de boa-fé e logo depois conhecer da falsidade. A pena,
nesse caso, será de detenção de seis meses a dois anos, e multa.

ATENÇÃO! O STJ acompanha a orientação do STF em não admitir o princípio da


insignificância ao crime de moeda falsa: o delito de moeda falsa não se compatibiliza com a
aplicação do princípio da insignificância, segundo iterativa jurisprudência desta Corte, uma
vez o bem jurídico tutelado no pelo artigo 289 do Código Penal é a fé pública, insuscetível
de ser mensurada pelo valor e pela quantidade de cédulas falsas apreendidas.

54
O crime de moeda falsa será qualificado, nos termos do §3º se o funcionário público ou
diretor, gerente, fiscal de banco de emissão, fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou
emissão de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; ou de papel-moeda
em quantidade superior à autorizada. Na forma qualificada, o delito e classificado
doutrinariamente como próprio, pois somente pode ser praticado pelas pessoas que reúnem
as características indicadas no tipo penal.

As ações posteriores ao crime de falsificação (exportar, vender, introduzir na circulação)


constituem mero exaurimento da primeira, configurando crime único, aplicando-se o princípio
da consunção (absorção) para evitar o bis in iden.

Crimes assimilados ao de moeda falsa


Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de
cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para
o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à circulação
cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos e multa, se o crime é


cometido por funcionário que trabalha na repartição onde o dinheiro se achava recolhido, ou
nela tem fácil ingresso, em razão do cargo.

Petrechos para a falsificação de moeda


Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à
falsificação de moeda: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Trata-se de crime formal (de resultado cortado), pois o crime se consuma no momento da
fabricação, da aquisição ou do fornecimento. A simples posse de qualquer objeto
especialmente destinado à falsificação de moeda é o suficiente para aperfeiçoar o delito,
motivo pelo qual se classifica doutrinariamente como “crime de posse”. Essa e uma das
razões para não se admitir a forma tentada, pois impede fracionamento de atos executórios.

Falsificação de papéis públicos


Art. 293 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal
destinado à arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro
estabelecimento mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas
públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;

55
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à
circulação selo falsificado destinado a controle tributário;
III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca,
cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:

a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;

b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de
sua aplicação.

§ 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los


novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se
refere o parágrafo anterior.

§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis
falsificados ou alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a
falsidade ou alteração, incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

§ 5o Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros
públicos e em residências.

O objeto jurídico é a fé pública: Este tipo penal traz diversos objetos materiais como: selo
destinado ao controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado
à arrecadação de tributo; papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; cautela
de penhor, caderneta de depósito da Caixa Econômica ou outro estabelecimento mantido
por entidade de direito público; talão, recibo, guia alvará ou qualquer outro documento
relativo à arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução pelo qual o poder público
seja responsável; bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada
pela União, por Estado ou por Município.

Petrechoes de falsificação
Art. 294 - Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior: Pena - reclusão, de um a três
anos, e multa; Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do
cargo, aumenta-se a pena de sexta parte (art.295).

56
Esse crime traz como elemento subjetivo apenas o dolo, pois não prevê a forma culposa. A
ação de possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de selo destinado
a controle tributário constitui crime contra a fé pública, não sendo necessário que se verifique
nenhum tipo de utilização ou efetiva fabricação de selo de controle tributário para o
aperfeiçoamento desse delito. O artigo 295 traz uma causa MAJORANTE para a hipótese
em que o agente é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo: aumenta-
se a pena da sexta parte.

Falsificação de selo ou sinal público


Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal
público de tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

§ 1º - Incorre nas mesmas penas:


I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em
proveito próprio ou alheio.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros
símbolos utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.

§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,


aumenta-se a pena de sexta parte.

Do crime acima, o que o candidato deve mais prestar atenção é no §2º, pois não basta ser
o agente funcionário público, ele precisa se prevalecer do cargo para cometer o delito e,
assim, cometer o crime com aumento (majorante) de pena.

Falsificação de documento público


Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade
comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir.

O objeto jurídico é a fé pública em relação à credibilidade dos documentos. O objeto material


é o documento público. O sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa, quanto ao
sujeito passivo, esse é o Estado. O crime se consuma no momento da falsificação ou
alteração do documento, independentemente da produção de qualquer resultado. Trata-se,
portanto, de crime formal (de consumação antecipada ou de resultado cortado). Além disso,
esse crime admite a forma tentada.

57
Considera-se documento todo escrito com significado relevante dentro do ordenamento
jurídico por meio do qual se expressa a vontade de um determinado autor, sendo utilizado
para comprovar o conteúdo neste inserido. Se o crime é cometido por agente público
prevalecendo-se do cargo conforme o § 1º do dispositivo, terá sua pena aumentada em 1/6.

ATENÇÃO! A posição que prevalece no Superior Tribuna de Justiça é de que o crime de


estelionato absorve o crime de falsificação de documento público, porque a falsidade é o
meio para atingir o crime fim (estelionato). O falso é elemento do crime de estelionato,
inserido na expressão típica “qualquer meio fraudulento”. Nesse caso, aplica-se o princípio
da consunção, evitando assim o bis in idem. Outro argumento é o fato de que a finalidade
não é lesar a fé pública, mas causar prejuízo a outrem.

Súmula 17 STJ: quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
por este absorvido.

Falsidade ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um
a três anos, e multa, se o documento é particular.

Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do


cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a
pena de sexta parte.

O objeto jurídico é a fé pública, especificamente quanto à autenticidade do documento, no


tocante ao aspecto substancial de seu conteúdo. O objeto material é o documento público
ou particular. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, motivo pelo qual este crime é
classificado como comum e o sujeito passivo é o Estado. Reflexamente, também pode ser
considerado sujeito passivo pessoa prejudicada com a ação do agente criminoso.

