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Prezado produtor

A preservação da qualidade da água constitui, hoje, um dos principais desafios da


humanidade. Apesar da sua capacidade de renovação, o crescimento desordenado da
população e das atividades econômicas estão comprometendo a qualidade da água,
fazendo-se necessário reverter essa situação.
O problema se agrava no campo, pois, ao contrário das cidades que em sua maioria
dispõem de água tratada por empresas de saneamento básico no meio rural, esse
benefício ainda não chegou.
Estima-se que grande parte das fazendas leiteiras utiliza, em seu processo de produção,
fontes de água sem tratamento prévio, comprometendo a qualidade do leite e a própria
saúde dos animais.
A qualidade da água é necessária em todas as etapas de produção do leite. A começar
pela alimentação dos animais, limpeza dos tetos no ato da ordenha, lavagem e
desinfecção dos vasilhames e equipamentos de ordenha, além da higienização das
instalações.
Dependendo do volume de produção do leite, tipo de alimentação dos animais e clima,
uma vaca pode ingerir entre 40 litros e 120 litros de água/dia.
O tratamento da água no meio rural é fundamental para garantir a saúde de pessoas e
animais, contribuindo diretamente para a qualidade do leite e para a produção de
alimentos pela agroindústria.
Por isso, a água é o tema desta cartilha, que aborda desde a seleção da fonte até o seu
tratamento final, contrubuindo de forma decisiva para a preservação de nossos recursos
hídricos.
Cooperativa Central do Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda.
Qualidade da Água
Processos de captação e tratamento

1 - Importância da água

A água é um bem essencial à vida, necessária em todas as atividades da produção


animal, particularmente do leite e de seus derivados.

Para isso ela deve ser:

Límpida, arejada, livre de matéria orgânica, substâncias tóxicas e agentes causadores de


verminose, leptospirose, colibacilose, salmonelose, brucelose, tuberculose e outros.

1.1 Demanda de água na bovinocultura

Tipo de Consumo Consumo de água


Bebida 40 a 120 litros/animal adulto
Produção de leite 100 litros/vaca ordenhada
+
06 litros de água/litro de leite produzido
Limpeza de instalações 25 litros/m² de área de limpeza
Produção de queijo 5-6 litros/Kg queijo
Produção de leite pasteurizado 2 litros/litro de leite empacotado
Abate em frigorífico 1.500 litros/animal abatido

1.2 Disponibilidade de Água no Mundo

Águas superficiais e Águas do mar: 97,4%


subterrâneas: 0,62% Geleiras: 1,98%
Para preservar e proteger os mananciais de água doce é necessário:
tratar os resíduos da produção leiteira;
manejar adequadamente os animais, plantas e solos para não causar degradação
ambiental;
conservar as águas de chuva (maior
infiltração no solo).
A manutenção dos mananciais
depende da taxa de infiltração
das águas de chuva
nos solos
(fig. 1).

2 - Águas Superficiais

São formadas pelas águas de rios, córregos, lagoas, represas e açudes.


2.1 Vantagens

Atendimento, em geral, de grandes demandas;


facilidade na determinação da vazão anual;
autodepuração (interação entre fatores físicos, biológicos e químicos);
segurança no planejamento das atividades de produção animal, especialmente quanto ao
crescimento do rebanho e ao uso da irrigação para o plantio de grãos e forragens para a
alimentação animal.
Os rios e lagoas pertencentes à "classe especial" têm as margens protegidas por mata
ciliar, não recebem contaminação/poluição importante, possuem águas límpidas, contém
pouca matéria orgânica e são ricas em oxigênio. Mesmo assim é necessário que essas
águas recebam um tipo simplificado de tratamento (fotos 1 e 2)
2.2 Desvantagens

Necessidade de "tratamento" para eliminar a contaminação do ambiente.

Aumento da matéria orgânica, argila, areia,


folhas, resíduos de agrotóxicos/adubos, etc,
na época das chuvas (foto 3).

Possibilidade de surgimento do fenômeno de


"reversão de corrente", que produz efeito
contrário à autodepuração, com mistura
entre a água e a "lama" depositada no fundo
do manancial (morte de peixes).

Obs: As águas de "minas" ou nascentes


(minadouros, brejos), quando correm a céu
aberto, passam a ser consideradas águas
superficiais.

