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Noções de Cálculo Financeiro

Texto de Apoio

Mafalda Mendes Ribeiro, Phd

C. Machado Santos (Autor)


2

1 O PROCESSO DE CAPITALIZAÇÃO

Ao aplicar as suas poupanças num dado produto financeiro os investidores


têm, regra geral, como principal preocupação saber qual será o rendibilidade
dessa aplicação. Posto de outra forma, dado o rendimento de um
investimento pretendem saber qual a taxa efectiva de rendibilidade
conseguida.

Por exemplo, se adquirir certificados de aforro e os detiver durante 5 anos


qual será o montante que receberá ao fim desses 5 anos? Se adquiriu
unidades de participação de um fundo de investimento, por um prazo de 3
meses, com um ganho de 100 por unidade, qual foi a taxa anual de
rendibilidade? E quais os efeitos da inflação sobre essa mesma
rendibilidade?

É a este tipo de questões que pretendemos dar resposta neste capítulo.

1.1. Noções Fundamentais

1.1.1. Capital financeiro e juro

Os factores capital e juro, conhecidos pela generalidade das pessoas, têm


sido analisados sob diferentes ópticas, as quais lhe conferem características
específicas e com significados bem distintos. O presente módulo vai
analisar estes factores numa óptica essencialmente financeira.

É sabido que o rendimento das pessoas pode ser utilizado de duas formas
distintas: na aquisição de bens ou serviços para consumo, ou poupada. A
poupança, parte não consumida, pode ser mantida sob a forma líquida de
moeda, o que constitui a forma típica e já não muito usual de
entesouramento (que é improdutivo); ou poderá ser aplicada em produtos

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financeiros, na concessão de empréstimos ou ainda na aquisição de meios


de produção. É esta parte da poupança, a que é aplicada, que nos vai
interessar estudar.

CONSUMO
RENDIMENTO ENTESOURADA
(improdutiva)
POUPANÇA
INVESTIDA
(capital financeiro)

Assim, por Capital financeiro entende-se todo o conjunto de meios líquidos


cedidos durante um determinado espaço de tempo, que produzem uma certa
remuneração para o seu proprietário.

Juro, será a remuneração recebida em contrapartida da cedência do capital.


Podemos dizer que o juro é o preço do uso, num dado período de tempo, do
capital alheio.

1.1.2. Função juro

Sendo o juro um preço a pagar, ele vai corresponder ao incremento sofrido


por um dado capital aplicado (capital inicial) durante um certo prazo de
tempo. Digamos que o juro vai ser o valor que está "para além" do capital
inicialmente investido. Será este "lucro" que vai servir de base a toda a
problemática relacionada com o cálculo financeiro.

Consideremos então um capital aplicado num dado momento de tempo, que


vamos designar por momento zero (0), isto é: o momento em que o
investimento é feito.

Co Co + Juro ...

0 1 ...

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Ao fim de um período, de 0 a 1, o capital investido Co (ou CI1 - capital


inicial do período 1) vai vencer juros ou, por outras palavras, vai sofrer um
acréscimo de valor. Este juro (J) origina que o capital Co se transforme no
capital Co+J (ou CF1 - capital final do período 1), isto é, num valor superior.

Vamos supor que o capital Co é referido em termos de capital unitário, Co =


1, que é aplicado no mesmo momento de tempo que o exemplo anterior.

1 1+i ...

0 1 ...

Durante o período compreendido entre 0 e 1, a unidade de capital vai sofrer


um acréscimo de valor. Este acréscimo representado por i vai transformar o
capital unitário inicial, no capital 1+i, ao fim de uma unidade de tempo.

Assim, o juro será uma função do capital investido e do tempo, isto é, a


condição necessária e suficiente para que haja juro é que haja capital e tempo.

Por seu lado, a Taxa de Juro será o acréscimo sofrido por uma unidade de
capital, aplicada durante uma unidade de tempo.

Exemplo 1

Uma taxa de juro de 10% ao ano significa que durante um ano (unidade de
tempo) 100 unidades de capital vão vencer um juro de 10 unidades do
mesmo.

1.1.3. Valor acumulado e valor actual

Vamos considerar de novo o momento 0 como a origem da aplicação de um


dado capital Co.

Co ... Cn

0 ... n

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O capital Co no decurso do tempo irá transformar-se no capital Cn, que


corresponde ao valor inicial Co acrescido do juro Jn vencido no espaço de
tempo compreendido entre 0 e n.

C n = C0 + J n

Valor Acumulado

Em que Cn será o Valor Acumulado ou Capitalizado de Co no momento n.


Corresponde ao acréscimo do investimento feito no momento 0 pelos juros
vencidos no prazo de tempo considerado e a uma dada taxa de juro.

C0 = C n − J n

Valor Actual

Em que Co se designa por Valor Actual (actualizado) ou descontado no


momento 0, do capital Cn. Corresponde a uma diminuição do valor do
capital num dado momento de tempo futuro, de igual montante dos juros
que seriam vencidos no mesmo período de tempo no processo anterior.

Exemplo 2

Um capital de 500 foi aplicado em 1/6/N e durante um ano a uma taxa de


juro anual de 7%.

Actualização
Capitalização

500 535

0 1
1/6/N 1/6/N+1

Considerando 1/6/N como o momento de referência, dizemos que 500


representam o valor actual; 535 representam o valor acumulado ou
capitalizado em 1/6/N+1; 35 correspondem ao juro adicionado ao capital
inicial.

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535 = 500 + 35 Valor Acumulado

Se 1/6/N+1 fosse considerado o momento de referência, dizemos que 535


representavam o valor actual; 500 o valor descontado ou actualizado em
1/6/N; 35 corresponderiam ao desconto sofrido pelo valor actual.

