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Chapecó/SC: o agronegócio, o setor terciário em expansão e a crescente


desigualdade socioespacial

Chapter · December 2016

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5 authors, including:

Alexandre Matiello Ana Laura Vianna Villela


Universidade Federal da Fronteira Sul Universidade Comunitária da Região de Chapecó
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Cristina Otsuschi
Universidade Federal da Fronteira Sul
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CIDADES EM TRANSIÇÃO
DOURADOS/MS: UMA CIDADE MÉDIA ENTRE OS PAPÉIS
AGENTES ECONÔMICOS E

DOURADOS E CHAPECÓ
REGIONAIS E A DINÂMICA GLOBALIZADA

Maria José Martinelli Silva Calixto


REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL
Mara Lucia Falconi da Hora Bernardelli

CHAPECÓ/SC: O AGRONEGÓCIO, O SETOR TERCIÁRIO EM


EXPANSÃO E A CRESCENTE DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL

Alexandre Maurício Matiello


Ana Laura Vianna Villela
DOURADOS E CHAPECÓ
Camila Fujita
Cristina Otsuschi
Rosa Salete Alba

Maria Encarnação Beltrão Sposito

Doralice Sátyro Maia

(Orgs.)

CIDADES EM TRANSIÇÃO
AGENTES ECONÔMICOS
E REESTRUTURAÇÃO
URBANA E REGIONAL

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MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO
DORALICE SÁTYRO MAIA
(Orgs.)

AGENTES ECONÔMICOS
E REESTRUTURAÇÃO
URBANA E REGIONAL
DOURADOS E CHAPECÓ

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© 2016 Cultura Acadêmica
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CIP – Brasil. Catalogação na publicação


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

A21
Agentes econômicos e reestruturação urbana e regional: Dourados e Chapecó /
organização Maria Encarnação Beltrão Sposito, Doralice Sátyro Maia. – 1.ed. – São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2016.
ISBN 978-85-7983-809-5
1. Urbanismo. 2. Geografia urbana. I. Sposito, Maria Encarnação Beltrão. II. Maia,
Doralice Sátyro.
16-37392 CDD: 711.4
CDU: 711.4

Editora afiliada:

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SUMÁRIO

Uma pesquisa em rede: as cidades médias em análise 7


Maria Encarnação Beltrão Sposito e Doralice Sátyro Maia

Dourados/MS: uma cidade média entre os papéis regionais e a


dinâmica globalizada 29
Maria José Martinelli Silva Calixto e Mara Lucia Falconi da Hora
Bernardelli
Introdução 33
1 Dourados/MS: processo histórico, formação socioespacial e
demográfica 39
2 As formas de produção e a fluidez material 65
3 Comércio e serviços 83
4 Consumo, áreas para realização de eventos e rede hoteleira 113
5 O aprofundamento das contradições e das desigualdades
socioespaciais 125
6 Os desdobramentos socioespaciais da produção do espaço em uma
cidade média entre os papéis regionais e a dinâmica globalizada 157
Referências bibliográficas 165

Chapecó/SC: o agronegócio, o setor terciário em expansão e a


crescente desigualdade socioespacial 171
Alexandre Maurício Matiello, Ana Laura Vianna Villela, Camila Fujita,
Cristina Otsuschi e Rosa Salete Alba

Introdução 175

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1 A cidade e seu papel na região hoje 181
2 Formação sócio-histórica e estruturação urbana e regional 193
3 A cidade e o agronegócio 199
4 A diversidade do comércio e a expansão dos serviços
especializados 217
5 A produção da cidade e as desigualdades socioespaciais 249
6 Chapecó: o novo e o tradicional na reestruturação
urbana e regional 303
Referências bibliográficas 313

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UMA PESQUISA EM REDE:
AS CIDADES MÉDIAS EM ANÁLISE
Maria Encarnação Beltrão Sposito1
Doralice Sátyro Maia2

Com esta obra, a série CIDADES EM TRANSIÇÃO passa a ser composta de


seis livros. Este é o segundo que vem a público pelo Selo Cultura Acadêmi-
ca, da Editora da Unesp, que é, atualmente, o veículo de difusão do traba-
lho da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe).
Essa rede foi formalizada em 2007. Entretanto, uma década antes, al-
guns de seus pesquisadores já vinham dialogando, em mesas redondas e
sessões de comunicações de eventos científicos, em bancas examinadoras
de dissertações e teses, bem como em outros ambientes, o que possibilitou
a elaboração de um projeto de pesquisa conjunto, que vem gerando resulta-
dos como os agora divulgados.
O livro ora apresentado traz as conclusões da investigação científica
realizada sobre as cidades de Dourados/MS e Chapecó/SC. Ela é levada a
cabo por equipes da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
e da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), no caso da
primeira cidade, e por pesquisadores da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó) e da Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS), no caso da segunda.
Tal pesquisa, que vem sendo realizada desde 2007, já teve resultados
difundidos em quatro livros editados pela Editora Expressão Popular, re-
lativos às cidades de: Passo Fundo (estado do Rio Grande do Sul, Brasil) e

1 Universidade Estadual Paulista (Unesp).


2 Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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8 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Mossoró (estado do Rio Grande do Norte, Brasil), em 2010; Tandil (região


de Buenos Aires, Argentina) e Uberlândia (estado de Minas Gerais, Brasil),
também em 2010; Chillán (região de Bío-Bío, Chile) e Marília (estado de
São Paulo, Brasil), em 2012; Campina Grande (estado da Paraíba, Brasil)
e Londrina (estado do Paraná, Brasil), em 2013; além de um quinto livro,
este já produzido sob o Selo Cultura Acadêmica, que foi publicado em
2016, versando sobre Marabá (estado do Pará, Brasil) e Los Ángeles (região
de Bío-Bío, Chile).
A publicação desses livros, cada um composto pela análise de duas cida-
des, vem sendo feita à medida que as respectivas equipes de pesquisa con-
cluem seus trabalhos, não havendo outra razão para agrupá-las, ou seja,
nada que as identifique, em princípio, distinguindo-as das demais, que
possa justificar estarem reunidas na mesma obra. Entretanto, como veremos
adiante, todas as cidades podem ser comparadas entre si, uma vez que a pes-
quisa foi e vem sendo desenvolvida a respeito dos mesmos temas e variáveis,
orientados por uma metodologia comum a todas as equipes.
Desse modo, nos trabalhos da rede de pesquisa há o desejo e a intenção
de comparar, como um meio a partir do qual podemos apreender o que
é geral no processo de urbanização, o que é particular no conjunto das
cidades médias estudadas e, por fim, o que é singular a cada uma delas.
Pensando assim, a comparação foi e vem sendo uma atitude e uma conduta
metodológica que orientam o trabalho da ReCiMe.
Este trabalho tem sido desenvolvido em torno de duas pesquisas. A
primeira, intitulada “Cidades médias brasileiras: agentes econômicos,
reestruturação urbana e regional”, realizou-se com base na aprovação
de duas linhas de financiamento.3 Por meio desses apoios, a pesquisa foi
efetuada de modo vertical, estando cada cidade estudada sob a responsabi-
lidade de uma equipe.

3 O primeiro projeto de pesquisa foi coordenado por Denise Elias (Universidade Estadual do
Ceará – UECE) e Maria Encarnação Sposito (Unesp/PP), tendo sido elaborado em 2006,
aprovado em 2007 e tido vigência até fevereiro de 2009, por meio do Edital MCT/CNPq
07/2006 (Casadinho). Em segundo lugar, ainda para o desenvolvimento do mesmo projeto,
tivemos apoio do Edital MCT/CNPq/CT-Infra/CT – Petro/Ação Transversal IV No
16/2008 (Casadinho), coordenado por Doralice Sátyro Maia (UFPB) e Maria Encarnação
Sposito, entre março de 2009 e meados de 2011.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 9

Uma segunda temática de trabalho é nomeada como “Cidades médias:


novos papéis, novas lógicas espaciais”.4 Ela não resultou de nova fase de
trabalhos de campo nas cidades estudadas, mas da análise do conjunto de
cidades, por meio de recortes analíticos estabelecidos por subequipes da
ReCiMe, cada uma delas composta por pesquisadores de mais de uma ins-
tituição. Os resultados começam a ser publicados ainda em 2016, por meio
de livros que também comporão a série Cidades em Transição.
Tratando especialmente da pesquisa que propiciou a análise contida
neste livro, informamos ao leitor que ela se desenvolveu orientada pelos
seguintes objetivos gerais, enunciados no projeto aprovado pelo CNPq:

a) analisar as diferentes funções desempenhadas pelas cidades médias escolhi-


das para estudo; b) avaliar as diferenças entre elas, distinguindo as que mais
rapidamente se modernizam daquelas que mantêm papéis regionais herdados
de período histórico anterior; c) consolidar os programas de pós-graduação que
a realizam, aos quais pertencem os pesquisadores dessa rede; d) contribuir para
o adensamento da reflexão teórica sobre a noção de cidade média e ampliar os
conhecimentos sobre assentamentos urbanos assim denominados, em diferen-
tes regiões brasileiras, e, consequentemente, ter uma melhor compreensão do
Brasil a partir de algumas de suas partes, oferecendo-se, ainda, elementos para
compará-lo a outros países do Cone Sul – Argentina e Chile.

De modo mais específico, a pesquisa buscou estudar as dinâmicas de


estruturação urbana e regional das cidades, como o próprio título mostra,
avaliando se novos agentes econômicos têm tido influência ou não nesse

4 Este tema de trabalho foi apoiado pelo Edital MCTI/CNPq/MEC/Capes – Ação Transver-
sal no 06/2011 (Casadinho/Procad), sob coordenação de Maria José Martinelli Silva Calixto
(UFGD), William Ribeiro da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ) e
Maria Encarnação Sposito (Unesp/PP), e vigência de dezembro de 2011 a dezembro de
2016. Além dos financiamentos enunciados nesta nota e na anterior, a ReCiMe contou
com outros obtidos junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) (programa PROCAD e programa Pró-Integração), ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Editais Universal e de Humanas)
e às fundações de apoio à pesquisa de estados da Federação em que a rede tem equipes,
como Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro (FAPERJ), Fundação Araucária etc. Agradecemos, a todas essas agências, a
confiança depositada no trabalho desta rede de pesquisa.

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10 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

processo, gerando reestruturações, nos termos propostos por Soja (1993).


Procuramos desenvolver nossos raciocínios com base não apenas em recor-
tes territoriais (escala cartográfica), mas também a partir das articulações
entre diferentes dimensões e níveis de organização espacial. Assim, nosso
interesse tem sido o de valorizar a perspectiva das articulações entre esca-
las geográficas, conforme os enfoques de Lacoste (1988), Smith (1992),
Castro (1999), Brenner (2001), Melazzo e Castro (2008), Sposito (2011),
entre outros, recentemente sintetizadas e enriquecidas por Souza (2013)
e trabalhadas, de modo particular no que concerne às cidades médias, por
Sposito (2006). Desse modo, esperamos ter tido capacidade de apreender
os fluxos que vinculam as cidades médias aos espaços regionais, nacionais
e supranacionais. Nosso interesse é o de captar movimentos que geram
interações espaciais, progressivamente mais complexas, à medida que os
capitais concentram-se e centralizam-se, no que se refere ao comando, mas
espraiam-se territorialmente, em relação à produção e ao consumo o que é
favorecido pela ampliação das condições técnico-informacionais, estabele-
cendo-se, assim, novas formas de relação entre cidades de diferentes níveis
de importância.
No tocante ao esforço de periodização dos processos e dinâmicas, ainda
que de modo muito geral, a pesquisa abarcou os anos que transcorreram
desde a década de 1980, dado que, na elaboração do projeto, tendo em vista
maior ênfase no centro-sul do país, tínhamos a avaliação de que nessa fase
as mudanças mais significativas começaram a se evidenciar em cidades
médias. No entanto, o desenvolvimento dos trabalhos mostrou, como não
podia deixar de ser, considerando-se as disparidades regionais brasileiras e
as singularidades de cada cidade, que esse recorte temporal deveria variar
um pouco, o que exigirá do leitor verificar, em relação a cada cidade, quais
são as especificidades que recomendaram periodizar de outros modos. Essas
preocupações combinam com a ideia de Santos (1985, p.22), para quem

A noção de espaço é assim inseparável da ideia de sistemas de tempo. A cada


momento da história local, regional, nacional ou mundial, a ação das diversas
variáveis depende das condições do correspondente sistema temporal.5

5 Tais preocupações do autor foram retomadas e desenvolvidas, depois, em Santos (1996).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 11

Ainda em relação a esta natureza de preocupação – a de reconhecer


processos e dinâmicas como elementos chave para estabelecer recortes no
tempo –, reforçamos o que foi já destacado no projeto de pesquisa e na
apresentação dos livros precedentes, relativamente ao interesse de estudo
das cidades médias nas últimas décadas:

Essa iniciativa foi importante, entre outras razões, porque, ao lado da metro-
polização, principal característica da urbanização brasileira nas décadas de 1960
e 1970, o Brasil passou por inúmeras transformações urbanas, a partir dos anos
de 1980, quando cresceram e/ou se alteraram, também, os papéis das cidades
médias e locais. Tudo isso promoveu a quebra de paradigmas, necessitando revi-
sões que dessem conta da complexidade da realidade atual. Indubitavelmente,
uma das vias de reconhecimento das mudanças é a compreensão de como se
processa a produção dos espaços urbanos não metropolitanos, aqui incluídas as
cidades médias. Com a generalização do fenômeno da urbanização da sociedade
e do território, que o Brasil atingiu no final do século XX, os estudos sobre essas
cidades têm sua relevância reforçada. (Sposito; Elias; Soares, 2010, p.10)

Os objetivos da pesquisa e a justificativa de sua relevância como contri-


buto à compreensão da urbanização, apresentados de modo sucinto nos pa-
rágrafos anteriores, orientaram a definição de temas, eixos e variáveis para
a condução da pesquisa. Estes três planos de elaboração do pensamento e de
desenvolvimento do trabalho em rede foram embasados por fundamentos
de método, subjacentes ao debate ocorrido, durante os anos de 2007 e 2008,
quando foram realizados workshops da ReCiMe voltados à organização do
trabalho em rede, segundo tais planos.
Os temas que alicerçaram a organização da pesquisa foram: 1) a difusão
do agronegócio; 2) a descentralização espacial da produção industrial; 3) a
difusão do comércio e dos serviços especializados; 4) o aprofundamento das
desigualdades socioespaciais.
No tocante ao primeiro tema, sua eleição mostrou-se adequada para com-
preender as mudanças nas cidades médias, visto que, diferentemente de
períodos pretéritos, as atividades agropecuárias associadas aos interesses
de grandes capitais requerem, cada vez mais, a articulação com o mundo
urbano, redefinindo o par “cidade-campo”. Igualmente, modificam-se as
relações no âmbito das redes urbanas, visto que, na maior parte das regiões,

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12 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

cidades pequenas perderam funções em favor das cidades médias de impor-


tância regional, as quais, por meio dos agronegócios, mantêm agora intera-
ções espaciais que alcançam escalas geográficas supranacionais. Em outras
palavras, a intrínseca articulação entre a cidade e o campo, imposta pelo
agronegócio, pode ser interpretada como um “híbrido entre o espaço agrário
e o espaço urbano” (Elias, 2012).
Em relação ao segundo tema, enunciado no projeto como “descentrali-
zação espacial da produção industrial”, verificamos, posteriormente, a rela-
tiva imprecisão conceitual da proposição, pois, durante o desenvolvimento
da pesquisa, observamos que o processo em tela foi o de desconcentração
espacial da produção industrial que se acompanhou, no Brasil, de centrali-
zação espacial do comando desse setor. Como podemos constatar por meio
dos trabalhos de campo realizados e da literatura consultada, embora apa-
rentemente contraditórios, os processos – desconcentração espacial e cen-
tralização espacial – são combinados. Eles se expressam, principalmente,
nas lógicas espaciais das empresas, que buscam localizações de menor custo
e, com isso, promovem o que Lencioni (1994, 1995, 2011) já conceituava
como “desconcentração concentrada” e que Diniz (1991, 1993) anunciava
no começo da década de 1990.
O que se desejava, com a inserção desse tema, era avaliar em que medida
as transformações propiciadas pela difusão de novas formas de comunica-
ção e transportes, em alguns casos associadas a políticas de Estado visando
à diminuição das disparidades regionais, teriam tido efeito sobre as cida-
des médias. Em outras palavras, queríamos constatar se teriam as cidades
médias sido vistas como possibilidades de novas escolhas espaciais, para
empresas que antes estavam sediadas em metrópoles, ou para empresas
nacionais que ampliaram o número de suas unidades, ou mesmo para em-
presas transnacionais já presentes no país ou que iniciaram suas atividades
no Brasil, na Argentina ou no Chile, nas últimas décadas.6
A expansão geográfica dos grandes e médios capitais do setor comercial
e de serviços, terceiro tema da pesquisa, foi, sem dúvida, de grande relevân-
cia para compreender a reestruturação urbana e regional a partir de cidades

6 Para conhecer as dinâmicas recentes deste processo na escala brasileira, ver pesquisa, tam-
bém realizada no âmbito da ReCiMe, defendida como tese de doutorado e depois publicada:
Reolon (2013).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 13

médias. Os trabalhos de campo e a análise estatística, documental e biblio-


gráfica têm mostrado o quanto se ampliou o setor terciário nessas cidades,
em grande parte em função de unidades comerciais e de serviços associadas
a grupos econômicos de grande porte, mas também em decorrência da am-
pliação ou alteração do perfil das atividades agropecuárias e/ou industriais.
Este não é um tema novo, muito ao contrário; o crescimento do peso das
atividades comerciais e de serviços no emprego urbano e no uso dos espaços
das cidades vem sendo objeto de atenção de muitos autores, quer eles carac-
terizem o período contemporâneo como pós-fordista, informacional ou de
economia flexível. Na escala mundial, há, entre outros, os textos de Castells
(1989, 2000), Soja (1991, 2000), Veltz (1996) e Friedmann (1997). Espe-
cialmente voltados à análise das formações sociais latino-americanas, têm
sido valiosos os trabalhos de Barrios (2001), Parnreiter (2002), De Mattos,
Fuentes e Sierralta (2004), entre outros. A particularidade da pesquisa de-
senvolvida pela ReCiMe está em observar os efeitos dessas dinâmicas sobre
cidades que não são as que comandam as respectivas redes urbanas, o que
implica novas formas de interação espacial no âmbito de sistemas urbanos
que alcançam a escala supranacional, aspectos que já haviam sido frisados
por Sassen (2007) e que procuramos considerar nos textos publicados em
Bellet et al. (2015).
Como o leitor deve ter notado, os três primeiros temas têm forte vin-
culação com a atividade econômica, lida a partir de sua dimensão espacial.
Embora saibamos que, para o período presente, é inadequada ou insufi-
ciente a adoção tout court da classificação dos três setores da economia –
primário, secundário e terciário – proposta por Colin Clark (1939), Allan
Fisher (1939) e Jean Fourastié (1949), a partir de 1939, os três primeiros
temas da pesquisa estão associados a esses três setores. Para evitar uma
leitura compartimentada da dimensão econômica, procuramos valorizar
as articulações entre eles, tanto assim que, nos textos relativos a algumas
cidades, a divisão dos capítulos não obedece necessariamente a essa tríade.
Em relação aos três primeiros temas, referentes, como frisado, às ativi-
dades econômicas, não era nosso intento estudar todos os ramos, mas, sim,
selecionar aqueles que, em função de maior dinamismo e/ou da chegada de
novos agentes econômicos às cidades médias, provocaram alterações nas
dinâmicas de estruturação espacial, possibilitando o reconhecimento das
reestruturações já aludidas.

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14 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

O quarto tema, por sua vez, foi proposto com vistas a compreender
como as mudanças provocadas pela reestruturação econômica, expressas
pelos três primeiros temas, revelam-se e se apoiam em alterações nas for-
mas de produção, e também de apropriação, do espaço urbano. Assim, o
estudo das desigualdades socioespaciais foi selecionado na pesquisa com o
intuito de avaliar com que grau e de que modo elas vêm se aprofundando.
Essa noção foi desenvolvida em proximidade com os termos propostos
por Ribeiro (2005), mas também com a preocupação de oferecer alguma
contribuição à compreensão da diferenciação socioespacial.7 Nossa hipóte-
se de aprofundamento das desigualdades socioespaciais vem, pelos estudos
já concluídos, consubstanciando-se como tese. É importante frisar este
ponto, porque temos visto a mídia brasileira reforçar a associação entre ci-
dades médias e qualidade de vida, o que seria algo, do nosso ponto de vista,
muito polêmico, tanto pelo questionamento que se possa fazer ao conteúdo
da expressão “qualidade de vida”, quanto em decorrência de se constatar a
ampliação das disparidades entre os citadinos, o que leva à questão: “quali-
dade de vida” para quem?
À escolha dos temas sucedeu-se a etapa importante do desenvolvimento
da metodologia da pesquisa, organizando: os eixos que presidiriam o le-
vantamento de dados, informações, documentos e imagens; a realização
de atividades de campo, com destaque para observações e entrevistas; a
sistematização estatística; a realização de representações gráficas e carto-
gráficas; os registros fotográficos etc.
Para orientar o trabalho, foram definidos quatro eixos: 1) ramos de
atividades econômicas representativas da atuação dos novos agentes eco-
nômicos; 2) equipamentos e infraestruturas; 3) dinâmica populacional e
mercado de trabalho; 4) condições da moradia.
Embora também sejam quatro, os eixos não necessariamente coincidem
com os quatro temas. Por exemplo, as variáveis elencadas para o primeiro
eixo serviram de apoio para os três primeiros temas. Aquelas atinentes ao
eixo dois foram base para os quatro temas, tanto quanto as associadas ao
eixo três. Apenas o eixo quatro foi composto por variáveis quase todas re-
lativas apenas a um tema, o do aprofundamento das desigualdades socioes-

7 Sobre a diferenciação socioespacial ou sócio-espacial, ver, especialmente, Carlos (2007) e


Corrêa (2007).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 15

paciais. Foram selecionadas 35 variáveis para serem analisadas em cada


cidade. Maior detalhamento sobre os temas, eixos e variáveis da pesquisa
poderá ser consultado em Sposito et al. (2007).
O claro estabelecimento das variáveis, organizadas em eixos, foi muito
importante para o desenvolvimento do trabalho que gerou este livro, os
precedentes a ele e os que ainda virão a público, sobre as cidades estuda-
das pela pesquisa “Cidades médias: agentes econômicos e reestruturação
urbana e regional”. Como o estudo envolve um grupo relativamente gran-
de de pesquisadores, distribuídos em várias universidades, pareceu-nos
fundamental fixar as bases a partir das quais a investigação científica seria
conduzida, como forma de assegurar a possibilidade de comparação, à qual
já fizemos referência neste texto.
A metodologia foi, então, o plano que nos articulou, tendo em vista
que, desde a elaboração do projeto, tínhamos clareza de que não haveria
unidade teórico-conceitual, dadas as diversas trajetórias de formação dos
componentes do grupo e os focos analíticos das pesquisas que cada um
vinha realizando. O trabalho não poderia ter sido feito, não fosse o fato de
que, embora essas diferenças existam, elas não acompanham-se de pontos
de vista analíticos diametrais; ao contrário, são muito mais convergentes,
favorecendo um diálogo que potencializa a reflexão de cada pesquisador.
A realização de workshops para alinhavar e pormenorizar a metodologia
foi valiosa, pois possibilitou, de um lado, que afinássemos nossa terminolo-
gia e nossos parâmetros e, de outro, que pudéssemos contemplar, o que não
foi possível no momento de elaboração do projeto, as especificidades das
formações socioespaciais que compõem o território brasileiro, a partir dos
destaques dados pelos pesquisadores presentes a esses encontros. Assim,
logo percebemos que variáveis extremamente relevantes para a leitura das
cidades médias do estado de São Paulo, por exemplo, eram pouco impor-
tantes ou mesmo ausentes na realidade socioespacial das amazônicas, o que
exigiu ajustes na metodologia, demonstrando que, na pesquisa, o caminho
também se faz caminhando.
Esse refazer constante do movimento entre o plano das ideias e o plano
empírico, mediado pelos fundamentos de método e, por conseguinte, da
metodologia, é necessário. Caso contrário, podemos cair no plano estrito
da abstração – importante do ponto de vista filosófico, mas insuficiente
no que se refere ao esforço teórico –, ou simplesmente no empirismo – que

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16 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

difere do empírico, pois este, ao contrário daquele, é condição sine qua non
da construção teórica.
Tão relevante nos parece essa preocupação, sendo a pesquisa realizada
por uma rede, que passamos a apresentá-la. Ela é composta por pesquisa-
dores que pertencem, hoje, a vinte diferentes universidades. O conjunto
vem se alterando no decorrer do tempo, de um lado, porque os próprios
investigadores mudam seus vínculos e, de outro, porque alguns se desligam
da rede enquanto outros a ela se associam. Atualmente, há pesquisadores
da ReCiMe que pertencem às seguintes instituições de ensino superior:

a) UNIVERSIDADES ESTADUAIS (BRASILEIRAS) – Paulista (Unesp),


que lidera a rede, do Ceará (UECE), de Maringá (UEM) e do Mato
Grosso do Sul (UEMS);
b) UNIVERSIDADES FEDERAIS (BRASILEIRAS) – do Amazonas (UFAM),
de Campina Grande (UFCG), do Ceará (UFC), da Fronteira Sul
(UFFS), da Grande Dourados (UFGD), do Pará (UFPA), da Paraíba
(UFPB), de Pernambuco (UFPE), do Rio de Janeiro (UFRJ), de Ser-
gipe (UFS), do Sul e do Sudeste do Pará (UFESSPA), de Uberlândia
(UFU) e de Viçosa (UFV);
c) UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS E CONFESSIONAIS (BRASILEIRAS) –
Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHA-
PECO), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS);
d) UNIVERSIDADE NACIONAL (ARGENTINA) – Universidad Nacional
del Centro de la Provincia de Buenos Aires (Unicen);
e) UNIVERSIDADE CONFESSIONAL (CHILENA) – Pontificia Universidad
Católica de Chile (UC).

A composição da Rede segundo tais instituições, cuja cobertura espacial


pode ser vista no Mapa 1, vem sendo fator que favorece a ampliação da
cobertura espacial das pesquisas que vimos realizando, ainda que ela não
seja, nem pretenda ser, completa, em termos de compreensão dos papéis
exercidos por cidades médias. Isso ocorre porque, na escala subcontinental,
abrangemos pesquisas sobre apenas três países latino-americanos e, na
nacional, várias cidades que poderiam oferecer elementos importantes para
apreender a diversidade urbana regional dos países não estão contempladas
em nossos estudos.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 17

Mapa 1: América do Sul. Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe). Institui-
ções universitárias dos pesquisadores. 2016.

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18 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Em muitas reuniões científicas, das quais os membros da ReCiMe par-


ticipam, esta questão – a relativa às cidades escolhidas para estudo – tem
comparecido, com a indagação sobre quais são os critérios que orientaram
nossas opções, bem como as razões pelas quais estas ou aquelas cidades não
estão incluídas em nossos estudos. Temos, então, explicado que muitas ou-
tras cidades poderiam e deveriam ser estudadas, tanto pela relevância que
têm como cidades de intermediação na rede urbana, como pelas especifici-
dades que têm marcado as alterações pelas quais vêm passando na divisão
interurbana do trabalho. Entretanto, de um lado, não somos um instituto
oficial de pesquisa que teria como missão abranger o conjunto dos objetos
geográficos que compõem ou apoiam a análise de um dado tema ou proble-
ma de pesquisa. De outro, não dispomos de recursos humanos, em termos
de pesquisadores próximos a outras cidades que não aquelas que vêm sendo
estudadas, ou com expertise sobre particularidades regionais ou urbanas,
que possam conduzir as pesquisas, tanto quanto não temos financiamento
que possibilite ampliar nosso trabalho. É importante ressaltar, porém, que
além das duas pesquisas realizadas em conjunto pela ReCiMe, inúmeras
dissertações de mestrado e teses de doutorado, bem como trabalhos de ini-
ciação científica, estudam outras cidades médias, ou as escolhidas pela rede,
a partir de recortes analíticos semelhantes ou complementares aos eleitos.
Assim, as cidades envolvidas em nossa pesquisa são as já estudadas, já
citadas no texto, e aquelas cujos trabalhos estão em etapa de conclusão –
Bauru/SP, Ituiutaba/MG, Parintins/AM, Resende/RJ, São José do Rio
Preto/SP e Teófilo Otoni/MG. São estas as que podemos abarcar com as
equipes que temos e os recursos materiais de que dispomos. Os dois con-
juntos de cidades podem ser observados no Mapa 2.
Pelo exposto, o leitor já poderá ter notado que “cidades de porte médio”,
que compõem aglomerações metropolitanas e/ou que não exercem papel
de destaque na divisão interurbana do trabalho, não são de interesse direto
da ReCiMe, razão pela qual, desse amplo grupo, voltamos nossa atenção
às chamadas, na literatura brasileira, “cidades médias”, caracterizadas não
apenas pelo tamanho demográfico que têm – embora este seja um ponto
a ser considerado, ao menos de partida –, mas sobretudo, por papéis de
intermediação na rede urbana, no passado, fortemente vinculados às fun-
ções regionais que elas exercem, hoje cada vez mais complexos, em funções
de interações espaciais que se estabelecem em múltiplas escalas geográficas.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 19

Mapa 2: América do Sul. Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe). Cidades
em estudo. 2016.

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20 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

No que concerne às equipes, a elas estão ligados professores douto-


res, doutores em estágio pós-doutoral, doutorandos, mestrandos e alunos
de iniciação científica, compondo um coletivo de quase uma centena de
pessoas. Essa variedade de estágios de maturidade intelectual combina-se
com uma diversidade de áreas de formação, que inclui, principalmente,
Geografia, mas também Economia, Arquitetura e Urbanismo e História,
o que propicia um diálogo interdisciplinar e, por isso, plural, ao estudo
da urbanização e das redes urbanas, a partir da porta de entrada oferecida
pelas especificidades das cidades que exercem papel de intermediação em
múltiplas escalas geográficas.
Nos livros anteriores a este, já citados no início desta apresentação, há
uma descrição das rotinas de trabalho efetuadas no âmbito da ReCiMe,
cujo intento é permitir que o leitor compreenda como a multiplicidade de
equipes, a relativa diversidade nas formações e a não coincidência completa
das perspectivas teóricas são dificuldades que podem ser minimizadas pela
unidade de procedimentos na organização do trabalho e pela valorização
do diálogo. Não vamos retomar o detalhamento de tais rotinas,8 mas cha-
mamos atenção especial à realização dos workshops,9 que são, efetivamente,
espaços de debate. Nos primeiros (2006 e 2007), a metodologia da pesquisa
foi desenvolvida, como já frisado, e se construíram as condições técnicas
para a inserção, catalogação e sistematização de dados, informações, docu-
mentos, mapas, áudios, vídeos etc. que se consubstanciaram na montagem
da Plataforma de Gerenciamento da Informação (PGI).10 Entre 2008 e
2009, demos continuidade às atividades de organização da pesquisa, mas
tiveram início as sessões de apresentação de resultados da pesquisa e de-
bates entre os membros da rede. A partir de 2010, em vários workshops o

8 Os interessados poderão consultar Sposito, Elias e Soares (2016).


9 Foram realizados, até meados de 2016, treze workshops: 2006 (I Workshop em Presidente
Prudente, Unesp); 2007 (II Workshop em Presidente Prudente, Unesp); 2008 (III Workshop
em Uberlândia, UFU, IV Workshop em Presidente Prudente, Unesp e V Workshop em
Santiago, PUC Chile); 2009 (VI Workshop em Tandil, UNICEN, Argentina); 2010 (VII
Workshop no Rio de Janeiro, UFRJ, VIII Workshop em Marabá – UFPA); 2011 (IX
Workshop em João Pessoa, UFPB); 2012 (X Workshop em Presidente Prudente, Unesp);
2013 (XI Workshop em Dourados, UFGD), 2014 (XII Workshop em Presidente Prudente,
Unesp); 2016 (XIII Workshop no Rio de Janeiro, UFRJ).
10 Essa plataforma foi concebida e criada sob a coordenação de Luis Renato Bezerra Pequeno
(UFC) e, atualmente, está sob a coordenação de Vitor Koiti Miyazaki (UFU) e Cleverson
Alexsander Reolon (UEM). Endereço: <http://www.recime.org>.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 21

diálogo foi enriquecido pela presença de pesquisadores externos à ReCiMe,


que leram as primeiras versões de textos e apresentaram suas contribuições
críticas ao trabalho que vem sendo realizado.11
Por fim, passemos propriamente à obra que o leitor tem em mãos. Com-
posto por duas partes, este livro que ora apresentamos segue a estrutura
dos demais, já descrita de forma mais detalhada na apresentação das outras
publicações da série “Cidades em Transição”. Tal estrutura guarda relação
direta com a própria estrutura da pesquisa, segundo os quatro temas cita-
dos. No entanto, o texto é enriquecido por um capítulo inicial que oferece
importantes aspectos espaçotemporais para se compreender a cidade, antes
da abordagem dos quatro temas, e é finalizado por um capítulo síntese em
que os autores se voltam ao destaque das particularidades e singularidades
que emergiram do estudo realizado.
A primeira parte deste livro, intitulada “Dourados/MS: uma cidade
média entre os papéis regionais e a dinâmica globalizada”, foi redigida
por Maria José Martinelli Calixto, da Universidade Federal da Grande
Dourados, que coordenou a equipe responsável pelo estudo desta cidade, e
por Mara Lucia Falconi da Hora Bernardelli, da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul.
Essa parte é composta de seis capítulos, antecedidos de uma introdu-
ção na qual a cidade é apresentada, oferecendo-se informações sobre sua
situação espacial e sua posição na rede urbana, de modo que o leitor possa
ter uma visão de conjunto que possibilite contextualizá-la.
No primeiro capítulo, as autoras oferecem um quadro para se apreender
o processo histórico que engendrou Dourados, com elementos que per-
mitem compreender como ela se constituiu nos âmbitos demográfico e
socioespacial. As interações regionais, a dinâmica populacional, a distribui-
ção do emprego e a composição do mercado de trabalho foram abordadas,
e as ações estatais, vistas, também, mediante os planos de desenvolvimento

11 Agradecemos a esses debatedores pela forma franca e fraterna com que o diálogo transcorreu
e as críticas foram apresentadas. A contribuição oferecida por eles vem sendo, sem dúvida,
importante para o avanço dos trabalhos da ReCiMe. Professores doutores: Carmen Bellet
Sanfeliu (Universitat de Lleida), Christophe Demazière (Université de Tours), Ester Limo-
nad (Universidade Federal Fluminense), Gisela Aquino Pires (UFRJ), Jan Bitoun (UFPE –
este depois se integrou à ReCiMe), Josep Maria Llop (Universitat de Lleida), Marcelo
Lopes de Souza (UFRJ), María Laura Silveira (Universidad de Buenos Aires) e Roberto
Lobato Corrêa (UFRJ).

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22 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

nacionais e regionais. As relações entre a cidade e o campo ajudam a com-


preender as alterações vivenciadas na vida urbana e nos papéis exercidos
por Dourados. A condição fronteiriça da região comandada pela cidade e a
presença indígena são destacadas, compondo-se, assim, um primeiro plano
analítico, a partir do qual desenvolverá o texto na sequência.
No segundo capítulo, são retomados a perspectiva histórica e o papel das
políticas de Estado na redefinição das funções regionais de Dourados, mais
uma vez tornando clara a indissociabilidade entre o rural e o urbano, presi-
dindo a reestruturação espacial. As formas de produção são abordadas para
se compreender como as articulações entre diferentes escalas geográficas se
realizam, com destaque para as atividades industriais e, de modo relevante,
a agroindústria. As infraestruturas que favorecem a produção e a fluidez
territorial são apresentadas, destacando-se o distrito industrial, o aeroporto
e as rodovias de acesso a Dourados.
O comércio e os serviços são o foco do terceiro capítulo, em que se tece
uma comparação entre este e os outros setores da economia, mostrando o
peso crescente do setor terciário na vida de Dourados. As autoras desen-
volvem sua análise a respeito da presença de empresas voltadas à venda de
eletrodomésticos e eletrônicos, de lojas de departamentos, de autosservi-
ços (varejo e atacado), da rede bancária e financeira da cidade e do ensino
superior. O enfoque do comércio especializado de veículos, ao incluir má-
quinas e implementos agrícolas, oferece alguma base para se compreender
a importância do agronegócio na região comandada pela cidade. Os papéis
regionais voltam à tona, neste capítulo, pois grande parte dos bens e servi-
ços oferecidos, tanto privados quanto públicos, é destinada à população dos
municípios que se encontram polarizados pela cidade.
O consumo é tratado, no quarto capítulo, a partir do shopping center,
mostrando-se que sua instalação não chegou a diminuir sensivelmente o
papel do centro tradicional. Lazer e trabalho, observados pela ótica da rede
hoteleira e das áreas para realização de eventos, complementam a análise.
A composição de capitais regionais e capitais suprarregionais no comércio
de bens e serviços pode ser apreendida, pois as empresas que os estão ofe-
recendo são citadas, havendo assim mais elementos para se compreender as
articulações entre escalas geográficas.
Nos capítulos iniciais, Dourados é vista pela perspectiva econômi-
ca, havendo indicadores claros do crescimento da cidade e de sua região.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 23

A partir desta dimensão, no entanto, no capítulo cinco, desnudam-se as


contradições, por meio do enfoque no aprofundamento das desigualdades
socioespaciais. Elas são estudadas pelas formas de produção e de uso do
espaço pela habitação, seja a moradia social – com destaque para o Progra-
ma Minha Casa, Minha Vida –, sejam as áreas de ocupação irregular ou
favelizadas. Estas são contrapostas aos loteamentos fechados e à amplia-
ção da produção habitacional vertical, revelando-se, assim, as facetas das
disparidades.
Ao final, num esforço de síntese, as autoras mostram Dourados exer-
cendo papéis que oscilam entre as demandas da região e os interesses de
uma economia cada vez mais globalizada.
A segunda parte do livro é intitulada “Chapecó/SC: o agronegócio,
o setor terciário em expansão e a crescente desigualdade socioespacial”.
O texto foi escrito por cinco autores: Alexandre Maurício Matiello, da
Universidade Federal da Fronteira Sul; Ana Laura Vianna Villela, da Uni-
versidade Comunitária da Região de Chapecó; Camila Fujita, da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Cristina Otsuschi, da Uni-
versidade Federal da Fronteira Sul; e Rosa Salete Alba, da Universidade
Comunitária da Região de Chapecó.
Sua estrutura é composta por seis capítulos. No primeiro, “A cidade e
seu papel na região hoje”, enfoca-se a cidade, a partir de sua inserção na
rede urbana regional. Trata-se de um capítulo que privilegia a história, ou
seja, a formação socioeconômica que dá origem à cidade e sua constituição
como uma centralidade regional. Ao final, os autores retomam as princi-
pais discussões, buscando enfatizar as singularidades de Chapecó. Trazem
ainda ao leitor uma descrição da cidade a partir da escala interurbana, em
que se revelam seus papéis na região. Desde aqui, o tema do agronegócio se
mostra como uma das particularidades/singularidades dessa cidade. Muito
embora se localize no estado de Santa Catarina, a partir de informações
colhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais
especificamente no estudo Regiões de Influência das Cidades (REGIC),
fica explícita a inserção de Chapecó nas redes urbanas comandadas tam-
bém pelas metrópoles de Curitiba/PR e de Porto Alegre/RS. Além das
atividades agroindustriais, outro elemento forte que impulsionou a cen-
tralidade regional foram os movimentos populacionais, particularmente o
êxodo rural. Ainda nesse mesmo capítulo, os autores tratam dos elementos

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estruturadores da cidade: os eixos, os bairros, o centro. Estes são apresen-


tados favorecendo a leitura e a compreensão dos processos posteriormente
tratados, que se imprimem na estrutura da cidade.
O segundo capítulo, intitulado “Formação sócio-histórica e estrutura-
ção urbana e regional”, discorre sobre a origem de Chapecó no processo de
ocupação do Oeste Catarinense, em que se destacam as atividades minera-
dora e de exploração dos ervais e de madeira.
O capítulo três, “A cidade e o agronegócio”, é o primeiro que trata de
um dos temas específicos da pesquisa. Nele, o leitor pode observar a impor-
tância das atividades agroindustriais na economia e na dinâmica urbana,
revelando a indissociabilidade entre os temas que orientaram o desenvolvi-
mento da investigação científica que gerou este livro. Porém, antes de mos-
trarem o que denominam “difusão do agronegócio”, os autores apresentam
a estrutura fundiária rural, em que se destaca a pequena propriedade. Aqui,
explicita-se a imbricação do rural com o urbano no processo de ampliação e
de complexificação das relações capitalistas de produção.
O quarto capítulo é destinado à análise do que se associa ao setor terciá-
rio da economia, ou seja, o comércio e os serviços. Demonstra-se a expan-
são dos serviços e das atividades comerciais, destacando-se sua relação com
o setor agroindustrial, tratado no capítulo anterior. Os autores identificam
a localização dos estabelecimentos na área central e nos principais eixos viá-
rios, além dos supermercados, centros comerciais e shopping center, de ca-
pitais locais – alguns já substituídos por capitais nacionais e internacionais.
As mudanças são observadas a partir da análise econômica, mas também
da morfologia urbana, em que se observa o surgimento de novas centra-
lidades intraurbanas. Os serviços de saúde e educação também estão em
expansão, sejam os públicos, sejam os privados. Recebem enfoque especial
as instituições de ensino superior que se instalaram mais recentemente na
cidade, bem como a diversidade de cursos ofertados e sua relação com o
setor agroindustrial.
As desigualdades socioespaciais são abordadas no capítulo cinco, “A
produção da cidade e as desigualdades sociespaciais”. Os autores, para a
análise da habitação, levam em conta quatro períodos, em que destacam os
principais processos e agentes fomentadores. Recupera-se, assim, a história
da produção da habitação para melhor apreender como vem se dando a
dinâmica nos últimos anos. O crescente número de conjuntos habitacionais

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 25

é visível e é analisado, associado à problemática das ocupações irregulares,


em contraponto ao mercado imobiliário voltado para a população de renda
mais elevada. Destacam-se ainda, nos últimos anos, o papel do programa
do governo federal Minha Casa, Minha Vida na produção da habitação, e
também a verticalização em áreas urbanas consolidadas.
No capítulo síntese, “Chapecó: o novo e o tradicional na reestruturação
urbana e regional”, os autores recuperam os principais pontos abordados
nos capítulos precedentes e reforçam a característica da cidade como cen-
tro regional. Mostram que os processos mais recentes, qualificados como
modernos, ocorrem atrelados a antigos agentes econômicos. Destacam,
ainda, de que maneiras o processo de globalização e a bastante evidente
internacionalização dos capitais produtivos têm acirrado as desigualdades
socioespaciais.
As duas cidades apresentadas neste livro, uma no estado do Mato Gros-
so do Sul e outra no estado de Santa Catarina, assim como as já estudadas
nas publicações anteriores, possuem características que derivam do pro-
cesso de urbanização em sua totalidade, mas também particularidades que
se mostram bastante evidentes no exame dos papéis que desempenham
como centros regionais, ou na perspectiva da escala da rede urbana. Não
fossem estes argumentos já relevantes para justificar as análises feitas, há
as singularidades, muito próprias dos processos de formação socioespacial
e também da dinâmica econômica regional. Os resultados da pesquisa aqui
revelados referem-se de forma detalhada às duas cidades. Contudo, permi-
tem a análise do quadro urbano brasileiro e também do objeto de estudo da
rede de pesquisadores, ou seja, as cidades médias.
Reiteramos, ao apresentar este livro, que desejamos o debate com pes-
quisadores que se interessam pela compreensão, no mundo contemporâ-
neo, dos processos e dinâmicas que estruturam e redefinem a rede urbana,
as cidades e, por conseguinte, as relações entre elas e entre o rural e o urba-
no, como caminhos possíveis para se apreender o que há de particular no
processo de urbanização nos dias atuais.

Presidente Prudente
João Pessoa
Julho de 2016

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DOURADOS/MS:
UMA CIDADE MÉDIA ENTRE OS PAPÉIS
REGIONAIS E A DINÂMICA GLOBALIZADA1

Maria José Martinelli Silva Calixto2


Mara Lucia Falconi da Hora Bernardelli3

1 Este texto apresenta os resultados do projeto de pesquisa, financiado pelo Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), intitulado “Análise dos agentes
econômicos e da reestruturação urbana e regional em Dourados, uma cidade média do
estado de Mato Grosso do Sul”, coordenado por Maria José Martinelli Silva Calixto, e do
projeto “Cidades médias brasileiras: agentes econômicos, reestruturação urbana e regional”,
também financiado pelo CNPq e coordenado por Doralice Sátyro Maia, da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). Por ser resultado de um projeto coletivo, contou, especialmente
no levantamento e na análise de dados que subsidiaram o texto, com a valiosa contribuição
de vários parceiros, que participaram dos grupos de estudos e debates, trouxeram novas
perspectivas de análise, levantaram e sistematizaram informações etc. Nesse sentido, regis-
tramos os agradecimentos especiais a Alexandre Pitangui Calixto, Ana Cristina Yamashita,
Bruno Bomfim Moreno, Cássio Alexandre Sarti Figueiredo, Cláudio Cristhiano da Silva
Nogueira, Elaine Cristina Musculini, Fernanda Ferreira do Nascimento, Fernando Catalano
dos Santos, Francisco da Silva Queiroz, Hamilton Romero, Jessica Faria, João Paulo Muniz
Marin, Leandro Rodrigo Morais, Marcos Kazuo Matushima, Maria Amábili Alves de
Castro, Sara Livino de Jesus, Valéria Ferreira da Silva Florentino e Wiliam Moreno Vascon.
Também agradecemos aos colegas de diferentes universidades do Brasil, da Argentina e do
Chile, integrantes da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe).
2 Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
3 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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SUMÁRIO

Introdução 33
1 Dourados/MS: processo histórico, formação socioespacial e
demográfica 39
1.1. As interações regionais e seus desdobramentos socioespaciais 42
1.2. Dinâmica populacional, distribuição do emprego e mercado de
trabalho 54
2 As formas de produção e a fluidez material 65
2.1. As novas formas de produção e articulação: da escala local à
internacional 70
2.2. Distrito industrial, aeroporto e rodovias de acesso 78
3 Comércio e serviços 83
3.1. Redes e filiais de venda de eletrodomésticos, eletrônicos, magazines e
lojas de departamentos 86
3.2. Rede bancária e financeira 87
3.3. Supermercados – rede atacadista e varejista 89
3.4. Comércio especializado de veículos, máquinas e implementos
agrícolas 91
3.5. Serviços de saúde 92
3.6. Ensino superior 106
4 Consumo, áreas para realização de eventos e rede hoteleira 113
4.1. Shopping center 114
4.2. Rede hoteleira e áreas para a realização de eventos 118

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32 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

5 O aprofundamento das contradições e das desigualdades


socioespaciais 125
5.1. As facetas das formas de produção e uso da moradia social 126
5.1.1. Os programas habitacionais 126
5.1.2. O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) 133
5.2. As áreas de ocupação “irregular” ou favelizadas 139
5.3. As novas formas e os novos significados da produção
habitacional 145
5.3.1. Os loteamentos fechados 146
5.3.2. Os caminhos da produção verticalizada 149

6 Os desdobramentos socioespaciais da produção do espaço em uma


cidade média entre os papéis regionais e a dinâmica globalizada 157
Referências bibliográficas 165

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INTRODUÇÃO

O município de Dourados/MS (Figura 1) está localizado na porção sul


do estado de Mato Grosso do Sul, a cerca de 220 quilômetros da capital,
Campo Grande, e se destaca como a segunda cidade do estado em termos
populacionais, com 196.068 habitantes, segundo o Censo 2010. Embora
esteja ligado à rede urbana de Campo Grande e, por intermédio dela, à
grande metrópole nacional – São Paulo –, também desempenha, simulta-
neamente, papel singular e complementar a outros centros urbanos de seu
entorno. Assim, apresenta-se como uma Capital Regional B1 (Figura 2),
que se subordina a uma Capital Regional A (Campo Grande) e, por meio
desta, à rede urbana de São Paulo. Ao mesmo tempo, coloca-se como uma
capital regional na sua área de influência imediata, à qual assegura e é por
ela assegurada, haja vista que as demandas regionais garantem a condição
de centralidade de Dourados, aumentando contraditoriamente a distinção
entre este centro urbano e os demais (Calixto, 2011, p.59).
De acordo com os dados da REGIC (2007), a influência espacial de
Dourados, conforme mostra a Figura 2, engloba os centros de zona A
de Mundo Novo, Naviraí e Ponta Porã e seus respectivos centros de in-
fluência – centros de zona B e centros locais.
Sua condição de centralidade só pode ser entendida a partir das rela-
ções/articulações com o conjunto do seu entorno, haja vista as possibili-
dades múltiplas de relações entre cidades de diferentes padrões ou portes.

1 Estamos considerando aqui a classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) – Regiões de Influência das Cidades (REGIC) (2007).

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34 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Figura 1: Mato Grosso do Sul. Localização do município de Dourados/MS. 2007.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL

Figura 2: Rede urbana do sul de Mato Grosso do Sul. Matriz das regiões de influência das cidades. 2007.
35

Fonte: Regiões de influência das cidades, 2008. Organização: Valéria Ferreira da Silva.

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E, sendo assim, a acentuação das relações/articulações entre Dourados –


local em que as cidades menores buscam atividades mais especializadas de
serviços e comércio – e as cidades de menor porte é fundamental para en-
tendermos também sua condição de cidade média (Calixto, 2011, p.61-62).
No que diz respeito à oferta de serviços especializados de saúde, de
acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)
(dezembro de 2013), Dourados apresentava um total de 336 estabelecimen-
tos ligados ao setor, entre eles: o Hospital Evangélico Dr. e Sra. Goldsby
King – que, por sua vez, possui as unidades do Hospital da Mulher e do
Hospital da Vida –; o Hospital Universitário da Universidade Federal da
Grande Dourados (UFGD); o Hospital Caixa de Assistência dos Servido-
res do Estado de Mato Grosso do Sul – Unidade Dourados (CASSEMS);
o Hospital Santa Rita Ltda.; e o Hospital da Missão Evangélica Caiuá. Há,
ainda, uma unidade na categoria hospital especializado, a Clínica São Ca-
milo, que presta atendimento cardiológico. A partir de 2010, começaram a
funcionar também o Hospital Beneficente de Combate ao Câncer da Gran-
de Dourados (HC) e a Neoclin – Grupo de Oncologia, cuja sede fica em
Campo Grande. O setor da educação, por sua vez, especialmente no que
concerne ao ensino superior, possui cinco instituições presenciais – duas
públicas e três privadas –, que, juntas, oferecem 96 cursos de graduação em
todas as áreas do conhecimento.
Desse modo, a centralidade de Dourados na rede urbana regional é
reforçada, não só por atender as necessidades do campo, mas também a
demanda por serviços mais especializados e inexistentes nas outras cidades,
sobretudo da porção sul do estado, intensificando suas relações/articula-
ções com as cidades de menor porte.
Segundo Santos e Silveira (2001, p.281), em muitos casos, nas cidades
médias, “a atividade urbana acaba sendo claramente especializada, graças
às suas relações próximas e necessárias com a produção regional”. Com a
evolução da técnica e da ciência, porém, elas passaram a adotar novos pa-
péis e funções. Além das exigências locais e de sua área de influência mais
próxima, suas atividades voltam-se igualmente a atender escalas mais am-
plas, articulando-as a circuitos produtivos mais abrangentes.
Localizada em uma região onde a agricultura predomina como principal
atividade econômica, a cidade de Dourados reforça seus papéis e funções a
partir das relações de trabalho e produção calcadas na necessidade de equi-

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 37

pamentos e serviços relacionados à produção agrícola regional. Conside-


rando que as cidades de menor porte, ainda que não ligadas exclusivamente
de modo hierárquico,2 são capazes de atender apenas às necessidades/exi-
gências de menor nível de especialização, fica a cargo de Dourados a oferta
de produtos e tecnologia mais avançados, de comércio mais sofisticado,
assim como de serviços urbanos mais especializados (Calixto, 2011, p.63).
Também vale ressaltar que, se a condição regional de Dourados é refor-
çada em função das exigências do campo, não podemos deixar de conside-
rar que ao assumir, por exemplo, o papel de centralidade com relação aos
serviços de saúde e ensino superior, coloca-se a necessidade de incremento
das atividades advindas das exigências da vida urbana, às quais a cidade
precisa responder (Calixto, 2011).
Todavia, ao mesmo tempo em que Dourados apresenta uma moderna
rede material, necessária à fluidez e à integração à economia nacional e
mundial, com uma produção habitacional voltada para uma população de
alta renda, como é o caso dos loteamentos fechados,3 revela também um
quadro de profundas contradições socioespaciais, expressas, por exemplo,
nas áreas de ocupação “irregular” ou favelizadas, nas dificuldades de aces-
so à terra e no conflito envolvendo a presença dos indígenas, entre outros
problemas.
Assim, buscando fazer uma caracterização geral de Dourados, na pers-
pectiva de sua condição de cidade média, o presente texto divide-se em seis
capítulos. No primeiro, apresentamos seu processo histórico, procurando
destacar as interações regionais estabelecidas, os desdobramentos socioes-
paciais e a dinâmica populacional, com considerações sobre o emprego e o

2 Com relação à questão hierárquica, vale ressaltar que, a partir do meio técnico-científico-
-informacional, seu significado é redefinido, haja vista as múltiplas possibilidades de rela-
ções/articulações estabelecidas entre cidades. Para Sposito (2009, p.20-21), em razão da cir-
culação das informações, o elemento descontinuidade torna-se essencial para compreender
essas interações, pois “eventualmente uma cidade, mesmo uma cidade média ou uma cidade
pequena, numa dada região, pode estabelecer vínculos e interações com espaços distantes
e que são descontínuos à área e à região à qual ela pertence. [...] Enfim, as cidades médias
e pequenas podem ser articuladas a espaços que não são contínuos às regiões às quais elas
pertencem”.
3 Aqui convém destacar que, recentemente, matéria da revista Veja (26 fev. 2014), acerca
das cidades brasileiras que concentram bons salários – “Sorria: bons empregos à frente” –,
aponta Dourados em segundo lugar no ranking das dez cidades brasileiras que mais oferecem
postos de trabalho com salários mensais superiores a R$ 5 mil.

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38 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

mercado de trabalho. No segundo, tratamos das novas formas de produção


e de seu suporte material, especialmente o aeroporto e as vias de acesso. Já
no terceiro capítulo, dedicamos atenção ao comércio e aos serviços especia-
lizados. Aspectos ligados ao consumo são discutidos no quarto capítulo,
com ênfase no papel do Shopping Avenida Center, bem como nos locais
para realização de eventos e na rede hoteleira. O quinto capítulo, por sua
vez, traz uma análise sobre o aprofundamento das contradições e das desi-
gualdades socioespaciais, procurando demonstrar as diferentes formas de
produção do espaço urbano. No sexto capítulo, por fim, reforçamos os des-
dobramentos socioespaciais das formas de produção do espaço em uma ci-
dade média que se coloca entre os papéis regionais e a dinâmica globalizada.
Apesar do propósito de apresentar uma caracterização geral da cidade,
os apontamentos aqui sistematizados não esgotam as questões associadas
ao tema; porém, apontam a relevância em analisar as lógicas que redefinem
a complexidade socioespacial de Dourados, assegurando sua condição de
cidade média.

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1
DOURADOS/MS: PROCESSO HISTÓRICO,
FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL E DEMOGRÁFICA

A economia da porção sul do atual estado de Mato Grosso do Sul, até


meados da década de 1940, girava em torno da exploração da erva-mate,
monopolizada pela Cia. Mate Laranjeira, uma empresa que arrendava ter-
ras do governo federal. Seu monopólio começou a ser desagregado em 1943,
com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND),1 proje-
to de colonização introduzido pelo governo Getúlio Vargas, que abriu uma
fronteira agrícola para expressivo contingente de migrantes e estabeleceu
uma nova dinâmica ao desenvolvimento econômico da região.2
Essa intervenção do Estado trouxe consequências, sobretudo no núcleo
urbano de Dourados, uma vez que a cidade assumiu a condição de sede ad-
ministrativa e de centro de beneficiamento e de comercialização da produ-
ção da colônia. Vale destacar que o processo de dinamização desencadeado
pela CAND também teve papel significativo na ampliação e na confor-
mação da rede urbana regional, originando diversos povoados e vilas que,
posteriormente, acabaram transformando-se em cidades.

1 Criada em 1943, ocupou uma parcela das áreas rurais dos atuais municípios de Douradina,
Dourados, Fátima do Sul, Jateí, Glória de Dourados, Deodápolis e Angélica (Silva, 1992,
p.55). A colônia agrícola era composta por 6.500 lotes rurais, com média de trinta hectares,
e de 6.400 lotes urbanos, com um total de 262 mil hectares destinados ao cultivo de cereais
(arroz, milho, feijão e mandioca), visando atender ao mercado interno.
2 A mola propulsora de tais mudanças foi a política de marcha para o Oeste, implementada
pelo Estado Novo, contribuindo decisivamente para modificar o papel desempenhado pelo
sul do então Mato Grosso na divisão territorial do trabalho. Ver também Figueiredo (1967).

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40 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

A colônia contribuiu para que o município de Dourados3 iniciasse um


processo que o levou à passagem da condição de centro de pecuária exten-
siva tradicional e extração ervateira4 para a de principal polo do estado na
produção agrícola, fixando aproximadamente 35 mil habitantes ligados à
atividade colonizadora.
A partir dessa iniciativa do governo federal, outros projetos de colo-
nização surgiram em vários municípios do sul do estado, estabelecidos
em sua maioria pela iniciativa privada,5 o que pressupõe a participação de
migrantes com certo poder aquisitivo para comprar terra, incrementando
a economia regional e contribuindo para a definição da rede urbana. Essa
dinâmica atraiu

[...] a atenção do capital privado que, em associação com o governo estadual,


redirecionou o projeto de colonização, orientando-o para a colonização privada e
especulação imobiliária [...]. A adoção dessa estratégia, no entanto, levou a uma
indiscriminada distribuição de terras públicas que se pautou invariavelmente
pelo atendimento das conveniências dos grupos políticos detentores do poder no
Estado. O resultado geral desse processo foi uma verdadeira explosão do comér-
cio de terras e da especulação imobiliária no estado. (Silva, 2000, p.101-102)

Em face da nova realidade, teve início um processo de expropriação dos


camponeses da CAND, que passaram a vender suas propriedades para
comerciantes e especuladores de terras. As consequências dessa dinâmica
de “valorização” imobiliária não se limitaram ao campo, refletindo-se tam-

3 Emancipado politicamente em 20 de dezembro de 1935. Em 1940 tinha 14.985 habitantes,


distribuídos em uma área de 19.688 km2, sendo que na sede do município havia apenas
1.821 habitantes. Apesar de em 1900 ser criada – por meio da Resolução Estadual N.º 255 –
a paróquia de Dourados, a origem do embrião urbano data de 1909, quando a disputa
pela posse de uma gleba entre Marcelino Pires e Joaquim Teixeira Alves fez que a área em
litígio fosse destinada para o patrimônio de um futuro povoado. Contudo, apenas em 1915
(Decreto N.º 2), o governo estadual destinou 3.600 hectares de terra para o patrimônio.
4 Até a década de 1940, Dourados apresentava a menor produção agropecuária dentre os
municípios do sul do então estado de Mato Grosso e, até a década de 1960, havia apenas treze
tratores no município.
5 Grupo Bata (1950); Colônia Municipal de Dourados (1951); Companhia Vera Cruz de
Mato Grosso (1953); Colônia de Curupai (1957); Grupo Moura Andrade (1958); Sociedade
Melhoramentos e Colonização (SOMECO) (1962); além do Instituto Nacional de Coloni-
zação e Reforma Agrária (INCRA) (1967), com a criação do projeto integrado de Iguatemi,
estabelecido na fronteira entre o sul de Mato Grosso e o Paraguai.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 41

bém na cidade de Dourados, que passou a concentrar diversos comercian-


tes e proprietários de máquinas6 de beneficiamento da produção agrícola,
sobretudo algodão, café e arroz.
No final da década de 1960 e início da de 1970,7 em razão do financia-
mento rural com juros subsidiados pelo sistema de crédito e de benefícios
fiscais voltados principalmente à pecuária extensiva e a algumas culturas
de exportação, como soja, trigo e algodão, a porção sul do estado começou a
ser atrativa (Calixto, 2000, p.61). Visando atingir objetivos estratégicos, as
ações do Estado na porção sul de Mato Grosso do Sul podem ser reunidas,
segundo Silva (2000), num conjunto de três intervenções:

[...] a extensão para a região de uma estrutura de crédito rural farto e subsidiado –
o Sistema Nacional de Crédito Rural – dirigido prioritariamente às atividades
agropecuárias modernas e com fortes vínculos com os CAIs;8 a montagem no
cone sul do Mato Grosso do Sul, de uma importante estrutura de pesquisa
agrícola e extensão rural com o sentido de viabilizar e incrementar as lavouras
integradas ao processo agroindustrializador; e por fim a implantação na mesma
região de um conjunto importante de sistemas de engenharia (estruturas de cir-
culação e comunicação, como estradas pavimentadas e vicinais; de energização
e de armazenamento), resultado das ações de um conjunto de programas de
desenvolvimento regional que incidiram no sul do Mato Grosso do Sul a partir
do final dos anos 60. (Silva, 2000, p.120)

6 Esses agentes “adquiriam a safra dos pequenos lavoureiros, promoviam o primeiro bene-
ficiamento de seus principais produtos e os forneciam posteriormente para as indústrias
localizadas no oeste paulista” (Silva, 2000, p.105).
7 Na década de 1970, dirigentes políticos, baseando-se no potencial econômico e natural
da região, iniciaram um movimento separatista, o que ocasionou, em 11 de outubro de
1977, a criação, de direito, do estado de Mato Grosso do Sul – desmembrado do estado de
Mato Grosso – e, de fato, em 1o de janeiro de 1979. O novo estado surgiu como produto do
financiamento estatal no setor agropecuário, visando à exportação. Para Souza (1997, p.49-
50), os “interesses que levaram à criação do Estado de Mato Grosso do Sul pelos militares,
durante o governo do General Ernesto Geisel em 1977, também continham uma posição
considerada estratégica e que se fundamentava na produção agropastoril como um contri-
buto indispensável do esforço nacional de produção de exportáveis para equilibrar a balança
de pagamentos. Diversos planos foram elaborados com a finalidade de promover o avanço
do capital rumo ao Centro-Oeste, uma das novas fronteiras do país. Assim, o novo estado
surge dentro de um projeto maior do Estado brasileiro, que reserva à agricultura e à pecuária
os papéis de atividades econômicas preferenciais”.
8 CAI: Complexo Agroindustrial.

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42 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Em função dessa dinâmica, a porção sul do estado tornou-se atrativa


principalmente para os denominados “sulistas”, que passaram a investir
na cultura de trigo e soja, resultando no surgimento de uma nova categoria
de produtor rural: o “granjeiro”. Esse grupo introduziu uma agricultura
mecanizada que, por sua vez, passou a exigir mão de obra qualificada – enge-
nheiros agrônomos, veterinários etc. Com a capitalização resultante de seus
investimentos, os proprietários rurais e técnicos instalaram-se na cidade,
sobretudo em Dourados. Assim, a inserção da porção sul do estado na divisão
internacional do trabalho, como exportadora de grãos, imprimiu no campo
e, consequentemente, na cidade, relações necessárias para que essa área as-
sumisse um caráter agroexportador (Calixto, 2000, p.62-63). Essa dinâmica
impulsionou um novo conjunto de determinações ao qual a cidade precisou
responder, implicando uma redefinição socioespacial.

1.1. As interações regionais e seus desdobramentos


socioespaciais

Na Região Centro-Oeste, o processo de ampliação das fronteiras con-


substanciou-se com a introdução da monocultura de exportação (soja), a
qual não apenas alterou as relações de produção e trabalho no campo, como
também desencadeou uma integração com o capital industrial.
Vale ressaltar, principalmente quando se trata do contexto em que a
cidade de Dourados está inserida, que no II Plano Nacional de Desenvol-
vimento (PND) – 1975-19799 foi criado o Programa de Desenvolvimento
dos Cerrados (POLOCENTRO), com o objetivo de incorporar o cerrado
ao processo produtivo. Além de investimentos em meios de comunicação,
transporte e informação, órgãos voltados para a pesquisa, como a Empresa
Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural S/A (EMPA-
ER) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), foram
também fortalecidos. Um segundo projeto de impacto para Dourados foi

9 A partir do II PND, o Brasil tornou-se significativamente dependente da poupança externa,


gerando uma dívida externa de grande proporção, tendo seu pagamento inviabilizado pela
elevação dos juros internacionais a partir de 1979.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 43

o Programa Especial da Região da Grande Dourados (PRODEGRAN).10


O II PND visava também viabilizar a estratégia estatal de promoção do
processo agroindustrializador, consolidando na região um conjunto de
infraestrutura capaz de assegurar a atividade de exportação. Outro fator
importante foi a inserção de Dourados no Programa Nacional das Cida-
des de Porte Médio, por meio do qual a cidade recebeu investimentos em
infraestrutura intraurbana.
Assim, na década de 1970, a região de Dourados foi eleita pelo governo
federal como polo de desenvolvimento regional, passando a receber inves-
timentos e incentivos governamentais que se revelaram decisivos para a
consolidação dos interesses agroindustriais. E foi nesse cenário que a popu-
lação urbana11 ganhou um novo perfil. A demanda causada pelo processo de
tecnificação desencadeou o crescimento de segmentos socioprofissionais –
engenheiros agrônomos, veterinários, pilotos agrícolas, médicos, professo-
res universitários etc. –, o que exigiu novas respostas em face de um novo
conjunto de necessidades criadas. Com a introdução de um padrão de mo-
dernização agroindustrial, portanto, a realidade de Dourados começou a se
complexificar, trazendo novas formas e condições de desencadeamento do
processo de produção do espaço urbano.
O avanço da soja provocou mudança no perfil técnico da produção local,
ampliando o intercâmbio inter-regional – com as regiões Sul e Sudeste – e
internacional, por meio de circuitos produtivos de apoio (produção para o
consumo urbano, comércio etc.) que demandavam sobretudo infraestrutu-
ra, além de desconcentração fundiária, resultando no estabelecimento de
novas relações socioespaciais e econômicas.
A introdução de um modelo agrícola calcado em um novo conteúdo de
técnica e ciência,causou a reordenação da estrutura fundiária, com a dimi-
nuição do número de pequenas propriedades e a desarticulação das formas
de produção familiar – herança do processo colonizador ocorrido na déca-
da de 1940, com o estabelecimento da Colônia Agrícola de Dourados –,
ocasionando mudanças nas formas de apropriação e de uso da terra. Por

10 “[...] apesar de seu desempenho parcial, o PRODEGRAN não deixou de cumprir seu papel
de viabilizar a estratégia estatal de promoção do processo agroindustrializador no espaço de
Dourados ao alargar e consolidar o conjunto de infraestrutura da região” (Silva, 1992, p.135).
11 Para desenvolvimento da reflexão que segue, baseamo-nos, fundamentalmente, em Calixto
(2000).

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44 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

pressupor elevado nível de capitalização e relações com o sistema finan-


ceiro, a lavoura mecanizada não se mostrou adaptável à produção familiar.
Desse processo decorreram duas dinâmicas conjugadas: o brusco au-
mento do preço da terra, provocado pela corrida de produtores de outros
estados; e o afastamento daqueles que não tiveram acesso à base tecnológica
necessária ao novo tipo de produção imposta, como o uso de colheitadeiras,
tratores, defensivos agrícolas etc. A conjugação dessas dinâmicas caracteri-
zou a existência de dois grupos distintos: parte do fluxo migratório dirigiu-
-se para a periferia de Dourados, que passou a conviver com o crescimento
abrupto de sua população, na maioria das vezes, sem perfil profissional
adequado aos interesses da economia urbana; por outro lado, a cidade pas-
sou a contar com a presença daqueles que capitalizavam no campo ou dos
que a ele estavam ligados por meio do trabalho. Ou seja, segmentos so-
cioprofissionais de mão de obra qualificada e intelectualizada, como en-
genheiros agrônomos, médicos, contadores, bancários, pilotos agrícolas,
topógrafos, veterinários, professores universitários etc., profissionais que
atendiam às novas necessidades impostas pelas inovações técnicas e pelas
novas relações de trabalho e produção.
Para se ter uma ideia desse processo, segundo dados do IBGE, entre 1970
e 1980 – num período, portanto, de apenas dez anos – houve crescimento
superior a 1.200% no número de pessoas com curso superior no município
de Dourados, passando de 119 para 1.438, o que reforça o pressuposto de
que a introdução de um modelo agrícola calcado em um novo conteúdo de
técnica e ciência exige a presença de profissionais especializados (Calixto,
2000).
A cidade passou a ser local de moradia dessa mão de obra mais qualifica-
da, do que resultaram novas relações, uma vez que essa realidade implicou a
ampliação e a diferenciação do padrão de consumo de habitação e de merca-
dorias, bem como de saúde, lazer, educação e ideias. Em consequência, a ci-
dade passou por um processo de redefinição de papéis, funções e conteúdo,
não apenas devido à demanda da agricultura mecanizada por produtos e
serviços que não são encontrados na própria unidade agrícola de produção,
ou nas cidades de menor porte – assistência técnica, aplicação de agrotóxicos
e corretivos do solo, financiamento, reposição e conserto de equipamentos
ou máquinas, entre outros –, mas também à presença de novos tipos de mo-
rador, como proprietários e técnicos ligados ao novo modelo de agricultura,

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 45

ou trabalhadores e pequenos proprietários expropriados do campo, além de


profissionais de mão de obra mais especializada, vinculados, por exemplo,
às áreas de saúde e educação.
A criação de um conjunto de infraestrutura necessária para permitir
maior fluidez material (mercadorias e pessoas) e imaterial (informações, co-
nhecimento e capitais financeiros) redefiniu a reestruturação socioespacial
da cidade, expressando novos sinais de complexidade na divisão territorial
do trabalho, bem como novas formas de produção do espaço urbano.
Dourados consolida-se, dessa forma, como principal centro urbano de
sua região, atraindo maior volume de investimentos e funcionando como
centro de convergência das principais vias regionais. Essa realidade inten-
sifica os fluxos comerciais e de serviços, o que exige transformações para
responder às expectativas geradas pela nova demanda. Tendo passado da
condição de centro de beneficiamento e comercialização da produção agrí-
cola dos colonos da CAND para a de centro de comercialização de bens e
prestação de serviços, reafirma sua posição como principal centro urbano
regional, contando com um segmento social em ascensão, formado por
profissionais liberais, comerciantes, pequenos industriais e pequenos pro-
prietários. Um significativo crescimento populacional (Tabela 1) corrobora
essa análise. Apenas para se ter uma dimensão dessa realidade, a população
urbana do município, que em 1970 era de 31.599, atingiu, em 1980, o total
de 84.849 habitantes, registrando, assim, em apenas uma década, um au-
mento superior a 100%.

Tabela 1: Dourados/MS. População do município. 1940-2010.


