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I
1. Defina Poupança.
R.: Que eu saiba, todo o mundo está de acordo em designar por poupança o excesso da
renda sobre o que se gasta em consumo. Certamente, seria muito inconveniente e
enganador dar-lhe outro significado. Também não há divergências de opinião sobre o que
se pretende designar por gastos de consumo. Assim sendo, as diferenças de interpretação
surgem da definição de investimento ou na de renda.
II
III
6. De que forma é possível que haja diferença entre poupança e investimento?
R.: Passamos agora às divergências entre poupança e investimento devidas a uma definição
especial da renda e, logo, do excesso da renda sobre o consumo. O emprego que fiz destes
termos em minha obra Treatise on Money é um bom exemplo disso, pois, conforme expliquei
na página 51, a definição de renda que aí adotei se distingue da que estou agora dando pelo
fato de que então era considerada renda dos empresários, não os lucros realmente obtidos,
mas (em certo sentido) o seu “lucro normal”. Assim, por excedente da poupança sobre o
investimento queria dizer que a escala de produção era tal que os empresários, como
proprietários do equipamento de capital, estavam retirando um lucro inferior ao normal; e
quando falava de um excesso maior de poupança sobre o investimento queria dizer que os
lucros efetivos estavam sendo reduzidos de tal maneira que os empresários teriam motivo
para contrair a produção.
IV
15. Explique por que a poupança é uma transação com dois lados.
R.: A preponderância da ideia de que a poupança e o investimento, tomados no seu sentido
literal, podem ser diferentes só se explica, no meu entender, por uma ilusão de ótica, em
virtude de a relação entre um depositante individual e seu banco ser encarada como uma
transação unilateral em vez de bilateral como realmente é. Supõe-se que um depositante e
seu banco podem articular-se de maneira que realizem uma operação que faça desaparecer
as poupanças do sistema bancário de modo a se perderem para o investimento, ou, pelo
contrário, que o sistema bancário torne possível a realização de um investimento a que não
corresponde poupança alguma.
16. Exponha por que não é possível poupar sem adquirir um ativo.
R.: Ninguém pode, porém, poupar sem adquirir uma valor ativo, seja dinheiro, um débito ou
bens de capital; e para que alguém possa adquirir um bem que antes não possuía, é
necessário que outro bem de valor igual se crie, ou que outra pessoa se desfaça de um bem
do mesmo valor que antes possuía. No primeiro caso, há um investimento novo
correspondente; no segundo, alguém tem de deixar de poupar uma quantia igual, porque
sua perda de riqueza decorre, de fato, de um excesso do seu consumo sobre a sua renda e
não de uma perda na conta de capital por modificação no valor de um ativo de capital, pois
não se trata aqui de uma perda sobre o valor que seu ativo de capital tinha anteriormente; o
indivíduo recebe justamente o valor corrente de seu ativo e, contudo, não o retém em forma
alguma de riqueza, isto é, deve estar gastando no consumo corrente, excedendo o
rendimento corrente. Além disso, se é o sistema bancário que cede um bem, alguém tem de
renunciar à posse de dinheiro líquido. Daqui se deduz que a poupança agregada do primeiro
indivíduo, somada à dos outros, deve ser, necessariamente, igual ao montante do novo
investimento corrente.
20. Qual é o erro da visão antiga da poupança? Por que ela ocorre?
R.: Deste modo, o ponto de vista já antiquado de que a poupança sempre supõe
investimento, embora incompleto e enganoso, é certamente mais justo que a ideia moderna
segundo a qual pode haver poupança sem investimento ou investimento sem poupança
“genuína”. O erro ocorre quando se chega à dedução plausível de que, quando um indivíduo
poupa, aumenta em quantidade igual o investimento agregado. É verdade que, quando um
indivíduo poupa, ele aumenta sua própria riqueza. Concluir, porém, que ele aumenta
também a riqueza agregada é querer ignorar as reações possíveis do ato de poupança de
um indivíduo sobre as poupanças de outrem e, portanto, sobre a riqueza de outrem.