Desde já deve ficar em nota, que o momento de referência assume extrema


importância quer na capitalização quer na actualização dos capitais, pois
será em relação a esse momento que se podem medir e quantificar quer os
juros quer o desconto. De referir também que se deve considerar como valor
actual o valor correspondente ao momento de referência.

Por outro lado, o processo de capitalização está directamente relacionado


com os princípios definidos para o valor acumulado de um dado
investimento. Por sua vez, a forma como se mede esse valor acumulado vai
depender essencialmente do regime de capitalização utilizado.

1.2. Regimes de Capitalização

Por regime de capitalização podemos entender o processo pelo qual se vai


fazer a liquidação dos juros do capital aplicado.

Como vimos, os juros dependem de dois factores:

- Valor do capital aplicado

- Espaço de tempo utilizado

Daí termos dito que o juro produzido é função do tempo e do capital. Esta
ligação Tempo - Capital está na base de dois regimes de capitalização que
iremos analisar nos pontos seguintes.

1.2.1. Regime de capitalização simples

Neste regime o juro vencido no final de cada período sai do processo de


capitalização, mantendo-se, assim, inalterado o capital inicial. Dado que o

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capital inicial de cada período de mantém constante, o juro também se


manterá constante.

sai
Co Co Co Co ... Co Co

0 1 2 3 ... n-1 n Tempo

J1 J2 J3 Jn
sai sai sai sai

No final do processo sai o capital investido mais o juro correspondente ao


último período.

Sendo:

C n = C 0 + J n = C 0 + C 0 ⋅ i ⇒ C n = C 0 (1 + i) Capital Final

J 1 = J 2 =... = J n ⇒ J = C 0 ⋅ i Juro Periódico

Exemplo 3

Um capital de 180 foi aplicado pelo prazo de 4 anos, em regime de juro


simples, à taxa anual de 15%.

a) Calcular o juro vencido em cada ano;


b) O total de juros vencidos durante o prazo de aplicação;
c) O capital a receber no final dos 4 anos.

Resolução

a) J = C0 ⋅ i
J = 180 ⋅ 15% = 27

b) Juro constante
J total = 4 ⋅ 27 = 108

c) C n = C 0 (1 + i)

C n = 180(1 + 15% ) = 207

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1.2.2. Regime de capitalização composto

Neste segundo regime, para além do capital inicial, o juro vencido em cada
unidade de tempo passa imediatamente a vencer juros nas unidades de
tempo posteriores. Assim, o juro vencido em cada período é totalmente
incorporado no processo de capitalização à mesma taxa de colocação do
capital inicial. O juro produzido é crescente de período para período, isto é,
há formação de juros sobre juros.

Designando:

Co - Capital inicial
n - Períodos de tempo
i - taxa de juro
J - juros vencidos

Co C1 C2 C3 ... Cn-1 Cn Cap. acumulado

0 1 2 3 ... n-1 n Tempo

J1 J2 J3 ... Jn-1 Jn Juros vencidos

C o = capital inicial

C1 = C 0 + J 1 = C 0 + C 0 ⋅ i = C 0 (1 + i)

2
C 2 = C1 + J 2 = C1 + C1 ⋅ i = C1 (1 + i) = C 0 (1 + i)

....
n
C n = C n −1 + J n = C 0 (1 + i)

n
C n = C 0 (1 + i)

Fórmula Geral de Capitalização em Regime Composto

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Exemplo 4

Aplicou-se um capital de 100 em regime de juro composto por um prazo de


20 anos. Calcular o capital acumulado ao fim deste período, admitindo uma
taxa de juro anual de 10%.

Co = 100 (Capital inicial)


C1 = 100 + 100 * 10% = 100 + 10 = 110
C2 = 110 + 110 * 10% = 110 + 11 = 121
C3 = 121 + 121 * 10% = 121 + 12,1 = 133,1
C4 = 133,1 + 133,1 * 10% = 133,1 + 13,31 = 146,41
..........
C20 = 100 ( 1 + 10% )20 = 672,75

Análise gráfica:

700
600
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Figura 4
Regime de Capitalização Composta

Juro total

Neste regime de capitalização não faz muito sentido falar em juro periódico,
mas sim e fundamentalmente em juro total do processo de capitalização. Por
outro lado também, relativamente ao capital acumulado, devemos
preocupar-nos apenas com o capital final, visto que tanto os juros como o
capital saem de uma só vez no final do processo.
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Temos:

Juro Total = Capital Final (acumulado) - Capital Inicial

n
J T = C n − C 0 ⇔ J T = C 0 (1 + i) − C 0

J T =C
0
[(1 + i) − 1]
n

Fórmula do Juro Total em Regime de Capitalização Composta

Exemplo 5

Calcular o juro total vencido no final do processo de capitalização referido


anteriormente; ou por outras palavras, determinar os juros vencidos no final
da aplicação.

C 0 = 100
C n = 672,75

[ 20
]
J T = 100 (1 + 10% ) − 1 = 572,75

ou

J T = 672,75 − 100 = 572,75

Exemplo 6

O Senhor A, para fazer face aos encargos de remodelação do seu escritório,


prevendo gastar 400 dentro de 8 anos, decide investir numa aplicação
financeira (“Poupança Investimento Postal”) com as seguintes condições:
− Taxa mínima garantida: 6%
− Comissão de subscrição: 4%

Quanto deve investir para obter o necessário fara fazer a remodelação do


seu escritório dentro de 8 anos?