Ano População urbana População rural Total
No de habitantes % sobre o total No de habitantes % sobre o total
1940 1.821 12,15 13.164 87,85 14.985
1950 4.730 20,72 18.104 79,28 22.834
1960 16.468 19,38 68.483 80,62 84.955
1970 31.599 39,90 47.587 60,61 79.186
1980 84.849 79,67 21.644 20,33 106.493
1991 122.856 90,36 13.128 9,64 135.984
2000 149.679 90,90 14.995 9,10 164.674
2010 181.086 92.36 14.982 7.64 196.068
Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de Mato Grosso – 1940, 1950, 1960 e 1970. FIBGE – Censo Demo-
gráfico de Mato Grosso do Sul – 1980, 1991, 2000 e 2010. Organização: Maria José Martinelli Silva Calixto.

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46 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

A intensificação desse processo não só impôs um novo conjunto de


determinações às quais a cidade deveria estar pronta para atender, como
também, consequentemente, promoveu dinâmicas de natureza contradi-
tória, como, por exemplo, o surgimento de novas formas de diferenciação
socioespacial e a criação de novas espacialidades e centralidades, resultan-
do, enfim, numa redefinição de seus conteúdos e suas funções, em face,
igualmente, do aprofundamento de conflitos e de contradições sociais. É
nesse contexto que se destaca a intervenção do poder público municipal,
em consonância com as esferas federais, em vários níveis do espaço urbano,
por intermédio de uma série de programas e políticas públicas que tinham
como objetivo adequar a cidade às novas necessidades criadas ou, num
sentido mais amplo, viabilizar o processo de reprodução do capital agro-
exportador. As maiores transformações urbanas em Dourados ocorreram,
portanto, no âmbito dos novos direcionamentos assumidos pela política
federal, trazendo condições para o processo de produção e redefinição do
espaço urbano.
Nesse contexto, além de um investimento maciço na produção de con-
juntos habitacionais, por meio do Banco Nacional da Habitação (BNH),
recursos do Programa Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada
(CURA) foram aplicados também na ampliação do sistema de drenagem
pluvial, na pavimentação asfáltica e na rede viária, permitindo maior flui-
dez material e imaterial. De todas essas melhorias, o setor que recebeu
prioridade foi o sistema viário, ao qual foram destinados mais de 60% do
montante dos recursos previstos na época, um forte indicativo de que o
processo agroindustrial foi o veículo desencadeador do conteúdo das inter-
venções perpetradas no espaço urbano.
Segundo Calixto (2000), a conjugação de alguns fatores funciona como
indicador da nova dinâmica que se estabeleceu:

• Incorporação de novos loteamentos à malha urbana, sendo a oferta bem


maior que a capacidade ou o interesse de uso. Enquanto até o final
da década de 1960 havia na cidade 68 loteamentos, nas duas décadas
seguintes (1970 e 1980) foram lançados 89 novos empreendimentos
(Quadro 1), o que significa um crescimento superior a 130%. Assim,
cria-se nova potencialidade de uso e preço do solo, sobretudo numa
área específica da cidade, a porção norte, onde se produziu um novo

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 47

padrão de ocupação, difundindo novos usos, novas formas de edifica-


ção e criando novos valores fundiários.
• Dinamização e organização corporativa de empresas do ramo imobiliá-
rio, tendo havido o registro de setenta empresas na Junta Comercial
de Mato Grosso do Sul na década de 1980, um crescimento superior
a 583% em relação ao número existente até o final da década de 1970.
• Aumento expressivo do volume de empréstimos junto ao governo federal,
como é o caso do Programa CURA, que impôs à cidade uma nova
dinâmica de interesses e necessidades a partir do redirecionamento das
localizações em seu interior.
• Início de uma política de pavimentação asfáltica a partir de 1975, o
que acentuou a lógica da “valorização” espacial imobiliária e impôs a
acentuação das distâncias socioespaciais.
• Regularização da cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU) via reforma tributária, praticada a partir de 1978.

Quadro 1: Dourados/MS. Loteamentos estabelecidos (por década). 2014.


Período Número de loteamentos
Até 1960 49
1960 a 1970 15
1970 a 1980 46
1980 a 1990 43
1990 a 2000 42
2000 a 2010 30
Após 2010 14
Fonte: Prefeitura Municipal de Dourados. Organização: Maria José Martinelli Silva
Calixto.

Essas dinâmicas acentuaram as dificuldades de acesso socioespacial


no interior da cidade, o que não apenas revela, mas também denuncia,
a outra faceta do processo de apropriação das melhores localizações. Os
loteamentos da década de 1990 em Dourados são indicadores dessa lógica.
O período foi marcado pela proliferação de loteamentos – 42, conforme
Quadro 1 – periféricos e desprovidos de infraestrutura, equipamentos e
serviços urbanos.
Por outro lado, sobretudo a partir de 2009, teve início a implantação de
loteamentos fechados de padrão elevado – Ecoville Dourados Residence e

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48 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Resort,12 Porto Madero Premium Residence & Resort, Terras de Alpha-


ville13 etc. –, seguidos de outros, como o Novo Parque Alvorada (2010),
Jardim Santa Fé (2011) e Cristhais (2012), ampliando as distâncias socioes-
paciais e reforçando o potencial de “valorização” imobiliária das porções
norte e oeste da cidade.
Assim, as transformações que asseguraram as necessidades de uma nova
conformação socioespacial e econômica regional acentuaram uma política
de acesso à cidade segmentada socioespacialmente, possibilitando não ape-
nas uma nova fase no processo de reestruturação intraurbana, mas também
o desdobramento de uma dinâmica de acesso diferenciado à cidade. Foi,
por exemplo, a partir da década de 1970 que desencadeou-se a produção
verticalizada de moradias, acompanhada também, contraditoriamente, dos
primeiros registros de ocupações “irregulares”, ou o surgimento de áreas
de favela. A consequência mais destacada desse processo foi o reforço da
diferenciação socioespacial dos espaços intraurbanos, com base na concen-
tração de investimentos imobiliários de padrão mais elevado em determina-
da área da cidade – a porção noroeste.
Diante dessas transformações, deparamos com uma realidade multifa-
cetada, sendo possível, segundo Calixto (2000), identificar pelo menos duas
facetas/fases dessa relação contraditória: uma, caracterizada pela expansão
de loteamentos de padrão diferenciado, inclusive loteamentos fechados,
contendo infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos que atendem à
necessidade/desejo de uso ou apropriação da parcela de maior poder aqui-
sitivo; a outra, caracterizada pela reprodução de loteamentos periféricos e
desprovidos de melhorias urbanas, que atendem – ou melhor, não atendem –
ao contingente menos favorecido da população, gerando contradições de
ordens diversas e acentuando os níveis de diferenciação socioespacial.

12 Aprovado pela Prefeitura Municipal de Dourados no ano de 2008 e estabelecido no ano de


2010.
13 Segundo Sposito (2013, p.87): “Esta incorporadora atua em 44 cidades brasileiras, totali-
zando um conjunto de 73 empreendimentos, assim distribuídos: 12 na Região Sul, 24 na
Região Sudeste, 22 na Região Nordeste, 7 na Região Norte e 8 na Região Centro-Oeste.
Inicialmente, suas operações localizavam-se nas principais áreas metropolitanas do país.
Atualmente inclui, em suas frentes de negócio, várias cidades de porte médio, como Pelotas,
Maringá, Foz do Iguaçu, Araçatuba, Bauru, Itu, Campina Grande, Feira de Santana, entre
outras”. Em 2013, teve início sua atuação em Dourados.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 49

Nesse processo de redefinição de uso do solo e, consequentemente, de


seu valor de troca, ocorre um remanejamento/afastamento da população
que não pode arcar com os novos preços estabelecidos, reintroduzindo
novas lógicas espaciais, com a geração de novas espacialidades, retratadas
pela articulação entre localizações novas e antigas. Do ponto de vista da
distribuição espacial da população, define-se um lado da cidade “mais
vantajoso” que outro – respectivamente representados pelas porções norte
e sul –, com a concentração dos segmentos sociais de mais alta renda nas
porções norte e oeste, o que não ocorre, de modo geral, no que podemos
chamar de “o lado de lá” – porção sul da cidade.
Essas dinâmicas acabaram por imprimir, na porção noroeste da cidade,
um padrão urbanístico que não se faz presente em outras áreas, caracteriza-
do por loteamentos fechados e arborização, pela configuração dos imóveis e
das ruas, bem como pela presença de áreas de lazer, escolas particulares e de
idiomas, instituições de ensino superior, academias de ginástica etc. Dessa
forma, a porção noroeste revela-se como a área da cidade mais articulada à
expansão de um sistema agrícola ligado aos interesses agroindustriais, ge-
rando fluxos, potencializando novas práticas socioespaciais, otimizando os
preços das novas localizações, estimulando os interesses fundiários e imo-
biliários, redimensionando e redefinindo a própria relação centro-periferia
e caracterizando uma realidade marcada pela diferenciação socioespacial,
pelo distanciamento e pelas relações indiretas (Calixto, 2000).
Segundo Castello Branco (2007), no Censo 2000, Dourados apresentava
26 centros em sua área de influência imediata, reunindo 450.922 habitantes
e polarizando fluxos provenientes de 32 municípios do estado. De acordo
com dados do documento Regiões de influência das cidades (IBGE, 2007), no
período de 2001 a 2007, Dourados assumiu novos papéis e funções, a partir
de uma interação regional – sobretudo em um raio de mais de 200 quilôme-
tros –, gerando assim o reforço de seu papel na rede urbana (Figura 3).
No setor de comércio, vale destacar o hipermercado Extra – do grupo
Pão de Açúcar – e o supermercado Atacadão – ligado à Rede Carrefour –,
que atendem aos comerciantes, de atacado e varejo, de toda a região e
atraem expressivo número de consumidores das cidades vizinhas, princi-
palmente no início do mês. Algumas redes de lojas também estão presentes,
como Casas Bahia, Ponto Frio, Magazine Luiza, Lojas Americanas, Lojas
Riachuelo, Seller, Avenida, Marisa e Havan, além do Shopping Avenida

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50 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Figura 3: Dourados/MS. Interações regionais. 2000 e 2007.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 51

Center que, assim como todas as demais lojas citadas, está localizado na
principal avenida da cidade e atende a uma significativa demanda regional.
A cidade conta ainda com um hotel da rede Accor, haja vista que uma uni-
dade do Ibis foi construída ao lado do Shopping Avenida Center.
A estreita relação da cidade de Dourados com as atividades relacionadas
à agricultura e à agroindústria pode ser avaliada pelo significativo número
de estabelecimentos comerciais e de serviços direcionados a esse setor.
Além de atender a uma demanda regional, Dourados articula-se com es-
calas mais amplas ou com circuitos internacionais da produção, a partir
da presença de empresas com atuação global. Funciona como um polo de
apoio às atividades agroindustriais, contando não só com empresas de im-
plementos agrícolas, adubos e fertilizantes, mas também com iniciativas de
formação de mão de obra especializada, apoio técnico e geração de conheci-
mento, entre outras atividades. Destaca-se também a presença da Embrapa
Agropecuária Oeste.
No que concerne ao setor financeiro, a cidade dispõe de sete bancos –
Bradesco, Banco do Brasil, Banco Santander, Caixa Econômica Federal,
HSBC, Itaú e Unibanco – funcionando em dezessete agências bancárias,
além de 44 postos de atendimento e doze financeiras (FEBRABAN, ago.
2010). Esses números a consolidam como o principal centro de serviços
desse tipo em sua rede urbana.
Ainda que este texto não tenha o propósito de adentrar tal temática,
acreditamos que dois aspectos ou duas particularidades do município me-
recem ser destacados: a proximidade com a fronteira internacional (Brasil-
-Paraguai) e a presença da Reserva Indígena de Dourados.14

a) A condição de fronteira. A situação geográfica de fronteira internacional


(Brasil-Paraguai)15 confere especificidades à dinâmica socioespacial da cida-
de de Dourados. O setor de comércio é afetado pela pequena distância (cerca

14 Destacamos que devido à complexidade que envolve essa reflexão, neste momento não
tomaremos tais temáticas como objeto de análise, haja vista que o aprofundamento/entendi-
mento exigirá novas leituras e novos levantamentos de dados. Sendo assim, a ideia é tomar a
temática para reflexão futura.
15 Refere-se à “conurbação” Pedro Juan Caballero/PY e Ponta Porã/BR, abrangendo um total
de 150 mil habitantes. Vale considerar ainda que, devido à sua posição geográfica, é difícil
falar de Dourados sem considerar essa realidade, marcada por relações informais e formais
com o país vizinho.

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52 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

de 120 quilômetros) que a separa da cidade de Pedro Juan Caballero, no


Paraguai.16 Dependendo das oscilações no valor do dólar, torna-se mais in-
teressante para o consumidor, às vezes, adquirir mercadorias, especialmente
eletroeletrônicos, cosméticos, perfumaria e bebidas, no país vizinho. Para
inibir o incentivo às compras no Paraguai, existe inclusive uma proibição
municipal aos anúncios de lojas de Pedro Juan Caballero na cidade de Dou-
rados. Além da interferência no comércio, a fronteira também repercute na
incidência da criminalidade, tendo em vista o tráfico de drogas e de armas,
o contrabando de mercadorias, assim como a venda de veículos roubados.
Outro aspecto decorrente dessa proximidade é, de um lado, o desloca-
mento de pessoas do Paraguai à procura de serviços de saúde em Dourados.
Por outro lado, é comum também que estudantes de Dourados procurem
cursos superiores no Paraguai, sobretudo o de Medicina, nas faculdades
sediadas em Pedro Juan Caballero.
Compreender Dourados a partir de suas especificidades em área de
fronteira pressupõe ainda considerarmos a presença do povo paraguaio,
cujas características e traços se verificam na reprodução de crenças, valores
e práticas cotidianas.17 A culinária, em especial, constitui característica
marcante da presença dos paraguaios em Dourados: bares e lanchonetes,
por exemplo, vendem sopa paraguaia e chipa, pratos típicos do Paraguai, já
incorporados à alimentação diária. A bebida denominada tereré é também
uma marca da presença paraguaia, e seu consumo foi totalmente incorpora-
do aos hábitos locais, sobretudo pelos jovens de Dourados que a degustam,
frequentemente, em rodas de conversas.
Da mesma forma, faz-se presente na cidade o lado musical e festivo do
povo paraguaio. Sua música é reproduzida nos meios de comunicação de
massa, como o rádio, que transmite, num dos canais disponíveis, um ho-
rário semanal reservado à sua divulgação.18 Tanto a musicalidade quanto a
religiosidade e a dança são também revividas nas festas que os imigrantes

16 A perda de divisas para o comércio na fronteira faz que as lojas de Dourados abram em datas
extraordinárias. Segundo Romero (2010), informações da Associação Comercial de Doura-
dos apontam que cerca de um milhão de reais deixam de ser gastos no comércio local quando
não se abrem as portas em dias de feriado nacional e ou local. De acordo com a Lei no 2.741,
de 28 de abril de 2005, os horários do comércio da área central tornaram-se mais flexíveis.
17 Para maior aprofundamento sobre a temática, ver Oliveira (2015).
18 Estamos nos referindo ao programa de rádio Tereré Jeré.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 53

e seus descendentes organizam, como as que ocorrem na Capela de Nossa


Senhora do Caacupé, localizada na Praça Paraguaia, e na Casa Paraguaia,
clube fundado por eles há cerca de meia década, e que contam com a parti-
cipação de simpatizantes dessa expressão cultural.

b) A presença da Reserva Indígena de Dourados. A Reserva Indígena de


Dourados – que compreende as aldeias Jaguapiru e Bororó – tem aproxi-
madamente 13 mil habitantes e está localizada na porção norte da cidade,
distante apenas 2 km do tecido urbano. É “cortada” pela rodovia MS 156,
abrigando os grupos indígenas Guarani (Ñandéva e Kaiowá) e Terena.
A situação de “confinamento” a que estão submetidos esses grupos
indígenas tem comprometido seu modo de vida, levando-os à necessidade
de recriar estratégias de reprodução da sua existência. Nesse processo,
verifica-se a importância da mulher e da criança indígenas que se dirigem
à cidade para vender os produtos cultivados – basicamente milho e mandio-
ca – e conseguir alimentos.
A própria proximidade com a área urbana promove mudanças pro-
fundas nas relações e práticas cotidianas dos indígenas, potencializando o
confronto em face de novos valores ou de necessidades e desejos nem sem-
pre possíveis de serem realizados. Essa realidade redefine seu modo de ser,
de viver e de se relacionar com o espaço, ou seja, redefine, de forma mais
ampla, o próprio sentido da vida indígena. Nessa perspectiva, as pessoas
vivem o conflito de estar fisicamente próximas à cidade e não vivenciá-la de
forma plena. Para Martins (1997), essas relações são marcadas por:

[...] temporalidades que aparentemente se combinam, mas que de fato também


se desencontram, na prática dos que foram lançados pelas circunstâncias da
vida numa situação social em que o conflito sai de seus ocultamentos, inclusive
ideológicos, e ganha visibilidade e eficácia dramática na própria vida cotidiana
[...]. (Martins, 1997, p.15)

É comum na Reserva Indígena a presença de casebres construídos com


lona plástica, pedaços de madeira e outros materiais, não diferindo das
condições de moradia de parcela significativa dos moradores de áreas fa-
velizadas na cidade. Tal situação serviu de justificativa para respaldar a
intervenção do poder público na área, por intermédio da introdução do
Projeto Habitacional Estrela Ará Poty, idealizado para atender famílias

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54 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

residentes na Reserva Indígena de Dourados – aldeias Jaguapiru e Bororó.


O projeto envolveu diferentes parceiros, entre eles, Ministério das Cida-
des, Caixa Econômica Federal, Fundação Nacional de Saúde, Fundação
Nacional do Índio, Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Secretaria
de Infraestrutura e Habitação, Agência Estadual de Gestão de Habitação
Popular, Associação Brasileira de Cimento Portland, Prefeitura Municipal
de Dourados e Agência Municipal de Habitação Popular.
Assim, por meio do Programa de Subsídio à Habitação (PSH – Rural),
foram entregues no ano de 2006, na primeira fase (Estrela Ará Poty I),
duzentas casas, das quais 110 unidades foram construídas na Aldeia Bo-
roró e noventa, na Aldeia Jaguapiru. Já na segunda fase (Estrela Ará Poty
II – 2007), foram construídas quatrocentas casas (195 na Aldeia Bororó e
205 na Aldeia Jaguapiru). As unidades, feitas em alvenaria – com área de
36,97 m2 cada –, com características consideradas próprias da população
indígena, foram edificadas em terrenos ocupados por moradias tidas como
subnormais, que colocavam em risco os moradores.19
Contudo, a implantação de um projeto habitacional na Reserva Indíge-
na aponta para uma forma de uso imposta, a qual, por sua vez, estabelece
novos significados, sugerindo uma lógica de ocupação do espaço que leva
à perda gradativa da identidade, reforçando um modo de vida centrado em
valores externos à cultura indígena. A intervenção, por intermédio de um
modelo habitacional supostamente adequado a uma população com valores
específicos, invade a vida cotidiana e interfere tanto nas relações estabele-
cidas entre os habitantes da aldeia quanto no direito de uso do espaço, pois,
quando o espaço se modifica, as práticas também se redefinem. Esse pro-
cesso penetra nos lugares, acabando por redefinir igualmente os momentos
e os sentidos da vida.

1.2. Dinâmica populacional, distribuição do emprego e


mercado de trabalho

Conforme já apontado, as mudanças ocorridas no sul do estado de Mato


Grosso do Sul a partir da década de 1970, com transformações na base

19 Cf. Moreno (2008).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 55

técnica e de produção no campo, provocaram mudanças nas cidades e na


rede urbana, imprimindo uma nova etapa no processo de urbanização sul-
-mato-grossense, pois o espaço se recria a partir da inserção da técnica, da
informação e do desenvolvimento da ciência. Ele se torna mais dinâmico à
medida que há maiores fluxos de produtos, ideias e capital, incidindo em
novas relações que a sociedade passa a vivenciar.
A modernização no país estimula novas formas de organização da so-
ciedade em seu conjunto. Grande contingente de pessoas que se tornam
desempregadas no campo, a partir da utilização de máquinas e equipa-
mentos agrícolas, migra para as cidades e contribui para o surgimento de
novos centros urbanos, ou para transformações nos já existentes, devido às
novas exigências oriundas do avanço tecnológico. De acordo com Santos e
Silveira (2001), “[o]s anos 70 são também um marco na modernização da
agricultura, no desenvolvimento do capitalismo agrário, na expansão das
fronteiras agrícolas e na intensificação dos trabalhadores volantes” (Santos;
Silveira, 2001, p.49). Tanto Dourados quanto outras cidades do sul do esta-
do constituem parte dessa dinâmica.
As transformações ocorridas no espaço brasileiro em função do avanço
tecnológico acarretaram considerável modificação na estrutura social e no
próprio espaço geográfico nacional, que passou por um reordenamento em
função das novas tendências mundiais. As principais metrópoles do país,
por causa das melhores condições em termos de equipamentos e serviços
urbanos, tornaram-se centros da economia e despertaram na população
anteriormente estabelecida no campo o interesse pelos novos modos de vida
atrelados ao desenvolvimento e, principalmente, ao consumismo. Contu-
do, as mudanças decorrentes do advento da técnica e do desenvolvimento
científico não se restringiram apenas às metrópoles, mas se fizeram sentir
também nas pequenas e médias cidades, como é o caso de Dourados. Dessa
forma, as ideologias do consumo e do crescimento econômico remodela-
ram o espaço nacional, e a presença da técnica, da ciência e da informação
tornaram-se fundamentais ao processo de desenvolvimento. Nesse sentido,
Santos e Silveira (2001, p.52) afirmam:

A união entre a ciência e a técnica que, a partir dos anos [19]70, havia trans-
formado o território brasileiro revigora-se com os novos e portentosos recursos

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56 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

da informação, a partir do período da globalização e sob a égide do mercado. E


o mercado graças, exatamente, à ciência, a técnica e à informação torna-se um
mercado global. O território ganha novos conteúdos e impõe novos compor-
tamentos, graças às enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da cir-
culação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das ideias e informações, das
ordens e dos homens. É a irradiação do meio técnico-científico-informacional
que se instala sobre o território.

Diante dessa nova realidade no reordenamento da economia brasileira e


do território, as cidades assumem nova estrutura, calcada no fornecimento
de equipamentos ao campo e na tentativa de atender às necessidades que a
população passa a demonstrar. Assim, a cidade de Dourados, em função
das necessidades do campo e da demanda local e regional, passa por uma
intensa redefinição socioespacial. Vários municípios, segundo Elias (2007),
têm, atualmente, seu processo de urbanização caracterizado pela mudança
nas relações de produção no campo,

[...] cuja função principal claramente se associa às demandas produtivas dos


setores relacionados à modernização da agricultura. Como observado, nessas
cidades, que se caracterizam por serem cidades locais ou que desempenham
papéis de intermediação na rede urbana, se realiza a materialização das condi-
ções gerais de reprodução do capital do agronegócio. (Elias, 2007, p.116)

Nesse reordenamento manifesta-se a produção de novas formas/


conteúdos que, por sua vez, definem novos comportamentos, devido às
“inúmeras possibilidades” de produção e circulação de pessoas, produtos,
capitais e informações. Vale ressaltar que essa produção ocorre em nível
material e imaterial.
Tais modificações na estrutura social e no crescimento urbano tornam-
-se ainda mais aceleradas, incidindo de forma diferenciada no conjunto da
rede urbana, modificando a inserção e os papéis das cidades médias e pe-
quenas. No âmbito da rede urbana regional, a cidade de Dourados reforça
seus papéis, posto que se configura como fornecedora de equipamentos,
dos mais simples aos mais sofisticados, além de serviços urbanos e mão de
obra especializada para o campo e as cidades de menor porte.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 57

Dourados passou a ser estruturada em função das necessidades impos-


tas pelo campo a partir da introdução de novas técnicas e novas relações de
trabalho, enquanto ocorria, ao contrário, um declínio nos papéis das cida-
des locais, que reduziram a influência sobre o seu entorno imediato. A esse
respeito, Santos e Silveira (2001) afirmam:

As cidades médias têm como papel o suprimento imediato e próximo da


informação requerida pelas atividades agrícolas e desse modo se constituem em
intérpretes da técnica e do mundo. Em muitos casos, a atividade urbana acaba
sendo claramente especializada, graças às suas relações próximas e necessárias
com a produção regional. (Santos; Silveira, 2001, p.281)

Confirmando essa tendência, Dourados, devido ao seu grau de polariza-


ção e sua estrutura urbana, bem como aos setores do comércio e de serviços,
exerce uma forte influência sobre os municípios do sul do estado de Mato
Grosso do Sul, atraindo demandas de emprego, lazer, ensino superior e
serviços médicos e hospitalares especializados.
As Tabelas 2 e 3, que mostram a evolução da população urbana na mi-
crorregião e em Dourados, ajudam a compreender essa dinâmica. Vemos
que entre 1950 e 1960 a população da microrregião cresceu 222,5%; entre
1960 e 1970, o crescimento registrado ficou em 106,77%, mostrando a forte
atração da fronteira agrícola e a chegada de imigrantes de outros estados
em busca de terras baratas, se comparadas, à época, aos preços de áreas das
regiões Sul – migração de sulistas – e Sudeste. A população da microrregião,
que atingiu a soma de 619.821 habitantes em 1991, passou a registrar, a
partir daí, um forte declínio, chegando à década de 2000 com 407.512 ha-
bitantes. Em que pese a emancipação de alguns municípios da microrregião
ocorrida na década de 1980 – como Tacuru, Paranhos, Sete Quedas e Co-
ronel Sapucaia –, consideramos que o saldo negativo verificado apresenta
também relação com a crise econômica do país e a migração de parte da po-
pulação para outras regiões do próprio estado – especialmente para Campo
Grande –, assim como com o movimento de expansão da fronteira agrícola
em direção ao Mato Grosso, Goiás e aos estados da Região Norte.
Em 2010, a microrregião apresentou novamente um aumento da popula-
ção, atingindo 500.919 habitantes, o que pode ser explicado, entre outros as-
pectos, pelo forte crescimento da economia brasileira registrado no período,

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58 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

pela presença de novos capitais no estado de Mato Grosso do Sul (com a


expansão da agroindústria sucroalcooleira) e pela criação da Universidade
Federal da Grande Dourados.

Tabela 2: Microrregião de Dourados/MS. População por situação de domicílio. 1940-2010.


Ano População rural População urbana Total
No de habitantes % sobre o total No de habitantes % sobre o total
1940 39.376 82,06 8.605 17,94 47.981
1950 44.203 77,17 13.072 22,82 57.281
1960 143.175 77,50 41.554 22,49 184.729
1970 275.329 72,08 106.630 27,92 381.959
1980 220.190 42,78 294.494 57,22 514.684
1991 180.244 29,08 439.577 70,92 619.821
2000 75.787 18,60 331.725 81,40 407.512
2010 91.463 18,26 409.456 81,74 500.919
Fonte: IBGE – Censos demográficos. Organização: Maria José Martinelli Silva Calixto.

A Tabela 2 nos permite constatar que, em 1940, a microrregião de Dou-


rados apresentava 82,06% da população vivendo na zona rural e apenas
17,94%, na zona urbana.20 Contudo, a partir da década de 1980, essa pro-
porção começou a se inverter e, em 2010, 81,74 % da população habitava em
áreas urbanas.
Especificamente em relação ao município de Dourados, chama a aten-
ção, no período entre 1950 e 1960, o crescimento da população urbana, que
quase quadruplicou, passando de 4.730 para 16.464 habitantes (Tabela 3).
No decorrer dos anos 1960, porém, com o desmembramento de alguns mu-
nicípios de Dourados – Naviraí, Fátima do Sul, Caarapó e Fátima do Sul –,
verificou-se redução da população total de 84.955, no início da década de
1960, para 79.186 no início da década de 1970.
De 1991 a 2010, como se observa na Tabela 3, ocorre um crescimento de
32,12% na população urbana de Dourados. A concentração do crescimento
populacional urbano também pode ser dimensionada quando analisamos
a evolução da população urbana de Dourados em relação ao total do con-
tingente urbano da microrregião, que em termos gerais atinge 44,21% da
população em 2010.

20 No atual estado de Mato Grosso do Sul, nesse mesmo período, 66,30% e 33,70% da popula-
ção viviam, respectivamente, nas zonas rural e urbana.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 59

Tabela 3: Microrregião de Dourados/MS. População urbana dos municípios. 1940-2010.


Ano/% Dourados Outros municípios Total
1940 1.821 9.531 11.352
% 16,05 83,95 100
1950 4.730 11.780 16.510
% 28,64 71,35 100
1960 16.464 26.303 42.767
% 38,50 61,50 100
1970 31.599 49.729 81.328
% 38,85 61,15 100
1980 84.849 121.874 206.723
% 41,05 58,95 100
1991 122.856 153.251 276.107
% 44,50 55,50 100
2000 149.679 182.046 331.725
% 45,12 54,88 100
2010 181.005 228.451 409.456
% 44,21 55,79 100
Fonte: Censo demográfico de Mato Grosso – 1940, 1950, 1960 e 1970. Censo demográfico de Mato Grosso do
Sul – 1980, 1991, 2000 e 2010. Organização: Maria José Martinelli Silva Calixto.

A população urbana do município que, em 1940, era de apenas 1.821,


representando 16,05% do total da microrregião, atingiu 31.599 habitantes
no início dos anos 1970, representando 38,85% do total. Em 2010 repre-
sentava 44,21% da população urbana de toda a microrregião. Os dados da
Tabela 3 demonstram que à medida que o processo de urbanização é inten-
sificado, maior é o reforço da população urbana de Dourados, indicando a
forte polarização exercida sobre a população regional, bem como a defini-
ção de seus papéis, impulsionada por esse crescimento.
Na década de 1970, desencadeou-se na região a expansão de um sistema
agrícola ligado aos interesses agroindustriais.21 A introdução da lavoura tec-
nificada, conforme já ressaltado, (re)definiu a inserção da região na divisão

21 Na porção sul de Mato Grosso do Sul, a expansão desse sistema “foi resultado da con-
vergência simultânea de três processos desencadeados a partir do final dos anos [19]60: o
esgotamento da fronteira agrícola no Rio Grande do Sul; a expansão vigorosa do mercado
internacional da soja; e as políticas do Estado Desenvolvimentista de incentivo à expansão
da agricultura capitalizada para exportação, com forte incidência na região em tela” (Silva,
2000, p.116).

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60 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

territorial do trabalho,22 transformando-a em um espaço especializado na


produção capitalista de carne bovina e de grãos, visando atender à deman-
da do mercado internacional. Esse processo atraiu uma mão de obra mais
qualificada, ligada ao que Santos denominou de meio técnico-científico-
-informacional23 – engenheiros agrônomos, topógrafos, veterinários, con-
tadores, médicos, professores universitários etc. –, cujo destino passou a ser
a cidade de Dourados.
Foi nesse contexto que Dourados começou a assumir o papel de polo re-
gional do sul do estado de Mato Grosso, uma vez que o próprio crescimento
demográfico impulsionou a criação de um mercado consumidor, viabilizan-
do a expansão da atividade comercial e dos serviços. Se no conjunto do país
esses dois setores foram os que mais contribuíram para a empregabilidade,
devido à transformação ocorrida na estrutura do mercado de trabalho com a
expansão econômica dos setores não industriais, em Dourados a implanta-
ção de novos empreendimentos comerciais, como grandes lojas, supermer-
cados e o Shopping Avenida Center, ampliou significativamente o número
de vagas de trabalho nessa atividade, como demonstram os Quadros 2 e 3.

Quadro 2: Dourados/MS. Evolução do emprego formal. 2010-2014 jan-jan.


Movimentação agregada Município Microrregião UF Brasil
1) Admissões 102.584 197.003 1.122.319 82.919.634
2) Desligamentos 97.253 185.255 1.057.702 77.588.121
No emp. formais – 1o jan. 2014 54.924 103.092 508.847 40.656.491
Total de estabelecimentos 8.947 22.119 113.805 8.002.044
Variação absoluta 5.331 11.748 64.617 5.331.513
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
<http://bi.mte.gov.br/bgcaged/caged_perfil_municipio/index.php>. Acesso em: 18 ago. 2014. Organiza-
ção: Mara L. F. H. Bernardelli.

22 Santos (1997) destaca que quanto mais acentuada a divisão do trabalho, maiores as possibi-
lidades de instalação de sistemas hegemônicos, alargando a dimensão dos contextos.
23 Santos (1993) chama de meio técnico-científico-informacional “o momento histórico no
qual a construção ou reconstrução do espaço se dará com um crescente conteúdo de ciência,
de técnicas e de informação”. E continua: “é marcado pela presença da ciência e da téc-
nica nos processos de remodelação do território essenciais às produções hegemônicas, que
necessitam desse novo meio geográfico para sua realização. A informação, em todas as suas
formas, é o motor fundamental do processo social e o território é, também, equipado para
facilitar a sua circulação” (Santos, 1993, p.35-36). O meio técnico-científico-informacional
possibilita a constituição de um espaço mais fluido, interferindo no aprofundamento do
processo de agroindustrialização, que se diversifica e se verticaliza.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 61

Quadro 3: Dourados/MS. Evolução do emprego por setor de atividade econômica e meio am-
biente. 2000-2007.
Atividade econômica 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Extrativa mineral 1 – 5 2 3 3 3 6
Indústria de transformação 2.055 2.337 2.249 2.198 3.137 3.668 2.877 4.438
Serviços ind. de utilidade – 232 2 2 9 28 15 2
pública
Construção civil 500 695 896 812 1.174 911 753 801
Comércio 2.518 3.050 3.376 3.997 4.464 4.518 4.310 4.770
Serviços 2.779 2.418 2.729 3.236 4.341 4.090 4.635 4.992
Administração pública 4 4 1 1 – 35 – –
Agropecuária 432 437 525 604 715 833 496 693
Outros 4 3 – – – – – –
Total 8.293 9.176 10.825 10.825 13.843 14.086 13.089 15.702
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Orga-
nização: Cláudio C. S. Nogueira (2010).

Já a expansão do setor de serviços está relacionada à posição que Dou-


rados assume como principal centro de prestação de serviços educacionais
e médicos, além de outras atividades de suporte à agricultura, sobretudo
assessorias especializadas no ramo de administração rural, contabilidade
e advocacia. Igualmente importante é o segmento voltado a manutenção
e conserto de maquinários e equipamentos agrícolas que, concentrado em
Dourados, atende toda a porção sul do Estado de Mato Grosso do Sul e
emprega um significativo contingente de pessoas.
A transformação da agricultura com a inserção de conteúdos de ciência,
técnica e informação aumentou consideravelmente o nível de emprego no
setor industrial na região. A maior parte das vagas foi criada pela indústria
de transformação, ligada, sobretudo, ao processamento de rações, carnes
e óleos vegetais. Com o aumento das exportações brasileiras de produtos
agropecuários, Dourados teve um crescimento considerável no emprego in-
dustrial, devido principalmente ao número de agroindústrias que concentra.
O setor da construção civil também se manteve dinâmico. Entre os fato-
res que permitiram esse aquecimento, está a consolidação da cidade como
polo universitário, com a implantação da Universidade Federal da Grande
Dourados e a oferta de novos cursos na Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul e em centros particulares de ensino superior. A necessidade
de abrigar o grande número de estudantes atraídos por essas instituições
promoveu a expansão de novos empreendimentos imobiliários. Outro

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62 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

aspecto que favoreceu o segmento foi a inversão do capital oriundo do setor


agropecuário no setor imobiliário.
Relacionando a expansão dos postos de trabalho criados nos setores que
mais geraram vagas de emprego – comércio, serviços e indústria de trans-
formação – à evolução da População Economicamente Ativa24 (Quadros 4 e
5) na cidade de Dourados, observa-se um considerável crescimento a partir
da década de 1970, tendência que se verifica igualmente em outras regiões
do estado de Mato Grosso do Sul.

Quadro 4: Mato Grosso do Sul/Dourados. Evolução da PEA. 1970-2000.


Microrregiões 1970 1980 1991 2000
MS – Dourados 75.808 115.263 144.169 186.767
MS – Campo Grande 58.285 131.927 247.998 360.638
MS – Iguatemi 35.737 63.054 80.586 93.480
MS – Baixo Pantanal 29.198 36.031 39.074 51.394
MS – Três Lagoas 22.194 33.068 42.344 57.603
MS – Aquidauana 19.377 27.165 31.681 41.271
MS – Alto Taquari 18.053 27.360 36.511 49.401
MS – Paranaíba 16.324 21.928 26.971 33.810
MS – Bodoquena 15.360 21.604 31.435 45.028
MS – Nova Andradina 13.429 19.369 24.350 35.248
MS – Cassilândia 4.018 6.152 15.151 23.583
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Organização: Cláudio C. S. Nogueira.

Quadro 5: Dourados/MS. Evolução da PEA. 1970-2000.


Força de trabalho 1970 1980 1991 2000
PEA total 24.887 40.137 57.983 78.226
PEA rural 15.153 7.239 4.599 4.977
PEA urbana 9.643 32.546 50.700 61.475
População ocupada 24.796 39.785 55.299 66.452
População total 79.186 106.493 135.984 164.674
Fonte: IPEA (2007). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2010. Organização:
Mara L. F. H. Bernardelli.

No Quadro 5, o dado que chama a atenção é o crescimento da PEA Urba-


na, acompanhado, inversamente, do decréscimo acentuado da PEA Rural,
indicativo do forte processo de modernização agrícola vivenciado no municí-
pio. Ao longo das quatro décadas selecionadas, observamos um crescimento

24 A População Economicamente Ativa (PEA) consiste na parcela da população inserida no


mercado de trabalho; são excluídos, portanto, crianças e idosos aposentados.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 63

acima de seis vezes da PEA Urbana, enquanto a PEA Rural caiu para menos
de um terço em relação ao dado inicial.
Com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (Quadro
6), a classificação do Brasil, no ano de 1991, atingiu 0,423; em 2000, pas-
sou para 0,612; e, em 2010, subiu para 0,727.25 Para fins de comparação,
vemos que o município de Dourados, em 1991, encontrava-se acima tanto
da média nacional quanto da de Mato Grosso do Sul. Já em 2010, o IDH
Municipal (IDHM) de Dourados apresentava-se pouco acima da média
brasileira, enquanto o estado de Mato Grosso do Sul apresentava média
praticamente equivalente à nacional.

Quadro 6: Dourados/MS. Índice de Desenvolvimento Humano. 1991-2010.


IDH Dourados Mato Grosso do Sul
IDHM – 1991 0,512 0,488
IDHM – 2000 0,636 0,613
IDHM – 2010 0,747 0,729

IDHM Educação – 1991 0,292 0,259


IDHM Educação – 2000 0,487 0,445
IDHM Educação – 2010 0,657 0,629

IDHM Longevidade – 1991 0,713 0,699


IDHM Longevidade – 2000 0,758 0,752
IDHM Longevidade – 2010 0,843 0,833

IDHM Renda – 1991 0,645 0,641


IDHM Renda – 2000 0,698 0,687
IDHM Renda – 2010 0,753 0,740
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013. <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/
dourados_ms>. Acesso em: 13 ago. 2014. e <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDHM-
UF-2000.aspx>. Acesso em: 13 ago. 2014. Organização: Mara L. F. H. Bernardelli.

25 O Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa adotada pela Organiza-


ção das Nações Unidas para analisar três questões básicas: riqueza, educação e expectativa de
vida. Esse índice serve para comparar o nível de desenvolvimento entre os diversos países, já
que contabiliza os principais indicadores para o nível de desenvolvimento social. É preciso
salientar que: “O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – apresentado
no Atlas 2013 possui uma nova metodologia. Embora versões anteriores (Atlas 1998 e Atlas
2003) já apresentassem dados para os anos de 1991 e 2000, toda a base de dados do novo
Atlas Brasil 2013 foi recalculada para esses anos, em razão da adaptação metodológica. Por
esse motivo, toda comparação entre anos, indicadores e municípios deve ser realizada dentro
da plataforma do Atlas Brasil 2013.” (Atlas do Desenvolvimento Humano Brasileiro, 2013,
p.16). Disponível em: <http://www.pnud.org.br/arquivos/idhm-brasileiro-atlas-2013.
pdf>. Acesso em: 18 ago. 2014.

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64 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Pela nova metodologia adotada para o cálculo do IDH, o Brasil está


classificado entre os países com Alto Índice de Desenvolvimento Humano.
Em termos de ranking entre as unidades da federação, o estado de Mato
Grosso do Sul ocupa a décima posição e, no estado, Dourados ocupa a ter-
ceira posição, atrás de Campo Grande e de Chapadão do Sul. A dimensão
que apresentou maior elevação no período entre 2000 e 2010 foi a educação,
indicando maior acesso à escola e aumento nos anos de escolaridade.
Feitas essas análises, no próximo capítulo analisaremos as novas formas
de produção, a articulação da escala local à internacional e o processo de
fluidez material, tecendo considerações sobre o distrito industrial, o ae-
roporto e as vias de acesso, com o intuito de mostrar como se estabelecem
as articulações de Dourados, evidenciando suas interações com diferentes
áreas e recortes espaciais.

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2
AS FORMAS DE PRODUÇÃO1
E A FLUIDEZ MATERIAL

Com as novas possibilidades de fluidez do espaço – intensificando a


divisão territorial do trabalho e atribuindo novos conteúdos às relações
campo-cidade e ao processo de urbanização no país –, subordinado aos
interesses do mercado globalizado, reforça-se a competitividade na produ-
ção agropecuária, manifestada no incessante aumento da produtividade e
redução dos custos. Novos sistemas técnicos são associados à “agricultura
científica”, como destacaram Santos e Silveira (2001), com o emprego de
máquinas, insumos químicos e biotecnológicos, entre outros, fazendo que
esse setor produtivo vincule-se cada vez mais à racionalidade e ao comando
do capital globalizado.
Santos e Silveira (2001) e Elias (2003), ao considerarem a divisão territo-
rial do trabalho agropecuário resultante do processo de reestruturação pro-
dutiva do setor, destacam que a região Centro-Oeste se adapta progressiva
e eficientemente aos interesses dos capitais hegemônicos, transformando-
-se na área considerada de maior expansão da agricultura científica em
diversos ramos de atividades, apesar de ter sido, por um longo período,
segundo Corrêa e Mizusaki (2009), uma região desarticulada da economia
nacional. Esse isolamento foi justificado, em parte, pela dimensão do terri-
tório nacional e pela ausência de infraestrutura e vias de acesso.
Segundo os autores (Corrêa; Mizusaki, 2009), a partir da década de
1930, sob o efeito da “crise de 1929”, houve redução das exportações,

1 No que diz respeito à reflexão e ao levantamento de dados sobre as novas formas de produ-
ção, contamos com a contribuição de Ana Cristina Yamashita. Para maior aprofundamento
sobre a temática, ver Yamashita (2011).

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66 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

provocada pela superprodução no comércio internacional, o que resultou


em uma queda na produção agrícola dos países, repercutindo em elevados
índices de desemprego, principalmente nas indústrias.
No Brasil, nesse mesmo período, com a subida de Getúlio Vargas ao
poder, o Estado investiu na substituição da economia agrário-exportadora
para o padrão urbano-industrial. Nesse contexto, houve a intensificação de
uma série de dinâmicas, objetivando a constituição de um mercado nacional
integrado para essa produção industrial, o que influenciou fortemente na
ampliação da migração (regional e campo-cidade), numa maior articulação
da rede urbana e na ampliação do tamanho e do número de cidades no país
(Sposito, 2001). As políticas de industrialização do Brasil, denominadas de
processo de substituição de importações, tinham como principal objetivo o
controle das importações e a manipulação da taxa de câmbio, a fim de for-
talecer o setor manufatureiro e o desenvolvimento da indústria brasileira.
Foram geradas expectativas no setor industrial, propiciando o aumen-
to do fluxo migratório para as metrópoles ou polos industriais (centros),
principalmente para a região Sudeste, concentradora de capital industrial
e, portanto, onde se materializavam novas oportunidades de trabalho e a
possibilidade de uma vida melhor.
Concomitantemente, houve uma ampla mobilização para o crescimento
interno voltado à valorização do mercado nacional e, nesse momento, so-
bretudo a porção sul do então estado de Mato Grosso fortaleceu-se devido
à relação com o estado de São Paulo, na condição de fornecedor de produtos
agropecuários e de matérias primas para esse mercado. Por outro lado, a
grande extensão de terras – os latifúndios do sul do então Mato Grosso –
estava voltada basicamente ao atendimento do comércio de exportação,
via Bacia do Prata. Nessa perspectiva, ao contrário do ocorrido em países
europeus, a industrialização brasileira não se deu por inovação agrícola
numa situação de esgotamento de terras, mas com áreas agricultáveis ainda
muito abundantes e não integradas à dinâmica capitalista e à presença de
um excedente de força de trabalho (Corrêa; Mizusaki, 2009).
Pensando nas condições do território nacional, com a possibilidade de
ocupação dos denominados “vazios demográficos” e uma produtividade
relativamente baixa diante da produção moderna, o Estado brasileiro, sob
uma visão nacionalista-desenvolvimentista, restringiu a entrada de imi-
grantes para valorizar o processo de ocupação do território, o que culminou
no processo de colonização de determinadas áreas por brasileiros vindos

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 67

de outras regiões do país. Essa estratégia, conhecida como “Marcha para o


Oeste”,2 condicionou a expansão da “fronteira agrícola” e um processo de
ocupação seletiva de terras por parte de empresas de colonização particula-
res e sob incentivos governamentais.
Com a “Marcha para o Oeste”, pretendia-se resolver os “problemas” das
“terras sem donos” e dos brasileiros sem terras, sem alterar as bases agrárias
do latifúndio. Assim, optou-se por transferir grandes massas populacionais
de uma região para outras, ignorando as populações ali já existentes – como
foi, por exemplo, o caso dos indígenas.
Como parte desse processo, conforme já apontado, foi instalada, na
região sul do Mato Grosso, a Colônia Nacional Agrícola de Dourados
(CAND), que

[...] proporcionou à região uma diferenciação da estrutura agrária em relação


à nacional, contribuindo para impulsionar a agricultura na região. A apro-
ximação da área demarcada com a estrada de ferro, junto à propaganda do
Governo, incentivava as famílias a migrarem para a região. No âmbito social,
este programa era também uma tentativa de desafogar as regiões nordeste,
sudeste, entre outras, expandirem a área de produção, como também criar
mercado consumidor para os produtos paulistas. Assim, todo o Centro-Oeste
passa a assumir a posição de extensão da economia paulista. Os investimentos
em infraestrutura que passaram a ser realizados na região – como o realizado
nos troncos rodoviários que hoje cortam o interior do Brasil – proporcionaram
o escoamento da produção, já que este seria um dos gargalos à integração da
região. (Corrêa; Mizusaki, 2009, p.4)

Vale destacar que em 1948, segundo o Relatório da Administração da


CAND, a colônia apresentava uma significativa produção comercializada,
porém, devido à ausência de infraestrutura ou qualquer política de incentivo
à produção comercial naquele momento, a atividade desses colonos foi redu-
zida a cultivos de subsistência. Com o passar do tempo e com a extinção da
CAND, em 1968, os colonos viram-se obrigados a vender seus lotes e a se
transferir para as cidades da região, transformando-se em mão de obra barata,
ou a migrar para a abertura de novas frentes no norte do país (Araújo, 2009,

2 O Governo Federal passou a incentivar a ocupação dos chamados “vazios demográficos” no


interior do país. O primeiro programa de ocupação foi denominado “Marcha para o Oeste”,
com a criação da Fundação Brasil Central, que tinha como objetivo mapear e criar núcleos
populacionais em diversas áreas do Centro-Oeste (Alves Junior, 2003).

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68 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

p.10). Por outro lado, nesse mesmo período, atraídos pelo preço e pela fertili-
dade das terras, agricultores de Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e
São Paulo, com capital e bom nível de conhecimento técnico, estabeleceram-
-se na região, contribuindo para a modernização da agricultura e da pecuária.
Segundo Becker e Egler (2003), observa-se que o projeto geopolítico
do país nas décadas de 1970 e 1980 não foi determinado pelos aspectos
geográficos do território, mas, sim, com a intencionalidade do domínio do
vetor científico-tecnológico de controle do tempo e do espaço, para alcançar
crescimento econômico e projeção internacional.
No contexto do regime militar, a chamada “Região da Grande
Dourados”,3 conforme já pontuado, apresentou um vigoroso crescimento
econômico, estimulado pelos programas federais de apoio à modernização
no campo, destacando-se, entre eles, o Programa de Desenvolvimento dos
Cerrados (POLOCENTRO) e o Programa Especial de Desenvolvimento
da Região da Grande Dourados (PRODEGRAN), ambos voltados à mo-
dernização da agricultura na região. Dourados experimentou, assim, um
expressivo desenvolvimento, ancorado na exploração da grande lavoura –
soja, milho e trigo – e da pecuária, de forma que, num período de três déca-
das, a economia regional transformou-se em importante referência no país.
Por essa perspectiva, destacamos a importância de Dourados na reestru-
turação político-econômica, visto que propiciou, mesmo que com intensi-
dade e vetores diferentes, uma maior articulação entre as escalas nacional e
internacional e os circuitos econômicos mais capitalizados, resultando em
significativas alterações em seus conteúdos e, consequentemente, na recon-
figuração socioespacial. Dessa forma, nos anos 1990, Mato Grosso do Sul
assumiu novos papéis no âmbito da economia regional e nacional: o de inten-
sificar a verticalização da produção ligada principalmente à atividade agro-
pecuária; e o de criar condições favoráveis para a desconcentração industrial.
O setor industrial de Dourados baseia-se, sobretudo, em agroindústrias
ligadas à transformação de produtos primários como soja, milho, carnes
etc., com presença pouco expressiva de indústrias de outros setores. Das
quinze maiores empresas industriais em volume de capital, nove são ligadas
ao setor agroindustrial.

3 É importante referenciar que a denominação “Região da Grande Dourados”, ainda hoje


utilizada, surgiu nesse contexto. A referida região, na época, abrangia 22 municípios e,
atualmente, é composta por quarenta.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 69

Nos últimos anos, com a expansão do setor sucroalcooleiro no estado de


Mato Grosso do Sul, a região de Dourados também recebeu significativo
número de usinas, que foram atraídas pelas terras de alta fertilidade e pelo
clima favorável à produção de cana-de-açúcar. No município de Dou-
rados, instalou-se uma usina sucroalcooleira de grande porte, Usina São
Fernando, com apoio financeiro do grupo Bunge. Este grupo multinacional
já investia em outras atividades agroindustriais no município, como a fabri-
cação de óleo vegetal, embutidos, ração etc., mas tem buscado, a partir da
expansão da produção de cana-de-açúcar no Brasil, novos nichos de mer-
cado voltados à produção de biocombustíveis e açúcar. O recente aumento
internacional do valor das commodities agrícolas pode ser considerado res-
ponsável por essa expansão.
Assim, Dourados potencializa sua representação para além da escala
regional, articulando-se em escala nacional e internacional por meio de
suas principais atividades econômicas: a pecuária extensiva – com rebanho
estimado em cerca de 20 milhões de cabeças de gado bovino no estado – e
a agricultura, com destaque para os cultivos de soja, milho, algodão, arroz,
trigo, cana-de-açúcar e mandioca. A cultura de soja é a mais expressiva,
estendendo-se por cerca de quatro milhões de hectares. Nos últimos anos, a
integração de atividades como a agricultura-pecuária tem se intensificado,
com o crescimento da produção de suínos, aves e peixes, entre outras, re-
forçando o setor da agroindústria e gerando novas perspectivas econômicas
para a região.4
Um dado relevante destacado em pesquisas refere-se à extensão dos
estabelecimentos agropecuários na região, identificando-se número sig-
nificativo de propriedades rurais com mais de mil hectares, tendo como
principais cultivos soja, cana, milho e outras culturas temporárias, todos
caracterizados pela alta mecanização e pelo uso de tecnologia. Em Doura-
dos, predomina na agricultura5 a grande produção mecanizada de grãos e,
mais recentemente, a inserção da produção de biocombustível – cana-de-
açúcar. Já na pecuária, prevalece a bovinocultura de corte, a suinocultura e
a criação e o abate de aves.
Conforme apontado, a região de Dourados é uma das grandes pro-
dutoras de grãos – soja, milho e trigo – e de carne do país, destacando-se

4 Cf. <http://www.cpao.embrapa.br>. Acesso em: 9 mar. 2010.


5 Ressalta-se que a cobertura vegetal nativa foi quase em sua totalidade substituída pela pas-
tagem ou agricultura, representando 74% da área total (Yamashita, 2011).

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70 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

as culturas temporárias, variando entre a safra e a chamada “safrinha”.


Contudo, somente parte da produção é beneficiada na região. O processo
de comercialização está integrado ao sistema de beneficiamento para al-
guns produtos, como no caso da produção de soja, milho e trigo. Entre as
indústrias existentes em Dourados estão unidades de esmagamento de soja
e processamento do milho, cujos subprodutos são utilizados na produção
de ração e vão integrar cadeias produtivas dentro da própria região, ou são
enviados a outros centros, ou ainda exportados para outros estados e países,
como é o caso do farelo de soja e dos derivados do milho. Para Elias e Pe-
queno (2010, p.50), “uma das características da agricultura modernizada
é o sistema integrado de produção, que agrega os produtores agrícolas e
pecuários aos complexos agroindustriais”.
A análise da consolidação da agricultura moderna, que apresenta novas
demandas e padrões de consumo, torna-se fundamental para compreender
a centralidade expressa por Dourados. Assim, a agroindústria tem impacto
direto no processo de reprodução do espaço urbano, que passa a atender a
demanda das atividades produtivas por intermédio da abertura de novos
empreendimentos – comércio, serviços, agroindústria –, novos produtos,
equipamentos e profissionais no mercado.

2.1. As novas formas de produção e articulação: da


escala local à internacional

Stédile (2006, p.17) ressalta que, no contexto globalizado, existem dez


empresas transnacionais, a saber: “Monsanto, Bunge, Cargill, ADM, Basf,
Bayer, Syngenta, Novartis, Nestlé e Danone, que controlam praticamente
toda a produção agrícola, de agrotóxicos, de sementes transgênicas e o
comércio agrícola de exportação”. Dourados conta com algumas dessas
principais empresas multinacionais associadas ao setor da agroindústria
destacadas por Stédile, fazendo que a cidade não se limite apenas a uma
atuação regional, mas esteja incorporada a circuitos produtivos mais am-
plos, articulada aos mercados nacionais e internacionais (Yamashita, 2011).
A Bunge Alimentos, com uma unidade em Dourados, atua no setor de
industrialização de soja. Sob o sistema de parceria, encontramos empresas
com unidades que “representam agentes globais”, como a Monsanto – uma
das 32 maiores empresas de distribuição no Brasil –, atuando em Dourados

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 71

por intermédio da empresa Via Campus.6 Outras empresas também se


estabelecem como distribuidoras e/ou representantes, tais como a Basf,
que tem como empresa principal de revenda a Foliagro; a Syngenta, com
as empresas Ciarama Comércio e Representações e CVale Cooperativa
Agroindustrial; a John Deere, representada pela COMID Máquinas Ltda.;
além de outras unidades vinculadas à Manah, à Serrana Fertilizantes e à
Serrana Nutrição Animal (Bunge), à DuPont, à Caterpillar, à Massey Fer-
guson, à New Holland, à Case Agriculture, entre outras.
Entre as empresas instaladas em Dourados encontra-se também a do
Grupo JBS Foods, que se destaca em dois setores de atuação: no segmento
de carne de aves e suínos processados e na fabricação de rações. Considera-
da referência no mercado interno, atua fortemente no setor de industrializa-
dos sob a marca Seara,7 com produtos embutidos de diferentes tipos, como
presuntos, apresuntados, salgados, salames, salsichas, linguiças, mortade-
las, curados, hambúrgueres, empanados e pratos prontos, entre outros.8
Outra grande processadora de alimentos que atua em Dourados é a
Brasil Foods (BRF), que controla, entre outras, as marcas Perdigão, Sadia,
Elegê e Batavo, colocando-se como uma das maiores companhias de ali-
mentos da América Latina e cuja produção é exportada para vários países.

A BRF (Brasil Foods), uma das maiores empresas exportadoras de ave do


mundo, a única companhia do Brasil com rede de distribuição de produtos
em todo território nacional, está presente na 48ª Feira Internacional de Dou-
rados – Mato Grosso do Sul. A BRF nasceu da associação entre a Perdigão e a
Sadia, começou a sua expansão no estado de Mato Grosso do Sul no ano de 2008
quando adquiriu a Eleva Alimentos (antiga Avipal). Com unidade na cidade
de Dourados, no ano de 2011 a empresa adquiriu a fábrica da Heloísa Lácteos,
unidade industrial de processamento de leite, localizada na cidade de Terenos.
O parque industrial da cidade Dourados conta hoje com 1.900 funcionários,
tem no seu quadro de fornecedores mais de 210 produtores rurais, produzindo

6 Dados obtidos no site da empresa: <http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/


newsletter/geral/05_2010Setembro/meioambiente.asp>. Acesso em: 10 out. 2010.
7 Em 2013, “a Seara Alimentos passa a ser controlada pelo Grupo JBS, líder mundial em pro-
cessamento de carne bovina, ovina e de aves, além de ter uma forte participação na produção
de carne suína”. Disponível em: <http://www.seara.com.br/seara/historia-da-marca/>.
Acesso em: 3 ago. 2014. Vale destacar que a unidade JBS Foods Seara Dourados-Suínos
conta atualmente com cerca de 2.500 funcionários, com capacidade de abate de 2.100 suí-
nos/dia e de 9.240 toneladas de industrializados/mês.
8 Dados obtidos no site da empresa: <http://www.cargill.com.br>. Acesso em: 3 ago. 2014.

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72 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

mais de 600 itens, provenientes do corte de frango, que são exportados para todo
continente, além de abastecer o mercado interno.9

O ambiente institucional de apoio à agropecuária na região é bastante


expressivo, contendo uma pluralidade de instituições que fazem a assistên-
cia técnica rural, a pesquisa científica e o melhoramento genético, demons-
trando a importância estratégica da cidade para o setor da agroindústria.
Desde 1975, o município de Dourados conta com uma unidade da Em-
brapa, que apresenta como missão “viabilizar soluções para a sustenta-
bilidade da agricultura na Região Oeste do Brasil, por meio de pesquisa,
desenvolvimento e inovação, em benefício da sociedade”.10 Atua em uma
região formada por 39 municípios, totalizando uma população de 700 mil
habitantes. Sob o ponto de vista econômico, segundo informações da ins-
tituição, a região é importante para o Mercado Comum do Sul (MER-
COSUL), pois faz fronteira direta com a Bolívia e com o Paraguai e está
próxima à Argentina e ao Uruguai.
A Embrapa Agropecuária Oeste, criada como Unidade de Execução de
Pesquisa de Âmbito Estadual de Dourados (UEPAE de Dourados), objeti-
va dar suporte ao desenvolvimento da fronteira agrícola de grande potencial
econômico no sul do estado. A pesquisa dessa Unidade concentrou-se
inicialmente nas culturas de arroz, feijão, milho, soja e trigo, basicamente
nas áreas de melhoramento genético, fitossanidade e conservação, manejo
e fertilidade do solo, sendo que os resultados das pesquisas desenvolvidas
contribuíram efetivamente para o desenvolvimento regional, voltado ao
mercado nacional e internacional. Recentemente, foi transformada em cen-
tro ecorregional denominado Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste
(Embrapa Agropecuária Oeste). Sua área de abrangência é a região oeste do
Brasil, formada pelos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e pelas
regiões noroeste do Paraná e oeste de São Paulo.
Além da Embrapa, estão instaladas também em Dourados cinco insti-
tuições voltadas ao ensino superior (graduação e pós-graduação) e à pes-
quisa tecnológica, o que comprova a importância do consumo produtivo
associado à agroindústria (Quadro 7).

9 Disponível em: <http://www.sindicatoruraldedourados.com.br/expoagro/brasil-foods-


uma-das-maiores-exportadora-de-aves-do-mundo-presente-na-48-expoagro>. Acesso
em: 3 ago. 2014.
10 Cf. <http://www.cpao.embrapa.br/unidade/missao.html>. Acesso em: 10 out. 2010.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 73

Quadro 7: Dourados/MS. Principais instituições de ensino e cursos relacionados à agroindústria.


2013.
Instituição Cursos oferecidos Especificação
Universidade Federal da Agronomia Graduação
Grande Dourados (UFGD) Biotecnologia
Engenharia agrícola
Engenharia de alimentos
Engenharia de aquicultura
Engenharia de energia
Engenharia de produção
Gestão ambiental
Química
Zootecnia
Agronegócios (Mestrado)
Agronomia (Mestrado e Doutorado) Pós-graduação
Engenharia agrícola (Mestrado)
Química (Mestrado)
Zootecnia (Mestrado)
Universidade Estadual de Química industrial Graduação
Mato Grosso do Sul (UEMS) Engenharia ambiental
Planejamento e Gestão ambiental – Pós-graduação
Avaliação ambiental estratégica
(Especialização)
Recursos naturais
(Mestrado e Doutorado)
Faculdades Anhanguera de Gestão de negócios Graduação
Dourados Agronomia
Medicina veterinária
Centro Universitário Agronomia Graduação
da Grande Dourados Administração de agronegócios
(UNIGRAN) Medicina veterinária
Gestão ambiental (Especialização) Pós-Graduação
Tecnólogo em Produção agrícola Curso Tecnológico
Fonte: Dados divulgados nos sites das instituições. Organização: Bruno Bomfim Moreno.

Considerando os dados divulgados no Censo Agropecuário (2006), a


região de Dourados participa com 12,4% de toda a renda mensal gerada no
estado, sendo que o município de Dourados é o responsável por 68% desse
índice – fato que pode ser explicado pela concentração de indústrias e de
grandes armazéns para produtos agrícolas, de onde a produção é exportada
(Garbin; Silva, 2006, p.24).
Nesse contexto, temos novos arranjos socioespaciais que acabam por
reforçar o papel das cidades médias, favorecidas pelo progresso técnico da
produção e circulação (Araújo, 2009, p.12). Esses novos núcleos urbanos,
segundo Santos e Silveira (2001, p.281), passam a abrigar um conjunto

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74 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

de objetos e ações de maior densidade técnica e informacional e têm como


papel garantir o suprimento imediato e próximo da informação requerida
pelas atividades agrícolas. Desse modo, suas atividades urbanas estão inter-
ligadas, refletem o consumo produtivo e cumprem seu papel relacional, reu-
nindo estabelecimentos e profissionais envolvidos com a técnica e a ciência.
Essa estreita relação da cidade de Dourados com as atividades ligadas à
agroindústria é materializada pelo expressivo número de estabelecimentos
comerciais e de serviços que fornecem suporte ao setor agropecuário, reve-
lando nexos horizontais e verticais que se articulam da escala local para a
internacional, por intermédio das novas dinâmicas socioespaciais. Obser-
vamos que muitos estabelecimentos que comercializam produtos e serviços
voltados à agropecuária também agregam a assistência técnica e logística,
exigindo que parcela de seus funcionários (vendedores) tenha especialidade
em Agronomia, Zootecnia e/ou Medicina veterinária, conforme a abran-
gência do estabelecimento (Figura 4).

Figura 4: Dourados/MS. Representação por área de abrangência das empresas comerciais


associadas à agroindústria. 2010.
Fonte: Informações obtidas em pesquisa sobre empresas cadastradas em destaque por setor na LISTEL e ins-
trumentos similares (Guia Mais, Telelistas e ILocal) disponível no site <http://www.listel.com.br> (acesso em:
13 mar. 2010) e em pesquisa de campo realizada em abril de 2010. Organização: Ana Cristina Yamashita (2010).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 75

Observamos também a inserção e o direcionamento de alguns estabele-


cimentos para o comércio exterior, importação e exportação, indicativo de
verticalidades na dinâmica produtiva local, que articulam-se, igualmente,
aos interesses do agronegócio.
No que diz respeito às empresas de consultoria, que de uma forma
ampla prestam serviços por intermédio de profissionais qualificados, a
Tabela 4 permite visualizar as principais empresas existentes, por categoria
de serviço prestado.

Tabela 4: Dourados/MS. Principais empresas de consultoria. 2009.


Principais empresas de consultoria cadastradas
Categoria Número de estabelecimentos %
Agronegócio 61 61,62
Contabilidade 8 8,08
Empresarial 6 6,06
Imóveis 5 5,05
Engenharia 4 4,04
Comércio e outros 4 4,04
Transporte de cargas 3 3,03
Informática 3 3,03
Consultores de organização e métodos 2 2,02
Consultoria de bens e serviços 1 1,01
Seguros 1 1,01
Comércio exterior – assessoria 1 1,01
Total 99 100,00
Fonte: LISTEL <http://www.listaonline.com.br> e/ou <http://www.guiamais.com.br> e <http://www.
ilocal.com.br>. Acesso em: 13 set. 2009.

A categoria relativa ao agronegócio aparece com maior percentual


(61,62%), seguida pelas categorias de assessoria em contabilidade, assessoria
empresarial, setor imobiliário, engenharia, comércio, transporte de cargas,
informática e outros serviços que apresentam diversidade das especialidades
profissionais. Vale destacar a presença, ainda que tímida, de uma empresa
de consultoria e assessoria em comércio exterior. Com relação à localização
das empresas comerciais e de serviços associadas à agropecuária (Figura
5), os levantamentos indicam a concentração desses estabelecimentos nas
principais vias da cidade de Dourados, articulando as áreas produtivas aos
principais eixos viários, com o intuito de facilitar a circulação dos produtos,
tanto dos estabelecimentos rurais do município quanto de áreas vizinhas.

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Figura 5: Dourados/MS. Principais eixos da agroindústria. 2006.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 77

No contexto do agronegócio, um evento que apresenta relevância é a Ex-


posição Agropecuária, Industrial, Comercial e Cultural de Dourados (EX-
POAGRO GranDourados), realizada anualmente pelo Sindicato Rural no
Parque de Exposições João Humberto de Carvalho. Durante sua realiza-
ção, são negociados principalmente produtos e serviços ligados direta ou
indiretamente à produção agrícola local e da região, com uma programação
que inclui palestras, simpósios, cursos, shows, leilões, atividades equestres,
rodeios, exposições e julgamentos de raças – avaliações de gado. Nos leilões
ocorre a comercialização de animais que ainda não foram gerados, ou seja,
a venda de sêmen de reprodutores. Essa atividade, além de evidenciar a
importância da ciência e da tecnologia no âmbito desse setor, denota as
verticalidades e as horizontalidades que se estabelecem na comercialização
de animais nesse evento, visto que os principais leilões são transmitidos por
emissora de TV por assinatura, o Canal Rural, possibilitando a aquisição
de animais por compradores de todo o país e inclusive de países vizinhos,
como o Paraguai.
O Quadro 8 apresenta os dados sobre a arrecadação do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por atividade econômica e
evidencia um aumento significativo na arrecadação total de Dourados, com
ampliação das atividades de comércio, agricultura e serviços, e diminuição
da arrecadação na atividade pecuária.

Quadro 8: Dourados/MS. Arrecadação de ICMS por atividade econômica (em R$). 2005-2009.
Especificação 2005 2006 2007 2008 2009
Total 106.159.935,34 104.973.083,23 136.049.282,11 173.303.784,67 206.732.463,63
Comércio 60.018.741,95 64.894.644,73 79.948.643,44 89.417.835,44 100.680.973,23
Indústria 6.886.345,45 11.283.028,18 12.251.976,71 20.223.727,64 21.040.877,81
Pecuária 13.880.588,59 3.721.652,92 3.652.967,46 3.568.040,25 2.990.238,57
Agricultura 22.804.628,87 22.155.353,50 35.182.943,81 57.924.747,22 76.433.459,89
Serviços 1.328.024,59 1.775.757,05 3.477.080,59 3.153.338,45 4.670.444,21
Eventuais 1.151.605,89 1.142.646,85 1.535.670,10 1.016.095,67 916.469,92
Fonte: <http://www.semac.ms.gov.br/>. Acesso em: 9 out. 2010.

Dourados, dessa forma, concentra um amplo setor de comércio e servi-


ços especializados para atender as atividades econômicas relacionadas ao
setor agropecuário, o qual, no quadro do atual processo de urbanização,
particularmente sob o enfoque da ampliação da importância das cidades

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78 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

médias, deve ser compreendido como condição essencial para os papéis que
a cidade desempenha. Assim, o processo de fluidez material é fundamental
e, nesse sentido, têm papel importante o distrito industrial de Dourados, o
aeroporto e as vias de acesso, abordados a seguir.

2.2. Distrito industrial, aeroporto e rodovias de acesso11

Dourados possui um distrito industrial com cerca de quatrocentos hec-


tares instalado na porção sudoeste da cidade. Localizado a cerca de 5 km da
malha urbana, foi implantado nos anos 1980, dentro da proposta de planos
de desenvolvimento industrial promovidos por diversos municípios na
época. A área do distrito abriga pouco mais de vinte empresas em funcio-
namento (Quadro 9), sendo, a grande maioria, do setor de transformação.
Há sérios problemas de cunho ambiental no distrito, pois muitas em-
presas produzem efluentes cujo cheiro forte, dependendo das condições
climáticas – vento, temperatura, umidade do ar –, é sentido em quase toda
a cidade de Dourados. Esse é o caso da Indústria de Curtume Bertin Ltda.,
que, no ano de 2002, conforme divulgado pela imprensa, foi notificada pelos
fiscais do então Instituto de Planejamento e Meio Ambiente de Dourados
(IPLAN) por crime ambiental – despejo de dejetos em área não apropriada.
O modelo de distrito industrial estabelecido em Dourados serviu apenas
para garantir estrutura física para as maiores empresas. Há poucos estabe-
lecimentos industriais de pequeno porte, já que na época de sua criação não
era esse o intuito do poder público.
O distrito industrial, apesar de sua importância no discurso político
desenvolvimentista da cidade, tem pouca expressão, pois a maior parte
dos estabelecimentos industriais está localizada em outras áreas da cidade.
Devido ao alto preço da terra em Dourados, não há muitas alternativas de
expansão, pois praticamente toda a área do distrito destinada às empresas
já foi ocupada, e qualquer desapropriação ou compra de terras no entorno
terá um alto custo financeiro.

11 No levantamento de informações e/ou dados concernentes ao aeroporto e vias de acesso,


contamos com a contribuição de Francisco da Silva Queiroz e João Paulo Muniz Marin.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 79

Quadro 9: Dourados/MS. Distrito Industrial (DID). 2013.