2.3 Captação de águas superficiais

Cuidados Básicos
a) Verificar se o manancial está protegido do ponto de vista ambiental.
b) Vistoriar a área de captação para avaliar se há riscos de degradação por
assoreamento, contaminantes, poluentes e agrotóxicos.
c) Fazer a captação um pouco afastada das margens e a alguns centímetros de
profundidade. Com esses cuidados evita-se o excesso de matéria orgânica presente nas
margens e na superfície.
d) Perfurar e revestir a extremidade do cano com uma tela fina.
e) Usar um recipiente perfurado (tambor), suspenso por uma bóia de isopor, para
impedir que o cano atinja o fundo do curso d'água (fig. 2).

2.4 Tratamento das águas superficiais


Objetivo
Promover a clarificação da água para remover a matéria orgânica e inorgânica e ganhar
maior eficiência na filtração e cloração.
Tipo de Tratamento
Abordaremos nessa cartilha o chamado "tratamento apropriado" que consta de
procedimentos relativamente simples, eficientes e de baixo custo. Por não incluir as fases
de coagulação/floculação química da água (tratamento clássico), torna-se fácil o seu
funcionamento e sua manutenção.
Fases do Tratamento Apropriado
Clarificação preliminar (1ª etapa)
Tratamento final: filtração e cloração (2ª etapa)
2.4.1 Clarificação preliminar (1ª etapa)
Consta de um conjunto de procedimentos simples que facilitam a inspeção do sistema e
a retirada de grande parte da matéria orgânica e suspensões presentes na água.
a) Caixas de passagem / telas / caixa de acumulação
As caixas de passagem ou de inspeção destinam-se a facilitar a observação quanto aos
problemas de entupimentos e vazamentos. Nesse ponto devem ser colocadas telaspara
remover corpos ou objetos flutuantes (folhas, madeiras, lodo) para que eles não
cheguem ao interior do sistema de tratamento.
A caixa de acumulação (manilha ou caixa de alvenaria) tem por finalidade facilitar o
processo de captação de água para o sistema (fig. 3).
Importante: Por ocasião de fortes chuvas deve-se fechar a entrada da água ao sistema
de tratamento até que ela se torne novamente límpida.

b) Caixas de Areia
Têm a função de remover da água os sólidos
em suspensão (areia, argila, folhas) e parte
da matéria orgânica. São semelhantes à
caixa de gordura para esgotamento
sanitário. Dependendo da turbidez da água
(matérias em suspensão), aconselha-se
construir uma ou mais caixas de areia, que
podem ser feitas de alvenaria (técnica ferro-
cimento) ou com manilhas de concreto pré-
fabricadas.
Para reduzir a velocidade da água na caixa
de areia utilizam-se anteparos de alvenaria
(figuras 4 e 5).
c) Decantação (tanque de decantação)
Consiste em deixar a água de repouso durante 3 a 4 horas para reduzir matéria orgânica,
areia, argila que, pelo seu peso, acumulam-se no fundo do depósito (fig. 6). Esse
fenômeno acontece na natureza, quando, após uma chuva pesada, as águas de rios e
represas se tornam barrentas e somente depois de um certo tempo (horas ou dias)
retomam a sua condição anterior. É necessário que a profundidade do tanque de
decantação seja de 2,5 a 4,5m. As demais medidas dependem da demanda de água
necessária.
A desvantagem do processo refere-se ao
custo elevado da construção.
No entanto ele pode ser substituído pelos
pré-filtros,
de menor custo.

d) Pré-filtração
Tem por objetivo reduzir as suspensões presentes nas águas superficiais por meio de um
pré-filtro construído por uma camada de brita zero ou cascalho rolado, que ocupa cerca
de 70% de sua capacidade, enquanto a água preenche o espaço restante. Não pode ser
considerado um filtro verdadeiro por não incluir a camada de areia. Pode ser construído
em alvenaria, pela técnica de ferro-cimento ou utilizar uma manilha pré-fabricada.
No fundo do pré-filtro devem ser colocados vários canos de PVC, com pequenas
perfurações para drenagem da água. É conveniente deixar uma saída na parte inferior
para facilitar o processo de limpeza
e uma saída na parte superior (ladrão).
Um pré-filtro com altura de 1 m e diâmetro
de
90 cm tem uma vazão em torno de 11 mil
litros
de água por dia (fig. 7)
2.4.2 Tratamento final: filtração e cloração (2ª etapa)
a) Filtração lenta em camada de areia
A água deve estar bem límpida quando chegar o momento de ser filtrada. A sua turbidez
não pode ser maior que 30 mg/L.
O filtro pode ser contruído em alvenaria (técnica ferro-cimento) ou utilizando duas ou
mais manilhas justapostas. É composto por camadas sucessivas (de baixo para cima) de
pedra partida ou brita 1, cascalho rolado ou brita zero, areia e lâmina de água, nas
medidas indicadas na figura 8.
A qualidade e o tipo de areia são os fatores mais importantes desse filtro. Caso não seja
possível fazer um teste laboratorial de granulometria(medida do tamanho efetivo e da
uniformidade da areia), deve-se escolher aquela que não apresenta impurezas,
contaminantes e poluentes. Geralmente a areia considerada ideal situa-se na faixa
intermediária entre a fina e a grossa.
Na superfície da camada de areia forma-se
uma membrana gelatinosa que desempenha
papel fundamental no mecanismo de
filtração.
Por isso a entrada da água no sistema deve
ser feita de forma lenta para impedir
a ruptura dessa membrana. Quando a vazão
do filtro diminuir basta retirar 2 a 3 cm da
camada superficial de areia para que ela
volte ao normal. Por isso, a entrada da água
no sistema, deve ser feita de forma lenta
para impedir a ruptura dessa membrana.