C - capital investido

C0 - capital investido no fundo (líquido de comissões)

C8 - capital mínimo garantido no prazo de 8 anos


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C8 = C 0 (1 + 6% )8
400 = C 0 (1,06)8
400
C0 =
(1,06)8
C 0 = 250,965

C 0 = C − C ⋅ 4%
C 0 = C ⋅ (1 − 4% )
250,965 = C ⋅ (0,96 )
250,965
C=
0,96
C = 261,422

Ou seja,

C = 261,422: é o capital de facto investido pelo senhor A.

C0 = 250,965: é o capital líquido de comissões que vai produzir juro.

C8 = 400: é o capital mínimo garantido ao fim de 8 anos, que


equivale à capitalização do capital líquido (C0)
durante 8 anos à taxa de 6%.

Análise gráfica

400

261,422
250,965
P

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Repare que, embora o capital investido pelo senhor A seja de 261,422, o


capital líquido, que conta para efeitos de capitalização, é apenas de 250,965
.

A diferença (261,422 - 250,965 = 10,457) corresponde ao valor da comissão


de subscrição, ou seja, 4% de 261, 422.

Nos casos em que existe comissão de subscrição é importante fazer ver aos
subscritores que este tipo de investimentos devem ser de médio/longo
prazo. Desta forma, a comissão será diluída ao longo do tempo.

Repare que esta comissão de 4%, à taxa mínima garantida de 6%, só é


recuperada ao fim de:

t
261,422 = 250,965 ⋅ (1 + 6% )

261,422
(1 + 6% ) t =
250,965

(1 + 6% ) t = 1,041667

t ⋅ log(1,06) = log(1,041667)

log(1,041667)
t= = 0,7 anos
log(1,06)

ou seja, ao fim de 0,7 anos (8,4 meses), o que no gráfico representa o ponto
P. Este ponto é também designado de “ponto morto”, isto é, é o tempo que,
neste caso, demora a recuperar a comissão de subscrição.

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Glossário

Capital financeiro: meios líquidos cedidos durante um determinado prazo, que


produzem uma remuneração.

Juro: remuneração recebida em contrapartida da cedência de um capital.

Processo de capitalização: processo pelo qual um capital produz um juro ao fim de um


determinado prazo de tempo.

Regime de capitalização composto: processo de capitalização no qual o juro produzido


em cada período permanece no processo, havendo lugar à produção de juros sobre juros.

Regime de capitalização simples: processo de capitalização no qual o juro produzido


em cada período sai do processo, não havendo lugar à produção de juros sobre juros.

Taxa de juro: remuneração de uma unidade de capital cedida durante uma unidade de
tempo.

Valor actual (descontado): valor de um capital com vencimento futuro deduzido dos
juros respectivos (entre o momento actual e o vencimento do capital).

Valor acumulado (capitalizado): valor de um capital acrescido dos respectivos juros.

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2 TAXAS DE JURO

No capítulo anterior o processo de capitalização foi analisado de uma forma


bastante restritiva quanto ao período em que decorre a formação do juro.
Consideramos sempre que havia correspondência entre o período de
referência da taxa de juro e o período de capitalização.

Contudo, isto nem sempre é verdade, ou melhor, raramente corresponde à


realidade. É normal haver disparidade entre os dois períodos de referência.

Suponha que um banco anuncia uma taxa de juro de 14% ao ano para
depósitos a 6 meses. Temos aqui um exemplo concreto da disparidade entre
o período de referência da taxa de juro, anual, e o período de capitalização,
semestral.

Em situações deste tipo temos que saber determinar qual a taxa efectiva a
utilizar no período de capitalização, e por outro lado, se a taxa anunciada é
apenas uma taxa de referência, nominal; ou se é de facto uma taxa efectiva,
independente do período de capitalização.

2.1. Taxas Nominais e Taxas Efectivas

2.1.1. Taxas nominais

Sempre que dispomos de uma taxa nominal como referência, para


determinarmos o juro precisamos de a converter numa taxa efectiva. A
relação entre uma taxa nominal e uma taxa efectiva para períodos diferentes
é sempre uma relação de proporcionalidade, isto é, quando uma taxa de
juro nominal está referida a um dado período, a taxa efectiva a utilizar num
subperíodo deste, será sempre proporcional à taxa nominal do período base.

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Exemplo 1

Se for anunciada uma taxa anual nominal de 12%, obteremos as seguintes


taxas para diferentes subperíodos do ano:

Período de capitalização Taxas


1 ano 12%
1 semestre 6%
1 trimestre 3%
1 mês 1%

Neste caso temos que com a mesma taxa anual nominal de 12%, se, por
exemplo, 100 forem capitalizados trimestralmente, a taxa a vigorar será
12:4=3% (ao trimestre)

Assim,

Juro trimestral = 100 * 3% = 3

Situação 1: regime de juro simples

Para o prazo de um ano, como o juro sai do processo em cada período de 3


meses, teríamos um juro total de 4 * 3 , ou seja, é indiferente capitalizar
quatro vezes ao ano a uma taxa de 3% trimestral ou capitalizar apenas uma
vez ao ano com uma taxa de 12% anual.

Nota importante: admitimos que os juros vencidos em cada trimestre não


são reinvestidos. Se o forem à mesma taxa, devemos tirar as mesmas
conclusões que veremos para o regime de juro composto.

Co = 100

Juro trimestral = 100 * 3% = 3

Juro anual = 4 * 3 = 12 c/ 3% (4 trimestres)

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Co = 100

Juro anual = 100 * 12% = 12 c/ 12% (1 ano)

Situação 2: regime de juro composto

Aqui já não se verifica a igualdade anterior, pois como há formação de juros


sobre juros, não é indiferente capitalizar uma vez ao ano à taxa de 12% ou
capitalizar quatro vezes ao ano a uma taxa de 3% trimestral.

Co = 100

Juro trimestral = 100 * 3% = 3

Cn = 100 (1+3%)4 = 112,55

Juro anual = 112,55 - 100 = 12,55 c/ 3% (4 trim.)