Empresa Setor de atividades Localização
Bunge Processamento de óleo de soja Distrito Industrial de Dourados
Saboreie Comida pré-processada Distrito Industrial de Dourados
Industemp Produção de temperos e pastas Distrito Industrial de Dourados
Agroindustrial São Farinheira Distrito Industrial de Dourados
Francisco
Imade – Armazenadora Armazéns Distrito Industrial de Dourados
de Grãos de Dourados
Dourajato Jateamento de peças Distrito Industrial de Dourados
Biofós Adubos orgânicos Distrito Industrial de Dourados
Organoeste Adubos orgânicos Distrito Industrial de Dourados
Nutrinerge Produção de ração para animais Distrito Industrial de Dourados
Yogurte Mineiro Produção de iogurtes e derivados Distrito Industrial de Dourados
de leite
Curtume Bertin Curtume Distrito Industrial de Dourados
BRF (Brasil Foods) Abate de aves Distrito Industrial de Dourados
Nutrimix Nutrição Produção de ração para animais Distrito Industrial de Dourados
Animal
Biocar Produção de biodiesel e óleos Distrito Industrial de Dourados
vegetais
Organoceres Comércio e representação de Distrito Industrial de Dourados
adubos orgânicos
Frios Talisma Alimentos Distrito Industrial de Dourados
Concreaço Pré-moldados Distrito Industrial de Dourados
Frigolav Lavanderia Distrito Industrial de Dourados
Raça Nutrição animal Distrito Industrial de Dourados
Farisul Ração animal Distrito Industrial de Dourados
Casings Comércio varejista de carnes – Distrito Industrial de Dourados
açougues
Pitol Beleza e estética Distrito Industrial de Dourados
Fonte: Levantamento de campo. Yamashita (2011). Organização: Maria José Martinelli Silva Calixto.

Vale destacar que a cidade conta também com o Aeroporto Regional de


Dourados “Francisco de Matos Pereira”, fundado em 13 de novembro
de 1982 e localizado a uma distância de aproximadamente 14 quilômetros do
centro da cidade, em frente aos câmpus da UFGD e UEMS. Funciona sob a
supervisão do Departamento Aeroportuário da Secretaria dos Transportes
do Rio Grande do Sul, administrado em parceria da prefeitura com o go-
verno do estado, por meio de convênio. Embora a cidade apresente atração

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80 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

de investimentos e movimentação de capitais, até bem recentemente havia


pequena oferta de voos diários, realidade que se modificou com a atuação
das empresas Azul e Passaredo.
O terminal é pequeno, oferecendo aos passageiros serviços básicos:
quatro balcões de check-in, um portão de embarque, uma sala de embarque
(120 lugares), uma sala de desembarque, estacionamento com oitenta vagas,
ponto de táxi e ônibus, agência dos correios, lanchonete e uma locadora de
automóveis (Localiza, operada via franchising), além de Seção de Aviação
Civil (SAC/ANAC). Em junho de 2012, o aeroporto passou a contar com
uma estação meteorológica. A pista de pouso é de concreto asfáltico com
balizamento, homologada para pouso-decolagem de voos noturnos, com
dimensões de 1.960 metros de comprimento e 30 metros de largura, dire-
ção 05/24 e sinalização. Do aeroporto saem voos particulares, agrícolas e
comerciais. Há voos diários comerciais, pelas empresas Azul – com destino
ao Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas/SP – e Passaredo –
com destino ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo/SP.
No que diz respeito à malha rodoviária, o estado de Mato Grosso do
Sul é cortado por rodovias federais e estaduais. Dourados, por exemplo,
conta com duas das principais rodovias federais: a BR 163 e a BR 463. A
BR 163 é a principal rodovia do estado de Mato Grosso do Sul, servindo de
ligação com os estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre e também com
o sul do Brasil, inclusive com o Porto de Paranaguá. É a rodovia que liga o
sul do estado à capital, Campo Grande, e por ela é escoada boa parte da
produção agrícola em direção aos estados do Paraná e de São Paulo. A BR
163 passa no sentido sul e sudoeste cortando parte da periferia da cidade.
Em suas margens estão localizadas algumas empresas, principalmente na
saída para Campo Grande. No sentido nordeste, a rodovia passa por alguns
distritos do município – Vila São Pedro, Vila Vargas, Vila Sapé –, enquanto
no sentido sul, após cruzar parte do perímetro urbano, a rodovia segue em
direção a Naviraí/MS e ao estado do Paraná. Na porção sul da cidade, há
uma rotatória em que a BR 163 segue em direção sul, e, em direção oeste,
continua como BR 463, que liga Dourados a Ponta Porã e à fronteira com o
Paraguai, distante cerca de 120 quilômetros.
Entre as rodovias estaduais que cortam o município de Dourados, desta-
ca-se a MS 156, que faz a ligação com Itaporã – duplicada em praticamente

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 81

toda sua extensão12 – e Maracaju. Atravessa parte da reserva indígena de


Dourados e serve de acesso à área urbana para a população indígena. Atual-
mente, esta rodovia articula-se, por meio do anel viário, com as demais –
BR 463, MS 162 (saída para o distrito de Itahum) e BR 163. Isso contribuiu
para facilitar a circulação de caminhões procedentes, por exemplo, de Ma-
racaju e Sidrolândia, que, anteriormente, necessitavam atravessar parte da
área central da cidade para conseguir chegar à BR 163 e seguir para o estado
do Paraná.
A MS 376 liga Dourados a municípios que surgiram da antiga Colô-
nia Nacional de Dourados, como Fátima do Sul, Vicentina, Jateí, Glória
de Dourados e Deodápolis, seguindo até Ivinhema e Nova Andradina.
É também utilizada como alternativa para quem vem dos estados de São
Paulo e do Paraná. A MS 162, por sua vez, faz a ligação entre Dourados
e o distrito de Itahum, distante 70 quilômetros, local onde ficava a antiga
estação ferroviária de Dourados pertencente à linha que ligava Ponta Porã
a Campo Grande. Interliga-se a outras rodovias e serve de acesso a Ponta
Porã e Jardim. Já a MS 276 sai do distrito de Indápolis e segue paralela à BR
376 até Deodápolis. O município de Dourados é servido também por vias
vicinais, geralmente não pavimentadas, que ligam a zona rural às demais
rodovias pavimentadas.
Na medida em que possibilitam articulações e interações regionais, as
vias de acesso são importantes, inclusive, para sedimentar o setor comercial
e de serviços que, conforme veremos no próximo capítulo, possui impor-
tância fundamental no reforço do papel de Dourados. A maior parte dos
estabelecimentos comerciais de Dourados, por exemplo, localiza-se na
Avenida Marcelino Pires, que constitui extensão intraurbana da BR 162,
interligando-se com a BR 163 e 156, importantes vias de articulação de
Dourados com o seu entorno, ou mesmo com outras regiões do país.

12 Tem havido investimento na duplicação da malha viária que liga Dourados a Campo Grande
e a outros municípios, além de obras de adequação de capacidade.

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3
COMÉRCIO E SERVIÇOS

Dourados destaca-se por concentrar um setor terciário ligado tanto ao


comércio varejista quanto a serviços especializados, como o ensino superior
e médico-hospitalar, o qual intensifica, simultaneamente, as múltiplas
articulações e interações espaciais com os contextos regional, nacional e
internacional.
O Quadro 10 mostra o Produto Interno Bruto para o estado de Mato
Grosso do Sul e o município de Dourados no período 2004-2011. Duran-
te todos esses anos, Dourados, cujo índice registra o valor da produção
realizada dentro dos limites do município, manteve a segunda posição no
ranking estadual, fato que reforça o seu potencial econômico no conjunto do
estado de Mato Grosso do Sul.

Quadro 10: Mato Grosso do Sul e Dourados. Produto Interno Bruto (PIB). A preços correntes
em milhares de reais. 2004-2011.
Ano Mato Grosso do Sul Dourados
2004 21.105.170 1.846.767
2005 21.650.854 1.807.455
2006 24.341.238 1.930.184
2007 28.121.420 2.359.939
2008 33.142.746 2.871.802
2009 36.368.094 3.003.284
2010 43.514.207 3.543.860
2011 49.242.254 4.337.947
Fonte: IBGE. Organização: Mara L. F. H. Bernardelli.

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Como se observa na Tabela 5, o setor comercial e de serviços tem im-


portância fundamental na definição do papel regional de Dourados,1 o que
reflete na redefinição do espaço urbano.

Tabela 5: Dourados/MS. Atividades por setores econômicos. 2012.


Setor econômico Unidades Pessoal ocupado Pessoal ocupado
assalariado
No % No % No %
Agricultura (1) 74 1,23 303 0,48 212 0,37
Indústria (2) 428 7,14 11.135 17,71 10.623 18,93
Construção 233 3,89 2.064 3,28 1.760 3,14
Comércio e Serviços (3) 5.258 87,74 49.369 78,53 43.535 77,56
Total 5.993 100 62.871 100 56.130 100
(1) Agricultura, pecuária, silvicultura, produção florestal, pesca e aquicultura.
(2) Inclui indústrias extrativas e de transformação.
(3) Inclui atividades de comércio e serviços variados, conforme a Classificação Nacional de Atividades Eco-
nômicas (CNAE 2.0)
Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas. Organização: Mara L. F. H. Bernardelli.

Como se percebe, mais de 87% das unidades empresariais estão vincula-


das ao comércio e aos serviços, significando mais de 78% do total de pessoal
ocupado. Trata-se, sem dúvida, de um fator fundamental na economia de
Dourados, tendo em vista que a centralidade regional que exerce decorre,
com efeito, dos papéis relacionados a esse setor.

1 No início de 2014, matéria do jornal eletrônico “Campo Grande News” aponta que, de
acordo com levantamento da Junta Comercial de Mato Grosso do Sul, “Dourados fechou
2013 com 13.741 empresas ativas em 31 de dezembro. Em 14 de janeiro eram 12.248 empre-
sas. Isso significa que durante o ano passado o município ganhou 1.493 empresas, o que dá
uma média de 4,25 empresas por dia útil. O crescimento é de 12,18%”. Na mesma matéria,
a secretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Neire Colman, aponta que Doura-
dos é “um polo comercial muito forte; nenhum outro tem essa dimensão de Dourados. Nossa
logística para o comércio, serviços e distribuição é a melhor do Estado”. A referida secretária
também cita como exemplo a MM, “que vai implantar 20 lojas de móveis no Estado, quatro
delas em Dourados e ainda um centro de distribuição. Outro exemplo é a rede Havan, que
abriu a primeira loja do Estado em Dourados.” Declara ainda que “Das franquias tops de
mercado hoje no Brasil a gente só não tem o Mcdonalds ainda”. A matéria também reforça
que no estado de Mato Grosso do Sul apenas Campo Grande abre mais empresas que Dou-
rados. “Campo Grande, uma cidade de 850 mil habitantes, abriu em média 13 empresas por
dia. Três Lagoas abriu 2,78 por dia e Corumbá, a terceira maior cidade de MS, 1,4 por dia.”
Disponível em: <http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/dourados-esta-
-em-franco-crescimento-e-abre-quatro-empresas-por-dia>. Acesso em: 3 ago. 2014.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 85

A dinâmica de centralidade regional reflete-se também no tipo de esta-


belecimento industrial e nas empresas do setor de tecnologia avançada pre-
sentes na cidade. Segundo dados levantados na Junta Comercial do Estado
de Mato Grosso do Sul, a maioria das grandes empresas industriais tem sua
produção direcionada às demandas do setor agropecuário.
A partir de meados da década de 1970, em muito se ampliaram as arti-
culações e intermediações que Dourados passou a empreender no conjunto
da rede urbana. O Quadro 11 reúne informações sobre o crescimento popu-
lacional urbano do conjunto de cidades ligadas à rede urbana de Dourados,
mais um elemento que permite dimensionar seu papel regional. Em 2010,
reunia uma população urbana de 593.657 habitantes, concentrando fluxos
provenientes de 32 municípios do estado.2

Quadro 11: Cidades da rede urbana de Dourados/MS. População urbana. 1940-2010.


Cidade População urbana
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Amambai – 1.770 2.601 4.430 22.975 15.279 18.838 22.375
Angélica – – – – 4.228 5.683 5.692 7.691
Antônio João – – – 1.356 3.116 5.173 6.297 6.828
Aral Moreira – – – – 1.936 2.949 3.271 5.357
Bela Vista 5.639 6.090 S/I** 10.546 10.232 15.093 18.023 18.927
Caarapó – – 1.793 2.849 9.297 12.848 14.656 18.309
Caracol – – – 568 887 1.892 2.760 3.238
Coronel Sapucaia – – – – – 5.787 9.472 10.208
Deodápolis – – – – 3.306 5.333 8.436 10.047
Douradina – – – – – 1.994 2.703 3.286
Dourados 1.821 3.042 10.757 25.977 65.803 117.007 149.928 181.005
Eldorado – – – – 5.822 6.756 8.318 9.348
Fátima do Sul – – – 7.212 10.512 14.597 16.280 16.967
Glória de Dourados – – – 4.494 6.459 7.715 7.208 7.670
Iguatemi – – – 625 4.390 6.997 9.259 11.006
Itaporã – – 2.422 4.043 5.113 7.778 11.731 13.290
Itaquiraí – – – – – 5.285 6.281 7.600
Ivinhema – – – 2.268 6.653 13.180 15.088 17.274
Continua

2 Vale referenciar que no decorrer dos anos 1960 houve o desmembramento de alguns muni-
cípios de Dourados, implicando a redução da população total de 84.955, no início da década
de 1960, para 79.186 no início da década de 1970.

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86 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 11: Continuação


Cidade População urbana
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Japorã – – – – – – 1.205 1.400
Jateí – – – 580 921 1.347 1.303 1,871
Juti – – – – – 3.074 3.365 3.925
Laguna Carapã – – – – – – 2.200 2.737
Maracaju 1.011 1.308 1.848 3.366 8.278 16.728 21.190 32.224
Mundo Novo – – – – 13.821 14.556 13.612 15.271
Naviraí – – – 7.657 15.272 25.192 32.662 42.855
Nova Alvorada do Sul – – – – – – 6.682 12.286
Novo Horizonte do Sul – – – – – – 2.326 2.660
Paranhos – – – – – 5.793 5.795 6.263
Ponta Porã 4.480 5.152 9.610 12.668 22.163 43.266 54.383 62.067
Rio Brilhante* 1.388 985 876 3.546 5.461 10.605 16.677 24.557
Sete Quedas – – – – – 8.532 8.999 8.974
Tacuru – – – – – 3.338 4.380 3.767
Vicentina – – – – – 2.588 3.544 4.243
* Em 1940, Rio Brilhante foi elevado à categoria de vila, ainda denominado Entre Rios.
Fonte: IBGE – Censo Demográfico (1940-2010). Organização: Maria José Martinelli S Calixto.

O crescimento populacional incidiu na expansão do setor de comér-


cio varejista e de serviços, que se reestruturou para atrair esse mercado
potencial, influenciando nas lógicas de redefinição do espaço intraurbano e
regional, pois percebe-se que alguns dos municípios perderam população e,
consequentemente, papéis urbanos, para a cidade média.

3.1. Redes e filiais de venda de eletrodomésticos,


eletrônicos, magazines e lojas de departamentos

O processo de estabilização e de crescimento econômico que o Brasil


vivenciou nas últimas décadas – ampliando o acesso ao consumo – favore-
ceu a expansão das maiores redes de eletrodomésticos pelo interior do país.
Em Dourados, a expansão do consumo de eletrodomésticos promovido nos
últimos anos fez que o número de estabelecimentos do setor aumentasse.
A centralidade que exerce na porção sul do estado de Mato Grosso do Sul
também propiciou o estabelecimento de novas redes de venda de eletro-

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 87

domésticos – como é o caso da Loja Ponto Frio –, pois a cidade atrai um


contingente de pessoas vindas das pequenas cidades de seu entorno, que
movimentam o comércio local.
Destaca-se o fato de que os estabelecimentos desse setor concentram-
-se, significativamente, ao longo da Avenida Marcelino Pires, no centro
tradicional. Esta avenida, que corta a cidade no sentido leste-oeste, é a prin-
cipal via de Dourados e também seu principal eixo de acesso, sendo saída
para a capital do estado e para o estado de São Paulo. Nela estão presentes
as redes nacionais de varejo de eletrodomésticos Magazine Luiza e Casas
Bahia, com duas lojas cada, além de uma loja da rede carioca Ponto Frio. Os
demais estabelecimentos são de redes regionais: Brasilar, Móveis Gazin,
Movelar, Golfinho Móveis e Romera, que também negociam móveis.
Além de contar com unidades das redes Marisa, Avenida – com três lojas
na cidade3 –, Riachuelo e Seller,4 foi inaugurada, no ano de 2013, uma filial
da loja de departamentos Havan, também na Avenida Marcelino Pires, nas
proximidades do Shopping Avenida Center e do Hipermercado Extra.
Assim, Dourados acaba constituindo-se como centro comercial varejis-
ta regional, que atrai consumidores dos municípios da região. Praticamente
todas as lojas de eletrodomésticos têm serviços de entrega que cobrem um
raio de até 100 quilômetros de distância da cidade, para atender clientes de
outras cidades. Nesse quesito, destaca-se a Casas Bahia, pois a empresa faz
entregas, sem custo adicional para o consumidor, num raio de até 120 qui-
lômetros de Dourados, e oferece inclusive a montagem de móveis.
Outro ramo de atividade que merece destaque em Dourados é o setor
bancário, conforme veremos no próximo item.

3.2. Rede bancária e financeira5

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) (agosto


2010), Dourados dispõe de sete bancos – Bradesco, Banco do Brasil, Banco

3 Ambas com lojas no shopping da cidade.


4 Ambas localizadas na Avenida Marcelino Pires, na área central de Dourados.
5 No levantamento de informações concernentes à rede bancária e financeira, contamos com a
contribuição de Maria Amábili Alves de Castro.

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88 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Santander, CEF, HSBC, Itaú e Unibanco –, dezessete agências bancárias,


44 postos de atendimento e doze financeiras. Das dezessete agências bancá-
rias existentes na cidade, dezesseis se localizam na área central, o que indica
a forte coesão entre as atividades financeiras e as atividades do comércio e
outros serviços, concentradas no centro tradicional. Apenas uma agência
do Banco do Brasil localiza-se um pouco mais distante do centro, na porção
norte da cidade, na Vila Tonani I, local de residência das classes de elevada
renda e onde se praticam os maiores preços fundiários e imobiliários. A
agência atende “quase que exclusivamente” ao setor agrícola, o que acaba
por reforçar sua localização estratégica, visto que seus clientes devem com-
provar vínculos com as atividades rurais.
Ao considerarmos, na análise, a totalidade dos 44 postos de atendimento
bancário, incluindo os caixas eletrônicos, observamos que o centro mantém
a concentração das agências, característica que revela sua importância no
contexto intraurbano. Em geral, os postos de atendimento localizados fora
dele têm destinação específica a clientes que utilizam outros serviços. Os
caixas eletrônicos localizam-se em lugares estratégicos, como o Atacadão
Comércio de Alimentos Ltda. – não muito distante do centro –, a rede de
Supermercados ABEVE Ltda., Supermercados São Francisco e Hipermer-
cado Extra, nas universidades, na Prefeitura Municipal, na Justiça Federal,
na fábrica de rações da Perdigão – Avenida Guaicurus –, no Distrito Indus-
trial de Dourados, postos de combustível, padarias etc. Já os postos de aten-
dimento bancário são apenas três e estão vinculados a órgãos do judiciário
como o Fórum, a Justiça Federal e a Junta de Conciliação e Julgamentos.
Dourados possui dezessete das 45 agências bancárias existentes na
microrregião,6 ou seja, concentra mais de 36% desse serviço, em que estão
representados os principais bancos privados do Brasil – Itaú, Bradesco,
Unibanco, Santander e HSBC – além do Banco do Brasil e da Caixa Eco-
nômica Federal. Observamos ainda que quase todos os municípios da mi-
crorregião possuem cooperativas de crédito. Contudo, Dourados concentra
50% delas, reforçando o seu papel gestor e sua centralidade na região.

6 Os municípios que compõem a microrregião de Dourados são Amambai, Antônio João,


Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Fátima do Sul, Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju,
Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio Brilhante e Vicentina.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 89

3.3. Supermercados – rede atacadista e varejista

Ao nos reportarmos à atividade comercial na cidade de Dourados, tor-


na-se importante avaliar o papel que os supermercados desempenham,
inclusive no reforço de seu papel regional. Nesse quesito, vale ressaltar
a presença da rede atacadista Atacadão Distribuição e Comércio Ltda.,
ligada ao grupo Carrefour. Dourados é a única cidade no Mato Grosso
do Sul em que esta rede atacadista tem atuação, além da capital, Campo
Grande, que dispõe de dois estabelecimentos. Tendo chegado à cidade
no ano de 2002, o Atacadão de Dourados destaca-se como loja de autos-
serviço, com variedade de produtos e preços atraentes. Emprega mais de
230 funcionários, sendo o único atacadista alimentício de grande porte na
região sul do estado, atraindo pequenos comerciantes varejistas. O fluxo de
pessoas de outras localidades que passam por seus vinte caixas adquirindo
produtos tanto para o pequeno estabelecimento quanto para uso próprio é
significativo, principalmente, no início do mês, quando em geral se efetua o
pagamento de salários, sobretudo de servidores públicos.7
Os pequenos e médios comerciantes do sul do estado que compram por
atacado com o objetivo de revender as mercadorias em sua cidade de origem
justificam a presença desse empreendimento, que contribui para reforçar o
papel de Dourados como cidade média no sul do estado de Mato Grosso do
Sul, corroborando o que afirma Sposito (2007, p.44):

Há necessidade de um determinado nível de densidade de consumidores


para que uma localidade seja objeto de interesse de capitais que se desconcen-
tram espacialmente e se expandem territorialmente, razão pela qual se reforçou
o papel das cidades médias como espaços de consumo locais e regionais.

Se a dependência dos municípios do sul do estado de Mato Grosso do Sul


em relação a Dourados no que concerne a serviços urbanos especializados

7 Segundo matéria do jornal eletrônico Fatimanews, a loja do Atacadão em Dourados está entre
as que mais vendem no Brasil. Disponível em: <http://www.fatimanews.com.br/cidades/
dourados-vai-ganhar-novo-atacadao-e-hipermercado-assai/168249/>. Acesso em: 3 ago.
2014

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é visível, a procura por produtos disponíveis em supermercados também é


considerável, principalmente por parte de comerciantes de outros municí-
pios, que compram com o objetivo de revender.
Outro empreendimento que merece destaque é o do Grupo ABEVÊ,8
uma das maiores redes de supermercados do Mato Grosso do Sul, que teve
seu início em 1987, com o então Supermercado Santo Antônio, na cidade de
Caarapó/MS. Em 1999, inaugurou a primeira loja do Supermercado Santo
Antônio, em Dourados, no local onde funcionava a antiga Casa Moreira.
No ano de 2002, adquiriu o Supermercado Super Mix (Abevê Água Boa)
e, em 2004, o supermercado MaxBom (Abevê Max). Em 2006 foi inaugu-
rado o Abevê Shopping; em 2008, a Cesta Básica, além do Abevê Cuiabá
e do Abevê Canaã; em 2009 foi inaugurado o Abevê Flórida e, em 2015, o
Abevê Parque do Lago,9 além do Abevê Fácil Minimercado, na área cen-
tral de Dourados. Atualmente, a rede tem lojas distribuídas em cidades do
estado do Mato Grosso do Sul, como Dourados, Caarapó, Maracaju, Três
Lagoas, Rio Brilhante e Itaporã. Com exceção de Maracaju, onde há duas
lojas da rede ABEVÊ, outros municípios do sul do estado possuem somente
uma unidade, como no caso de Caarapó, Rio Brilhante e Itaporã, enquanto
Dourados, além de sediar a central de compras, possui nove lojas, uma
delas funcionando como âncora no Shopping Avenida Center, mais um
dado a reforçar a centralidade apresentada pela cidade.
Considerado um dos maiores grupos de empresas privadas do país, o
Hipermercado Extra, com uma área de 16 mil metros quadrados, foi inau-

8 Além da rede de supermercados, o Grupo ABEVÊ também é composto por outras empre-
sas: “Centro de Distribuição de Dourados – responsável por abastecer os supermercados do
Grupo; Viluvi Factoring – tem como atividade principal o fomento de cheques e duplicatas,
atendendo o comércio da grande Dourados; NGV CRED – administradora do Cartão ABV
Card e responsável pelas cobranças de recebíveis; Fazenda Dalaias – Fazenda de criação de
gado de corte. Ao longo dos anos, o Grupo ABV vem crescendo e se fortalecendo, é uma
das 70 maiores empresas do Ranking Nacional da Associação Brasileira de Supermercados
(ABRAS) e Ranking Revista Supermercado Moderno”. Disponível em: <http://www.
abeve.com.br/site/historia.asp>. Acesso em: 3 ago. 2014.
9 “Com 2.100 m de área de venda, 4.700 m de área construída, estacionamento para 98 carros
(com plano de expansão) e terreno de 7.500 m2, é a maior loja de bairros e a mais moderna.
São 100 funcionários contratados diretamente [...]”. Disponível em: <http://caarapoense-
news.com.br/2015/06/17/rede-de-supermercados-em-dourados-abre-mais-uma-filial-
-com-porte-de-loja-ancora/>. Acesso em: 17 jun. 2015.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 91

gurado, em 2010 nas proximidades do terminal rodoviário e do Shopping


Avenida Center, gerando aproximadamente 250 empregos.10
Além de supermercados de menor porte de capital local – como Chama,
Big Bom, Cuenca etc. –, a cidade também possui uma unidade da rede
paranaense de supermercados São Francisco, que dispõe de ampla loja –
com 23 caixas. Após recente reforma, passou a contar com uma área deno-
minada Hiper Center Dourados, que abriga uma lanchonete da Subway,11
uma farmácia, uma loja da franquia O Boticário12 e outra da rede Avenida –
antiga Tecelagem Avenida.13

3.4. Comércio especializado de veículos, máquinas e


implementos agrícolas

O comércio especializado de veículos presente em Dourados é mais


um dos setores que se destaca regionalmente, por intermédio das conces-
sionárias e/ou representantes das montadoras: FIAT, Chevrolet, Ford,
Volkswagen, Renault, Citroën, Toyota, Honda, Kia, Nissan, Mitsubishi
e Hyundai, entre outras. Assim, ao mesmo tempo que a presença de um
comércio especializado, no caso de veículos particulares, marca e reforça
a sua hegemonia, Dourados depende dos centros urbanos do seu entorno
para que essa condição seja assegurada.
Também é significativa a presença de concessionárias e revendedoras
de tratores, máquinas e implementos agrícolas, dentre as quais se destacam

10 Vale referenciar que, conforme matéria divulgada no jornal eletrônico Fatimanews, o Conse-
lho Municipal de Desenvolvimento Urbano de Dourados aprovou áreas para a construção
de dois hipermercados de atacado em Dourados, um do Grupo Carrefour e outro do Grupo
Pão de Açúcar. Disponível em: http://www.fatimanews.com.br/cidades/dourados-vai-
-ganhar-novo-atacadao-e-hipermercado-assai/168249/. Acesso em: 17 jun. 2015.
11 Há outra lanchonete da rede Subway – rede norte-americana de restaurantes, de tipo fran-
quia, que tem como especialidade a venda de sanduíches e saladas – na Avenida Weimar
Gonçalves Torres, na área central de Dourados.
12 Além de duas lojas na área central, a rede de franquia O Boticário também possui lojas no
Shopping Avenida Center e no Hipermercado Extra.
13 A rede Avenida conta com três lojas em Dourados. Além da loja na área do supermercado
São Francisco – inaugurada mais recentemente –, conta com uma unidade no Shopping Ave-
nida Center e outra no centro da cidade.

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Comid, Matra Tratores, Tratornan, Shark Tratores e Peças, Comatral


Equipamentos Agrícolas, Impeças etc. (Quadro 12). Nesse setor,

surgem novas relações que permitem, por exemplo, que uma máquina ou simi-
lar que esteja em uma propriedade em Dourados seja monitorada a partir de sua
sede em outro país, ora por controle de qualidade, ora por manutenção, como
ocorre na empresa COMID – representante da John Deere. (Yamashita, 2011,
p.188)

Quadro 12: Dourados/MS. Principais concessionárias e revendedoras de tratores, máquinas e


implementos agrícolas. 2011.
Nome Representação
Comid Máquinas John Deere
Matra Tratores e Implementos Agrícolas Ford/New Holland
Shark Tratores e Peças Ltda. Case Agriculture Valtra
Tratornan Comércio de Máquinas e Implementos Agrícolas Massey Fergusson/Valtra
Força Nova Impeças Comatral K5 e outras Civemasa 166
Fonte: Yamashita (2011). Organização: Maria José Martinelli S Calixto.

Após explicitada a importância de Dourados nos setores do comér-


cio – grandes redes de lojas de móveis, eletroeletrônicos e de departamentos;
supermercados; concessionárias de veículos de passeio e de trabalho –
e de serviços bancários, é importante considerar os serviços de saúde e edu-
cação superior, conforme será tratado a seguir.

3.5. Serviços de saúde14

As cidades médias, principalmente quando distantes dos maiores cen-


tros de excelência na prestação de serviços de saúde, denotam influência no
contexto regional por contarem com técnicas e profissionais especializados

14 No levantamento de campo e na reflexão concernentes aos serviços de saúde, contamos com


a contribuição de Valéria Ferreira da Silva Florentino. Para maior aprofundamento acerca da
temática, ver Silva (2010).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 93

para atender a demanda de seu entorno. No que diz respeito a Dourados, é


importante lembrar sua posição geográfica, no interior do estado, e a proxi-
midade com o estado do Paraná e com a fronteira do Paraguai.
Dourados desempenha papel dinamizador na rede urbana, consolidan-
do-se como referência regional em oferta de serviços de saúde especiali-
zados e no total de estabelecimentos, com destaque para os hospitais que
oferecem atendimento de média e alta complexidade. No conjunto dos
centros urbanos de Mato Grosso do Sul que compõem a rede urbana de
Dourados, há cinco hospitais (Quadro 13) que oferecem serviços de alta
complexidade, quatro dos quais estão em Dourados, o que representa 80%
do número total de estabelecimentos desse tipo na rede urbana regional
(Figura 6).

Quadro 13: Mato Grosso do Sul. Rede urbana de Dourados/MS. Estabelecimentos de saúde
(hospitais). 2014.
Municípios Número Nome Nível de
de complexidade
hospitais
Angélica 1 ABA – Associação Beneficente de Angélica Média
Caarapó 1 Hospital São Mateus Média
Deodápolis 1 Hospital Municipal Cristo Rei Média
Douradina – – -
Dourados 6 Hospital Universitário da UFGD Dourados Média
Hospital CASSEMS Unidade Dourados Alta
Hospital Evangélico Drª Srª Goldsby King Alta
Hospital Evangélico Drª Srª Goldsby King Alta
Unidade Hospital da Vida
Hospital Santa Rita Ltda. Alta
Missão Caiuá Média
Fátima do Sul 2 Hospital da SIAS – Sociedade Integrada de Média
Assistência Social
Hospital Nazareno Média
Glória de 1 Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Média
Dourados Glória
Itaporã 1 Hospital Municipal Lourival Nascimento Média
da Silva
Ivinhema 1 Hospital Municipal de Ivinhema Média
Jateí 1 Hospital Santa Catarina Média
Continua

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94 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 13: Continuação


Municípios Número Nome Nível de
de complexidade
hospitais
Juti 1 Hospital Municipal Santa Luzia Média
Laguna Carapã 1 Hospital Municipal de Laguna Carapã Média
Maracaju 1 Hospital Soriano Correa da Silva Média
Novo Horizonte 1 Hospital e Maternidade Novo Horizonte Média
do Sul do Sul
Rio Brilhante 1 Hospital e Maternidade de Rio Brilhante Alta
Sete Quedas 2 Hospital e Maternidade de Sete Quedas Média
Hospital Municipal de Sete Quedas Média
Tacuru 1 Hospital Municipal São Sebastião Média
Vicentina 1 Hospital Municipal Maria dos Santos Bastos Média
Amambai 2 Casa de Saúde Divina Providência Média
Hospital Regional Amambai Média
Coronel Sapucaia 1 Hospital Municipal Coronel Sapucaia Média
Paranhos 1 Hospital e Maternidade Nossa Senhora da Média
Conceição
Mundo Novo 2 Hospital Evangélico Média
Hospital Beneficente Dr. Bezerra de
Menezes Média
Eldorado 1 IASE – Instituto de Assistência Social e Média
Saúde de Eldorado
Iguatemi 2 Hospital São Judas Tadeu Média
Hospital São Lucas Média
Japorã – – –
Itaquiraí 1 Hospital São Francisco de Itaquiraí Média
Naviraí 2 Hospital CASSEMS Unidade de Naviraí Média
Hospital Municipal de Naviraí Média
Ponta Porã 3 Hospital CASSEMS Unidade de Ponta Porã Média
Hospital Regional Dr. José de Simone Netto Média
Hospital Samaritano Média
Antônio João 1 Hospital Antônio João Média
Aral Moreira 1 Hospital e Maternidade Santa Luzia Média
Bela Vista 1 Hospital São Vicente de Paula Média
Caracol 1 Hospital Beneficente Rita Antônia Maciel Média
Godoy
Guaíra – PR 2 Hospital São Paulo Alta
Hospital Santa Rita Alta
Terra Roxa – PR – – –
Fonte: Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). Organização: Fernanda Nascimento.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 95

Figura 6: Mato Grosso do Sul. Rede urbana de Dourados/MS. Hospitais (por tipo de serviço
oferecido). 2014.

De acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde


(CNES) divulgado em dezembro de 2013, Dourados apresentava um total
de 336 estabelecimentos, entre clínicas (Figura 7) e hospitais que realizam
atendimento de pacientes locais e de outras cidades do estado, de outros
estados e até mesmo de outro país, como é o caso do Paraguai. Os serviços
de saúde reforçam o papel regional de Dourados, pois cerca de 60% dos
atendimentos realizados somente nos hospitais referem-se a usuários de
outros municípios, que se deslocam, diária ou mensalmente, dependendo
do serviço buscado, que varia desde consultas de rotina a tratamentos mais
especializados. A cidade de Dourados configura-se, nesse contexto, como
referência nos serviços de baixa, média e alta complexidade, classificados,
de acordo com a orientação da Organização Mundial de Saúde, em postos
de saúde, unidade mista, policlínica, pronto-socorro e hospital.
A presença de estabelecimentos de saúde também pressupõe um núme-
ro significativo de trabalhadores qualificados ligados à área (Quadro 14),
nos setores público e privado.

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Figura 7: Dourados/MS. Localização das clínicas médicas. 2010.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 97

Quadro 14: Dourados/MS. Recursos humanos (vínculos) segundo categorias selecionadas. 2009.
Categoria Total Atende Não atende Prof./ Prof. SUS/
ao SUS* ao SUS 1.000 hab 1.000 hab
Médicos 1.322 1.062 260 7,0 5,6
Anestesista 111 79 32 0,6 0,4
Cirurgião geral 64 52 12 0,3 0,3
Clínico geral 418 390 28 2,2 2,1
Ginecologista e obstetra 106 78 28 0,6 0,4
Médico de família 44 44 - 0,2 0,2
Pediatra 88 72 16 0,5 0,4
Psiquiatra 14 12 2 0,1 0,1
Radiologista 42 26 16 0,2 0,1
Cirurgião dentista 132 108 24 0,7 0,6
Enfermeiro 146 133 13 0,8 0,7
Fisioterapeuta 70 44 26 0,4 0,2
Fonoaudiólogo 18 16 2 0,1 0,1
Nutricionista 12 11 1 0,1 0,1
Farmacêutico 54 37 17 0,3 0,2
Assistente social 14 14 – 0,1 0,1
Psicólogo 36 26 10 0,2 0,1
Auxiliar de enfermagem 355 315 40 1,9 1,7
Técnico de enfermagem 378 318 60 2,0 1,7
* Sistema Único de Saúde (SUS)
Fonte: CNES. Situação da base de dados nacional em 10/04/2010. Caderno de Informações de Saúde – Secre-
taria Executiva – Ministério da Saúde. Organização: Valéria Ferreira da Silva Florentino.

O Quadro 15, elaborado a partir de dados do CNES, permite verificar


os estabelecimentos de saúde existentes em Dourados segundo os níveis de
complexidade, com destaque para atendimentos em média e alta comple-
xidade, o que reforça o papel de Dourados como centro regional de saúde
especializada.
Dourados tem despertado interesse em investimentos na área da saúde,
com atração de capital e pessoas. Esse processo, aliado ao “maior dinamis-
mo econômico de muitas cidades médias e a precarização dos serviços de
saúde públicos [tem] levado ao crescimento do setor privado, com o sur-
gimento de clínicas particulares, cooperativas médicas e planos de saúde”
(Ramires, 2007, p.173). Desse modo, a cidade conta com estabelecimentos
de saúde que atendem procedimentos médicos de alta e média complexi-
dade, com significativa participação do setor privado, principalmente na
oferta de serviços ambulatoriais.

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Quadro 15: Dourados/MS. Total de estabelecimentos por tipo cadastrados CNES. Dez. 2013.
Descrição Total
Centro de saúde/unidade básica 31
Policlínica 3
Hospital geral 7
Hospital especializado 1
Consultório isolado 198
Clínica especializada/ambulatório de especialidade 55
Unidade de apoio à diagnose e terapia (SADT isolado) 23
Unidade móvel terrestre 2
Unidade móvel de nível pré-hospitalar na área de urgência 4
Unidade de vigilância 1
Central da regulação médica das urgências 1
Central da regulação 1
Secretaria de saúde 2
Centro de atenção psicossocial 2
Unidade de atenção à saúde indígena 5
Total 336
Fonte:<http://cnes.datasus.gov.br/Mod_Ind_Unidade.asp?VEstado=50&VMun=500370>. Acesso em: 6
dez. 2013. Organização: Valéria Ferreira da Silva Florentino.

No Quadro 16 observa-se que, embora o setor privado de saúde apresen-


te um número expressivo de estabelecimentos, é válido ressaltar a participa-
ção da rede pública de saúde nos atendimentos realizados, principalmente
no que concerne ao serviço de urgência e de tratamentos imunobiológicos.

Quadro 16: Dourados/MS. Estabelecimentos segundo esfe-


ra administrativa. 2013.
Esfera administrativa Total
Federal 2
Estadual 1
Municipal 57
Privada 276
Fonte:<http://www.cnes.datasus.gov.br/Mod_Ind_Esfera.
asp?VEstado=50&VMun=500370>. Acesso em: 6 dez. 2013. Orga-
nização: Valéria Ferreira da S. Florentino.

Ainda de acordo com o CNES, no que tange às vagas existentes nos es-
tabelecimentos de saúde (Quadro 17), Dourados apresenta um total de 587
leitos, dos quais 210 são particulares (não ligados ao SUS) e 377 prestam
atendimento pelo SUS.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 99

Quadro 17: Dourados/MS. Total de leitos. Dez. 2013.


Número de leitos em Dourados – Cirúrgico
Descrição Total existente SUS Não ligados ao SUS
Bucomaxilofacial 4 2 2
Cardiologia 15 3 12
Cirurgia geral 44 22 22
Endocrinologia 6 0 6
Gastroenterologia 11 3 8
Ginecologia 12 7 5
Nefrologia urologia 7 4 3
Neurocirurgia 14 4 10
Oftalmologia 5 2 3
Oncologia 12 4 8
Ortopediatraumatologia 45 38 7
Otorrinolaringologia 7 3 4
Plástica 3 1 2
Torácica 4 0 4
Total 189 93 96
Número de leitos em Dourados – Clínico
AIDS 9 9 0
Cardiologia 29 12 17
Clínica geral 90 61 29
Dermatologia 2 0 2
Geriatria 4 0 4
Hansenologia 1 0 1
Hematologia 8 4 4
Nefrourologia 12 8 4
Neonatologia 3 0 3
Neurologia 10 5 5
Oncologia 31 13 18
Pneumologia 13 6 7
Total 212 118 94
Número de leitos em Dourados – Complementar
Unidade intermediária neonatal 15 15 0
Unidade isolamento 4 2 2
UTI adulto – TIPO I 19 0 0
UTI adulto – TIPO II 35 35 0
UTI pediátrica – TIPO I 1 0 1
UTI pediátrica – TIPO II 10 10 0
UTI neonatal – TIPO I 7 0 7
Continua

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Quadro 17: Continuação


Número de leitos em Dourados – Complementar
Descrição Total existente SUS Não ligados ao SUS
UTI neonatal – TIPO II 13 10 3
Unidade de cuidados intermediários 15 0 15
Neonatal Convencional
Unidade de cuidados intermediários Adulto 6 4 2
Total 125 76 49
Número de leitos em Dourados – Obstétrico
Obstetrícia cirúrgica 26 13 13
Obstetrícia clínica 30 20 10
Total 56 33 23
Número de leitos em Dourados – Pediátrico
Pediatria clínica 68 60 8
Pediatria cirúrgica 12 6 6
Total 80 66 14
Número de leitos em Dourados – Outras especialidades
Crônicos 9 2 7
Psiquiatria 7 6 1
Reabilitação 2 0 2
Pneumologia sanitária 10 9 1
Total 28 17 11
Fonte: <http://cnes.datasus.gov.br/Mod_Ind_Tipo_Leito.asp?VEstado=50&VMun=500370>. Acesso
em: 6 dez. 2013. Organização: Valéria Ferreira da Silva.

Também é válido ressaltar a importância dos atendimentos efetuados


pelos hospitais da cidade (Figura 8). Na categoria de hospital especializado,
a Clínica São Camilo destaca-se com a especialidade de cardiologia, com
atendimento de demanda espontânea e referenciada, de usuários de Dou-
rados e da região. Os atendimentos efetuados caracterizam-se, na maior
parte, por meio de convênios particulares nos serviços ambulatoriais, urgên-
cia, Serviço de Apoio à Diagnose e Terapia (SADT), além de internação –
também atendida pelo SUS.
Entre os serviços especializados ofertados estão: atenção ao pré-natal,
parto e nascimento, cirurgia cardiovascular, diagnóstico por imagem, diag-
nóstico por laboratório clínico, diagnóstico por métodos gráficos dinâmi-
cos, endoscopia, fisioterapia, hemoterapia e urgências, além dos serviços
de apoio como ambulância, central de esterilização de materiais, farmácia,
lavanderia, necrotério, nutrição e dietética (S.N.D.) e serviço de manuten-
ção de equipamentos.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 101

Figura 8: Dourados/MS. Localização dos hospitais. 2010.

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102 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

À época da pesquisa, a Clínica São Camilo possuía uma equipe com 92


profissionais, entre os quais 33 eram do SUS – 28 médicos e cinco profis-
sionais em outras ocupações. No que diz respeito aos leitos, todos os 24 são
particulares, divididos em sete ligados à cardiologia – quatro cirúrgicos e
três clínicos –, três à neurocirurgia, três à torácica, quatro à cirurgia geral,
além de seis leitos na UTI adulto (Tipo I) e um na UTI pediátrica (Tipo I).
No Hospital Santa Rita Ltda., fundado no ano de 1973, aproximada-
mente 63% dos atendimentos realizados são de pacientes de outros mu-
nicípios. Os usuários que procuram esse hospital são em geral de poder
aquisitivo médio. Por se tratar de um estabelecimento particular, a maior
parte dos atendimentos é efetuada por meio de convênios particulares. Os
serviços ofertados incluem setores médicos especializados de baixa, média
e alta complexidade, com a presença de UTI adulto, UTI pediátrica e UTI
neonatal, clínica médica, cirurgia, obstetrícia e pediatria. Conta com uma
equipe de 153 profissionais não ligados ao SUS, possui 59 leitos particula-
res, dez salas de cirurgia e sete leitos de UTI, assim como equipamentos de
diagnóstico por imagem, manutenção da vida, métodos gráficos e ópticos.
Também realiza coleta seletiva de resíduos biológicos, químicos e comuns.
Outro hospital que atrai fluxo significativo de pessoas e capital é o Caixa
de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (CASSE-
MS), unidade Dourados, principalmente de servidores públicos do entor-
no, que se deslocam até a cidade para atendimento médico de alta e média
complexidade (Silva, 2010). A maior parte dos atendimentos é realizada
pelo plano de saúde privado do próprio hospital, mas pacientes particulares
também são atendidos. Oferece serviços na área ambulatorial, internação e
urgência, com uma equipe de 81 profissionais – não ligados ao SUS – e com
um total de 49 leitos, todos particulares, sendo que quatro são leitos de UTI
adulto. Possui também duas salas de cirurgia. Quanto aos serviços próprios
de apoio, o hospital conta com central de esterilização de materiais, farmá-
cia, lavanderia, necrotério, nutrição e dietética (S.N.D.). Também dispõe
de serviços terceirizados como ambulância e manutenção de equipamentos.
No atendimento direto e especializado à saúde indígena, destaca-se
o hospital da Missão Evangelista Caiuá, entidade beneficente sem fins
lucrativos, no qual atuam 41 profissionais ligados ao SUS, na oferta de ser-
viços especializados: atenção ao paciente com tuberculose, atenção ao pré-
natal, parto e nascimento, diagnóstico por imagem e por laboratório clínico.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 103

Oferece, nos seus 74 leitos, todos os atendimentos pelo SUS, de maneira


contínua, por 24 horas, com plantão nos sábados, domingos e feriados.
Conta também com apoio próprio como ambulância, central de esteriliza-
ção de materiais, farmácia, lavanderia e necrotério, além de equipamentos
como raios-X, ultrassom Doppler colorido, equipamento odontológico,
berço aquecido, desfibrilador e reanimador pulmonar.
Já o Hospital Universitário – da Fundação Universidade Federal da
Grande Dourados – presta serviços de atenção básica, média e de alta com-
plexidade, como oftalmologia e nutrição parenteral e enteral. Possui uma
equipe de 526 profissionais – 521 ligados ao SUS –, dentre os quais 230
são médicos. Oferece 114 leitos que funcionam pelo SUS, sendo seis leitos
de UTI pediátrica (Tipo II) e nove de UTI adulto (Tipo II). Atende as
seguintes especialidades médicas em consulta: cardiologia, cirurgia cabeça
e pescoço, cirurgia geral, cirurgia pediátrica, cirurgia vascular, endocrino-
logia, fonoaudiologia, gastroenterologia, hematologia, hebiatria, infecto-
logia, nefrologia, neurologia, neurocirurgia, neuropediatria, oftalmologia,
oncologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, proctologia, reu-
matologia e urologia. No que se refere à internação, as especialidades são
as seguintes: anestesia, cardiologia, cirurgia cabeça e pescoço, cirurgia
geral, cirurgia pediátrica, cirurgia vascular, endocrinologia, fonoaudiolo-
gia, gastroenterologia, hematologia, nefrologia, neurologia, neuropediatria,
oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, psiquiatria,
proctologia, reumatologia e urologia. E quanto aos exames especializados,
realiza colonoscopia, endoscopia, ecocardiografia, ultrassonografia, reto-
sigmoidoscopia e radiologia. Recebe pacientes do estado de Mato Grosso
do Sul, que são encaminhados via secretaria municipal de saúde. É comum
observar no estacionamento a presença de ambulâncias de localidades com
distâncias superiores a 150 quilômetros de Dourados.
Sem dúvida, ao analisarmos os serviços de saúde de Dourados é neces-
sário considerarmos também o hospital onde se encontra o maior fluxo de
pessoas: o Hospital Evangélico Dr. e Sra. Goldsby King. Fundado em 15
de novembro de 1946 e propriedade da Igreja Presbiteriana do Brasil, tem
cerca de 12 mil metros quadrados de área e é mantido e administrado pela
entidade Associação Beneficente Douradense. Por alguns anos funcionou
como hospital público, mas atualmente atende de forma particular os servi-
ços ambulatoriais, internação, SADT e urgência. De acordo com entrevista

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104 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

realizada, o hospital recebe por mês aproximadamente 250 pacientes de


outros municípios; contudo, ao considerar os atendimentos realizados no
Pronto Socorro, esse número salta para 290, e todos se enquadram como
demanda espontânea.15 Destaca-se por seus serviços de complexidade no
estado de Mato Grosso do Sul, ofertando, desde 1999, por meio do Centro
de Tratamento de Câncer de Dourados, os tratamentos com quimioterapia,
radioterapia e braquiterapia, além do atendimento hospitalar especializado.
Possui 177 leitos e uma equipe de 798 profissionais – 463 profissionais liga-
dos ao SUS, sete não ligados ao SUS e 328 médicos –, tem serviços de apoio
em ambulância, central de esterilização de materiais, farmácia, lactário,
lavanderia, necrotério, nutrição e dietética (S.N.D.), serviço de manutenção
de equipamentos e serviço social.
Dentre as especialidades médicas ofertadas destacam-se: anatomia pa-
tológica, anestesiologista, cancerologista, cirurgia de cabeça e pescoço, car-
diologia, cirurgia odontológica, cirurgia geral, cirurgia pediátrica, cirurgia
plástica, cirurgia torácica, cirurgia vascular, dermatologia, ecocardiograma,
fonoaudiologia, gastroenterologia, ginecologia, obstetrícia, hematologia,
infectologia, nefrologia, neonatologia, neurocirurgia, odontologia, oftalmo-
logia, oncologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia, pediatria,
proctologia, psiquiatria, radiologia, radioterapia, urologia, ultrassonografia
e quimioterapia; conta também com psicólogo, farmacêutico, bioquímico
e nutricionista. Há ainda clínicas especializadas para a realização de exa-
mes como colangiografia e papilotomia retrógrada, eletrocardiograma,
eletroencefalograma, espirometria, laboratoriais, litotrisia extracorpórea,
raios-x, ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassom,
vectoeletronistagmografia, vídeo artroscopia, colonoscopia, endoscopia
e laparoscopia. Além de contar com setores médicos especializados como
UTI, UTI neonatal, unidade cardiológica e centro cirúrgico, possui ainda
serviços auxiliares de estética facial e podologia, fisioterapia, acompanha-
mento psicológico e jurídico e serviço de capelania, bem com uma área para
reuniões alternativas e recreação, atendendo, desse modo, baixa, média e
alta complexidade. Sua área de influência alcança os municípios vizinhos.

15 Entendemos como demanda espontânea os usuários que buscam os serviços de saúde de


maneira direta, não solicitando encaminhamento via Secretaria Municipal de Saúde.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 105

Também vale destacar que sob a esfera administrativa privada do Hos-


pital Evangélico está a Unidade Hospitalar da Mulher, a qual possui uma
equipe formada por 229 profissionais, sendo 120 médicos. Os serviços
ambulatoriais, internação, SADT e urgência são realizados por meio do
SUS. Possui uma estrutura com 56 leitos, contando com dez leitos UTI
neonatal (Tipo II), dez leitos unidade intermediária neonatal e dois leitos
de isolamento. Nos serviços de apoio, destaca-se pelo banco de leite, cen-
tral de esterilização de materiais, farmácia, lactário, necrotério, nutrição e
dietética (S.N.D.) e manutenção de equipamentos. Outra unidade integrada
ao Hospital Evangélico é o antigo Hospital do Trauma, atualmente Unidade
Hospitalar da Vida. O perfil geral de seus pacientes é o do segmento de baixa
renda, atendendo tanto a demanda espontânea como referenciada, com con-
vênio pelo SUS. Dos 315 profissionais que constituem sua equipe, apenas
um não está ligado ao SUS e 198 são médicos.
A partir de 2010, a cidade passou a contar com o Hospital Beneficente
de Combate ao Câncer da Grande Dourados (HC) e a Neoclin – Grupo de
Oncologia, cuja sede fica em Campo Grande. Além de uma unidade de ra-
dioterapia, a Neoclin de Dourados está equipada com UTI, centros cirúrgi-
cos, enfermarias, apartamentos, day clinic, perfazendo um total de 40 leitos.
Esses estabelecimentos recebem pacientes de várias cidades do entorno de
Dourados, de outros estados – sobretudo do oeste do Paraná – e até mesmo
do Paraguai.
Embora Dourados seja referência regional em qualidade de serviços de
saúde de alta e média complexidade, observamos que a população de baixa
renda sofre com a falta e a dificuldade de atendimento. Além do difícil
acesso aos serviços, cabe ressaltar que, em 2010, por meio da operação Ura-
gano16 da Polícia Federal, foram constatadas diversas irregularidades na
administração municipal de saúde de Dourados, expondo desvios de verbas
federais vindas do SUS.
Outro aspecto que dá destaque à cidade de Dourados é a concentração
de serviços ligados ao ensino superior, que atraem significativo contingente

16 A Operação Uragano (furacão, em italiano), realizada em Dourados pela Polícia Federal


em setembro de 2010, resultou na prisão de 28 pessoas – incluindo prefeito da cidade,
primeira-dama, vice-prefeito, secretários municipais, servidores, empresários e nove dos
doze vereadores. Entre as acusações, constavam formação de quadrilha, corrupção e dire-
cionamento de licitações.

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106 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

populacional de outros municípios, de outras regiões do país e até de outros


países, sobretudo em função de sua condição de fronteira Brasil/Paraguai.

3.6. Ensino superior17

Os serviços de educação em nível superior, graduação e pós-gradua-


ção merecem evidência na consolidação da importância de Dourados na
rede urbana regional. A configuração geográfica do município fortalece
sua condição de importante centro educacional, possuindo, conforme já
apontado, cinco instituições de ensino superior: uma universidade federal
(UFGD)18 e uma estadual (UEMS); duas instituições particulares (UNI-
GRAN19 e Anhanguera/UNIDERP20); e a Faculdade Teológica Batista
Ana Wollerman (FTBAW21). Entre os anos de 2001 e 2007, 62.759 alunos
estavam matriculados nessas instituições. Apenas a Universidade Federal

17 No levantamento de campo e na reflexão concernentes ao ensino superior, contamos com a


contribuição de Bruno Bomfim Moreno. Para maior aprofundamento acerca da temática,
ver Moreno (2013).
18 A trajetória da UFGD está intrinsecamente ligada à Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS). Em 1979, com a divisão do estado, a Universidade Estadual de Mato
Grosso (UEMT) foi federalizada, sendo criada a Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS). Na década de 1970 foi inaugurado o Câmpus de Dourados, que, desde então,
passou a ter importância regional. Em 2006 houve o desmembramento da UFMS e a criação
da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
19 A UNIGRAN iniciou suas atividades na década de 1970, com o intuito de oferecer ensino
superior ao entorno da cidade de Dourados ou da Região da Grande Dourados. Atualmente
oferta os cursos de graduação em Administração, Administração de Agronegócios, Agrono-
mia, Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Biomedicina, Ciências Biológicas, Ciências
Contábeis, Ciências da Computação, Jornalismo, Publicidade e Marketing, Educação Física,
Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Letras, Matemática, Medicina Veterinária, Nutrição,
Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social; além de contar com os cursos em Tecno-
logia em Agronegócios, Produção Agrícola, Estética e Cosmologia e Produção Publicitária.
20 A FAD/UNIDERP conta com cursos de graduação em Administração, Administração
de Empresas, Comércio Exterior, Gestão de Sistemas de Informação, Marketing, Agrono-
mia, Ciências Contábeis, Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Tecnologia em
Comunicação, Artes, Comunicação e Design; além dos cursos tecnológicos em Tecnologia
em Gestão Financeira, Curso Superior de Tecnologia em Produção, Multimídia, Medicina
Veterinária, Psicologia, Relações Internacionais, num total de 1.830 alunos matriculados
(informações referentes ao ano de 2008).
21 Esta instituição dispõe apenas de um curso de graduação em Teologia.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 107

(UFGD22) possui vinte cursos23 de mestrado – Administração Pública,


Agronegócio, Agronomia, Antropologia, Biologia Geral/Bioprospecção,
Ciências, Ciência e Tecnologia Ambiental, Ciências da Saúde, Educa-
ção, Engenharia Agrícola, Entomologia e Conservação da Biodiversidade,
Ensino de Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Psicologia,
Química, Sociologia e Zootecnia – e oito de doutorado – Agronomia, Bio-
tecnologia e Biodiversidade,24 Ciências da Saúde, Ciência e Tecnologia
Ambiental, Entomologia, Geografia, História e Educação. A universidade

22 No que diz respeito à graduação, a UFGD oferece os seguintes cursos presenciais: Admi-
nistração, Agronomia, Artes Cênicas, Biotecnologia, Ciências Biológicas, Ciências Con-
tábeis, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Direito, Educação Física, Engenharia
Agrícola, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Aquicultura, Engenharia Civil, Enge-
nharia de Computação, Engenharia de Energia, Engenharia Mecânica, Engenharia de
Produção, Física, Geografia, Gestão Ambiental, História, Letras, Matemática, Medi-
cina, Nutrição, Pedagogia, Psicologia, Química, Relações Internacionais, Sistemas de
Informação e Zootecnia. A UFGD também oferece os seguintes cursos de graduação a
distância: Bacharelado em Administração Pública, Licenciatura em Pedagogia, Licen-
ciatura em Computação, Licenciatura em Física, Licenciatura em Letras e Libras. Esses
cursos estão distribuídos nos seguintes polos do estado de Mato Grosso do Sul: Água
Clara, Bataguassu, Bela Vista, Camapuã, Costa Rica, Japorã, Miranda, Porto Murtinho,
Rio Brilhante e São Gabriel do Oeste. No que diz respeito à Pedagogia da Alternância, ofe-
rece: Licenciatura Intercultural Indígena “Teko Arandu” e Licenciatura em Educação do
Campo, com duas habilitações: Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
23 Também vale destacar os cursos de pós-graduação Latu Sensu, que se distribuem da seguinte
forma: UFGD – Direito, Docência na Educação Infantil, Educação Física Escolar, Educação
Intercultural, Estudos de Gênero e Interculturalidade, Ensino de Matemática, Formação
de Profissionais na Educação, Letras, Linguística, Projovem, Residência Agrária, Saúde
Pública, Segurança Pública e Cidadania e Teatro. Há também residências: Residência Médica,
Residência Multiprofissional em Saúde, Medicina de Família e Comunidade; a UFGD
também oferece, a distância, cursos de especialização em: Gestão Pública, Gestão Pública
Municipal, Gestão em Saúde e em Matemática. Na UEMS os cursos são: Educação Básica –
Educação Infantil, Planejamento e Gestão Ambiental, Estudos Linguísticos e Estudos Literá-
rios, Ensino de Ciências; na UNIGRAN, Gestão de Políticas Sociais com Ênfase em Trabalho
Social com Famílias, MBA em Gestão de Negócios (presenciais), além dos cursos a distân-
cia: Gestão em Saúde Pública, Gestão Ambiental, Estudos da Linguagem, Metodologia do
Ensino Superior, Psicopedagogia, MBA em Contabilidade Gerencial e Controladoria, MBA
Executivo em Administração com Ênfase em Recursos Humanos, Sistema de Informação
e Cooperativismo de Crédito; pela Anhanguera – UNIDERP, Gestão Ambiental, MBA
em Controladoria, MBA em Gestão de Pessoas e MBA em Gestão Estratégica de Negócios.
24 Esse programa oferece apenas curso de doutorado e integra a Rede Centro-Oeste de
Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação (Pró-Centro-Oeste). Conforme o sítio eletrônico do
programa, a rede congrega instituições de ensino e pesquisa dos estados de Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal, suas respectivas secretarias de estado de
ciência e tecnologia e fundações de amparo à pesquisa. Disponível em <http://www.rede-
procentrooeste.org.br/>. Acesso em: 2 dez. 2013.

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108 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

estadual (UEMS25) possui, por sua vez, na unidade de Dourados o progra-


ma de pós-graduação em Matemática26 (mestrado) e em Recursos Naturais
(mestrado e doutorado). Conforme podemos observar, os programas de
pós-graduação (mestrado e doutorado) ainda estão concentrados princi-
palmente na Universidade Federal da Grande Dourados. Com relação às
matrículas efetivadas, tanto na graduação quanto na pós-graduação, apre-
sentamos a situação das instituições, com destaque para o total de cursos,
vagas e alunos (Quadro 18).

Quadro 18: Dourados/MS. Matrículas efetivadas nas instituições de ensino superior. 2013.
Instituição Número de cursos Número de vagas Número de discentes
Graduação Pós- Graduação Pós- Graduação Pós-
-Graduação -Graduação -Graduação
FAD 9 6 1.630 – – –
FTBAW 1 – 50 – 47 –
UEMS 14 7 670 148 2.127 144
UFGD 28 26 1.535 555 5.511 875
UNIGRAN 27 2 4.580 70 7.000 –
Total 79 41 8.465 773 14.685 1.019
Fonte: Pesquisa de Campo. Organização: Bruno Bomfim Moreno.

No que diz respeito à importância no âmbito regional, vale destacar, além


da UFGD, a UNIGRAN, haja vista que juntas elas recebem significativo
número de alunos de outras localidades. Essa realidade pode ser comprovada
apenas observando o estacionamento27 da instituição durante os períodos/

25 A UEMS oferece os seguintes cursos de graduação: Ciência da Computação, Ciências


Biológicas, Direito, Enfermagem, Engenharia Ambiental, Engenharia Física, Física, Letras,
Matemática, Normal Superior, Pedagogia, Química, Química Industrial, Sistemas de Infor-
mação e Turismo.
26 Os programas de Mestrado em Matemática, tanto da Universidade Federal, quanto da
Universidade Estadual, são mestrados profissionais. De acordo com as informações que
constam no site da UEMS: “O Programa de Mestrado Profissional em Matemática em
Rede Nacional é um curso semipresencial com oferta nacional, realizado por uma rede de
Instituições de Ensino Superior, no contexto da Universidade Aberta do Brasil (UAB), e
coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM)”.
27 Conforme os levantamentos feitos por Moreno (2013), no dia 28 de maio de 2013, no período
noturno – que possui maior movimento de discentes –, no estacionamento que servia a UNI-
GRAN, havia 46 veículos – 44 ônibus, uma van e um micro-ônibus –, oriundos de dezoito
locais diferentes. Essa condição reforça tanto o papel regional de Dourados como um centro
de oferta de ensino superior, como a relevância da participação dos discentes da região na
composição das turmas dos cursos de graduação das Instituições de Educação Superior (IES)
da cidade.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 109

horários de aulas. No local, é possível verificar grande concentração de ôni-


bus com placas de outros municípios do entorno de Dourados, que se des-
locam diariamente trazendo os estudantes. Embora a UNIGRAN atenda a
uma clientela regional, a influência dessa instituição no que diz respeito ao
ensino a distância28 pode ser constatada por meio da presença de 42 polos
dessa modalidade, distribuídos em todas as regiões do território nacional.29
Cursos de graduação e pós-graduação a distância, segundo cadastro
do Ministério da Educação, são oferecidos em Dourados pelas seguintes
instituições:30 Anhanguera/UNIDERP, UEMS, UFGD, UNIGRAN,
Universidade Paulista (UNIP), Universidade Norte do Paraná (UNO-
PAR), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade
do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Universidade Anhembi Morumbi
(UAM), Faculdade Educacional da Lapa (FAEL) e Centro Universitário
Internacional (UNINTER).
Juntamente com a oferta de ensino superior, vale destacar o ensino téc-
nico profissionalizante, que também atrai fluxos e pessoas em direção a
Dourados, para utilizar os serviços de seis escolas técnicas:31 Instituto de
Educação da Grande Dourados (IEGRAN), Serviço Nacional de Aprendi-
zagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e Escola de Arte e
Costura. Todas elas oferecem cursos que visam atender, além das neces-
sidades da população, demandas mais imediatas do mercado de trabalho
regional. Assim, dentre os cursos que se destacam atualmente estão o de
açúcar e álcool, o de segurança do trabalho e o de soldador industrial.

28 Essa instituição, conforme o Censo Educacional (2011), ocupa a 24ª posição, em âmbito
nacional, em relação à quantidade de alunos matriculados.
29 A UNIGRAN possui, ainda, polos com oferta de ensino a distância em países como Japão,
Portugal, Alemanha, Espanha, Inglaterra e Suíça.
30 Dentre essas instituições, quatro possuem unidade acadêmica com oferta de ensino na
modalidade presencial, sendo que três (UEMS, UFGD e UNIGRAN) têm Dourados como
sede da instituição.
31 No ano de 2014, foi implantada uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS), o que complementou e diversificou a oferta do
ensino técnico em Dourados. A unidade conta com os seguintes cursos: Cursos Técnicos Inte-
grados de Nível Médio: Informática para a Internet. Qualificação Profissional (Formação Inicial
e Continuada): Auxiliar Administrativo; Condutor Cultural Local; Desenhista de Produtos
Gráficos Web; Espanhol Básico; Inglês Básico; Operador de Computador. Educação a Dis-
tância: Técnico Subsequente – Técnico em Administração; Técnico em Agente Comunitário
de Saúde; Técnico em Serviços Públicos. E-tec Idiomas sem Fronteiras: Inglês e Espanhol.

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Sem dúvida, os serviços de educação, tanto em nível superior quanto


técnico profissionalizante, contribuem para reforçar os papéis regionais
de Dourados, valendo registrar que um número significativo de alunos
de municípios situados sobretudo a menos de 50 quilômetros de distância
de Dourados desloca-se diariamente em busca do ensino fundamental e
médio, principalmente em escolas particulares da cidade.
De acordo com entrevistas realizadas32 em junho de 2010, com alunos
da UFGD, UEMS e UNIGRAN, totalizando 262 questionários,33 foi
possível perceber que mais de 80% dos entrevistados são originários de
outros municípios ou de outros estados. Contudo, mais de 90% residem em
Dourados durante os períodos de aulas e voltam à cidade de origem durante
as férias, enquanto os demais moram em cidades próximas, com distâncias
inferiores a 60 quilômetros.
Em entrevistas realizadas com motoristas de ônibus34 de seis cidades
localizadas num raio de menos de 60 quilômetros de Dourados, que rea-
lizam o transporte de alunos diariamente – tanto de graduação quanto de
pós-graduação, nos períodos matutino e noturno –, percebeu-se que os
maiores fluxos de alunos ocorrem em direção à UEMS, à UFGD e à UNI-
GRAN e, com menor intensidade, à FAD – mais conhecida localmente
como ANHANGUERA. Segundo os entrevistados, cerca de 2 mil alunos
são transportados diariamente, a partir de municípios com distâncias di-
versas. Na Figura 9 podemos observar a área de abrangência dos fluxos
diários do transporte estudantil, assim como a expressividade de cada local
na composição desses fluxos.

32 Estamos nos referindo à pesquisa realizada por Silva (2010).


33 Os 262 questionários, aplicados por Valéria Ferreira da Silva, foram divididos da seguinte
forma: 194 na UFGD, dezenove na UEMS e 49 UNIGRAN. As entrevistas efetuadas na
UFGD e na UEMS foram realizadas durante almoço no Restaurante Universitário-RU,
local de encontro dos alunos de ambas as universidades. A seleção dos alunos entrevistados
se deu de maneira aleatória, o que talvez tenha resultado numa maior concentração de entre-
vistas com alunos da UFGD. Já na UNIGRAN, o baixo número de entrevistas se deu em
razão da não autorização para a realização da pesquisa na instituição.
34 As entrevistas foram realizadas no primeiro semestre do ano de 2010, por Valéria Ferreira
da Silva, nos estacionamentos das universidades UNIGRAN e UFGD, devido ao fato de
que todos os ônibus que têm como destino as instituições de ensino superior e tecnológico
de Dourados ficam estacionados nesses locais. Foi feita uma entrevista com o proprietário
de uma das empresas mais significativas, em total de alunos transportados, que transporta
diariamente cerca de 620 alunos, além de outros que, eventualmente, realizam cursos de
curto prazo.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 111

Figura 9: Dourados/MS. Origem dos fluxos diários de veículos estudantis de transporte interurbano. 2013.

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Entre as cidades de onde partem os veículos que transportam os discentes


para Dourados, Itaporã (20 quilômetros) é a mais próxima e Jardim, a mais
distante – cerca de 210 quilômetros, percurso que leva, aproximadamente,
três horas e meia quando realizado de ônibus. Pela contagem do número de
veículos,35 as origens mais representativas são Caarapó (catorze veículos),
Rio Brilhante (treze veículos), Vicentina/Fátima do Sul36 (doze veículos) e
Maracaju (onze veículos). Ainda em relação a esses fluxos, percebe-se que
eles extrapolam a delimitação da rede urbana de Dourados (IBGE, 2007).
Isso se deve, sobretudo, aos centros que estão mais ao norte de Dourados,
como é o caso de Nova Alvorada do Sul e de Jardim. Por outro lado, aqueles
que estão ao sul e mais afastados de Dourados, fazendo divisa com o estado
do Paraná, acabam por não manter fluxos diários de estudantes, o que não
significa que não haja relações ou articulações a partir do ensino superior.
É importante destacar, também, os fluxos em direção oposta, saindo de
Dourados para os outros centros da região. Esse movimento é mantido pelo
vínculo de estudantes ou de professores com instituições e/ou unidades
acadêmicas localizadas em outros municípios. Para o caso do vínculo traba-
lhista, a condição de centralidade de Dourados é reforçada, haja vista que
os professores, apesar de terem como local de trabalho cidades do entorno,
residem no centro de maior complexidade regional.
Esses dados confirmam a centralidade de Dourados, no que diz respeito
à oferta de serviços de educação, e reanimam os debates acerca da impor-
tância desses serviços nas cidades médias brasileiras, as quais têm como
papel suprir as necessidades do seu entorno, especialmente aquelas ligadas
à principal atividade produtiva da região, no caso de Dourados, as ativida-
des agrícolas.

35 Levantamento realizado na pesquisa de Moreno (2013).


36 Por essas duas cidades serem servidas por uma única empresa de transporte, há dificuldade
em precisar a expressividade de cada uma delas separadamente, por isso a representação foi
feita a partir da expressão que possuem juntas.

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4
CONSUMO, ÁREAS PARA REALIZAÇÃO
DE EVENTOS E REDE HOTELEIRA1

Dourados se destaca regionalmente no que diz respeito, sobretudo,


aos espaços de consumo e áreas para realização de eventos. O turismo de
eventos tem se reforçado como um dos principais segmentos em desenvol-
vimento na cidade. Aliado ao setor agroindustrial e ao papel das univer-
sidades, os eventos acadêmicos – formaturas, principalmente do curso de
medicina da UFGD – e empresariais – em especial a EXPOAGRO – têm
provocado reflexos significativos na economia local.
Em consonância, a implantação do Shopping Avenida Center2 também
reforça o papel regional de Dourados, à medida que atende à população do
entorno, impondo uma nova dinâmica que reverbera numa nova centralida-
de não só intraurbana, mas também regional. Inaugurado em junho de 2006,
possui duas entradas principais, uma na Avenida Marcelino Pires – princi-
pal via de acesso à cidade – e a outra na Avenida Joaquim Teixeira Alves.3

1 No levantamento de campo e na reflexão concernentes ao papel do shopping, de áreas para


realização de eventos e do setor hoteleiro, contamos com a valiosa contribuição de Hamilton
Romero. Para maior aprofundamento sobre o papel do Shopping Avenida Center no pro-
cesso de redefinição socioespacial em Dourados, ver Romero (2010).
2 “Através do Programa de Incentivos ao Desenvolvimento Econômico de Dourados (PID),
criado nesta gestão, a Prefeitura subsidiou a venda do terreno onde será construído o sho-
pping, garantiu isenção de ISSQN sobre a obra, vai garantir, durante sete anos, isenção do
IPTU e ainda vai realizar serviços de limpeza, demolição, terraplenagem da área e dar con-
tinuidade da rede de drenagem de águas pluviais”. Disponível em: <http://www.dourados-
news.com.br/arquivo/prefeitura-transfere-terreno-do-shopping-para-inga-3bdd0cd9a-
3964343a8214b16935de928>. Acesso em: 3 abr. 2010.
3 Na Avenida Joaquim Teixeira Alves também se situa o Parque Arnulpho Fioravante, um
dos locais de prática de esporte e lazer de Dourados.