O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade livre e consciente de omitir declaração


que deveria constar, ou de inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
ser escrita. Todavia, observa Cezar Roberto Bitencourt, “para a configuração do delito de
falsidade ideológica exige-se, além do dolo genérico, o especial fim de agir, que se traduz
pela intenção de prejudicar direito, produzir obrigação ou modificar a verdade sobre o fato
juridicamente relevante”. Trata-se, portanto, do elemento subjetivo especial do tipo (antigo
“dolo específico”). Não se admite a forma culposa.

58
No crime de falsidade ideológica, o documento é materialmente verdadeiro, mas seu
conteúdo não reflete a realidade, seja porque o agente omitiu declaração que dele deveria
constar, seja porque nele inseriu ou fez inserir declaração falsa ou diversa da que deveria
ser escrita. Na falsidade ideológica (ou pessoal), ensina Damásio de Jesus, “ o vício incide
sobre as declarações que o objeto material deveria possuir, sobre o conteúdo das ideias.
Inexistem rasuras, emendas, omissões ou acréscimos. O documento, sob o aspecto
material, é verdadeiro; falsa é a ideia que ele contém. Daí também chamar-se falso ideal”.

Aumenta-se a pena da sexta parte se: O sujeito ativo for funcionário público que cometa o
crime se prevalecendo do cargo.

A falsificação ou adulteração for de assentamento de registro civil. Qual a diferença entre a


falsidade material e a falsidade ideológica?
Na falsidade ideológica (Art. 299 CP), o agente insere no documento declaração falsa. Já a
falsidade material diz respeito à forma do documento (aspectos extrínsecos). Assim, se o
documento não foi falsificado ou adulterado nos seus aspectos extrínsecos, não pode existir
falsidade material, porque é verdadeiro. Na falsidade ideológica, a conduta delitiva recai
apenas sobre o conteúdo, declarando o agente criminoso algo que não é verdadeiro,
mentindo porque formalmente o documento encontra-se perfeito.

Damásio de Jesus exemplifica bem as duas situações: “na falsidade material, o vício incide
sobre a parte exterior do documento, recaindo sobre o elemento físico do papel escrito e
verdadeiro. O sujeito modifica as características originais do objeto material por meio de
rasuras, borrões, emendas, substituições de palavras ou letras, números etc. (...)”.

Na falsidade ideológica (ou pessoal), o vício incide sobre as declarações que o objeto
material deveria possuir, sobre o conteúdo das ideias. Inexistem rasuras, emendas,
omissões ou acréscimos. O documento, sob o aspecto material, é verdadeiro; falsa é a ideia
que ele contém. Daí também chamar-se falso ideal.

Certidão ou atestado ideológicamente falso


Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância
que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público,
ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano.

O objeto jurídico é a fé pública. O objeto material é o atestado ou a certidão. O sujeito ativo


é o funcionário público com o dever funcional de atestar ou certificar (crime próprio). Cumpre
observar que a pessoa que utiliza certidão ou atestado ideologicamente falso incorre no
crime de uso de documento falso (art. 304, CP). O sujeito passivo é o Estado.

59
Falsidade de atestado médico
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de
um mês a um ano. Parágrafo único - Se crime é cometido com o fim de lucro, aplica + multa.

O objeto jurídico é a fé pública. O objeto material é o atestado. O sujeito ativo é o médico


que consuma o crime no instante em que entrega o atestado falso, independentemente da
intenção de obter lucro, classificando-se como crime formal (de consumação antecipada ou
resultado cortado). O sujeito passivo é o Estado.

É comum a banca confundor o candidato nos dois ultimos crimes citados. Mas veja que é
bem tranquilo entender a diferença entre eles. Primeiro, o sujeito ativo do crime de certidão
ou atestado ideologicamente falso é qualquer funcionário público enquanto que no crime de
falsidade de atestado médico, somente o proprio médico que pode ser o sujeito ativo.
Segundo, se um indivíduo qualquer, que não seja médico, venha a falsificar o atestado
médico cometerá o crime de falsidade do art. 301 §1º e não o crime do art. 302.

Uso de documento falso


Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os
arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.

O objeto jurídico é a fé pública. O objeto material pode ser qualquer dos papéis a que se
refletem os Art. 297 a 302. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, quanto ao sujeito
passivo, é o Estado. Tem como elemento subjetivo o dolo.

Ainda sobre o elemento subjetivo, nessa figura penal, vislumbra-se a possibilidade do dolo
eventual. Se as circunstâncias do caso indicam que o agente possuía plena condição para
duvidar da autenticidade do documento que utilizava, resta caracterizado o dolo eventual.
Em outros termos, o crime de uso de documento falso (Art.304, CP) pode ser cometido por
meio de dolo direto ou dolo eventual, somente não admitindo a modalidade culposa.

O crime é formal (de consumação antecipada, resultado cortado) pois se consuma no


momento da utilização do documento falso, independentemente de qualquer resultado.

O uso de documento falso que é claramente perceptível porque se trata de falsificação


grosseira é crime impossível, somente pode servir para configurar o crime de estelionato
caso alguém venha a ser enganado, obtendo o agente criminoso vantagem ilícita.

Se o mesmo agente que falsificou o documento o utiliza, NÃO haverá concurso de crimes
entre a falsificação do documento e o uso do documento falso. A corrente majoritária entende
que a responsabilidade penal do agente será somente pelo crime de falsificação, restando
absorvido o uso de documento falso.

60
Falsa identidade
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano,
ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

O objeto jurídico é a fé pública. O objeto material é a identidade. O sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa, quanto ao sujeito passivo, é o Estado. Tem como elemento subjetivo o
dolo que consiste na vontade de atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.