DIFERENTES !

Co = 100

Juro anual = 100 * 12% = 12 c/ 12% (1 ano)

2.1.2. Taxas efectivas

São as que presidem, de facto, à formação do juro. Por esta razão, na


situação anterior podemos dizer que a taxa de 3% trimestral é uma taxa
efectiva, embora dependa da relação de proporcionalidade da taxa de 12%
anual nominal capitalizada trimestralmente.

Assim como no caso da capitalização ser anual, a taxa anual nominal de


12% é também efectiva pois vai presidir de facto à formação do juro.

Repare contudo que o montante dos juros é diferente! Como iremos ver,
esta situação deve-se ao facto de não termos utilizado uma relação de
equivalência, isto é, 3% trimestral não é equivalente a 12% ao ano

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capitalizável trimestralmente quando se trata do regime de juros composto,


pois neste está implícita a formação de juros sobre juros.

SIMBOLOGIA:

i Taxa "anual" efectiva

i1/m Taxa "subanual” efectiva

i(m) Taxa "anual" nominal

Sendo "m" o número de vezes que a capitalização se faz ao "ano" (período base)

CÁLCULO DAS DIFERENTE TAXAS

Situação 1

É dada uma taxa anual i (efectiva) e pretende-se i1/m (subanual efectiva);

m
1 + i = (1 + i 1/ m ) Relação de Equivalência

1
(1 + i) m = 1 + i1/ m

1
i 1/ m = (1 + i) m − 1

Taxa "subanual" efectiva

E se fosse dada i1/m, como determinar i ?

1
i 1/ m = (1 + i) m − 1

logo:

1
1 + i 1/ m = (1 + i) m

(1 + i1/ m ) m = 1 + i
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m
i = (1 + i 1/ m ) − 1

Taxa “anual” efectiva (TAE)

Situação 2

É dada uma taxa anual i(m) (nominal) e pretende-se i1/m(subanual efectiva);

i ( m) = m ⋅ i 1/ m Relação de Proporcionalidade

i ( m)
i 1/ m =
m
Taxa “subanual” efectiva

Nota: Este é o caso típico dos depósitos bancários

Exemplo 2

Um depósito bancário é remunerado à taxa anual de 10% capitalizável duas


vezes ao ano. Qual o juro ao fim de 1 semestre?

Co = 100

n = 1 semestre

i(2) = 10% (anual nominal com capitalização semestral)

Taxa de juro efectiva semestral,

i ( 2 ) 10%
i 1/ 2 = = = 5%
2 2

Assim,

J = Co * 5% => J = 100 * 5% = 5

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(2)
Vimos que a taxa subanual efectiva proporcional à taxa anual nominal i =
10% é a taxa i1/2 = 5%.

Mas, qual será agora a taxa anual efectiva equivalente à taxa efectiva
semestral i1/2 = 5% ?

i = (1 + i1/2)2 -1

i = (1 + 5%)2 -1

i = (1,05)2 -1

i = 0,1025 = 10,25%

Repare que um banco que anuncie taxas anuais de 10% com capitalização
semestral, declara pagar 10% mas efectivamente paga mais. O mesmo
acontece na situação inversa, quando o banco concede empréstimos.

Por exemplo, num empréstimo para habitação, um banco que anuncie um


juro anual de 10% está, de facto, a cobrar 10,4713% ao ano, visto a
capitalização dos juros ser mensal. Verifique!...

Exemplo 3

Um investidor adquiriu em 1/6/06 100 unidades de participação de um


fundo de investimento por 1.100 cada. No dia 31/8/06 decidiu vender essas
mesmas unidades. A cotação em bolsa era de 1.12475 por unidade. As
operações de subscrição e resgate deste fundo estão isentas de comissões.

Pretende-se saber qual foi a taxa anual efectiva (TAE) de retorno deste
investimento.

Montante investido em 1/6/06: 100 * 1.100 = 110.00

Montante recebido em 31/8/06: 100 * 1.12475 = 112.475

O investidor teve um ganho de 2.475 (112.475-110.00) durante este período


(91 dias), a que corresponde uma taxa de:

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2.475
i' = = 0,0225 = 2,25%
110.000

Note-se que i’é uma taxa efectiva para os 91 dias. Pretende-se saber a taxa
anual efectiva, que será uma taxa equivalente a i’.

365
i = (1 + 2,25%) 91 − 1 = 0,09335 = 9,335% (TAE)

A fracção 365/91 corresponde ao número de capitalizações de 91 dias que é


possível fazer durante um ano.

Exemplo 4

Pretende-se determinar a taxa anual efectiva líquida (depois de impostos),


para o 1º ano, dos certificados de aforro, que têm as seguintes condições:
− vencimento de juros trimestralmente com capitalização automática;
− por cada semestre par além do 1º, a taxa tem um acréscimo de 0,25%
até atingir um máximo de 2% no 5º ano e seguintes;
− sobre os juros incide IRS à taxa liberatória de 20%;
− a taxa de juro anual nominal bruta base (no momento da subscrição) é
de 6, 8125%.

Taxas trimestrais efectivas brutas:


i ( 4) 6,8125%
1º e 2º trimestres: i 1/ 4 = = = 1,703125%
4 4
i ( 4 ) 6,8125% + 0,25%
3º e 4º trimestres: i 1/ 4 = = = 1,765625%
4 4

Taxas trimestrais efectivas líquidas:

Obtêm-se deduzindo os 20% de IRS


1º e 2º trimestres: 1,703125% * 0,8 = 1,3625%
3º e 4º trimestres: 1,765625% * 0,8 = 1,4125%

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Taxa anual efectiva (líquida)

Para calcular a taxa anual efectiva temos que capitalizar em cada trimestre à
taxa respectiva. Assim,

TAE = (1+1,3625%) (1+1,3625%) (1+1,4125%) (1+1,4125%) - 1


= 5,67% (aprox.)