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114 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Além de ser ladeado pelas principais avenidas, contou com mudanças do


sentido de direção das demais vias que o circundam, facilitando a entrada no
estacionamento. Por estar situado ao lado do terminal rodoviário, facilita o
acesso para quem vem de ônibus, a partir das cidades vizinhas. A proximi-
dade com o centro permite também que os usuários frequentem o shopping
mesmo depois de terem feito compras na área central. Assim, imprime-
-se, no espaço, uma dinâmica marcada pela articulação das localizações no
interior da cidade.4
Em seu processo de redefinição, o entorno tem assumido uma nova
tendência e um novo significado, com desdobramentos na reconfiguração
socioespacial e visível aumento no preço do solo.5 Em 2010, foi implantado
o Hipermercado Extra, num raio de cerca de 100 metros do shopping e em
frente ao terminal rodoviário; em 2013, a rede Havan (lojas de departamen-
tos) escolheu Dourados para abrir sua primeira filial no estado de Mato
Grosso do Sul, instalada a cerca de 300 metros do shopping, redirecionando
os fluxos no interior da cidade. A própria reforma do supermercado São
Francisco – localizado a cerca de 400 metros do shopping –, com a criação de
uma área denominada Hiper Center Dourados (abrigando a loja Avenida,
uma loja da rede O Boticário e uma unidade da lanchonete Subway, implan-
tadas em 2014), contribuiu para reforçar esse processo.

4.1. Shopping center

O Shopping Avenida Center, quando implantado em 2006, com uma


área total edificada de 40 mil metros quadrados, apresentava número pe-
queno de lojas,6 distribuídas pelos 20 mil m2 de área bruta locável (ABL),

4 Whitacker (2007) afirma que a centralidade não se define pela localização, mas pela arti-
culação entre as localizações. Por encontrar nos fluxos sua maior expressão e elemento
constitutivo, a centralidade assume uma natureza cambiante.
5 Romero (2010), em levantamento realizado em classificados dos jornais de maior circulação
da cidade, aponta que os anúncios de venda de imóveis já faziam alusão ao shopping, mesmo
antes de sua efetiva implantação: “No levantamento de classificados de jornal, observamos
que, mesmo antes da inauguração do Shopping Avenida Center, em junho de 2006, havia
diversos anúncios de venda de lotes não edificados para comércio e imóveis residenciais nas
imediações do empreendimento, utilizando da imagem do shopping como garantia de futura
‘valorização’ do imóvel” (Romero, 2010, p.77).
6 Dados obtidos por Romero (em maio de 2010), com a administração comercial do Shopping
Avenida Center, demonstravam que, dos 191 pontos para locação – lojas internas, externas e
quiosques –, havia 74 unidades em funcionamento.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 115

voltadas, dado o tipo de comércio, para um público de menor poder aquisi-


tivo. Atualmente,7 já se observa um aumento no número de lojas nas áreas
internas do empreendimento, algumas, inclusive, direcionadas a uma clien-
tela de maior poder aquisitivo. No estacionamento, há aproximadamente
quinhentas vagas, cinquenta das quais são reservadas aos hóspedes do Íbis
Hotel, construído em terreno desmembrado, porém anexo ao shopping.
Além de um supermercado do grupo Abevê, conta com lojas âncoras
e de departamentos,8 como Marisa e Avenida – antiga Tecelagem Aveni-
da –; lojas de franquias como O Boticário, Chocolates Brasil Cacau e Cacau
Show,9 Hering Store, Cia do Terno, Camisaria Colombo, Le Postiche,
MMartan, Morana, Mr. Kitsch, Ri Happy, Taco, Townley, Tip Top etc.
Há também lojas de calçados das redes Gabriela10 e Anita.11 As Lojas Ame-
ricanas ocupa uma grande área no estabelecimento e, como tal, cumpre o
papel de atrair o público, pois possui variedade de produtos como brinque-
dos, roupas, utilidades e gêneros alimentícios.
De acordo com o diretor comercial do shopping, em entrevista concedida
a Romero (2010), a rotatividade de lojas que se constituem e se extinguem
em shopping centers é de 10%, em nível nacional, mas, em Dourados, esse
índice é de 5%, demonstrando que o número de lojas que têm prosperado
é superior à média nacional. De acordo com dados da administração, em
agosto de 2014, o shopping dispunha de 191 pontos de atendimento que se

7 Cf. <http://www.avenidacenter.com/loja>.
8 Lojas de departamentos são estabelecimentos comerciais especializados na venda de diver-
sos tipos de produtos no varejo, sem adotar uma linha específica, oferecendo à sua clientela
normalmente roupas, produtos eletrônicos, cosméticos etc.
9 As franquias Chocolates Brasil Cacau e Cacau Show também possuem lojas na área central.
10 Ligada ao grupo empresarial Calcenter Calçados Centro Oeste, com atuação em nove esta-
dos do país, controla as redes calçadistas Studio Z, Gabriela e o cartão de crédito Calcard.
O grupo empresarial Calcenter é um dos quatro maiores grupos varejistas do Brasil. Surgiu,
em 1975, em Várzea Grande/MT. Seu Centro Administrativo e seu Centro de Distribuição
localizam-se em Palhoça-SC. No estado de Mato Grosso do Sul, as lojas Gabriela estão pre-
sentes em Dourados e Campo Grande. Em Dourados têm quatro configurações, todas no
Shopping Avenida Center: Gabriela Mulher, Gabriela Homem, Gabriela Tênis e Gabrieli-
nha. Já a rede Studio Z, além de loja no Shopping Avenida Center, possui também uma loja
na área central – Avenida Marcelino Pires.
11 A Anita Calçados tem uma posição de destaque no mercado sul-mato-grossense. Possui
onze lojas em Campo Grande e três em Cuiabá/MT. Cf. <http://www.mundodastribos.
com/anita-calcados-enderecos-onde-encontrar.html>.

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116 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

traduzem em 156 em atividade, sendo representados pelas 102 unidades de


comércio em funcionamento (lojas).
Na área da praça de alimentação há quinze opções, entre lanchonetes e
restaurantes. Além de um restaurante (de capital local) e de representações
das redes Roasted Potato, Massashin, Jet Chicken, Vivenda do Camarão,
Rei da Esfiha etc., encontram-se também as franquias de fast food Bob’s
e Subway.12 Estão em operação três salas de cinema, localizadas ao lado
da praça de alimentação. O lazer pago também conta com uma área in-
fantil – Mundo da Lua Diversões – e uma loja de brinquedos eletrônicos
(Park Games), que reproduz, em ambiente fechado, o estilo dos parques de
diversões.
No acesso principal pela Avenida Marcelino Pires, os usuários do sho-
pping encontram um hall onde se promovem exposições de obras de arte
e instalações temporárias de equipamentos de lazer, stands com mostras
itinerantes de produtos para venda, inclusive, de loteamentos residenciais,
entre outros serviços.
Vale destacar que a implantação do Shopping Avenida Center – que se
colocou no ideário social como um símbolo de progresso para Dourados13 –
impôs o delineamento de uma nova centralidade. Assim, nas suas proximi-
dades, além de reforma e mudança na fachada de muitos estabelecimentos,
observa-se o desencadeamento de novas dinâmicas e formas de ocupação e
uso do solo, marcadas, sobretudo, pela presença de concessionárias,14 lojas
de revenda de automóveis (novos e seminovos) e agências bancárias.15
Contudo, tal dinâmica não implicou a diminuição do papel do centro
tradicional;16 ao contrário, representou um reforço em sua centralidade,

12 Na Praça de Alimentação havia também a franquia de fast food Giraffas, que fechou em
meados de 2014.
13 Notícias veiculadas pelos meios de comunicação reforçavam essa expectativa, como:
<http://www.douradosnews.com.br/arquivo/tetila-homologa-licitacao-do-terreno-do-
-shopping-7706267b3532ab9ae290acb2cc4c2e18>. Acesso em: 3 ago. 2014.
14 Estamos nos referindo, entre outras, às concessionárias: Endo Car (Honda), Endo Motors
(Mitsubishi), Perkal (Chevrolet), Condovel (GM), Big Star (Mercedez Benz e Chrysler),
Golden Motors (Hyunday) e Motor 3 France (Citröen).
15 Bradesco, Itaú, Sicoob e Sicred; uma agência do Banco do Brasil foi instalada recentemente
no interior do shopping, apesar de já haver uma em funcionamento nas proximidades.
16 “Nesse sentido, compreendemos que a implantação do Shopping Avenida Center vem
redefinindo usos do solo e reforçando o papel do centro tradicional para uma nova dinâmica.
Ou seja, a implantação do shopping impõe uma nova centralidade que, contudo, não significa

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 117

principalmente para o segmento mais especializado. Uma porção da Aveni-


da Weimar Gonçalves Torres, por exemplo, principalmente após a abertura
do Shopping Avenida Center, tem redefinido sua configuração, com ati-
vidade comercial voltada para um público específico. Nela encontram-se
lojas que não estão no shopping, tais como: Santa Lolla (inaugurada em
2012), M.Officer (inaugurada em 2010), Ellus, Arezzo, Carmen Steffens,
Lilica Ripilica & Tigor, lojas oficiais da Valisere e da Usaflex (inaugurada
em 2013), além de lojas multimarcas de venda das grifes Zoomp, Colcci,
Totem e Iódice Denim, entre outras. Romero (2010) ressalta o fato de que
uma unidade da franquia de lanchonetes Subway,17 que geralmente busca
os shopping centers, foi implantada no centro tradicional, também na refe-
rida avenida.
Enquanto a Avenida Weimar Gonçalves Torres concentra o comércio
mais especializado, na porção central da Avenida Marcelino Pires, en-
contramos maior concentração de comércio considerado popular – Lojas
Riachuelo, Loja Avenida, Loja Seller, além de outras como: Combate Con-
fecções, Casa Vitória, Foz Center e Lojão da Economia. Também é na
porção central da Avenida Marcelino Pires, conforme já mencionado, que
se encontram as redes nacionais de varejo de eletrodomésticos, como Ma-
gazine Luiza, Casas Bahia e Ponto Frio, além de estabelecimentos de redes
regionais – Brasilar, Móveis Gazin, Movelar, Golfinho Móveis, Romera
etc. Por sua vez, na Avenida Joaquim Teixeira Alves, concentra-se a maior
parte das agências bancárias – Branco do Brasil, CEF, Bradesco e Itaú,
entre outros. Essa dinâmica, ao mesmo tempo que redefine o centro, refor-
ça seu papel.
Assim, em seu processo de articulação com a nova centralidade – criada
a partir a implantação do shopping –, o centro tradicional vem se redefinin-
do e reforçando sua centralidade, por meio de uma nova configuração, que
traz em seu bojo novos conteúdos, usos e significados.

a anulação da centralidade do centro tradicional, mas o reforço dessa centralidade. Assim,


configuram-se as mudanças socioespaciais ocorridas na cidade de Dourados” (Romero,
2010, p.102).
17 A lanchonete Subway da área central foi implantada anteriormente à abertura de unidades
na área do Supermercado São Francisco e do Shopping Avenida Center.

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118 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

4.2. Rede hoteleira e áreas para a realização de eventos

Em Dourados, é visível o investimento recente no setor hoteleiro e em


áreas para realização de eventos que contam com estrutura de produção,
como planejamento e publicidade.
O setor hoteleiro, de acordo com levantamento realizado pelo Conven-
tion & Visitors Bureau – entidade responsável pelo planejamento de ações
voltadas para captação de eventos18 –, possuía, em 2010, capacidade total
de 1.280 leitos. Em 2010, foi inaugurada uma unidade do Íbis,19 um hotel
da rede Accor, localizado ao lado do Shopping Avenida Center, na Avenida
Joaquim Teixeira Alves.20 Possui 98 apartamentos, somando um total de
203 leitos, colocando-se na posição de maior estabelecimento da catego-
ria na cidade. Logo depois, destaca-se, em número de leitos (144), o Al-
phonsus Hotel, com 72 apartamentos, sendo seguido pelo Hotel Bahamas,
com setenta apartamentos e capacidade de 150 leitos. Apenas três hotéis
possuem sala de reuniões – Ellus Hotel, Hotel Bahamas e Alphonsus Hotel,
sendo que neste último há um auditório para eventos de menor porte, com
capacidade para noventa pessoas.
No Quadro 19 apresentamos um comparativo dos preços das diárias
praticados pelos hotéis da cidade, nos anos de 2009 e 2014. Notamos que,

18 Muitas cidades têm como estratégia a criação de um Convention & Visitors Bureau, que se tra-
duz em uma entidade formada e mantida por representantes de diversos setores turísticos –
hotéis, restaurantes, locadoras de veículos etc. Esta entidade já se faz presente e organizada
em Dourados e trabalha no sentido de captar eventos que possam garantir divisas para o
negócio turístico local.
19 Romero (2010) aponta que “É importante salientar que a construção do Hotel Íbis, inaugu-
rado em abril de 2010, representa a entrada da primeira franquia de uma rede de hotelaria
internacional na cidade, a Accor Hotels, grupo francês que administra outras 14 franquias
de hotéis, que somam mais de 3.800. Somente a marca Íbis possui cerca de 800 unidades pelo
mundo. Até a chegada da marca em Dourados, Mato Grosso do Sul contava com somente
duas franquias da rede operando na capital Campo Grande, sendo elas: Novotel Campo
Grande, em funcionamento desde 1997 e Hotel Íbis, inaugurado em 2007” (Romero,
2010, p.43).
20 Romero (2010, p.44) também destaca que “No tocante ao Hotel Íbis, podemos afirmar que
a chegada deste empreendimento revela o novo momento pelo qual passa a cidade, uma vez
que grandes investidores analisam cautelosamente e estrategicamente, por meio de pesqui-
sas de mercado, quando e onde investir. Nesse sentido, podemos afirmar que Dourados tem
alcançado papel relevante no que tange ao desenvolvimento socioeconômico e da região,
atraindo investidores dos setores hoteleiro e comércio varejista”.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 119

no período considerado, alguns hotéis apresentam aumento de mais de


100% no preço da diária. Grande parte do segmento hoteleiro concentra-se
na porção central da cidade, atraindo fluxos do entorno, de outras regiões e
estados. A crescente polarização exercida por Dourados devido aos serviços
ligados a saúde e educação, bem como à abertura de novas empresas, tem
promovido maior dinâmica nesse setor, que vem ampliando sua atuação,
não só com a abertura de novos estabelecimentos, como também no inves-
timento em melhorias nas instalações, incorrendo, consequentemente, na
elevação dos preços dos serviços oferecidos.

Quadro 19: Dourados/MS. Preços das diárias em hotéis. 2009-2014.


Hotel 2009 2014
Preço da diária em Preço da diária em
apartamento standard* apartamento standard*
Alphaville R$ 89,00 R$ 70,00
Alphonsus R$ 89,00 R$ 129,90
Bahamas R$ 90,00 R$ 159,90
Campo Verde R$ 40,00 R$ 65,00
Dourados Center R$ 65,00 R$ 112,00
Eldorado’s R$ 40,00 R$ 60,00
Ellus R$ 60,00 R$ 95,00
Figueira Palace R$ 65,00 R$ 85,00
Gales Park – R$ 205,00
Grandelli R$ 30,00 R$ 60,00
Gran Turis R$ 40,00 R$ 65,00
Guanabara R$ 17,00 R$ 40,00
Guaporé R$ 54,00 R$ 82,00
Hotel 10 – R$ 139,00
Ibis R$ 100,00 R$ 125,00
Laguna R$ 25,00 R$ 45,00
Marina Plaza R$ 100,00 S/I
Neves III R$ 30,00 R$ 65,00
Oliveira Palace R$ 30,00 R$ 45,00
Querência R$ 30,00 S/I
Residence R$ 90,00 R$ 89,90
Tókio R$ 18,00 S/I
* Classificamos como apartamento standard a unidade padrão (básica) de cada estabelecimento hoteleiro.
Fonte: Pesquisa de campo. Organização: Hamilton Romero.

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120 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

As expectativas são de crescimento do setor. É possível observar que


muitos empreendimentos estão passando por reformas em suas estruturas
físicas. Algumas obras visam à ampliação de capacidade e outras, a adicio-
nar serviços, como internet sem fio, aparelhos de televisão mais modernos e
áreas para reuniões, uma vez que a maioria dos hóspedes é constituída pelos
denominados “turistas de negócios”, que chegam à cidade a trabalho, como
representantes comerciais, supervisores de vendas e consultores empresa-
riais. Podemos afirmar que esse perfil de usuário tem alavancado o processo
de melhorias pelo qual passam os hotéis em Dourados. Com o avanço das
novas tecnologias, as ferramentas disponíveis, como o acesso (wireless) à
internet, por exemplo, incorporadas ao cotidiano desses clientes/consumi-
dores que vêm à cidade para realizar negócios, conhecer produtos e avaliar
condições de investimentos na cidade, representam um diferencial. Os em-
presários locais que não garantem melhorias técnicas e estruturais com cer-
teza perdem mercado, daí as visíveis reformulações nos serviços hoteleiros.
A taxa de ocupação das unidades dos estabelecimentos de hospedagem
fica por volta de 80%, número bastante elevado se comparado ao de cida-
des turísticas como Rio de Janeiro, onde, fora de temporada, esse índice
chega, no máximo, a 64%. Considerando que Dourados não oferece atra-
tivos turísticos, sua taxa de ocupação não apresenta variação significativa,
mantendo-se praticamente a mesma o ano todo. A realização de eventos
de grande porte na cidade depende de uma rede hoteleira que garanta a
infraestrutura necessária no que tange à capacidade de hospedagem do
público participante. De acordo com os empresários do setor, a ocupação
média de 50% dos leitos se dá em função dos hóspedes “tradicionais”, ou
seja, os que costumam hospedar-se rotineiramente. Assim, o número de
apartamentos para a demanda não regular, aqueles que não visitam a cidade
com frequência, completa o restante da taxa de ocupação. Nesse sentido, a
realização de grandes eventos fica comprometida devido à capacidade ho-
teleira e, em alguns casos, inviabilizada, dada a falta de leitos para atender
uma demanda temporária e concentrada.
Os hotéis, em sua maioria, são administrados por seus proprietários,
configurando-se assim como empresas familiares. De acordo com os res-
ponsáveis pelo Conventions Bureau, essa característica torna os empreen-
dimentos vulneráveis à falta de profissionalismo e aumenta a dificuldade
em elevar a qualidade de atendimento aos hóspedes mais exigentes, que

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 121

esperam contar com facilidades, como os serviços de quarto 24 horas, res-


taurante com opção de pratos à la carte durante todo o dia, entre outras
necessidades próprias da vida moderna nos centros urbanos.
Aliado e dependente da rede hoteleira está o segmento de eventos. Es-
tudos apontam esse setor como um dos responsáveis por manter a taxa de
ocupação hoteleira durante a baixa temporada em cidades turísticas que
sofrem com a sazonalidade no setor.
No que compete à infraestrutura para a realização de eventos, Dourados
conta com locais públicos e privados, de que são exemplos os auditórios de
entidades do “Sistema S” (SENAC, SEBRAE) e o espaço da Associação
Comercial e Empresarial – com capacidade para trezentas pessoas –, des-
tacando-se o Centro de Eventos Cerrado Brasil – inaugurado em 2009 –,
localizado na Avenida Guaicurus, próximo ao trevo de acesso ao Hospital
Universitário, que comporta um público de até mil pessoas sentadas.21
Moreno (2013) considera o referido centro de eventos, assim como a obra
do Centro de Convenções Municipal, elementos que também reforçam o
papel desempenhado pela porção noroeste da cidade.

Dentre as modificações recentes na área, tomando os eventos como exem-


plo, há a inserção de duas grandes edificações reservadas a esse uso. A empresa
DZM, que tem como atividade a assessoria e realização de eventos, apesar de
localizar-se no centro da cidade, a sua inserção na área Noroeste expressou-se
na configuração de um grande salão de eventos – o Cerrado Brasil, cujo acesso
se dá pela Avenida Guaicurus (em direção à Cidade Universitária) – que se tor-
nou um equipamento representativo regionalmente, considerando a dimensão
da edificação e a proporção dos eventos que são realizados nesse local. A outra
edificação, ainda em construção, e que se insere nessa área, é o Centro de Con-
venções Municipal, que, com as trocas de administrações, teve sua construção
paralisada. (Moreno, 2013, p.233)

Ao lado do complexo administrativo onde funciona a sede do executivo


municipal, está localizado o pavilhão de eventos do município, denominado
Dom Teodardo Leitz, que foi inaugurado em 2007. Possui mais de 2 mil

21 Idealizado por uma empresa de eventos e cerimonial que atua há mais de 20 anos no mer-
cado, realiza festas particulares, promovidas pela própria administração, e está disponível
para locação a terceiros, sendo bastante ocupado, nos meses de dezembro a março, para
bailes de formatura.

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122 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

metros quadrados e atende, principalmente, eventos promovidos pela pre-


feitura municipal, como feiras e exposições. No Quadro 20, apresentamos
alguns locais de eventos e as respectivas capacidades de público.

Quadro 20: Dourados/MS. Locais para eventos. 2013.


Local Capacidade de público
Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) 800
Auditório Senac 300
Auditório Senai 300
Centro de Eventos Cerrado Brasil 1.000
Centro de Tradições Gaúchas – Querência do Sul 800
Clube Indaiá (salão maior) 1.000
Clube Indaiá (salão menor) 300
Clube Social Nipônico 300
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) 230
Pavilhão de Eventos Dom Teodardo Leitz (Prefeitura Municipal) 2.000
Pavilhão Comercial do Parque de Exposições “João Humberto de 700
Carvalho”
Salão de Eventos da UNIGRAN 1.200
Samambaia Clube 450
Teatro Municipal de Dourados 420
Capacidade total 9.800
Fonte: Pesquisa de campo. Organização: Hamilton Romero.

Os clubes de lazer dispõem de espaços com capacidades variadas: a


Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) tem um salão de eventos para
oitocentas pessoas, com estacionamento próprio; no Clube Social Indaiá,22
são dois os espaços disponíveis, um com capacidade para aproximadamente
mil pessoas, e outro, para trezentas; os Clubes Samambaia e Nipônico
também oferecem salão de eventos com capacidade para 450 e trezentas
pessoas, respectivamente.
O Pavilhão Comercial do Parque de Exposições “João Humberto de
Carvalho” (sediado às margens da BR-163) atende a um público de sete-
centas pessoas. É o local onde o Sindicato Rural de Dourados realiza a Ex-

22 Fundado em 1967, o Clube Indaiá é o mais antigo local de entretenimento particular da


cidade, onde se encontram equipamentos de lazer como piscinas, quadras, sauna e academia
de ginástica. Tradicionalmente, promove eventos sociais diversos como Carnaval, Baile do
Havaí, Baile de Aniversário do Clube, Baile Branco e Preto, Réveillon e jantares dançantes,
entre outros.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 123

posição Agropecuária (EXPOAGRO),23 uma das formas de expressão da


dinâmica produtiva da atividade agropecuária na cidade, evento que mo-
vimenta praticamente todos os setores econômicos de Dourados e região,
estabelecendo articulação em escala nacional e internacional.24 Yamashita
(2011) destaca dois elementos importantes nessa articulação: “a presença
de representantes de multimarcas de máquinas e equipamentos que parti-
cipam do evento; e a dinâmica dos negócios especializados, como os leilões
de raça e sêmens de animais que extrapolam as fronteiras geográficas nacio-
nais” (Yamashita, 2011, p.235), pois são transmitidos pelo “Canal do Boi”
(rede de televisão via satélite), permitindo a negociação e o lance virtual em
qualquer lugar do Brasil e até fora do país. Ressalta-se, ainda, que a referida
exposição promove o aumento de fluxos de diferentes ordens, sobretudo na
rede hoteleira de Dourados.
Por fim, destacamos o Teatro Municipal, como principal auditório na
cidade, com capacidade para 420 pessoas sentadas. Está localizado na área do
Parque dos Ipês (área norte da cidade), é climatizado e oferece boa infraestru-
tura para espetáculos teatrais, concertos e apresentações culturais diversas.
Ainda que a cidade esteja aparelhada com uma rede material necessária
à sua articulação e integração à economia nacional e mundial, torna-se pre-
mente aprofundar a reflexão no sentido de desmistificar a ideia de que as
cidades médias são eminentemente locais onde há qualidade de vida, haja
vista que também são marcadas pela desigualdade socioespacial, conforme
trataremos a seguir.

23 Atualmente, a EXPOAGRO envolve “o setor agroindustrial, tornando-se Exposição Agro-


pecuária e Industrial de Dourados, bem como agregando outras atividades nesse mesmo
evento, a Exposição de Máquinas em Movimento e Novas Cultivares (Expodinâmica)”
(Yamashita, 2011, p.237). Ainda, para a autora, “Outro fator de relevância é a recente par-
ceria com a Associação Comercial e Empresarial de Dourados (ACED), que se utiliza do
Pavilhão Comercial instalando a Exposhopping. Essa atividade visa dar oportunidade para
empresas que queiram expor e divulgar serviços do setor comercial e empresarial, ampliando
as possibilidades de negociações. Atualmente essa área abrange 44 expositores e 90 stands
para empresas de Dourados, de outros municípios de MS e de outros estados brasileiros”
(Yamashita, 2011, p.237).
24 Yamashita (2011) ressalta que, de acordo com relatório realizado pela EXPOAGRO, no ano
de 2010, em apenas uma semana de evento, constatou-se a participação de 120 mil visitantes
e 60 milhões de reais comercializados. “Esses valores constituem as negociações em vários
setores agropecuários e de atividades diversas, abrangendo comercializações que vão desde
animais (leilões), maquinários e implementos agrícolas, veículos, alimentação, shows e cur-
sos profissionalizantes, entre outros” (Yamashita, 2011, p.236).

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5
O APROFUNDAMENTO DAS CONTRADIÇÕES E DAS
DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS

Discutir o aprofundamento das contradições e das desigualdades so-


cioespaciais em Dourados pressupõe considerar essa realidade a partir, so-
bretudo, da década de 1970, momento em que a cidade passou a vivenciar
um expressivo crescimento populacional. Conforme já apontado, em ape-
nas uma década (1970-1980), segundo mostram os dados do IBGE, houve
um crescimento populacional superior a 168,55%, ou seja, a população ur-
bana do município, que em 1970 era de 31.599 habitantes, atingiu em 1980
o total de 84.849. Nesse contexto, o espaço urbano de Dourados, segundo
Calixto (2000), passou a ser apropriado de forma diferenciada, fazendo que
a população de menor poder aquisitivo se instalasse em áreas periféricas da
cidade, intensificando conflitos e contradições sociais.
Por outro lado, a população de origem rural que então chegava à cidade
passa por uma sensação de estranhamento ao deparar com uma realidade
diversa daquela em que vivia, haja vista que as práticas cotidianas são di-
ferentes e seus costumes não são considerados adequados à vida urba-
na. Dessa forma, defronta-se com dificuldades de inserção no mercado
de trabalho formal urbano, do que resulta a sujeição a subempregos e,
consequentemente, condições precárias de moradia. Apesar do expressivo
número de conjuntos habitacionais existentes na cidade, voltados para a
parcela de menor poder aquisitivo, houve, sobretudo nos últimos anos, um
aumento do número de áreas de ocupação “irregular” ou favelizadas em
Dourados, conforme abordaremos em seguida.

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126 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

5.1. As facetas das formas de produção e uso da


moradia social

Ao considerarmos as formas de produção e uso da moradia social, não


podemos deixar de mencionar que, com relação aos programas e às políticas
habitacionais, a cidade de Dourados tem uma particularidade que merece
destaque: conta com um número expressivo de conjuntos habitacionais
destinados às parcelas de “baixo poder aquisitivo”. Contudo, apesar disso,
a existência de expressivo número de áreas consideradas de ocupação “ir-
regular” revela que parte da população ainda enfrenta problemas de mo-
radia, o que deixa claro que a satisfação da necessidade habitacional não se
restringe apenas à provisão de unidades residenciais, mas implica também
que as condições de implantação atendam aos verdadeiros anseios da popu-
lação, sobretudo aquela desprovida de recursos financeiros.

5.1.1. Os programas habitacionais1

Desde o final da década de 1960, tornaram-se presentes na cidade de


Dourados as iniciativas de implantação de conjuntos habitacionais, sob a
égide do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). O Quadro 21 fornece
um demonstrativo do número de conjuntos residenciais implantados no
período de 1968 a 1991.

Quadro 21: Dourados/MS. Conjuntos habitacionais financiados pelo SFH. 1968-1991.


Conjunto Ano de No de unidades Agente promotor
implantação residenciais
Antônio João (Vila 1968 203 COHAB
Popular)
BNH 1o Plano 1971 316 COHAFABA
o
BNH 2 Plano 1975 288 COHAFABA
BNH 3o Plano 1977 544 COOPHADOURO
BNH 4o Plano 1978 1.000 COOPHADOURO
Campo Dourado 1980 386 CONSTRUMAT
LTDA
Continua

1 Para maior aprofundamento sobre a temática habitacional em Dourados, ver Calixto (2000).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 127

Quadro 21: Continua


Conjunto Ano de No de unidades Agente promotor
implantação residenciais
Eulália Pires 1983 306 COHAB
Maxwell 1987 112 INOCOOP
Maracanã 1988 191 INOCOOP
Izidro Pedroso 1988 748 COHAB
Caiuás 1988 144 INOCOOP
Morumbi 1988 96 INOCOOP
Rio Branco 1988 112 INOCOOP
Wlademiro do Amaral 1989 112 INOCOOP
Terra Roxa I 1991 268 CDHU
Terra Roxa II 1991 177 CDHU
Total 5.003
Fontes: Cartório do 1o Ofício de Dourados.
Prefeitura Municipal de Dourados.
Org.: Maria José Martinelli Silva Calixto.

Conforme se pode observar no Quadro 22, dentro da política de des-


centralização2 adotada, intensificaram-se as iniciativas municipais,3 a partir
do final da década de 1980 e início da de 1990, tendo como mola propul-
sora a pressão popular. Nesse contexto, houve a implantação da Vila Ca-
choeirinha (1989), mediante a distribuição de 1.082 lotes urbanizados,
visando à autoconstrução; da Vila São Braz (1990), com 282 lotes; e do
Projeto Canaã (1994), que previa inicialmente a implantação de cinco con-
juntos, totalizando 2.804 unidades residenciais. Posteriormente, foram
anexadas ao Projeto Canaã mais duas fases (dois conjuntos).4 Contudo,
apesar desse acréscimo no número de conjuntos inicialmente previstos, até
o final de 1999, havia apenas 1.933 unidades construídas, das quais 919, ou
47,5%, foram financiadas com recursos exclusivos do município. Ainda em
1999, ocorreu a implantação do Jardim Valderez de Oliveira, com 146 lotes
urbanizados.

2 Para maior aprofundamento sobre tal política em Dourados, ver Silva (2000).
3 Vale destacar que a Constituição Federal (1988) possibilitou o fortalecimento das escalas
locais de poder, via reforma fiscal e administrativa.
4 Dos seis conjuntos habitacionais efetivamente implantados, quatro localizam-se na porção
sul da cidade.

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128 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 22: Dourados/MS. Projetos habitacionais. 1989-1999.


Nome Ano Fonte de Programa Unidades Lotes
recursos residenciais urbanizados
Vila Cachoeirinha 1989 Municipal Iniciativa isolada* – 1.082
Vila São Braz 1990 Municipal Iniciativa isolada* – 282
Canaã I 1994 Municipal Projeto Canaã 411 49
Estadual Desfavelamento 366 –
Canaã II 1994 Municipal Projeto Canaã 190 –
Canaã III 1995 Municipal Projeto Canaã – 274
Estadual Pró-casa 70 –
Federal Pró-moradia, 445 –
Pró-Cred, Habitar
Brasil
Canaã IV 1995 Municipal Projeto Canaã 290 –
Canaã V 1995 Municipal Projeto Canaã – 235
Federal Pró-Cred 88 –
Canaã VI 1996 Municipal Projeto Canaã 46 –
Canaã VII- Itahum 1996 Municipal Projeto Canaã 27 –
Valderez de Oliveira 1999 Municipal Iniciativa isolada* – 146
Total – – 1.933 2.068
*Iniciativas não ligadas a programas habitacionais propriamente ditos, surgindo em razão de necessidades
pontuais.
Fonte: Prefeitura Municipal de Dourados – Superintendência de Habitação Popular e Silva (2000). Organiza-
ção: Maria José Martinelli Silva Calixto.

Já dentro da política habitacional impetrada no período de 2000 a 2008,


vale destacar o Programa Cesta de Material de Construção – com a constru-
ção de 132 unidades residenciais, no Residencial Porto Belo – e o Programa
de Erradicação de Favela, com a construção de 1.175 unidades residenciais –
Vila Valderez/Mariana, Estrela Verá, Estrela Hory, Estrela Poravi I e II, Es-
trela Porã I, II e III, Brasil 500 e Estrela Yvatê – voltadas para famílias com
renda de 0 a 2 salários mínimos (Quadro 23).

Quadro 23: Dourados/MS. Conjuntos habitacionais implantados. 2001-2007.


Residenciais Programa Ano de Ano de Número Observação
implantação entrega de
unidades
Vila Valderez/ Tijolo por Tijolo 2001 2002 32 Programa de
Vila Mariana Cherogami erradicação de favela
Brasil 500 Tijolo por Tijolo/ 2002 2003 56 Programa de
Mutirão erradicação de favela
Continua

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 129

Quadro 23: Continua


Residenciais Programa Ano de Ano de Número Observação
implantação entrega de
Unidades
Residencial Tijolo por Tijolo 2002 2002 132 Programa Cesta
Porto Belo CEF de Material de
Construção
Estrela Verá/ PSH – Programa 2003 2004 235 Programa de
Jóquei Clube de Subsídio à erradicação de favela
Habitação
Estrela Hory PSH – Programa 2003 2004 96 Programa de
de Subsídio à erradicação de favela
Habitação
Estrela Moroti Programa Casa nos 2003 2004 28 Distrito de Itahum
Distritos
Estrela Pyahu/ Programa Casa nos 2003 2004 18 Distrito de Vila
Vila Vargas Distritos Vargas
Estrela Poravi PSH – Programa 2003 2004 297 Programa de
I e II de Subsídio à erradicação de favela
Habitação
Estrela Porã I HBB/BID (Projeto 2003 2007 257 Programa de
Renascer) erradicação de favela
Estrela Porã II HBB/BID (Projeto 2003 2007 19 Programa de
Renascer) erradicação de favela
Estrela Porã III HBB/BID (Projeto 2003 2007 10 Programa de
Renascer) erradicação de favela
Estrela Yvatê Remoção de Fundo 2003 2007 114 Programa de
de Vale HBB/BID erradicação de favela
(Projeto Renascer)
Estrela Ara PSH – Programa 2004 2006 200 110 unidades na
Poty I de Subsídio à Aldeia Bororó e 90
Habitação (Rural) na Aldeia Jaguapiru
Estrela Ara PSH – Programa 2006 2007 400 195 unidades na
Poty II de Subsídio à Aldeia Bororó e 205
Habitação (Rural) na Aldeia Jaguapirú
Total 1.894
Fonte: Superintendência de Habitação da Prefeitura Municipal de Dourados. Organização: Maria José Mar-
tinelli S. Calixto.

Assim, em parceria com os governos federal e estadual (Quadro 24), o


governo municipal reiniciou os investimentos no setor habitacional, por
meio da implementação de novos programas.

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130 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 24: Dourados/MS. Recursos investidos em habitação (segundo as dependências admi-


nistrativas). 2002-2007.
Período Recurso próprio Governo federal Governo estadual Total
2002 480.000 1.320.000 – 1.800.000
2002/2003 440.000 – 960.000 1.400.000
2003/2004 2.428.000 3.360.000 470.000 6.258.000
2004/2006 882.000 1.400.000 400.000 2.682.000
2006/2007 600.000 5.000.000 400.000 6.000.000
Total 4.830.000 11.080.000 2.230.000 18.140.000
Fonte: Superintendência de Habitação. Organização: Maria José Martinelli S. Calixto.

O período de 2004 a 2008 foi marcado pela implantação de conjuntos


habitacionais ligados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR),5
com 963 unidades residenciais para famílias com renda de 0 a 3 salários mí-
nimos (Quadro 25), e ao Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) (a
partir de 2008), com 450 unidades residenciais (Quadro 26).

Quadro 25: Dourados/MS. Programa de Arrendamento Residencial (PAR). 2004-2008.


Residenciais Unidades Localização Ano
Estrela Pitã 131 Jardim Maracanã 2004
Estrela Kairós I 116 Jardim Guaicurus 2005
e Kairós II (próximo ao residencial Campo Dourado)
Estrela Itamirim 59 Residencial Izidro Pedroso 2006
Estrela Itaju I 130 Próximo ao Parque Alvorada 2007
Estrela Itaju II 100 Próximo ao Parque Alvorada 2007
Estrela Indaiá 262 Próximo ao HU 2008
Ponte Branca 91 João Paulo II 2008
Estrela Itapiri 74 Próximo ao Campo Dourado 2008
Total 963
Fonte: Superintendência de Habitação de Dourados. Organização: Maria José Martinelli S. Calixto.

5 Os residenciais vinculados ao PAR funcionam no formato de loteamento fechado, com gua-


rita onde são monitoradas a entrada e a saída de visitantes. Se comparados aos conjuntos do
Programa de Subsídio à Habitação (PSH), esses residenciais foram construídos com material
de qualidade superior e contam com infraestrutura básica como rede de esgoto, asfalto e ilu-
minação pública. Para a execução desses projetos, o poder público local entra com a compra
do terreno, e as casas são financiadas pela Caixa Econômica Federal pelo sistema leasing. As
parcelas deverão ser pagas durante quinze anos e o não pagamento incorrerá na perda do
imóvel.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 131

Quadro 26: Dourados/MS. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 2008.


Residenciais Unidades Localização
Estrela Tovy I 126 Próximo ao Jardim Flórida II
Estrela Tovy II 224 Próximo ao Jardim Clímax
Estrela Tovy III 100 Próximo ao Jardim Clímax
Total 450
Fonte: Superintendência de Habitação da Prefeitura Municipal de Dourados. Organização: Maria José Mar-
tinelli S. Calixto.

Além dos conjuntos Estrela Tovy6 I, II e III, com recursos do PAC, tam-
bém estava prevista a construção do Residencial Estrela Guassu. Contudo,
as obras encontram-se paralisadas, mesmo com investimentos previstos de
R$ 4,3 milhões para a edificação de 273 unidades residenciais.
No período de 2003 a 2007, foram implantadas as unidades habitacio-
nais do PSH destinadas à parcela da população que vivia em condições
consideradas subnormais – irregular, insalubre ou em assentamentos pre-
cários: Estrela Verá, com 235 unidades residenciais; Estrela Hory, com 96;
Estrela Poravi I, com 56; Estrela Poravi II, com 241; e mais as duzentas
unidades do Estrela Ara Poty I e as quatrocentas do Estrela Ara Poty II,
construídas na reserva indígena de Dourados.
A observação da localização dos loteamentos sociais (Figura 10) permite
compreender melhor as contradições que envolvem a reprodução do espaço
na cidade de Dourados. É visível a fragmentação socioespacial no processo
de sua implantação, que ocorre geralmente em áreas periféricas e despro-
vidas de infraestrutura, equipamentos e serviços e, em grande parte das
vezes, em descontinuidade ao tecido urbano.

6 Conforme informações veiculadas pela imprensa (“Casas do PAC vão acabar com favelas em
Dourados”), o Estrela Tovy receberia ocupantes de áreas de risco do Jardim Clímax (ao lado
do Parque Antenor Martins) e do Jardim Guaicurus (às margens da rodovia MS 156), além
das famílias que ocupavam uma área junto à Escola Municipal Frei Eucário, no Jardim dos
Estados. Disponível em: <http://www.dourados.ms.gov.br>. Acesso em: 3 ago. 2014.

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132 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Figura 10: Dourados/MS. Loteamentos sociais. 2009.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 133

5.1.2. O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV)7

Devido à sua abrangência, merece especial atenção o Programa Minha


Casa, Minha Vida (Figura 11), cujas primeiras unidades habitacionais
(447) em Dourados foram entregues no ano de 2011, no Jardim Novo Ho-
rizonte – Residencial Altos do Alvorada I e II. No período entre 2011 e
2013,8 foram entregues 1.313 unidades (Quadro 27), entre casas e aparta-
mentos – Residencial Eucalipto, havendo 1.684 unidades em construção,9
com previsão de entrega para o ano de 2014 (Quadro 28).

Quadro 27: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Unidades habitacionais entre-
gues. 2011-2013.
Residenciais Número de Localização Empresa
unidades
Altos do Alvorada I (Walter Brandão) 267 Jardim Novo Horizonte ENGEPAR
Altos do Alvorada II (Walter Brandão) 180 Jardim Novo Horizonte ENGEPAR
Estrela do Leste 161 Prolongamento da Av. VBC
Marcelino Pires
Eucalipto 240 Prolongamento da Av. VBC
Marcelino Pires
Dioclécio Artuzi I 238 Jardim Guaicurus LC BRAGA
Dioclécio Artuzi II 227 Jardim Guaicurus LC BRAGA
Total 1.313
Fonte: Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de Dourados/MS. Organização: Sara Livino de Jesus
(2014).

Quadro 28: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Unidades habitacionais em
construção. 2011-2013.
Residenciais Número de unidades Localização Empresa
Vila Roma 512 Jardim Novo Horizonte ENGEPAR
Diocléio Artuzi III 450 Jardim Guaicurus LC BRAGA
Hárrison de Figueiredo I 232 Jardim Guaicurus COPLAN
Hárrison de Figueiredo II 240 Jardim Guaicurus COPLAN
Hárrison de Figueiredo III 250 Jardim Guaicurus COPLAN
Total 1.684
Fonte: Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de Dourados/MS. Organização Sara Livino de Jesus
(2014).

7 Para maior aprofundamento sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, em Dourados, ver
Jesus (2014).
8 Das unidades habitacionais entregues entre 2011 e 2013, 161 foram do Programa de Arren-
damento Residencial (PAR) e 147, pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Já
as unidades entregues pelo PMCMV totalizaram 1.313.
9 Das unidades habitacionais em construção, 73 são do Programa de Aceleração do Cresci-
mento (PAC), 186 estão sendo construídas com recursos do Fundo Nacional de Habitação
de Interesse Social (FNHIS) e 1.684 são do PMCMV.

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134 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Figura 11: Dourados/MS. Conjuntos habitacionais implantados pelo PMCMV. Famílias com renda mensal de até R$ 1.600. 2013.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 135

Com base nos dados levantados por Jesus (2014), até maio de 2014, o
total de inscritos no cadastro realizado pela Secretaria de Habitação era de
10.547 famílias. Desse total, 3.715 famílias apresentavam renda de até um
salário mínimo;10 5.152, entre um e dois salários mínimos; 1.442, entre dois e
três salários mínimos; e 238, acima de três salários. A prestação é equivalente
a 10% da renda mensal, durante dez anos, com o mínimo mensal de R$ 50.
Jesus (2014) ressalta ainda que a Caixa Econômica Federal recebeu, e
estaria analisando, propostas de projetos de diferentes construtoras, num
total de 5.738 unidades a serem entregues no ano de 2016 (Quadro 29). A
autora também menciona que, de acordo com as diretrizes do Programa, há
limite máximo de quinhentas unidades por módulo. Contudo, as constru-
toras têm apresentado projetos com quantidade de unidades habitacionais
superiores a tal limite. Exemplo disso é o do Jardim Guaicurus, que, se
aprovado, deverá contar com 4.557 unidades habitacionais do PMCMV
até 2016.

Quadro 29: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Projetos habitacionais em
análise. 2013.
Residenciais Número de unidades Localização Empresa
Jatey 116 Joquey Clube IAPPEC
Santa Felicidade 149 Joquey Clube IAPPEC
Campina Verde 353 Sitioca Campina Verde CRF
Fazenda Coqueiro 1.720 Jardim Guaicurus LCBRAGA
Estrela Guassu 200 Jardim Clímax ENGEPAR
(Honório Almirão)
Área Edmur 2.000 Próximo ao Canaã I ENGEPAR
Canoa 1.200 Jardim Guaicurus COPLAN
Total 5.738
Fonte: Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de Dourados/MS. Organização: Sara Livino de Jesus
(2014).

Quando consideramos as famílias com renda entre três e dez salários


mínimos, conforme os dados apresentados pela Caixa Econômica Federal,
temos o que segue, nos Quadros 30 e 31 (Figura 12).

10 O salário mínimo em maio de 2014 era de R$ 724.

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136 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 30: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Unidades habitacionais entre-
gues. Famílias com renda mensal de três a dez salários mínimos. 2010-2014.
Residenciais Número Localização Empresa
de
unidades
Pé de Cedro I e II 32 Jardim Água Boa 2N Construtora e Incorporadora
Ltda. – ME
Itaverá Módulo II 112 Parque Alvorada R.G. Engenharia – Ltda.
Itajuba I e II 144 Chácara Trevo R.G. Engenharia – Ltda.
Itaoca 120 Parque Alvorada R.G. Engenharia – Ltda.
Vila Toscana 130 Jardim Novo Engepar Engenharia e
Horizonte Participações Ltda.
Arezzo – Fase I 48 Jardim Novo Engepar Engenharia e
Horizonte Participações Ltda.
Italocomi 80 Parque Alvorada R.G. Engenharia – Ltda.
Residencial Villágio 148 Jardim Novo Engepar Engenharia e
Florença Horizonte Participações Ltda.
Moradas Dourados – 602 Próximo ao clube Rodobens Negócios Imobiliários
Módulo I, II, III Indaiá S.A.
Vicenza I e II 40 Bairro Campo Construtora Moreira Costa
Grande Ltda. – Epp
Verona 20 Jardim Pelicano Markaz Construtora Ltda. – Epp
Total 1.476
Fonte: Caixa Econômica Federal. Organização: Sara Livino de Jesus (2014).

Quadro 31: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Unidades habitacionais (pre-
visão para conclusão 2014-2015). Família com renda mensal de três a dez salários mínimos.
2014-2015.
Residenciais Número de Localização Empresa
unidades
Arezzo – Fase II e III 64 Jardim Novo Engepar Engenharia e
Horizonte Participações Ltda.
Villágio Florença 148 Jardim Novo Engepar Engenharia e
Horizonte Participações Ltda.
Itamaraty 144 Parque Alvorada R.G Engenharia Ltda.
Vila Toscana III (Condomínios 108 Jardim Novo Engepar Engenharia e
de casas de esquina) Horizonte Participações Ltda.
Itamaracá 144 Parque Alvorada R.G. Engenharia – Ltda.
Total 608
Fonte: Caixa Econômica Federal. Organização: Sara Livino de Jesus (2014).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL
137

Figura 12: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida. Residenciais implantados. Famílias com renda entre três e dez salários mínimos. 2013.

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138 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Dos projetos em análise na Caixa Econômica Federal e, de acordo com


as informações obtidas por Jesus (2014), somente para o ano de 2014 havia
previsão para a contratação de 2.591 unidades habitacionais (Quadro 32).

Quadro 32: Dourados/MS. Programa Minha Casa Minha Vida – Projetos em análise. Família
com renda mensal de três a dez salários mínimos. 2014.
Residenciais Número de Empresa
unidades
D1 336 Alusa Engenharia Ltda.
Casa Nova Residencial 1 336 S/I
Residencial C1 336 Alusa Engenharia Ltda.
Residencial C2 336 Alusa Engenharia Ltda.
Arezzo – Bloco I – Fase 04 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Arezzo – Bloco J – Fase 05 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Arezzo – Bloco K – Fase 06 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Arezzo – Bloco C – Fase 07 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Arezzo – Bloco B – Fase 08 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Arezzo – Bloco A – Fase 09 16 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Moradas Dourados II 774 Terra Nova Rodobens Incorporadora
Imobiliária – Dourados II
Itaquera 120 R.G. Engenharia Ltda.
Casas de esquina F3 PNE – 3 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Módulo II
Casa Grande 46 Stenge Engenharia Ltda.
Vila Toscana Módulo IV 88 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Módulo II 120 Engepar Engenharia e Participações Ltda.
Total 2.591
Fonte: Caixa Econômica Federal. Organização: Sara Livino de Jesus (2014).

É importante referenciar que, a partir do ano de 2010, as ações das em-


presas privadas na produção da habitação em Dourados fazem-se de forma
mais significativa, reforçando o jogo de interesses presentes no processo de
reprodução do espaço urbano.
Por conseguinte, a localização de tais empreendimentos vem corrobo-
rar uma produção do espaço marcada pelo distanciamento socioespacial,
ampliando as distâncias no interior da cidade, haja vista que o aumento do
fluxo de pessoas no local onde foram implantados tais empreendimentos
habitacionais não foi acompanhado da ampliação de infraestrutura, equipa-
mentos e serviços urbanos, a exemplo dos loteamentos Jóquei Clube, Vila

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 139

Erondina, Jardim Santa Felicidade, Vila Nova Esperança, Jardim Alham-


bra e Jardim Monte Alegre, entre outros.
Por outro lado, formas alternativas de acesso ao espaço urbano (ocupa-
ções de áreas), conforme serão mostradas a seguir, denunciam a outra faceta
desse processo: os programas estão aquém das necessidades habitacionais.

5.2. As áreas de ocupação “irregular” ou favelizadas

A análise das condições de produção, apropriação e uso da moradia


em Dourados coloca a necessidade de considerar essa realidade a partir,
sobretudo, da década de 1970, período em que ocorreram os primeiros
registros de ocupação “irregular” de áreas urbanas na cidade.11 O espaço
urbano passou, então, a ser apropriado de forma diferenciada, fazendo que
a problemática da moradia começasse a se fazer presente, principalmente
para aqueles que não apresentavam condições financeiras de comprar ou
alugar uma casa. Essa situação foi se agravando no decorrer do tempo e,
atualmente, parcela significativa da população enfrenta problemas e luta
pelo acesso à moradia, como se pode perceber quando comparamos os
dados apontados por duas pesquisas, uma realizada em 200412 e outra, em
2014 (Quadro 33).

Quadro 33: Dourados/MS. Áreas de ocupação “irregular” ou favelizadas. 2014.


Área Ocupação No de lotes Situação
01 Beco Brasil 500 50 -
02 Bom Jesus 55
03 Brasil 500 56 Em fase de regularização
04 Canaã III (divisa de bairros) 118
Continua

11 Ainda que os primeiros registros de ocupação “irregular” de áreas urbanas em Dourados


datem da década de 1970, Calixto (2000, p.213), ao se referir às práticas especulativas
desse contexto, aponta que já na década de 1950 “o grande volume de lotes pertencentes a
proprietários que não residiam em Dourados instigou a prática da ocupação e o surgimento
de posseiros na cidade”.
12 Estamos nos referindo à pesquisa de Iniciação Científica intitulada “O processo de produ-
ção do espaço urbano em Dourados-MS: levantamento das áreas de ocupação irregular”,
realizada por Gustavo Castilho Crespe (2004).

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140 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 33: Continuação


Área Ocupação No de lotes Situação
05 Clube social – União 134
Douradense
06 Estrela Sayju 10
07 Fundos do BNH 4 Plano 41
08 Jardim Carisma 06
09 Jardim do Bosque 75 Em fase de regularização
10 Jardim João Paulo II 42
11 Jardim Murakami 30
12 Jardim Naná 11
13 Vila São Braz – quadra 58 28
14 Jardim Santa Hermínia 20
15 Vila Anete 53 Em fase de regularização
16 Vila Bela 10
17 Vila dos Ofícios – Canaã III 24
18 Vila dos Ofícios – Jardim 12
Oliveira
19 Vila dos Ofícios – Jardim Novo 29
Horizonte
20 Vila dos Ofícios – Vila São Braz 30
21 Vila dos Ofícios – Vila Mary 26
22 Vila Mariana 67 Em fase de regularização
23 Vila Valderez 180
24 Vila Vieira 08
Total 1.115
Fonte: Secretaria de Planejamento (SEPLAN) – Prefeitura Municipal de Dourados/MS. Organização: Maria
José Martinelli Silva Calixto

Os dados da pesquisa realizada em 2004 revelaram a existência de cator-


ze áreas consideradas de favela ou de ocupação “irregular” na cidade. Dez
anos depois, esse número subiu para 24. Portanto, apesar da iniciativa de
implantação de conjuntos habitacionais, ligados, inclusive, a programas de
erradicação de favelas, há uma parcela da população ainda não atendida por
eles. A fim de melhor dimensionar essa realidade, tomamos como objeto
de análise mais próxima duas áreas de ocupação, buscando pontuar alguns
dos determinantes que envolvem a questão. O trabalho nos permitiu uma
aproximação do cotidiano vivido pelos que diariamente travam uma ver-
dadeira luta contra a propriedade privada da terra e as políticas públicas
habitacionais.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 141

Os dois locais selecionados como objeto de reflexão foram a antiga Fa-


vela do Jardim Clímax,13 então localizada na porção sudoeste da cidade,
uma das áreas de favela mais antigas, que permaneceu por mais de trinta
anos sem regularização fundiária – ainda que alguns ocupantes tivessem
conseguido a escritura de seus imóveis, devido ao antigo modelo cartorial –;
e o acampamento denominado Portelinha,14 na porção sul – área de ocu-
pação que surgiu em 2008 numa rua da Vila Cachoeirinha e permaneceu,
sem a mínima atenção do poder público, até o ano de 2013. A partir dessas
ocupações, procuramos refletir sobre as formas diferenciadas de produção,
apropriação e uso do espaço urbano e seus desdobramentos socioespaciais.
A então Favela do Jardim Clímax surgiu em um loteamento particular
homônimo implantado na década de 1950. Em meados da década de 1970,
parte do loteamento, que contava com muitos lotes ainda não edificados,
começou a ser ocupada por famílias que não tinham possibilidade de acesso
à terra urbana por intermédio de compra ou aluguel. Assim teve origem a
favela, que chegou a contar com cerca de quarenta famílias. Em mais de
trinta anos de existência da ocupação, nenhuma medida foi tomada pelo
poder público para sanar o problema. Ainda que estivesse próximo ao cen-
tro da cidade, o local não contava com sistemas adequados de esgoto, ilu-
minação ou coleta de lixo. Os casebres também chamavam a atenção, quase
todos erguidos aos poucos, por autoconstrução, e misturando diferentes
materiais – em sua maioria doados, recolhidos nas ruas ou comprados de
segunda mão. Alguns casebres eram feitos de alvenaria (com acabamento
um pouco melhor que os demais ), outros de madeira, e outros, ainda, mes-
clavam esses materiais com lonas etc.
Ainda que algumas casas tenham sido edificadas em local mais elevado
e em alvenaria, apresentando um bom acabamento, a Favela do Jardim
Clímax apresentava, em seu conjunto, um aspecto degradado. Erguida
ao lado de uma galeria de águas pluviais, recebia dejetos de toda ordem e
estava sujeita a inundações em dias de chuva: em alguns casebres, a água,
misturada com esgoto e lixo, atingia mais de meio metro de altura. Por falta
de infraestrutura adequada, essa galeria acabou virando esgoto a céu aberto,

13 Para análise sobre a Favela do Jardim Clímax, ver Marin (2009).


14 Sobre a área de ocupação denominada Portelinha, ver Queiroz (2010).

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e as pessoas tinham que conviver com o problema da água e da sujeira que


invadiam as casas, sobretudo aquelas localizadas mais próximas à “vale-
ta”. Em dias de chuva forte, esses moradores eram obrigados a retirar seus
pertences da “casa” e procurar abrigo com os vizinhos que ocupavam local
mais elevado, ou mais distante da galeria. O mau cheiro causado pelos de-
jetos bem como os insetos e animais atraídos para o local eram algumas das
reclamações constantes dos moradores/ocupantes da área. Como ali tam-
bém havia a nascente do córrego Água Boa, algumas “casas” eram tomadas
pela umidade, e a água literalmente minava do chão.
A possibilidade de remoção acompanhou os ocupantes por vários anos,
sempre com promessas políticas que aconteciam, geralmente, em época de
eleições. Após mais de trinta anos, sem regularização fundiária ou melho-
rias, a área de ocupação passou a fazer parte de um projeto de remoção de
famílias em situação de risco, com recursos do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e da prefeitura municipal. Os ocupantes foram mo-
vidos, em outubro de 2011, para o Conjunto Habitacional Estrela Tovy.
Atualmente, a área faz parte da Via Parque, que interligou o início da Ave-
nida Joaquim Teixeira Alves, passando pelo BNH 4o Plano, COHAB 2 e
Vila Cachoeirinha, seguindo o curso do córrego Água Boa.
Conforme relatado,15 a remoção aconteceu de forma arbitrária, quando
muitos moradores estavam trabalhando, não tendo como acompanhar a
desocupação e sem tempo suficiente para realizar sua mudança. Alguns
contavam com parentes para ajudar, e outros, com a solidariedade dos
demais ocupantes da área. Alguns deles relataram, ainda, que a energia foi
desligada logo pela manhã, sem prévio aviso, pegando todos de surpresa,
inclusive os que tinham equipamentos eletrônicos ainda ligados. Segundo
relatos, embora no local houvesse crianças, idosos e pessoas com problemas
de saúde, não foi oferecido aos ocupantes nenhum tipo de acompanhamen-
to psicossocial.
Reforçando a reflexão sobre as formas diferenciadas de produção, apro-
priação e uso do espaço urbano, trazemos alguns elementos para analisar a
realidade do acampamento denominado Portelinha, que teve seu início em
fevereiro de 2008, quando um grupo de aproximadamente sessenta famí-

15 Entrevista realizada por João Paulo Muniz Marin, em 27 out. 2011.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 143

lias, sem alternativa de moradia na cidade, ocupou uma área particular de


30 mil metros quadrados, desocupada havia vários anos. Munidos de enxa-
da e foice, roçaram o terreno, promoveram a demarcação dos lotes com bar-
bante e armaram os barracos com madeiras, lonas e materiais reutilizados.
Em face da pressão exercida pelo proprietário e pela justiça, o movimen-
to foi se desintegrando, passando a ser contínuo o número de famílias que
deixavam a área. Após dois meses de acampamento, foi estabelecida a in-
tervenção por meio de um mandado de reintegração de posse, obrigando os
ocupantes a deixar o local, inclusive por meio de repressão policial. Poucos
dias depois, um número significativo de famílias já abandonara seus barra-
cos, e as que resistiram passaram a ser alvo de constantes ameaças.
Apesar do conflito estabelecido e de todas as pressões sofridas, um
grupo de quatro famílias – com aproximadamente 22 pessoas, entre adultos
e crianças – que não tinha alternativa de moradia resistiu, desocupando a
área, mas erguendo seus barracos na rua. Os depoimentos dos ocupantes
retratam a realidade de vida dos que se encontram às margens da cidade,
vivenciando uma situação cotidiana de risco, em moradias precárias (barra-
cos de lona), com a mínima condição de higiene ou segurança, muitas vezes
dependentes de mobilizações ou da solidariedade de vizinhos ou de pessoas
comovidas com a situação. A essas quatro famílias que ergueram seus bar-
racos na rua juntaram-se outras, e a área chegou a ter cerca de dez famílias
que ali permaneceram por aproximadamente cinco anos, sem nenhuma
atenção do poder público. Devido às condições de extrema precariedade
e insegurança, foram aos poucos deixando a área, e, em 2013, já não havia
mais ocupantes no local. Alguns mudaram-se para outras áreas de ocupa-
ção existentes na cidade e outros foram morar com parentes.
No processo de luta pela moradia, muitas famílias continuam vendo
a ocupação como a única forma de garantir o “direito à cidade”. Assim,
entre outras ocupações ocorridas na cidade,16 mais uma área – às margens
da Via Parque, entre o Jardim Clímax e a COHAB II, abrangendo a área
municipal do antigo Clube Atlético de Dourados (CAD) – foi ocupada por

16 Matéria do jornal eletrônico Dourados News aponta que o Estrela Guassu é a quarta área
ocupada na cidade apenas em 2014. Disponível em: <http://www.douradosnews.com.br/
dourados/mais-uma-area-e-invadida-em-dourados>. Acesso em: 3 ago. 2014.

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centenas de famílias em janeiro de 2014. No local (Estrela Guassu) estava


prevista a construção de um residencial de mesmo nome. Contudo, as obras
encontram-se paralisadas, mesmo tendo sido alocados investimentos no
valor de R$ 4,3 milhões para a edificação de 273 unidades residenciais.
Ameaçados pela possibilidade de despejo e de reintegração de posse,17
até setembro de 2014, os ocupantes, que alegam estar cadastrados no Pro-
grama Municipal de Habitação Popular há vários anos, continuavam na
área,18 reforçando o fato de que as formas de produção do espaço urbano
redefinem a cidade de acordo com as necessidades dos agentes que podem
fazer valer seus interesses. Esse processo exclui os que não têm condições
de pagar pela moradia e/ou outras necessidades básicas, reproduzindo um
espaço marcado pelo distanciamento socioespacial.
Parcela significativa da população é obrigada a ocupar áreas geralmente
sem infraestrutura adequada e longe dos lugares que frequentam, como
trabalho, escola e posto de saúde, entre outros. Por outro lado, nas áreas
servidas por infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos, são implan-
tados loteamentos fechados para aqueles que podem pagar pelo direito de
uso da terra urbana.
Vale destacar também que, quando questionados sobre qual seria o
seu maior sonho, a maioria dos moradores/ocupantes das áreas de favela
ou acampamento mencionou uma moradia digna, uma casa que ofereça
segurança, estabilidade e acesso, principalmente, à escola e ao emprego.
Os depoimentos dos moradores/ocupantes da área também revelaram que
aqueles que vivem na incerteza da moradia já não acreditam mais no poder
público para mediar tal situação.19
Nessas áreas, as “casas” construídas em condições precárias expressam
conflitos de várias ordens. Para além da aparência – casebres amontoados,

17 Cf. <http://www.douradosagora.com.br/dourados/ainda-em-area-invadida-familias-
-dizem-estar-de-olho-em-oportunistas>. Acesso em: 3 ago. 2014.
18 Em outubro de 2014, a referida área foi desocupada pelas últimas famílias, conforme matéria
do jornal eletrônico Dourados News. Disponível em: <http://www.douradosnews.com.br/
dourados/acampados-no-estrela-guassu-terao-que-deixar-o-local>. Acesso em: 15 out.
2014.
19 Disponível em: <http://www.94fmdourados.com.br/noticias/dourados/invasores-do-jar-
dim-climax-divulgam-video-e-garantem-que-prefeito-prometeu-doar-terrenos>. Acesso
em: 3 ago. 2014.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 145

sem rede de água ou esgoto, com pouca ventilação, sem condições de salu-
bridade, com parcos equipamentos de higiene etc. – há um ritmo que revela
o modo de reprodução da vida daqueles que parecem estar à margem da ci-
dade. Cada nova área ocupada expressa uma concretude de situações e uma
configuração urbana marcada pela diferença, pois as formas alternativas
encontradas para garantir o acesso à moradia refletem-se no arranjo so-
cioespacial da cidade. Essa realidade evidencia a premência de se repensar
uma política de acesso à moradia para a parcela da população que, muitas
vezes, não pode auferir renda pelo emprego ou trabalho formal, mas que
também tem necessidades, desejos, aspirações, ou seja, o mesmo direito à
cidade, independentemente de sua condição.
Tendo em vista que as áreas mais distantes do centro da cidade têm
um preço menor no mercado imobiliário, torna-se comum a ocupação
desses locais. Assim, de forma geral, esse tipo de ocupação encontra-se
na periferia pobre, degradada e precária, do ponto de vista da higiene e do
saneamento básico – da qual, muitas vezes, os moradores têm dificuldade
de deslocamento até mesmo para trabalhar, devido à distância. A realidade
vivenciada pelos ocupantes de áreas urbanas revela o modo de reprodução
da vida e a multiplicidade de relações presentes no cotidiano daqueles que
parecem não ter direitos e que incomodam com sua presença, revelando,
sobretudo, o empobrecimento da vida na cidade. Esse universo não apenas
expressa, mas também denuncia, a ausência de uma política urbana que
considere a realidade de vida dos considerados excluídos socioespacialmen-
te, revelando uma tentativa ou estratégia de luta pela sobrevivência e pelo
direito à cidade.

5.3. As novas formas e os novos significados da


produção habitacional

A discussão sobre as novas formas e os novos significados da produção


habitacional em Dourados implica considerar a presença dos loteamentos
fechados de padrão elevado lançados recentemente e também a produção
verticalizada, que imprimiram/imprimem nova forma de produção, apro-
priação e uso do espaço urbano.

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5.3.1. Os loteamentos fechados

O lançamento recente dos loteamentos fechados de padrão elevado aca-


bou difundindo novas formas de edificação e, consequentemente, criando
novos valores fundiários e imobiliários20 no interior da cidade.
Sposito e Góes (2013, p.42), a partir de uma abrangente revisão sobre
autores que trataram da denominada “urbanização difusa”, destacam que
o processo de urbanização atual tem se caracterizado, cada vez mais, pelo
espraiamento do tecido urbano, implicando a redefinição das formas de
produção do espaço. Ou seja, vivenciamos um processo de reestruturação
da cidade, que leva a modificações no uso do solo e, ao mesmo tempo, na
estruturação urbana, impactando as relações “centro-periferia” (Sposito;
Góes, 2013, p.42). Assim, entre as novas formas de habitat21 urbano, estão
os loteamentos fechados, que “representam não apenas um novo modo de
morar, mas sim novas formas de viver e de apreender a cidade e o urbano”
(Sposito; Góes, 2013, p.42).
O marco inicial dessa forma de produção em Dourados foi o empreendi-
mento Ecoville, aprovado em 2008 e lançado em janeiro de 2009 na porção
norte da cidade pelo Grupo Plaenge22 e pela Vectra Construtora.23 O Eco-
ville Dourados Residence e Resort, com 15.900 metros quadrados de área

20 Vale ressaltar que, quando consideramos o setor imobiliário, segundo o Conselho Regional
de Corretores de Imóveis-MS (CRECI), no ano de 2009 havia 26 imobiliárias cadastradas
na cidade de Dourados. Já em 2014, esse número passa para 48. Para identificar as principais
empresas do setor, foram definidos alguns critérios: as coligações de imobiliárias – grupos de
empresas que se unem para obter maior força no mercado –; destaque nos cadernos dos clas-
sificados (imobiliários), com anúncios de pelo menos meia página; imobiliárias com página
própria na web. O fato de haver um grupo de cinco imobiliárias – Colmeia, Confiança, Amé-
rica, Terra e Continental – que concentram a oferta de negociações de imóveis no município
reforça ainda mais o processo de monopolização na oferta de imóveis.
21 É necessário enfatizar que o habitat extrapola a dimensão espacial circunscrita somente
à moradia, pois implica o entendimento da produção da habitação e, portanto, envolve a
reprodução do espaço urbano em sua totalidade, com novos fluxos e apropriação diferen-
ciada da cidade pelos seus diferentes agentes.
22 Construtora e incorporadora, presente no mercado desde 1970, com sede em Londrina-PR.
No ano de 2009, formou-se a Plaenge Chile, com sua expansão internacional para esse país.
No segmento residencial, o Grupo está presente em oito cidades brasileiras: Londrina/PR,
Curitiba/PR e Maringá/PR, Dourados/MS, Três Lagoas/MS e Campo Grande/MS e
Cuiabá/MT. Cf. <http://www.plaenge.com.br>.
23 A Vectra Construtora Ltda., também com sede em Londrina, é especializada na construção
e incorporação de empreendimentos residenciais e comerciais. Fundada em 1996, a empresa
concentra sua atuação em dois segmentos do mercado imobiliário: edifícios e condomínios
verticais bem como loteamentos e condomínios horizontais.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 147

destinada ao lazer, representou uma forma de apropriação diferenciada no


interior da cidade, produzindo um novo padrão de ocupação e uso.
A primeira fase do empreendimento contava com 255 lotes, com ta-
manhos médios de 450 metros quadrados, distribuídos em 14 quadras,
com dimensões variadas: 450, 525, 650 e 730 metros quadrados. Até o
mês de agosto de 2010, haviam sido vendidos 186 lotes, ou seja, 73% dos
255 disponibilizados, pelo preço médio de R$ 275 o metro quadrado. A
forma de pagamento era “facilitada”, com uma entrada no valor de 25% do
preço total, e o restante parcelado em até sessenta vezes. Vale ressaltar que a
área destinada ao loteamento está dividida em duas porções: a primeira foi
disponibilizada para venda no início da implantação, enquanto a segunda
etapa – com 198 lotes, distribuídos em nove quadras – só foi oferecida para
comercialização posteriormente.
Conforme divulgado, o loteamento contaria com academia spa, duas
quadras poliesportivas, além de quadras de squash, futebol society e tênis
em saibro; salão de jogos, salão de festas, espaço gourmet e churrasqueiras;
praça das águas, praça saúde, praça boulevard (primeira etapa), praça de te-
reré (segunda etapa) e praça dos sabores (primeira etapa); prainha, piscina
com raias, piscina infantil e de biribol, playground etc. Paralelamente a esses
atrativos, o empreendimento adotou também como estratégia de marketing
dar destaque à sua localização – ao lado do Jardim Girassol (bairro, até
então, de maior “valorização” imobiliária na cidade), da Usina Velha (ponto
turístico) e do Córrego Laranja Doce (área de preservação ambiental) –, o
que pode ser entendido, como já mencionado, como uma forma de apro-
priação diferenciada da área como localização.
Na esteira do lançamento do Residencial Ecoville, foram lançados mais
dois loteamentos fechados, o Terras de Alphaville Dourados – em outubro
de 2013 – e o Porto Madero Premium Residence & Resort – em março de
2014. O primeiro, em área de 587 mil metros quadrados, foi implantado na
porção oeste de Dourados, área tida como de alto potencial de “valorização”,24
no km 7 da Rodovia MS 162 (Avenida Guaicurus), que dá acesso à Cidade
Universitária, ao aeroporto de Dourados e às unidades do Exército. Possui
595 lotes, com tamanhos variando entre 324 e 580 metros quadrados. Segun-
do divulgado, o loteamento contará com um clube – voltado para um grande

24 A “valorização” prevista de 40% ao ano foi fortemente usada como estratégia de divulgação
do empreendimento.

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lago, com trapiche flutuante de acesso, interligado ao complexo esportivo –,


área comercial, praças, boulevards, salão de festas, playground, academia,
quadra poliesportiva, piscinas, fitness, espaços de convivência, salão de festas,
salão de jogos, churrasqueira e uma área verde de 191 mil metros quadrados.
Já o Porto Madero Premium Residence & Resort foi lançado em março
de 2014, na porção norte da cidade, com 520 lotes. Apontado por uma forte
campanha publicitária como o mais arrojado projeto desse porte no estado,
seu lançamento foi celebrado com show privado da cantora Gal Costa, no
espaço de eventos mais elegante da cidade – o Cerrado Brasil. Sob o coman-
do da Corpal Empreendimentos Imobiliários, Vectra Construtora e Proten-
ge Urbanismo, alcançou 100% de reserva na primeira fase, de acordo com o
que foi divulgado. Além de playground convencional e playground premium
(com aquaplay), o residencial conta com cinema exclusivo no Porto Madero
Club, que será equipado também com um lago artificial, piscina coberta e
aquecida, piscina com deck molhado, spa center, piscinas de biribol, campo
de futebol society, quadra de tênis e poliesportiva, fitness center, pista de
skate, salão de jogos, salão de festa adulto, salão de festa infantil tematizado
e espaços gourmet, uma estação chope e outra estação vinho.
Juntamente com esses empreendimentos, outros dois foram lançados,
estes, na porção sul da cidade: o Golden Park Residence – aprovado em 2008
e lançado em 2010 – e o Green Park Residence – lançado em 2014.25 O pri-
meiro, apesar de ter sido lançado na mesma época do Ecoville, diferentemen-
te deste, ainda não possui número significativo de residências construídas e/
ou em construção. Acreditamos que um fator contribui especialmente para
isso: o loteamento não está localizado na porção mais procurada e “valoriza-
da” da cidade, em termos imobiliários, o que acaba por definir a demanda.
A implantação dos loteamentos fechados26 faz que o processo de produ-
ção, apropriação e uso do espaço urbano assuma um caráter diferenciado,
reforçando o potencial de “valorização” imobiliária das porções norte e
oeste da cidade. Como consequência dessa redefinição do valor de troca,
ocorre o distanciamento da população que não pode arcar com os novos
preços estabelecidos no interior da cidade. Procurando levantar alguns
elementos para o entendimento da questão, Santos (1997) afirma que os

25 Lançado pela São Bento Incorporadora Ltda, com 50 mil metros quadrados de área verde,
espaços gourmet, quiosques no centro esportivo, salão de festas etc.
26 No ano de 2015 foi lançado o Porto Seguro Residence & Resort, em frente ao Porto Madero,
com 252 lotes.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 149

“atores hegemônicos da vida econômica, social e política podem escolher


os melhores lugares para sua atuação e, em consequência, a localização dos
demais atores é condenada a ser residual” (Santos, 1997, p.162).
Tais empreendimentos têm introduzido uma forma de morar diferente,
tornada referência em termos de moradia, reintroduzindo novas lógicas
espaciais, com inovações destinadas a exercer influência sobre uma deman-
da de determinado poder aquisitivo, mediante a utilização de marketing e
slogans que valorizam a privacidade, a tranquilidade, a área verde etc. Esse
processo produz novas localizações, significados e conteúdos que, por sua
vez, criam a potencialidade de novas formas de uso. Assim, fazem surgir
novas necessidades e valores que passam a interferir na escolha de um
local para moradia. As novas localizações produzidas – Ecoville Dourados
Residence e Resort, Porto Madero Premium Residence & Resort, Terras
de Alphaville etc. – potencializaram novos usos socioespaciais, os quais
redefinem os padrões anteriores de apropriação e uso.

