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Roteiro Keynes Capítulo 7 – Macroeconomia III

Aluna: Mariane B. Duarte

I
1. Defina Poupança.
R.: Que eu saiba, todo o mundo está de acordo em designar por poupança o excesso da
renda sobre o que se gasta em consumo. Certamente, seria muito inconveniente e
enganador dar-lhe outro significado. Também não há divergências de opinião sobre o que
se pretende designar por gastos de consumo. Assim sendo, as diferenças de interpretação
surgem da definição de investimento ou na de renda.

II

2. Qual a definição comum/popular de Investimento?


R.: Tomemos o investimento em primeiro lugar. Na linguagem corrente, esta palavra designa
a compra de um ativo, velho ou novo, por um indivíduo ou por uma empresa. Por vezes, o
alcance do termo é limitado à compra de um ativo na Bolsa de Valores.

3. Qual a definição mais geral?


R.: Mas também falamos, igualmente, de investimentos em imóveis, máquinas, estoques de
produtos acabados ou não; e, de maneira geral, novo investimento, por oposição a
reinvestimento, significa a compra, por aplicação dos rendimentos, de um bem de capital de
qualquer espécie. Se considerarmos a venda de um investimento como um investimento
negativo, isto é, como um desinvestimento, minha própria definição está de acordo com a
de uso popular, visto que as transações ocorridas nos investimentos antigos forçosamente
se anulam.

4. Nesta definição, como ocorre o equilíbrio entre Poupança e Investimento?


R.: Naturalmente temos de ajustar o caso com vista à criação e à liquidação de débitos
(incluindo as variações da quantidade de crédito ou de moeda); mas, embora para a
comunidade em seu conjunto o aumento ou a diminuição no saldo do crédito agregado seja
sempre exatamente igual ao aumento ou à diminuição do saldo do débito agregado, esta
complicação se neutraliza também quando se trata do investimento agregado. Por
consequência, admitindo-se que a noção popular de renda coincide com a minha de renda
líquida, o investimento agregado no sentido corrente corresponde à minha definição de
investimento líquido, ou seja, à adição líquida a toda espécie de equipamentos de capital,
após dedução das variações no valor dos equipamentos de capital velhos que entram no
cálculo da renda líquida.
O investimento, assim definido, inclui, portanto, o aumento do equipamento de capital, quer
ele consista em capital fixo, capital circulante ou capital líquido, e as principais diferenças
entre as definições (abstraindo-se da distinção entre investimento e investimento líquido)
são devidas à exclusão de uma ou de várias destas categorias.

5. Logo, o consumo de capital e sua formação não é igual ao Investimento e desinvestimento


definido antes? Justifique.
R.: Parece provável que a formação de capital e o consumo de capital, tal como os
consideram os economistas da escola austríaca, não sejam idênticos ao investimento nem
ao desinvestimento segundo a definição acima, nem ao investimento ou desinvestimento
líquido. Em especial, diz-se que o consumo de capital ocorre em circunstâncias tais que não
há claramente diminuição líquida no equipamento de capital tal como foi definido acima.
Todavia, não encontrei referência nenhuma onde se explicasse claramente o significado
destes termos. Por exemplo, dizer que a formação de capital ocorre quando se prolonga o
período de produção pouco contribui para esclarecer o assunto.

III
6. De que forma é possível que haja diferença entre poupança e investimento?
R.: Passamos agora às divergências entre poupança e investimento devidas a uma definição
especial da renda e, logo, do excesso da renda sobre o consumo. O emprego que fiz destes
termos em minha obra Treatise on Money é um bom exemplo disso, pois, conforme expliquei
na página 51, a definição de renda que aí adotei se distingue da que estou agora dando pelo
fato de que então era considerada renda dos empresários, não os lucros realmente obtidos,
mas (em certo sentido) o seu “lucro normal”. Assim, por excedente da poupança sobre o
investimento queria dizer que a escala de produção era tal que os empresários, como
proprietários do equipamento de capital, estavam retirando um lucro inferior ao normal; e
quando falava de um excesso maior de poupança sobre o investimento queria dizer que os
lucros efetivos estavam sendo reduzidos de tal maneira que os empresários teriam motivo
para contrair a produção.