Como se pode observar, no tipo penal, foi inserido o elemento subjetivo especial do tipo
(antigo “dolo específico”): para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio ou para causar
dano a outrem. Dessa forma, o legislador estabeleceu um fim especial para o qual a conduta
deve ser direcionar. Não admite a forma culposa.

O indivíduo que se atribui falsa identidade, com intuito de esconder seus maus antecedentes,
perante a autoridade policial comete o crime de falsa identidade, neste caso, não se pode
falar em alto defesa.

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou
qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize,
documento dessa natureza, próprio ou de terceiro: Pena - detenção, de quatro meses a dois
anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

O objeto jurídico é a fé pública. O objeto material é a passaporte, título de eleitor, caderneta


de reservista, ou qualquer documento de identidade. O sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa, quanto ao sujeito passivo, é o Estado. Tem como elemento subjetivo o dolo
consistente na vontade de usar, como próprio, algum dos documentos citados ou cedê-lo a
outrem para que dele se utilize. Usar = dolo genérico. Ceder = dolo específico.

61
Crimes contra a Administração Pública
CONSIDERAÇÕES GERAIS
São crimes próprios, denominados de funcionais, porque somente podem ser praticados por aqueles
considerados funcionários públicos para efeitos penais.
Crimes desta natureza afetam sempre a probidade administrativa, promovendo o desvirtuamento da
administração pública nas suas várias camadas, ferindo, dentre outros, os princípios norteadores da
legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência.

Dividem-se em:
Crimes funcionais próprios: (puros ou propriamente ditos) a norma penal descreve uma conduta que
somente é considerada criminosa por que é praticada por funcionário público. Em outras palavras,
se a mesma conduta fosse praticada por um particular, fora do âmbito da Administração Pública, não
configuraria crime algum; ou seja, excluindo a qualificação “ funcionário público” o fato se torna
completamente atípico, não se enquadrando em nenhuma outra norma penal. EX: prevaricação.

Crimes funcionais impróprios: (impuros, propriamente ditos ou mistos) Nesses delitos, excluída a
qualificação “funcionário público”, a conduta deixa de ser crime contra a Administração Pública, mas
passa a ser outro delito, insto é, opera-se a desclassificação para outro crime. EX: peculato (Art. 312
do CP) – retirando-se a qualificação “funcionário público” o crime passa a ser de furto (Art. 155 do
CP) ou de apropriação indébita (Art. 168 do CP).

Conceito de funcionário público para efeitos penais.


Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa
pública ou fundação instituída pelo poder público.

Para efeitos penais, o legislador utilizou a expressão “funcionário público” no sentido de “agente
público”, concebido como aquele que serve ao Poder Público como instrumento expressivo da sua
vontade ou ação ainda que o faça ocasional ou episodicamente. Cargo público, é o lugar dentro da
organização funcional da Administração Direta, autarquia, fundação pública que, ocupada por
servidor público, tem funções especificas e remuneração fixadas em lei ou diploma a ela equivalente.
Diz José dos Santos Carvalho Filho. Emprego público, diz respeito a contratações para o exercício da
atividade pública, em relação funcional trabalhista, regida pela CLT.

62
Crime de peculato apropriação
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel,
público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do
dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio
ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

O objeto jurídico protegido de forma imediata, é o patrimônio público. Em alguns casos, de forma
mediata, também pode ser atingido patrimônio de alguns particulares.
O objeto material é a coisa corpórea móvel, ou seja, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel.
Se for bem imóvel, não pode ser objeto material do crime de peculato. Em outras palavras, não existe
peculato de bem imóvel, por expressa disposição normativa.
O sujeito ativo é o funcionário público (crime próprio ou especial). Essa qualificação é especial, por
se tratar de uma circunstância de caráter pessoal elementar do crime (Art. 30 do CP), comunica-se
ao particular que atua como coautor ou partícipe do delito que saiba dessa condição. O sujeito
passivo imediato é o Estado. Em algumas situações (peculato-malversação), o sujeito passivo mediato
(secundário) é o proprietário do bem, sob o qual recai a conduta do agente.

Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de
três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Ocorre peculato na forma culposa quando o funcionário público encarregado da guarda e segurança
do patrimônio da administração, por negligência, imprudência ou imperícia, infringe o dever de
cuidado, permitindo, involuntariamente, que outro funcionário se aproprie de qualquer bem público
de que tem a posse em razão de sua função. O crime é apenado com detenção, de três meses a um
ano. No entanto, poderá ser declarada extinta a punibilidade do agente caso haja a reparação do
dano antes da sentença irrecorrível. Caso, porém, a reparação do dano se dê após a sentença, a pena
poderá ser reduzida pela metade.

Peculato mediante erro de outrem


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O agente apropria-se de dinheiro ou outra utilidade que recebeu por erro de outrem, no exercício do
cargo público. Apenas o erro do funcionário em receber o dinheiro de terceiro indevidamente, por si
só, não configura peculato. O delito somente se consolida em seus elementos quando o funcionário
dolosamente percebe o erro e se apropria do dinheiro.

63
Peculato desvio
O peculato-desvio consiste na conduta da autoridade pública que desvia dinheiro, valor ou qualquer
outro bem móvel, público ou particular, em proveito próprio ou alheio. Da mesma forma do peculato-
apropriação, nessa espécie, o agente público tem a posse lícita do bem. Entretanto, não o incorpora
em seu patrimônio. Simplesmente desvia a finalidade pública do bem para seu interesse particular;
ou seja, desvia a posse para fins privados, diversos do interesse público.
Em outros termos, a posse do dinheiro, do valor ou de qualquer outro bem móvel constitui ponto de
semelhança dos crimes de peculato –apropriação e peculato-desvio. Ocorre que, no peculato-desvio,
o bem continua disponível no âmbito da Administração, porém passa a ser utilizado também para
fins privados. É o caso, por exemplo, do agente que empresta dinheiro público para um amigo. É
pertinente observar: é peculato-desvio, porque o bem foi apenas emprestado; caso fosse entregue
em definitivo, seria peculato- apropriação.