Taxa anual Taxa efectiva Taxa efectiva Taxa efectiva


nominal bruta trimestral bruta trimestral líquida
líquida "acumulada"
1º trim. 6,8125% 1,703125% 1,3625% 1,3625%
2º trim. 6,8125% 1,703125% 1,3625% 2,7436%
3º trim. 7,0625% 1,765625% 1,4125% 4,1948%
4º trim. 7,0625% 1,765625% 1,4125% 5,6666%

2.2. A Questão da Inflação: Taxas de Juro Reais e Taxas de Juro


Nominais

Tinhamos visto anteriormente os conceitos de inflação e taxa de inflação.


Falta agora relacionar este fenómeno com as taxas de juro.

Em épocas de inflação, o juro deve ser visto como a agregação de duas


partes: por um lado, compensar a erosão monetária de modo a manter o
valor real do capital; por outro lado, assegurar a sua remuneração. Ou seja,
há três categorias de juro:

- Juro nominal, ou a preços correntes, à taxa in;


- Juro compensatório, à taxa de inflação ii;
- Juro real, ou a preços constantes, à taxa ir.

A capitalização nominal de Co durante 1 período é igual à articulação de


dois crescimentos, um acumulando-se sobre o outro, isto é, Co sofre a
capitalização compensatória da inflação e, sobre esta, sofre a capitalização
real.

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C o (1 + i n ) = C o (1 + i i )(1 + i r )

donde,

(1 + i n ) = (1 + i i )(1 + i r )
ou seja,

ir =
(1 + i n ) − 1
(1 + i i )

Exemplo 5

O Sr. A efectuou um depósito de 100 à taxa de juro anual de 10%. Durante


o mesmo período a taxa de inflação foi de 12%.

→ O valor nominal obtido no final do ano é:

C n = 100 (1 + 10% ) = 110

→ O valor obtido a preços (constantes) da data do depósito é:

100 (1 + 10% )
Cn = = 98,214
1 + 12%

→ A taxa de juro real ir é:

ir =
(1 + 10% ) − 1 = −1,786%
(1 + 12% )

ou, com base no resultado anterior,

100 (1 + i r ) = 98,214 ⇒ i r = −1,786%

→ Se o Sr. A tivesse uma taxa de juro real de 5%, a taxa de juro anual
nominal in deveria ter sido:

i n = (1 + 5% ) (1 + 12% ) − 1 = 17,6%

Generalização com taxas fixas (para t períodos)

t t
C o (1 + i n ) = C o (1 + i i ) (1 + i r ) t

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


23

ou seja,

(1 + i n ) t = (1 + i i ) t (1 + i r ) t

Generalização com taxas variáveis (para t períodos)

t
(1 + i )
n1 ( ) (
... 1 + i n t = 1 + i i1 ) ... (1 + i ) * (1 + i )
it r

Onde,

i r = Taxa de juro real média; com as taxas (ou as suas médias)


i n1 ... i n t e i i1 ... i it conhecidas.

Exemplo 6

Certificados de aforro adquiridos em Janeiro de 1987 por 500 apresentavam


um valor acumulado em Janeiro de 1992 de 1019,6. Durante os anos de
1987 a 1991, inclusive, as taxas de inflação em Portugal foram 9,4%; 9,6%;
12,6%; 13,4% e 11,4%, respectivamente.

→ A taxa de juro nominal média anual i n foi:

5
1019,6 = 500 1 + i n ( )
5 1019,6
(1 + i )n =
500

1
1019,6  5
in =   − 1 = 15,317%
 500 

→ A taxa de juro real média anual i r foi:

(1 + 15,317%)5 =
5
= (1 + 9,4% ) (1 + 9,6% ) (1 + 12,6% ) (1 + 13,4% ) (1 + 11,4% ) * (1 + i r )

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


24

5 (1 + 15,317%)5
(1 + i r ) =
(1 + 9,4%) (1 + 9,6%) (1 + 12,6%) (1 + 13,4%) (1 + 11,4%)

i r = 3,64%

→ O valor real dos certificados de aforro, isto é, o seu valor acumulado (em
Janeiro de 1992) a preços constantes do momento da aquisição foi:

500 (1 + 3,64% )5 = 598

ou
1019,6
= 598
(1 + 9,4% )(1 + 9,6% )(1 + 12,6%)(1 + 13,4% )(1 + 11,4% )

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


25

Glossário

TAE: taxa anual efectiva.

Taxa de juro bruta: taxa de juro antes de encargos (por ex.: impostos).

Taxa de juro efectiva: taxa que de facto preside à formação do juro.

Taxa de juro líquida: taxa de juro depois de encargos.

Taxa de juro nominal: (1) taxa declarada como presidindo à formação do juro; (2) taxa
de juro expressa em termos monetários.

Taxa de juro real: taxa de juros expressa em termos reais, isto é, taxa nominal (2)
ajustada pela inflação.

Taxas equivalentes: taxas que aplicadas ao mesmo capital inicial, para períodos de
capitalização diferentes, produzem o mesmo capital acumulado para o mesmo prazo de
tempo.

Taxas proporcionais: taxas cuja relação é proporcional à relação entre os períodos de


tempo aos quais se referem.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


26

3 EMPRÉSTIMOS

É frequente, na vida de uma empresa ou de um investidor particular,


existirem situações em que os recebimentos ou pagamentos (constantes ou
variáveis) a efectuar se encontram escalonados no tempo de uma forma
periódica. É o caso da renda mensal da casa, da prestação do carro, do
empréstimo à habitação, etc...