7. De que forma o volume de emprego é fixado?


R.: De um lado o volume de emprego (e por consequência o da produção e da renda real)
é fixado pelo empresário sob o motivo de procurar maximizar seus lucros presentes e futuros
(sendo a previsão correspondente ao custo de uso determinada segundo a maneira como
ele concebe a utilização do equipamento para que este lhe proporcione, no curso de sua
duração, um rendimento máximo). De outro lado, o volume de emprego que lhe
proporcionará este máximo de lucros depende da função da demanda agregada
determinada pelas suas previsões de vendas que, nas diferentes hipóteses, devem resultar,
respectivamente, do consumo e do investimento.

8. Do que depende tal volume?


R.: O volume de emprego depende das estimativas da demanda efetiva feitas pelos
empresários, sendo o critério para um aumento na dita demanda um aumento previsto do
investimento em relação à poupança, conforme a definição apresentada em Treatise on
Money.
“A expectativa de um aumento no excesso do investimento sobre a poupança, dado o
volume anterior de emprego e produção, induzirá os empresários a aumentar o volume do
emprego e da produção”.

9. Exponha o argumento antigo para distinção entre a poupança e investimento?


R.: Por excedente da poupança sobre o investimento Keynes queria dizer que a escala de
produção era tal que os empresários, como proprietários do equipamento de capital,
estavam retirando um lucro inferior ao normal; e quando falava de um excesso maior de
poupança sobre o investimento queria dizer que os lucros efetivos estavam sendo reduzidos
de tal maneira que os empresários teriam motivo para contrair a produção.

10. Exponha o novo argumento.


R.: Na sua maneira atual de pensar, de um lado o volume de emprego (e por consequência
o da produção e da renda real) é fixado pelo empresário sob o motivo de procurar maximizar
seus lucros presentes e futuros (sendo a previsão correspondente ao custo de uso
determinada segundo a maneira como ele concebe a utilização do equipamento para que
este lhe proporcione, no curso de sua duração, um rendimento máximo); de outro lado, o
volume de emprego que lhe proporcionará este máximo de lucros depende da função da
demanda agregada determinada pelas suas previsões de vendas que, nas diferentes
hipóteses, devem resultar, respectivamente, do consumo e do investimento.

11. Exponha o significado deste argumento.


R.: Na obra Treatise on Money, o conceito de variações no excedente do investimento sobre
a poupança era um meio de tratar as variações do lucro, embora não fizesse distinção clara
entre os resultados previstos e os realizados. Keynes dizia que a variação no excesso do
investimento sobre a poupança era a força motora que governava as modificações do
volume da produção. No raciocínio novo, embora sendo mais exato e instrutivo, na opinião
dele, é essencialmente um desenvolvimento do anterior. Na linguagem da obra Treatise on
Money, se enunciaria que a expectativa de um aumento no excesso do investimento sobre
a poupança, dado o volume anterior de emprego e produção, induzirá os empresários a
aumentar o volume do emprego e da produção. A importância de meus raciocínios atuais e
anteriores reside na sua tentativa de mostrar como o volume de emprego é determinado
pelas estimativas da demanda efetiva feitas pelos empresários, sendo o critério para um
aumento na dita demanda um aumento previsto do investimento em relação à poupança,
conforme a definição apresentada em Treatise on Money. É verdade, porém, que minha
exposição em Treatise on Money se apresenta muito confusa e incompleta à luz dos novos
desenvolvimentos aqui expostos.

12. Explique o argumento de Robertson.


R.: D. H. Robertson definiu a renda de hoje como sendo igual ao consumo de ontem mais o
investimento, de modo que a poupança de hoje, no sentido que ele lhe atribuiu, é igual ao
investimento de ontem mais o excesso de consumo de ontem sobre o de hoje. Segundo
esta definição, a poupança pode ser superior ao investimento, isto é, por haver um excesso
na renda de ontem (no sentido por mim atribuído) sobre a de hoje. Assim, quando Robertson
diz que há um excedente de poupança sobre o investimento, exprime literalmente a mesma
ideia que eu quando digo que a renda decai, e o excedente da poupança no seu entender é
exatamente igual ao declínio da renda no meu entender. Se fosse certo que as expectativas
correntes fossem sempre determinadas pelos resultados obtidos ontem, a demanda efetiva
de hoje seria igual à renda de ontem. Pode-se, portanto, considerar o método de Robertson
uma tentativa alternativa do meu (sendo, talvez, uma primeira aproximação dele) para
estabelecer a mesma distinção, tão vital para a análise causal, que tentei fazer pondo em
contraste a demanda efetiva e a renda.