“Peculato de uso”
Questão tormentosa na doutrina diz respeito à existência de peculato “de uso”.
Três são as correntes:
1º) Peculato de uso não é crime: Não passa de ilícito de natureza administrativa.
Apesar de ser fato atípico, a conduta configura ato de improbidade administrativa.
2º) Se o bem for fungível: (ex.: dinheiro) haverá peculato, se for infungível (Ex.: veículo da
administração pública), haverá apenas improbidade administrativa – posição do STF.
3º) Se o bem for consumível pelo uso: haverá peculato de uso; se não for consumível, haverá apenas
improbidade administrativa. Dessa forma, explica Rogério Sanches, “inexistiria o delito se o agente
utilizasse equipamentos pertencentes à administração, com nítida intenção de devolvê-los, ficando
a punição restrita à esfera cível, administrativa ou política. INFORMATIVO 712 STJ: É atípica a conduta
de peculato de uso. Com base nesse entendimento, a 1ª turma deu provimento a a agravo regimental
para conceder a ordem de ofício. Observou-se que tramita no Parlamento projeto de lei para
criminalizar esta conduta.

Peculato furto
Consiste na conduta do agente que subtrai o dinheiro, valor ou bem da Administração Pública, ou
concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe
proporciona a qualidade de funcionário (§1º, Art. 312 do CP).

A ação nuclear é subtrair. Assemelha-se em alguns aspectos, portanto, ao crime de furto. O crime
somente se configura se o funcionário se valer de sua qualidade. Insto é, de suas funções, para
cometer a ação criminosa. Caso contrário, se agir como qualquer pessoa comum, sem se utilizar das
facilidades de suas funções, haverá apenas crime de furto, e não peculato-furto. No caso, por
exemplo, de um funcionário público que, durante a noite, vai até à repartição e arromba a porta para
subtrair um bem, estamos diante de um crime de peculato-furto? Não, temos um furto qualificado.

64
Inserção de dados falsos em sistema de informação
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados
da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou
para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

O objeto jurídico protegido é a proteção dos interesses da Administração pública, especialmente o


conjunto de dados que compõe as informações da Administração. O objeto material refere-se aos
dados dos sistemas informatizados ou banco de dados no âmbito da Administração.
O sujeito ativo é o funcionário público. Entretanto não pode ser qualquer funcionário público. Sujeito,
é somente o funcionário público autorizado, isto é, aquele que estiver lotado na repartição
encarregada de cuidar dos sistemas informatizados ou banco de dados da administração pública.
O sujeito passivo imediato é o Estado. Secundariamente, pode ser citada eventual pessoa lesada
reflexamente pela ação criminosa.
O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de inserir ou facilitar a inclusão de dados
falsos; ou alteração ou exclusão indevida de dados corretos nos sistemas informatizados. Possui
elemento especial do tipo (fim especial) com fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem
ou para causar dano. Se a conduta for praticada em âmbito eleitoral, em face do princípio da
especialização, haverá apenas crime eleitoral, previsto no Art. 72 da Lei nº 9.504/97.

Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação


Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de
informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou


alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.

65
O objeto jurídico protegido é o interesse de assegurar o regular funcionamento da Administração
Pública. O sujeito ativo é o funcionário público (crime próprio). Pertinente é a observação de
Bitencourt: “Nesse caso, ao contrário do dispositivo anterior, não precisa ser aquele devidamente
autorizado a trabalhar com a informatização ou sistema de dados da Administração Pública.
O sujeito passivo imediato é o Estado. Secundariamente, pode ser citada eventual pessoa lesada
reflexamente pela ação criminosa. O elemento subjetivo é o dolo, consistente na vontade de
modificar ou de alterar sistemas de informações ou programas de informática. Diferentemente do
Anterior, o dolo neste é genérico insto é, não existe elemento especial do tipo (dolo específico). Em
síntese, não importa a finalidade do agente. O crime se consuma com a prática de qualquer das
condutas descritas, não havendo necessidade de causar dano algum. A tentativa é admissível.

Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento


Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do
cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

O objeto jurídico protegido é o interesse de proteger a Administração Pública. O sujeito ativo é o


funcionário público (crime próprio). O sujeito passivo imediato é o Estado. Secundariamente, pode
ser citada eventual pessoa proprietária do documento destinado à Administração. O elemento
subjetivo é o dolo genérico, não se exigindo fim especial. O crime se consuma com o extravio, com a
sonegação, ou com a inutilização do documento, mesmo que não haja efetivo prejuízo. É admissível
a forma tentada.

Emprego irregular de verbas ou rendas públicas


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

O objeto jurídico protegido é a funcionário público; porém, somente aquele com o poder de
administrar verbas ou rendas públicas. se a conduta for executada por prefeito municipal, haverá
crime de responsabilidade descrito no inciso iii, do art. 1º do decreto- lei nº 201/1967, e não esse
delito. O sujeito passivo é o Estado, o elemento subjetivo do tipo é o dolo. A consumação ocorre com
o efetivo emprego irregular da verba ou renda pública. A tentativa é admissível.

Concussão
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. De forma secundária, protege-se o patrimônio do particular,
caso por ventura seja atingido.

66
Como sujeito ativo, tem-se o funcionário público e o sujeito passivo é o Estado. O elemento subjetivo
é o dolo. Possui o elemento especial do tipo (dolo específico), que está presente na expressão “ para
si ou para outrem”. A consumação ocorre no momento da exigência, ainda que o agente não obtenha
o fim desejado (crime formal). Admite-se a forma tentada.

