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ENGENHARIA UNISANTA – MÓDULO Nº1 – QUÍMICA TECNOLÓGICA

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA) E BALANÇO MATERIAL EM ETA

I - ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETA)

A água na natureza

A água é o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva: no homem, mais de 60% do seu
peso é constituído por água, e, em certos animais aquáticos, essa percentagem sobe para 98%. A água
é imprescindível para a manutenção da vida, razão pela qual é importante saber como ela se distribui
no planeta e como ela circula de um meio para outro.

A água acolhe quase 4/5 da superfície terrestre; desse total, 97% referem-se aos mares e os 3%
restantes às águas doces. Dentre as águas doces, 2,7% são constituídas por geleiras, vapor de água
e lençóis existentes em grandes profundidades (mais de 800m), não sendo economicamente viável seu
aproveitamento para o consumo humano.

Em decorrência disso, somente 0,3% do volume total de água do planeta pode ser aproveitado para
nosso consumo, sendo 0,01% encontrada em fontes de superfície (rios e lagos) e o restante, ou seja,
0,29%, em fontes subterrâneas (poços ou nascentes).

Há séculos a água subterrânea vem sendo acumulada no subsolo e apenas uma fração desprezível é
acrescentada anualmente através de chuvas ou retirada pelo homem. Em contrapartida, a água dos
rios é renovada cerca de 31 vezes, anualmente.

Ciclo hidrológico

O Ciclo da Água ou Ciclo Hidrológico, é o contínuo movimento da água em nosso planeta. É a


representação do comportamento da água no globo terrestre, incluindo: ocorrência, transformação,
movimentação e relações com a vida humana. É um verdadeiro retrato dos vários caminhos da água
em interação com os demais recursos naturais. A seguir destaca-se os Mecanismos de transferência
da água:

a) precipitação: compreende toda a água que cai da atmosfera na superfície da Terra, nas formas
de chuva, neve, granizo e orvalho;
b) escoamento superficial: quando a precipitação atinge a superfície ela tem dois caminhos por
onde seguir: escoar pela superfície ou infiltrar no solo. O escoamento superficial é responsável
pelo deslocamento da água sobre o solo, formando córregos, lagos e rios e, eventualmente,
chegando ao mar;
c) infiltração: corresponde à porção de água que, ao chegar à superfície, infiltra-se no solo,
formando os lençóis d’água;
d) evaporação: transferência da água superficial do estado líquido para o gasoso; a evaporação
depende da temperatura e da umidade relativa do ar;
e) transpiração: as plantas retiram a água do solo pelas raízes; a água é transferida para as folhas
e, então, evapora.

Figura 1: Representação do ciclo hidrológico (Fonte: SAMAE, 2017).


Sistema de abastecimento de água

Inclui o conjunto de obras, instalações e serviços que tem a finalidade de produzir e a distribuir água a
uma comunidade, em quantidade e qualidade compatíveis com as necessidades de população, para
fins de consumo doméstico, serviços, consumo industrial, entre outros usos. Esse sistema é constituído
pelas seguintes etapas: captação, adução de água bruta, tratamento, reservação, distribuição da água
tratada, medição/fornecimento ao usuário.

1) Captação e Adução de Água Bruta

- Captação: é o conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou montados junto a um manancial


com o objetivo de criar condições para que dali seja retirada água em quantidade capaz de atender ao
consumo. Há duas principais formas: captação de águas subterrâneas e captação de águas
superficiais. A primeira se dá através de poços rasos, profundos, tubulares ou escavados. Já as
captações superficiais recolhem água de mananciais de superfície como rios, lagos, barragens, sendo
que a captação pode ser: direta, por barragem de nível, por canal de regularização, por canal de
derivação, por torre de tomada, por poço de derivação e por reservatório de regularização.

- Adução de Água Bruta: é o conjunto de canalizações e equipamentos destinados a conduzir água


desde o ponto de captação até a unidade de tratamento.

2) Tratamento de Água

Conjunto de processos físicos e químicos destinados a transformar água bruta, in natura, em água
potável, adequando-a ao consumo humano e atendendo aos padrões legais de potabilidade.

Conceitos Básicos

- Água Bruta - é a água in natura retirada de rio, lago, lençol subterrâneo ou outro manancial, possuindo,
cada uma, determinada qualidade.