Cloração
A cloração representa a última etapa do processo de tratamento de água.
Para volumes de água a tratar superiores a 5 mil litros/dia, recomenda-se usar um
clorador por gotejamento ou ainda o clorador de pastilhas.

Para volumes menores, podem ser usados os cloradores pr difusão ou flutuadores do tipo
piscina, com pastilhas de cloro. Consulte o técnico para ajudá-lo a escolher o melhor tipo
de clorador.
Podem ser usados produtos à base de cloro líquidos (hipoclorito de sódio: solução a 10%
e água sanitária) e sólidos (hipoclorito de cálcio, HTH em pastilhas ou granulado, cal
clorada)
O nível de cloro livre deve estar entre 0,2 e 0,4 mg/L. Para medir o cloro final, utilize um
cloroscópio portátil disponível no comércio.
Quantidade de Cloro para tratar 1000 litros de água (1 mg/L de cloro aplicado)
Produtos à base de Cloro Dose / 1 m³ (1 ppm)
Hipoclorito de sódio: 30 a 50 mL
20 a 30% de Cl (líquido)
Água sanitária a 2% (líquido) 50 mL
Hipoclorito de cálcio a 10% (pó) 10 gramas
Cloro granulado a 65% (pó) 1,54 gramas
Cloro estabilizado em tabletes Seguir instrução do fabricante
(65% a 90% de cloro)

Determinação do Nível de cloro


Fig. Cloroscópio portátil
Exemplo: nível de cloro= 0,4 mg/L

Recapitulação: tratamento de água superficial


Compare os esquemas a e b de tratamento de água superficial
O esquema b não inclui a clarificação
preliminar, o que é desaconselhável,
pois a quantidade de matéria orgânica
provocaria rápida obstrução do filtro.

A matéria orgânica que passa pelo filtro


nessas condições poderá neutralizar
todo o cloro aplicado e formar
compostos considerados prejudiciais
à saúde (trihalometano).

3. Águas Subterrâneas (minas, poços rasos, poços artesianos)


3.1 Como elas se formam?

3.2
As águas de chuva penetram no solo e formam os lençóis freáticos ou livres quando
encontram uma camada impermeável. Já os lençóis confinados ou artesianos são
formados pelas águas de chuva que ficam retidas entre duas camadas impermeáveis de
rocha ou argila (fig. 11).