Alguns autores mencionam que se o delito seria uma forma especial de extorsão cometida pelo
funcionário. A concussão pode ser direta ou indireta. Quando a exigência for realizada pelo próprio
funcionário, será direta, quando realizada por um intermediário, será indireta. Pode ainda ser
explícita na hipótese de ameaças claras; e implícita quando o funcionário faz a ameação por meio de
alusões, histórias, linguagem figurada, etc.

Se a exigência for DEVIDA, não ha concussão, e sim outro delito. EX.: abuso de autoridade, excesso
de exação. Se a exigência da vantagem indevida for realizada por autoridade fiscal, envolvendo
cobrança de tributo, não haverá concussão. Será crime funcional próprio contra a ordem tributária,
previsto no inciso II, do Art. 3º da Lei nº 8.137/90. Prevalece o entendimento que esta devida
vantagem pode ser qualquer uma, seja patrimonial, sexual ou outra qualquer.

Excesso de exação
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu
indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena: reclusão de 2~12 anos + multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento no âmbito da atividade fiscal de cobrança de tributos. De forma secundária,
protege-se o patrimônio do particular, caso por ventura seja atingido. Como sujeito ativo, tem-se o
funcionário público e o sujeito passivo é o Estado.

A norma penal se divide em duas condutas criminosas. Na primeira, o agente cobra indevidamente
tributos destinados à Administração. Na segunda, o tributo é devido, porém o agente emprega meio
vexatório ou gravoso na cobrança. Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos, haverá a forma qualificada do delito (§ 2º,
Art. 316, no CP) cuja pena será de reclusão de dois a doze anos, e multa.

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Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de


dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público e o sujeito passivo é o
Estado. A consumação ocorre no momento da solicitação, ou de recebimento, ou ainda da aceitação
da promessa, ainda que o agente não obtenha a vantagem indevida (crime formal). Em regra, admite-
se a forma tentada. Porém, em relação à conduta “solicitar”, não é admissível, salvo se a solicitação
for por escrito. Quanto ao núcleo “aceitar” a forma tentada não é aceita de forma alguma. A
vantagem mencionada pode ser de qualquer natureza, não precisa ser obrigatoriamente patrimonial,
é o entendimento que prevalece.

CONCUSSÃO x CORRUPÇÃO PASSIVA

CONCUSSÃO Existe AMEAÇA


CORRUPÇÃO Existe um mero PEDIDO

No momento da solicitação, o funcionário não precisa estar no exercício de suas funções. O crime
pode se configurar mesmo que o agente esteja de férias, ou licença, ou ainda não ter tomado posse,
desde que a solicitação seja concernente às suas funções. Se a solicitação da vantagem indevida for
feita por autoridade fiscal, na cobrança de tributo, haverá crime funcional contra ordem tributária,
previsto no inciso II, do ART. 3º da Lei nº 8.137/90. E se a vantagem não for “para si ou para outrem”,
isto é, se for para a própria administração? Não haverá crime, podendo caracterizar apenas infração
administrativa disciplinar. Ex.: Policial solicita ajuda de um particular para repor a gasolina da viatura.

O delito pode ser cometido de três formas:


Solicitar;
Receber;
Aceitar promessa.

68
Na conduta “solicitar”, a iniciativa é do agente público corrupto. Nas condutas “receber” e “aceitar
promessa”, a iniciativa é do particular corrupto. A corrupção passiva pode se dividir em:
PRÓPRIA: se a vantagem indevida for para o funcionário cometer alguma irregularidade, ilegalidade.
IMPRÓPRIA: se a vantagem indevida for para o funcionário público praticar ato regular,
perfeitamente lícito, decorrente de seu dever legal.

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA:


Ocorre corrupção passiva privilegiada se funcionário ceder a pedido ou a influência de outrem,
haverá o crime de corrupção passiva privilegiada, previsto no §2º do Art. 317, do Código Penal. É
privilegiada porque não existe a figura da vantagem.

CORRUPÇÃO PASSIVA QUALIFICADA:


Nos termos do §1º, do Art. 317, do Código Penal, a corrupção passiva será qualificada se o funcionário
público retarda ato de ofício, ou o pratica com infração de dever funcional.

Facilitação de contrabando e descaminho


Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho
(art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público, e o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo do tipo é o dolo do agente de facilitar, com infração de dever funcional,
a prática de contrabando ou descaminho. O crime se consuma com a facilitação, não sendo
necessário que esteja consumado o contrabando ou descaminho (crime formal). Em outras palavras,
o crime se consuma com a ajuda prestada, independentemente do resultado.

Prevaricação
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público e o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo é o dolo do agente de retardar, ou de deixar de praticar,
indevidamente, ato de ofício; ou praticá-lo contra disposição expressa de lei. Possui o elemento
especial do tipo (dolo específico) “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.”

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O crime se consuma com a prática de uma das condutas nucleares “retardar”, “deixar de praticar” e
“praticar”, não se exigindo resultado algum. A forma tentada não é admitida nas formas omissivas
“retardar” e “deixar de praticar”. Somente é possível quanto à conduta “praticar”.

Qual a exata diferença entre os crimes de prevaricação e de corrupção passiva? Na corrupção passiva,
o agente atua visando a uma vantagem indevida; na prevaricação não existe a figura da vantagem
indevida. O sentimento pessoal é um estado de afeto, podendo ser desde uma emoção a uma paixão.
Pode ser positivo, como caridade, simpatia, amizade; ou mesmo negativo, como ódio, despeito,
avareza, vingança. Assim, não importa a natureza do sentimento.