- Água Tratada - é a água que, após a captação, sofre transformações através dos processos de
tratamento, vindo a se adequar aos usos a que está prevista.

- Água Potável - é a água adequada ao consumo humano, e que, portanto, pode ser ingerida com
segurança pela população. Assim sendo, deve apresentar características físicas, químicas, biológicas
e organolépticas em conformidade com a legislação específica (Padrões de Potabilidade).

Água potável, água pura e água limpa não são a mesma coisa. Água pura, isto é, sem nenhuma
substância dissolvida, só pode ser “fabricada” em laboratório através de processos de destilação. Já
na água potável são permitidos, sendo até necessária, a presença de algumas substâncias químicas
dissolvidas (sais minerais, por exemplo), só que em concentrações limitadas, obedecendo sempre à
legislação. No tocante a água que chamamos de limpa, por sua aparência cristalina, não pode, por si
só, ser considerada potável, uma vez que dentro dela podem existir muitos microorganismos, invisíveis
a olho nu, que podem causar doenças.

Parâmetros físicos, químicos e biológicos considerados no tratamento de água

As análises feitas na água tratada têm a finalidade de avaliar a eficiência do tratamento e os parâmetros
de potabilidade exigidos. A seguir serão enumeradas as principais análises feitas nas águas bruta e
tratada.

a) Parâmetros Físicos

- Turbidez: a turbidez da água se deve à existência de partículas em suspensão, de diferentes


tamanhos e natureza química. Ex.: argila, compostos de origem vegetal, microorganismos. A turbidez
é medida em equipamentos chamados turbidímetros, e a unidade de medida é o UNT (unidade
nefelométrica de turbidez). A turbidez das águas brutas varia bastante, desde valores menores que
dez, em lagos, até milhares de unidades em rios bastante poluídos. A turbidez deve ser no máximo de
5 NTU (SABESP).

- Cor: na água bruta, a cor normalmente é causada por compostos orgânicos de origem vegetal. Alguns
destes compostos podem originar, quando submetidos à cloração, os chamados trihalometanos,
suspeitos de serem agentes cancerígenos. Por isto, a água tratada deve apresentar valores de cor
inferiores a 15 unidades de cor (SABESP). A cor pode ser dividida em cor real e cor aparente. Nas
estações de tratamento normalmente mede-se a cor aparente, em equipamentos chamados
colorímetros.

- Sabor e Odor: este parâmetro é de difícil avaliação, porquanto a análise de sabor e odor é bastante
subjetiva e depende das habilidades e treinamento dos analistas. Na água bruta, a presença de sabor
e odor se deve, predominantemente, a compostos orgânicos originados pela atividade metabólica de
algumas espécies de algas. O tratamento convencional não remove completamente estas substâncias,
sendo necessário, muitas vezes, a utilização de carvão ativado para remoção das mesmas.

- Temperatura: a temperatura tem influência em todas as etapas do tratamento, e, também, na


determinação de alguns parâmetros químicos, tais como pH e solubilidade de gases. Daí a importância
do monitoramento da mesma nas águas bruta e tratada.

b) Parâmetros Químicos

- Cloretos: o íon cloreto (Cl-) presente em águas superficiais pouco poluídas e distantes do litoral,
normalmente é originário da dissolução de minerais. Concentrações elevadas de cloretos interferem na
coagulação e conferem sabor salino à água. No caso da água tratada, altas concentrações de cloretos
aceleram os processos de corrosão em tubos metálicos.

- Ferro e Manganês: o ferro e o manganês são encontrados mais comumente em águas subterrâneas.
Entretanto, podem ocorrer em águas superficiais (represas), associados a bicarbonatos e matéria
orgânica. A presença de ferro e manganês na água tratada pode ocasionar o surgimento de manchas
em roupas e louças e, em concentrações altas, conferir à água um sabor amargo adstringente. Estes
metais normalmente são determinados por colorimetria ou por espectrofotometria de absorção atômica.

- Fluoretos: águas superficiais dificilmente contêm flúor. Contudo, o mesmo é adicionado à água
tratada, em concentrações de 0,6 a 0,9 mg/l, por medida de saúde pública, para auxiliar na prevenção
da cárie dentária.