IV

13. Explique do que pode resultar a mudança no nível de poupança.


R.: É evidente que uma variação no volume da produção e do emprego provocará mudanças
na renda medida em unidades de salário; que uma variação na unidade de salário
ocasionará, por sua vez, uma alteração na distribuição da renda entre os mutuários e os
mutantes e uma variação na renda agregada medida em moeda; e que em ambos os casos
haverá (ou poderá haver) uma variação no montante poupado. Como as variações na
quantidade de moeda podem, consequentemente, ter como resultado, agindo sobre a taxa
de juros, modificar o volume e a distribuição da renda (conforme veremos mais adiante), é
possível que tenham uma ação indireta sobre o montante poupado. Estas alterações no
montante poupado não são, porém, mais “poupança forçada” do que qualquer outra variação
no montante poupado, em virtude de uma variação das circunstâncias; e não há meio para
distinguir esses dois casos, a não ser que especifiquemos o montante poupado em certas
condições tomadas como norma ou padrão. Além disso, como veremos, a amplitude das
alterações na poupança agregada, que resulta de determinada modificação na quantidade
de moeda, é extremamente variável e depende de muitos outros fatores.

14. Por que o conceito de poupança forçada não faz sentido?


R.: Assim sendo, a expressão “poupança forçada” não tem sentido a não ser que tomemos
como padrão alguma taxa de poupança. Se escolhermos (como parece razoável) a taxa que
corresponda a um nível observado de pleno emprego, a definição passa a ser: “Poupança
forçada é o excedente da poupança real sobre o que se pouparia se houvesse pleno
emprego numa situação de equilíbrio a longo prazo”. Esta definição teria sentido, mas
significaria ser o excedente forçado da poupança um fenômeno muito raro e muito instável,
e uma deficiência forçada da poupança o estado normal da atividade econômica.

15. Explique por que a poupança é uma transação com dois lados.
R.: A preponderância da ideia de que a poupança e o investimento, tomados no seu sentido
literal, podem ser diferentes só se explica, no meu entender, por uma ilusão de ótica, em
virtude de a relação entre um depositante individual e seu banco ser encarada como uma
transação unilateral em vez de bilateral como realmente é. Supõe-se que um depositante e
seu banco podem articular-se de maneira que realizem uma operação que faça desaparecer
as poupanças do sistema bancário de modo a se perderem para o investimento, ou, pelo
contrário, que o sistema bancário torne possível a realização de um investimento a que não
corresponde poupança alguma.

16. Exponha por que não é possível poupar sem adquirir um ativo.
R.: Ninguém pode, porém, poupar sem adquirir uma valor ativo, seja dinheiro, um débito ou
bens de capital; e para que alguém possa adquirir um bem que antes não possuía, é
necessário que outro bem de valor igual se crie, ou que outra pessoa se desfaça de um bem
do mesmo valor que antes possuía. No primeiro caso, há um investimento novo
correspondente; no segundo, alguém tem de deixar de poupar uma quantia igual, porque
sua perda de riqueza decorre, de fato, de um excesso do seu consumo sobre a sua renda e
não de uma perda na conta de capital por modificação no valor de um ativo de capital, pois
não se trata aqui de uma perda sobre o valor que seu ativo de capital tinha anteriormente; o
indivíduo recebe justamente o valor corrente de seu ativo e, contudo, não o retém em forma
alguma de riqueza, isto é, deve estar gastando no consumo corrente, excedendo o
rendimento corrente. Além disso, se é o sistema bancário que cede um bem, alguém tem de
renunciar à posse de dinheiro líquido. Daqui se deduz que a poupança agregada do primeiro
indivíduo, somada à dos outros, deve ser, necessariamente, igual ao montante do novo
investimento corrente.

17. Pode haver poupança sem investimento? Justifique.


R.: Deste modo, o ponto de vista já antiquado de que a poupança sempre supõe
investimento, embora incompleto e enganoso, é certamente mais justo que a ideia moderna
segundo a qual pode haver poupança sem investimento ou investimento sem poupança
“genuína”. O erro ocorre quando se chega à dedução plausível de que, quando um indivíduo
poupa, aumenta em quantidade igual o investimento agregado. É verdade que, quando um
indivíduo poupa, ele aumenta sua própria riqueza. Concluir, porém, que ele aumenta
também a riqueza agregada é querer ignorar as reações possíveis do ato de poupança de
um indivíduo sobre as poupanças de outrem e, portanto, sobre a riqueza de outrem.