Prevaricação imprópria
Essa nova figura típica foi criada para reprimir a conduta do funcionário que coloca em risco a
segurança dos estabelecimentos prisionais, não vedando ao preso o acesso a instrumentos diversos
de comunicação. A conduta delitiva consiste em deixar de vedar ao preso o acesso a esses aparelhos,
como, por exemplo, a conduta vulgarmente conhecida como “fazer vista grossa”, isto é, fingir que
não enxergou o aparelho entrando ou sendo utilizado dentro do estabelecimento penitenciário.

Condescendência criminosa
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente: Pena – detenção de 15 dias a um mês, ou multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público desde que seja superior
hierárquico. Não responde pelo crime o funcionário subordinado. E o sujeito passivo é o Estado.

O elemento subjetivo é o dolo do agente em manifestar sua vontade de deixar de responsabilizar o


subordinado que cometeu infração no exercício do cargo. O crime se consumo no exato momento
em que o superior deixa de tomar as medidas cabíveis. Como se trata de um crime omissivo puro,
não admite a forma tentada, por não ser possível o fracionamento dos atos executórios.

Exige-se o tipo subjetivo que o superior se omita por indulgência (um estado anímico de tolerância)
para com o infrator. Havendo outro interesse ou sentimento pessoal, o crime será o de prevaricação
(Art. 319) ou corrupção passiva (317), se o agente visa receber vantagem.

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Advocacia administrativa
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração
pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
Parágrafo único – Se o interesse é ilegítimo pena detenção de 3meses a 1ano+multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público. E o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo é o dolo do agente em patrocinar interesse privado perante a
Administração Pública, prevalecendo-se da função pública. O dolo é genérico, não exigindo o
legislador fim especial algum.

A consumação ocorre com o ato do funcionário de patrocinar interesse privado, ainda que ele não
obtenha êxito. Apesar de difícil configuração, admite-se a forma tentada. Caso se trate de patrocínio
perante a administração fazendária, haverá crime funcional contra a ordem tributária, previsto no
inciso III, do Art. 3º, da Lei nº 8.137/90. Caso ocasione a instauração de licitação ou mesmo a
celebração do contrato, haverá crime licitatório, previsto no Art. 91 da Lei nº 8.666/93.

Conforme entendimento doutrinário, por falta de previsão legal, não há crime quando o funcionário
patrocinar interesse próprio. Cumpre lembrar que esse interesse patrocinado pode ser lícito ou ilícito
pois o legislador não restringiu. O crime pode ser praticado de forma direta e indireta (mediante
terceira pessoa). O particular que faz intermediação pode responder pelo crime em concurso de
agentes. Simples encaminhamentos não são suficientes para traçar os contornos deste delito.
Patrocinar significa defender de forma clara as pretensões alheias, valendo-se de sua qualidade de
funcionário.

Abandono de função
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de
quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um
a três anos, e multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público. E o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo é o dolo genérico do agente em interromper o exercício de suas
funções fora dos casos permitidos em lei. Não se exigindo nenhum especial fim de agir.

O crime se consuma depois que a ausência for suficientemente relevante para causar algum tipo de
dano para a Administração. Não admite a forma tentada por ser um crime omissivo puro (próprio).
Não haveria como fracionar os atos executórios. O mero desleixo no exercício da função não
configura o delito, por ser conduta atípica. Haverá apenas infração administrativa disciplinar a ser
apurada.

O crime possui duas formas qualificadas. A primeira ocorre se do fato resulta prejuízo público (§1º).
A segunda resta configurada se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira (§2º).

71
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar
a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído
ou suspenso: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público. E o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo é o dolo de entrar em exercício de função pública antes de satisfazer
as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi
exonerado, removido, substituído ou suspenso. É genérico, não exigindo o legislador especial fim.

Esse crime não se confundo com o de usurpação de função, pois neste, o sujeito ativo é um particular,
pessoa estranha aos quadros da administração, enquanto naquele, o sujeito ativo é um funcionário
público em exercício irregular.

Violação de sigilo funcional


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em
segredo, ou facilitar- lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
se o fato não constitui crime mais grave.

§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:


I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.

§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:


Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente o regular


desenvolvimento de suas atividades. O sujeito ativo é o funcionário público. E o sujeito passivo é o
Estado. O elemento subjetivo é o dolo de violar o sigilo funcional. O delito se consuma no exato
momento em que terceira pessoa não autorizada toma conhecimento de informação sob sigilo. Não
há necessidade de se causar prejuízo à Administração.

Por expressa disposição do legislador, o delito em comento é subsidiário. Somente haverá esse delito
se o fato não constituir crime mais grave (subsidiariedade expressa). Assim, se o funcionário violou o
segredo, recebendo vantagem indevida para isso, haverá crime de corrupção passiva, e não violação
de sigilo (ou segredo) funcional.

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O aposentado pode ser sujeito ativo desse crime, pois a aposentadoria não é a quebra total do vínculo
com a Administração Pública. Diferentemente do caso de uma pessoa demitida ou exonerada, esses
perdem totalmente o vínculo com a Administração Pública.

DICAS
 Pode ser aplicado o princípio da insignificância em matéria de crimes contra a Administração
Pública? Não. Trata-se da mais recente orientação do STJ.
 Em regra, não existe peculato de uso, por ausência de previsão típica. E se for utilização de
bens ou serviços públicos pelo prefeito em proveito próprio? Aí sim, restará configurado o
crime.

Violação de sigilo funcional


Art. 328 - Usurpar exercício de função pública: Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos+multa.
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco
anos, e multa.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, enquanto o sujeito passivo é o Estado. O elemento
subjetivo é o dolo de exercer função pública para a qual não estava autorizado, investido. É genérico
pois não depende de um fim específico.