- Alumínio: o alumínio é um dos elementos mais abundantes na natureza; está presente na constituição
da crosta terrestre, nos solos, nas plantas e nos tecidos animais. Além disto, compostos de alumínio
também são bastante utilizados na indústria e no tratamento da água (sulfato de alumínio). A análise
do alumínio na água tratada tem como objetivos o controle da eficiência do tratamento e o
monitoramento dos níveis deste metal na água, pois o alumínio, em concentrações acima do limite
estabelecido (0,2 mg/l), pode causar danos à saúde (neurotóxico).

- pH: a medida do pH indica a acidez ou basicidade de uma solução. A escala de pH é de 0 a 14. Assim,
soluções com pH abaixo de 7 são ditas ácidas e soluções com pH acima de 7 são ditas básicas. Os
valores de pH nas águas bruta e tratada sofrem influência da temperatura e da presença de gases e
sólidos dissolvidos. O controle do pH nas águas bruta e tratada é importante, pois o mesmo influencia
as etapas de coagulação e desinfecção. O pH geralmente é medido em equipamentos específicos para
este fim, através do método potenciométrico.

- Alcalinidade: a alcalinidade é definida como a capacidade da água em neutralizar ácidos. Pode ser
atribuída à presença de carbonatos e bicarbonatos provenientes da ação erosiva da água sobre os
solos e rochas. A alcalinidade influi no processo de coagulação, pois o sulfato de alumínio utilizado
como agente coagulante reage com estes compostos originando o hidróxido de alumínio. A alcalinidade
é medida através de titulação da amostra com ácido padronizado (concentração conhecida).
- Dureza: a dureza normalmente é devida à presença dos cátions Ca +2, Mg+2, sob a forma de
bicarbonatos e carbonatos. Águas com elevada dureza não produzem espuma e incrustam tubulações
de água quente e caldeiras. As águas subterrâneas costumam apresentar maior dureza que as águas
superficiais. A dureza é determinada através de titulação da amostra com EDTA.

- Oxigênio Dissolvido: o oxigênio presente na água provém, principalmente, da atmosfera e da


fotossíntese. Em amostras provenientes de rios e represas, valores baixos de oxigênio dissolvido
podem indicar contaminação por material orgânico, visto que, para decomposição da matéria orgânica,
as bactérias aeróbias consomem oxigênio. Níveis muito baixos de oxigênio dissolvido podem causar a
morte de peixes e outros seres aquáticos e o surgimento de odores desagradáveis.

- Cloro Residual: na maioria das estações de tratamento de água existentes no Brasil, o cloro é
adicionado à água filtrada com o objetivo de eliminar microorganismos patogênicos que possam estar
presentes na mesma. Desta forma, este composto deve estar sempre presente em amostras de água
tratada provenientes da estação de tratamento ou da rede distribuidora.

c) Parâmetros Bacteriológicos

As principais doenças ligadas à água são causadas por bactérias e vírus. Estes microorganismos não
se encontram usualmente no ambiente aquático e sua presença é devida à contaminação do mesmo
por fezes de humanos contaminados. Assim sendo, a possibilidade da existência destes
microorganismos patogênicos na água é determinada, de forma indireta, pelas análises de coliformes
totais e Escherichia coli. Estas bactérias existem em grande quantidade no intestino humano e são
eliminadas pelas fezes, de modo que sua ocorrência na água bruta demonstra que a mesma pode ter
sido contaminada por fezes de humanos infectados. Assim, as bactérias do grupo coliforme são
indicadoras da possibilidade de contaminação da água por agentes patogênicos.

Tratamento convencional de água

Esquema simplificado de uma estação de tratamento de água

Figura 1: Fluxograma simplificado – ETA (Fonte: SABESP, 20-).

Etapas na ETA:

1) Represa: de onde é retirada a água bruta que passará por tratamento para se tornar potável;
2) Captação e bombeamento: Após a captação, a água é bombeada para as Estações de Tratamento
de Água. Depois de bombeada, a água passará por um processo de tratamento, passando por diversas
etapas explicadas a seguir;

3) Câmara de mistura rápida: operação destinada a dispersar produtos químicos na água tratada, em
particular no processo de coagulação. O tempo de detenção na câmara pode ir de 10 a 90 segundos,
sendo mais comum entre 10 a 30 segundos. Isso vai depender do dimensionamento da câmara.