O montante destes pagamentos resulta, normalmente, de uma dívida


contraída numa determinada data, a qual terá como remuneração o juro.

Nestas situações pretende-se saber o valor de cada uma desses pagamentos


ou recebimentos, ou o seu valor no conjunto numa determinada data. Por
exemplo, para um empéstimo num determinado montante, qual será o valor
da amortização anual constante. Ou qual o valor de um fundo, numa
determinada data, no qual se faz um depósito anual, constante ou variável.

3.1. Conceito e Classificações

3.1.1. Conceito de renda

Considere-se um conjunto de capitais C1, C2, ... Cn que se vencem em


momentos equidistantes no tempo. Ao conjunto desses n capitais, vencíveis
em momentos equidistantes, designa-se por Renda. Cada um dos capitais
constitui um Termo da Renda.

Não é condição necessária que os capitais C1, C2, ... Cn, sejam iguais para
constituírem uma renda, sendo condição suficiente que o intervalo de tempo
entre o vencimento de dois termos consecutivos, seja constante. O intervalo
de tempo que decorre entre o vencimento de dois termos consecutivos
designa-se por Período da Renda.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


27

Esquematicamente teremos:

C1 C2 ... Cn-1 Cn

0 w w+1 w+2 ... w+n-1 w+n

Início da produção
Constituição

em que:
→ C1, C2, ... Cn são os valores dos termos;
→ w+1, w+2, ... , w+n são os momentos dos vencimentos dos termos;
→ p é o intervalo de tempo que corresponde ao período da renda.

No caso particular dos termos vencerem anualmente, estes designam-se por


anuidades, semestralmente por semestralidades, ... trimestralidades,
mensalidades, etc.

Momentos relevantes na vida de uma renda:


→ Momento zero (0) → Momento da constituição da renda;
→ Momento w → Prazo de diferimento (início da produção)
→ Momento w+n → Final da produção da renda

No caso de não haver diferimento, o momento 0 coincide com o momento


w (w = 0), ou seja, o momento da constituição é simultaneamente o início
da produção da renda

Exemplo 1

1- A deve as importâncias de 120, 180 e 210, a vencer respectivamente em


30.9.06, 31.3.07 e 30.9.07.

Constituirá uma renda este conjunto de capitais ?

2- B deve três importâncias de 100 cada, vencíveis respectivamente em


30.9.06, 31.12.07 e 30.12.07.

Constituirão estas importâncias uma renda ?


C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio
28

Respostas

1 - Constitui de facto uma renda, uma vez que os vencimentos dos termos
são equidistantes, nada indicando o facto de os termos serem variáveis.
Neste caso temos uma renda cujo período é o semestre e os valores das
semestralidades são respectivamente 120, 180 e 210 .

2 - Neste segundo caso não estamos na presença de uma renda. Note que,
apesar de os capitais serem iguais, o seu vencimento não é equidistante.

3.1.2. Classificação das Rendas

Dos vários critérios de classificação das rendas, destacamos os seguintes:

1 - Número de termos

→ Rendas temporárias; têm um número limitado de termos (n).

→ Rendas perpétuas; têm um número ilimitado de termos.

2 - Valor dos termos

→ Renda de termos constantes; C1 = C2 = ... = Cn.

→ Renda de termos variáveis; C1 ≠ C2 ≠ ... ≠ Cn.

3 - Período da renda

→ Anual; os termos chamam-se anuidades.

→ Semestral; os termos chamam-se semestralidades, etc.

4 - Localização do vencimento em cada período

→ Renda de termos antecipados; cada termo vence-se no início do


respectivo período.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


29

→ Renda de termos postecipados; cada termo vence-se no fim do


respectivo período.

Nota

Com w>0 ( renda diferida)

C1 C2 C3 ... Postecipada

C1 C2 C3 C4 ... Antecipada

0 w w+1 w+2 w+3 ...

Fim do 1º período

Início do 1º período

5 - Diferimento

→ Renda imediata; (w = 0) o diferimento é nulo.

→ Renda diferida (de w) ; w>0, ou seja, quando existe um prazo de


diferimento.

6 - Objectivo da constituição de uma renda

→ Renda de Amortização; se for destinada a amortizar uma dívida


assumida no momento zero. Os termos da renda são calculados de
modo a incluir duas parcelas: uma que amortiza o capital inicial e
outra que paga os juros.

→ Renda de Acumulação; quando se destina à formação de um certo


capital acumulado no momento w+n (final da produção da renda).
Aqui, os termos são calculados de modo que, acumulados com os
próprios juros, resultem no capital desejado.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


30

→ Renda de Remuneração; quando o objectivo é remunerar a


colocação de um capital ou a prestação de um serviço. É o caso, por
exemplo, da mensalidade paga ao senhorio pela habitação arrendada.

3.2. Renda de Termos Postecipados

Considere-se uma renda de termos variáveis, diferida de w, vencendo-se o


primeiro no momento w+1, de acordo com o seguinte esquema:

C1 C2 ... Cn

0 1 ... W w+1 w+2 ... w+n

Início da produção

Neste caso, o primeiro período da renda será o intervalo de tempo


compreendido entre w e w+1.

Recordando um pouco os conceitos de capital comum vistos no capítulo


anterior, sabemos que o capital comum de um dado conjunto de capitais é-
nos dado actualizando os valores para o momento a que os referenciarmos.

Assim, para calcular o valor de uma renda num momento qualquer t, basta
somar todos os termos depois de actualizados para esse momento.

Esquematicamente temos:

C1 ... Ct ... Cn

0 ... w w+1 ... w+t ... w+n

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


31

Em face desta representação no eixo do tempo, o vencimento de cada termo


(tk) será de w+k,

tk = w+k ; o termo C1 vence-se em w+1, C2 em w+2, etc.