É indispensável que o agente pratique ao menos um ato de ofício. Haverá a forma qualificada se do
fato o agente aufere vantagem. Mesmo quando o infrator se passe por funcionário Federal e engane
particulares, a competência não mudará, continuará sendo a Justiça Comum Estadual, ainda que a
união tenha interesse na punição do agente.

Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário
competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de
dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

O elemento subjetivo é o dolo de obstaculizar, mediante violência ou grave ameaça, a execução de


ato legal. É a dolo (intenção) de impedir a realização de ato legal. É genérico, isto é, não pressupõe a
existência de um fim especial para o qual se direciona a conduta. O legislador não estabeleceu uma
finalidade especial.
O delito se consuma com a violência ou grave ameaça ainda que frustrada, classifica-se, portanto,
como crime formal. A obtenção do resultado é mero exaurimento. Se a violência for empregada
contra o policial para garantir fuga, haverá o crime de evasão mediante violência, previsto no Art.
352 do Código Penal.

73
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze
dias a seis meses, e multa.

O elemento subjetivo é o dolo de descumprir ou de não atender à ordem de um funcionário público.


É genérico, isto é, não pressupõe a existência de um fim especial para o qual se direciona a conduta.
O legislador não estabeleceu uma finalidade especial.

Consuma-se no momento da desobediência, seja por ação ou omissão, sendo aceita a tentativa
apenas na modalidade comissiva (deixar de fazer algo). Caso haja o crime de desobediência e
desacato simultaneamente, deve ser reconhecida a progressão criminosa e aplicar o princípio da
consunção para preponderar somente o crime de desacato. O funcionário público poderá ser sujeito
ativo deste crime, desde que a ordem recebida não se relacione com suas funções.

Desacato
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena -
detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

O elemento subjetivo deste crime é o dolo de humilhar ou ofender o prestígio da Administração


Pública. A consumação ocorre no momento em que a ofensa é praticada, seja por meio de um ato,
seja por meio de uma palavra. Não se faz necessário que a autoridade se sinta ofendida e esta ofensa
não precisa ser presenciada por terceiros. Porém, essa ofensa precisa ser feita na presença do
funcionário, pois somente assim ocorrerá o desrespeito da função.

Caso seja feita na ausência do funcionário consistirá no crime de injúria com causa de aumento de
pena (Art. 140 c.c, Art. 141 II, do CP). Se a ofensa é irrogada por pessoa bêbada, não afastará a
culpabilidade pois se adota a teoria actio libero in causa. Conforme alteração feita pela Lei nº
13.964/19, a pena será aplicada em dobro se o crime for cometido mediante paga ou promessa de
recompensa.

INFORMATIVO 607 STJ: Não há incompatibilidade do crime de desacato (Art. 331 do CP) com as
normativas internacionais previstas na Convença Americana de Direitos Humanos (CADH).

Tráfico de influência
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa
de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da
função: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a
vantagem é também destinada ao funcionário.

74
O elemento subjetivo é a vontade de obter a vantagem ou a promessa desta, alegando influência
junto ao funcionário público. Esse crime admite a forma tentada e para sua consumação, o agente
não precisa ter efetivamente conseguido a vantagem.

E se o agente, após obter a vantagem, entrega ao funcionário uma vantagem indevida para praticar
determinado ato? Nesse caso, deixa de existir tráfico de influência, passando a se configurar o crime
de corrupção ativa. No caso do funcionário que recebeu a vantagem indevida, haverá corrupção
passiva. Constata-se, portanto, que o crime de tráfico de influência é subsidiário em relação ao crime
de corrupção ativa.
Em outras palavras, se efetivamente o particular corrompe o funcionário público, oferecendo-lhe
vantagem indevida, haverá crime de corrupção ativa do particular; e corrupção passiva do
funcionário público.

CUIDADO
Se a vantagem e solicitada, exigida, ou cobrada a pretexto de influenciar, juiz. Jurado, funcionário da
justiça, membro do Ministério Público, haverá crime de exploração de prestígio.

Tráfico de influência
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo
a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena reclusão, de 2 ~ 12 anos, e multa.
Parágrafo único - Pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa,
o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Aqui o elemento subjetivo é a vontade de oferecer ou de prometer vantagem indevida ao funcionário


público, para determina-lo (dolo específico) a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.

O crime se consuma no momento em que o funcionário toma conhecimento da oferta ou da


promessa, ainda que não venha a aceita-la. Se a promessa ou a oferta forem verbais, não se admite
a forma tentada; se for por escrito, é admissível a forma tentada.

A pena é aumentada de 1/3 se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retardar ou omitir
ato de ofício, ou ainda praticá-lo com infringência do dever funcional (parágrafo único). O núcleo
“entregar” não faz parte do tipo penal descrito, ou seja, no momento da entrega não existe crime
pois esse já se consumou quando foi oferecido ou prometido. Sendo assim, quando o indivíduo que
prometeu ou ofereceu vai entregar a promessa, haverá mero exaurimento. A corrupção ativa e a
passiva são crimes autônomos, um não depende do outro para existir.

75
Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada,
pela saída ou pelo consumo de mercadoria; Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de
procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional
ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.

§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de


comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências.

§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo,


marítimo ou fluvial.

A lei 13.008/2014 estabeleceu uma nova redação para o crime de descaminho (Art. 334, CP), definido
atualmente como conduta de iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido
pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria, sendo este considerado o elemento
subjetivo.
De acordo com o STJ, o objeto jurídico tutelado no descaminho é a administração pública considerada
sob o ângulo da função administrativa, que, vista pelo prisma econômico, resguarda o sistema de
arrecadação de receitas; pelo prisma da concorrência leal, tutela prática comercial isonômica; e, por
fim, pelo ângulo da probidade e moralidade administrativa, garante, em seu aspecto subjetivo, o
comportamento probo e ético das pessoas que se relacionam com a coisa pública. O objeto material
é a mercadoria, constituindo esta qualquer coisa móvel, suscetível de negociação e propriável.
A consumação ocorre no momento da liberação da mercadoria pela fiscalização alfandegária, apesar
de existir outra corrente no sentido de que somente estará consumado após a constituição definitiva
do crédito tributário. Admite a forma tentada.