Pré cloração: Adição de cloro assim que a água chega à estação para facilitar a retirada de matéria
orgânica e metais. O cloro pode ser adicionado na forma de gás cloro, Cl 2 ou de sais como hipoclorito
de sódio, NaClO;

Pré-alcalinização: Adição de cal ou soda à água para ajustar o pH aos valores exigidos para as fases
seguintes do tratamento.

Coagulação: A coagulação é empregada para a remoção de material em suspensão ou coloidal. Os


colóides são apresentados por partículas que tem uma faixa de tamanho de 1 nm (10 -7m) a
0,1 nm (10-8m), e causam cor e turbidez. As partículas coloidais não sedimentam e não podem ser
removidas por processos de tratamento físicos convencionais.

A matéria particulada na água residuária é na maior parte orgânica. As condições de mistura e de


floculação para a agregação de colóides orgânicos serão diferentes daquelas empregadas para
colóides inorgânicos: as superfícies hidrofílicas destas partículas orgânicas reagem diferentemente à
adição de coagulante. Em geral, coagulante é o produto químico que é adicionado para desestabilizar
as partículas coloidais de modo que possa formar o floco. Em geral são utilizados sais de alumínio
como o sulfato de alumínio e cloreto de ferro III.

A coagulação é o processo de desestabilização das partículas coloidais de modo que o crescimento da


partícula possa ocorrer em consequência das colisões entre partículas. O papel do coagulante aqui é
desestabilizar a suspensão coloidal reduzindo todas as forças atrativas, desse modo abaixando a
barreira de energia e permitindo as partículas de se agregarem.

A adição de sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outro coagulante, seguido de uma agitação violenta
da água provoca a desestabilização elétrica das partículas de sujeira, facilitando sua agregação. No
processo a adição de sulfato de alumínio ou sulfato ferroso, entre outros, ocorre através de mistura
rápida, provocando a coagulação, formando compostos químicos. Esses compostos, formados através
de choques com as partículas de impurezas, são por elas absorvidos e provocam desequilíbrio das
cargas elétricas superficiais, o que irá propiciar a posterior união destas partículas na etapa seguinte.
Os hidróxidos gelatinosos, Al(OH)3, insolúveis formados vão encapsular as partículas suspensas na
água.

As dosagens dos coagulantes variam em grande escala para maximizar a eficiência de remoção dos
poluentes, usando doses mínimas no pH ótimo.

As condições ótimas para a coagulação podem ser determinadas fazendo- se o Jar Test. Estes testes
podem ser usados para estabelecer o melhor tipo e a melhor concentração do coagulante, as condições
apropriadas de mistura e as taxas de sedimentação floculenta para melhor remoção orgânica e/ou da
toxicidade.

Tipos de Coagulantes e suas propriedades

O coagulante mais popular em tratamento de águas residuárias é o sulfato de alumínio,


Al2(SO4)3.18H2O. Quando é adicionado na água em condições alcalinas acontece a seguinte reação:

Al2(SO4)3 + 18H2O + 3Ca(OH)2 → 3CaSO4 + 2Al(OH)3 + 18H2O


Para valores elevados da dosagem de sulfato de alumínio (geralmente superiores a 30 g/L) e de pH
entre, aproximadamente, 6 e 8, há formação do precipitado Al(OH) 3, porém, quando o pH é inferior a
cerca de 5,7, pode haver formação e predominância de espécies poliméricas do tipo Al 13O4(OH)27.

Figura 2: Imagem câmara de mistura rápida (Fonte: CARVALHO, 2010)

Estabilidade Eletrostática

Na água, a maior parte das partículas e moléculas de substâncias húmicas possui superfície carregada
eletricamente, usualmente negativa. Uma representação esquemática de uma partícula coloidal
negativa com uma nuvem de íons ao redor da mesma é ilustrada na figura 3.

Como a superfície da partícula é negativa há um acúmulo de íons positivos na região da interface


formando, juntamente com a carga negativa da partícula, a Dupla Camada Elétrica, também
denominada de Camada Compacta. Íons negativos aproximam-se da camada compacta e atraindo
íons positivos, resultando a Camada Difusa, que engloba a primeira; na realidade, a camada difusa
resulta da atração de íons positivos, repulsão eletrostática de íons negativos (com mesma carga da
partícula) e difusão térmica. Tem-se, portanto, uma concentração elevada de íons positivos próximos
à superfície do colóide, também denominada Camada de Stern, a partir da qual se forma a camada
difusa, na qual a concentração de íons é menor. O potencial elétrico criado pela presença do colóide
na água diminui com a distância, a partir da superfície do mesmo, onde é máximo e denominado
Potencial de Nernst. Há uma distância mínima entre a superfície do colóide e os íons de carga contrária
(positivos), no qual o potencial elétrico decresce linearmente, em seguida a diminuição resulta
exponencialmente passando pela fronteira entre a camada compacta e a difusa, local em que o
potencial elétrico é designado Potencial Zeta (DI BERNARDO, 1993)
Figura 3: Esquema ilustrativo da aglomeração de íons na superfície de uma partícula. (Fonte:
FERREIRA, 2003)