∑ C (1 + i)
t −( w + k )
R(t) = k
k=1

n
t−w −k
R(t) = (1 + i) ⋅∑ C k (1 + i)
k =1

Em que,

(1 + i) t − w é o factor de capitalização;

∑ C (1 + i)
−k
k é o valor da renda no momento w.
k=1

Nota

t, w, k, i, estão expressos na mesma unidade de tempo.

Quando a taxa de juro não estiver referida ao período da renda, utiliza-se a


taxa efectiva correspondente a esse período.

Casos particulares mais relevantes:

1 - O vencimento comum é o inicio do primeiro período.

t=w

∑ C (1 + i)
−k
R(t) = k
k=1

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


32

t C1 C2 ... Cn

0 ... w w+1 w+2 ... w+n

2 - O vencimento comum é o momento da constituição da renda.

t=0

n
⋅ ∑ C k (1 + i)
−w −k
R(t) = (1 + i)
k =1

t C1 C2 ... Cn

0 ... w w+1 w+2 ... w+n

3 - O vencimento comum é o fim da produção da renda.

t = w+n

n
⋅ ∑ C k (1 + i)
w +n−w −k
R(t) = (1 + i)
k =1

n
R(t) = (1 + i) ⋅ ∑ C k (1 + i)
n −k

k =1

C1 C2 ... Cn

0 ... w w+1 w+2 ... w+n

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


33

3.3. Renda de Termos Antecipados

Uma renda diz-se antecipada quando o vencimento dos termos se faz no


inicio de cada período.

C1 C2 C3 ... Cn Antecipada

0 ... w w+1 W+2 ... w+n

Não será necessário um estudo aprofundado desta situação, pois conforme


se verifica pelo esquema, uma renda de termos antecipados poderá ser
convertida, para efeitos de cálculo, numa renda postecipada capitalizada um
período, isto é:

Renda postecipada e diferida de w-1 períodos,

C1 C2 ... Cn

0 ... w-1 w w+1 ... w+n

R ( t ) ant ; w = (1 + i) R ( t ) post ; w = R ( t ) post; w-1

3.4. Renda de Termos Constantes


Suponhamos uma renda de termo constante unitário C=1. Qual o valor da
renda no início da produção (w) ?

C=1 C=1 ... C=1

0 1 ... w w+1 w+2 ... w+n

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


34

R(w) = 1(1+i)-1 + 1(1+i)-2 + 1(1+i)-3 + ... + 1(1+i)-n

Como temos uma progressão geométrica de razão (1+i)-1 , a soma será:

1º termo - Último termo * razão


1 - razão

Ou seja,

−1 −n −1
(1 + i) − (1 + i) ⋅ (1 + i)
R( w ) = −1
1 − (1 + i)
Simplificando,

−n
1 − (1 + i)
R( w ) = (1)
i

Podemos definir (1) como o valor de uma renda de termos unitários,


postecipados, no início da produção (momento w).

Suponhamos uma renda de termo constante unitário C=1. Qual o valor da


renda no fim da produção (w+n) ?

R(w+n) = 1(1+i)n-1 + 1(1+i)n-2 + 1(1+i)n-3 + ... + 1(1+i)1 + 1

Como temos uma progressão geométrica de razão (1+i)-1, a soma será:

1º termo - Último termo * razão


1 - razão

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


35

Ou seja,

n −1 −1
(1 + i) − 1 ⋅ (1 + i)
R ( w + n) = −1
1 − (1 + i)

Simplificando,

n
(1 + i) − 1 (2)
R ( w + n) =
i

Podemos definir (2) como o valor de uma renda de termos unitários,


postecipados, no fim da produção (momento w+n).

GENERALIZANDO:

Para um qualquer momento t e termo da renda C,

−n
t−w 1 − (1 + i)
R ( t ) = (1 + i) ⋅C⋅
i

Exemplo 2

O senhor A decidiu constituir aos 45 anos um PPR mediante a entrega anual


(no final de cada ano) de 200. A taxa mínima de rendibilidade garantida do
PPR é de 8%.

Qual será o valor do PPR quando o senhor A atingir a idade da reforma (65
anos)?

Resolução

O senhor A fará um conjunto de 20 entregas anuais de 200 cada. Estamos


perante uma renda postecipada (entregas no final de cada ano) e constante.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


36

Trata-se de uma renda imediata (w=0) porque logo no final do primeiro ano
o senhor A fará a primeira entrega.

a) O valor do PPR aos 65 anos, ou seja daqui a 20 anos, será dado por:

1 − (1 + i )− n
R (t ) = (1 + i )t − w ⋅ C ⋅ =
i

1 − (1 + 8% )− 20
R (20) = (1 + 8% )20−0 ⋅ 200 ⋅ =
8%

R (20) = 9152,4

ou

R ( w + n) = C ⋅
(1 + i )n − 1 =
i

R (20) = 200 ⋅
(1 + 8% )20 − 1 = 9152,4
8%

Note que, como cada entrega de 200 vai adicionar ao valor existente e
capitalizar juros, o valor passados 20 anos (aos 65 anos) não poderia ser, em
caso algum, de 4000 (200 * 20)

Exemplo 3

A empresa ABC, SA contraiu um empréstimo no valor de 10 000 à taxa


anual de 10% com um prazo de amortização de 10 anos, mediante uma
entrega única do capital e dos juros acumulados.

Para fazer face a este encargo decide investir uma quantia fixa, no final
de cada ano, num fundo de investimento com uma rendibilidade
esperada de 8%.

Quanto deverá investir anualmente no fundo de investimento para amortizar


o empréstimo dentro de 10 anos?