5.3.2. Os caminhos da produção verticalizada27

Entre as novas formas de produção imobiliária em Dourados, vale con-


siderar também a produção verticalizada, processo que teve seu início na
década de 1970 e pode ser dividido, conforme Calixto (2000), em três etapas
marcadas pela atuação mais expressiva de três empresas incorporadoras.
Em sua primeira etapa, essa forma de manifestação da dinâmica imobiliária
foi desencadeada por agentes externos, com a construção, na área central,
do edifício Eldorado, em 1973.28 Em 1976 ocorreu, também na área central,
o lançamento do primeiro edifício comercial29 – de escritórios – promovi-
do por agentes locais: o Empreendimento Imobiliário Rigotti Ltda., que
assumiu o papel de incorporador, e a PROJECON – Projeto, Estrutura,
Construções, Indústria e Comércio Ltda., responsável pela construção.

27 As considerações sobre a produção verticalizada se baseiam em Calixto (2000).


28 A construção do Edifício Eldorado, em 1973, marcou o início do processo de verticalização
na cidade. “Esse empreendimento pioneiro foi o resultado de investimentos de uma empresa
de Campo Grande – a companhia Mato-Grossense de Habitação Ltda. Tratava-se de um
edifício residencial com cinquenta e seis apartamentos distribuídos em sete andares”. (Silva,
2000, p.151). O edifício Eldorado apresentou inúmeros problemas – falhas no projeto,
problemas hidráulicos, elétricos e nos elevadores, problemas de financiamento etc. – até ser
concluído (depois de oito anos) pela empresa Residência e Companhia de Crédito Imobiliá-
rio de São Paulo, após ser arrematado em leilão.
29 Referimo-nos ao lançamento do edifício Adelina Rigotti, com onze andares e 54 apartamentos.

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Após esses dois lançamentos, houve interrupção no processo, em razão,


sobretudo, de mudanças na legislação local. Em 1979, foi aprovada a Lei
n. 1.040,30 que, ao regulamentar o zoneamento do uso do solo urbano e o
sistema viário, conteve a tendência à verticalização. De acordo com essa lei,
a autorização para a construção de edifícios ficou restrita à zona central, à
zona de serviços I e à zona de média densidade I; além disso, a altura máxi-
ma admitida era de até seis pavimentos (Figura 13).31 Em decorrência das
restrições impostas pela legislação, no período de 1977 a 1984 não houve
lançamento de edifícios na cidade.
Contudo, a partir de 1985 uma segunda etapa desse processo foi reto-
mada, com a construção do edifício Dourados I, pela incorporadora Katu –
Comércio e Incorporação de Imóveis Ltda., de Presidente Prudente/SP. No
ano de 1986, a Katu lançou mais dois edifícios,32 passando a articular, jun-
tamente com as construtoras e as imobiliárias locais, tentativas de mudanças
na legislação urbanística com a justificativa de que a Lei n. 1.040, além de ser
um entrave ao “crescimento” e “desenvolvimento”, ou mesmo ao “progres-
so” e à “modernização” da cidade, não contribuía para a geração de novos
postos de trabalho. Dessa mobilização resultou a elevação da altura máxima
para doze pavimentos, por meio da Lei n. 1.376, de 13 de junho de 1986.

30 Essa lei resultou do trabalho da equipe do arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ou seja, das
propostas do Plano de Complementação Urbana (1978).
31 Partindo de um breve resgate, podemos dizer que a primeira experiência de planejamento
no município ocorreu no final dos anos 1970, com a contratação do urbanista Jaime Lerner
para elaborar um Plano Diretor que, no entanto, não foi respeitado pelos setores privados –
especialmente os ligados ao mercado imobiliário. Isso provocou uma extensão do períme-
tro urbano de tal maneira que “em 1996 mais de 46% do total da área loteada da cidade
encontrava-se vazia”, representando aproximadamente 24 mil lotes (Calixto, 2000, p.232).
Em 2003, foi elaborado o Plano Diretor de Dourados, estruturado de forma a atender as
exigências estabelecidas na Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade, havendo promoção de
audiências públicas e debates com participação da população e de associações representati-
vas dos vários segmentos da comunidade, realizadas entre maio e novembro de 2003. Ainda
nesse mesmo ano, o Plano foi aprovado sem emendas, como Lei Complementar n. 72, de 30
de dezembro de 2003, estimulando a revisão de outros instrumentos legais do município, tais
como a Lei do Uso do Solo, Código de Posturas, Código Tributário e o Código de Obras.
Destaca-se, nesse processo, que apesar de serem apontados avanços em relação às práticas
adotadas na reprodução da cidade ao longo de sua história, esse Plano ainda não foi regula-
mentado integralmente.
32 A Katu lançou cinco edifícios na cidade, mas apenas o Dourado I foi concluído por ela.
Apesar de seus apartamentos já se encontrarem vendidos, a empresa deixou a cidade no ano
de 1988, ocasião em que o término das obras iniciadas foi assumido pela BRASTEC – Enge-
nharia Construtora Ltda. de Londrina/PR.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 151

Figura 13: Dourados/MS. LUOS – Lei de Uso e Ocupação do Solo. 2013.

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Depois de conseguir a mudança na legislação, os agentes imobiliários


passaram a sinalizar para a ampliação da área permitida para a construção, o
que resultou na Lei n. 1.628, de 1990, por meio da qual a zona de serviços II
foi liberada para a construção de edifícios. No ano de 1991, por intermédio
da Lei Complementar de 8 de maio – que dispôs sobre o zoneamento e o
sistema viário do município –, essa área foi novamente ampliada, abrangen-
do também a zona de média densidade II.
As mudanças decorrentes dessas articulações resultaram no lançamento
de nove novos edifícios no período de 1986 a 1992. Além das alterações na
legislação, o lançamento do Plano Cruzado (em 01/03/1986) foi o grande
estimulador desse processo. Os ganhos possibilitados pela correção mone-
tária, envolvendo aplicações financeiras em situação de elevada inflação,
caíram por terra, fazendo que os investidores passassem a buscar outras
formas de remuneração do seu capital, destacando-se os investimentos no
ramo imobiliário, favorecidos pela ausência de correção monetária e pelas
taxas de juros controladas (6% ao ano) impostas pelo Plano. Como decor-
rência dessa situação, dos nove edifícios construídos na cidade no período
de 1986 a 1992, 66,66% foram lançados em 1986, primeiro ano do Plano
Cruzado.
Esses determinantes marcaram, a partir de 1986, a terceira etapa do pro-
cesso de verticalização na cidade, reforçada com a chegada da Encol S/A
(Engenharia, Comércio e Indústria),33 em 1992. Inicialmente, a atuação da
empresa na cidade se deu por meio da Imobiliária Colmeia Imóveis, repre-
sentante autorizada na venda dos apartamentos da construtora. Respaldada
pela condição de maior empresa do ramo da construção civil do país, uti-
lizando largamente marketing e propaganda e oferecendo várias formas de
comercialização de seus apartamentos – troca por gado, soja etc. –, a Encol
não encontrou dificuldades para entrar no mercado de Dourados. Ao atuar
como incorporadora, administradora e construtora, procurava uma deman-
da menos atingida pelas repercussões do Plano Collor II e mesmo do Plano
Real.

33 Segundo os estudos de Cescon (2000), a Encol S/A entrou em decadência em 1996, atra-
sando a entrega de apartamentos, tendo que demitir funcionários, juntamente com uma
dívida de 600 milhões de reais. Com isso, “Em 18 de Dezembro de 1997 foi deferida concor-
data e no dia 16 de março de 1999 o juiz Avenir Passo de Oliveira, titular da vara de falências
e concordatas da comarca de Goiânia, decretou falência” (Cescon, 2000, p.56).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 153

Apesar de sua aparente solidez, a empresa finalizou apenas um dos


sete edifícios lançados – o Maison D’Or, lançado em 1993 –, lesando, com
a decretação de sua notória concordata, cerca de trezentos mutuários na
cidade. Depois de decretada a falência, as obras dos edifícios inacabados
foram assumidas por empresas de capital local34 e mesmo pelos próprios
condôminos, sendo que um dos edifícios ficou, durante muito tempo, com
as obras paralisadas por decisão de seus proprietários.
Assim, o processo de verticalização em Dourados foi marcado por pro-
blemas que culminaram com a (des)atuação da Encol. Apesar dos vários
problemas, no período de 1973, quando foi lançado o primeiro edifício, a
2000, foram lançados na cidade 23 edifícios com mais de quatro pavimen-
tos – dezenove residenciais, três comerciais/de serviços e um industrial.
Contudo, de forma contraditória, a verticalização em Dourados, a exem-
plo do que ocorre em outras cidades brasileiras, não vem ao encontro da sa-
tisfação da necessidade de morar ou mesmo da necessidade de racionalizar
o espaço urbano. A contradição é notada em uma de suas facetas, quando
tomamos como referencial o padrão socioeconômico dos moradores ou dos
investidores em apartamentos de edifícios com mais de quatro pavimen-
tos.35 No caso dos investidores, observamos que 45% são agropecuaristas,
40% são comerciantes e o restante é composto por outros profissionais.
Quanto aos moradores, a situação apresenta-se da seguinte forma: 45% da
clientela é de comerciantes, 30% são agropecuaristas, 15% são profissio-
nais liberais e 10%, funcionários públicos. Os dados denotam que tanto
os investidores quanto os moradores de apartamentos não pertencem a
categorias socioprofissionais que apresentam dificuldades em arcar com
os encargos de moradia. Outro aspecto da contradição pode ser apontado
quando consideramos que, de acordo com levantamento realizado pela pre-
feitura municipal,36 em 1996, mais de 46% do total da área loteada da cidade
encontrava-se vazia, ou não edificada.

34 Referimo-nos a Contato Empreendimentos Imobiliários, Construtora Prolaje e Construtora


Riwal Ltda.
35 Essa análise se baseia em levantamento de dados realizados por Cescon (2000), que, em seu
estudo, enfoca a questão da verticalização em Dourados.
36 Esse levantamento aponta que “o perímetro urbano conta com 161 loteamentos cadastra-
dos, totalizando 52 mil imóveis. Destes, 28 mil estão ocupados, perfazendo 53,84% do total
loteado. No entanto, 24 mil lotes ainda estão vazios, o que corresponde a 46, 16% do total”
(Prefeitura Municipal de Dourados, 1996, p.7).

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Após um período de estagnação na produção verticalizada – acima de


quatro pavimentos –, teve início em Dourados uma retomada do processo,
por intermédio de uma nova modalidade de construção, a de edifícios com
até quatro pavimentos. Essa fase conta com novos construtores/investido-
res, novo padrão de construção e novos moradores, definidos, estes, pelo
poder aquisitivo ou pela capacidade de pagar pelo imóvel, tanto adquirin-
do-o quanto alugando-o. Os empreendimentos, portanto, visam ao atendi-
mento de uma clientela diferente das atendidas nas três etapas anteriores e
constituída, na maioria, por estudantes universitários, conforme informa-
ção dos construtores.
Em termos de localização, esse tipo de construção concentra-se sobre-
tudo na porção noroeste da cidade, implicando um processo de redefinição
socioespacial que se estende às demais áreas da cidade e aponta para essa
forma de produção como um investimento seguro e rentável. É marcado
pela atuação de incorporadoras, administradoras e construtoras locais,
que se modernizaram, adequaram-se e se especializaram na construção de
prédios com menos pavimentos e custo menor em relação aos construídos
nas três etapas anteriores. Na produção desse tipo de edifício, destacam-se
a Empresa Solar Engenharia e Arquitetura e o arquiteto Valdemir da Costa
Jacomini.
A partir dessa realidade, podemos fazer alguns apontamentos. Primei-
ramente, observamos que as edificações de quatro pavimentos configuram
um redefinidor da porção noroeste da cidade de Dourados, pois, além de
promover a diferenciação socioespacial, definindo, como já foi dito em
outra ocasião, os “lugares dos pobres e os lugares dos nobres”, também
reforçam esse processo por intermédio da prática de duas formas de tran-
sação imobiliária: a locação e a venda. Tanto uma quanto a outra já têm seu
público, ou melhor, sua clientela definida. Nesse sentido, o comprador de
um imóvel dessa natureza, além do investimento, busca uma forma de au-
mentar sua renda, alugando-o, na maioria das vezes, para estudantes.
Os apartamentos destinados à venda visam, primeiramente, os pro-
fissionais liberais, funcionários públicos, comerciantes e demais traba-
lhadores que apresentem certa estabilidade financeira. Esses adquirentes
também acabam locando os apartamentos para estudantes. Vale destacar
que, segundo pesquisa realizada, aproximadamente 62,5% dos estudantes
universitários matriculados nas instituições de Dourados são oriundos de

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 155

outras localidades, estão dispostos a pagar pelo aluguel de um apartamento


e têm interesse na moradia de padrão vertical com até quatro pavimentos.
A construção de padrão vertical é indiscutivelmente uma forma rentável
de se auferir a renda da terra, até porque o terreno que continha apenas
uma construção ou imóvel, com a edificação vertical, desdobra-se propor-
cionalmente ao número de pavimentos e/ou apartamentos. Fica evidente,
conforme já mencionado, que o investimento na produção vertical é certa-
mente lucrativo. Na cidade de Dourados, a construção de edifícios com até
quatro pavimentos, de certa forma é monopólio de dois agentes produtores:
o arquiteto Valdemir da Costa Jacomini e a Solar Engenharia. Apenas para
citar um exemplo, o referido arquiteto pretendia entregar, durante o ano de
2006, dezesseis “miniprédios”, o que quer dizer 256 novos apartamentos
disponíveis no mercado imobiliário, na porção noroeste da cidade, naquele
período. A cada nova intervenção, reforça-se o processo de redefinição
socioespacial, não apenas dessa porção, mas da cidade como um todo.

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6
OS DESDOBRAMENTOS SOCIOESPACIAIS DA
PRODUÇÃO DO ESPAÇO EM UMA CIDADE MÉDIA
ENTRE OS PAPÉIS REGIONAIS E A DINÂMICA
GLOBALIZADA

As novas formas de produção em Dourados vêm ao encontro dos inte-


resses ou necessidades de reprodução do capital, redefinindo e reforçando
o papel desempenhado pelas porções norte e oeste da cidade como espaços
diferenciados socioespacialmente. Um dos aspectos que corroboram essa
afirmação é que o processo de produção verticalizada, com mais de quatro
pavimentos, teve lugar majoritariamente nessas porções da cidade, um
forte indicativo do interesse do setor imobiliário pela área, indicando o
investimento de capital na certeza do retorno lucrativo. Conforme ressalta
Sposito (1991), esse processo não ocorre em qualquer ponto da cidade;
ao contrário, realiza-se em áreas onde se torna possível a aferição de uma
renda de monopólio, assegurada pela não reprodutibilidade na condição
de produção.
A porção noroeste da cidade atrai ainda investimentos privados, não
apenas residenciais, mas também na área de prestação de serviços, bem
como em estabelecimentos comerciais. Apresenta-se de modo facetado,
podendo ser vista como via ou nó de comunicação, no nível da acessibilida-
de, com destaque para o lazer, o comércio e a prestação de serviços, sendo,
portanto, marcada por uma multifuncionalidade e vista como um ponto de
referência no interior da cidade. Caracterizada por uma forma específica
de produção habitacional, produz novos significados, localizações e conteú-
dos que, por sua vez, criam a potencialidade de novos usos sociais, refor-
çando seu papel de setor carregado de status social, ainda que diferenciado
socioespacialmente, influenciando as condições de produção, apropriação e

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uso da cidade como um todo e interferindo na alteração das localizações, uma


vez que estas têm importância decisiva no consumo de determinado espaço.
A expectativa/demanda que se criou em torno da porção noroeste da
cidade de Dourados originou uma nova configuração socioespacial na área,
que atende ao mercado residencial dos segmentos socioprofissionais de
poder aquisitivo mais elevado. É possível observar que os valores imobi-
liários se encontram, de modo geral, entre os mais elevados, definindo a
demanda que se dirige para a área.
Quando consideramos as informações dos Censos Demográficos de
2000 e 2010, agregadas por setores censitários, observamos que essa rea-
lidade se evidencia, permitindo perceber elementos que configuram um
processo de diferenciação socioespacial no interior da cidade. Se analisar-
mos, por exemplo, a distribuição espacial dos domicílios sem banheiro, é
possível concluir que, no ano 2000, 40% deles concentravam-se em setores
das áreas periféricas. Ainda que em 2010 esse percentual tenha diminuído,
os dados continuam mostrando que os setores de maior ocorrência de do-
micílios sem banheiro encontram-se próximos às áreas de ocupações con-
sideradas “irregulares” ou favelizadas, ou mesmo nos locais onde estão os
loteamentos sociais voltados para a população de menor poder aquisitivo.
Em contrapartida, nota-se a predominância de domicílios com quatro ou
mais banheiros especialmente na porção norte da cidade. Essa realidade
se reforça quando consideramos os dados referentes à rede de esgoto, que
serve também essa área, ainda que as maiores médias de habitantes por do-
micílio (densidade populacional) não estejam ali concentradas.
Outro dado importante é a concentração, na área periférica, dos chefes
de família de 10 a 19 anos, bem como dos que obtêm rendimentos de até
dois salários mínimos, ou dos considerados sem rendimento. Por outro
lado, os chefes de família que apresentam rendimento superior a vinte
salários mínimos estão localizados, significativamente, na área central e na
porção noroeste da cidade. Essa situação é reforçada quando consideramos
os analfabetos e os chefes de família com baixa escolaridade, que se concen-
tram nas áreas periféricas. Dessa forma, revela-se a espacialização de uma
realidade marcada pela diferença se revela, expressando um quadro em que
a inclusão/exclusão socioespacial torna-se evidente.
Embora o Plano Diretor do município considere a questão dos locais im-
próprios para moradia, estabelecendo Zonas Especiais de Interesse Social

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 159

(ZEIS),1 denominadas ZEIS 1, ZEIS 2 e ZEIS 3, pouco se tem avançado no


sentido de uma política consistente. A localização exata das áreas a serem
definidas como ZEIS é estabelecida nos anexos do Plano, sem descrever
tipologias habitacionais. O Plano prevê que a Lei do Uso e Ocupação do
Solo deverá estabelecer diretrizes urbanísticas especiais e diferenciadas
para cada ZEIS, conforme suas peculiaridades, porém não apresenta uma
proposta que direcione investimentos para setores sociais, tais como educa-
ção, saúde, cultura, saneamento, mobilidade e outros. Desse modo, o Plano
Diretor não aborda a questão com a profundidade necessária, pois não esta-
belece prioridades e prazos para o encaminhamento de possíveis soluções.
Todos esses aspectos contribuem para reconfigurar a espacialidade de
Dourados, num processo em que se destaca a atuação do poder público,
mediante a implementação da legislação urbanística, resultando na segre-
gação de áreas, na ampliação das desigualdades e no acirramento das con-
tradições socioespaciais.
Além da concentração de serviços médico-hospitalares, a presença de
imóveis de padrão mais elevado e das classes sociais de maior poder aqui-
sitivo nos loteamentos como Portal de Dourados, Vila Tonani, Novo Par-
que Alvorada, Santa Fé e Vila Progresso, nos denominados Jardins (Bará,
Girassol, Europa e Mônaco) e nos recentes loteamentos fechados conferem
às porções norte e oeste da cidade uma característica diferenciada socio-
espacialmente. Um aspecto importante a destacar é o fato de a Reserva
Indígena localizar-se a uma distância relativamente pequena em relação a
alguns desses loteamentos – Ecoville, Porto Madero, Mônaco e Europa –,
acirrando a situação de segregação e confinamento socioespacial vivenciada
pelos grupos indígenas.

1 Essas Zonas Especiais de Interesse Social são definidas conforme os artigos do Título V,
Capítulo V na Seção III:
“Art. 41 – As ZEIS 1 são áreas com loteamentos existentes, de caráter social, públicos ou
privados, regulares, irregulares ou em processo de aprovação e Vilas Ofícios, estando todos
com população já estabelecida.
Art. 42 – As ZEIS 2 são áreas com disfunções urbanísticas, necessitando da atuação/inter-
venção urbana por parte do Poder Público Municipal para a regularização dos lotes ou para
a remoção da população instalada em locais impróprios para a moradia e impor ao empreen-
dedor privado o respectivo ônus pela ocupação irregular.
Art. 43 – As ZEIS 3 são áreas urbanas vazias, de interesse para a implantação de loteamentos
sociais para a população de baixa renda” (Plano Diretor de Dourados).

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Apesar dos preços elevados que conferem, especificamente à porção


norte, uma ocupação diferenciada, a localização da reserva indígena impede
a expansão nessa direção. Assim, o novo vetor de “valorização” imobiliária,
potencializado com a ampliação do perímetro urbano,2 estende-se, atual-
mente, em direção à porção noroeste.
O loteamento denominado Parque Alvorada,3 nessa porção da cidade,
apresentou expressivo aumento dos preços de imóveis nos últimos anos,
e, ainda que não esteja próximo ao centro da cidade, detém características
peculiares, como a elevada concentração de professores das universidades
estadual e federal e o predomínio de construções residenciais de alto pa-
drão. Sua ocupação está consolidada e conta com equipamentos urbanos
como escola, praças, clube etc., além de estabelecimentos comerciais e de
serviços – padaria, mercados e academia, entre outros (Moreno, 2013).
Coloca-se, assim, como referência para os loteamentos lançados depois
dele, que se apropriam de um conjunto de valores e signos construídos,
evidenciando que não apenas os valores concretos, mas também os valo-
res simbólicos de determinada área são incorporados pelos mecanismos
e estratégias do setor imobiliário, promovendo uma forma específica de
diferenciação socioespacial.

2 Ainda que não tenha apresentado estudos ou critérios para embasar sua proposta, em 2011
o Executivo Municipal de Dourados apresentou, inicialmente, o Projeto de Lei que previa
ampliação de 320% da então área contida no perímetro urbano, que passaria de 82 quilôme-
tros quadrados para 260 quilômetros quadrados. Após discussões e mobilização da sociedade
organizada, foi revisto o aumento previsto inicialmente e a proposta de ampliação passou a
ser de cerca de 250% – duas vezes e meia o então perímetro de 82 quilômetros quadrados. A
proposta de ampliação buscava se fundamentar, contraditoriamente, nos seguintes pontos:
a) ausência de áreas com preços acessíveis para a construção de novos conjuntos habitacio-
nais, para a população de baixa renda, sobretudo do Programa Minha Casa, Minha Vida; b)
necessidade de ordenação da ocupação de áreas limítrofes a eixos como as BRs 163 e 463, a
MS 156, a Avenida Guaicurus e a Perimetral Norte, coibindo loteamentos irregulares; c)
necessidade de legalização de irregularidades, como as sitiocas, que estavam fora do então
perímetro.
3 “Esse bairro também se mostra expressivo como local de residência de discentes, técnicos
administrativos e docentes da UFGD, assim como para os discentes da UEMS e até mesmo
da UNIGRAN. É o mais representativo em relação aos docentes e técnicos administrativos
da UFGD. Já em relação aos discentes das instituições públicas, ocupa a terceira posição
entre os bairros que mais possuem alunos – fica atrás apenas do Jardim Água Boa e do
Centro. Nesse sentido, apesar da distância com o centro principal (cerca de 5 km), o bairro
Parque Alvorada concentra parcela representativa do público universitário das instituições
públicas de Dourados” (Moreno, 2013, p.230).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 161

Esse é o caso dos loteamentos Novo Parque Alvorada, lançado em 2010 –


que usou como estratégia de marketing o fato de localizar-se próximo ao
Parque Alvorada –, Santa Fé (2011)4 e Jardim dos Cristais (2012). Nesses
empreendimentos, fica evidente o caráter de investimento que a terra tem
assumido. Vale ressaltar que muitas residências mesmo antes do término
da edificação – geralmente construídas por empresas do ramo – já expõem
placas de oferta para venda, reforçando uma prática que tem se tornado
comum nessa porção da cidade.
Outro loteamento que, pelo processo de transformação por que vem
passando, segundo Moreno (2013), merece destaque, é o Jardim Altos do
Indaiá5 – separado do Parque Alvorada pela Avenida Guaicurus. Implanta-
do em 1982 como um loteamento popular, teve durante anos uma ocupação
considerada de baixo padrão, inclusive com a presença de autoconstrução.
Porém, sobretudo a partir da implantação do Hospital Universitário e de
um residencial de interesse social, o Estrela Indaiá, em que foram construí-
das 262 unidades sob as regras do Programa de Arrendamento Residencial
(PAR), em frente ao HU, a área passou por um processo de redefinição,
mudando significativamente sua configuração socioespacial à medida que
assumiu novos preços e usos.
Além da implantação da perimetral norte – que cruza a Avenida Guai-
curus e tem a função de retirar da cidade o transporte de cargas –, um dos
indicadores que influenciou fortemente o processo de comercialização na
área noroeste da cidade foi, conforme já mencionado, a recente ampliação
do perímetro urbano, ocorrida no ano de 2012, que promoveu, nessa dire-
ção, a incorporação da área militar, da cidade universitária e do aeroporto.
Assim, formou-se

4 “Nos loteamentos Santa Fé e Novo Parque Alvorada, com o início da construção das edi-
ficações, o que fica explícito é o caráter de investimento que a habitação tem tomado nessa
área. Essa constatação se dá por dois aspectos: o primeiro está relacionado à tipologia mul-
tifamiliar que tem se multiplicado nesses loteamentos. O outro aspecto está ligado ao con-
sórcio entre a construção e a comercialização dos imóveis, pois, mesmo quando se trata de
residência de tipologia unifamiliar, desde a construção das residências há placas de venda
dos imóveis, o que revela uma prática comum, e que tem proliferado na cidade, contrastando
com a justificativa de ampliação do perímetro urbano pela falta de área disponível e com
preço acessível para a construção de habitação” (Moreno, 2013, p.234).
5 Ver Bittencourt (2007).

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[...] uma grande área a noroeste que se intitula Zona de Ocupação Especial.
A Rodovia BR 463 (Dourados-Ponta Porã) e a Avenida Guaicurus são eixos
de alongamento do perímetro urbano, que teve sua área ampliada longitu-
dinalmente, principalmente no sentido da Cidade Universitária que passa a
ser, junto ao Aeroporto e à área militar, um ponto de expansão do perímetro
urbano. (Moreno, 2013, p.235)

A intensificação dos fluxos e da expansão tem feito que áreas tidas como
rurais antes da ampliação do perímetro passem por parcelamento. Esse é o
caso do loteamento fechado Terras de Alphaville (em área de 587 mil me-
tros quadrados – 595 lotes), que surge com a divulgação de um potencial
de valorização de 40% ao ano. Também tem se tornado comum os proprie-
tários venderem partes de suas terras, em geral adquiridas por grupos ou
individualmente, para a construção de segunda residência.
Tais dinâmicas de acesso diferenciado à cidade impulsionam processos
de natureza contraditória: a intensificação de conflitos e de contradições
sociais; a criação de novas espacialidades e centralidades; a ampliação das
distâncias no interior da cidade. Também vale reforçar que, embora conte
com expressivo número de projetos e programas habitacionais e, por exem-
plo, mais de duas mil unidades tenham sido construídas apenas entre 2001
e 2008, a cidade de Dourados, conforme já mencionado, possui várias áreas
de ocupação consideradas irregulares.6 A dificuldade de acesso à terra tem
reproduzido e agravado essa situação. Foi exatamente no contexto da ex-
pansão de um modelo agrícola baseado em um conteúdo de técnica e ciência
que se ampliaram as diferenças e desigualdades socioespaciais.
Em síntese, com a transformação de seus conteúdos e papéis, os centros
urbanos que, pelo fato de possuir porte médio, apresentavam condições
de receber as novas atividades, ou atender às exigências por elas impostas,
são impactados em função da necessidade de responder às expectativas
geradas por essa demanda. Por outro lado, esse conjunto de transformações
reforçou a condição de Dourados como principal centro urbano regional,
na porção sul do estado de Mato Grosso do Sul, particularmente por atrair
fluxos comerciais e de serviços, especialmente os ligados à saúde e à educa-

6 Ainda que algumas dessas áreas já tenham sido removidas, conforme já mostrado, no ano de
2014 foram levantadas 24 áreas consideradas de ocupação “irregular”.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 163

ção superior, constituindo-se também como centro de apoio às atividades


produtivas do campo.
Além de suas funções e atividades se desenvolverem a partir das exi-
gências locais e de sua área de influência mais próxima – assegurando sua
condição de centralidade na rede urbana regional –, a cidade também se
articula e responde a ações e determinações de escalas mais amplas, asso-
ciadas a circuitos produtivos globalizados de grandes empresas, nacionais
e multinacionais. Essa dinâmica se revela na produção destinada à expor-
tação, que conta com investimentos de tecnologia considerada avançada e
com a presença de empresas com atuação global, como Bunge, BRF e JBS
Foods. Outro dado que demonstra a articulação de Dourados com escalas
mais abrangentes é a existência de empresas e concessionárias representan-
tes do ramo de maquinário, tratores e implementos agrícolas, haja vista que
a maioria de suas sedes se localiza em outros países.
Assim, além de atender a uma demanda regional, Dourados se articula
com circuitos internacionais da produção. Funciona como centro de apoio
às atividades agroindustriais, contando com serviços especializados ligados
à venda de insumos e implementos agrícolas, maquinário, formação de mão
de obra e geração de conhecimento, entre outros itens.7 É nesse sentido que
se torna relevante o estudo sobre a cidade, buscando analisar os processos
que definem sua complexidade econômica e socioespacial, configurando-a
como uma cidade média que transita entre os papéis regionais e a dinâmica
globalizada.

7 Destaca-se também a presença da Embrapa Agropecuária Oeste.

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CHAPECÓ/SC:
O AGRONEGÓCIO, O SETOR TERCIÁRIO
EM EXPANSÃO E A CRESCENTE DESIGUALDADE
SOCIOESPACIAL1

Alexandre Maurício Matiello2


Ana Laura Vianna Villela3
Camila Fujita4
Cristina Otsuschi5
Rosa Salete Alba6
1 A elaboração deste trabalho só foi possível por intermédio de projetos de pesquisa realizados
por seus autores nos anos entre 2007 e 2014, bem como de diversos apoios à pesquisa, a
saber: CNPq 620008/2008-3; Edital 06/2011 – Casadinho/Procad; Chamada Pública para
Pesquisa Universal 03/2006 da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de
Santa Catarina (FAPESC); Artigo 170 da Constituição Estadual do Estado de Santa Catarina
(entre 2008 e 2013); Fundo de Apoio à Pesquisa (FAPE) da Unochapecó (2008 a 2011). Dele
participaram os seguintes colaboradores: Me. Janete Webler Cancelier; Me. Franciane Cris-
tine da Silva; Me. Cristiane Gretzler Henn; Me. Cleusa Teresinha Anschau; bem como os
seguintes bolsistas: Matheus José Rigon; Sinara Ceolin; Jamile De Bastiani; Júlia Debastiani;
Andressa Glanert; Cintia Schuh; Fernando Henrique Ribeiro; Josiane Damaceno; Mateus
Serpa; Maycon Zamboni; Tayjana da Silva; Natanaél Feijó; Luana Stanga Pelleguin; Josiane
Urman; Laiz Arruda; Dione Paula Ludwig; Taynara Regina Nespolo; João Pablo Santos e
Jessica Martinelli Dalpiaz. A todos os participantes dedicamos esta publicação.
2 Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
3 Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapeco).
4 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
5 Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).
6 Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapeco).

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SUMÁRIO

Introdução 175
1 A cidade e seu papel na região hoje 181
1.1. Elementos estruturadores da cidade 185
2 Formação sócio-histórica e estruturação urbana e regional 193
2.1. Formação territorial de Chapecó 193
2.2. Dinâmica econômica e os processos produtivos do oeste
catarinense 195
3 A cidade e o agronegócio 199
3.1. A relação das agroindústrias com os espaços rural e urbano 199
3.2. A difusão do agronegócio 210
4 A diversidade do comércio e a expansão
dos serviços especializados 217
5 A produção da cidade e as desigualdades socioespaciais 249
5.1. As décadas de 1930 e 1940: gênese da formação da cidade 251
5.2. As décadas de 1950 e 1960: a estruturação da cidade
pela agroindústria 257
5.3. As décadas de 1970 e 1980: a expansão da cidade e
da desigualdade socioespacial 267
5.4. A década de 1990 e o início do século XXI: a cidade desigual 276
6 Chapecó: o novo e o tradicional na reestruturação
urbana e regional 303
Referências bibliográficas 313

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INTRODUÇÃO

Chapecó é um município pertencente à Mesorregião Oeste Catarinense,


localizado a aproximadamente 588 quilômetros de distância de Florianó-
polis, capital do estado de Santa Catarina. Com população aproximada de
183.500 habitantes em 2010 (IBGE, 2010), é a maior cidade da região, sedia
a Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina (AMOSC) e exer-
ce influência regional sobre 118 municípios, distribuídos não só no Oeste e
meio oeste de Santa Catarina, mas também no Norte do Rio Grande do Sul
e no Sudoeste do Paraná, como mostra a Figura 1, abrigando uma popula-
ção estimada em 1,6 milhão de habitantes.
A população de Chapecó vem continuamente aumentando desde a
criação do município, em 1917. Muito embora os índices de crescimento
demográfico venham decrescendo nas últimas décadas, ainda assim perma-
necem acima da média estadual, que é de 2% ao ano, com mais de 90% de
sua população residindo na área urbana. A cidade é a sexta mais populosa
no estado, depois de Joinville, Florianópolis, Blumenau, São José e Criciú-
ma, nessa ordem.
A Tabela 1 demonstra a evolução populacional de Chapecó, entre 1940
e 2010, e a variação percentual entre a população urbana e rural nesse pe-
ríodo, com a inversão da população rural para o meio urbano ocorrida entre
as décadas de 1970 e 1980, seguindo a tendência nacional. Outro aspecto a
ser considerado é a extensão do perímetro urbano sobre as áreas rurais do
município, o que também impacta na diminuição da população rural em
diversos intervalos. Uma discussão mais detalhada sobre esse assunto será
feita no Capítulo 5.

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Figura 1: Chapecó. Situação geográfica. 2015.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 177

Tabela 1: Chapecó. Evolução da população e a variação percentual entre a população urbana e


rural do período. 1940 a 2010.
Ano Urbana Var. % Rural Var. % Total
1940 4.128 9,31% 40.199 90,69% 44.327
1950 9.736 10,08% 86.868 89,92% 96.604
1960 10.939 21,00% 41.150 79,00% 52.089
1970 20.275 41,08% 29.590 59,00% 49.865
1980 55.269 66,00% 28.499 34,00% 83.765
1991 96.751 79,00% 26.299 21,00% 123.050
1996 113.988 87,00% 17.026 13,00% 131.014
1997 118.548 87,50% 16.823 12,50% 135.371
1998 123.060 88,00% 16.818 12,00% 139.878
1999 127.821 88,44% 16.715 11,56% 144.536
2000 134.592 91,57% 12.375 8,43% 146.967
2006 160.855 93,00% 12.107 7,00% 172.962
2010 168.131 91,61% 15.402 8,39% 183.533
Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2010). Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Organizado pelos autores.

De modo geral, observa-se que os papéis de intermediação que a cidade


exerce na rede urbana estão intimamente atrelados à região, entre vertica-
lidades e horizontalidades (Santos; Souza; Silveira, 1994) que remetem à
relação dialética entre o urbano e o rural. Na perspectiva das horizontalida-
des, configura-se como polo do setor terciário na região. Até pouco tempo
atrás, esse setor era dominado por capitais locais; porém, tem ocorrido,
muito recentemente, a entrada de capitais nacionais e internacionais na
rede de comércio e serviços, mais especificamente com a instalação de lojas
e supermercados, bem como uma possível tendência no incremento dos
serviços de saúde e educação.
No caso das verticalidades, Chapecó insere-se na dinâmica do agro-
negócio, dando suporte à atividade agroindustrial voltada ao mercado in-
ternacional, calcada na produção de alimentos, mais especificamente na
suinocultura, na avicultura e, ultimamente, na bovinocultura de leite. As
cidades do agronegócio, segundo Elias (2006, p.120), são aquelas “cujas
funções de atendimento às demandas do agronegócio globalizado são he-
gemônicas sobre as demais funções” que a cidade exerce, tendo em vista o
processo de reprodução do capital. Nesse sentido, quanto mais dinâmico
e globalizado for o agronegócio, maiores e mais complexas tornam-se as
relações entre espaços agrícolas e urbanos (Elias, 2007).

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178 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Todavia, o desenvolvimento e a consolidação desse papel vêm acompa-


nhados da incapacidade das políticas urbanas em atender as necessidades
da população de baixa renda, muito embora existam investimentos públi-
cos de vulto considerável em projetos urbanos e de infraestrutura, os quais
funcionam como marketing para atrair novos capitais. O atendimento da
demanda por habitação e da estrutura a ela relacionada fica condicionado
ao interesse privado, que sofre pouca regulação por parte das próprias insti-
tuições públicas que o fomentam, tendo como consequência o agravamento
da desigualdade socioespacial.
Como a produção científica que trata de Chapecó e região sob o viés ur-
bano e regional ainda está em consolidação, sobretudo devido aos recentes
programas de pós-graduação stricto sensu na cidade, tendo predominado até
então monografias de conclusão de curso e poucas dissertações e teses com
abordagens provenientes das áreas das Ciências Sociais e da História – mui-
tas das quais são mencionadas neste trabalho –, reconhece-se que de modo
algum o debate se esgota aqui, existindo ainda um vasto campo de pesquisa
a ser explorado.
O estudo apresentado estrutura-se em sete partes. Uma delas é esta in-
trodução, que se destina a situar o leitor com referência tanto à organização
do texto quanto ao fornecimento de um conhecimento mais objetivo acerca
da cidade e da região, a partir de sua influência regional hoje, bem como dos
principais elementos que a estruturam, os quais também auxiliarão na com-
preensão e na localização de diversas discussões que serão desenvolvidas ao
longo do texto. A fim de também contextualizar a origem dos diversos pro-
cessos urbanos e regionais que caracterizam a cidade e a região, a formação
sócio-histórica de ambas é abordada no Capítulo 1, com foco na dinâmica
econômica e nos processos produtivos do Oeste Catarinense. No segundo
capítulo, são aprofundadas questões referentes ao papel de Chapecó em
face da manutenção da atividade agroindustrial e à difusão do agronegócio,
a partir da interconexão do rural com o urbano. No terceiro, os aspectos que
marcaram originalmente a oferta diversificada de comércio e de serviços
em Chapecó são abordados, a fim de se entender as transformações pelas
quais os setores passam atualmente, reestruturando, em parte, a cidade.
No quarto capítulo, os processos referentes à (re)produção da cidade e das
desigualdades socioespaciais são discutidos, a partir de periodizações que
enfocaram o entendimento da expansão da malha urbana e os fatores que a

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 179

influenciaram, bem como de um olhar sobre as políticas urbanas, por meio


da avaliação de seus planos diretores. E, por fim, no quinto, uma síntese
acerca da caracterização da cidade é apresentada, segundo as funções que
tem exercido, juntamente com a ponderação sobre possíveis cenários ten-
denciais futuros.
A lógica que permeou a estruturação deste estudo buscou, primeira-
mente, apresentar discussões que situam e contextualizam a compreensão
da influência do agronegócio na vinculação entre urbano e rural e nas dinâ-
micas produtivas; na sequência, o intuito foi caracterizar o setor terciário,
para então aprofundarmos o entendimento sobre o processo de constituição
da cidade, bem como seus desafios e contradições, para, enfim, fechar a
argumentação com a caracterização da cidade e a discussão de seus papéis.

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1
A CIDADE E SEU PAPEL NA REGIÃO HOJE

A inserção de Chapecó na região está relacionada à conformação do ter-


ritório e da rede urbana catarinense, e seu papel, associado à intermediação
de fluxos de consumidores, produtos e serviços nessa rede. As caracterís-
ticas do relevo e da influência sociocultural na estruturação fundiária, as
formas de macro e microrregionalização com fins administrativos, bem
como as condições produtivas e de infraestrutura existentes contribuíram
para a formação, em Santa Catarina, de uma rede urbana composta por ci-
dades de pequeno e médio porte (Siebert, 2001), de caráter multipolarizado
(Anjos, 2007), agrupadas em regiões que se organizam, entre esses e outros
fatores, sob a lógica de ramos dinamizadores da economia no estado. Ainda
que tenha sido uma característica presente no processo de estruturação da
cidade, o relativo isolamento de Chapecó e sua região de influência não é,
porém, uma condição exclusiva sua, estando presente também no contexto
de formação do próprio estado.
A evolução do papel de Chapecó nessa rede urbana1 pode ser apreendida
a partir dos estudos do IBGE (2008b) sobre as relações de rede, hierarquia
e região de influência que as cidades exercem umas sobre outras. Até o pre-
sente momento, foram realizadas quatro pesquisas do gênero (1966, 1978,
1993 e 2008). Apesar de não manterem exatamente a mesma categorização
e apresentarem limitações, esses diversos estudos mantêm certa coerência
entre si, o que possibilita a comparação de alguns dados e a avaliação da
evolução de Chapecó na rede urbana regional.

1 Algumas dessas reflexões já foram apresentadas em Fujita, Alba e Matiello (2009).

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182 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Embora faça parte do escopo deste estudo estabelecer relações de hierar-


quia entre as cidades, os autores do documento reconhecem a coexistência
de sistemas urbanos em redes tanto hierárquicas quanto não hierárquicas,
dependendo da variável analisada. Assim, as cidades não se estruturam so-
mente a partir do padrão de localidades centrais, mas também por ligações
horizontais que denotam relações de interação, especialização, complemen-
taridade e sobreposição. Outro elemento que influencia a dinâmica urbana
é a constituição do sistema reticular que situa algumas cidades como nós
nas redes globais (IBGE, 2008b). No caso de Chapecó, como visto antes,
sabe-se que a própria constituição da base econômica agroindustrial que
hoje predomina na região foi estruturada a partir de capitais locais e esta-
tais, que se adequaram aos requisitos e demandas não só nacionais, mas
sobretudo internacionais, associados à dinâmica econômica globalizada.
Com relação à hierarquia dos centros urbanos, no mais recente estudo
(IBGE, 2008b), as cidades foram classificadas em cinco grandes níveis que,
por sua vez, dividem-se em dois ou três subníveis, a saber:

1) Metrópole, que pode ser a) Grande Metrópole Nacional, b) Metró-


pole Nacional e c) Metrópole;
2) Capital Regional em nível A, B e C;
3) Centro Sub-regional, também em nível A, B e C;
4) Centro de Zona em categorias A e B;
5) Centro Local.

As capitais regionais, setenta ao todo, relacionam-se com o estrato supe-


rior da rede urbana e possuem capacidade de gestão imediatamente inferior
à das metrópoles, e área de influência de âmbito regional. Subdividem-se
em três níveis: o primeiro (A) corresponde às capitais estaduais não metro-
politanas, enquanto os dois outros (B e C) distinguem-se por porte e por
padrão de localização regionalizada.
Juntamente com Cascavel, Londrina, Maringá, Blumenau e Joinville,
Chapecó é considerada Capital Regional B e faz parte da rede urbana de
Curitiba. Porém, junto com Passo Fundo e Santa Maria, faz parte também
da rede de Porto Alegre. Dessa forma, situa-se nessas duas redes urbanas,
além da conexão com a rede urbana da capital estadual, Florianópolis (Ca-
pital Regional A), a qual também se conecta às redes de Curitiba e Porto
Alegre, porém num nível hierárquico menor, já que não é considerada
metrópole (IBGE, 2008b).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 183

Em comparação com as pesquisas precedentes, os autores constataram


que a rede urbana do país apresenta maior estabilidade no tocante aos níveis
hierárquicos mais altos, ao passo que as mudanças mais frequentes ocorre-
ram nos níveis de hierarquia intermediária e baixa, os quais foram influen-
ciados pelos processos de ocupação territorial no interior do país (IBGE,
2008b), a exemplo do que ocorreu com Chapecó e o Oeste Catarinense.
Essa conclusão vai ao encontro da constatação do crescimento das cidades
médias no fenômeno da urbanização brasileira recente.
Ao observar seu desempenho nos estudos de anos anteriores, constata-
-se que, em 1966, Chapecó figurava como Centro Regional B (sexta ca-
tegoria mais influente), assim como Joaçaba, que também aparecia como
centro de igual importância. É possível verificar, a partir da representação
das ligações com as cidades polarizadas por esses dois centros regionais, que
aquelas localizadas entre Chapecó e a fronteira oeste estavam influenciadas
por essa cidade, enquanto as localizadas no intervalo entre Chapecó e Joa-
çaba sofriam influência desta última (IBGE, 2008b). Como será apontado,
tal situação mudou entre as décadas de 1980 e 1990.
No estudo de 1978, Chapecó e Joaçaba figuravam como Capitais Regio-
nais (terceira categoria mais influente), com visível aumento de centros de
zona (quinta categoria mais influente) ligados a esses municípios (IBGE,
2008b), correspondendo ao crescimento populacional no interior do Brasil.
Na hierarquia da rede urbana brasileira, observada a partir da pesquisa
das redes de influência realizada pelo IBGE em 1993,2 Chapecó apareceu
na categoria forte (terceira mais influente), ao passo que Joaçaba diminuiu
seu poder de influência aparecendo como de forte para médio (quarta mais
influente). Desde então, Chapecó passou a despontar na região Oeste e
meio oeste, também pelo contraste resultante do enfraquecimento de ou-
tras cidades, causado pela reestruturação da agroindústria, pela exclusão
seletiva dos produtores rurais e pela migração campo-cidade ocorrida entre
os anos 1980 e 1990.
De modo abrangente, a metodologia empregada no estudo de 2008
discriminou dois grandes grupos de análise que orientaram a busca e a

2 Moura e Werneck (2001) realizaram um estudo comparativo para os estados da Região Sul,
a partir do qual foram analisadas questões acerca de Chapecó, aqui apresentadas. O estudo
da Região de Influência das Cidades (IBGE, 2008b) também menciona uma retrospectiva
acerca dos demais estudos anteriores a 2008.

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184 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

avaliação dos dados sobre as cidades: a gestão do território, avaliada pelo


conjunto da gestão federal e gestão empresarial, e os equipamentos e servi-
ços disponíveis.
Uma análise da posição de Chapecó em meio às diversas variáveis elen-
cadas no referido documento, com base em Fujita, Alba e Matiello (2009),
demonstra que sua região de influência, em 2007, abrangia uma população
total de 889.764 habitantes, distribuídos em 98 municípios. Na região de
abrangência do Oeste Catarinense, a cidade de Chapecó figura como centro
de maior influência e se articula com as seguintes cidades: São Miguel do
Oeste, Concórdia, Maravilha, Pinhalzinho e Xanxerê, sendo que as duas
primeiras possuem um caráter de maior centralidade em comparação às
três últimas.
Como mencionado anteriormente, a formação da rede urbana no Oeste
Catarinense resulta principalmente da reestruturação produtiva da agrope-
cuária, dos investimentos de capitais locais e estatais para o crescimento da
agroindústria, do processo de (des)concentração de unidades de produção e
suas cadeias correlatas, bem como da inserção dessas atividades produtivas
nas dinâmicas econômicas internacionais, incorporando padrões de produ-
ção e consumo globalizados.
Em consequência disso, os movimentos populacionais regionais carac-
terizaram-se pelo êxodo rural e pelo crescimento de Chapecó e de algumas
cidades mais influentes, citadas acima, mesmo que em menor intensidade.
Um aspecto bastante importante desse fenômeno diz respeito ao desen-
volvimento, à diversificação e à complexificação do setor terciário nessa
rede urbana, constatados nas análises que apontaram o considerável grau
de centralidade das atividades de comércio, sob o aspecto da diversidade –
figurando como centro de primeira grandeza –, quando associado à pres-
tação de serviço – terceiro de cinco categorias –, como será abordado mais
adiante no Capítulo 4. Esse setor orienta-se, possivelmente, tanto pelas de-
mandas de uma população com relativo poder aquisitivo e que se encontra
distante de centros urbanos maiores, quanto pelas redes especializadas de
comércio e de serviços associadas à atividade agroindustrial.
Por outro lado, entre os aspectos menos influentes que caracterizaram
Chapecó e região, figura a gestão associada ao território. No quesito de ges-
tão federal, Chapecó aparece como quinta categoria mais influente, entre
um total de oito, dividindo com Joaçaba o mesmo poder de influência, em

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 185

uma região que abrange todo o Oeste Catarinense e as áreas de fronteira


estadual, o Sudoeste do Paraná e o Noroeste do Rio Grande do Sul. Já no
aspecto de gestão empresarial, o nível hierárquico de influência sobe um
pouco, para quarto lugar de um total de oito, sendo a única cidade a figurar
nessa categoria desde o meio oeste do estado. Essas duas categorias juntas
determinam o aspecto da gestão territorial, segundo o estudo do IBGE
(2008b), que, no caso de Chapecó, apontam para um nível pouco efetivo de
influência.
Todavia, há que se considerar o fato de a cidade ser a mais influente
em toda a região Oeste do estado, abarcando também porções fronteiriças
dos outros dois estados do sul do país. O mesmo pode ser avaliado para as
categorias: a) financeira (localização de agências bancárias e intermediação
financeira), sendo a quinta de oito categorias; b) educação, em nível de
graduação (quinta de seis categorias) e pós-graduação (sexta de seis catego-
rias). As avaliações que serão apresentadas no decorrer deste texto buscarão
melhor caracterizar e contextualizar essas atividades em Chapecó e, no que
se refere à educação, como a carência de oferta tem recentemente movimen-
tado ações da iniciativa tanto pública quanto privada.

1.1. Elementos estruturadores da cidade

A fim de subsidiar a compreensão do leitor no tocante aos conteúdos


que serão abordados nos capítulos a seguir, neste item apresenta-se uma
breve introdução sobre a cidade a partir dos seus elementos estruturadores
mais significativos. No Capítulo 4, serão tratados em maior profundidade
os processos de expansão do tecido urbano e do acirramento da desigualda-
de socioespacial, interpretados à luz dos principais eventos e fatores que os
influenciaram.
Uma avaliação comparativa entre os dados dos Censos Demográficos do
IBGE (2010) dos anos 2000 e 2010 demonstra que houve, nessa década, um
crescimento populacional de 24,90%. Dos 183.533 habitantes, em 2010,
quase a totalidade vive em área urbana, perfazendo uma taxa de urbaniza-
ção de 91,61%.
Essa população se distribui em 31 bairros (Chapecó, 2012), os quais
foram se consolidando a partir da área central e dos principais eixos viários

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que promovem o acesso à cidade, orientados segundo os sentidos norte-sul


e leste-oeste, como pode ser observado na Figura 2. O eixo norte-sul é de-
finido pela rodovia SC 468/SC 480, enquanto a rodovia SC 283 compõe o
eixo leste-oeste. O encontro dessas rodovias constitui um relevante entron-
camento de conexão com o Rio Grande do Sul, bem como com a fronteira e
o litoral catarinense.
A partir dos referidos eixos, pode-se estabelecer uma subdivisão do
conjunto da cidade em duas grandes porções, perceptíveis na Figura 2: uma
área agregada pela região central, composta pela maior parte dos bairros
e ordenada a partir do eixo norte-sul e do centro; outra concentração, na
porção oeste, formada pelo bairro mais populoso da cidade, o Efapi,3 que
é acessado pelo eixo viário da Avenida Senador Atílio Fontana, que se co-
necta à rodovia SC 283. Segundo dados disponibilizados pela Prefeitura de
Chapecó (2012), o bairro Efapi ocupa 12,18% da área urbana e abrigava,
em 2010, 26.543 habitantes, a maior população por bairro na cidade, pra-
ticamente o dobro da população do centro, que, com 13.060 habitantes, é o
segundo bairro mais populoso (Chapecó, 2012).
Essas áreas são fisicamente separadas por alguns fatores de limitação
hidrográfica e de relevo. Há, a noroeste, a área da bacia de captação para
abastecimento de água, conhecida como Lajeado São José, e, a sudoeste,
uma região de relevo acidentado, como observado na Figura 2. Todavia, a
construção de contornos viários tem promovido a conexão do setor oeste ao
eixo norte-sul, bem como a indução de urbanização nessas áreas. A noroes-
te também há o contorno, Av. Leopoldo Sander, construído na década de
1970, que faz a ligação norte-oeste e passa pela área da bacia hidrográfica.
Concluído em 2014, o contorno viário interno oeste faz a ligação oeste-sul,
em área de difícil ocupação. Como se pode constatar, as principais agroin-
dústrias e algumas universidades instaladas na cidade localizam-se ao longo
dessas vias estruturadoras, a partir das quais também é possível explicar a
distribuição geral do uso do solo, visto que esses eixos viários aglutinam em
geral os usos não residenciais.

3 A denominação faz alusão à Exposição Feira Agropecuária e Industrial (EFAPI), evento que
ocorre no Parque Tancredo Neves, localizado no bairro.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 187

Figura 2: Chapecó. Hierarquia viária, principais acessos e polos geradores. 2015.

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188 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

A chegada ao município pelo trevo norte, situado no entroncamento da


BR 282 com a SC 468/SC 480, é feita pelo Acesso Plínio Arlindo de Nes,
que faz a conexão desse trevo com o perímetro urbano de Chapecó, atuando
como um dos mais importantes meios para entrada e saída da cidade. Des-
tacam-se as recentes obras de duplicação e a construção de alguns elevados
nesse trecho, visando à melhoria da mobilidade e à segurança dos veículos
que lá trafegam diariamente, visto ser uma via de intenso fluxo, tanto de
cargas quanto de passageiros. Abriga uma concentração de empresas e
indústrias que foram se instalando em toda a sua extensão, ao longo dos
anos, principalmente devido à sua localização estratégica, visto que sua
ligação com a BR 282 e a SC 468/SC480 facilita o escoamento da produção,
bem como a entrada de insumos, produtos, serviços e consumidores. Por
esse mesmo motivo, na conexão desse eixo norte com as principais avenidas
centrais da cidade foi construído o primeiro shopping center de Chapecó e
região, o qual será abordado nos Capítulos 4 e 5.
Dentre os diferentes ramos de atividades existentes ao longo do Acesso
Plínio Arlindo de Nes, destacam-se as empresas distribuidoras de produ-
tos como alimentos, bebidas, autopeças, móveis e eletrodomésticos. Além
dessas, encontram-se também concessionárias de veículos leves e pesados,
lojas de assistência técnica para o setor automotivo, bem como empresas
que atuam no setor de logística e de transporte de cargas em geral. Em-
preendimentos dessa natureza são encontrados igualmente no contorno da
Av. Leopoldo Sander, já citado.
A partir dos investimentos de novas indústrias que optam por se implan-
tar nas proximidades desse eixo viário, observa-se também a conformação
de bairros mais afastados do centro da cidade, como o Belvedere, o Vila Rica
e o Trevo, três assentamentos habitacionais dispostos ao longo do Acesso
Plínio Arlindo de Nes. A precária qualidade de infraestrutura e de moradia
neles existente, a longa distância em relação ao centro da cidade, com as
consequentes dificuldades de mobilidade para seus moradores, e a recente
duplicação da via geram conflitos entre o uso residencial e empresarial/
industrial, muito embora a taxa de renda por domicílio no bairro Trevo –
primeira área a norte – não seja baixa, como visto na Figura 3.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 189

Figura 3: Chapecó. Rendimento médio mensal das pessoas responsáveis pelo domicílio por
bairro. 2010.

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190 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Outro fator de conflito é a localização de diversas atividades urbanas


na área da bacia de captação, como dito anteriormente, a qual está gra-
vada, desde o Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial de Chapecó
(Chapecó, 2004), como Macroárea da Bacia de Captação de Água Potável
(MBCAP), o que implica ter sua integridade ambiental assegurada, bem
como seu potencial hídrico preservado. Isso, porém, não vem acontecendo
devido não só ao tipo de urbanização em curso, mas também a alterações
na legislação, tornando-a mais permissiva à ocupação, como a lei comple-
mentar que autorizou a revisão do Plano Diretor no ano de 2007 (Chapecó,
2007) e o Plano de Gerenciamento da Bacia, de 2010 (Chapecó, 2010c).
A área central, por sua vez, estruturada pelas avenidas também em
sentido norte-sul, concentra as atividades do setor terciário no município e
apresenta crescente verticalização. A continuação desse eixo, o acesso sul,
realizado por meio da SC 468/SC 480, destina-se à ocupação de caráter
industrial, mas exibe uma concentração ainda baixa, tanto de indústrias
como de empresas. Atualmente, vem se expandindo territorialmente por
meio de duas áreas localizadas em sua proximidade: o Distrito Industrial
Quedas do Palmital e o Distrito Industrial Flávio Baldissera. A localização
do aeroporto e a implantação do contorno viário interno oeste, já mencio-
nado, constituem elementos indutores de urbanização.
Os acessos no sentido leste-oeste, realizados a partir da SC 283, pos-
suem caráter um tanto diferenciado dos citados anteriormente. No sentido
oeste, a rodovia compreende a Av. Senador Atílio Fontana, que constitui
via estruturadora do bairro Efapi, com características de um subcentro
de Chapecó, onde predomina o caráter terciário, com usos associados ao
comércio e a serviços, como redes bancárias, lojas de vestuário, móveis e
eletrodomésticos, materiais de construção, produtos alimentícios, alguma
prestação de serviços públicos e informática, entre outros.
Outro aspecto relevante é a localização das principais agroindústrias
instaladas na cidade, como a Sadia e a Aurora, dispostas ao longo desse
trecho na porção oeste. Como será observado no Capítulo 5, a constituição
dos bairros lindeiros às agroindústrias está diretamente ligada à implanta-
ção das empresas na cidade, pois eles têm recebido, ao longo do tempo, o
contingente de operários que trabalham na indústria.
No sentido leste, as ruas Uruguai e Euclides Prade dão continuidade à
SC 283 e também têm papel de via estruturadora; no entanto, a consolida-
ção de usos ligados ao setor terciário é menor nesse trecho.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 191

A partir desses eixos estruturadores, os bairros são distribuídos e


possuem característica predominantemente monofuncional residencial
unifamiliar e multifamiliar, não existindo verticalização muito evidente –
fenômeno que vem, todavia, gradativamente surgindo em algumas vias de
caráter estrutural, onde são previstos maiores gabaritos e diversificação
de usos.
Observa-se na Figura 3 que os bairros mais elitizados, com maior rendi-
mento mensal por responsável pelo domicílio, são o centro, o Maria Goretti
e o Presidente Médici a leste e, a oeste, o Jardim Itália. Esses dois últimos
receberam aporte de investimentos infraestruturais advindos do governo
federal, por meio do Programa Comunidade Urbana para Recuperação
Acelerada (CURA), nos anos de 1970, e continuam recebendo equipamen-
tos e investimentos urbanos de considerável vulto, como o Centro de Even-
tos Municipal e a Arena Condá, estádio municipal no qual a Associação
Chapecoense de Futebol realiza suas competições e atividades.
Os bairros que apresentam maior carência infraestrutural e que abrigam
a população mais carente, com menor rendimento mensal por responsável
pelo domicílio, estão localizados nas bordas do tecido urbano, em áreas com
algum tipo de restrição ambiental ou naquelas historicamente destinadas
às populações removidas de áreas precárias, irregulares ou clandestinas,
como é o caso do bairro São Pedro. Percebe-se, assim, a persistência de um
padrão de precarização dos locais de moradia, geometricamente oposto ao
da área central e dos principais eixos viários de acesso à cidade. Todos esses
aspectos serão mais bem detalhados no Capítulo 5.

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2
FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA E ESTRUTURAÇÃO
URBANA E REGIONAL

2.1. Formação territorial de Chapecó

Compreender a ocupação territorial de Chapecó e do Oeste Catarinense


requer o conhecimento do processo que pautou a delimitação de suas fron-
teiras e sua forma de ocupação. Desde o século XIX, o território que abrange
o oeste de Santa Catarina foi palco de frequentes disputas, como a aconteci-
da entre a Argentina e o Brasil. Ambas as nações reivindicavam a posse da
região. Esse conflito se encerrou em 1895, quando o então presidente dos
Estados Unidos, Grover Cleveland, mediador indicado para solucionar o
impasse, legitimou as terras como propriedade do Brasil. Porém, isso não
pôs fim aos problemas de posse, pois a região continuou contestada entre
os estados do Paraná e Santa Catarina, episódio que ficou conhecido como
a questão do Contestado. Tanto paranaenses quanto catarinenses objetiva-
vam sua ampliação territorial e econômica. Segundo Bellani (1989, p.14),
uma série de ações jurídicas e recursos políticos foi utilizada, por ambas as
partes, a fim de garantir a posse da área em litígio que, até 1916, pertencia
ao estado do Paraná. Ao fim dessas disputas, todavia, Santa Catarina con-
quistou o direito ao território.
Naquele momento, habitavam a região indígenas da etnia kaingang e ca-
boclos1 remanescentes do conflito do Contestado, entre outros grupos que
aqui se fixaram e praticavam uma cultura de subsistência, em meio às vastas

1 Caboclo era a denominação pejorativa dada pelos descendentes de origem europeia aos luso-
-brasileiros, os quais, por sua vez, autodenominavam-se “brasileiros” (Renk, 2000).

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194 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

matas de araucária que predominavam na paisagem.2 A infraestrutura urba-


na era incipiente e a terra era simplesmente ocupada pelos habitantes à me-
dida que se instalavam em agrupamentos de casebres, de modo rudimentar
(Fortes, 1990). Um fator relevante no processo de ocupação territorial e
desenvolvimento urbano da região foi a implementação da estrada de ferro
que ligava Itararé/SP a Santa Maria/RS, com 1.403 quilômetros de exten-
são, inaugurada em 17 de dezembro de 1910 (Peluso, 1982).
A partir da posse da terra, o estado de Santa Catarina precisou adotar
medidas efetivas para a ocupação desse território. Para tanto, foram criados
quatro municípios, entre eles o de Chapecó, utilizando-se da colonização de
cunho empresarial. A Lei no 1.147, de 25 de agosto de 1917, criou o Muni-
cípio de Chapecó, com uma área de aproximadamente 14 mil quilômetros
quadrados, delimitada pelo Rio Uruguai, ao sul, e pelo Rio Peperi-Guaçu,
a oeste (Bellani, 2006).
Porém, novas disputas surgiram a partir de então, relacionadas à defi-
nição da sede municipal, que foi transferida diversas vezes para diferentes
localidades da região, uma vez que a posse da sede implicava maior auto-
nomia para a conformação do núcleo urbano. A questão só foi resolvida
em 1931, quando ocorreu a fixação definitiva da sede em Passo dos Índios,
onde justamente se encontrava a sede da Empresa Bertaso, Maia e Cia., a
colonizadora dessa localidade, que no ano de 1922 já havia se transferido
de Passo Fundo/RS para Passo dos Índios, atual área urbana de Chapecó
(Bellani, 2006). Esses empresários gaúchos adquiriram as terras dos herdei-
ros da Baronesa de Limeira e, ao se instalarem na região, intensificaram as
estratégias de ocupação por meio do incentivo à migração de descendentes
de europeus das colônias gaúchas,3 a partir da década de 1920 (Renk, 1997).
Tal forma de colonização consolidou progressivamente a ocupação do
Oeste Catarinense, marcada por inúmeros percalços que isolaram a região

2 Em se tratando da ocupação étnica do território regional, Poli (1995, p.72) caracteriza três
grupos até o período da colonização, a saber: a) os indígenas, até meados do século XIX; b) os
caboclos, que os sucederam e se miscigenaram; c) os descendentes de origem alemã, italiana
e polonesa, advindos do Rio Grande do Sul.
3 Segundo pesquisa de Campos (1987, p.72), a Colonizadora Bertaso atraiu mais de 8 mil
famílias do Rio Grande do Sul para o Oeste de Santa Catarina, sendo que “as terras eram
vendidas aos colonos com uma entrada de 30% e o restante dividido em duas parcelas semes-
trais”.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 195

do resto do estado, tais como a precariedade das redes viárias e das estradas
de acesso, bem como a escassez de estabelecimentos comerciais, submeten-
do os colonos de origem europeia “a um modo de produção de subsistência
sem conexão aos mercados” (Dmitruk, 2001, p.21). O isolamento de re-
giões produtivas, como será visto adiante, constitui também uma caracte-
rística do processo de desenvolvimento do estado de Santa Catarina como
um todo, ainda que tenha sido mais marcante no caso da região Oeste.
Mesmo assim, gradativamente, outro perfil socioeconômico começou a se
delinear, com a substituição de um processo produtivo vinculado à cultura
de subsistência por outro, pautado na cultura da produção de excedentes.

2.2. Dinâmica econômica e os processos produtivos do


oeste catarinense

O processo de formação territorial e econômica do Oeste Catarinense


e, consequentemente, de Chapecó, ocorreu na primeira metade do século
XVIII e teve considerável influência do cenário econômico nacional, du-
rante o Brasil Colônia, especialmente no que concerne à exploração do
ouro4 e à ocupação das fronteiras nacionais. A mineração estimulou outras
atividades do Sul do Brasil, em particular a pecuária, responsável pelo
fornecimento de mulas para o transporte e de gado para a alimentação,
atividade que integrou definitivamente a Região Sul ao cenário econômico
brasileiro. O gado foi fundamental para o surgimento de povoados e a ocu-
pação dos Campos de Palmas, por onde se estendia o “Caminho das Tro-
pas”, que integrava o Sul ao Sudeste brasileiro, e ao longo do qual surgiam
pequenas vilas nos locais de parada dos tropeiros. O território onde hoje se
situa Chapecó era um desses pontos de passagem do gado. Concomitante-
mente, a ocupação do espaço territorial ocorreu com a expulsão dos indíge-
nas de suas terras, obtida por meio de perseguições e pela divisão interna e
intraclasse fazendeira (Renk, 1997).

4 A descoberta de jazidas de ouro no centro-sul do país, em meados do século XVIII, chamou


a atenção da coroa portuguesa, passando o ouro a ser o centro econômico da colônia. As
atividades anteriores (açúcar) entraram em decadência, gerando um intenso deslocamento
populacional do Nordeste para o centro-sul.

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196 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Outra atividade econômica que contribuiu para o crescimento econô-


mico do Oeste Catarinense e sua inserção regional e internacional foi a
exploração dos ervais, sendo a erva-mate comercializada, sobretudo com
a Argentina, através da fronteira em Dionísio Cerqueira, com o estado do
Rio Grande do Sul e com o Leste, por meio da estrada de ferro São Paulo-
-Rio Grande do Sul, em Cruzeiro (atual Joaçaba) (Renk, 1997).
A economia da erva-mate avançou e ganhou um impulso com as formas
rudimentares de beneficiamento (monjolos e pilões) e com a abertura de es-
tradas. Dessa forma, com o aumento da industrialização da erva-mate, cres-
ceu a demanda pela matéria-prima de baixo custo, normalmente adquirida
de contrabandistas,5 os quais eram atraídos para o Oeste Catarinense não só
devido à fartura da erva-mate nativa que podia ser extraída sem controle, mas
também por ser uma área de difícil controle aduaneiro (Bavaresco, 2005).
Em função da sazonalidade, do intervalo de tempo entre as podas e dos des-
locamentos, pelas matas, das pessoas que a extraíam, a extração da erva-mate
se relacionava com uma atividade nômade, de forma que o extrativismo
esteve intimamente ligado ao modo de vida do caboclo6 (Bavaresco, 2005).
O processo de ocupação da região oeste pelas companhias colonizado-
ras do Rio Grande do Sul, no início do século XX, está ligado também à
economia madeireira. Esse período foi impulsionado pelos interesses tanto
do governo brasileiro, visando garantir a posse das terras, quanto das colo-
nizadoras, que buscavam ganhos econômicos. Assim, o governo do estado
adotou medidas para a ocupação da região, favorecendo a concessão de
terras a empresas que tinham prestígio junto ao governo. As companhias
colonizadoras foram responsáveis pela ocupação do Oeste Catarinense e
pela extração de madeiras nobres das matas (araucária, louro, cedro e angi-
co, entre outros).