4) Floculação: Nos floculadores ocorre a mistura lenta dos compostos químicos, já misturados
anteriormente, que vão reagir com a alcalinidade da água formando compostos que tenham a
propriedade da adsorção, que é a capacidade de atrair partículas com cargas elétricas contrárias.
Essas partículas são chamadas de flocos e têm cargas elétricas superficialmente positivas, enquanto
que as impurezas presentes na água, como as matérias suspensas, as coloidais, alguns sais
dissolvidos e bactérias, têm carga elétrica negativa, sendo assim retidas pelos flocos.

Floculante é o produto químico, geralmente orgânico, adicionado para acentuar o processo de


floculação. A maioria dos floculantes usados consiste em polieletrólitos tais como derivados de
poliacrilamida e de poliestireno.

É aqui, no compartimento da floculação, que se inicia a formação dos flocos, que irão crescendo (em
tamanho) à medida que se dirigem para o decantador. As partículas de sujeira desestabilizadas pela
coagulação colidem umas com as outras e vão se unindo, formando flocos maiores.

O período de detenção nos floculadores é de 10 a 50 minutos, sendo mais usual entre 10 a 20 minutos.
A velocidade das pás ou palhetas é relativamente baixa, variando de 1 a 8 rpm.

Figura 3: Floculadores (Fonte: www.naturezabrasileira.com.br)


5) Decantação: é o fenômeno pelo qual os flocos do coagulante, que já agregaram a si as impurezas,
começam o processo de sedimentação e consequente clarificação da água. Esse fenômeno acontece
porque os flocos, que são mais pesados do que a água e devido à baixa velocidade da mesma na
grande área do decantador, afundam pela ação gravitacional, ficando depositados no fundo do tanque,
deixando a água superficial mais clara, ao longo do fluxo, e adequada a seguir escoando para a próxima
etapa.

Diminuindo-se ou anulando-se a velocidade de escoamento das águas os efeitos da turbulência


passam a ser reduzidos e as partículas passam a se depositar. Nos decantadores busca-se obter um
movimento tranquilo e com isso neutralizam-se os efeitos da turbulência, permitindo a separação
dinâmica dos sedimentos existentes na água. As velocidades de fluxo da água nos decantadores são
muito pequenas, sendo usualmente ≤ 1,25 cm/s.

Figura 4: Tanques de decantação (Fonte: COMUSA, 20-).

Os tempos de detenção nos tanques de decantação podem variar de 1,5 a 3 horas, mas usualmente é
de 2 a 2,5 horas. O Período de detenção, conceitualmente, é o tempo que o decantador leva para ser
cheio com a vazão de funcionamento para ele estabelecida.

6) Filtração: A maioria das partículas ficou retida no decantador, porém uma parte persiste em
suspensão; e é para remover essa parte que se procede à filtração. Hidraulicamente, faz-se a água
traspassar uma camada filtrante, constituída por um leito arenoso e carvão, com granulometria
predimensionada, sustentada por uma camada de cascalho, de modo que as impurezas, as partículas,
a maioria das bactérias, entre outros, fiquem retidos e a água filtrada seja límpida.

Nesta fase, a água passa por várias camadas filtrantes onde ocorre a retenção dos flocos menores que
não ficaram na decantação. A água então fica livre das impurezas. Estas quatro etapas: coagulação,
floculação, decantação e filtração recebem o nome de clarificação. Nesta fase, todas as partículas
de impurezas são removidas deixando a água límpida. Mas ainda não está pronta para ser usada. Para
garantir a qualidade da água, após a clarificação é feita a desinfecção.

