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Brasil/Moçambique - 2023
Introdução
As práticas docentes desenvolvidas em espaços carcerários são contextos férteis para
refletirmos a respeito da criação curricular cotidiana, superando as circunstâncias locais para
reinvenção do texto prescrito e normativo do currículo oficial a sua realidade. Como objetivo,
esse estudo visa realizar reflexões a respeito da artesania curricular esboçada no processo de
tessitura do cotidiano do trabalho docente em contexto carcerário, observando a relação da
Educação prisional com o currículo a partir do processo de produção de currículo, para tal, os
métodos empregados nesse estudo foram a revisão bibliográfica pautada em uma abordagem
qualitativa, observando ainda as normativas que regem o trabalho docente em espaços
carcerários.
Sendo fruto das imbricações apresentadas entre os temas desenvolvidos em pesquisas de
mestrados realizada pelos autores, a presente pesquisa justifica-se a partir da necessidade de se
analisar os movimentos de adaptação curricular que os profissionais docentes realizam em
ambientes carcerários, propiciando a criação curricular cotidiana em espaços de oferta
educacional não escolar.
1
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Acre, graduada
em Pedagogia (UFAC), Especialista em Execução Penal do Instituto de Administração Penitenciária do Estado do
Acre. E-mail: willianesousa_ac@yahoo.com.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6220089017973204. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-5877-084X.
2
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-UFAC, Graduado em História
Licenciatura pela Universidade Federal do Acre (UFAC), graduando em Letras Inglês (UFAC). Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7905615014357009. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7249-8993.
3
Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-UFAC, Graduada em Pedagogia pela
Universidade Federal do Acre (UFAC). Lattes: http://lattes.cnpq.br/7940718231516334.
I Simpósio Internacional Multidisciplinar das Humanidades
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Desenvolvimento
O campo do cotidiano nos permite estabelecer reflexões quanto ao processo de tessitura
da realidade em que vivenciamos, estando em movimento duplo; ao passo que estamos imersos
em determinados contextos, somos influenciados por ele, mas também construímos meios para
que nossas práticas sejam legitimadas dentro dele. Assim se faz no trabalho docente, capaz de
realizar artesanias curriculares em ambientes diversos, como o cárcere, objeto de nosso estudo,
caracterizado aqui como áridopotente por apresentar possibilidades aos profissionais.
A Resolução n. 2/2010 apresenta as diretrizes nacionais para a oferta de educação de
jovens e adultos em situação de privação de liberdade, sendo considerada um marco na área de
políticas públicas para a educação nas prisões. Tal Resolução expõe que a educação nas prisões
deve “atender às especificidades dos diferentes níveis e modalidades de educação e ensino”
(BRASIL,2010), que a educação profissional deve ser ofertada nos estabelecimentos penais,
seguindo as Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Educação, dentre outras considerações para garantir a oferta da educação nesses espaços.
Observa-se, no entanto, que a Resolução n. 2/2010 não apresenta uma definição de
currículo específico para a educação no sistema prisional. Os conteúdos curriculares estão
pautados na organização curricular da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a mesma ofertada
para na educação regular. Ora, considerando o cenário e demais especificidades e
particularidades dos alunos que se encontram privados de liberdade, entende-se que a educação
nas prisões deveria ser pensada para atender os objetivos desse público, qual seja, “o de ajudar o
ser humano privado de liberdade a desenvolver habilidades e capacidades para estar em melhores
condições de disputar as oportunidades socialmente criadas” (SILVA; MOREIRA, 2011, p. 3).
Diante da ausência de um currículo específico para a educação no âmbito prisional e da
complexidade de atuar nesses espaços, o docente exerce suas atividades pedagógicas sem uma
formação específica que ofereça mecanismos capazes de auxiliá-lo no enfrentamento dos
desafios cotidianos para a realização do trabalho docente no cárcere. Sobre isso, Sanches e
Machado (2022, p. 5) ponderam que:
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Conclusões
O objetivo deste estudo foi realizar reflexões a respeito da artesania curricular no
cotidiano do trabalho docente em contexto prisional, levando em consideração a relação da
Educação prisional com o currículo, sobretudo, a necessidade da construção de um currículo
específico que atenda a singularidade do cárcere, a pluralidade dos sujeitos e as relações
existentes nesses espaços.
Incita-se refletir sobre um currículo específico para a educação prisional com objetivos
e metas voltados para a ressocialização da pessoa que se encontra privada de liberdade, bem
como, sobre a valorização do docente que exerce suas atividades pedagógicas nas unidades
prisionais. Incitar reflexões sobre a valorização profissional docente no sentido de ofertar
formação continuada específica, suporte para a realização das ações educativas e valorização
salarial, como estabelece a legislação. Ademais, é necessário refletir sobre até que ponto o direito
à educação no cárcere não passa de uma norma jurídica.
Referências bibliográficas
BRASIL. Resolução n. 2, de 19 de maio de 2010. Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a
oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais. Diário Oficial da União, Brasília, 2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=10028-
resolucao-3-2009-secadi&Itemid=30192. Acesso em: 27 fev. 2021.
CARVALHO, Odair França de. A Educação escolar prisional no Brasil: identidade, diretrizes
legais e currículo. Interfaces da Educ., Paranaíba, v.3, n.9, p.94-105, 2012. ISSN2177-7691.
RESENDE, Haroldo de. Currículo carcerário: práticas educativas na prisão. 27ª Reunião Anual
da Anped. GT12-Currículo. 2004. Disponível em:
https://www.anped.org.br/biblioteca/item/curriculo-carcerario-praticas-educativas-na-prisao.
Acesso em: 25 de setembro 2022.
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