Vantagens
Gealmente são puras, porque elas vão sendo naturalmente filtradas quando penetram no
solo, livrando-se da matéria orgânica e de outros resíduos. Quando são bem captadas
não necessitam de outro tratamento auxiliar, podendo receber uma cloração residual de
0,2 mg/L.
Desvantagens
A vazão é muito variável, limitando assim o seu uso para diversas demandas da fazenda
leiteira. Muitos poluentes têm a propriedade de se infiltrarem no solo e atingir o lençol de
água. Em algumas regiões podem conter sais responsáveis pelo fenômeno da "dureza",
que provoca entupimento das canalizações e outros problemas.
3.2 Captação das águas subterrâneas
3.2.1 Poços rasos ( cisternas, cacimbas)
A captação é feita por meio de escavação manual até encontrar o lençol d´água. O poço
raso deve ser revestido totalmente com manilhas ou tijolos e coberto com tampa de
concreto, sem deixar fendas ou aberturas. É também indicado um reforço de concreto de
10 cm de espessura em torno das manilhas ou dos tijolos nos três metros iniciais da
escavação ou um anel de concreto com 1 metro de diâmetro em volta da abertura do
poço (figuras 12 e 13).
Concluída a construção, deve-se fazer uma desinfecção inicial da água do poço. Para
isso, use o cloro com uma dosagem mais elevada (100 ml de hipoclorito de sódio a 10%
ou 3,0 gramas de hipoclorito de cálcio a 30%, para cada 1000 litros de água a tratar) por
um período de 12 horas.
A água deverá ser bombeada até a caixa central. Cerca de 10 dias após essa desinfecção
inicial, recomenda-se fazer o exame laboratorial para atestar a potabilidade da água.
3.2.2 Poços artesianos
São lençóis situados a grandes profundidades e que estão localizados entre duas
camadas impermeáveis de rocha.
Geralmente essas águas são mais seguras do ponto de vista de qualidade, porque os
lençóis estão situados a maiores profundidades, e pelo fato de serem captados por meio
de um tipo de canalização mais segura contra contaminações. Mesmo assim, em relação
aos poços artesianos, devem ser tomados cuidados quanto ao risco de contaminação do
lençol.
Lembre-se: Poços rasos e artesianos perfurados em terrenos com excesso de matéria
orgânica (currais, esterqueiras, lagoas de tratamento de dejetos animais) ou de adubo
(horta ou pomar) podem apresentar nitratos e nitritos.
3.2.3 Nascentes ou "minas"
O conhecimento popular considera que a água da mina é sinônimo de água pura.
Geralmente esse conceito é válido, desde que a nascente esteja protegida quanto aos
riscos de contaminação e que tenha uma profundidade adequada para permitir um bom
processo de filtração pelo solo. É relativamente comum a formação de "lodo vermelho"
nas caixas e canalizações pela presença de ferro e manganês, o que exige uma limpeza
mais freqüente, apesar de ele não ser prejudicial à saúde.

Nascentes "de encosta" Nascentes "difusas"


Próprias de terrenos inclinados Próprias de terrenos Úmidos
São drenadas por meio de São drenadas, a céu aberto,
canos perfurados, colocados por canais secundários até o
no "olho da mina" (fig. 14) canal principal ou por valetas
com canos perfurados
(figuras 15 e 16).
Para diminuir a erosão do terreno, os canais podem conter uma camada de cascalho
rolado ou brita.

Valetas de drenagem de nascentes difusas


As valetas podem ser feitas com 30 a 40 cm de profundidade e 15 a 20 cm de largura,
onde se coloca um tubo de PVC de 100 mm de diâmetro, com perfurações laterais,
intervaladas de 10 a 15 cm.
Em torno dessa canalização coloca-se brita 1 ou cascalho rolado, na seqüência cobre-se
com lona preta e finalmente, com a terra que foi tirada do local da escavação.
Pode ser utilizado material alternativo como bambu, cascalho rolado, capim seco ou feno.
É o mesmo sistema utilizado para drenagem de várzeas. A água é conduzida para uma
caixa de acumulação (fig. 16).
Lembre-se
Quando a nascente situa-se em local inacessível e está protegida pela vegetação densa,
mas é captada após a água escorrer pelo terreno, torna-se necessário o tratamento
dessa água.
4 - Águas de Chuva
Vantagens e Desvantagens
Geralmente são águas de boa qualidade do ponto de vista bacteriológico e físico-químico,
relativamente fáceis de serem captadas e representam uma alternativa em regiões de
clima árido e semi-árido.
Os aspectos negativos referem-se principalmente ao custo das instalações para sua
captação e armazenamento, ao pH ácido e à incorporação da poluição atmosférica em
locais de intensa atividade industrial ("chuva ácida").
Podem ser utilizadas todas as superfícies impermeáveis existentes na propriedade para
recolher as águas de chuva, a exemplo de telhados de moradias, galpões e áreas como
terraços, pátios, etc. É recomendável eliminar as primeiras chuvas para limpeza
preliminar das superfícies de captação. Em seguida elas podem ser filtradas, cloradas e
armazenadas em depósitos bem vedados (fig. 17).
O custo dos depósitos para armazenagem das águas de chuva é reduzido quando são
revestidos com lonas plásticas utilizadas para cobrir silos. Pode ser usada ainda a técnica
do ferro-cimento.
Para fins de simplificação de cálculo cada mm de chuva que cai em uma superfície de 1
m² corresponde a 1 litro de água acumulada.

Consultoria Técnica:
Francisco Cecílio Viana

Textos, Roteiro e Fotos


Francisco Cecílio Viana

Projeto Gráfico
Phernandel

Arte-Final e Ilustrações
Phernandel
Hugo Leonardo Góes

Revisão
Francisco Ferreira Sobrinho
Alexnaldo Alves Dias
Elder José de Mello Bruno
Maria José Motta Viana
Alternativa Comunicação e Marketing

Os direitos autorais deste projeto pertencem à CCPR-MG.


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