Figura 5: Representação dos elementos filtrantes na filtração da água (Fonte: SAMAE, 20-).
7) Desinfecção: a filtração bem executada elimina as partículas e quase todas as bactérias; entretanto,
as bactérias têm que ser totalmente eliminadas. Para isso, recorre-se à desinfecção, que é feita pela
adição de produtos químicos, dos quais o mais usado é o cloro. A cloração, como é chamada, é feita
através de dosadores que aplicam compostos de cloro à água, desinfectando-a.

Pós-alcalinização: Dependendo do pH usualmente adiciona-se um alcalinizante que pode ser água


de cal, solução de hidróxido de cálcio em suspensão. A correção do pH final da água evita a corrosão
e a formação de incrustações em tubulações, tanques, bombas e outros.

Fluoretação: adição de compostos de flúor à água em tratamento, como medida de saúde pública,
visando à diminuição da incidência de cárie dentária. Dentre os produtos químicos utilizados para este
fim, destacam-se o fluorsilicato de sódio e o ácido fluorsilícico.

As substâncias são adicionadas diretamente na tubulação que transporta a água na seguinte ordem:
cloro para desinfecção, água de cal para correção do pH e flúor para a fluoretação.

Os produtos adicionados a água na etapa sete ficam durante cerca de 45 minutos num tanque de
contato para que ocorram as reações desejadas. Esse tempo pode variar de uma ETA para outra.

II - BALANÇO MATERIAL EM ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA - ETA

Após as análises laboratoriais feitas nas ETAs ficam definidas as dosagens de produtos químicos que
devem ser usadas no adequado tratamento da água. Define-se, por exemplo, as dosagens de sulfato
de alumínio para coagulação, cal para floculação, cal para correção de pH e cloro para a desinfecção.

O sulfato de alumínio e a cal são comercializados em sacos e o cloro, por ser um gás nas condições
ambiente, em cilindros, caso opte-se por usar cloro gasoso no tratamento. As dosagens de produtos
químicos são dadas como concentração em partes por milhão.

Concentração expressa em partes por milhão (ppm)

Em alguns casos, a massa de soluto presente na solução é extremamente pequena, sendo inviável
calcular a porcentagem. A fórmula para este cálculo é a seguinte:

1ppm = 1 parte de soluto/ 106 partes do meio

Nas ETAs as quantidades de produtos químicos são pequenas em relação à quantidade de água
tratada (meio considerado nos cálculos), por isso é mais adequado se trabalhar com concentrações
expressas em ppm para as dosagens de produtos químicos.

Formas de expressar ppm considerando diferentes unidades de massa:

X ppm = X g de soluto / 106 g de água

X ppm = X Kg de soluto/ 106 kg de água

X ppm = X mg de soluto/ 106 mg de água

Formas de exprimir concentração em ppm considerando unidades de volume:

X ppm = X L do soluto/ 1000 m3 de água

X ppm = X mL do soluto / 1 m3 de água

X ppm = X μLdo soluto / 1 L de água

X ppm = X mL do soluto / 1000 L de água


Como a densidade da água é de 1g/mL ou 1 Kg/L, podemos expressar a concentração em ppm
também das seguintes formas:

X ppm = X mg de soluto / L de água (relação mais usada em laboratório)

X ppm = X Kg de soluto /103 m3 de água (relação mais usada em balanço material de ETAs)

X ppm = X g de soluto / m3 de água

Lista de Exercícios – Balanço material em ETA

1) Considerando uma dosagem de 14,5 ppm de sulfato de alumínio necessária para o tratamento de
água numa ETA. Determine a massa de sulfato em kg que deve ser utilizada para tratar 200 m 3 de
água.

2) Determine a dosagem de cal necessária para tratar 5m3 de água numa ETA em que a massa de cal
usada para tratar essa quantidade de água é de 100g.

3) A vazão de uma ETA é 654 L/seg. Qual a quantidade em Kg de cal deve ser empregada diariamente
para se obter uma dosagem 2,5 ppm?

4) Consomem-se 4,5 Kg de Cl2/dia para desinfetar 40 milhões de litros de água numa ETA. Qual a
dosagem de cloro em ppm?