SONEGAÇÃO FISCAL x DESCAMINHO


O STJ define bem a diferença entre eles: o agente pratica o crime de descaminho quando ilude o
Fisco, no todo ou em parte, ou seja, quando por conduta omissiva ou comissiva deixa de recolher
imposto devido pela entrada, saída ou pelo consumo de mercadoria. Por sua vez, o crime de
sonegação fiscal, apesar de também implicar internalização ou externalização de mercadorias, tal
qual o crime de descaminho. Se toda conduta que importasse em supressão ou redução de tributos
incidisse no crime de sonegação fiscal, implicaria revogação tácita dos demais delitos de conduta
nuclear semelhante.

76
PRÁTICAS EQUIPARADAS AO DESCAMINHO:
 Praticar navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
 Praticar fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
 Vender, expor à venda, manter em depósito ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe
ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por
parte de outrem;
 Adquirir, receber ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial
ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal
ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria dos votos, decidiu revisar o Tema
157 dos recursos repetitivos e fixou em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) o valor máximo para incidência
do princípio da insignificância nos casos de crimes tributários federais e de descaminho. Pontua-se
que, a revisão do tema tornou-se necessária, haja vista que o Supremo Tribunal Federal (STF) já tinha
alterado o valor máximo para aplicação do princípio da insignificância considerando os novos
parâmetros fixados pelas Portarias 75 e 130 do Ministério da Fazenda.

Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de
procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou
fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional
ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.

§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de


comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências.

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo,


marítimo ou fluvial.

77
O objeto material é a mercadoria, constituindo esta qualquer coisa móvel, suscetível de negociação
e apropriável. O elemento subjetivo é importar ou exportar mercadoria proibida sendo duas
hipóteses de consumação:
Se o agente entra ou sai do território nacional pelos meios regulares, consuma-se quando a
mercadoria passa pela zona de fiscalização alfandegária;
Se a entrada ou saída da mercadoria for clandestina, a consumação ocorre quando o agente transpõe
a fronteira do país. Admite-se a forma tentada.

O contrabando é a importação ou exportação de mercadoria proibida. A proibição pode ser absoluta,


quando a mercadoria não pode entrar ou sair do país de forma alguma; ou relativa, quando a
mercadoria pode entrar ou sair do país, caso satisfaça os requisitos legais. A pena aplica-se em dobro
se o crime de contrabando é praticado em transportes aéreo, marítimo ou fluvial (§3º).
Para se viabilizar denúncia pelos crimes de contrabando, decidiu o STJ: não se mostra necessária a
realização de exames periciais nas mercadorias apreendidas, notadamente quando a materialidade
delitiva estiver comprovada por outros meios de prova, como, no caso, o auto de apreensão, o auto
de infração e o termo de apreensão.

PRÁTICAS EQUIPARADAS AO CONTRABANDO:


 Praticar fato assimilado, em lei especial, ao contrabando;
 Importar ou exportar clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou
autorização de órgão público competente;
 Reinserir no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
 Vender, expor à venda, manter em depósito ou, de qualquer forma, utilizar em
 proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria
proibida pela lei brasileira;
 Adquirir, receber ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial
ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.

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Sonegação de contribuição previdenciária
Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes
condutas:
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela
legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em
lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
aplicar apenas a de multa.
§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

O objeto jurídico protegido é a proteção da Administração Pública, especificamente a Previdência


Social. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa enquanto o sujeito passivo é o Estado. O elemento
subjetivo é o dolo de suprimir ou reduzir o pagamento das contribuições previdenciárias, com o
objetivo de fraudar a previdência social. Exige, portanto, o elemento especial do tipo (dolo
específico). Não basta apenas suprimir ou reduzir o pagamento, porque a dívida em si não configura
delito algum. É um crime material e sua consumação ocorre com a efetiva supressão ou redução da
contribuição previdenciária. Também, admite-se a forma tentada.

Na primeira conduta, o agente deixa de incluir empregado na folha de pagamento da empresa,


gerando supressão ou redução da contribuição previdenciária devida. Na segunda conduta, o agente
deixa de lançar mensalmente na contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados
ou as devidas pelo empregador. Na terceira, omite as receitas ou os lucros auferidos, remunerações
pagas e demais fatos geradores das contribuições previdenciárias.
.

79
É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa contribuições,
importâncias ou valores e presta informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei
ou regulamento, antes do início da ação fiscal

CUIDADO COM ESSA DIFERENÇA!


Extinção da punibilidade:

SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO APROPRIAÇÃO INDÉBITA


PREVIDENCIARIA (337-A) PREVIDENCIÁRIA (168-A)
O inadimplemento ocorre mediante uso de artifícios O inadimplemento ocorre sem necessidade de
fraudulentos, como, por exemplo, omissão de recurso a meios fraudulentos, direcionando-se
remunerações pagas na contabilidade da empresa; a vontade do agente para o não recolhimento
omissão, na folha de pagamento da empresa, do nome de da contribuição previdenciária do qual era
empregado, empresário, trabalhador avulso ou responsável.
trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe
prestem serviços.
Declarar + confessar Declarar + confessar + pagar

O STJ vem entendendo que o pagamento extingue a punibilidade no crime de sonegação


previdenciária, em qualquer fase do processo, mesmo após o recebimento da denúncia.

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