5 O contrabando, na sua grande maioria, era praticado por argentinos, servindo de explicação
satisfatória para as intrigas criadas entre brasileiros e argentinos no Oeste Catarinense. Ver
mais detalhes em Bavaresco (2005) e Ferrari (2010).
6 O caboclo adotava a prática de dividir as terras de plantar e as terras de criar sob sua posse.
As terras de plantar ficavam mais distantes da casa e eram preparadas com a derrubada da
mata e a queima, para depois ser feito o plantio de milho, feijão, mandioca, batata e arroz.
As terras de criar ficavam próximas da casa, onde se criavam animais como galinhas, porcos,
bovinos e cavalos, sempre destinados para consumo e utilização própria. Essa população
formava uma classe espoliada, trabalhando apenas para o seu sustento. Ver mais detalhes em
Renk (1997).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 197

As árvores eram derrubadas e transformadas em toras, que eram arras-


tadas até o rio Uruguai e embarcadas em enormes balsas7 construídas no
local, as quais desciam o rio em período de enchente até a Argentina e o
Uruguai, onde a madeira era comercializada. Dessa maneira, as primeiras
serrarias de beneficiamento madeireiro foram instaladas. Após a retirada
das árvores é que as terras eram vendidas às famílias de colonos vindos do
Rio Grande do Sul, o que representou um aumento significativo de popu-
lação na região. Enquanto a madeira era exportada para a Argentina em
embarcações que traziam de volta mantimentos e ferramentas necessários
para a vida nas colônias, como sal, querosene, tecidos e ferragens, as ativi-
dades agrícola e pecuária também se intensificavam, sendo que o excedente
era destinado à exportação para o estado vizinho, o Rio Grande do Sul. Essa
comercialização constituía fonte de renda fundamental para a sobrevivên-
cia das famílias de colonos, já que tinham ainda que pagar pelas suas terras
(Bavaresco, 2005).
Observa-se que no Oeste Catarinense, e não diferente do restante do
país, a atividade agroexportadora, no caso, da erva-mate e da madeira, bem
como o comércio de excedentes agrícolas em escala nacional, constituíram
a base para a formação do capital regional, presente até os dias de hoje por
meio das agroindústrias.
A produção agrícola praticada no Oeste Catarinense nas primeiras déca-
das do século XX se desenvolvia sob um sistema primitivo.8 Porém, com a
chegada dos migrantes, as propriedades passaram por mudanças. As famí-
lias distantes dos centros de comercialização foram obrigadas a transformar
o que produziam para sua subsistência em produtos mais bem elaborados
e com maior durabilidade, o que fomentou a economia agroindustrial na
região, cuja importância, em nível nacional e internacional, permanece nos
dias atuais.
A diversidade produtiva das colônias foi fundamental para a economia
do Oeste Catarinense. Por outro lado, a distância dos centros consumidores
e a dificuldade do transporte de grãos produzidos na região serviram de

7 As balsas usadas para o transporte da madeira eram conduzidas por homens denominados
balseiros.
8 Aconteciam a derrubada da mata, a queima e o plantio, a chamada lavoura itinerante, que
muda em função do cultivo ou da periodicidade da lavoura.

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base para o sucesso do sistema agroalimentar, visto que a produção passou a


ser utilizada como alimento para a criação de pequenos animais, como gali-
nhas e porcos, nas propriedades. Segundo Bavaresco (2005), talvez aí esteja
a explicação para o crescimento da produção suína daquela época. Assim,
a interlocução entre o produtor e o mercado consumidor era realizada pelo
comerciante ou “vendista”, que comprava toda a produção excedente da
colônia e, ao mesmo tempo, vendia de tudo o que as colônias necessitavam
em seu estabelecimento comercial.
A vida econômica das colônias, portanto, girava em torno da casa co-
mercial, de cujo proprietário o agricultor de certa forma dependia, pois era
ele quem sabia o preço dos produtos, recebia as notícias de fora e detinha
mais informações (Bavaresco, 2005), exercendo a função de consultor, de
correio e, muitas vezes, de banco. Assim, pode-se começar a compreender
as relações de interdependência entre o rural e o urbano, bem como o sur-
gimento do sistema de integração das agroindústrias do Oeste Catarinense,
questões que serão abordadas mais detidamente a seguir.

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3
A CIDADE E O AGRONEGÓCIO1

3.1. A relação das agroindústrias com os espaços rural e


urbano

Em continuação ao que foi exposto anteriormente, cabe citar Alba


(2013), que relembra a importância das pequenas propriedades para a difu-
são do capitalismo no campo e a consolidação do agronegócio, com reflexos
evidentes na estruturação da cidade.
O Oeste Catarinense caracteriza-se pela pequena propriedade rural:
segundo o IBGE (2008a), em torno de 90% das propriedades rurais têm
área inferior a cinquenta hectares, distribuídas, em geral, sobre um relevo
acidentado e pedregoso.2 A partir dessas pequenas unidades de produção
privadas, baseadas em relações de parentesco e trabalho familiar, alguns
produtores de mercadorias atuavam na comercialização de excedentes para
o capital comercial e, mais tarde, para o capital agroindustrial, como men-
cionado no capítulo anterior. Assim, mais do que uma simples porção do
espaço rural, a pequena propriedade tornou-se um agente fundamental no
processo de acumulação de capital que deu origem aos primeiros frigorífi-
cos da região.
O capitalismo é um sistema que tem como uma de suas contradições a
relação dialética entre a necessidade de fragmentação e a possibilidade de
expansão, pois seu modo de produção precisa de segmentação e de indivi-

1 Este capítulo foi escrito com contribuições de Cleusa Teresinha Anschau.


2 Neste sentido, Anschau (2011) descreve como na região têm predominado propriedades
rurais com pouca área agricultável para culturas anuais (milho e soja).

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dualização para produzir e se reproduzir, ao mesmo tempo que articula o


que ele mesmo separa, em prol dos interesses de seus agentes. A formação
espacial em pequenas propriedades, destarte, foi importante para o capital
que se constituiu na região, pois, ainda segundo Alba (2013), já nasceu
fragmentada, o que facilitou aos frigoríficos potencializar a produção para a
constituição de seu capital agroindustrial.
O denominado modelo de integração3 foi a forma encontrada para a ma-
nutenção da fragmentação dos agricultores em suas unidades produtivas,
simultaneamente à sua “integração” a uma cadeia de produção necessária à
nova fase de desenvolvimento do capital. Sob esse modelo, padrões de pro-
dução puderam ser preestabelecidos pela empresa, com a vantagem de man-
ter o produtor sob o seu controle econômico e também ideológico, criando
uma relação de dependência. Uma característica marcante da agroindústria,
que a diferencia das demais empresas, é que nela é possível estabelecer um
acirrado controle sobre outro produtor privado, no caso o agricultor, pois é
ela quem dita as regras de acordo com a necessidade de obtenção de matéria-
-prima no ritmo e no tempo que a empresa determina (Alba, 2013).
Nota-se, portanto, que a gênese do capitalismo no oeste de Santa Ca-
tarina se iniciou com o comércio, atrelado a agentes locais. A produção da
banha de porco, realizada por pequenos frigoríficos da região, passou a ser
um dos principais itens desse comércio. Além de agregar valor ao suíno,
foi um dos primeiros produtos industrializados a impulsionar a atividade
industrial local, dos quais se originaram as grandes agroindústrias presen-
tes hoje em Chapecó e na região.
A cadeia produtiva de carnes e derivados é estruturada desde a jusante
até a montante do produto, ou seja, engloba todas as fases do processo:
desde o início, com os insumos, muitas vezes oriundos de outras regiões
do país ou mesmo importados, como grãos, medicamentos, fertilizantes,
máquinas e equipamentos; o uso de tecnologias de ponta e o melhoramento

3 A cadeia produtiva de suínos e aves do Oeste Catarinense tem sido fomentada pelo modelo
de integração no qual o produtor rural torna-se parte do processo produtivo. De um lado,
há a agroindústria que fornece assistência técnica e é responsável pela absorção da matéria-
-prima, cujas produção e manutenção, de outro lado, são garantidas pelo produtor rural, nos
padrões exigidos pela empresa. Segundo a Associação Catarinense de Criadores de Suínos
(ACCS, 2011), cerca de 82% da produção de carnes, matéria-prima com padrões fitossanitá-
rios internacionais, vêm do sistema integrado.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 201

genético na produção da matéria-prima; o emprego de mão de obra familiar


e/ou especializada; o aproveitamento de recursos naturais locais; até a
destinação do produto final, ou seja, atacadista, varejista, distribuidor e/ou
o consumidor final.
Por influência da globalização e das transformações macroeconômicas
que ocorreram no Brasil e no mundo no final do século XX e início do XXI,
houve grande concentração e centralização do capital nesse setor. Segundo
Giese (1991, p.35-36), dos 23 frigoríficos existentes em Santa Catarina no
início da década de 1970, restaram apenas sete grandes deles, na década
de 1980, incluindo as cooperativas.4 Um fato recente foi a incorporação da
Sadia pela Perdigão, formando a Brasil Foods S.A. (BRF).
Em Chapecó, estão instaladas três grandes agroindústrias: a BRF, a
Aurora e a Cooperativa Regional Alfa – esta atuando como filiada à Au-
rora. Entende-se que a presença das agroindústrias é fator fundamental no
processo de formação e crescimento econômico e urbano de Chapecó, uma
vez que permitiu a complexificação de outras atividades a elas ligadas di-
reta ou indiretamente, presentes hoje na cidade, das quais se apresenta, na
sequência, uma breve caracterização.
A Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral)5 foi fundada
em 15 de abril de 1969, reunindo oito cooperativas regionais,6 com o obje-
tivo de industrializar e comercializar a produção de suínos de seus associa-
dos. As atividades com os suínos começaram efetivamente a partir de 1975
e atualmente há investimentos no melhoramento genético, na produção de
núcleos vitamínicos e minerais, bem como de rações e concentrados. No
segmento de aves, as atividades tiveram início em 1986. Para essa produ-
ção, a Cooperativa dispensa, igualmente, cuidados com a matriz e o incu-
batório, desde a alimentação até o desenvolvimento genético (Alba, 2013).

4 Para exemplificar, na década de 1970, o Frigorífico Marafon foi adquirido pelo Frigorífico
Aurora, e a empresa Extrafino – Extração e Refinação de Óleos Vegetais S.A. foi comprada
pela Ceval, que, por sua vez, foi incorporada pela Bunge. Em 2005, ocorreu a falência do
Frigorífico Chapecó, cuja unidade instalada na cidade foi arrendada pela Aurora.
5 Informações obtidas no sítio eletrônico: <https://www.auroraalimentos.com.br>. Acesso
em: 12 out. 2011.
6 Foram elas: Cooperativa Mista Agropastorial Chapecó, Cooperativa de Laticínios de
Chapecó, Cooperativa Mista Xaxiense, Cooperativa Mista de Lajeado Grande de Xaxim,
Cooperativa Mista Regional Xanxerê, Sociedade Cooperativa Mista de Palmitos, Coopera-
tiva de São Carlos e Cooperativa Mista Modelense (Alba, 2002).

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202 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Considerando o período do início das atividades, sobretudo as ligadas ao


abate e à industrialização de suínos e aves, a Cooperativa tem demonstrado
um significativo crescimento, observado pela sua expansão em diversos
municípios, em especial no oeste de Santa Catarina, e também em outras
regiões do país, como é o caso do Mato Grosso do Sul.7
A empresa Sadia Concórdia S.A. teve sua origem em 1944, quando
Atílio Fontana reativou o Frigorífico Concórdia, em Concórdia/SC, jun-
tamente com o funcionamento do moinho de trigo, que, na época, tinha
capacidade para moagem de seis toneladas por dia. Após os trâmites legais,
o frigorífico passou a se chamar S.A. Indústria e Comércio Concórdia –
Sadia, formalmente constituída em 7 de junho de 1944 (Alba, 2013).
Os anos 1970 foram marcados pelo projeto da Sadia de entrada no ramo
da produção e industrialização de perus. Para essa atividade, em 12 de agos-
to de 1970 foi instituída a Sadia Avícola S.A., em Chapecó, e os primeiros
abates tiveram início em 1973, totalizando 550 mil perus/ano (Alba, 2013).
A partir de 2009, foi criada a Brasil Foods (BRF), atual razão social da
Perdigão,8 fruto da associação entre Perdigão e Sadia.9 A BRF fechou 2010
como a terceira maior empresa exportadora do país. Considerados os núme-
ros apurados no balanço do ano, calcula-se que a empresa participou com
pouco mais de 20% no saldo da balança comercial brasileira, somando apro-
ximadamente US$ 20,3 bilhões. Com faturamento líquido de R$ 23 bilhões,
registrado em 2010, a BRF é uma das maiores exportadoras mundiais de
aves e a maior empresa global de proteínas em valor de mercado. No Brasil,
está entre as principais empregadoras privadas, com 113 mil funcionários.10

7 Em 2010, a estrutura da Coopercentral era a seguinte: dez unidades industriais de suínos;


quatro fábricas de ração; onze granjas e incubatórios; duas indústrias de lácteos; onze filiais
de vendas distribuídas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Reúne quinze cooperativas
filiadas, que representam mais de 70 mil produtores e estão presentes em 332 municípios de
Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
8 Informações obtidas no sítio eletrônico: <https://www.perdigao.com.br>. Acesso em: 12
out. 2011.
9 A gestão conjunta da área financeira e a coordenação das atividades das duas empresas no
mercado externo já foram implantadas, bem como a política de comercialização de produtos in
natura. A integração das demais áreas começou a acontecer a partir da aprovação e decisão do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), da Secretaria de Direito Econômico
(SDE) e da Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), em 14 de julho de 2011.
Cada empresa terá sua administração independente, exceto nas funções citadas. Informações
obtidas no sítio eletrônico: <https://www.perdigao.com.br>. Acesso em: 12 out. 2011.
10 Para uma discussão mais aprofundada sobre a forma de constituição destes diversos grupos
e sua inserção não só no meio urbano, mas também rural, por meio do modelo de integração
ou parceria que envolve inclusive a propriedade familiar, ver Alba (2013).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 203

A Cooperativa Regional Alfa (COOPERALFA)11 foi fundada em 29


de outubro de 1967 e sua atividade central consiste principalmente na
comercialização e na armazenagem da produção agrícola dos associados,
como milho, soja, feijão e trigo. Atua igualmente na industrialização de
trigo e soja, bem como na fabricação de rações e na produção de semen-
tes certificadas de soja, feijão, trigo e coberturas de solo. Além disso, de-
senvolve parcerias com indústrias coirmãs do sistema cooperativo para o
beneficiamento de citros, suínos, aves e leite. Participa como fornecedora
de matéria-prima da Cooperativa Central Oeste Catarinense – Aurora na
industrialização de suínos e aves.
Segundo dados obtidos no site da cooperativa,12 a COOPERALFA
possui capacidade de armazenagem de grãos de aproximadamente 500 mil
toneladas, movimentando por ano perto de 15 milhões de sacas. Dentre
suas 15 mil famílias associadas, mais de 85% estão inseridas na agricultura
familiar, distribuídas em oitenta municípios catarinenses e em algumas
cidades no Paraná. A COOPERALFA industrializa produtos não só para
consumo humano, mas também animal.
Reconfigura-se a relação campo e cidade através de novos produtos
fornecidos por ambos os espaços. O campo já não atende apenas as neces-
sidades do comércio, mas também as da indústria; a cidade, por sua vez,
não fornece mais somente gêneros de primeira necessidade (alimentícios,
vestuário etc.), mas uma infinidade de produtos industrializados, como
equipamentos (utensílios para aviários e pocilgas, máquinas agrícolas),
insumos agrícolas (adubos, inseticidas, herbicidas, sementes melhoradas
etc.), insumos pecuários (rações, medicamentos etc.) e serviços, na forma
de assistência técnica e melhoramento genético.
Todavia, a competitividade do mercado globalizado tem levado a
agroindústria de carnes e derivados a aumentar sua escala produtiva para
reduzir custos, tendo como consequência a seleção de produtores e a de-
gradação ambiental. No tocante ao contexto da suinocultura comercial e
seus impactos socioambientais e urbano-regionais, um aspecto importante

11 Informações obtidas no sítio eletrônico: <https://www.cooperalfa.com.br>. Acesso em: 12


out. 2011.
12 Informações obtidas no sítio eletrônico: <https://www.cooperalfa.com.br>. Acesso em: 12
out. 2011.

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é o aumento de produção, com forte concentração de produtores desde a


década de 1980.13
Como mencionado no capítulo anterior, o alijamento desses produto-
res devido à reestruturação e à modernização da agroindústria, por meio
do modelo da integração, provocou a fragmentação do território (Elias,
2007), causada não só pelo êxodo rural e pelo grande aumento da população
urbana nas cidades de maior influência na região durante essas décadas,
mas também pelo aprofundamento da desigualdade social e pela exclusão
espacial, com a precarização das condições de vida e de moradia, tanto na
cidade quanto no campo.
A concentração de animais trouxe consigo também o aumento e a con-
centração de dejetos e, consequentemente, a degradação ambiental, princi-
palmente a poluição das águas superficiais da região, como será abordado
a seguir. Santa Catarina, em 2011, contava com um plantel de 420 mil ma-
trizes, com produção comercial de 6,2 milhões de cabeças de suínos, grande
parte concentrada no Oeste Catarinense, onde estão localizados os maiores
frigoríficos. Apesar da presença dessas empresas, a região ainda concentra
o maior número de pequenos e médios abatedouros com inspeção muni-
cipal, estadual ou federal, aproximadamente cem unidades produtivas, as
quais abatem em média 12 mil animais/dia, destinados ao consumo interno
(ACCS, 2011).
Além da seleção/exclusão de produtores, o avanço do processo pro-
dutivo trouxe consigo a concentração e o aumento de dejetos de suínos, o
que configura uma ameaça ambiental, considerando o plantel permanente
citado no parágrafo anterior. Estudos feitos pela Associação Brasileira de
Criadores de Suínos, em 1993, demonstram que cada animal produz, em
média, 3,14 metros cúbicos de esterco líquido ao ano, conhecido como
chorume, conforme Testa (1996, p.139). Quando esse dejeto é manejado
de forma inadequada, acarreta sérios problemas ambientais, com prejuízos
à saúde pública. Os custos sociais e ecológicos, que não são internalizados

13 Em 1980, a região contava com 67 mil suinocultores, número que foi reduzido a 20 mil em
1995 (Testa et al., 1996). Em 2010 (ACCS, 2011), eram 8 mil os suinocultores integrados
às agroindústrias da região, enquanto a produção de animais praticamente dobrou nesse
período. No início do século XXI, o estado catarinense tinha um plantel permanente em
torno de quatro milhões de cabeças de suínos que em 2010 passou de seis milhões, com a
maior concentração no Oeste Catarinense (ACCS, 2011).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 205

pela agroindústria ao longo do processo produtivo, permanecem como pas-


sivos de difícil resolução.
Atualmente, um dos maiores efeitos da suinocultura é a contaminação
das águas superficiais. Segundo Baldissera (2002), no Oeste Catarinense a
contaminação de poços superficiais e fontes por coliformes fecais em 1986
era de 84,4%. Já em 2001, esse percentual passou para 85,5%. Entre os danos
ambientais gerados pelo processo produtivo, além do mau cheiro em dias
quentes e chuvosos, há a proliferação de agentes patológicos, que resulta em
elevação dos custos de saúde pública e afeta a qualidade de vida da sociedade.
Entretanto, é interessante ressaltar que grande parte dos agricultores
que, excluídos pela seletividade da suinocultura, mantiveram-se no campo
tem encontrado na bovinocultura de leite sua principal atividade econômi-
ca. Em relação ao território do Oeste Catarinense,14 é possível afirmar que a
bovinocultura de leite vem se destacando, na última década, na medida em
que aproveita recursos que ainda estavam ociosos nas propriedades rurais,
aliando mão de obra familiar e alimentação animal à base de pasto.15
Segundo Testa et al. (2003), a importância econômica da bovinocultura
de leite para a agricultura familiar se deve à absorção da mão de obra fami-
liar, à capacidade de agregar valor ao produto e à possibilidade de aprovei-
tamento de terras “não nobres”, ou seja, áreas com relevo ondulado e solos
pedregosos. Assim, pelas características das propriedades rurais na região,
a produção de leite, que gera renda mensal, tem surgido como alternativa
para a sucessão das culturas anuais, mediante o estabelecimento de pasta-
gens perenes (Anschau, 2011), tornando-se uma atividade competitiva, em
função do baixo custo relativo de produção.
Conforme dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2008a), a
bovinocultura de leite vem ampliando seu volume de produção no Oeste
Catarinense nos últimos anos. No Quadro 1, pode-se observar que a região,
cuja participação na produção era inferior a 50% do total estadual, em 1975,

14 Neste caso, o território abordado é a mesorregião do Oeste Catarinense, que tem uma popu-
lação de 1,6 milhão de habitantes, com aproximadamente 37% da população rural de Santa
Catarina, distribuídos em 118 municípios, ocupando 26% de área do total territorial catari-
nense, dividida em cinco microrregiões: Chapecó, Concórdia, Joaçaba, São Miguel do Oeste
e Xanxerê (IBGE, 2000; Testa et al., 2003).
15 A suinocultura e a avicultura são feitas em galpões (confinamento) e têm no arraçoamento
(soja e milho) a base da alimentação animal; já a bovinocultura leiteira alia ao galpão a oferta
à base de pasto (grãos, selagem).

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atinge mais de 73% do total estadual, o que corresponde a 6,7% da produção


nacional, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006. Entre os anos de
1996 e 2006, o volume de leite produzido na região mais que dobrou, pas-
sando de 485,15 milhões para 1,049 bilhão de litros, ou seja, um aumento
de 116,3% em dez anos. Desse total, 83% vêm da pequena propriedade
rural. Paralelamente, o número de estabelecimentos agropecuários leiteiros
sofreu uma queda. Em 1996, eram 70.577 unidades, passando para 51.487
em 2006, ou seja, uma redução de 27% das propriedades produtoras em dez
anos (IBGE, 2008a).

Quadro 1: Território Oeste Catarinense. Produção de leite de vaca em milhões de litros. 1975 a
2009.
UF 1975 1980 1985 1990 1996 2006 2009
Brasil 8.513,78 11.596,28 12.846,43 * 17.931,25 20.157,68 29.112,02
Sul 1.871,90 2.682,39 2.804,40 * 4.110,54 5.666,18 *
SC 409,70 534,00 603,60 684,3 869,41 1.435,10 2.237,80
TOC 157,70 211,30 269,00 289,5 485,15 1.049,25 *
* Dados não disponíveis.
Fonte: Anschau (2011, p.34). Organizado por Cleusa Teresinha Anschau (2010).

Para Anschau (2011), a bovinocultura vem ocupando seu espaço, prin-


cipalmente nas pequenas propriedades rurais, e se consolidando como ati-
vidade econômica que tem avançado no Oeste Catarinense, com impactos
em sua reconfiguração. Porém, apesar do aumento experimentado, tam-
bém está passando por um processo de seletividade, marcado pela amplia-
ção de exigências16 aos produtores, não coincidentemente, tal como ocorreu
com a suinocultura e a avicultura. Tal fato, segundo a mesma autora, tem
gerado um redirecionamento da produção para outro perfil organizacional
e comercial, com vistas à geração de ganhos de escala por cooperação, le-
vando à formação e à organização das denominadas redes cooperativas que
atuam na bovinocultura de leite,17 das quais identificou três tipos:

16 A competitividade de mercado se dá em função de preço (custo de produção), escala de pro-


dução (volume), melhoramento genético, enquadramento na Instrução Normativa (IN 51),
qualidade e controle sanitário, equipamentos de resfriamento (tanques de expansão), manejo
do animal e gestão comercial da produção e da matéria-prima.
17 Para mais detalhes, ver: “Redes Cooperativas da Bovinocultura de Leite e o Desenvolvi-
mento Oeste Catarinense” (Anschau, 2011).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 207

Um perfil de rede cooperativa horizontal, a Rede Ascooper, fortemente


enraizada na pequena agricultura familiar, tendo como marcas a cooperação
de atores para gerar ganhos de escala e adaptação das pequenas propriedades a
tecnologias que respondam às exigências para a atividade e, ao mesmo tempo,
preservando sua condição camponesa. Um perfil de rede cooperativo interme-
diário, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a
rede Terra Viva, que articula estratégias competitivas e cooperativas voltadas
para a produção diversificada. E um perfil de rede cooperativa vertical, ligada
a uma grande cooperativa agroindustrial, rede Aurora, cuja produção é estan-
dardizada e voltada ao mercado global de commodities. (Anschau, 2011, p.37)

Dessa forma, a atividade leiteira tem contribuído para a reconfiguração


territorial regional, em função da quantidade de propriedades comercial-
mente envolvidas, do volume da produção de leite, que vem se ampliando
a cada ano, e do caráter das agroindústrias que se localizam na região para
processá-lo (Anschau, 2011). Todavia, já há indícios concretos de que está
em curso o mesmo processo de exclusão que tem caracterizado a suino-
cultura e a avicultura, o que, num futuro próximo, pode gerar obstáculos
à expansão da atividade, bem como inúmeros impactos sociais que terão
reflexo no território, seja no campo ou na cidade, com reconfiguração da
estrutura urbana e regional.
Em face das análises aqui apresentadas e considerando a conjuntura
econômica atual, bem como o cenário socioeconômico e político dos países
importadores de carnes e derivados, é possível ponderar acerca de possíveis
entraves à manutenção do setor agroalimentar no Oeste Catarinense. Ex-
tremamente dependentes do mercado externo, as cadeias produtivas asso-
ciadas aos suínos, às aves e ao leite ficam à mercê da economia global e das
flutuações cambiais. Assim, podem-se apontar alguns fatores limitantes no
que se refere à sua sustentabilidade.
Devido ao uso intensivo, contínuo e concentrado da terra e dos recursos
naturais, inúmeros impactos ambientais são produzidos, entre os quais
citam-se: a limitação do solo, contaminado e exaurido; a falta de áreas cul-
tiváveis para o aumento constante da demanda por grãos, o insumo básico
para a alimentação de suínos, aves e, em menor escala, do gado de leite; a
poluição dos recursos hídricos e a escassez de água destinada ao consumo
da população e à produção industrial.

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208 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Um fator relevante diz respeito ao processo de geração e incorporação de


inovações tecnológicas, pois ainda há uma grande dependência de insumos
tecnológicos exógenos à região, tais como os chamados pacotes tecnológicos
da suinocultura e da avicultura, principalmente no que concerne a ques-
tões genéticas, farmacológicas e de grãos. O agricultor familiar, que não
consegue arcar com os custos dessas mudanças tecnológicas e muito menos
inovar com equipamentos e maquinários a fim de atender às exigências do
sistema de regras impostas pelas agroindústrias de mercado, acaba por ser
excluído da cadeia ou, na melhor das hipóteses, torna-se refém das empre-
sas, tal como tem acontecido com a avicultura e a suinocultura.
Outro aspecto refere-se às condições de trabalho e à contratação de
trabalhadores, pois há escassez de mão de obra, seja ela qualificada ou não,
tanto para o meio rural quanto para a própria agroindústria. As empresas
têm buscado cada vez mais longe os trabalhadores para atender suas ne-
cessidades, uma vez que as atividades nelas executadas são extenuantes,
repetitivas e desenvolvidas em condições de trabalho severas, tal como a
permanência em câmaras refrigeradas a baixas temperaturas, o que provoca
lesões permanentes e até invalidez, em poucos anos de serviço.
Mesmo na agricultura familiar, característica na região, impera o risco
de esvaziamento, pois não há sucessores que mantenham as atividades ru-
rais, uma vez que a força jovem acaba buscando seu sustento em atividades
consideradas menos sacrificantes, ou privilegiam o acesso à educação e à
profissionalização, que em geral está fora da propriedade rural.
Assim, no tocante à intrínseca e dialética relação entre o rural e o urbano,
dizer que se presencia a construção de uma sociedade urbana não significa
que o urbano se sobreponha ao rural a ponto de desintegrá-lo completa-
mente. O que há, na verdade, é a construção de novas características nesses
dois espaços. Territórios são construídos e abrangem tanto espaços rurais
quanto urbanos. Como afirma Carlos (2004, p.9),

A cidade e campo se diferenciam pelo conteúdo das relações sociais neles


contidas e estas, hoje, ganham conteúdo em sua articulação com a construção
da sociedade urbana, não transformando o campo em cidade, mas articulando-
-o ao urbano de um “outro modo”, redefinindo o conteúdo da contradição
cidade/campo, bem como aquilo que lhes une.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 209

O campo, no dizer de Santos (1993), não é hostil ou um obstáculo às


inovações; pelo contrário, é flexível e consegue se adaptar facilmente às
novas imposições. O campo torna-se o receptor “que acolhe o capital novo
e o difunde rapidamente, com tudo o que isto acarreta, isto é, novas formas
tecnológicas, novas formas organizacionais, novas formas ocupacionais,
rapidamente instaladas” (Santos, 1993, p.40).
O processo ao qual se refere Santos (1993), no caso de Chapecó e região,
foi impulsionado pelas empresas descritas anteriormente, que, embora com
raízes regionais, conseguiram se inserir no processo produtivo do capital
globalizado. Ele não mudou apenas o espaço agrícola, mas sobretudo as
cidades, as quais, como o próprio autor diz, mudaram de conteúdo.

Antes, eram as cidades dos notáveis, hoje se transformam em cidades eco-


nômicas [...]. Esses lugares representam estoques de meios de consumo, esto-
ques de sementes e implementos, estoques de capital de giro, estoques de mão
de obra nos mais diversos níveis, centros de transportes e de comunicação,
polos de difusão de mensagens e ordens. (Santos, 1993, p.50)

A atuação dos grupos empresariais em escala regional deixa evidente a


relação entre eles, por meio da lógica do atual desenvolvimento do capitalis-
mo globalizado, verificado no mercado cada vez mais comandado pela eco-
nomia mundial e pela tendência crescente de concentração e centralização
desses grupos, representada pela constante incorporação de uma empresa
a outra, fazendo que os lugares se adaptem. Assim, como afirmam Santos,
Souza e Silveira (1994), à medida que os processos de valorização do capital
se internacionalizam, as transformações dessas cidades ficam cada vez mais
atreladas a decisões tomadas em outras localidades, em geral distantes.
Nessa perspectiva, Chapecó não pode ser analisada isoladamente, pois
está também ligada a processos decisórios inseridos no modo capitalista de
produção. Com a expansão do sistema, não só as empresas são forçadas a
se adaptar às leis que o regem, mas os lugares também, sob pena de serem
excluídos do processo (Alba, 2013).
Essa mudança do conteúdo urbano, que atinge tanto as cidades quanto
os espaços agrícolas do Oeste Catarinense, fez que cidades que exerciam
papéis locais, entre elas Chapecó, se equipassem com indústria e comércio
capazes de atender a essa demanda, formando uma rede composta por dife-
rentes setores, de modo que um impulsionasse o outro.

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210 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

3.2. A difusão do agronegócio

A respeito do papel de Chapecó como cidade do agronegócio, a relação


entre o rural e o urbano e seus reflexos na dinâmica territorial podem tam-
bém ser apreendidos a partir das informações apresentadas a seguir, con-
cernentes às empresas mais significativas do município, nos últimos anos.
Com base no documento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), Santa Catarina em Números (2010), apre-
sentam-se a seguir (Quadro 2) as empresas exportadoras do município,
classificadas segundo o volume de suas exportações, até US$ 10 milhões.

Quadro 2: Chapecó. Empresas exportadoras, segundo as faixas de valores exportados (US$


FOB), até US$ 10 milhões. 2008.
Faixa exportada Número Empresas
(US$ FOB*) de
empresas
Até US$ 1 milhão 25 – APC do Brasil Ltda.
– Apti Alimentos Ltda.
– Armv – Representações Comerciais Ltda.
– Atividades Montagens Industriais Ltda.**
– Bioter Proteção Ambiental Ltda.
– Bumerangue Brasil Industrial Ltda.
– Chapecó Indústria e Comércio de Fibras Ltda.
– Clean Tec Serviços de Limpeza Ltda.
– CNA – Comércio e Indústria de Produtos Automotivos Ltda.
– Coriarte Tintas Ltda. ME
– Cristalflex Indústria de Espumas e Colchões Ltda.
– Edege Equipamentos Agropecuários Ltda.**
– Frigo Industrial Ltda.**
– Globoaves São Paulo Agroavícola Ltda.**
– High Tech Equipamentos Industriais Ltda.**
– Laboratórios Pfizer Ltda.**
– Nord Equipamentos Industriais AS**
– Nutract Agroindustrial Ltda.**
– Pri ME Comercial Importadora e Exportadora Ltda.
– RM Indústria e Comércio Ltda.**
– Sganderla Comercial Importadora Ltda. – EPP
– Tronic Indústria de Materiais Esportivos Ltda.
– Usitécnica Industrial Ltda.
– Vetanco do Brasil Importação e Exportação Ltda.
– Viclau – Comercial, Importadora e Exportadora Ltda. – ME
Entre US$ 1 e 2 – Rotoline Equipamentos Industriais Ltda.**
10 milhões – Semil – Equipamentos Industriais Ltda.**
* FreeOnBoard (FOB) refere-se às taxas de pagamento de frete no transporte marítimo de mercadorias, de
acordo com as normas definidas para trocas comerciais internacionais.
** Empresas ligadas ao setor agroindustrial.
Fonte: Santa Catarina em Números (2010, p.36-37). Organizada por Rosa Salete Alba.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 211

Observa-se que se existe, por um lado, um aumento e uma diversifica-


ção de atividades em Chapecó, por outro, aquelas ligadas à rede das agroin-
dústrias ainda são muito fortes. No Quadro 3 apresentam-se (por ordem de
tamanho) as empresas destaques do “Troféu Desbravador”,18 que em 2010
contemplou as grandes empresas, as de pequeno porte e as microempresas
nas áreas da indústria e do comércio. Os dados mostram que 40% das que
exportam estão ligadas ao setor da agroindústria: indústrias de máquinas
e equipamentos para frigoríficos, suinocultura, avicultura e bovinocultura
de leite ou laboratórios de medicamentos para esses setores. Evidencia-
-se, dessa forma, a importância do setor para a dinâmica econômica local
e regional.

Quadro 3: Chapecó. Empresas de Indústria e Comércio contempladas pelo Troféu Desbravador.


2010.
Grande Empresa 1. Sadia S/A*
Industrial 2. Cooperativa Central Oeste Catarinense Ltda.*
3. Cooperativa Regional Alfa*
4. Vonpar Refrescos S/A
5. Apti Alimentos Ltda.
6. Nutron Alimentos Ltda.*
7. Nijú Indústria e Comércio de Implementos Rodoviários Ltda.*
8. Açotec Engenharia Indústria e Comércio S/A
9. Canguru S/A Indústria e Comércio de Produtos Plásticos*
10. High Tech Equipamentos Industriais Ltda.*
11. Frigo Industrial Ltda.*
12. Lacticínios Tirol Ltda.*
13. Semil Equipamentos Industriais Ltda.*
14. Rotoline Equipamentos Industriais Ltda.*
15. Bugio Agropecuária Ltda.*
Continua

18 O Troféu Desbravador tem como objetivo destacar as empresas (industriais, comerciais,


estatais e prestadoras de serviços) e produtores rurais do município com maior incidência
de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Toma como
base o valor adicionado, apurado na Declaração de Informações do ICMS e Movimento
Econômico (DIME), e na Declaração Anual do Simples Nacional (DASN). As fontes para
a classificação das empresas prestadoras de serviços na área de incidência do Imposto Sobre
Serviço (ISS) e os produtores agropecuários são, respectivamente, a Secretaria Municipal
da Fazenda e Administração e a Secretaria Municipal da Agricultura de Chapecó. Disponí-
vel em: <http://ponto-chapeco.blogspot.com/2009/08/entregue-o-trofeu-desbravador-
-empresas.html>. Acesso em: 21 out. 2010.

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212 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 3: Continuação
Empresa de 1. Genética Indústria de Produtos Biológicos Ltda.*
Pequeno Porte – 2. Plásticos Condá Ltda.
Indústria 3. Osni Carlos Verona
4. Bolis Indústria e Comércio de Móveis Ltda.
5. Rissi Esquadrias e Vidraçaria Ltda.
6. Biccaplast Indústria de Plásticos Ltda.*
7. Fábrica e Comércio de Móveis Catarinense Ltda.
8. Verona Móveis Ltda.
9. Maclaw Industrial Ltda.
10. Prótons Baterias Indústria e Comércio Ltda.
11. Frimac Máquinas Industriais Ltda.*
12. Izaias Pires Vieira
13. Molteky Indústria e Comércio Ltda.
14. Esquadrias Catarinense Ltda.
15. Tormafril Tornearia e Máquinas Frigoríficas Ltda.*
Grande Empresa 1. Distribuidora de Bebidas ACB Ltda.
Comercial 2. Souza Cruz S/A
3. Tozzo& Cia Ltda.
4. Comercial Celeiro Ltda.
5. Cooperativa Regional Alfa*
6. Laboratório Bio-Vet S/A*
7. Pepsico do Brasil Ltda.
8. Melitta do Brasil Indústria e Comércio Ltda.
9. Brasão Supermercados S/A
10. Gerdau Comercial de Aços S.A.
11. L. F. Caminhões Ltda.*
12. Arthur Lundgren Tecidos S/A Casas Pernambucanas
13. Vetanco do Brasil Importação e Exportação Ltda.
14. Safra Diesel Ltda.
15. Tortuga Companhia Zootécnica Agrária*
Empresa de 1. Artesil Produtos Naturais Ltda.
Pequeno Porte – 2. Tcr Calçados
Comércio 3. Livraria e Bazar News Ltda.
4. Aparas Chapecó Ltda.
5. Distribuidora de Materiais Elétricos J Daluz Ltda.
6. Lojas Catarinense Artigos do Vestuário Ltda.
7. Supermercado Royal Ltda.
8. Acessocar Comércio e Renovadora de Veículos Ltda.
9. Confecções Nazari Ltda.
10. Bordin Máquinas Ltda.
11. São Cristóvão Materiais de Construção Ltda.
12. BSV Comércio de Confecções Ltda.
13. Piana Magazine Ltda.
14. Dorval Cansian & Irmãos Ltda.
15. Art & Top Ltda.
* Empresas agroindustriais ou a elas ligadas.
Fonte: <http://ponto-chapeco.blogspot.com/2009/08/entregue-o-trofeu-desbravador-empresas.html>.
Organizado por Rosa Salete Alba (2011).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 213

É importante observar que das quinze grandes empresas industriais


contempladas, doze (assinaladas com asterisco) são as próprias agroindús-
trias ou aquelas que com elas mantêm relação, reforçando que boa parte da
economia de Chapecó ainda tem uma grande ligação com o setor agroin-
dustrial. Em referência ainda a essa categoria, destaca-se que: a) as três
primeiras empresas são as agroindústrias locais, enquanto oito das demais
empresas estão diretamente relacionadas com essas agroindústrias, e as de
número 7, 10, 11, 13 e 14 atuam na área de equipamentos para indústrias,
aviários e pocilgas; b) a empresa número 9 atua na linha de embalagens;
c) as empresas número 6 e 15 atuam no fornecimento de medicamentos
e outros insumos para a agricultura. Além disso, é interessante destacar
a Lacticínios Tirol, outra empresa ligada à agropecuária, voltada para a
industrialização do leite.
Da mesma forma, vale registrar que das quinze maiores empresas co-
merciais, cinco atuam no fornecimento de produtos para a agropecuária,
sendo que o Laboratório Biovet, a Vetanco e a Tortuga são empresas de
grande porte, com atuação em escala nacional e internacional, que têm suas
filiais instaladas em Chapecó, reforçando o mencionado anteriormente
sobre a presença do setor agroindustrial nessa cidade, do que resulta o
desenvolvimento de outros ramos da indústria e do comércio.
Outro elemento que reafirma a importância do setor agropecuário para
o município e a região é a realização de feiras voltadas para esse setor. Uma
delas é a Exposição Feira Agropecuária e Industrial (EFAPI), que acontece
de dois em dois anos e tem caráter diversificado, dando espaço também
para outras atividades de comércio e serviços. O calendário do município
de Chapecó inclui ainda a Feira Internacional de Logística, Transpor-
te e Comércio Exterior (LOGISTIQUE), além de uma série de outros
eventos ligados à cadeia agropecuária, como a Mercoagro, a Mercoláctea
e a Mercomóveis, ligada ao setor moveleiro. Vale ressaltar que as empresas
participantes, sejam elas do ramo da indústria ou do comércio, possuem
uma abrangência que vai além de Chapecó e atendem demandas em esca-
las regionais e internacionais. Todos esses eventos acontecem no Parque
Tancredo Neves, dotado de uma estrutura versátil que permite associar a
montagem de stands nos pavilhões cobertos à exposição de maquinários
agrícolas nas áreas externas. Uma discussão mais detalhada dos espaços
fixos e transitórios para eventos será realizada no Capítulo 4.

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214 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Voltando ao Quadro 3, é possível observar que as empresas de pequeno


porte já não conseguem a mesma inserção no mercado nacional. Das que
compõem esse grupo, apenas três possuem relação com o setor agroindus-
trial, o que não ocorre com as empresas de pequeno porte do comércio. Isso
permite dizer que o agronegócio tem uma tendência a desenvolver com
mais eficácia o grande capital, gerando, portanto, um processo de concen-
tração da riqueza em outros setores também. As pequenas empresas aca-
bam por se inserir em outros nichos de mercado, do que resulta uma maior
diversidade nesse setor.
Isso se reflete também na dinâmica de empregos gerados pelas empre-
sas, como se observa na Tabela 2, que evidencia evolução em todos os seto-
res, com exceção das atividades financeiras e de seguros.

Tabela 2: Chapecó. Número de empregos gerados, segundo o porte e a participação relativa.


2008.
Seção de Atividade Econômica, segundo classificação CNAE – versão 2.0
2008
Total Microempresa Pequena Média Grande Partic. Evol.
Empresa Empresa Empresa (%) 2006/2008
Agricultura, 952 367 366 98 121 1,5% 11,3%
pecuária,
produção
florestal, pesca e
aquicultura
Indústrias 15 15 – – – 0,0% 25,0%
extrativas
Indústrias de 20.792 2.449 3.274 2.683 12.386 33,0% 25,0%
transformação
Eletricidade 213 23 – 190 – 0,3% 0,0%
e gás
Água, esgoto, 314 65 20 229 – 0,5% 88,0%
atividades
de gestão de
resíduos e
descontaminação
Construção 4.870 1.682 2.597 591 – 7,7% 113,4%
Comércio; 15.245 5.618 6.068 2.037 1.522 24,2% 25,8%
reparação
de veículos
automotores e
motocicletas
Transporte, 3.934 676 1.153 519 1.586 6,2% 18,9%
armazenagem e
correio
Continua

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 215

Tabela 2: Continuação
Seção de Atividade Econômica, segundo classificação CNAE – versão 2.0
2008
Total Microempresa Pequena Média Grande Partic. Evol.
Empresa Empresa Empresa (%) 2006/2008
Seção I – 1.349 677 611 61 – 2,1% 17,7%
Alojamento e
alimentação
Informação e 677 179 498 – – 1,1% 14,4%
comunicação
Atividades 1.159 173 536 64 386 1,8% –16,3%
financeiras,
de seguros
e serviços
relacionados
Atividades 217 43 174 – – 0,3% 26,9%
imobiliárias
Atividades 911 451 460 – – 1,4% 31,6%
profissionais,
científicas e
técnicas
Atividades 1.702 454 420 141 687 2,7% 20,8%
administrativas
e serviços
complementares
Administração 4.148 3 – 111 4.034 6,6% 18,4%
pública, defesa e
seguridade social
Educação 1.970 179 500 108 1.183 3,1% 16,1%
Saúde humana e 1.781 523 142 – 1.116 2,8% 3,5%
serviços sociais
Artes, cultura, 189 118 71 – – 0,3% 17,4%
esporte e
recreação
Outras 2.575 583 375 290 1.327 4,1% 27,9%
atividades de
serviços
Serviços 11 11 – – – 0,0% 0,0%
domésticos
Organismos – – – – – 0,0% 0,0%
internacionais
e outras
instituições
extraterritoriais
Total 63.024 14.289 17.265 7.122 24.348 100,0% 26,4%
Fonte: Santa Catarina em Números (2010, p.36). Organizado por Rosa Salete Alba (2011).

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216 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Destaca-se também, na Tabela 2, o grande número de empregos gera-


dos no setor terciário: da soma de 63.024 empregos, 36.395 são referentes
às diferentes atividades ligadas aos setores de comércio e serviços, repre-
sentando 57,74% do total. A indústria é responsável por 20.792 empregos
(33%) e a agricultura, por 952 (1,52%). Desses dados se conclui que a pre-
sença do agronegócio/agroindústrias ainda é de significativa importância.
Além disso, do total de 63.024 empregos, 24.348 (38,68%) estão ligados
às grandes empresas, o que mais uma vez confirma que, mesmo existin-
do uma grande diversidade de atividades, o agronegócio ainda é uma das
que acabam por influenciar significativamente os empregos em Chapecó.
Porém, como observado no estudo de sua região de influência, abordado no
item 1.1, a cidade vem assumindo novas e importantes funções, que serão
caracterizadas ao longo deste trabalho, especialmente no Capítulo 4.

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4
A DIVERSIDADE DO COMÉRCIO E A EXPANSÃO
DOS SERVIÇOS ESPECIALIZADOS

Na condição de cidade média, e também de polo regional, Chapecó tem


protagonizado uma dinâmica importante no contexto regional e nacional,
atraindo atividades econômicas antes presentes apenas em grandes centros,
as quais serão analisadas neste capítulo.
Para Pires (2006, p.49), ainda que persista o efeito polarizador que as
cidades exercem umas sobre as outras, isso não é mais resultado somente
de atividades industriais tradicionais. Na atualidade, a cidade também
polariza outras atividades ao seu redor, seja pela densidade humana, seja
pelas infraestruturas, mas, principalmente, pela possibilidade de consumo
nela existente. Esse processo ocorre de modo acelerado, já que o setor de
comércio e serviços possui uma grande capacidade de adequação aos mais
diversos espaços geográficos e a suas realidades, bem como ao atendimen-
to das necessidades dos mais variados consumidores. Conforme destaca
Sposito (2001), colaboram ainda para essa configuração as alterações na
escala da rede urbana brasileira, entre as quais o deslocamento de unida-
des de produção de grandes grupos atuantes em regiões metropolitanas,
para cidades de porte inferior que tenham se destacado nos setores de
seu interesse.
Desde o processo de colonização, o comércio tem sido o elemento gera-
dor do capital para o desenvolvimento do setor agroindustrial em Chapecó
e na região, conforme demonstrado nos capítulos anteriores. À época pra-
ticado de forma rudimentar e objetivando o suprimento das necessidades
básicas da população, formou um elo entre o agricultor e o comerciante e,
consequentemente, entre o urbano e o rural. Nos dias atuais, essa relação é

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218 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

estabelecida pela presença de grandes grupos comerciais e industriais e seu


papel já não é mais apenas a provisão de necessidades básicas, mas a arti-
culação com a cadeia do agronegócio, por meio de serviços especializados,
e também o suprimento de um padrão de consumo estabelecido pela atual
fase do capitalismo, calcado na lógica do consumo e do descarte, como
menciona Harvey (1996).
Os setores comercial e industrial passaram por imensas transformações
em Chapecó, desempenhando importante papel na construção do modo de
vida e na dinâmica urbana da cidade. Diante disso, entende-se que tanto
o comércio desenvolvido por atores e capitais locais – a exemplo das redes
de supermercados e os centros comerciais – quanto o desenvolvido com a
participação de capital de grupos externos – as grandes redes de lojas que se
instalaram na última década – têm surgido como novas possibilidades. Por-
tanto, para uma compreensão atual do espaço urbano, há que se perceber
as diferentes oportunidades e a coexistência que vêm se instalando entre o
tradicional e o novo.
A atividade comercial da cidade de Chapecó apresenta-se com conside-
rável diversidade, fruto das fases de seu desenvolvimento, e continua a cres-
cer. Um elemento que comprova esse dinamismo é a arrecadação do ICMS,
que, entre 1999 e 2009, teve um aumento de 329% no município (Chape-
có, 2010a). Estas constatações vêm ao encontro da análise da influência
regional de Chapecó sob o ponto de vista do comércio segundo o critério da
diversidade, como já salientado anteriormente, visto ser o único quesito em
que a cidade exerce influência de primeira grandeza, segundo os estudos do
IBGE (2008b). Porém, como será constatado adiante, a padronização de
hábitos de consumo, com a entrada de redes nacionais e internacionais, tem
modificado esse cenário.
Se o centro da cidade e a avenida central concentram a maior parte da
atividade comercial relacionada a lojas de produtos em geral (Figura 4), o
comércio de equipamentos, insumos e maquinários para agricultura, muito
importante para a cidade, como visto anteriormente, está localizado sobre-
tudo em alguns eixos viários de acesso. A conexão dessas áreas conforma
um entroncamento de eixos bastante marcante na cidade, voltado ao setor
terciário, e que atrai um público tanto local quanto de áreas rurais e dos
municípios vizinhos, articulando as escalas urbana e regional.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 219

Figura 4: Chapecó. Centros comerciais, shopping, Paseo Avenida e bancos. 2014.

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220 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Nesse sentido, pode-se afirmar que Chapecó foi desenvolvendo dinâmi-


cas econômicas diferenciadas das demais cidades da região, à medida que
reforçava o seu papel de polo e de intermediadora das relações de consumo,
facilitadas inclusive pela melhoria das condições de mobilidade. De acordo
com Sposito et al. (2007),

Do ponto de vista do mercado consumidor, as cidades médias continuam a


desempenhar o papel de polos para os quais moradores de cidades menores e de
áreas rurais estão dispostos a se deslocar para realizar o consumo de bens e ser-
viços mais sofisticados do que aqueles a que têm acesso nas cidades de menor
porte. O papel da proximidade continua a ter importância, mas as distâncias a
partir das quais os consumidores estão dispostos a se deslocar ampliaram-se,
porque o tempo para esses deslocamentos tem diminuído, já que se melhora-
ram as formas de transportes, inclusive com o aumento do número de veículos
próprios, bem como a frequência das viagens propiciadas pelo sistema de trans-
porte coletivo. (Sposito et al., 2007, p.49)

Assim, será traçado, a seguir, um panorama amplo que visa caracterizar


diversos ramos representativos do setor terciário atuantes na cidade, sejam
eles tradicionais ou em formação.
Os centros comerciais, segundo Pintaudi (1999), são cada vez mais o pro-
duto de uma alta racionalidade na gestão do grande capital e condição da
existência de um cotidiano programado, a exemplo de grandes empresas.
As formas de comércio e a mercadoria, segundo a autora, são a materiali-
zação do modo de produção capitalista, e sua realização faz a sociedade se
reproduzir. O comércio e suas formas mostram uma nova articulação espa-
ço-tempo, de modo que implica uma organização social distinta. No decur-
so do século XX, grandes transformações ocorreram nas formas comerciais,
determinando novas centralidades, novos espaços do cotidiano de encontro
e de lazer, enfim, uma nova paisagem urbana e novas relações sociais. As
diferentes formas comerciais presentes na atualidade apontam claramente
a existência de um jogo de forças entre elas.
A presença de empresários locais é uma característica do comércio cha-
pecoense. Nos diferentes setores, como lojas, supermercados e comércio
de máquinas, implementos e insumos agrícolas, o capital é principalmente
local. Apenas na última década é que teve início a instalação de redes de

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 221

lojas, supermercados e outros serviços, comandados por grupos externos.


O local de maior movimentação do comércio em geral é a Avenida Getúlio
Vargas, no centro da cidade (Figura 5), onde durante os dias da semana há
uma grande circulação de pessoas para fazer compras, passear, fazer negó-
cios e outras atividades. Aos domingos, feriados e durante a noite, ela serve
de lugar de lazer, quando as pessoas costumam circular de carro, caminhar
ou ficar conversando, ouvindo música, namorando, tomando chimarrão e
bebendo com os amigos. Assim, ela passa a ser um lugar de encontro e de
socialização entre as pessoas, que vitalizam de modo dinâmico a área central
da cidade, em vários pontos e em diferentes momentos do dia e da semana.
Antes da construção do shopping, Chapecó possuía quatro centros co-
merciais: o Shopping Itajoara, o Centro Comercial Chapecó,1 o Merco-
centro2 e o Paseo Avenida, todos instalados no centro da cidade. Quando
criados, tinham o propósito de cumprir a função de um shopping, ainda não
existente na cidade.
Conforme Alba e Damaceno (2010), o hábito do comércio de rua, na
visão de alguns empresários, justificou a ausência de um shopping center em
Chapecó até 2011. A cultura de consumo da população é que influenciava
os espaços do comércio local, havendo a preferência, até então, por comprar
em lojas localizadas nas ruas e não em locais fechados. Mesmo em centros
comerciais, como o Mercocentro, muitas das lojas de redes nele instaladas
também seguiam essa lógica, buscando fazer a sua entrada principal volta-
da para a rua, como as unidades das redes Bob’s e Subway. Destaca-se que
muitas lojas que não apresentavam essa característica acabaram fechando
ou foram transferidas posteriormente para o shopping.
Outro aspecto diz respeito à especulação imobiliária presente em
Chapecó. Segundo as falas de entrevistados,3 em 2010 o aluguel de salas
de aproximadamente 200 metros quadrados localizadas na Avenida Ge-
túlio Vargas chegava a aproximadamente R$ 20 mil. Isso representa um
valor significativo e capaz de estimular alguns empresários, proprietários

1 O Centro Comercial Chapecó foi fundado em 1996, possui 1.600 metros quadrados de área
distribuídos em 26 salas comerciais, onde são desenvolvidas atividades culturais, como varal
literário, apresentações de CTG e outras atividades.
2 O Mercocentro, fundado em 2003, possui área de 4.034 metros quadrados e 34 salas. Foi
desativado após a instalação do shopping.
3 Entrevistas realizadas na pesquisa de Alba e Damaceno (2010).

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ou não desses imóveis, a fomentar a especulação imobiliária por meio do


incentivo e da valorização do comércio nesses lugares, em nome de uma
“cultura local”, a fim de manterem seu status quo (Alba; Damaceno, 2010).
Esse é um exemplo do poder que se estabelece na cidade, com base no qual
alguns empresários determinam e valorizam espaços de sua propriedade,
impedindo a entrada de outros grupos concorrentes. O fato de empresários
locais terem tomado a iniciativa de construção do shopping é também um
dado representativo.
Se até 2011 os centros comerciais supriam, de certa forma, a necessidade
de consumo da população – com um estilo que procurava se aproximar
ao dos shoppings –, coadunados aos interesses do empresariado local, a
instalação desse equipamento em Chapecó serve para dar continuidade ao
processo de expansão da atividade ligada ao comércio e ao consumo con-
temporâneo e mostrar a mudança do perfil do consumidor presente hoje
na cidade, fruto de novas dinâmicas que ela vem apresentando. Para Alba e
Damaceno (2010, p.14), “quanto mais desigual for a distribuição territorial
da renda e do espaço urbano, mais fácil é a decisão de onde se implantar
shopping centers, supermercados e grandes redes de lojas”.
Sob a ótica do mercado, o consumo exerce função relevante na definição
de papéis da cidade, sobretudo no tocante à produção e à estruturação das
sedes de supermercados. Nesse contexto, muitos empreendimentos ficaram
por muito tempo concentrados na área central de Chapecó. Porém, no de-
curso de alguns anos, eles passaram a se instalar em outras localidades, como
bairros e/ou até mesmo em cidades próximas, como é o caso do Supermer-
cado Brasão, que possui uma filial na cidade de Xaxim, próxima a Chapecó.
Conforme mencionado anteriormente, o comércio em grandes lojas,
em Chapecó, vinha sendo majoritariamente controlado por agentes locais.
Entretanto, a partir de 2000, com a instalação da loja Ponto Frio, iniciou-se
o processo de entrada de redes nacionais. Em 2004, foi aberta a filial do Ma-
gazine Luiza; em 2005, das Casas Bahia; e, em 2007, da Havan, além das
lojas Salfer e Marisa. A Casas Pernambucanas é uma das redes nacionais
mais antigas que, juntamente com Ponto Frio e Casas Bahia, sempre se
adaptou às regras locais de funcionamento do comércio.
A partir de 1993, Chapecó definia em lei municipal o horário livre do
comércio, desde que respeitada a legislação trabalhista. Assim, até 2007,

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 223

um acordo entre a categoria empresarial e o sindicato dos trabalhadores do


comércio estabelecia o horário comercial das 8h às 12h e das 14h às 18h, ha-
vendo um sábado por mês, considerado como dia “D”, em que o comércio
funcionava até as 17h, além dos horários especiais nas vésperas de Natal,
final de ano e outras datas comemorativas. Os supermercados também
não se diferenciavam muito disso. Porém, a entrada da Havan em 2007
estabeleceu um marco divisório na dinâmica do comércio da cidade. A loja
exigiu mudanças na legislação municipal e, até que isso acontecesse, mesmo
pagando multas, sempre permaneceu aberta de acordo com seu padrão.
A instalação dessas grandes redes, conforme Henn, Sobarzo e Alba
(2009), produziu uma mudança profunda no comportamento das empresas
já estabelecidas na cidade. A concorrência, que se torna muito maior e
motivo de disputas na busca por clientes e na oferta de melhores preços,
exige inovação nas estratégias de venda, no marketing, nas promoções e nos
eventos, bem como alterações nos horários de funcionamento. A mudança
do horário de atendimento do comércio tem sido um dos debates polêmicos
nos últimos anos em Chapecó. Segundo os mesmos autores, as novas redes
induzem uma nova cultura de consumo na cidade e região, antes inexisten-
te, que modifica a rotina dos comerciários, com repercussões tanto em sua
vida familiar quanto no ambiente social.
Henn, Sobarzo e Alba (2009) ressaltam também que do ponto de vista
do imaginário construído no povo chapecoense pelas autoridades, lideran-
ças e imprensa local, a cidade já não mais é pequena. Ela precisa se adaptar,
dar um salto de qualidade a fim de estabelecer uma dinâmica que propicie
a permanência desses empreendimentos e o contínuo desenvolvimento
de Chapecó como cidade com destaque na região e no cenário estadual e
nacional. Assim, sua população precisa se adaptar às novas situações colo-
cadas por esses grupos e superar a visão de cidade pequena, para incorporar
a cultura das cidades grandes.
Semelhante ao comércio de lojas, os supermercados existentes na cida-
de, dos quais se apresenta a seguir uma breve descrição, pertencem, em sua
maioria, a empresários locais. As três redes locais mais significativas são
Celeiro, Brasão e Alfa. Em 2009, houve a instalação do Maxxi Atacado,
pertencente à Rede Walmart, e, em 2012, a do BIG, da mesma rede. Além
dessas, a cidade possui um conjunto considerável de pequenos estabeleci-

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mentos, totalizando cinquenta supermercados e noventa no total, se consi-


deradas suas filiais.4
O Comercial Celeiro foi fundado em 22 de abril de 1971, tendo como
principal atividade a venda de produtos alimentícios por atacado, com um
sistema de pronta entrega para as seguintes regiões: oeste de Santa Catari-
na, sudoeste do Paraná e o Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul. Em 2010,
sua rede era formada por três lojas, com área média construída de 4 mil
metros quadrados, e possuía cerca de 430 funcionários.
O Supermercado Brasão apresenta padrões semelhantes aos da rede Ce-
leiro. Fundou sua primeira loja em 1968, em Chapecó, e atualmente possui
também três lojas: uma no centro e as outras em bairros da cidade.
O Supermercado Alfa, pertencente à Cooperativa Alfa, que atua na
região há mais de 42 anos, teve sua origem no pequeno supermercado que a
Cooperativa possuía, há muitos anos, na Avenida Fernando Machado, um
dos eixos de entrada da cidade. Em 29 de outubro de 2009, porém, foram
inauguradas suas novas instalações, mais amplas e modernas, com uma
área construída de 9.500 metros quadrados.
Todos esses supermercados possuem mais de quinze caixas, uma oferta
de mercadorias que varia de 20 a 32 mil itens, amplos estacionamentos e
áreas climatizadas. Em alguns deles, além do espaço de compras, encon-
tram-se lojas de apoio, como farmácias, bazares, agências e postos bancá-
rios, salão de beleza, revenda de celulares, pet shop, restauração de roupas,
locadoras de filmes, relojoaria, tabacaria e playground. São lojas oriundas de
capital local, com abrangência regional, atendendo cidades próximas, como
Cordilheira Alta, Xaxim, Águas de Chapecó, São Carlos e Pinhalzinho,
entre outras.
O Walmart, por sua vez, faz parte de uma rede internacional de ata-
cado e supermercado fundada na década de 1960 nos Estados Unidos da
América e que se expandiu depois para diversos países. A unidade em
Chapecó, localizada na Avenida Fernando Machado, foi inaugurada em
2009. O Maxxi Atacado é o formato atacadista do Walmart Brasil, voltado
a abastecer estabelecimentos como minimercados e restaurantes, além de

4 Informações obtidas no sítio eletrônico: <http://telelistas.net/>. Acesso em: 19 out. 2010.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 225

pessoas físicas.5 Essa loja diferencia-se do varejo tradicional por oferecer


produtos em embalagens maiores e fechadas, no mesmo formato entregue
pela indústria. A nova unidade possui departamentos como açougue, bebi-
das, mercearia, congelados, limpeza, bazar, eletrônicos e maquinário para
transformação e armazenagem de produtos para pequenos empresários,
além do serviço da Drogaria Maxxi.
O hipermercado BIG, inaugurado no final de 2012 em um dos princi-
pais eixos viários da cidade, a Avenida Atílio Fontana (acesso ao oeste do
estado e ao contorno viário da Avenida Leopoldo Sander, que conecta o
acesso norte ao acesso oeste), ocupa área anexa a um grande vazio urbano,
cuja localização é estratégica na cidade, e no qual foi viabilizado, posterior-
mente, um loteamento de alto padrão.
A presença dessas redes internacionais em Chapecó denota o atual mo-
mento que a cidade vive, transformada num receptáculo de diferentes redes
de lojas, com entrada de capitais externos, atraídos pelo potencial de expan-
são do mercado local e regional que a cidade apresenta, em médio e longo
prazos. Conforme Henn, Sorbarzo e Alba (2009, p.11-12):

A partir disso, percebe-se que Chapecó, na sua condição de cidade média


com forte papel de polarização do seu espaço regional, assume uma dinâmica
importante de atração de atividades econômicas antes presentes apenas em
grandes centros, dentre estes, podemos citar as redes de lojas de departamento
que se estabeleceram na cidade.

Quanto ao padrão de localização desses empreendimentos (Figura 4),


percebe-se, como apontam Alba e Damaceno (2010), que os centros comer-
ciais estão localizados no centro da cidade de Chapecó, enquanto os super-
mercados encontram-se distribuídos em outras áreas da cidade, sendo que
os mais tradicionais e os primeiros a se instalar – Celeiro e Brasão –, apesar
de terem surgido a princípio no centro, buscaram posteriormente espaços
com maior concentração populacional.
O primeiro shopping center da cidade denomina-se Pátio Chapecó, pos-
sui 14 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL) e integra a rede de

5 Informações obtidas no sítio eletrônico: <http://maxxiatacado.com.br/>. Acesso em: 19


out. 2010.

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shoppings da marca Pátio, de abrangência nacional. Conta com 120 lojas,


entre as quais unidades de redes nacionais como Americanas, Renner e
Centauro. Tem como principal loja âncora a Havan, com aproximadamente
5 mil metros quadrados, além de quatro salas de cinema da Rede Arco-Íris,
sendo uma para projeção em 3D. O grupo de investidores é composto por
empresários de Chapecó, que investiram mais de R$ 100 milhões na obra,
inaugurada em outubro de 2011.6
Conforme aponta Ribeiro (2013), também se observa, em cidades como
Chapecó, que empreendimentos comerciais como um shopping center
atuam como vetores que (re)estruturam a cidade. A instalação do Pátio
Chapecó, ao mesmo tempo que reforça o eixo norte-sul que estrutura a
cidade, deslocou parte das atividades da área central, atraindo mais investi-
mentos para as áreas de seu entorno, de modo que tem valorizado diversos
outros equipamentos existentes, assim como influenciado o preço do solo e
as possibilidades de adensamento construtivo e populacional da área. Lo-
calizado numa das principais entradas da cidade, na continuidade do acesso
viário SC 468 (Av. Plínio Arlindo de Nes) e próximo ao entroncamento
desta com a BR 480 (Av. Leopoldo Sander e o contorno viário interno
oeste), encontra-se mais próximo da concentração de atividades industriais
e do setor terciário que atende os consumidores regionais. Dessa forma, o
shopping atrai e contempla tanto o público local, acostumado a comprar no
centro, já que se encontra no prolongamento da área central, quanto o pú-
blico regional, devido à facilidade de acesso.
Estima-se que com a implantação do shopping ocorra uma diversificação
nos usos do solo, com a (re)concentração do setor terciário no entorno desse
equipamento, que hoje concentra principalmente atividades industriais,
formando outras centralidades mediante as distintas formas de circulação
geradas por novos fluxos de consumo. Nessa perspectiva, reforça-se a com-
preensão de que quando novos agentes econômicos se instalam numa de-
terminada cidade, eles voltam o seu interesse não só para ela, mas também
para toda a região em que está inserida e cujo potencial de consumidores
a serem atingidos é avaliado previamente. Sobre isso Sposito et al. (2007,
p.44) destacam que

6 Não foram encontradas informações acerca da origem do empresariado, se industrial,


comercial ou profissional liberal.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 227

[...] há necessidade de um determinado nível de densidade de consumidores


para que uma localidade seja objeto de interesse de capitais que se desconcen-
tram espacialmente e se expandem territorialmente, razão pela qual se reforçou
o papel das cidades médias como espaços de consumo locais e regionais.

Como poderá ser observado nas próximas seções, o reconhecimento do


potencial de consumo que Chapecó concentra na região, por parte dos agen-
tes econômicos, sejam eles de origem local ou externa, tem sido fator deter-
minante na expansão do setor terciário, de modo a (re)estruturar a cidade.
Quanto ao sistema financeiro, em 20147 havia, em Chapecó, 27 finan-
ceiras, 35 empresas na área de seguros e onze bancos. Além das agências
bancárias, ainda existem postos de serviços bancários instalados em insti-
tuições públicas, frigoríficos e em um hospital. Muitos desses bancos, além
das agências de varejo, atuam também com agências de atacado, a exemplo
do Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Safra. Com exceção do Itaú, estes ban-
cos, mais a Caixa Econômica Federal, possuem agências regionais.
As agências de atacado atendem pequenas e médias empresas de todo o
Oeste Catarinense que possuam um faturamento anual de 500 mil a 15 mi-
lhões de reais. Atuam, sobretudo, no crédito (principal serviço) e cobrança.
É um segmento que exige um maior número de funcionários, proporcional-
mente comparado ao de varejo. Além de Chapecó, elas estão instaladas nas
principais cidades catarinenses, como Joinville, Florianópolis, Criciúma e
Blumenau.
Outro elemento importante é a presença das superintendências regio-
nais, também conhecidas como agências regionais de Chapecó, as quais
possuem a função de dar apoio às agências locais, tanto na área comercial
quanto na administrativa, estreitando o relacionamento com os diversos de-
partamentos e com a matriz do banco. Da mesma forma que as agências de
atacado, essas também atendem toda a região oeste e meio oeste catarinense.
A existência das agências de atacado e das superintendências demonstra
a importância de Chapecó no Oeste Catarinense, consolidando-se como
nó articulador de cidades e de novas funções urbanas em escala regional.
A instalação do Banco Safra8 reafirma esse papel, com a extensão de sua

7 Informações obtidas no sítio eletrônico: <http://telelistas.net/>. Acesso em: 19 out. 2010 e


atualizado em 2014.
8 Esse banco atua apenas no segmento de atacado.

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influência também para o sudoeste do Paraná e noroeste do Rio Grande


do Sul. Segundo Alba, Zamboni e Silva (2010), as prospecções para a ins-
talação da agência regional do Banco Safra na cidade começaram em 2000,
já que Chapecó despontava como local estratégico para a região, ainda que
não tivesse mais de 400 mil habitantes – um requisito padrão geralmente
exigido para a abertura de uma agência. O banco trabalha com uma clien-
tela composta por empresas com faturamento igual ou superior a 10 mi-
lhões de reais anuais, bem como por pessoas físicas com alta renda. Atende
aproximadamente 340 clientes, dos quais cerca de 10% estão concentrados
em Chapecó. Em Santa Catarina, além de Chapecó, o Banco Safra mantém
agências também em Blumenau, Joinville, Florianópolis e Criciúma.
Em Chapecó, a maioria dos bancos localiza-se na Avenida Getúlio
Vargas, corredor principal de comércio e serviços, e nas ruas com maior
fluxo, como aquelas que dão acesso à cidade e onde estão localizados os
bairros com maior concentração populacional e dinâmica econômica, tal
como mostrado na Figura 4. Segundo dados do documento Cadernos de
Informações Socioeconômicas do Município de Chapecó (2009), compilados
no Quadro 4, verifica-se uma evolução em quase todas as principais ope-
rações bancárias desenvolvidas nos anos de 2007 e 2008, se comparadas às
de 2006.
As informações sobre a rede bancária e financeira em Chapecó e região
possibilitam compreender este espaço geográfico no contexto da mundia-
lização financeira iniciada ainda no século XX, que explicitam as intera-
ções do sistema mundial com os espaços nacionais, como apontam Dias e
Lenzi (2009, p.98): “Instáveis no tempo, móveis e inacabadas, as redes dos
maiores bancos privados chamam a atenção para formas particulares de
reorganização da atividade financeira, resultantes de ações empreendidas
em diferentes escalas espaciais”. A autora faz uma análise do processo de
evolução das redes bancárias privadas no Brasil e sua interação com outros
processos que moldam o território, transformando a natureza do traba-
lho desenvolvido nas agências bancárias, que passam a incorporar outros
serviços como: seguros, previdência, administração de cartão de crédito e
gerenciamento de fundos de investimentos.

Num contexto de aumento da concentração bancária, bancos buscaram


economias de escala e de escopo, infraestruturas que dessem suporte às opera-

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 229

ções financeiras e de capital humano. Ao mesmo tempo inovaram, ampliando


seu alcance espacial numa escala sem precedentes através dos correspondentes
bancários, reafirmando, assim, o quanto o domínio do espaço constitui fonte
de poder para instituições bancárias e financeiras. (Dias; Lenzi, 2009, p.115)

Tais análises trazem contribuições significativas para a compreensão da


relocalização espacial das agências e da complexidade das atividades e ser-
viços financeiros presentes nas últimas duas décadas em Chapecó e região.
Reforçam também a definição de Chapecó como cidade média, fruto de
articulações em escalas nacionais e internacionais. Os dados a seguir corro-
boram essas afirmações.

Quadro 4. Chapecó. Média e variação da movimentação de algumas operações bancárias. 2006


a 2008.
Média Média 2007 Média 2008 Variação (%) com
2006 relação a 2006 e 2007,
respectivamente
Evolução do saldo 491.145.437 586.131.557 639.115.983 19% e 9,04%
de depósitos
Operações de 820.142.957 1.156.615.715 1.058.216.150 41% e -8,51%
créditos
Financiamento 365.638.242 454.947.482 414.969.784 24% e -8,79%
agropecuário,
custeio e
investimento
Financiamento 70.900.614 97.718.483 90.269.518 37,82% e -7,6%
agropecuário –
comercialização
Financiamentos 6.737.419 19.949.851 24.590.332 196,11% e 23,26%
agroindustriais
Financiamento 45.195.577 71.409.802 104.582.746 58% e 46,45%
imobiliário
Empréstimos e 205.739.622 242.732.036 317.497.293 17,98% e 30,8%
títulos descontados
Outros créditos 125.931.484 260.058.589 215.043.467 106,51% e -17,31%
Depósitos à vista 133.433.397 181.129.780 183.976.136 35,75% e 1,57%

Depósitos a prazo 211.396.050 219.331.263 249.246.704 3,75% e 13,64%

Depósitos de 146.315.990 185.670.514 205.893.143 26,90% e 10,89%


poupança
Fonte: Cadernos de Informações Socioeconômicas do Município de Chapecó (2009, p.46-52). Organizada por
Rosa Salete Alba (2010).