18. No que o crédito bancário irá se basear? Justifique.


R.: A ideia de que a criação de crédito pelo sistema bancário permite realizar investimentos,
aos quais “nenhuma poupança genuína” corresponde, resulta, unicamente, de se isolar uma
das consequências do aumento do crédito bancário, com a exclusão das demais. Se a
concessão de um crédito adicional a créditos já existentes permite ao empresário efetuar
uma adição ao seu investimento corrente, que de outro modo não poderia ocorrer, as rendas
aumentarão necessariamente e numa proporção que, em geral, excederá a do investimento
suplementar. Além disso, salvo em caso de pleno emprego, tanto a renda real como a
monetária serão acrescidas. O público exercerá “uma livre escolha” das proporções em que
dividirá o seu acréscimo de rendas entre poupança e dispêndio; e é impossível que a
intenção do empresário que pediu emprestado para aumentar o seu investimento possa
tornar-se efetiva (exceto como substituição dos investimentos de outros empresários que,
do contrário, teriam ocorrido) a um ritmo mais acelerado do que o público decide aumentar
as suas poupanças. Além disso, as poupanças que resultam dessa decisão são tão
genuínas quanto quaisquer outras.
Não se pode obrigar ninguém a ficar na posse da moeda adicional correspondente ao novo
crédito bancário, a não ser que esse alguém prefira deliberadamente guardar mais dinheiro
a outra forma de riqueza. Mesmo assim, o emprego, as rendas e os preços não podem
subtrair-se ao movimento que na nova situação lhes impõe o fato de alguém preferir
conservar o dinheiro adicional. É verdade que o aumento inesperado do investimento numa
direção particular pode causar no montante agregado da poupança e do investimento uma
perturbação que se não verificaria se ele tivesse sido previsto com bastante antecipação.
19. Quais as consequências da mudança no crédito bancário? Justifique.
R.: Também é verdade que a concessão do crédito bancário faz surgir três tendências: (1)
aumento da produção; (2) alta no valor da produção marginal expressa em unidades de
salário (o que em condições de rendimentos decrescentes deve necessariamente
acompanhar um aumento da produção); e (3) alta da unidade de salários em termos de
moeda (efeito que em geral acompanha a melhoria do emprego); e estas tendências podem
afetar a distribuição da renda real entre os diferentes grupos.

20. Qual é o erro da visão antiga da poupança? Por que ela ocorre?
R.: Deste modo, o ponto de vista já antiquado de que a poupança sempre supõe
investimento, embora incompleto e enganoso, é certamente mais justo que a ideia moderna
segundo a qual pode haver poupança sem investimento ou investimento sem poupança
“genuína”. O erro ocorre quando se chega à dedução plausível de que, quando um indivíduo
poupa, aumenta em quantidade igual o investimento agregado. É verdade que, quando um
indivíduo poupa, ele aumenta sua própria riqueza. Concluir, porém, que ele aumenta
também a riqueza agregada é querer ignorar as reações possíveis do ato de poupança de
um indivíduo sobre as poupanças de outrem e, portanto, sobre a riqueza de outrem.

21. Exponha a reconciliação de Poupança e Investimento.


R.: A conciliação da identidade entre a poupança e o investimento com a aparente “livre
vontade” do indivíduo para economizar o que quiser, independentemente do que os outros
ou ele mesmo possa investir, depende especialmente do fato de ser a poupança, como
dispêndio, um fenômeno de duplo caráter.

22. E o consumo, exponha o papel dele na teoria keynesiana.


R.: Embora não seja provável porque o montante da poupança de um indivíduo tenha
alguma influência sensível sobre a sua própria renda, as reações do montante do seu
consumo sobre as rendas dos outros tornam impossível que todos os indivíduos poupem
simultaneamente quaisquer somas dadas. Toda tentativa de poupar mais, reduzindo o
consumo, age de tal modo sobre as rendas que necessariamente anula a si mesma. É, sem
dúvida, igualmente impossível à comunidade em sua totalidade poupar menos que o
montante do investimento corrente, já que uma tentativa desta ordem fará subir
necessariamente os rendimentos até a um nível em que as somas que os indivíduos
decidem poupar alcancem uma cifra exatamente igual ao montante do investimento.

23. Para Keynes a agregação é a soma das partes individuais? Justifique.


R.: Embora um indivíduo, cujas transações são de pouca importância em relação ao
mercado, possa, despreocupadamente, desprezar o fato de que a demanda não é uma
operação unilateral, seria insensatez desprezá-lo tratando-se da demanda agregada. É esta
a diferença vital entre a teoria do comportamento econômico da comunidade e a do
comportamento de uma unidade individual, na qual admitimos que as variações na demanda
do próprio indivíduo não afetam sua renda.

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