5) De projeto, uma ETA trata 80.000 m3 de água bruta por dia. As dosagens de produtos químicos
usadas são: 13,6 ppm de sulfato de alumínio, 6,1 ppm de cal de floculação, 4,4 ppm de cal para acerto
final de pH e 3,2 ppm de cloro para desinfecção. Considerar que os produtos químicos só chegam 75
dias após o pedido de compra ser feito. As embalagens de produtos químicos são comercializadas em
sacos de alumínio de 60 Kg, sacos de cal de 30 Kg e cilindros de cloro de 68 Kg. Pede-se:

a) consumo diário de produtos químicos

b) consumo mensal de produtos químicos

c) estoque mínimo necessário de produtos para manter a ETA operando.

6) Uma ETA foi projetada para tratar 7600 m3 de água bruta por dia. Os dados operacionais dessa ETA
são fornecidos a seguir.

Dosagem média de produtos químicos:

Sulfato de Alumínio: dSA = 17 ppm

Cal de Floculação: dCF = 5,3 ppm

Cal para Correção final de pH: dCC = 8,2 ppm

Cloro para Desinfecção: dCl = 1,6 ppm

Embalagens de produtos:

Sulfato de alumínio: sacos de 60 Kg

Cal: sacos de 30 Kg

Cloro: cilindros de 68 kg

Pede-se:

a) qual a massa de sulfato de alumínio necessária para tratar 8 m3 de água?


b) Quantos sacos de cal são consumidos em 90 dias de tratamento?

c) Quanto tempo levará para se consumir 4 cilindros de cloro no tratamento?

d) Qual o consumo diário de produtos químicos?

e) Quanto tempo a ETA pode operar com estoque de produtos de: 45 sacos de sulfato de alumínio; 6
cilindros de cloro e 38 sacos de cal. Qual é o produto limitante? Justifique sua resposta.

7) Uma ETA foi projetada para tratar 55000 m3 de água bruta por dia. Devido às condições de variação
populacional, que influenciam na demanda por água tratada, está operando 18 horas por dia.
Considerar que os produtos químicos só chegam 30 dias após o pedido ser feito. Os dados
operacionais dessa ETA são fornecidos a seguir.

Dosagem média de produtos químicos:

Sulfato de Alumínio: dSA = 21 ppm

Cal de Floculação: dCF = 7,5 ppm

Cal para Correção final de pH: dCC = 5,5 ppm

Cloro para Desinfecção: dCl = 2,5 ppm

Embalagens de produtos:

Sulfato de alumínio: sacos de 60 Kg

Cal: sacos de 30 Kg

Cloro: cilindros de 68 kg

Pede-se:

a) O consumo diário dos produtos químicos necessários ao tratamento.

b) O consumo mensal dos produtos químicos necessários ao tratamento.

c) o estoque mínimo de produtos químicos que a ETA deve obedecer.

8) De projeto, uma ETA trata 250.000 m3 de água bruta por dia e, devido às condições de variação
populacional, está operando 12 horas por dia. Os dados operacionais dessa ETA são fornecidos a
seguir.

Dosagem média de produtos químicos:

Sulfato de Alumínio: dSA = 24 ppm

Cal de Floculação: dCF = 6,3 ppm

Cal para Correção final de pH: dCC = 4,2 ppm

Cloro para Desinfecção: dCl = 2,3 ppm

Embalagens de produtos:

Sulfato de alumínio: sacos de 60 Kg

Cal: sacos de 30 Kg

Cloro: cilindros de 68 kg
Pede-se:

a) Consumo mensal de produtos químicos.


b) Estoque de produtos químicos para manter a ETA operando por 55 dias.
c) Considerando o estoque de: 98 sacos de alumínio, 4000 kg de cal e 23 cilindros de cloro, por
quanto a ETA poderá operar com regularidade. Justifique sua resposta.
Referências

ANDRADE, J. B. Notas de Aula – Saneamento básico – Sistema de abastecimento de água. Goiás:


UCG, 2013. Disponível em: <https://rmdaveiga.files.wordpress.com/2011/01/sb-agua-ucg.pdf>. Acesso
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<https://pt.slideshare.net/neoson/aula-06-tecnicas-de-tratamento-parte-2-0109>. Acesso em 07 de
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COMUSA. Tratamento de água. Disponível em:

<http://www.comusa.rs.gov.br/index.php/saneamento/tratamentoagua>. Acesso em 08 de julho de


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DI BERNARDO, L., Métodos e técnicas de tratamento de água. v.1, Rio de Janeiro: Abes, 1993.

DOS SANTOS, G. R. Estudo de clarificação de água de abastecimento público e otimização da estação


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