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230 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

É importante destacar a evolução de créditos destinados ao setor agro-


pecuário e de financiamentos destinados às agroindústrias. Em 2007, foi
observado um crescimento de 24% nos financiamentos destinados ao cus-
teio e aos investimentos agropecuários, de 38% no crédito agropecuário, e
um espantoso aumento de 196% nos financiamentos destinados às agroin-
dústrias. São aumentos que superam a média nacional, conforme o docu-
mento Cadernos de Informações Socioeconômicas do Município de Chapecó
(2009). Em 2008, houve crescimento de 41% nos primeiros meses do ano e
uma retração de 8% nos meses seguintes, inferior a 2007. Em Chapecó os
financiamentos agropecuários e agroindustriais representam 50% dessas
operações. Em 2008, os financiamentos agropecuários sofreram retração de
quase 9%, enquanto os agroindustriais apresentaram elevação de 23,26%;
os depósitos desse setor passaram de R$ 20 milhões, em 2007, para R$ 24,6
milhões em 2008. Os dados relativos aos financiamentos e créditos ofere-
cidos aos setores agropecuário e agroindustrial confirmam, portanto, sua
importância para a cidade de Chapecó e região, mostrando que a atividade
agroindustrial continua sendo um ramo com grande peso na economia e no
setor financeiro.
O setor imobiliário apresentou crescimento igualmente significativo.
Foi verificado, no mesmo período, um aumento de 57,5% de financiamen-
tos imobiliários, mantendo o ritmo de crescimento e atingindo 46% em 2008
(Cadernos de Informações Socioeconômicas do Município de Chapecó, 2009).
Ao longo das últimas décadas, Chapecó passou a ser referência regional
para diversos tipos de serviços na área da saúde, seja pela exclusividade, seja
pelo grau de especialidade. Se dos trinta e oito municípios da microrregião à
qual pertence, somente quinze possuem hospitais, Chapecó destaca-se por
possuir cinco equipamentos hospitalares, a saber: o Hospital Dia/CTA, o
Hospital de Olhos de Chapecó, o Hospital Regional do Oeste, o Hospital
da Criança Augusta Müller Bohner e o Hospital Unimed (Figura 5).
O primeiro é o Hospital Dia Municipal da Aids, localizado no bairro
Passo dos Fortes, e, apesar de receber essa denominação, não é um hospi-
tal convencional. O objetivo do estabelecimento, que atende pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), é prestar atendimento às pessoas portadoras do
vírus HIV. Os casos mais graves ou que necessitem de internação são en-
caminhados ao Hospital Regional do Oeste. O Hospital de Olhos, por sua
vez, localizado no bairro Santa Maria, segue o mesmo princípio, efetuando

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 231

procedimentos específicos e mais rápidos, embora não atenda pelo SUS.


Ainda que tenham todos os requisitos para tal, essas duas instituições não
se configuram como hospitais de fato.

Figura 5: Chapecó. Localização dos equipamentos hospitalares. 2015.

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232 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Com o aumento da demanda por atendimentos e as limitações espaciais


para a ampliação de procedimentos do Hospital Regional do Oeste, foi
inaugurado no bairro SAIC, em 2011, o Hospital da Criança, resultante de
convênio entre a Prefeitura Municipal de Chapecó, a Secretaria de Saúde do
Estado e a FUNDESTE/Unochapecó, a fim de melhorar o atendimento às
gestantes, mães e crianças. Com 51 leitos, teve o atendimento ao público,
por meio do SUS, iniciado em janeiro daquele ano, com o Ambulatório
Referenciado de Especialidades em Pediatria, sob a denominação de Clí-
nica Pediátrica e Materna (Associação Hospitalar Leonir Vargas Ferreira,
[200-]; Brasil, 2014).
O Hospital Regional do Oeste (HRO) teve sua construção iniciada em
fevereiro de 1982 no bairro Santa Maria. Dispunha, inicialmente, de ses-
senta leitos e, agora, disponibiliza mais de trezentos, incluindo os de UTI.
Desde 1998, o HRO é administrado pelo consórcio Leonir Vargas Ferreira,
que também administra o Hospital da Criança. Atualmente, atende 92
municípios da Região Oeste, 26 municípios do Paraná e do Rio Grande
do Sul, num total de aproximadamente 1milhão de habitantes (Associação
Hospitalar Leonir Vargas Ferreira, [200-]). É caracterizado como hospi-
tal geral de grande porte e credenciado (SUS) na Alta Complexidade em:
traumato-ortopedia, urgência e emergência, gestantes de alto risco, neu-
rologia/neurocirurgia, oncologia e transplantes de rim/córnea. Apesar de
seu tamanho e da diversidade de especialidades médicas que comporta, em
termos regionais essas características revelam-se insuficientes. Para Kleba
(2005, p.269), o “Hospital Regional do Oeste é responsável pela assistência
especializada aos moradores de toda a região; tem, no entanto, sua capaci-
dade insuficiente para atender a demanda da microrregião de Chapecó”.
Dados mais recentes demonstram a quantidade de internações e serviços
que o HRO prestou entre 2007 e 2012, dispostos na Tabela 3.

Tabela 3: Chapecó. Indicadores de internação anual no Hospital Regional do Oeste. 2007 a 2012.
Tipo de atendimento 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Total de internações 18.309 19.900 18.879 20.319 20.588 20.316
Internações/local (Chapecó) 11.793 12.851 11.875 12.232 12.341 11.826
Internações/outras cidades 6.516 7.049 7.004 8.087 8.247 8.490
Total de leitos disponíveis 297 297 297 297 297 334
Fonte: Associação Hospitalar Leonir Vargas Ferreira, 2010-2012 e BRASIL-DATASUS (2014). Disponível
em: <http://www.relatecc.com.br/hro/> e <http://cnes.datasus.gov.br>. Organizado por Cristina Otsuschi
(2014).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 233

Os dados demonstram o aumento cada vez maior de internações de


pacientes provenientes de outras cidades em relação às de pacientes locais,
denotando a crescente influência de Chapecó como centro referencial para
a saúde.
A Unimed de Chapecó foi criada em 20 de fevereiro de 1992, por 86 mé-
dicos fundadores, atendendo 11 mil pessoas em nove municípios do Oeste
Catarinense. Esse hospital, que não atende pelo SUS (Brasil, 2014), está
localizado no centro da cidade e, até 2006, era denominado Uniclínicas, o
primeiro hospital próprio da Unimed de Santa Catarina (Unimed Chapecó,
2009). Com a falta de concorrência, a Unimed, de abrangência nacional,
domina o mercado regional de planos de saúde. Em 2014, atendia cerca de
40 mil clientes, atuando em 25 municípios, com 249 médicos cooperados
(Unimed Chapecó, 2014).
O Hospital Unimed passou por expansão significativa nos últimos anos.
Em 2012, possuía somente 58 leitos, sendo três de UTI; já em 2013, o nú-
mero de leitos subiu para 109, sendo cinco de UTI (Brasil, 2014). Nos últi-
mos anos, foram anexados ao hospital, formando um complexo de serviços
de saúde: o Laboratório de Análises Clínicas; o Centro de Diagnóstico por
Imagem – Unimagem; o Centro de Diagnóstico dos Distúrbios do Sono; e
o Centro Cardioneurovascular. O Laboratório de Análises Clínicas possui
outra unidade no Bairro Efapi. O serviço de fisioterapia é ofertado em
outro endereço no centro da cidade, e o Centro de Oncologia e Hematologia
localiza-se no Bairro Santa Maria.
A presença do hospital na área central, além de facilitar o acesso aos
usuários, tem impacto no uso do solo urbano em suas proximidades, onde
se encontra a oferta de vários tipos de serviços associados à saúde, influen-
ciando o comércio e, também, as condições de tráfego da área, que recebe
inúmeras vans e micro-ônibus vindos de outros municípios, além dos di-
versos usuários locais.
A Organização Polymed – Polyclínica Médica e Operadora de Planos
de Saúde Sociedade Simples LTDA., conhecida como Polymed, por sua
vez, tem abrangência municipal. Foi fundada em 1991, mantém convênios
empresariais, tendo como foco a Medicina Ocupacional. Possui 123 pro-
fissionais cadastrados em 35 especialidades médicas, atendendo mais de
seiscentas empresas e 11 mil pessoas (Polymed, 2010).

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234 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

A Prefeitura Municipal de Chapecó possui o Fundo de Assistência ao


Servidor Público Municipal (FAS), por meio do qual os beneficiários têm
acesso a atendimento em serviços especializados nos consultórios dos mé-
dicos credenciados. Serviços odontológicos também podem ser realizados
na sede do FAS (Chapecó, 2011). Outro tipo de plano odontológico é for-
necido pela Uniodonto.
Ressalta-se que muitas das especialidades presentes na cidade não são
ofertadas em outros municípios da região, fazendo que Chapecó seja um
foco de atração tanto da população da microrregião como de municípios
que fazem parte de outras microrregiões ou de outros estados. Por isso
mesmo, ainda que o setor público tente se estruturar para oferecer os diver-
sos tipos de serviço na área da saúde, os equipamentos existentes são ainda
insuficientes para atender a grande demanda existente.
Devido à procura por serviços especializados, várias clínicas e consultó-
rios particulares, que disponibilizam exames e equipamentos de média a alta
complexidade, instalaram-se na cidade. Um exemplo é a presença de uma
clínica especializada em reprodução humana. Há também na cidade vários
laboratórios de análises clínicas, sendo que alguns possuem filiais nos bair-
ros ou fazem somente a coleta de material para os exames serem realizados
em outra unidade. Igualmente em expansão estão os estabelecimentos que
comercializam artigos e equipamentos para hospitais. Dessa forma, aumen-
tam as oportunidades para os profissionais que atuam no setor privado de
serviços especializados, como os centros de diagnóstico por imagem, com
especialidades em: Densitometria Óssea, Mamografia, Radiodiagnóstico,
Ultrassonografia, Tomografia Computadorizada e Radiologia. Na mesma
perspectiva, e acompanhando a tendência nacional, observa-se, nos últimos
anos, um aumento de investimentos nos serviços de medicina estética, de
centros de estética e de clínicas de fisioterapia. É importante salientar que
a estas acorre um número considerável de trabalhadores empregados nos
frigoríficos, os quais não raramente são acometidos por severas lesões em
razão das difíceis condições de trabalho, como já abordado anteriormente.
Uma vez caracterizadas as atividades da saúde, é possível obter um pa-
norama do setor a partir de aspectos comparativos, em relação ao contexto
microrregional e mesmo estadual, disposto a seguir. No que concerne ao
número de hospitais e à quantidade de leitos, Chapecó destaca-se na mi-
crorregião, disponibilizando 447 leitos, dos quais 266 são para atendimento
pelo SUS, como mostra o Quadro 5.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 235

Quadro 5: Microrregião de Chapecó. Hospitais e leitos por município. 2014.


Municípios Hospitais Leitos
Chapecó 5 447
Campo Erê 1 44
Caibi 1 33
Caxambu do Sul 1 30
Coronel Freitas 1 30
Cunha Porã 1 47
Maravilha 1 93
Modelo 1 33
Nova Erechim 1 26
Palmitos 1 72
Pinhalzinho 1 37
Quilombo 1 47
São Carlos 1 67
São Lourenço 1 58
Saudades 1 34
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. BRASIL-DATASUS (2014). Disponível em: <http://
cnes.datasus.gov.br>. Acesso em: 25 ago. 2014. Organizado por Cristina Otsuschi (2014).

Observa-se que somente em Chapecó há Hospital Dia, com quatro leitos


no Hospital de Olhos e três no Hospital Dia Municipal de Aids. Verifica-se
também que Chapecó e Maravilha são as únicas cidades da microrregião a
possuírem leitos em UTI – adulto, pediátrico e neonatal. A cidade possui
447 dos 1.098 leitos da microrregião de Chapecó, ao passo que em todo o
estado de Santa Catarina há 17.138. Mesmo que comparada à participação
no estado a proporção seja pequena (2,6%), o número corresponde a 40,7%
dos leitos disponíveis na microrregião (Santa Catarina, [200-]a; [200-]b).
Chapecó também se sobressai em relação ao número de internações
hospitalares, pois em 2009 foram mais de 15 mil, conforme demonstra o
Quadro 6, superando em aproximadamente 7,5 vezes Maravilha, a segunda
cidade nesse quesito.
A diferença entre o número de internações em Chapecó (mesmo não
considerando o Hospital de Olhos e Hospital Dia Municipal da Aids) em
relação às demais cidades da microrregião deve-se ao número de habitantes,
bem como à presença de mais hospitais, portanto, de um número maior de
leitos, e à oferta de especialidades médicas de média e alta complexidade.

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236 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 6: Microrregião de Chapecó. Hospitais e internações por município. 2009.


Município População* Hospitais Internações
Chapecó 174.185 3 15.412
Campo Erê 9.732 1 1.491
Caibi 6.393 1 337
Caxambu do Sul 4.965 1 497
Coronel Freitas 10.518 1 829
Cunha Porã 11.078 1 520
Maravilha 23.102 1 2.034
Modelo 3.860 1 354
Nova Erechim 4.379 1 343
Palmitos 16.599 1 1.586
Pinhalzinho 15.693 1 831
Quilombo 11.259 1 1.234
São Carlos 10.939 1 1.106
São Lourenço 23.018 1 1.955
Saudades 8.927 1 486
* Estimativa.
Fonte: DATASUS. Cadernos de Saúde de Santa Catarina. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/
tabdata/cadernos/sc.htm>. Organizado por Cristina Otsuschi (2014).

Assim, com base no exposto, pode-se afirmar que Chapecó concentra al-
guns serviços especializados em saúde, cuja abrangência recai principalmen-
te sobre a escala microrregional. Nesse contexto, a proximidade com Passo
Fundo/RS, referência regional para os serviços especializados em saúde,9 ao
que parece, faz que os fluxos de usuários na região oeste de Santa Catarina e
noroeste do Rio Grande do Sul sejam distribuídos entre as duas cidades. Isso
não significa, todavia, que a demanda por serviços não seja considerável em
Chapecó e região, haja vista a grande expansão privada nesse setor.
A concentração dos serviços de saúde no centro da cidade (Campos, 2011)
tem modificado tanto os fluxos quanto sua dinâmica comercial, influenciando
a estruturação urbana de Chapecó em curso. Verifica-se que houve mudança
no uso do solo na área central da cidade nos últimos anos, com a diversifi-
cação e expansão de serviços de saúde, conferindo uma especialização nessa
porção do tecido da cidade. Diariamente, muitos veículos oficiais, principal-
mente das prefeituras dos municípios vizinhos, chegam trazendo pacientes
para serem atendidos em Chapecó. Como podem ficar horas, ou mesmo

9 Para mais detalhes, ver Sorbazo (2010).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 237

o dia inteiro, esperando para retornar ao município de origem, o comér-


cio também procura atender à demanda variada de possíveis compradores.
Em decorrência desse panorama geral, diversas universidades, faculda-
des e outras instituições de ensino instaladas em Chapecó ou nas proximi-
dades estão expandindo os cursos na área da saúde, não só os técnicos, como
também os de graduação e de pós-graduação.
No que se refere ao ensino superior, Chapecó dispõe de 22 instituições
nas quais são oferecidos cursos nas diferentes áreas do conhecimento, a
maioria em nível de graduação e pós-graduação lato sensu, destacando-se o
significativo número de cursos tecnólogos existentes, como pode ser visto
na Tabela 4. Uma área de interesse em expansão é a dos cursos superiores e
de especialização em saúde, devido à demanda crescente por profissionais,
contribuindo gradativamente para o aprimoramento dos serviços prestados
no setor, direcionados à população da cidade e também da região. Cursos
de especialização são oferecidos igualmente, tendo como foco as cadeias
produtivas da agroindústria, por exemplo, a bovinocultura de leite, em
ascensão na região, reforçando a influência que a agroindústria exerce nas
demandas em diversos outros setores da economia.
As instituições de ensino superior identificadas, em sua quase totalida-
de, são privadas. Entre as instituições classificadas pelo e-MEC como de
caráter comunitário, encontram-se a UNOESC e a Universidade Comu-
nitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Esta se destaca como a mais
antiga instituição de ensino superior na cidade, e a que dispõe do maior
número de cursos tecnológicos e de graduação, bem como de acadêmicos.
Conta, atualmente, com quatro programas de pós-graduação stricto sensu,
dois dos quais obtiveram aprovação pela Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no ano de 2012.

Tabela 4: Chapecó. Instituições de Educação Superior e Cursos Cadastrados. 2015.


Instituição Cursos Cursos pós- Categoria
-graduação
Graduação Tecnólogos Lato Stricto
sensu sensu
UDESC – Fundação Universidade 3 – 1 – PÚBLICA
do Estado de Santa Catarina
UNOESC – Universidade do 11 3 6 2 COMUNITÁRIA
Oeste de Santa Catarina ***
Continua

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238 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Tabela 4: Continuação
Instituição Cursos Cursos pós- Categoria
-graduação
Graduação Tecnólogos Lato Stricto
sensu sensu
UNIFACS* – Universidade 7 3 – – PRIVADA
Salvador
ULBRA* – Universidade 7 7 – – PRIVADA
Luterana do Brasil
FAEL* – Faculdade Educacional 5 – – PRIVADA
da Lapa
FIE – Faculdade Exponencial 8 2 – – PRIVADA
(Descredenciada)
Unochapecó – Universidade 49 8 81 6 COMUNITÁRIA
Comunitária da Região de ***
Chapecó
IFSC – Instituto Federal de 1 – – – PÚBLICA
Educação, Ciência e Tecnologia de
Santa Catarina
UFFS – Universidade Federal da 13 – 8 3 PÚBLICA
Fronteira Sul ****
SENAC – Faculdade de 4 6 – PRIVADA
Tecnologia Senac Chapecó
UNIP* – Universidade Paulista 14 13 – – PRIVADA
UFSC* – Universidade Federal de 6 – – – PÚBLICA
Santa Catarina
UNOPAR* – Universidade Norte 16 13 – – PRIVADA
do Paraná
SENAI – Faculdade de Tecnologia 3 1 – PRIVADA
Senai Chapecó
FAEM** – Faculdade 8 3 19 – PRIVADA
Empresarial de Chapecó
FAACH – Faculdade Anglo- 4 3 16 – PRIVADA
-Americano de Chapecó
UNISUL* – Fundação 11 21 – – PRIVADA
Universidade do Sul de Santa
Catarina
UNINTER* – Centro 15 16 – – PRIVADA
Universitário Internacional
SOCIESC* – Centro 1 4 – – PRIVADA
Universitário Sociesc
Total 174 108 138 11 –
Fontes: site e-MEC, sites das instituições (stricto sensu).
* Instituições somente com polo EaD em Chapecó.
** Mantenedora da Unidade Central de Educação FAEM faculdades (UCEFF).
*** Lei Federal 12.881 de 12 novembro de 2013.
**** A UFFS é multicâmpus e oferece 44 cursos de graduação e oito cursos stricto sensu ao todo.
Organização: Villela, Alba e Ortmeier (2015).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 239

Merece destaque também a Universidade Federal da Fronteira Sul


(UFFS), a primeira universidade federal da mesorregião, cujo câmpus sede
está em Chapecó. Implantada em 2010, promete alavancar grandes trans-
formações, não só no cenário do ensino superior público no município e na
região, mas também na reestruturação da cidade, por configurar-se como
um agente catalisador desse processo. O terreno onde está situado o câm-
pus, praticamente no limite do município em sua porção oeste, foi doado
por um proprietário de terras, visando à urbanização e à comercialização
das áreas do entorno.
Apesar de recém-instalada, a UFFS já oferece três cursos de pós-gra-
duação stricto sensu no Câmpus Chapecó. Entretanto, chama a atenção o
caráter incipiente dessa modalidade pública de ensino na cidade e região,
ainda muito recente e pouco consolidada, mas que vem preencher uma
lacuna histórica existente em toda a mesorregião, que abrange não só o
oeste de Santa Catarina, mas o noroeste do Rio Grande do Sul e sudoeste
do Paraná.
Verifica-se, portanto, o aumento de instituições de ensino superior a
partir de 2009 em Chapecó, principalmente as públicas, facilitando o aces-
so a uma formação acadêmica superior não só aos estudantes do Oeste
Catarinense, mas também aos oriundos principalmente da região sul, assim
como de outros estados brasileiros. Em 2014 observa-se, igualmente, a
presença de imigrantes haitianos, dentre os quais alguns têm ingressado
por programa especial de acesso na Universidade Federal da Fronteira Sul.
Convém lembrar que é significativa a participação de instituições que
trabalham exclusivamente com a modalidade de Ensino a Distância (EaD),
também indicadas na Tabela 4, as quais somam doze unidades, ou seja,
mais da metade do total identificado. A entrada dessas instituições ocorreu
mais recentemente, desde meados da década de 2000, e reflete o atual ce-
nário competitivo das empresas privadas do setor, provenientes de centros
metropolitanos, em busca de mercados promissores. As mudanças no ce-
nário do ensino médio e superior no município, associadas às transforma-
ções ocorridas na cidade nas últimas décadas, evidenciam que o aumento
de estudantes e de profissionais gera demandas por habitação e prestação
de serviços, de modo que cria mercados em franca expansão. O mercado
imobiliário direciona a expansão urbana e a alocação de investimentos, in-
clusive públicos, a fim de explorar esse potencial.

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240 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Chapecó também vem se inserindo, nos últimos anos, no cenário na-


cional de eventos, pleiteando sua participação nesse ramo do turismo. Ape-
sar de já desempenhar tal papel há vários anos no contexto da região oeste
e extremo oeste do estado, por meio das já mencionadas feiras vinculadas
à agroindústria e à agropecuária, foi apenas com a melhoria da infraestru-
tura que a cidade vem ampliando o escopo dessas atividades, sediando
eventos que atraem público de diversas regiões do país e mesmo de outros
países.
Atualmente, as duas principais estruturas existentes são o Parque Tan-
credo de Almeida Neves e o Centro de Eventos Plínio Arlindo de Nes,
ambos administrados pela Prefeitura Municipal de Chapecó. O primeiro,
construído para sediar, em 1967, a principal feira do município, a Exposi-
ção Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Chapecó (EFAPI), rece-
beu incremento significativo em sua estrutura nos últimos anos, incluindo
reforma e construção de novos pavilhões. Como já mencionado anterior-
mente, conta com estrutura de ambientes cobertos e ao ar livre, bem como
arenas para shows e espaço para rodeios, além do apoio de praças de ali-
mentação e local para parque de diversões. Por oferecer estrutura flexível,
atrai eventos menores quase que semanalmente, ocupando parcialmente o
espaço disponível. A localização do Parque acaba por ser estratégica, em-
bora dependa de algumas intervenções no tráfego quando ocorrem eventos
maiores, pois, além da rodovia onde se encontra, não há outro acesso, e
existem na vizinhança outros equipamentos como agroindústrias e univer-
sidades, também grandes polos geradores de tráfego.
O Centro de Eventos Plínio Arlindo de Nes, inaugurado em 2008, em
outro bairro da cidade, complementa as atividades do Parque Tancredo de
Almeida Neves, servindo mais a eventos que requeiram espaço fechado,
principalmente espetáculos, palestras e cursos. Diferentemente do Parque,
que oferece estrutura reduzida para essa finalidade, o Centro de Eventos
conta com um teatro para mil pessoas, que abriga as atividades de maior
público e pode ser utilizado em simultâneo com outras seis salas, cuja capa-
cidade individual excede quatrocentas pessoas. Além de eventos culturais,

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 241

o Centro tem também sediado jornadas de negócios, seminários e cursos


para públicos que incluem desde estudantes e professores até empresários
dos diversos ramos. A acessibilidade a esse espaço é facilitada, uma vez
muito próximo à área central.
Destaca-se que a recente ascensão do time de futebol local, a Asso-
ciação Chapecoense de Futebol, para a primeira divisão do Campeonato
Brasileiro em 2014 inseriu a cidade na rota dos eventos esportivos, de
modo a incrementar a cadeia do turismo, razão pela qual o Estádio Regio-
nal Índio Condá foi recentemente reformado, passando a ser denominado
Arena Condá.
Além dessas estruturas principais, outros eventos menores fazem uso dos
auditórios das universidades e de hotéis da cidade, movimentando o calendá-
rio anual. Também os clubes conseguem, com alguma adequação, comportar
eventos, embora não tenham sido projetados para tal finalidade. O detalha-
mento de estrutura desses espaços pode ser observado nos Quadros 7 e 8.

Quadro 7: Chapecó. Espaços de eventos esportivos/auditórios em 2011.


Espaços de eventos esportivos Espaços de eventos – auditórios
Ginásio Ivo Silveira Auditório Unimed
Ginásio Santa Maria Auditório UNOESC
Ginásio SESC Auditório UNOCHAPECÓ
Ginásio AABB Auditório Hotel Lang
Kartódromo Auditório Hotel Mogano
Autódromo Sindicato dos Bancários
Arena Índio Condá Centro de Eventos Plínio Arlindo de Nes
Fonte: Consulta aos estabelecimentos. Organização: Cíntia Schuh (2011).

Em função dos muitos cursos superiores e técnicos existentes na cidade,


várias dessas estruturas têm sido demandadas para formaturas (colações de
grau e bailes), o que faz que não só os espaços tenham lotação frequente,
como também estimulem toda a cadeia produtiva, que envolve empresas
dos ramos de sonorização, fotografia, assessoria e promoção de eventos,
cerimonial, floricultura e transporte, entre outras.

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Quadro 8: Chapecó. Clubes e estrutura para eventos. 2011.


Nome Ano de Capacidade Principais Alcance de
instalação de público períodos de eventos (por
(pessoas) realização escala local,
dos eventos regional, nacional
(frequência) ou internacional)
Clube Recreativo 1938 1.300 Ano todo Regional e nacional
Chapecoense
Grêmio Esportivo 1961 700 Fev./mar./ Local e regional
Industrial ago./
set./nov./dez.
Parque de Exposição 1967 – Ano todo De local a
Tancredo de Almeida internacional,
Neves dependendo do
evento
Country Club 1973 300 Ano todo Local
Chapecó
Campestre Piscina 1974 200 Não há períodos Local
Clube de maior uso
CTG Herança 1988 Aprox. 600 Não há períodos Local
Gaúcha de maior uso
Centro de Cultura 2008 Aprox. 6000 Ano todo De local a
e Eventos Plínio internacional,
Arlindo de Nes dependendo do
evento
Clube Recreativo Não Restaurante: Nov./dez./jan./ Local e regional
Chapecoense – Sede informado 350 pessoas fev.
Campestre sentadas
Fonte: Consulta aos estabelecimentos. Organização: Cíntia Schuh e Matheus Rigon (2012).

A Figura 6 mostra que as principais estruturas de eventos estão na área


central e que os clubes, por sua característica de campo, estão nas bordas
da cidade. A localização das estruturas para eventos em áreas centrais, por
sua vez, corresponde ao estágio da expansão urbana de acordo com o ano
de instalação e, em seu entorno, mesclam-se atualmente áreas de intensa
ocupação e diversidade de usos, sobretudo o comercial. Os clubes de campo
inaugurados nas décadas de 1960 e 1980, que à época estavam fora da área
urbanizada, hoje também se encontram em áreas urbanizadas.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 243

Figura 6: Chapecó. Terminais e espaços de eventos: esportivos e auditórios. 2011.

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244 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Associada ao turismo de negócios e eventos em Chapecó e às estruturas


que lhes dão suporte, a rede hoteleira na cidade (Figura 7 e Tabela 5) reúne
um conjunto de estabelecimentos que ainda se concentra nas mãos de em-
preendedores locais e regionais, com exceção do Hotel Lang Palace, que faz
parte da Rede Bristol/Allia, com atuação nacional, e do Ibis, da Rede Accor,
com atuação internacional, cuja construção teve início em 2015. De acordo
com Geraldo Pedroso, presidente do Sindicato de Hotéis de Chapecó, a
oferta de leitos cresceu 20% nos anos 2010 e 2011 (Diário do Iguaçu, 2011).

Tabela 5: Chapecó. Total de leitos ofertados em hotéis. 2011.


Hotel No de Leitos
Hotel Lang Palace 314
Hotel Bertaso 212
Mogano Business Hotel 162
Mogano Hotel 127
Eston Hotel 116
Asppen Hotel 112
Hotel Chapecó Plus 108
Cometa Hotel 98
Hotel Romanville 92
Almasty Hotel 80
Hotel Zagonel 68
Golden Hotel 66
Hotel Ideal 58
Hotel Delavi 51
Hotel Chapecó Center 50
Hotel Boa Vista 32
Hotel Fazenda São Luís 32
Hotel Sartori 29
Hotel Kurikaka 28
Hotel Iguaçu 22
Hotel Estância das Águas 20
Hotel J. Ferrarini 18
Hotel Carraro 17
Hotel Soprana Não Informou
Total 1.912
Fonte: Consulta aos estabelecimentos. Organizado por: Cíntia Schuh (2011).

Isso demonstra a resposta do setor à demanda que os eventos na cidade


têm imposto. É interessante destacar que um único evento bianual, a Mer-
coagro, esgota a reserva, com antecipação de mais de um ano, de todos os

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 245

leitos de hotel, sendo necessário recorrer à hospedagem de participantes em


motéis e em municípios num raio de mais de cem quilômetros.

Figura 7: Chapecó. Rede de hotéis. 2015.

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246 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Em relação à localização, a maior parte dos hotéis está na área central,


como mostra a Figura 7. Os demais, em geral de qualidade inferior, situam-
-se em regiões mais periféricas da cidade. Destacava-se destes, pela estrutu-
ra de qualidade, especialmente na oferta de atrações de ecoturismo, o Hotel
Dom Guilherme, situado no município vizinho de Guatambu, mas que se
encontra fechado para reformas.
A variedade de padrão dos hotéis pode ser mensurada pelo valor médio
das diárias cobradas em 2011, que oscilavam de R$ 28 a R$ 60, até os mais
caros, como o Mogano Hotel, classificado como quatro estrelas, com valor
médio da diária de R$ 272. Os mais equipados possuem salão de eventos
para um público de aproximadamente 250 pessoas, com salas de reuniões;
alguns têm restaurante próprio, aberto também ao público externo, e áreas
de lazer, como academia de ginástica, salão de jogos, bar, piscina e sauna.
Uma infraestrutura importante existente na cidade, que fomenta o tu-
rismo de negócios e eventos e reforça o seu papel de intermediação, é o
Aeroporto Municipal. O incremento regular em sua estrutura vem colabo-
rando para a expansão desse tipo de atividade. A quantidade de voos e de
destinos foi ampliada nos últimos anos, conforme se observa no Quadro 9,
bem como o número de embarques e desembarques desde 2009 – superior
a 400% – (Figura 8), o que demandou investimentos no terminal de passa-
geiros e na pista, em mais de uma ocasião nos últimos anos.
Sua localização regional atrai passageiros que o utilizam como um modal
combinado a outros, atendendo usuários provenientes de um raio de até
duzentos quilômetros, que se estende ao Paraná e ao Rio Grande do Sul. A
oferta de voos conecta a cidade às principais rotas do sul do país, bem como
a São Paulo e Brasília.
Em 2012, a Associação Comercial e Industrial realizou pesquisa sobre
interesses de destino e, desde então, vem exercendo razoável pressão sobre
empresas aéreas – as já instaladas e outras – para que ampliem a oferta de
destinos e horários. Segundo informações do Diário do Iguaçu (2012), de
2010 para 2011 houve um aumento de 21% no número de desembarques,
subindo de 90 mil para 125 mil no período. O responsável pelo Aeroporto
Municipal, Sérgio Wallner, informou que as companhias, que já operavam
com 80% da capacidade, tinham como meta para 2012 atingir os 100%.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 247

Figura 8: Chapecó. Número de embarques e desembarques. 2009-2014.


* Pista de pouso e decolagem.
Fonte: Prefeitura Municipal de Chapecó (2015). Organizado por: Thaís Cristina Lopes (2015).

Quadro 9: Chapecó. Caracterização do Aeroporto Municipal “Serafim Enoss Bertaso”. 2015.


Nome Aeroporto Municipal “Serafim Enoss Bertaso”
Ano de fundação 1978
Distância até a cidade 9 km
Classificação do aeroporto Regional
Empresas (ano 2015) Avianca*
Gol
Azul
Terminal de carga Sim
Movimento médio mensal 30.000
de passageiros (2013)
Passageiros (ano 2014) 420.000
Número de operações 8.728
Pousos e decolagens
(ano 2013)
Voos diários – chegadas GOL – Horário: 01h00min (de segunda a sábado); 14h35min (de domin-
(outubro 2015) go a sexta); 16h40min (sábado). Origem: São Paulo/Florianópolis
AVIANCA* – Horário: 00h30min (todos os dias). Origem: Brasília);
13h45min (todos os dias). Origem: São Paulo/Florianópolis)
AZUL – Horário: 11h55min (sábado); 12h35min (de domingo a sexta);
18h22min (de domingo a sexta). Origem: Campinas; 11h06min (de se-
gunda a sexta). Origem: Porto Alegre
Continua

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248 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 9: Continuação
Nome Aeroporto Municipal “Serafim Enoss Bertaso”
Voos diários – saídas GOL – Horário: 05h30min (de sábado a sexta); 15h05min (de domingo a
(outubro 2015) sexta); 17h25min (sábado). Destino: Florianópolis/São Paulo
AVIANCA* – Horário: 06h00min (todos os dias). Destino: Florianópo-
lis/Brasília; 14h15min (todos os dias). Destino: Florianópolis/São Paulo
AZUL – Horário: 12h25min (sábado); 11h41min (de segunda a sexta);
18h58min (de domingo a sexta). Destino: Campinas; 13h00min (de
domingo a sexta). Destino: Porto Alegre
* A empresa TAM atua em parceria com esta companhia, o que amplia a compra, em um único bilhete, para
vários destinos no Brasil e no mundo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Chapecó (2015). Organização: Alexandre M. Matiello e Ana Laura V. Villela
(2015).

De acordo com a Secretaria de Infraestrutura do Estado de Santa Cata-


rina, o aeroporto de Chapecó é o que mais cresce no estado. Por isso, está
incluso no Plano Aeroviário de Santa Catarina (PAESC), que prevê a re-
gulação do setor, no horizonte de vinte anos. A prioridade é justificada por
um estudo que leva em conta a renda da região, a previsão de crescimento
econômico e a concentração populacional (Diário Catarinense, 2011).
Tendo em vista o exposto neste capítulo, pode-se afirmar que, atual-
mente, a expansão da atividade de serviços nos diferentes setores do comér-
cio faz que a cidade assuma também o papel de atrair empreendimentos,
criando novas redes de relações regionais, nacionais e mundiais. Por sua
posição geográfica, Chapecó beneficia-se também por ser um nó de caráter
polarizador regional, pois está na convergência de muitas atividades econô-
micas, comerciais e de serviços, e isso tem sido um fator de atração para que
empresas se instalem na cidade. Percebe-se, portanto, a existência de uma
nova dinâmica econômica em Chapecó, que não se sobrepõe ao agronegó-
cio, mas torna mais complexa sua economia, possibilitando a compreensão
de que se insere na dinâmica urbana das cidades médias.
No momento, as atividades ligadas ao setor terciário compõem um eixo
de mudanças significativas no urbano de Chapecó, com a entrada de novos
empreendimentos, agentes e capitais. Isso é percebido não só na economia,
na dinâmica e na estrutura urbana, mas também nas transformações das
relações de trabalho e dos hábitos de consumo da população da cidade e da
região.

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5
A PRODUÇÃO DA CIDADE
E AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS

Neste capítulo, as “desigualdades socioespaciais” (Sposito, 2011) da ci-


dade são discutidas, principalmente no que tange à produção habitacional,
como resultado do processo socioeconômico de conformação do território,
bem como da presença ou mesmo da ausência de planejamento. A produ-
ção habitacional foi analisada considerando a que resulta não só de investi-
mentos privados ou de subsídios oriundos da esfera pública, mas, também,
aquela gerada pela exclusão ao acesso à moradia digna, marcada pela infor-
malidade e pela precariedade. A fim de contextualizar e dar sentido a essa
caracterização, tratamos, neste capítulo, da abordagem socioespacial do
processo de urbanização de Chapecó, bem como da constituição das formas
de sua paisagem (Leite, 2001).
A discussão foi organizada com a divisão do recorte temporal em quatro
períodos, de acordo com um conjunto de décadas, dos anos de 1930 até a
primeira década do século XXI, a saber: a) 1930-1940; b) 1950-1960; c)
1970-1980; d) 1990 e 2010. A seguir, apresenta-se uma síntese dos prin-
cipais aspectos que contribuem para os propósitos deste capítulo, década
a década:

– a década de 1930 foi marcada pela dificuldade de ocupação e de


estruturação do território;
– na década de 1940, predominaram os avanços de consolidação do
tecido urbano, a renovação da produção edilícia e o quadro favorável
ao crescimento com a acumulação de capital;

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250 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

– a década de 1950 foi caracterizada pela estagnação do processo de


crescimento e de desenvolvimento socioeconômico que se instalou
no município, mas também pelo surgimento de uma nova ordem
econômica, a partir das agroindústrias, estimulando a migração
campo-cidade e, com isso, a formação inicial de áreas precárias em
Chapecó;
– a década de 1960 se destacou pelas transformações urbanas, devido
aos desdobramentos dessa nova ordem econômica e à condição de
polo regional que a cidade passou a exercer;
– a década de 1970 foi fortemente marcada pela expansão do núcleo
urbano, sendo que, enquanto a área central apresentava maior urba-
nização, as áreas das bordas do tecido urbano eram ocupadas de
maneira mais rarefeita e menos densa; nessa década, foi elaborado
e aprovado o primeiro Plano Diretor para a cidade, a qual recebeu
incentivos estatais para obras de infraestrutura;
– na década de 1980, uma nova lei de zoneamento impedia a instalação
da população de baixa renda nas áreas centrais, contribuindo para a
desigualdade socioespacial, um maior adensamento de áreas precá-
rias e o surgimento de novas áreas irregulares;
– a década de 1990 e o início do século XXI foram caracterizados pela
elaboração e aprovação, à luz do Estatuto da Cidade (2001), do novo
Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial (PDDTC), no qual
se definiram as linhas de crescimento, desenvolvimento e consoli-
dação do núcleo urbano; esse período foi marcado também, a partir
de meados da década de 2000, por forte pressão e investimentos do
setor imobiliário, assim como pela execução de projetos urbanos em
infraestrutura e equipamentos custeados pelo poder público que,
juntamente com o avanço dos interesses do capital – seja ele ligado ao
agronegócio ou ao terciário –, têm reestruturado a cidade.

Relembra-se que o processo da formação sócio-histórica e de estru-


turação urbana e regional, que antecede e também permeia os períodos
mencionados, já foi tratado no Capítulo 2. As discussões a seguir, com base
na divisão do período estudado em quatro etapas, apresentam os desdobra-
mentos espaciais das ações dos diferentes agentes na escala urbana.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 251

5.1. As décadas de 1930 e 1940: gênese da formação


da cidade

A partir de 1930, Chapecó passou a emergir como centro de referência


da região, por ser sede da comarca e concentrar serviços que atraíam o
fluxo de pessoas para a cidade. De acordo com Alba (2013), Chapecó já
apresentava destaque em relação aos outros municípios nos aspectos: renda
coletada nas exatorias estaduais, diversidade da produção de origem animal
e vegetal (madeira de lei e erva-mate) e variedade de produtos agrícolas e
pecuários. Muitas das atividades econômicas do início da colonização têm a
estreita relação com os saberes trazidos pelos migrantes gaúchos, como é o
caso da industrialização de produtos de origem suína.
O núcleo urbano existente, à época, como mostra a Foto 1, não passava
de uma pequena vila que se restringia às atividades de comércio dos pro-
dutos de primeira necessidade, onde os agricultores vendiam e compravam
produtos, atendendo somente às necessidades básicas da população, que
ainda se encontrava muito dispersa pelo território. As atividades industriais
existentes, por sua vez, estavam diretamente ligadas a essas necessidades
básicas e caracterizavam-se por serem pequenas iniciativas que operavam
de modo ainda artesanal.1 No início da década de 1930, Chapecó ocupava,
com os seus 811 habitantes, a penúltima posição populacional entre os 44
núcleos urbanos da rede de cidades de Santa Catarina. A então “Passo dos
Índios, pequena povoação no Oeste Catarinense, foi investida, em 1931,
nas funções de sede do município de Chapecó, passando, oficialmente, a
receber esse nome em 1938, quando foi elevada a categoria de cidade” (Pe-
luso, 1982, p.365).
Em 1931, a Companhia Colonizadora Bertaso elaborou o primeiro
Plano Urbano da cidade, mostrado na Figura 9, na qual se observa o tra-

1 Peluso (1982) aponta que o Departamento Estadual de Estatística (DEE, 1939) classificou
tais atividades em: beneficiamento de cereais, ferraria, marcenaria, olaria, serraria, carpin-
taria, fabricação de cerveja, curtume, funilaria e mecânica, sendo que nas seis primeiras
atividades havia somente um estabelecimento de cada em Chapecó. Segundo o mesmo autor,
o Censo Industrial de 1940 reconheceu que estavam em atividade, no município, 57 estabe-
lecimentos que empregavam um total de 311 pessoas, cujo coeficiente médio de ocupação de
mão de obra, de 5,45 por unidade fabril, evidencia o caráter artesanal da indústria.

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252 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

çado com vias retas e alinhadas que se cruzam perpendicularmente, com


uma morfologia típica do tabuleiro xadrez, tendo as quadras divididas em
porções iguais ou quase iguais. Esse núcleo, mesmo que inicial, procurava
reproduzir padrões de urbanização inspirados em propostas europeias, vi-
sando ao crescimento e à expansão de uma cidade planejada.

Figura 9: Chapecó. Plano Urbano. Início da década de 1930.


Fonte: Colonizadora Bertaso, reconstituído por Hermes (2003 apud Villela, 2007).

Foto 1: Chapecó. Vista da cidade no ano de 1935, cercada por mata composta principalmente
de pinheiros.
Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 253

Naquele momento, houve a necessidade de a colonizadora instalar um


mínimo de condições urbanas na sede do município, a fim de atrair um
contingente maior de migrantes. Para isso, começou a colocar em anda-
mento, de forma mais organizada e regrada, o projeto para o núcleo urbano
de Chapecó, onde ficava a sede da empresa. A partir de 1933, a ampliação
da estrutura física e organizacional desse núcleo foi iniciada (Foto 2), bem
como o detalhamento do referido Plano Urbano. O projeto urbanístico
(Figura 10) conformava 41 quadras de 120 por 120 metros, subdivididas
em aproximadamente 590 lotes capazes de abrigar mais de 2 mil pessoas.
Essa projeção demonstra a expectativa de um crescimento não só físico, de
ocupação da área a ser urbanizada, mas também econômico e produtivo,
haja vista a intensificação da única atividade industrial do município – a
extração da madeira, exportada por meio de balsas para a Argentina, nas
cheias do Rio Uruguai (Peluso, 1982), o que por muito tempo fortaleceu
as relações internacionais, principalmente de cunho comercial, já tratadas
anteriormente.
O desenho para a cidade tinha como foco central uma praça que, apesar
de naquele momento ainda não estar claramente definida nem delimitada,
viria a corresponder mais tarde à Praça Coronel Bertaso, palco das mani-
festações públicas da cidade, formando um espaço cívico composto pelo
conjunto da igreja e da prefeitura.
O sistema viário foi disposto de acordo com a malha ortogonal – e orien-
tado segundo as direções norte-sul e leste-oeste – bem como com a projeção
de quatro diagonais que partiam da referida praça, por meio de vias de
25 metros. Esse traçado geométrico impunha-se sobre os recursos natu-
rais, como rios, córregos e banhados, num relevo declivoso. Além disso,
destacava-se, no sistema viário, a avenida central, denominada Getúlio
Vargas, com caixa viária de quarenta metros, simbolizando, com este porte,
a expectativa de crescimento.
Com uma ocupação bem mais adensada em relação à década de 1930, o
traçado da década de 1940 (Figura 11 e Foto 3) apresentava-se com 89 quar-
teirões loteados, mais que o dobro da situação encontrada no mapa de 1933.
É evidente a previsão de expansão, expressa na projeção de grandes divisões
de lotes ao redor do núcleo urbano. Percebe-se também, principalmente
nas extremidades da malha urbana, certa fuga da regularidade do desenho
ortogonal do traçado, diferenciando-se de sua formação inicial. Isso se

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Figura 10: Chapecó. Projeto urbanístico. 1933.


Fonte: Colonizadora Bertaso, reconstituído por Hermes (2003 apud Villela, 2007).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 255

Foto 2: Chapecó. Vista da Avenida Getúlio Vargas. Década de 1940.


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

deve, entre outros fatores, ao fato de a urbanização naquele momento estar


se expandindo em direção às áreas com declives mais acentuados (leste-oes-
te). Apenas posteriormente observa-se um crescimento e desenvolvimento
da malha urbana também no sentido norte-sul.
Em 1940, o município contava com uma população de 44.327 habitan-
tes (Alba, 2013), sendo que a grande maioria (90,69%) vivia na área rural.
Como já citado, tal crescimento foi fruto de ações da colonizadora, por meio
das políticas de incentivo para atrair um contingente maior de migrantes,
o que de certa forma impulsionou as atividades econômicas do município.
Porém, diversos fatores dificultaram o desenvolvimento local, como a falta
de infraestrutura viária.
No âmbito da produção arquitetônica, houve uma renovação edilícia
por conta da instalação de olarias no município, alterando a paisagem ur-
bana, que passou da composição dos chalés de madeira para as edificações
em alvenaria, abrigando usos que começavam a se diversificar. Nota-se um
aumento na oferta de serviços a partir da metade do século XX, o que induz
a estabelecer esse período como um momento de implantação de atividades
voltadas a suprir as necessidades do crescimento populacional, fruto da mi-
gração cada vez mais forte. Atividades como o comércio e a indústria des-
pontavam no cenário urbano, tanto que, para dar suporte a elas, foi criado
no ano de 1947 o Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina (INCO).

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Figura 11: Chapecó. Plano urbanístico. Metade da década de 1940.


Fonte: Colonizadora Bertaso, reconstituído por Hermes (2003 apud Villela, 2007).

Foto 3: Chapecó. Vista da cidade por volta do ano de 1946.


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 257

De uma maneira geral, a década de 1940 representou um momento


positivo para o crescimento não só econômico, mas também de outros
segmentos do município, com a instalação de órgãos institucionais e equi-
pamentos urbanos.2 Tanto essa década quanto a subsequente foram favo-
ráveis à acumulação de capital, proporcionada pelo extrativismo vegetal, à
ocorrência do desenvolvimento da indústria e do comércio, acompanhado
pela chegada de novos profissionais. Também se percebe o avanço da urba-
nização da cidade pelos processos de abertura, alargamento e calçamento de
ruas e o melhoramento de sua praça central (Hass, 2003).

5.2. As décadas de 1950 e 1960: a estruturação da


cidade pela agroindústria

Durante a década de 1950, em meio às mudanças políticas brasilei-


ras e frente à estagnação mundial do segundo pós-guerra, a região ficou
marcada pelo episódio da chacina de quatro pessoas na cidade de Chapecó,
com fortes repercussões depreciativas para o município.3 O acontecimento
foi divulgado no estado, chegando a ser noticiado em todo o Brasil e até
internacionalmente. Chapecó ficou conhecida como a cidade dos “sem
lei”. Na esfera política, também existia um forte embate partidário à época,
em adição às práticas de atuação cujas características eram remanescentes
do coronelismo. Esse conjunto de acontecimentos acabou por distinguir
negativamente essa década.
Para reverter essa situação, as autoridades municipais buscaram uma es-
tratégia que amenizasse os fatos e permitisse a retomada do crescimento das
atividades econômicas e sociais que se mantinham estagnadas, principal-
mente após o evento da chacina. Nas décadas de 1950 e 1960, a economia
da madeira ainda tinha significativa importância. Por outro lado, crescia
a demanda pelos suínos, e a atividade da suinocultura, que era apenas de
subsistência, passou a se inserir num processo produtivo modernizado.

2 Citam-se: o surgimento do primeiro cinema, em 1943; a Delegacia Regional de Polícia, em


1946; entidades de órgãos públicos, estaduais e federais, como a criação do posto de saúde
estadual; a instalação do Departamento de Estradas e Rodagens (DER); serviços radiote-
legráficos da polícia militar do estado, todos em 1947; criação de órgãos privados, como a
Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC) e da imprensa, com o Jornal d’Oeste;
da empresa Força e Luz, em 1948; do aeroclube, em 1948 e, em fase experimental, a rádio
Sociedade Oeste Catarinense, em 1949 (Hass, 2000).
3 Para mais detalhes, ver Hass (2003).

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A característica do relevo acidentado, associada à forma de colonização,


com lotes rurais de 25 a 30 hectares, foram fatores decisivos para a insta-
lação da agricultura familiar de subsistência, calcada na policultura. Essa
atividade teve um papel extremamente importante na base da produção
agrícola e acabou por influenciar também a implantação das agroindús-
trias, pois o agricultor buscava gerar excedentes para fomentar a demanda
pela matéria-prima, o que contribuiu para a instalação de frigoríficos na
região (Espindola, 1999). A suinocultura começou a transpor os limites da
região, firmando-se como uma atividade econômica viável e destacando o
município de Chapecó no estado catarinense.
A instalação de frigoríficos para abate de suínos visava atender à cres-
cente demanda dos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro. Diversas em-
presas se estabeleceram no Oeste Catarinense,4 possibilitando um novo
período de crescimento das atividades econômicas da região. A partir disso,
novas instituições continuaram a surgir, a fim de fomentar ainda mais esse
processo de crescimento.5
Com a atividade econômica em expansão, a suinocultura passou por uma
mudança em sua dinâmica, sendo a agroindústria a propulsora dessa cadeia
produtiva. Em 1954, as indústrias já não eram mais do tipo artesanal, pois

[...] o coeficiente de utilização de mão de obra por unidade fabril das indústrias
“diversas” era 22,14, mostrando que indústrias médias já se tinham instalado
na cidade. Tratava-se da indústria de produtos suínos. Em 1958, o Depar-
tamento Estadual de Estatística assinalava a presença, em Chapecó, de duas
fábricas, com total de 29 operários. Não era mais a fábrica de banha não refi-
nada, já existente em 1950, mas frigoríficos que beneficiavam o produto da
suinocultura, a grande riqueza da região. (Peluso, 1982, p.383)

4 Destacam-se as seguintes instalações: na década de 1940, dos frigoríficos da Sadia e da


Perdigão S/A, no Vale do Rio do Peixe, em Videira/SC; em 1952, da Sociedade Anônima
Indústria e Comércio Chapecó, denominada Chapecó Industrial (SAIC); em 1956, do frigo-
rífico de Seara/SC e do frigorífico Indústria e Comércio Marafon Ltda. (INCOMASA), em
Chapecó/SC; em 1962, do Frigorífico Safrita, em Itapiranga/SC; e em 1969, da Unifrigo,
em Salto Veloso/SC e da Cooperativa Central Oeste Catarinense, em Chapecó/SC, formada
a partir de cooperativas singulares, entre as quais a Cooper Alfa e a Cooper Central, que
fazem uso da marca Aurora (Alba, 2002).
5 Tais como a criação do jornal O Imperial e do Jornal do Povo, em 1951; a fundação da Asso-
ciação dos Balseiros do Rio Uruguai e a inauguração de uma filial do Banco do Brasil, ambas
em 1952; a implantação do Quartel da Polícia Militar, em 1953; e a criação da Diocese de
Chapecó, em 1958, cuja instalação ocorreu no ano seguinte (Hass, 2000).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 259

Nesse sentido, para garantir a obtenção de matéria-prima, no início dos


anos 1960, a Sadia ensaiou a primeira forma de integralização do produtor
rural, inicialmente, com a participação de familiares e parentes ligados à
própria empresa e, mais tarde, se estendendo a outros produtores.
Com a crescente afirmação da agroindústria, uma nova ordem econô-
mica local foi se estabelecendo, estimulando também a migração campo-
-cidade. Chapecó começa a se destacar como um ponto de convergência na
região, devido aos empreendimentos comerciais e industriais que passa a
receber, os quais, por sua vez, demandam melhorias nas estradas de roda-
gem, a fim de facilitar a conexão com grandes centros do país e a consolida-
ção do núcleo urbano (Foto 4 e Figura 12).

Foto 4: Chapecó. Vista parcial da Avenida Getúlio Vargas, onde pode-se observar a Catedral
Santo Antônio na década de 1950.
Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

Ao longo das décadas de 1950 e 1960, muitos novos municípios foram


constituídos a partir de Chapecó, totalizando a emancipação de 36 deles
nesse período. Tal fato pode ser verificado pela redução no total de habitan-
tes de Chapecó (Hass, 2000, p.118) nessas décadas, demonstrada no Capí-
tulo 1, pela Tabela 1. Relembra-se que o meio rural, até a década de 1970,
ainda abrigava o maior número de habitantes. Todavia, mesmo sofrendo
desmembramentos, Chapecó continuava seu processo de crescimento,
tanto populacional quanto econômico.

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Figura 12: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 1957.6

6 O conteúdo informativo dos cartogramas foi elaborado a partir de Facco (2011, p.75): “O
material compilado refere-se às aerofotocartas de 1957, 1979, 1988 e 1996. Esse material,
originalmente existente apenas em formato físico e dividido em quadrantes, foi digitalizado
para posterior montagem e georreferenciamento das aerofotocartas, em software específico
chamado ArcView. Como a imagem de 2009 já estava digitalizada e georreferenciada sobre
os trinta e sete marcos colocados pela empresa Prosul no núcleo urbano de Chapecó, em
coordenadas Universal Tranversos Mercator (UTM), tomou-se a mesma como referência.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 261

É importante destacar que num contexto mais amplo, no início da década


de 1960, a economia brasileira sofria os impactos dos altos índices de inflação,
na casa de 90% anuais. O governo militar recém-instalado criou um plano
de estabilização econômica, o Programa de Ação Econômica do Governo
(PAEG), o qual tinha por base o desenvolvimento da indústria brasileira,
mediante subsídios e estímulos. Os incentivos para o desenvolvimento das
indústrias do PAEG geraram o “milagre econômico”,7 no fim dessa mesma
década (Rego, 2010).
As medidas tomadas favoreceram a economia em âmbito nacional, com
crescimento em diversos setores, beneficiando diretamente, da mesma
forma, a agroindústria do Oeste Catarinense, por meio de incentivos fiscais
e financeiros. Segundo a lógica governamental, com o intuito de formar
uma sociedade industrial, moderna e competitiva, os investimentos do Pro-
grama foram direcionados às cidades do interior do país, promovendo uma
descentralização da industrialização (Reche, 2008).
Entre os anos de 1963 a 1980, o Banco Regional de Desenvolvimento
do Extremo Sul (BRDE) disponibilizou também várias operações para o
setor industrial catarinense, liberando um montante de recursos no valor
de US$ 1,2 milhão, dos quais o setor agroalimentar recebeu a maior fatia:
18,6% do montante foram destinados para o incremento da suinocultura
e da avicultura comercial (Espindola, 1999). Pode-se dizer que o avanço
da agroindústria nas décadas de 1960 e 1970 ocorreu, em parte, devido ao
incentivo financeiro do estado, à época, governado pelos militares. Além
disso, no Oeste Catarinense, o processo de agroindustrialização se deu em
função de um conjunto de fatores favoráveis à sua formação, tais como: as
pequenas propriedades rurais, a mão de obra familiar, as terras férteis, a
matéria-prima produzida em toda a propriedade rural e o espírito trabalha-
dor (empreendedor) do migrante (Espindola, 1999).
Associado a esse processo, a partir da década de 1960 o município de
Chapecó, então com uma população em torno dos 50 mil habitantes, pas-

[...]. Após, delimitou-se os espaços urbanos consolidados (chamados de ocupados ou habi-


tados), os vazios e os espaços com indícios de ocupação futura, chamados de ocupação não
consolidada em cada intervalo de tempo”.
7 Na década de 1960, sob o regime militar, a economia brasileira, baseada no sistema agroex-
portador, avançou com as ações do governo por meio do Programa de Ação Econômica do
Governo (PAEG) e da implementação de um conjunto de transformações – redução da taxa
de juros, reforma bancária, criação do sistema de habitação. Essas ações geraram a estabili-
dade econômica que proporcionou as bases do “milagre econômico” de 1968.

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sou por uma transformação em sua dinâmica de organização e estrutura


espacial (Figura 13), desencadeada pela iniciativa privada, gerando no
município uma maior demanda por empregos, serviços, educação, saúde
e, principalmente, por habitação. Em relação a esta, destaca-se o início do
espraiamento das áreas urbanas consolidadas, reforçado pela inserção de
novos loteamentos mais afastados do núcleo urbano central e instalados
próximos às agroindústrias, a fim de abrigar os trabalhadores dessas em-
presas. Como será observado no período seguinte, essa condição persistiu
por ação não só dos agentes privados, mas também do poder público, por
meio da normatização do Plano Diretor da década de 1970.
Uma comparação entre as áreas urbanas consolidadas em 1957 e em 1965
e suas respectivas paisagens – verificadas nas Figuras 12 e 13 e nas Fotos de
4 a 7 – demonstra o crescimento de mais bairros em torno da área central,
bem como a expansão mais contínua a nordeste, principalmente quando
comparada com o núcleo urbano de 1931. Villela (2007) considera essa
constatação um sinal evidente do processo de expansão da malha urbana.
Para entender a função econômica de Chapecó, salienta-se que em 1963
o governo estadual instalou na região a Secretaria de Estado dos Negócios
do Oeste, que teve como meta promover o crescimento e o desenvolvimen-
to da região por meio de grandes investimentos, especialmente em infraes-
trutura, como a construção de estradas e pontes, a melhoria no aeroporto,
na distribuição da energia elétrica, na telefonia, na saúde e na educação
(Alba, 2002). No meio rural, promoveu a formação de associações rurais,
mediante as quais havia incentivos para o sistema troca-troca de sementes
melhoradas e a compra de medicamentos, entre outras finalidades (Cha-
pecó, 1967). Na época, foi a única secretaria de estado instalada fora da
capital. A esse fato deve-se, para Reche (2008), a condição de polo regional
que a cidade passou a exercer desde então.
No tocante à estruturação viária, a melhoria das estradas ficou eviden-
ciada por todo o país, tanto que “a partir de 1960, constroem-se estradas de
rodagem de primeira ordem. O Brasil passa a ser cruzado por um grande
número de rodovias de boa qualidade, entre as quais um bom percentual
de autopistas” (Santos, 1993, p.39), o que demonstra que o problema de
isolamento, devido à falta de infraestrutura, caracterizou uma situação de
abrangência nacional, de forma que a necessidade de vencer distâncias sig-
nificou até mesmo vencer uma luta pela própria sobrevivência.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 263

Figura 13: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 1965.

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Foto 5: Chapecó. Vista da cidade em fins da década de 1950


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

Foto 6: Chapecó. Vista parcial da Avenida Getúlio Vargas na década de 1960


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 265

Nesse aspecto, destaca-se o início das obras da ponte sobre o rio Uru-
guai, em 1969 (Foto 7), que melhorou e incentivou as conexões externas,
integrando definitivamente a rede viária de Santa Catarina à do Rio Grande
do Sul. Assim, por meio de melhoramentos em sua modesta rede rodoviária
e da construção de novas rodovias (Peluso, 1982), Chapecó e a região oeste
de Santa Catarina começaram a vencer, lentamente, o isolamento. À medi-
da, portanto, que as distâncias foram sendo superadas, a cidade continuava
a se consolidar e suas empresas se tornavam cada vez mais competitivas no
cenário nacional. Já em relação à mobilidade urbana, houve a implantação
do sistema de transporte coletivo, em 2 de novembro de 1967 (Santos;
Fanin; Bellani, 1999), em parte da área urbana da cidade, possibilitando a
dispersão da malha no sentido sul.

Foto 7: Ponte sobre o rio Uruguai ligando o Rio Grande do Sul a Santa Catarina. Fevereiro
de 1975.
Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

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266 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Ao mesmo tempo, no entorno das indústrias, surgiram as vilas de ope-


rários que, posteriormente, formaram bairros da cidade, como mencionado
anteriormente, a exemplo do que ocorreu com a instalação do Frigorífico
Chapecó (Sociedade Anônima Industrial Chapecó – SAIC): da pequena
vila criada para abrigar seus funcionários resultou a conformação do bairro
SAIC, em alusão ao frigorífico. Nesses locais eram frequentes a debilidade
das construções e a falta de saneamento básico. Segundo Villela (2007),
essas carências traduziam a falta de capacidade de resposta, por parte do
poder público, em dotar a cidade de infraestruturas físicas a fim de dar su-
porte ao crescimento populacional da época, tornando maior a necessidade
de ações mais contundentes.
Gomes (1998) relata que a formação inicial de áreas segregadas na cida-
de, concernentes ao aspecto socioespacial, ocorreu com a vinda de inúmeras
famílias de “intrusos”, como eram chamados os caboclos que se estabele-
ceram em áreas precárias. Reforçando o processo, destaca-se que muitas
famílias de poucos recursos também foram removidas da área central da
cidade e alocadas no Bairro São Pedro, a três quilômetros do centro. Essa
medida permitia, como lembra Wollf (2008), esconder dos olhos de inves-
tidores e visitantes a real situação social da cidade, não resolvendo o grave
problema social, como ilustra Gomes (1998 apud Hass, 2006, p.75):

O local passou a ser um “depósito de massa sobrante” efetivamente a partir


de 1965 [...] famílias, que foram morar em ranchinhos de tabuinhas, palhas de
babaçu, sapê, latas de azeite, querosene, papelão e algumas poucas de lonas à
beira do rio. Apenas duas ou três casas tinham telhas.

Vale lembrar que a espoliação e a exclusão de populações que não se


enquadravam no projeto de sociedade das camadas dominantes não ocor-
reram somente nos casos citados, uma vez que a ocupação promovida pela
companhia colonizadora, juntamente com os migrantes, deu-se mediante
a expulsão/marginalização dos nativos, indígenas e caboclos que já habi-
tavam o território originalmente. Assim, principalmente após 1950, essas
pessoas, atraídas pelas oportunidades oferecidas pelas emergentes ativida-
des industriais e comerciais, passaram a formar os “cinturões de barracos”
em torno da cidade (Fujita et al., 2011a; Gomes, 1998).
Portanto, seja pelo processo colonizador e/ou de remoção, o bairro São
Pedro figura como síntese da desigualdade socioespacial em Chapecó, de

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 267

modo que a população nele instalada carrega um pesado estigma até os dias
atuais. Além da remoção, segundo Gomes (1998), a colonizadora estabe-
leceu o loteamento popular com base em terrenos pequenos, de dez por
quinze metros, determinando que, caso não fossem pagos, haveria novo
despejo para outra área ainda mais distante. A empresa também não forne-
cia escrituras aos moradores, para que não pudessem vender os imóveis e,
com isso, estabelecer-se irregularmente em outros locais.
Se, por um lado, o processo de discriminação social e exclusão espacial
se aprofundava, por outro, a pujança econômica do município se refletia em
outros indicadores, tal como a inserção gradativa de Chapecó no mercado
nacional, passando a ser, naquele momento, um dos principais municípios
arrecadadores do estado. Devido à sua base agroindustrial, a cidade foi
também estabelecendo uma política de fixação e reconhecimento de suas
atividades econômicas.
Como reflexo desse processo, em 1967, no cinquentenário do municí-
pio, ocorreu a primeira Exposição Feira Agropecuária Industrial de Cha-
pecó (EFAPI), a partir da qual, mais tarde, iria se formar uma das maiores
aglomerações de moradia da cidade, combinada a investimentos em indús-
trias e comércio, tal como já explicado em outros capítulos. Também não é
fortuito que, ao final da década de 1950, tenham surgido dois loteamentos
de padrão elevado na cidade, o Jardim Itália e o Santa Maria, hoje bairros
de classe média/alta.
Essas contradições socioespaciais, refletidas pelas diferentes condições
de acesso à cidade a depender de quais segmentos se tratam, evidenciam
conflitos que surgem na tensão entre os interesses de agentes associados à
reprodução do capital e as necessidades essenciais inerentes à reprodução
social de inúmeros grupos, reconhecidos ou não, ao longo da trajetória de
(re)estruturação urbana.

5.3. As décadas de 1970 e 1980: a expansão da cidade


e da desigualdade socioespacial

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, associado ao crescimento eco-


nômico e à consolidação dos frigoríficos, houve também um considerável

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incremento populacional em Chapecó, passando de 49.865 para 83.765


habitantes, sendo que a população urbana no período quase triplicou,
acompanhando o processo de urbanização brasileira. Em 1970, 59% dos
moradores chapecoenses estavam no campo, ao passo que em 1980 essa
porcentagem baixou para 34%. Desde então, a população urbana só tem
crescido, chegando a mais de 90% já na década de 2000, o que de modo
algum quer dizer que o rural perdeu sua importância, já que Chapecó se
revela justamente na interação dialética entre o urbano e o rural. O urbano
só é urbano pela presença do rural, diretamente interligado a ele, tal como
se percebe neste estudo.
Em 1970, o núcleo urbano apresentava densidade e ocupação do solo or-
ganizadas de maneira concêntrica e de acordo com a renda: área central com
maior concentração habitacional (trinta hab./ha) e áreas periféricas ocupa-
das de maneira mais rarefeita e menos densa, numa relação de dez a vinte
hab./ha (Reche, 2008). Todavia, o crescimento populacional não ocorreu
de forma assistida, em termos de provimento de políticas públicas sociais.
As consequências do abrupto adensamento do espaço da cidade come-
çavam a se fazer presentes. Deve-se considerar que a arrecadação do muni-
cípio não possibilitava amplos investimentos a fim de viabilizar e prover a
cidade na mesma rapidez com que o seu núcleo urbano se consolidava. Por
outro lado, também não era preocupação corrente dos poderes públicos
o enfrentamento da exclusão social, permitindo assim o agravamento da
desigualdade socioespacial, já deflagrada nas décadas anteriores. Dessa
forma, os investimentos em infraestrutura, saneamento básico, habitação,
fornecimento de energia elétrica e transporte coletivo, entre outros, não
acompanhavam o ritmo do crescimento urbano, que já contabilizava 39
loteamentos.
A expansão do núcleo urbano (Figura 14 e Foto 8) trouxe também im-
pactos negativos na qualidade de vida da população e no meio ambiente,
devido ao crescimento precário da cidade e ao adensamento populacional,
provocado em grande parte pelos migrantes que a cidade teve que absorver,
bem como aos problemas causados diretamente pelas indústrias, como a
poluição atmosférica, a contaminação e o esgotamento de mananciais.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 269

Figura 14: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 1979.

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Foto 8: Chapecó. Vista aérea da área central da cidade em 1971 e seu eixo estruturador – Av.
Getúlio Vargas.
Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

Os migrantes vinham para Chapecó em busca de renda e de melhoria


das condições de vida, atraídos não só pelas agroindústrias, mas também
pelo surgimento do setor metal-mecânico e de plásticos e, igualmente, pela
implantação do ensino superior, por meio da Fundação do Desenvolvimen-
to do Oeste (FUNDESTE).8 Segundo Aléssio (2002), esse sonho se trans-
formou em pesadelo, na medida em que a realidade com que os migrantes
depararam contribuiu para o empobrecimento da maioria dessa população
que, sem ter onde morar, estabeleceu-se irregularmente e de modo precário
em áreas públicas ou privadas, desprovidas de infraestrutura urbana.
Não obstante o cenário de precariedade urbana, não foi essa a moti-
vação principal para a elaboração do primeiro Plano Diretor da cidade.

8 A FUNDESTE é a atual mantenedora da Universidade Comunitária da Região de Chapecó


(Unochapecó), da Farmácia Escola e do Instituto Goio-Ên.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 271

Ele surgiu num momento em que organismos federais financiavam e for-


neciam suporte técnico para que equipes desenvolvessem planos para as
cidades, com investimentos destinados ao desenvolvimento industrial.
Como Chapecó encontrava-se num acelerado processo de urbanização
devido às agroindústrias, o plano surgiu para responder às demandas ins-
taladas. Com base na cartilha modernista, o documento desconsiderava a
existência de conflitos urbanos, relativos principalmente à desigualdade
social (Reche, 2008). Dessa forma, coordenado pelo governo federal, por
intermédio do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) e
elaborado por uma empresa privada, foi aprovado, em 1974, o primeiro
Plano Diretor da cidade.
De acordo com o documento, as redes de infraestrutura urbana básica
seriam distribuídas gradualmente do centro para a periferia. Previa tam-
bém contornos viários, a fim de prevenir o confronto entre as funções do
centro urbano e os transtornos nele causados pelo volume crescente de trá-
fego das rodovias que convergiam para a cidade. Outro elemento importan-
te consistia no incentivo à instalação de indústrias, por meio de benefícios e
isenções fiscais (Reche, 2008).
Em 1977, o plano sofreu alterações, entre elas o aumento dos índices
de aproveitamento nas áreas centrais, o que se refletiu numa tendência à
verticalização, ainda que incipiente. Foram diminuídas as exigências para
a aprovação de novos loteamentos, principalmente no tocante à infraes-
trutura urbana. Permitiu-se, assim, o alargamento do perímetro urbano da
cidade com a finalidade de regularizar loteamentos descolados da malha,
principalmente bairros de operários próximos às indústrias, evidenciando a
exclusão espacial e gerando os primeiros vazios urbanos. Sem ser integral-
mente implementado, o Plano Diretor de 1974 foi revogado por uma nova
lei de zoneamento, elaborada por uma equipe interna do município, em
1980 (Reche, 2008).
A partir da segunda metade da década de 1970, a cidade recebeu grandes
incentivos estatais em obras de infraestrutura, como a canalização de rios,
o melhoramento no sistema de telefonia e a ampliação do fornecimento de
energia elétrica e de abastecimento de água. No âmbito do sistema viário,
ocorreu a reestruturação das vias de acesso às indústrias, a pavimentação e
o asfaltamento da área central (Reche, 2008). No final da década, o Plano

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272 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada (CURA), desenvolvido


pelo governo federal9 com a finalidade de intervir nas áreas mais problemá-
ticas dos municípios,10 levou infraestrutura para alguns bairros de Chapecó
(Reche, 2008), sem contemplar, porém, os mais precários.
Para o município, o mecanismo de arrecadação para a quitação, junto
ao BNH, dos recursos oriundos do CURA ficou vinculado à implanta-
ção do IPTU progressivo no espaço, o qual ficou caracterizado pelo seu
objetivo principal de “[...] onerar a propriedade especulativa e promover
o adensamento” (Serra, 1991, p.109). O poder público se via obrigado a
pagar seus débitos junto ao BNH, o que obrigatoriamente exigiu o repasse
da dívida para os moradores, através do aumento do IPTU, resultando,
certamente, numa política excludente no que se refere à localização e à
ocupação do solo no município, expulsando das áreas beneficiadas com
infraestrutura os moradores menos favorecidos que ali habitavam. Segundo
Santos (1994):

Essa lógica é a da valorização-desvalorização diferencial dos diversos seto-


res urbanos. Como, porém, esses projetos CURA. são geralmente associados
ao programa das cidades médias, aglomerações destinadas a acolher atividades
econômicas modernas descentralizadas, o resultado comum é o aumento do
valor de todos os terrenos equipados e a reativação, em nível superior, dos pro-
cessos espaciais que já definem a problemática urbana. (Santos, 1994, p.113)

Em Chapecó não foi diferente. Os recursos do CURA foram aplicados


principalmente em áreas de maior renda e que acabaram por se valorizar
ainda mais com esses investimentos. Os primeiros bairros a usufruírem do
Plano CURA-I (entre 1977 a 1978) foram Presidente Médici, Santa Maria
e Maria Goretti, que atualmente abrigam segmentos da classe média/
alta. Exceção foi o Bairro Aeroporto (atual Bairro São Cristóvão), único de

9 Usava recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH) por meio da aplicação de fundos do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
10 As categorias gerais para aplicação dos recursos eram: sistema viário; drenagem; educação
e cultura; serviço social; recreação e lazer; iluminação pública; transportes urbanos; saúde;
abastecimento de água; coleta de esgotos; comércio e abastecimento; desapropriação; estu-
dos e projetos; gerenciamento (Villela, 2007).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 273

menor renda, formado ao redor de agroindústria e ocupado predominante-


mente por população operária.
De meados da década de 1980 à década seguinte, começaram a ficar
evidentes, no cenário nacional, os impactos do crescimento da cadeia da
agroindústria e as implicações da globalização e das políticas econômicas
mundiais dominantes. Se, por um lado, a agroindústria baseada na região
buscava se inserir no mercado internacionalizado, por outro, as atividades
produtivas sofreram duramente pela perda de competitividade, gerando
problemas sociais e ambientais nas escalas urbana e regional, provocados
pela concentração e a intensidade dessas mesmas dinâmicas produtivas
(Vieira; Cunha, 2002). Contudo, é inegável que a agroindústria ainda cons-
tituía base da economia de Chapecó e região, de modo que essa ativida-
de possui papel importante na estruturação da cidade, sobretudo por sua
vinculação com o mercado nacional e internacional. As empresas do setor
desempenham função importante na economia do município ainda hoje.
Além desses fatores externos, outros elementos influenciaram o pro-
cesso de reestruturação urbana, dentre os quais se destaca a Lei de Zonea-
mento de 1980, aprovada juntamente com a Lei dos Loteamentos e a Lei
de Obras e Arquitetura. Diferentemente do plano de 1974, essa lei tratava
apenas de aspectos físico-territoriais relacionados aos parâmetros de uso e
ocupação do solo, de forma jurídica, sem apresentar princípios e diretrizes
referentes ao desenvolvimento da cidade (Reche, 2008).
Naquele momento, houve o espraiamento dos loteamentos nas direções
norte e sul da malha urbana, como mostram a Figura 15 e a Foto 9, bem
como a criação de entraves, para não dizer impedimentos, para a oferta de
moradias populares nas áreas centrais, em virtude do alto valor da terra
induzido pelo ordenamento territorial proposto pela legislação urbana,
gerando a disseminação de áreas precárias nos bordos da cidade, observada
até os dias de hoje. Além disso, o período entre as décadas de 1970 e 1990
caracterizou-se pelo mais intenso surgimento de novas áreas irregulares,
chegando ao percentual de 77,3% das áreas existentes até 2011, o que revela
a falta de efetividade das políticas públicas habitacionais durante esses anos
(Fujita et al., 2011b). Paralelamente, merece destaque o surgimento, a oeste
da malha, do Loteamento Colina do Sol em 1989, no Bairro Efapi, tendo
como finalidade a melhoria da qualidade de vida das famílias de baixa renda.

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Figura 15: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 1988.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 275

Com o passar do tempo, e por sua proximidade tanto com os frigorífi-


cos Aurora e Sadia quanto com a Universidade Comunitária da Região de
Chapecó e com o Parque de Exposições Tancredo de Almeida Neves, entre
outros serviços que nela se consolidaram, essa área teve o preço da terra va-
lorizado, ocorrendo, consequentemente, a transformação social e econômi-
ca do local, o que acarretou a expulsão das camadas populares, bem como
o déficit de moradias na cidade e a exacerbação da especulação imobiliária
(Barbosa, 2005).

Foto 9: Chapecó. Vista panorâmica da Av. Getúlio Vargas na década de 1980.


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

Assim, o zoneamento de 1980 aprofundou a segregação socioespacial,


como consequência de parâmetros urbanísticos que consolidaram as áreas
centrais e os bairros elitizados para as tipologias unifamiliares em lotes de
maior metragem – portanto, mais caros –, restando para a expansão urbana
periférica e descontínua o papel de abrigar as camadas de baixa renda, como
pode ser observado na transição entre as Figuras 14 (área consolidada de
1979) e 15 (1988) e as Fotos 8 e 9, que retratam a transformação das formas
da paisagem da Avenida Getúlio Vargas entre as décadas de 1970 e 1980,
podendo-se observar o início da verticalização que caracteriza a avenida
nos dias atuais.

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276 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

5.4. A década de 1990 e o início do século XXI: a cidade


desigual

Em 1990, a Lei de Zoneamento então em vigor foi substituída pelo


Plano Diretor Físico-Territorial (Lei Complementar no 4, de 31 de maio de
1990) e pela nova Lei de Zoneamento, a qual apresenta poucas alterações
em relação à de 1980 (Reche, 2008).
No que se refere ao tratamento da questão habitacional, o Plano não
reconhece as áreas irregulares nem determina ao poder público o desen-
volvimento de ações efetivas para a resolução do problema, resumindo-se
a remediar a situação com o provimento de lona às populações que viviam
nesses assentamentos (Moser, 1995). Essa política tendeu a se modificar
a partir de 1997, quando ocorreu um rompimento na conjuntura da polí-
tica municipal, com a eleição de um candidato afinado com as demandas
populares, cujo governo tratou a questão habitacional em consonância
com as discussões que antecederam a aprovação do Estatuto da Cidade
(Hass, 2006) e pôs em prática, no mesmo ano, o Programa de Regularização
Fundiária, demonstrando as intenções municipais para o enfrentamento da
pobreza.
Destaca-se nessa política a instituição do “Congresso da Cidade” (De-
creto Municipal no 8.850, de 2 de janeiro de 2001), o qual iniciou o processo
de revisão do Plano Diretor de 1990. Entre os temas tratados estavam a
reforma urbana, a garantia do direito à moradia e o cumprimento da função
social da propriedade. Em paralelo, desenvolveram-se ações mais efetivas
no combate à problemática habitacional, como o projeto para a Vila Beti-
nho, voltado à urbanização de uma das favelas mais antigas de Chapecó.
Implementado no primeiro semestre de 2001, foi um dos vinte projetos
finalistas do Prêmio Caixa Melhores Práticas daquele ano.
A questão habitacional passou a predominar como temática, seja no
âmbito do executivo municipal, seja no nível comunitário, o que foi tes-
temunhado durante o processo de elaboração do Orçamento Participati-
vo, dentro do qual a habitação e a regularização fundiária ganharam peso
gradativo nos debates, tanto que, em 2003, acabou sendo definida como
temática prioritária. Nesse contexto, a produção habitacional de interesse
social de Chapecó tem acompanhado a lógica das políticas habitacionais
brasileiras, sendo que, até meados de 2005, a tipologia habitacional predo-

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 277

minante eram casas térreas isoladas no lote e implantadas em terrenos de


aproximadamente 200 metros quadrados (Monteiro, 2006).
Voltando ao Plano de 1990, observa-se que a produção de novas habita-
ções se limitou à inserção da categoria “habitação multifamiliar popular”,
entre os usos previstos no zoneamento urbano, restringindo a, segundo
Monteiro (2006), a apenas 0,8% da área urbanizada na época. Por outro
lado, considerando que os assentamentos precários e irregulares instalados
na década de 1990 já deveriam sofrer os efeitos das políticas públicas fede-
rais, que em vez de realocação preconizavam a urbanização dessas áreas,
surpreende que o lugar da habitação popular, no zoneamento, não estives-
se articulado espacialmente com as áreas irregulares existentes na época
(Moser, 1995).
Independentemente do Plano, é importante destacar que o processo de
produção e uso do solo urbano nesse período esteve caracterizado pela con-
centração de atividades econômicas na área central da cidade, embora ocor-
resse certa descentralização ao longo de algumas vias coletoras e estruturais,
à medida que nelas se estabeleciam atividades industriais, comerciais e de
serviço, gerando assim outras polaridades em espaços periféricos (Mon-
teiro, 2006). A expressão mais evidente do processo foi a consolidação do
bairro Efapi, composto pela totalidade da mancha oeste da malha urbana
(Figura 16 e Foto 10), o qual durante as décadas de 1990 e 2000 passou a
concentrar o maior crescimento populacional, sobretudo pela iniciativa do
capital imobiliário, responsável pela criação de loteamentos. Quanto à ex-
pansão do tecido urbano nesse período, Monteiro (2006) ressalta também
que o surgimento dos empreendimentos mostrou um avanço predominante
nas direções leste e oeste.
Outro processo marcante foi a proliferação de vazios urbanos, resultado
da especulação imobiliária e do espraiamento dos assentamentos, sobretudo
os de baixa renda, incentivados pela própria legislação urbana desde o fim
da década de 1970. Esses vazios urbanos contribuem, desde aquela época,
para o aumento do preço do solo, fazendo que a clientela que não consegue
pagar pelo valor do acesso à terra urbana tenha como opção as ocupações
irregulares, a coabitação ou outras formas precárias de moradia. Em seu
estudo, Reche (2008) constata que, no geral, 12,5% da malha urbana, em
2003, era composta por vazios urbanos médios e grandes, configurando
um quadro de subaproveitamento da infraestrutura urbana e acentuando

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Figura 16: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 1996.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 279

Foto 10: Chapecó. Vista aérea na década de 1990.


Fonte: Acervo CEOM/Unochapecó.

a segregação espacial, mesmo que bairros periféricos como o Efapi tenham


se adensado. Contudo, são aqueles os espaços que hoje possuem potencial
para receber equipamentos públicos e de dinamização da vida coletiva.
Quanto às áreas irregulares, até o ano de 2004, verificou-se um cres-
cimento de 90,36% no número de famílias assentadas nesses locais, em
relação a 1993 (conforme Quadro 10). Já em 2010, houve uma redução
de 29,53% desse contingente populacional, por conta das políticas de re-
gularização. É interessante destacar que 87,49% dos assentamentos eram
compostos por até cinquenta famílias, conformando núcleos relativamente
pequenos, em sua maioria pulverizados pelo tecido da cidade.

Quadro 10: Chapecó. Evolução da população em áreas irregulares. 1993-2010.


Data Famílias Focos Crescimento do número de famílias (%)
1993 1.318 – –
2004 2.509 90 +90,36
2010 1.768 56 -29,53
Base de dados: Secretaria Municipal de Habitação; Moser (1993 apud Cunico, 1998). Elaborado por Matheus
Rigon (2012).
Fonte: Fujita et al. (2011b, p.8).

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280 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quanto à localização, em 2010 39 das 56 áreas irregulares encontravam-


-se nas franjas da malha urbana ou perto de vazios urbanos, o que reforça o
grau de segregação socioespacial, em função da distância dos equipamentos
urbanos e da precariedade dos assentamentos. No entanto, o crescimento
urbano nos últimos anos tem levado à ocupação desses vazios, aproximan-
do a urbanização formal das áreas irregulares, conforme ilustra a Figura 17,
na qual se observa a localização das áreas irregulares e regularizadas e dos
conjuntos habitacionais de interesse social uni e multifamiliares, entre 2004
e 2010 (Fujita; Rigon; Ceolin, 2012).
Quanto ao aspecto socioambiental, constatou-se que aproximadamente
a metade das áreas irregulares existentes em 2010 (29 áreas – 51,78% do
total) está situada em área de preservação permanente (APP), ao longo de
rios e córregos, configurando localizações em que há risco de alagamentos.
O segundo caso mais recorrente refere-se a ocupações em APP caracteri-
zadas pela existência de recursos hídricos e encostas, onde a declividade do
terreno é superior a 35% (Fujita; Rigon, 2012).
Fujita et al. (2011b) destacam ainda que as dez áreas irregulares com maior
população em 2010 surgiram entre 1980 e 1990, sendo que 45% desse total
estão sobre áreas de até 5 mil metros quadrados, entendidas como pouco ex-
tensas (Tabela 6). A condição fundiária nesses assentamentos aponta que em
53,57% dos casos as famílias ocupam individualmente uma área de até 250
metros quadrados, situação essa que ao menos se enquadra nos instrumentos
de regularização fundiária constantes no Plano Diretor de Desenvolvimento
Territorial de Chapecó de 2004, o qual será comentado mais adiante.

Tabela 6: Chapecó. Panorama histórico de ocupação das áreas irregulares.* 1910-2004.


Data de ocupação Número de áreas ocupadas Porcentagem**
Década de 1910 1 1,03% 4,12%
Década de 1970 3 3,09% 77,30%
Década de 1980 30 30,92%
Década de 1990 42 43,29%
2000-2004 7 7,21% 7,21%
Desconhecido 14 14,43% 14,43%
Total 97 100,00%
* Consideram-se todas as áreas irregulares em 2010, em adição às regularizadas entre 2004 e 2011.
** Porcentagem referente ao número de áreas irregulares ocupadas por década, em face do conjunto de todas
as áreas irregulares em 2010, em adição às regularizadas entre 2004 e 2011.
Base de dados: Secretaria Municipal de Habitação
Fonte: Fujita et al. (2011b, p.8), adaptado por Matheus Rigon (2011).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 281

Figura 17: Chapecó. Conjuntos habitacionais, áreas irregulares e regularizadas. 2004-2010.

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No tocante às condições dos assentamentos, a pesquisa in loco apontou


que a maioria apresenta precariedade tanto no aspecto de infraestrutura, em
geral muito ruim ou inexistente, quanto no das moradias em si. Destaca-se,
muitas vezes, a dotação de serviços de água e luz compartilhados a partir de
apenas um ponto de abastecimento, estratagema popularmente conhecido
como “gato”. A debilidade se estende às características das unidades ha-
bitacionais, construídas majoritariamente com madeira, sendo a alvenaria
menos utilizada. Suas condições são agravadas pela insalubridade causada
pelo acúmulo de resíduos, uma vez que é bastante comum que os morado-
res das áreas irregulares atuem como agentes ambientais, vulgarmente cha-
mados de catadores de lixo, que armazenam perto de suas casas os materiais
coletados. No que se refere à morfologia dos assentamentos, destaca-se sua
organicidade, adaptando-se às condições naturais, quase sempre em locais
pouco favoráveis à urbanização.
Frente às questões levantadas e em consonância com os trabalhos do
Congresso da Cidade iniciados em 2001, a prefeitura, na tentativa de orientar
o desenvolvimento territorial tanto do núcleo urbano quanto do município
como um todo, organizou a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvi-
mento Territorial de Chapecó – PDDTC (Lei Complementar no 202, de
6 de janeiro de 2004). Com base no Estatuto da Cidade (Lei no 10.257, de 10
de julho de 2001 – cf. Brasil, 2001), a iniciativa buscou, por meio da partici-
pação democrática dos segmentos da sociedade, as soluções para ordenar os
processos de ocupação, crescimento e desenvolvimento do município, a fim
de melhorar a qualidade de vida e diminuir a segregação/exclusão espacial
É importante salientar que, ao abranger todo o território do município,
o PDDTC passa a planejar também a área rural, por meio de um macrozo-
neamento por critérios de incomodidade,11 e não mais somente por função.
A habitação de interesse social passou a ser prioridade no Plano, com
estímulo à ocupação e à urbanização de áreas subutilizadas, atendendo ao

11 A incomodidade no PDDTC é entendida em oposição ao zoneamento funcional modernista


que a priori já definia para uma determinada zona a sua função exclusiva e as proibições de
outros usos. Pelo critério da incomodidade, todas as atividades encontram lugar no território
urbano desde que estejam adequadas a uma determinada classificação quanto: ao potencial
de degradação ambiental; à produção de ruídos; à periculosidade; ao horário de funciona-
mento; às atividades sujeitas a estudos de viabilidade urbanística para sua implantação; ao
porte. Depois desta classificação, as atividades são enquadradas como permitidas, proibidas
ou sujeitas à análise (conforme artigo 203 e seguintes do PDDTC, 2004).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 283

cumprimento da função social da propriedade, conforme prevê o Estatuto


da Cidade.
Os instrumentos indutores do desenvolvimento urbano e de intervenção
no solo, preconizados pelo Estatuto da Cidade, estão em sua maioria presen-
tes no texto desse Plano. Destacam-se a outorga onerosa do direito de cons-
truir, que deve captar recursos para programas de regularização fundiária e
de produção de habitação de interesse social (HIS); o direito de preempção,
que grava com prioridade de aquisição para o poder público as áreas quali-
ficadas a programas de regularização fundiária e novas moradias; e as áreas
especiais de interesse social (AEIS), unidades territoriais destinadas à regu-
larização fundiária, recuperação urbanística e à produção de habitação social.
O Plano também previu o Fundo Municipal de Desenvolvimento Ter-
ritorial (FMDT) com a finalidade de gerir os recursos oriundos dos ins-
trumentos para a implementação das políticas habitacionais. Outro ponto
importante foi a abertura do capital privado à participação no financiamen-
to da produção da urbanização, possibilitando que ele assumisse os custos
sobre a valorização da terra.
Matiello (2009) aponta que embora o Plano contemple a maior parte dos
instrumentos de gestão do solo presentes no Estatuto da Cidade, o texto da
lei remete à regulamentação específica de cada um deles, sem, no entanto,
estabelecer prazos para serem postos em prática, o que torna o conjunto de
instrumentos bastante inócuo. Cabe destacar que em 2010 foi regulamen-
tada a lei da outorga onerosa, cujo objetivo é “vender” potencial constru-
tivo, a fim de aproveitar a infraestrutura instalada em áreas valorizadas e
de arrecadar recursos para viabilizar outros investimentos – por exemplo,
moradia de interesse social – que, de acordo com o PDDTC, deveriam ser
destinados ao Fundo Municipal de Desenvolvimento Territorial. No en-
tanto, a aplicação desse instrumento teve a sua arrecadação incorporada na
receita geral da prefeitura, uma vez que não havia sido constituído e regula-
mentado o referido órgão, responsável por destinar os recursos aos projetos
habitacionais, o que acaba comprometendo a transparência no tocante ao
uso do recurso público segundo preconiza o Plano Diretor.
Outro elemento que merece reflexão é a condição de ocupação das Áreas
Especiais de Urbanização e Ocupação Prioritária (AEUOP). De acordo
com Villela et al. (2011), os resultados, até 2010, demonstram que apenas
uma das diretrizes presentes no Plano Diretor está sendo cumprida e uti-
lizada: a da expansão das atividades econômicas. Isso aponta para a com-

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284 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

preensão de que a terra se encontra nas mãos da especulação imobiliária,


beneficiando basicamente os empreendedores privados e causando uma
supervalorização desses locais. Apesar de as iniciativas incentivarem algum
tipo de uso, o que ainda é melhor que a ociosidade dos vazios urbanos, ele
não cumpre a justa distribuição dos benefícios, fazendo que essas porções
se tornem inacessíveis à população de baixa renda.
Mais recentemente, a utilização das AEUOPs tem se voltado mais para
empreendimentos residenciais de alta renda. Além disso, o Conselho Mu-
nicipal de Desenvolvimento Territorial não tem colaborado para que a ocu-
pação dessas áreas atenda à função social, o que acarreta o agravamento das
problemáticas da urbanização na cidade, tais como a diferenciação de parte
do território para as classes mais abastadas (Villela et al., 2011).
Resta ainda avaliar que mesmo sem ter sido plenamente posto em práti-
ca, o PDDTC de 2004 foi alterado em 2007 (Lei Complementar no 317, de
17 de outubro de 2007). Nessa revisão, foram basicamente aumentados os
potenciais construtivos dos índices urbanísticos inscritos no ordenamento
territorial do Plano, atendendo à pressão especulativa do capital imobiliá-
rio, em detrimento da implementação dos instrumentos para o cumpri-
mento da função social da terra e da cidade, já constantes no texto de 2004,
e que até então não haviam sido regulamentados – e assim permanecem.
Observou-se também que os bairros que mais aumentaram sua den-
sidade foram os consolidados: Centro, Maria Goretti e Santo Antônio,
na ordem de aproximadamente 6% entre os censos de 2000-2010. Como
consequência, observa-se que a maioria dos bairros teve sua densidade
populacional incrementada pela ocupação dos lotes vazios, já identificados
em 2004, bem como por processos de renovação edilícia, com a substituição
de casas térreas por edifícios residenciais de quatro pavimentos ou mais,
ambas diretrizes estimuladas pelo PDDTC (Villela et al., 2011).
Por outro lado, os bairros Belvedere e Trevo obtiveram um aumento de
densidade populacional menor que 1%. Esse dado, se observado conjunta-
mente ao fato de esses locais encontrarem-se mais afastados e descontínuos,
tanto da malha urbana quanto dos novos empreendimentos que se insta-
laram na cidade, reforça o fator da localização como ponto importante da
produção da moradia na busca pela mais-valia.
Isso também pode ser observado no Distrito de Marechal Bormann,
distante aproximadamente doze quilômetros do centro da cidade, que
mesmo com as melhorias habitacionais implementadas, como as do Con-

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 285

junto Habitacional Nova Vida II, não apresenta aumento de densidade. Em


suma, percebe-se que em alguns bairros houve aumento do número de lotes
vazios e redução da densidade populacional, reforçando a compreensão de
sua desvalorização econômica e social, bem como o pouco êxito, por parte
da prefeitura, na regulação do uso do solo e na implementação dos instru-
mentos do Plano, com vistas ao cumprimento da função social da cidade.
No caso específico da porção norte do município – onde se encontram
os bairros Trevo, Belvedere e Vila Rica –, pesa sobre o pequeno aumento
populacional a influência do PDDTC de 2004, que gravou as áreas não
urbanizadas vizinhas a esses bairros como Macroárea da Bacia de Captação
de Água Potável (MBCap), restringindo sua utilização para usos urbanos.
No entanto, a Lei Complementar no 429, de 21 de dezembro de 2010, altera
esse quadro ao permitir, em boa parte da macroárea, uma utilização para
fins urbanos, com lotes mínimos de seiscentos metros quadrados. Dessa
forma, alguns empreendimentos já estão sendo projetados e executados,
dinamizando a produção e ocupação do solo em toda a área, elevando a va-
lorização inclusive dos terrenos dos bairros já consolidados.
Há que se ressaltar que a alteração da lei, embora procure minimizar os
impactos de uma urbanização sobre a Bacia, ao propor lotes com o dobro
da área padrão dos demais loteamentos, acaba por definir também um dife-
rencial aos empreendimentos em termos do valor do lote, o qual é adquirido
por uma clientela de renda bem maior do que a dos moradores dos bairros
já consolidados na área. Essa dinâmica imprime, ao argumento da proteção
ao meio ambiente, a utilização da natureza também como bem de consumo
e fator de valorização imobiliária (Acselrad, 2001).
Se, por um lado, a produção do solo urbano, ao longo das últimas déca-
das, tem mostrado uma atuação predominante da iniciativa privada, que
muitas vezes se beneficia das alterações na legislação urbana, por outro, a
produção de conjuntos habitacionais reforça também esse quadro.
Os levantamentos realizados entre 2004 e 2012 demonstram que nesse
intervalo (Quadro 11 e Figura 18) foram construídos ou tiveram sua cons-
trução iniciada 32 conjuntos habitacionais com mais de trinta unidades
em cada um deles, sendo: um de tipologia construtiva somente da unidade
sanitária (33 unidades habitacionais); seis de unidades unifamiliares (676
unidades habitacionais novas e cinquenta unidades habitacionais refor-
madas); e 25 de unidades multifamiliares (3.396 unidades habitacionais),
contendo, no total, 4.155 unidades.

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286 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

Quadro 11: Chapecó. Conjuntos habitacionais. 2004-2014.


Número Conjunto habitacional Tipologia Unidades Finalização
1 Loteamento popular Unidade 33 11/2004
Vila Betinho sanitária
2 Vila Paraíso Multifamiliar 144 11/2004
3 Novo Lar I e II Multifamiliar 80 12/2004
4 Nova Esperança Multifamiliar 72 06/2005
5 Loteamento Dom José Gomes Unifamiliar 55 12/2006
6 Conjunto Nova Vida – Bormann Unifamiliar 54 04/2007
7 Comunidade São José Unifamiliar 44 08/2008
8 Cristo Rei Multifamiliar 96 09/2008
9 Quinta das Flores Multifamiliar 80 07/2009
10 Conjunto Nova Vida II – Bormann Unifamiliar 99 novas – 05/2010
50 reformas
11 Parque das Palmeiras Multifamiliar 224 07/2010
12 Colina do Sol II Multifamiliar 208 08/2010
13 Vila Real Unifamiliar 88 08/2010
14 Expoente I,II,III,IV Unifamiliar 336 02/2011
15 Colina do Sol I Multifamiliar 192 --
16 Riviera Multifamiliar 39 --
17 SintracarnesI Multifamiliar 46 03/2011
18 Terrazê Multifamiliar 62 06/2011
19 Dona Geni Multifamiliar 240 10/2011
20 Condomínio Residencial Dolce Vitta Multifamiliar 160 11/2011
21 Condomínio Monte Castelo I, II, III, Multifamiliar 472 12/2011
IV, V e VI
22 Dona Verônica Multifamiliar 39 02/2012
23 Residencial Smart Space Gardênia Multifamiliar 124 06/2013
24 Conjunto Popular Smart Space Azalea Multifamiliar 76 12/2013
25 Residencial Spazio di Primavera Multifamiliar 192 03/2014
26 Residencial Jardim Módulo I, II Multifamiliar 80 03/2014
27 Residencial Smart Space Beladona Multifamiliar 80 06/2014
28 Condomínio Residencial Dona Lori Multifamiliar 128 06/2014
29 Condomínio Residencial Dona Hilda Multifamiliar 48 09/2014
30 Residencial Solarium Residence Multifamiliar 34 11/2014
31 Condomínio Popular Residencial Multifamiliar 112 11/2014
Real Class Ville
32 Residencial Bem Viver I, II, III, IV Multifamiliar 368 11/2014
Fonte: Caixa Econômica Federal e Secretaria Nacional de Habitação/Ministério das Cidades. Organização:
Sinara Ceolin (2011); Alexandre Matiello e Ana Laura Villela (2014).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 287

Dentre os investimentos públicos, merecem destaque os projetos im-


plantados com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo
federal, que totalizam R$ 132 milhões em Chapecó, dos quais R$ 43,04
milhões se destinavam a empreendimentos exclusivamente para a faixa de
renda familiar de até R$ 1.600. Esta oferta está basicamente concentrada no
Conjunto Habitacional Expoente (336 moradias) e no Conjunto Habitacio-
nal Monte Castelo (472 moradias). Os demais recursos do programa federal,
89,08 milhões de reais, ou seja, praticamente o dobro daquela parcela, foram
destinados a atender 1.146 famílias com renda mensal de até R$ 5.000.
Se estratificarmos os intervalos de 2004 a 2008 (578 unidades produzi-
das) e de 2009 a 2014 (3.577 unidades produzidas), fica evidente que neste
último a produção habitacional é bastante superior e coincide com a política
federal para a habitação expressa no Programa Minha Casa, Minha Vida,
iniciado em março de 2009. De acordo com dados da Secretaria Nacional
de Habitação/Ministério das Cidades, o investimento do PMCMV em
Chapecó até 2014 contemplou basicamente a faixa 2 (renda familiar mensal
bruta de até R$ 3.275), com exceção dos bairros Expoente e Monte Caste-
lo, destinados à Faixa 1 (renda familiar mensal bruta de até R$ 1.600), os
quais totalizaram apenas 808 unidades. Portanto, a oferta habitacional para
famílias de baixa renda ainda não tem sido o foco da produção habitacional.
A respeito desses dois últimos conjuntos habitacionais de interesse
social, há que se salientar também os problemas socioeconômicos obser-
vados pela própria Secretaria de Habitação do município, relacionados
à violência, bem como à dificuldade do acesso aos serviços públicos, ao
emprego e ao comércio. Isso ocorre, sobretudo, em razão do isolamento dos
conjuntos em relação à franja da malha urbana consolidada, decorrente da
frágil articulação com o tecido urbano devido à falta de investimentos em
infraestrutura, não obstante estejam mais próximos do centro urbano do
que outras periferias habitacionais já consolidadas.
Na análise da Secretaria de Habitação, a tipologia multifamiliar para
a faixa 1 apresenta também sérios problemas de adaptação, por exemplo,
em relação à gestão condominial e à convivência, o que não se verificou na
parcela dos conjuntos compostos por unidades unifamiliares. Esses con-
juntos foram destinados ao público inscrito junto à Secretaria de Habitação,
priorizando sobretudo a população que ocupava áreas irregulares ou em
situação de risco.

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Figura 18: Chapecó. Mapa de Localização dos Conjuntos Habitacionais 2010 x Zoneamento
Plano Diretor. 2010.
* AEUOP são Áreas Especiais de Urbanização e Ocupação Prioritária (vazios urbanos).
** MEUF é a Macroárea Especial de Urbanização Futura (áreas descontínuas do tecido urbano).
*** UAM são Unidades Ambientais de Moradia (áreas já previstas e destinadas ao parcelamento do solo).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 289

No que diz respeito às tipologias destinadas à faixa 2, cuja implantação


e construção foram assumidas pela iniciativa privada, a aquisição do imóvel
era realizada diretamente com o agente imobiliário. Observou-se que a
maioria dos conjuntos construídos para essa faixa era composta por múlti-
plos blocos de caráter multifamiliar, inseridos em pequenos vazios urbanos
de bairros já consolidados, em edifícios de no máximo quatro pavimentos,
com exceção do Real Class Ville e do Dona Hilda, que contam com mais de
seis pavimentos e acesso por elevador. Constata-se, portanto, que, para as
camadas com renda intermediária, o empreendedor buscava terrenos com
melhores condições de localização e acesso aos serviços urbanos, mesmo
que isso significasse empreendimentos menores.
Verifica-se também que a maior parte dos conjuntos habitacionais está
localizada em glebas e lotes vazios, para os quais deveriam figurar os ins-
trumentos reguladores de ocupação compulsória, de modo a incentivar
sua utilização (Figura 18). Entretanto, esses instrumentos não têm sido
postos em prática, como, por exemplo, o IPTU progressivo no tempo, que,
apesar de presente no texto do PDDTC, nunca foi regulamentado. Dessa
forma, conclui-se que a salutar e oportuna ocupação de áreas já providas de
infraestrutura, por parte de tipologias de interesse social, vem acontecendo
independentemente da força legal dos instrumentos previstos.
Se a ocupação dos chamados vazios urbanos – caracterizados no PDDTC
de 2004 como AEUOPs – com a implantação de conjuntos habitacionais
demostra otimização da infraestrutura instalada, há que se considerar que
ainda restam muitas outras áreas vazias que precisam da aplicação efetiva
e reguladora de instrumentos indutores da ocupação. Em sua ausência, o
mercado especulativo continua dirigindo o preço do solo e, dentro dessa
lógica, à habitação de interesse social restam as áreas mais desprovidas de
infraestrutura urbana, às quais a prefeitura direciona menos investimentos,
mesmo que esse desembolso ainda seja um valor alto, se avaliado pelo jogo
do capital privado. Embora haja instrumentos recentes de determinação das
Áreas Especiais de Interesse Social dentro da malha urbana consolidada,
em Chapecó eles não foram implementados. As AEIS existentes na cidade
limitam-se ao gravame sobre áreas de ocupação irregular, não gravando
áreas para novas implantações, as chamadas ZEIS de vazios.12

12 Segundo trata Ancona (2011) nos Cadernos Técnicos da pesquisa realizada sobre os Planos
Diretores Municipais Pós-Estatuto da Cidade.

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Figura 19: Chapecó. Localização dos conjuntos habitacionais e investimentos. 2011.

Observa-se que, mais recentemente, os investimentos de grande vulto


no município, materializados em obras de melhoria de infraestrutura e de
polos geradores de desenvolvimento econômico – como o contorno oeste, a
Arena Condá, o novo terminal do aeroporto, a Arena Multiuso, o shopping,
o câmpus da UFFS e a duplicação do acesso à BR 282, todos já tratados
anteriormente neste livro –, não estão espacialmente integrados com os

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 291

conjuntos habitacionais, o que resulta em uma realidade desassociada de


processos de regulação e planejamento urbano (Figura 19). Os principais
investimentos públicos e privados estão na área central e em direção oposta
aos novos conjuntos habitacionais, sobretudo os de mais baixa renda, como
os já citados Expoente e Monte Castelo.
Todo o processo deixa registros na conformação do tecido urbano, de
modo que a mancha urbana da cidade em 2009, mostrada na Figura 20,
apresenta uma consolidação da ocupação do centro da cidade e a continua-
ção de uma ocupação periférica e adensada. Ressaltam-se concentrações
bem afastadas do centro, ocorridas a norte e na porção oeste, já comentadas
em outros momentos.
No que concerne à distribuição populacional (Tabela 1 no Capítulo 1),
observa-se que a porcentagem da população urbana em 2000 e 2010 se man-
tém praticamente a mesma (91,58% e 91,61%, respectivamente), assim como
a da rural (8,42%, em 2000; e 8,39%, em 2010), ratificando que a maioria da
população vive na cidade. Esses dez anos apontam para a compreensão de
que Chapecó tenha possivelmente chegado à estabilização de sua distribui-
ção populacional, o que revela, igualmente, a importância do rural, como já
discutido antes.
Na área urbanizada, a densidade demográfica em Chapecó apresenta-se
significativamente alta – 279 hab./quilômetro quadrado –, quando com-
parada aos 64,2 hab./quilômetro quadrado de Santa Catarina e aos 22,5
hab./quilômetro quadrado do Brasil. Esse dado poderia ser uma das ex-
plicações para o alto preço do solo no município, principalmente nos novos
empreendimentos que, se somados ao aquecimento do setor da construção
civil e ao potencial de captação de investidores, colocam o mercado de terras
como um dos grandes filões econômicos onde atua a iniciativa privada.
De modo geral, a densidade populacional tem aumentado na maioria dos
bairros da cidade, o que indica certa ocupação dos vazios urbanos – que em
2004 já chamava a atenção pelo número elevado de metros quadrados ur-
banizados ainda disponíveis –, bem como processos de renovação dos lotes
com edifícios verticalizados. Um rearranjo territorial também está em curso
no município, pois, se até 2011 a maioria dos loteamentos se concentrava na
periferia da malha urbanizada, mas basicamente em terrenos privados, isso
se altera significativamente a partir de 2013, quando ocorreu o parcelamento
de loteamentos como Jardins Lunardi, que urbaniza parte de uma importan-
te área de ocupação prioritária da cidade, fato já comentado anteriormente.

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Figura 20: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 2009.

No que tange à produção de novos loteamentos e condomínios fechados


(Figura 21/Quadros 12, 13, 14 e Figura 22/Quadro 15), destaca-se que
no intervalo entre 2004 e 2012 foram aprovados 34 parcelamentos, dois
loteamentos industriais, três loteamentos descontínuos à malha e três con-
domínios fechados, os quais serão discutidos a seguir.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 293

No que concerne aos loteamentos industriais (Quadro 13), mesmo que


Chapecó tenha sido fortemente influenciada pela agroindústria, possui
apenas dois loteamentos que se pode identificar como de atendimento à
demanda industrial, que são o Distrito Industrial e Dom Gerônimo, pouco
significativos em termos quantitativos e de representatividade da produção
no município, e por isso com pouca influência direta na configuração da
cidade.
Quadro 12: Chapecó. Loteamentos privados. 2004-2012.
Loteamento Superfície Quadras/ Área média Ano
total lotes lotes aprovação
1. Campinas II 83.132,27 m2 8/140 – 2004
2. DallBello 115.160,25 m2 5/22 382 m2 2004
3. Loteamento Alice 164.384,93 m2 16/342 240 m2 2004
4. Walville I 112.005,74 m2 15/120 366 m2 2005
5. Trento 48.200 m2 6/73 360 m2 2005
6. Cantarelli 51.111,8 m2 11/56 495 m2 2005
7. Vila Real II 40.531,12 m2 12/77 309,83 m2 2006
8. Nova Vida I 30.000 m2 8/57 293,22 m2 2006
9. Ludovico Silvestre 183.745,52 m2 24/274 360 m2 2007
10. Vila Roman II 84.205,98 m2 16/136 388,7 m2 2007
11. Loteamento São José 34.337,65 m2 4/43 210,00 m2 2007
12. Morada Verde Vale 15.000 m2 5/61 160 m2 e 300 m2 2008
13. Mariana 18.037,75 m2 3/31 140,13 m2 2008
14. Residencial Jardim Ipê 38.606,61 m2 -/96 218,6 m2 2008
15. Sabrina 77.522,37 m2 10/93 377,84 m2 2008
16. Morada Do Valle 81.219,93 m2 10/103 420 m2 2009
17. Mirante do Sol 260.220,22 m2 27/326 360 m2 2009
18. Vento Minuano 205.096,46 m2 20/338 360 m2 2009
19. Jardim Esplanada I 72.600 m2 13/94 360 m2 2009
20. Jardim Esplanada II 20.000 m2 6/35 390 m2 2009
21. Solaris 78.328,32 m2 11/187 200 m2 2010
22. Reserva dos Pinhais (Parte I) 212.200,1m2 16/260 364 m2 2010
23. Walville II 59.360,81m2 07/77 396,93 m2 2010
24. Reserva dos Pinhais (Parte II) 30.000 m2 08/44 434,99 m2 2010
25. Mirante do Sol II 90.365,61 m2 12/36 1.382,92 m2 2010
26. Alice II 172.997 m2 22/376 261,34 m2 2011
27. Jardins Lunardi 265.270,18 m2 17/215 852,64 m2 2011
28. Califórnia 62.756,56 m2 10/134 178,84 m2 2011
29. Martins 13.932,66 m2 11/21 2.097,69 m2 2011
30. Vila Caçador 20.000 m2 06/79 140,46 m2 2011
31. Vila Roman III 79.604,65 m2 10/117 365,26 m2 2011
32. Horizontes Azuis II 166.317,52 m2 18/224 473,97 m2 2012
33. New Villas 93.025,31 m2 19/215 432,53 m2 2012
34. Zanrosso II 60.928,25 m2 07/49 360 m2 a 1.300 m2 2012
Fonte: Banco de dados Prefeitura Municipal de Chapecó. Acesso em 2012. Organização: Jamile De Bastiani
(2011); Josiane Urman e Luana De Pellegrin (2012); Alexandre Matiello e Ana Laura Villela (2014).

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Figura 21: Chapecó. Localização dos loteamentos privados. 2004-2012.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 295

Quadro 13: Chapecó. Loteamentos industriais. 2004-2012.


Loteamento industrial Superfície Quadras/ Área média Data
total Lotes lotes aprovação
1. Distrito Industrial 484.000 m2 5/78 – 09/03/2004
2. Dom Gerônimo 205.701,42 m2 3/36 2.000 m2 13/07/2007
Fonte: Banco de dados Prefeitura Municipal de Chapecó. Acesso em 2012. Organização: Jamile De Bastiani
(2011); Josiane Urman e Luana De Pellegrin (2012); Alexandre Matiello e Ana Laura Villela (2014).

Atualmente, observa-se que o distanciamento da área central e a con-


tiguidade à malha já urbanizada, como fatores de valorização imobiliária,
em alguns casos não têm influenciado tanto na produção dos novos lotea-
mentos, sobretudo os de alto padrão, haja vista o número de lotes do Jardim
Paraíso, claramente ofertados para uma classe média alta – o qual, junto
com os Jardins Lunardi, conformam o que vem se convencionando chamar
de bairros planejados (Quadro 14).

Quadro 14: Chapecó. Loteamentos privados desconexos da malha urbana. 2004-2012.


Loteamento desconexo Superfície Quadras/ Área média Data
da malha urbana total Lotes lotes aprovação
1. Pinheiros 67.052,00 m2 17/158 231,52 m2 08/02/2011
2. Jardim Paraíso 506.990,46 m2 18/253 874,20 m2 17/09/2012
3. Vederti 443.497,24 m2 31/468 534,20 m2 23/08/2012
Fonte: Banco de dados Prefeitura Municipal de Chapecó. Acesso em 2012. Organização: Josiane Urman e
Luana De Pellegrin (2012); Alexandre Matiello e Ana Laura Villela (2014).

Esse fato pode ser explicado pela permissividade, por parte dos órgãos
fiscalizadores do município, em relação a esse tipo de urbanização. Outra
questão legal que alterou as características dos empreendimentos habita-
cionais de alto padrão é a ausência de limites de altura, regulamentada pela
revisão do Plano Diretor de 2007, possibilitando a construção de edifí-
cios verticalizados, tanto em substituição a imóveis já existentes nos lotes,
quanto na ocupação de novos terrenos, em qualquer área do município,
desde que cumpridas as demais restrições urbanísticas.
Concomitantemente a essa possibilidade, ressalta-se também que as
restrições para a proteção à navegação aérea, em 2011, exigidas para a
operação do aeroporto, limitam a verticalização nas cotas mais altas, o

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que rapidamente valorizou as áreas, urbanizadas ou não, em cotas mais


baixas, independentemente de sua localização geográfica. Ou seja, está
em curso uma reestruturação significativa na lógica do mercado de terras
e, consequentemente, nas características dos novos empreendimentos e
investimentos.
Outra tipologia de ocupação e organização do espaço urbano em Cha-
pecó é representada pelos três condomínios fechados que começaram a
ser comercializados há cerca de dez anos: dois, ao sul, com acesso na via
de conexão com o Rio Grande do Sul, e um, ao norte, com acesso pela BR
282. Distantes do centro urbano, não se destinam à moradia perene nem
à camada popular, apesar de sua significativa produção de lotes, pois são
utilizados principalmente para o lazer de finais de semana, oferecendo aos
seus usuários, como elementos diferenciadores, segurança, lazer privativo e
contato com a natureza (Quadro 15).

Quadro 15: Chapecó. Condomínios fechados. 2004-2012.


Condomínio fechado Superfície Quadras/ Área Data
total Lotes média aprovação
lotes
1. Residencial Espelho das Águas 526.833,29 m2 14/210 1.478 m2 22/09/2005
2. Condomínio Residencial Villagos 605.000,00 m2 15/142 1.555 m2 19/12/2006
3. Loteamento Bouganville 434.565,37 m2 15/129 1.200 m2 18/04/2008
Fonte: Banco de dados Prefeitura Municipal de Chapecó. Acesso em 2012. Organização: Jamile De Bastiani
(2011); Josiane Urman e Luana De Pellegrin (2012); Alexandre Matiello e Ana Laura Villela (2014).

Vale ressaltar, contudo, que a aprovação de loteamentos sobre a Macroá-


rea de Expansão Urbana Futura (MEUF), ou seja, onde não há prioridade
de parcelamento e ocupação por ser descontínua à malha, é uma prerrogati-
va do Conselho Municipal de Desenvolvimento Territorial. Porém, quan-
do esse órgão acaba chancelando tais empreendimentos, sobrecarrega o
município no que tange à necessidade de provisão de equipamentos e de
serviços. Nos casos dos loteamentos de interesse social, o que se pode per-
ceber é a repetição de padrões urbanísticos e construtivos de baixa qualida-
de, o que corrobora a exclusão socioespacial das camadas menos abastadas,
já comentada antes.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 297

Figura 22: Chapecó. Localização dos condomínios fechados. 2004-2012.

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Assim, tendo por base a Constituição Federal e o Estatuto da Cidade,


que explicitam o direito à cidade para todos – compreendendo o direito a
terra, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura, ao transporte,
aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer –, chega-se à constatação de que
existe uma exclusão espacial velada, sofrida principalmente pela população
de baixa renda. Essa situação é decorrente de ações desenvolvidas basica-
mente pelo mercado imobiliário, em especial quando promove a especula-
ção desenfreada, bem como da omissão do poder público no controle desses
interesses na consecução de seus objetivos.
Vale resgatar a compreensão e a constatação de que a produção habita-
cional em Chapecó, desde seus primórdios, sempre esteve sobre a gerência
dos interesses e agentes privados, condição que se perpetua até os dias atu-
ais. O que se tem observado é que, nas mãos da iniciativa privada, mesmo
os lotes que deveriam se destinar às parcelas mais carentes estão sendo
adquiridos pela classe média/alta, desvirtuando a sua destinação inicial e
recebendo grande valorização.
Assim, entende-se que, na maior parte dos casos, o setor público se
restringiu ao papel de financiador e direcionador das possibilidades de res-
gate dos investimentos destinados à habitação, de modo conivente com os
interesses privados em detrimento da sociedade como um todo. Na prática,
o que se observa em Chapecó é que a produção da habitação “legal” está
efetivamente sendo realizada pela iniciativa privada, que tem oferecido
produtos de qualidade muito aquém do valor que lhes é atribuído. Ironica-
mente, não só a camada popular mas também a elitizada têm pagado muito
caro por aquilo que está adquirindo no mercado imobiliário, à custa de
endividamento (Matiello et al., 2011).
Os excluídos desse processo, que não são poucos, continuam à mercê
da sorte e sem direito à cidade. Ao final, a coletividade perde, e a cidade,
também. Atualmente, só quem não tem contabilizado prejuízos são os
empreendedores, tal como discute Fix (2001), que trata da conivência
entre o poder público e a iniciativa privada na exclusão e expropriação das
camadas populares dos locais alvos da especulação imobiliária, a fim de
abrir novas frentes de valorização para o mercado de terras.
Pode-se compreender, pois, que a produção habitacional, dissociada das
políticas e do planejamento urbano, acaba por instalar unidades de moradia

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 299

em lugares com pouca inserção social e espacial, sem acessibilidade ade-


quada e desprovidos de espaços de convivência e lazer, o que contribui para
uma pobre qualidade de vida em sociedade, reforça a ausência de equidade
e, consequentemente, a sensação de segregação.
Tendo como base a abrangência das principais praças da cidade, num
raio de trezentos metros, e considerando o percurso máximo de caminha-
da de uma criança até esses locais, percebe-se que a maioria dos novos
empreendimentos residenciais não conta com esses importantes espa-
ços de convivência, uma vez presentes somente nas áreas centrais e nos
loteamentos mais elitizados, nas bordas da cidade (Villela et al., 2011).
Além de a quantidade e a abrangência dos espaços públicos, de modo
geral, não estarem adequadas na cidade, a aprovação da Lei Complementar
no 325, de 12 de março de 2008,13 chancela a possibilidade de parcelamento
das áreas públicas dos loteamentos para fins de criação de novos terrenos,
usurpando das comunidades o direito de dispor de equipamentos públicos
sobre essas áreas.
De forma geral, observa-se, em 2011, na mancha urbana da cidade (Fi-
gura 23 e Foto 11), uma ocupação parcial do grande vazio urbano (AUEOP),
com o Loteamento Jardins Lunardi, localizado a centro-oeste da malha,
bem como diversas ocupações descontínuas ao sul e a leste do núcleo ur-
bano mais adensado. Tal constatação indica estar em desenvolvimento um
novo processo de expansão da ocupação urbana, o qual requer investimen-
tos em diferentes áreas a fim de responder ao crescimento e ao adensamento
que o município vem apresentando. Nesse aspecto, é importante destacar
os projetos urbanos que a administração municipal de Chapecó vem pro-
pagandeando, e que podem representar um impacto significativo sobre a
urbanização: a construção de um resort e parque aquático às margens do
lago da Hidrelétrica Foz do Chapecó (no Distrito Goio-Ên), a finalização
da Arena Condá (estádio de futebol) e a duplicação do acesso ao município
pela BR 282, associado à extensão do contorno viário oeste.

13 Dispõe sobre a alteração de dispositivos do PDDTC – Lei Complementar no 202, de 6 de


janeiro de 2004, e possibilita a desafetação de área pública mediante lei específica.

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Foto 11: Vista de Chapecó em 2013.


Fonte: divulgação PMC. Disponível em: <http://www.chapeco.sc.gov.br/noticias/3085-novo-plano-dire-
tor-de-chapeco-proposta-de-mais-objetividade-e-funcionalidade.html>.

No documento Chapecó 2020: projetando o futuro (Chapecó, 2010b),


ainda estão previstos investimentos em construção de moradias populares
e unidades de saúde, no centro administrativo para a instalação da Prefei-
tura Municipal e da Câmara de Vereadores, na ampliação do aeroporto, na
revitalização de parques e em obras viárias acessórias e inéditas na cidade,
como a criação de elevados. Destaca-se também, para a implantação do
câmpus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), um inves-
timento do governo federal, que demanda infraestrutura da Prefeitura
Municipal, hoje parcialmente atendida. Todos esses projetos, lembra o do-
cumento, “poderão” acontecer até 2020, de modo que configuram mais um
instrumento de marketing urbano do que necessariamente um compromisso
de gestão.

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 301

Figura 23: Chapecó. Áreas urbanas consolidadas. 2011.

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6
CHAPECÓ:
O NOVO E O TRADICIONAL NA REESTRUTURAÇÃO
URBANA E REGIONAL

A discussão e a análise de Chapecó foram desenvolvidas, neste texto,


com base nos seguintes aspectos: apresentação da cidade e de seu papel na
região atualmente; sua formação sócio-histórica e a estruturação urbana e
regional sob a perspectiva da dinâmica econômica e produtiva do Oeste
Catarinense; o surgimento e a consolidação do agronegócio; o papel de polo
regional – em se tratando da diversidade do comércio e da crescente pres-
tação de serviços – com a incorporação de agentes externos que o reafirma;
a especialização recente da cidade no que se refere à oferta de serviços nas
áreas da saúde e da educação; e o desenho da ocupação urbana ao longo da
história da cidade, de caráter excludente, característica que se reforça hoje
com a atuação de vetores de desenvolvimento econômico que acentuam as
desigualdades sociais, instituindo um cenário em que predominam produ-
tos imobiliários de alto padrão.
Todos esses aspectos são importantes para a compreensão dos processos
de reestruturação urbana em curso na cidade, porém, algumas questões
transversais os “costuram” e são relevantes, uma vez que se pretende traçar
um perfil de Chapecó em sua condição de cidade média. À guisa de conclu-
são, segue-se uma síntese, a fim de facilitar a interpretação dos momentos
em que foi dividido o recorte temporal selecionado, os quais se distinguem
por pontos de inflexão relevantes no processo de estruturação da cidade.
A primeira metade do século XX foi marcada pelo processo colonizador,
em que a dinâmica econômica pautou-se por processos produtivos funda-
mentais para a relação que a cidade já estabelecia, em termos de escalas,
com outros lugares. Se na época do tropeirismo – que atingiu indiretamente

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a cidade, localizada tangencialmente ao percurso principal – estabelecia


relações entre territórios desde o extremo Sul ao Sudeste do país, a produ-
ção e a comercialização da erva-mate a vinculou mais aos estados sulinos
e aos vizinhos do Prata, da mesma forma como aconteceu com a atividade
madeireira, em que o binário de trocas era com a capital argentina.
Ainda que fosse outro tempo, quando a modernização e a escala de
negócios globais não estavam postas, é evidente que a região em que se
encontra Chapecó e a própria cidade sempre encontraram caminhos para
amenizar o isolamento em relação ao litoral, porção de Santa Catarina que
historicamente se desenvolveu mais, de maneira que as relações produtivas
e de consumo da cidade e da região fortaleceram conexões que não se vin-
culavam hierarquicamente dentro do próprio estado, fazendo que a cidade
exercesse um papel de polarização no que tange a cidades do oeste e extre-
mo oeste do estado catarinense, e influenciasse até mesmo a rede urbana
dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul.
Como resultado dessas atividades produtivas, sempre relacionadas à
exploração de recursos naturais, o agronegócio, que se consolidou no mo-
mento seguinte, encontrou suas bases na acumulação da produção exceden-
te do campo, com atividades que, modernizadas, se mantêm até hoje, como
a criação de aves e suínos, contribuindo para que Chapecó assumisse o seu
primeiro papel relevante na rede urbana, o de polo regional.
Convém lembrar que, ainda que o primeiro momento não tivesse a com-
plexidade de relações que se observaria mais tarde, muitos elementos nele
originados foram determinantes para a consolidação das agroindústrias e a
difusão do agronegócio adiante. Citam-se como exemplos: a cultura desbra-
vadora dos imigrantes, que se antepôs à dos nativos e marcou os primórdios
da ocupação urbana pela segregação social, em simultâneo à perspectiva em-
preendedora, que incorporou a lógica capitalista nos processos de produção
da terra urbana; a habilidade do capital local em se estruturar para superar
as barreiras do isolamento, a partir da potencialidade da produção pulveri-
zada, calcada na estrutura fundiária agrícola da pequena propriedade, que
já naquele momento dinamizava a economia urbana com as demandas por
bens e serviços.
O segundo momento, no qual se destaca o surgimento das primeiras
agroindústrias, a partir do capital acumulado com as atividades agrícolas e
comerciais, foi quando a cidade deixou o atraso econômico agravado pelo

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 305

referido episódio da chacina e alcançou, na década de 1970, um grau de


crescimento urbano no qual as desigualdades sociais se acentuaram, na
mesma medida em que a produção agroindustrial e a demanda por mão de
obra se intensificaram.
À época, Chapecó se beneficiou do incentivo à industrialização do país,
proveniente da esfera federal, quando os polos interioranos foram alvo de
políticas voltadas à construção de um espaço nacional de valorização do
capital. Decorrente disso, houve o deslocamento do centro de comando das
empresas para as metrópoles, à medida que a produção também se direcio-
nava ao mercado internacional, de modo que a economia da cidade passou a
se costurar com a escala dos circuitos globais de produção.
Os instrumentos de planejamento urbano da época refletiam o cen-
tralismo administrativo federal e não lograram êxito em distribuir as be-
nesses da urbanização de forma equitativa pelo tecido da cidade, devido à
ineficácia de sua aplicação, como na maior parte do país. Todavia, alguns
recursos públicos foram fundamentais para a consolidação da cidade como
polo regional, seja pelos financiamentos que as agroindústrias receberam,
seja pelo incremento no transporte e na mobilidade para o escoamento da
produção, ou, ainda, pelos investimentos em infraestrutura urbana, que
acabaram sendo destinados aos bairros mais centrais e evidenciaram a
diferenciação socioespacial dentro da mancha urbana.
O terceiro momento, e mais atual, é dinâmico e encontra-se em curso,
sobretudo a partir da última década – motivo pelo qual alguns elementos,
embora bastante recentes, já têm caracterizado o papel que a cidade vem
assumindo. Como ponto de inflexão, reconhece-se a entrada de agentes
econômicos externos em setores nos quais antes atuavam exclusivamente
os agentes locais.
Se, por um lado, a agroindústria não demorou a incorporar capitais na-
cionais e internacionais – o que tem seu corolário na submissão dos preços e
dos interesses dos mercados consumidores pelas commodities exportadas –,
por outro lado, a entrada de capitais externos nos setores do comércio e de
serviços na cidade só ocorreu nos últimos dez a quinze anos, expressa nas
redes de lojas que efetuam sua inserção de mercado incorporando redes de
origem local ou simplesmente se estabelecendo na cidade, repercutindo
na padronização das atividades e no modo de vida dos trabalhadores e dos
consumidores, ao trazerem lógicas distintas das antes instaladas, seja na

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mudança do horário de atendimento, no layout do estabelecimento ou no


sistema de vendas e de ofertas.
O cenário é completado pela inauguração recente do primeiro shopping
center na cidade e região, cuja localização, em um extremo da avenida onde
se encontra o centro comercial e na entrada principal da cidade, representa
uma estratégia para a criação de uma nova centralidade e, portanto, de um
novo flanco de desenvolvimento imobiliário, bem como para a captação do
público regional. Há que se destacar que essa nova área de valorização se
localiza no prolongamento do eixo central que sempre abrigou as principais
atividades do terciário e apresentou grande valorização no mercado de ter-
ras, a Avenida Getúlio Vargas, o qual provavelmente terá sua importância
reforçada ao longo dos anos.
Embora abrigue franquias nacionais e estrangeiras, o empreendimento
do shopping foi assumido por empresários locais, o que é comum também
em setores como os de supermercados e hotéis na cidade. Isso demonstra
que apesar de o ponto de inflexão sinalizar uma mudança relevante para
interpretar a reestruturação urbana, a alteração de paradigma conserva
traços do momento anterior, com atuação ainda significativa das elites
econômicas locais que, a exemplo do que ocorre em outras cidades médias
pesquisadas pela Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe),
conseguem encontrar seu lugar na atual divisão territorial do trabalho,
mantendo seu status quo.
Esse cenário, todavia, tende a se alterar aos poucos, uma vez que a rede
Walmart já iniciou a instalação do primeiro hipermercado da cidade e re-
gião, o BIG Shop. Também foi anunciada a construção do Hotel Ibis, da
rede Accor, ambos localizados em um nó estratégico da estrutura viária
da cidade, na direção oeste da malha urbana. A escolha locacional desses
empreendimentos denota uma articulação de interesses entre empreende-
dores e donos de terra, com o intuito de utilizar o hipermercado e o hotel
como elementos de valorização do solo urbano e como vetores de atração a
novas frentes de urbanização e de densificação de um grande vazio urbano
até então existente, visto que ambos vão se instalar contíguos a um novo
empreendimento imobiliário, um loteamento planejado com parcelas de
não menos que mil metros quadrados, destinando-se a edifícios multifun-
cionais com grande potencial construtivo em altura.

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Outro aspecto a ser considerado é a capacidade de atração que essa nova


área de investimentos apresenta em nível regional, pois se encontra na
confluência de vias que conectam o centro e os principais acessos de che-
gada à cidade, de quem vem pelas rodovias ao norte e a oeste. Esses acessos
permitem a conexão com as cidades que, depois de Chapecó, são as mais
influentes na região.
Porém, em paralelo, pode-se depreender que novas frentes de valori-
zação imobiliária também visam à reestruturação de partes da cidade que
antes se constituíram como áreas de caráter mais popular. Os citados em-
preendimentos estão, igualmente, na conexão entre o bairro mais populoso
da cidade, denominado Grande Efapi, e os demais bairros e o centro. Ainda
que constitua uma nova centralidade comercial e de serviços, alavancada
por loteamentos, agroindústrias e universidades, como a Unochapecó e,
mais recentemente, o câmpus da Universidade Federal da Fronteira Sul,
o Efapi vinha sendo negligenciado no que diz respeito a investimentos
públicos. Nos últimos quatro anos, contudo, a área passou a ser alvo de
projetos públicos que irão beneficiar principalmente a acessibilidade dessa
porção da cidade, hoje estrangulada por uma única via de acesso, como o
contorno viário oeste e a criação de uma nova avenida que vai se conectar
ao novo loteamento onde estarão o Ibis e o BIG Shop, além do câmpus da
Universidade Federal.
Assim, percebe-se que os interesses que marcam as novas frentes de
valorização imobiliária em Chapecó têm em comum não só a urbaniza-
ção de vazios urbanos ou grandes áreas subutilizadas, por meio de novos
empreendimentos de alto rendimento ou a reestruturação de partes já ur-
banizadas com vistas à revalorização, como também a busca pela densidade
de consumidores, sejam eles provenientes da região ou do contingente
populacional dos bairros cuja acessibilidade está sendo facilitada por novas
obras viárias custeadas com recursos públicos.
Concomitantemente, a expansão do ensino superior especializa a cidade
como polo de formação, com a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
a um público que chega a percorrer diariamente distâncias de até cem qui-
lômetros ou mais para estudar. Num cenário marcado até há pouco tempo
por uma única instituição, existem atualmente mais de 25, entre elas três
públicas, cuja repercussão em termos de vagas gratuitas ainda não pode ser
avaliada. Na Unochapecó, por exemplo, cerca de 40 ônibus de outras cida-

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308 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

des aportam todas as noites trazendo estudantes. Essa especialização resul-


tou na aceleração de outros setores, como o mercado imobiliário no entorno
da universidade, fazendo que diversos bairros tenham surgido já com pré-
dios, com o decorrente aumento da densidade habitacional das edificações.
Chapecó, como polo na área da saúde em termos de especialidades, ainda
não supera Passo Fundo – que fica a aproximadamente 180 quilômetros.1
Mas, tendo um curso de medicina já implantado e outro em implantação,
além dos constantes investimentos públicos e privados, a tendência é que a
cidade se consolide ainda mais na oferta de serviços em saúde. Nos últimos
anos, além da inauguração de um novo hospital (materno-infantil), tem ha-
vido tratativas para a instalação do curso de medicina na UFFS (divulgada
em meados de 2012), o que fez que se anunciasse a ampliação do Hospital
Regional do Oeste, assim como a expansão dos serviços do hospital da
UNIMED, com a construção de uma nova ala, incluindo UTI e novo cen-
tro de imagem. Isso tudo reforçaria ainda mais o papel da cidade na região.
No que se refere ao mercado imobiliário, os últimos dez anos receberam
um impulso significativo que, em termos de paisagem urbana, foi marcado
pela maior verticalização das áreas em volta do centro, o qual, devido à
consolidação ao longo do tempo, acaba tendo um gabarito médio de quatro
pavimentos na avenida principal. No entanto, os empreendimentos com
mais altura são marcados por outro padrão edilício, em que o térreo, cos-
tumeiramente destinado ao comércio, passa a fazer parte da área privativa
residencial, destacando-se como um produto para o segmento de alta renda,
que tem preferência pela exclusividade funcional dos edifícios. Tal mudan-
ça não contribui para a vitalidade da rua, na medida em que privatiza o uso
na área de contato direto com ela. Também há empreendimentos em altura
para usos não residenciais, dos quais merecem destaque dois edifícios para
consultórios e serviços de saúde, ambos com mais de dez pavimentos.
Outro produto imobiliário é constituído por novos loteamentos apro-
vados mediante liberação do Conselho Municipal de Desenvolvimento
Territorial, quase a maioria deles localizada nas franjas da urbanização e em
áreas de expansão urbana futura. Devido à postura rentista de proprietários
de terra, que não se propõem a comercializar ou parcelar vazios urbanos
em áreas mais inseridas na malha urbana, o mercado imobiliário abriu esse

1 Para maiores informações, ver outro livro desta série, em Sorbazo (2010).

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 309

novo flanco que, porém, não foi capaz de proporcionar um valor do solo
acessível. Os lotes em novos assentamentos, chegam a custar, no lançamen-
to, até R$ 50 mil, mesmo quando não ultrapassam 250 metros quadrados.
A título de comparação, lotes de 360 metros quadrados em bairros consoli-
dados, que não são dos mais elitizados, chegam a custar até R$ 300 mil, com
o agravante que, segundo os corretores, as casas em madeira – algo comum
nesses terrenos – chegam a desvalorizar o imóvel.
Também inéditos, os condomínios fechados começaram a ser lançados
há cerca de dez anos e, diferentemente de outras cidades pesquisadas no
âmbito da ReCiMe, como Marília e Uberlândia, não se destinam a moradia
perene, pois ficam relativamente distantes do centro urbano. São produtos
apropriados para lazer em finais de semana, mas demonstram igualmente
elementos presentes em seus congêneres de outras cidades: segurança, lazer
privativo e apropriação da natureza como fator a ser consumido. O prin-
cipal ponto de destaque é que dois desses condomínios encontram-se na
rota que conduz ao Porto Goio-Ên, antigo balneário no Rio Uruguai, que
após a construção da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó foi transformado
em lago, incrementando as potencialidades de exploração turística da área.
Já figuram no novo espaço uma marina, um camping e uma nova estrutura
urbana para os moradores que permaneceram, equipamentos estes implan-
tados como compensação ao impacto produzido pela usina. Mas há investi-
dores privados visando a área para a instalação de outras marinas e a criação
de condomínios com acesso ao lago. E o próprio município já reservou área
para prospectar um empreendedor que se disponha a construir um hotel do
tipo resort.
Por fim, o mercado imobiliário beneficiou-se também do financia-
mento do Programa Minha Casa, Minha Vida, direcionado a uma faixa
de renda um pouco maior, recurso esse que era repassado diretamente aos
empreendedores e que viabilizou empreendimentos bem característicos: os
edifícios de quatro pavimentos, unidos em conjuntos de mais de um prédio
ou mesmo isolados em um lote, sendo que esta última tipologia tem sido
um dos fatores de elevação do preço dos lotes, pois gera uma perspectiva de
rentabilidade maior com a venda do terreno. A implementação de numero-
sos conjuntos de edifícios multifamiliares tem contribuído para a alteração
da paisagem urbana, uma vez que os bairros tradicionalmente ocupados
por casas térreas isoladas no lote e arborizados têm se modificado pela im-

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plantação de conjuntos habitacionais com muitos edifícios padronizados e


de baixa qualidade arquitetônica e urbanística.
É importante relacionar o dinamismo do setor – com a oferta de produ-
tos imobiliários novos – não apenas à demanda do ensino superior, mas a
segmentos mais tradicionais da economia, como é o caso do agronegócio em
Chapecó e região. Entre os corretores, é frequente a declaração de que os
investidores de imóveis em Chapecó têm muitas vezes sua renda originada
na produção de grãos, nos grandes aviários e que, mais recentemente, sua
clientela vem crescendo exponencialmente entre a classe médica. Em simul-
tâneo à especialização da cidade em novos setores da economia, o mercado
imobiliário aparece como indício do incremento de renda e consumo. Por
outro lado, a terra urbanizada ou os imóveis construídos, como uma mer-
cadoria que não segue a regra de oferta e procura, acabam por anunciar um
cenário perverso de agravamento das desigualdades sociais, em que o preço
dos imóveis cresce para satisfazer os investidores, mas não atende à clientela
de baixa renda no acesso à casa própria, o que pode ser ainda pior sem a apli-
cação dos instrumentos de planejamento urbano e investimentos públicos
e privados que favoreçam o cumprimento da função social da terra urbana.
A recente política pública de habitação do município, ainda que mais
alinhada aos preceitos da política urbana nacional, é pouco efetiva, pois
tem direcionado esforços, prioritariamente, à regularização fundiária de
áreas irregulares e clandestinas, em vez de promover melhorias efetivas das
condições de moradia e o acesso às benesses da urbanização aos que mais
necessitam. Ademais, tais políticas não se articulam aos instrumentos de
indução do desenvolvimento urbano presentes no Plano Diretor. Apesar
da relativa expansão da oferta habitacional, esta tem seu estoque regulado
pelo mercado imobiliário, contribuindo pouco para a redução do déficit
habitacional.
Em todo esse contexto de novas especialidades e de consolidação do
agronegócio, destacam-se os investimentos públicos com vistas a viabilizar
o crescimento econômico, tais como o já citado contorno viário, a duplica-
ção da rodovia de acesso, os investimentos no aeroporto – o qual, recen-
temente reformado, passou a receber voos de até duzentos passageiros –,
além dos já construídos centros de eventos e da reforma do estádio para ser
a Arena Condá. A própria chegada do Hotel Ibis que, como já citado, pode-
rá atender tanto as universidades como o parque de exposições, é indicativo

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AGENTES ECONÔMICOS E REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL 311

do incremento no turismo de eventos na cidade. A Mercoagro, maior feira


do setor, movimentou mais de US$ 180 milhões na edição de 2006 e de-
monstra, dessa forma, que o setor de eventos se associa à modernização
tecnológica dos setores consolidados e emergentes da cidade, migrando de
uma condição de amadorismo para a profissionalização, que, combinada
à inovação promovida pelo ambiente acadêmico na região, abre uma nova
perspectiva para consolidar a cidade no mapa nacional de eventos.
O projeto de um parque tecnológico para a cidade já foi deflagrado por
uma universidade local e encontra respaldo na política de ciência, tecno-
logia e inovação do estado. Nesse sentido, a atividade tradicional do agro-
negócio e da agroindústria encontra a possibilidade de competir em novos
mercados, beneficiando-se da inovação proporcionada pelo incremento na
formação de mão de obra qualificada oriunda dos cursos de graduação e
pós-graduação na cidade.
Se, por um lado, há a possibilidade de modernização dos processos pro-
dutivos, por outro, o anacronismo ainda está dado, quando um novo – mas
não tão novo – contingente originário do campo continua a ocupar os postos
de trabalho menos remunerados nas agroindústrias. Trata-se de agriculto-
res de municípios distantes, que se locomovem por mais de duas horas em
ônibus fretados pelas empresas, para trabalhar em Chapecó, no que seria
sua terceira jornada de trabalho. São pessoas que continuam a morar no
campo, a trabalhar no campo, mas incrementam sua renda no frigorífico,
que já não encontra na população da cidade quem se sujeite aos salários
oferecidos e às condições de trabalho que colocam em risco a saúde do tra-
balhador. Se as relações entre campo e cidade apresentam essas novas nuan-
ces, a relação da agroindústria com escalas geográficas supralocais continua
muito forte e traz elementos sempre novos no contexto das exigências por
modernização, a exemplo dos selos internacionais de certificação de abate
humanitário de aves e suínos, que explicitam uma contradição quando
comparadas à condição do trabalhador nessas mesmas empresas. As ino-
vações no meio técnico-científico-informacional levam o ensino superior e
técnico a responder, por exemplo, a demandas por inovação em setores pro-
dutivos na região, como o do leite, que até há pouco tempo não conseguia
competir no país. Cursos são criados para capacitar os produtores, porém,
a maioria acaba alijada do processo, pois não consegue recursos para inovar
na produção em suas propriedades.

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312 MARIA ENCARNAÇÃO BELTRÃO SPOSITO • DORALICE SÁTYRO MAIA (ORGS.)

É preciso enfatizar, por fim, que Chapecó acaba por enfrentar também
o paradoxo da modernização, quando o comércio e os serviços da cidade
deparam com os saldos negativos do agronegócio, advindos das macropo-
líticas econômicas, das crises financeiras globais, ou até da estiagem, que
acaba por afetar toda a economia local, com significativo impacto sobre
o setor terciário. Portanto, se por alguns aspectos que aqui destacamos a
cidade consolida-se em seu papel regional, influenciando territorialmente
seu entorno em termos de produção, circulação e consumo, por outros,
alcança escalas nacional e internacional, o que implica também sofrer os
impactos que chegam a essas escalas. Entre a permanência e/ou mudança
de agentes econômicos que reestruturam o urbano e o regional, a cidade
também reflete esses movimentos, sobreposições e contradições.

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SOBRE O LIVRO
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 27,5 x 49 paicas
Tipologia: Horley Old Style 11/15
1a edição: 2016

EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Capa
Megaarte Design
Edição de texto
Giuliana Gramani (Copidesque)
Tikinet (Revisão)
Editoração eletrônica
Eduardo Seiji Seki (Diagramação)
Assistência editorial
Alberto Bononi
Jennifer Rangel de França

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CIDADES EM TRANSIÇÃO
DOURADOS/MS: UMA CIDADE MÉDIA ENTRE OS PAPÉIS
AGENTES ECONÔMICOS E

DOURADOS E CHAPECÓ
REGIONAIS E A DINÂMICA GLOBALIZADA

Maria José Martinelli Silva Calixto


REESTRUTURAÇÃO URBANA E REGIONAL
Mara Lucia Falconi da Hora Bernardelli

CHAPECÓ/SC: O AGRONEGÓCIO, O SETOR TERCIÁRIO EM


EXPANSÃO E A CRESCENTE DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL

Alexandre Maurício Matiello


Ana Laura Vianna Villela
DOURADOS E CHAPECÓ
Camila Fujita
Cristina Otsuschi
Rosa Salete Alba

Maria Encarnação Beltrão Sposito

Doralice Sátyro Maia

(Orgs.)

CIDADES EM TRANSIÇÃO

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