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


37

Resolução

Para amortizar o empréstimo dentro de 10 anos, a empresa ABC terá um


encargo de:

C10 = C 0 (1 + i )10

C10 = 10000(1 + 10% )10

C10 = 25937,4

Portanto, deverá ter no fundo de investimento um valor acumulado de


25937,4 mediante a entrega de 10 anuidades constantes. O valor dessa
anuidade será dado por:

n
(1 + i) − 1
R ( w + n) = C ⋅
i

10
(1 + 8% ) − 1
25937,4 = C ⋅
8%

C = 1790,4 contos (aprox.)

Ou seja, deverá entregar 1790,4 no fim de cada ano.

Exemplo 4

O Senhor C decidiu em 30/6/05 aplicar as suas poupanças num plano de


poupança nas seguintes condições:
− taxa de juro anual nominal de 8%;
− 10 entregas semestrais no valor de 200 a partir de 30/6/07
(inclusive).

Pretende-se saber qual o valor actual (em 30/6/06) das poupanças investidas
neste plano.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


38

200 200 200 200

0 1 2 3 4 5 12 13 14 semestr
es
30/6/ 30/6/ 30/06/
96 98 03

Estamos perante uma renda:

1. postecipada se considerarmos um diferimento de 3 semestres;


2. antecipada se considerarmos um diferimento de 4 semestres.

Note-se que, em qualquer dos casos, o valor da renda é o mesmo, uma vez
que a data das entregas é a mesma.

Uma vez que o período da taxa de juro não coincide com o período da
renda, devemos calcular a taxa semestral efectiva:

i ( 2 ) 8%
i1/ 2 = = = 4%
2 2

Pretendemos saber o valor da renda no momento da sua constituição (0 ou


30/6/96):

Renda postecipada:

1 − (1 + i )− n
R post ;w=3 (0) = (1 + i )0− w ⋅ C ⋅
i

1 − (1 + 4% )−10
R post ;w=3 (0) = (1 + 4% )−3 ⋅ 200 ⋅
4%

R post ;w=3 (0) = 1442,1 (aprox.)

Renda antecipada:

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


39

Rant ;w= 4 (0) = (1 + i ) ⋅ R post ;w=4 (0)

1 − (1 + i )− n
Rant ;w= 4 (0) = (1 + i ) ⋅ (1 + i )0− w ⋅ C ⋅
i

1 − (1 + 4% )−10
Rant ;w= 4 (0) = (1 + 4% ) ⋅ (1 + 4% )− 4 ⋅ 200 ⋅
4%

Rant ;w= 4 (0) = 1442,1 (aprox.)

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


40

Glossário

Anuidade: valor do termo de uma renda com um período anual.

Período da renda: intervalo de tempo entre os vencimentos de dois termos de uma renda
consecutivos.

Prazo de diferimento: período de tempo durante o qual não há vencimento de qualquer


termo de uma renda.

Renda antecipada (de termos antecipados): cada termo da renda vence-se no início do
respectivo período.

Renda de acumulação: renda que se destina à formação de um capital acumulado.

Renda de amortização: renda cujo objectivo é amortizar uma dívida.

Renda de remuneração: renda cujo objectivo é remunerar um capital ou a prestação de


um serviço.

Renda perpétua: renda com um número ilimitado de termos.

Renda postecipada (de termos postecipados): cada termos da renda vence-se no final do
respectivo período.

Renda: conjunto de capitais que se vencem em momentos equidistantes no tempo.

Termo da renda: cada um dos capitais de uma renda.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


41

4 AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS

Os empréstimos são um forma de financiamento frequente quer para os


indivíduos quer para as empresas. A entidade que beneficia do empréstimo,
disporá de um capital por um determinado prazo, durante o qual deverá
fazer a sua amortização. É assim, por exemplo, no caso dos empréstimos
para compra de habitação, que significam para o beneficiário o pagamento
de uma mensalidade (constante ou variável) durante um determinado prazo,
findo o qual se extingue a sua dívida.

Como veremos a amortização de um empréstimo é apenas um caso


particular das rendas ou dos regimes de capitalização.

4.1. Conceito e Classificações

4.1.1. Conceito de Empréstimo

Um empréstimo, ou mútuo, é um contrato pelo qual uma entidade coloca à


disposição de outrem, temporária ou definitivamente, uma certa
importância, obrigando-se esta a restituir o capital recebido, bem como o
preço do uso desse capital - o juro.

A entidade que cede (empresta) o capital designa-se por mutuante e fica


com o direito de receber o capital emprestado bem como os juros vencidos;
a entidade a quem é cedido (emprestado) o capital designa-se por mutuário e
fica com a obrigação de restituir o capital recebido como empréstimo
(reembolso) e pagar os juros pela utilização desse capital.

♦ Quando se fala em (renda de) Amortização, é com o pressuposto da


existência de duas componentes: Capital + Juro.

♦ Se não incluir o reembolso de parte do capital emprestado, mas apenas


os juros, trata-se de uma (renda de) Remuneração.
C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio
42

4.1.2. Classificação dos Empréstimos

Quanto à sua natureza, os empréstimos podem assumir diversas formas:

♦ Quanto às garantias prestadas pelo mutuário

→ Empréstimos caucionados, quando existe garantia especial para


o seu reembolso. Pode ser uma garantia real (hipoteca para
valores imobiliários, penhor ou consignação de rendimentos) ou
pessoal (aval, fiança ou abonação);

→ Empréstimos a descoberto, quando não exista qualquer garantia


especial.

♦ Quanto ao prazo de reembolso

→ Empréstimos perpétuos ou consolidados, quando emitidos sem


prazo de reembolso. Podem dar-se dois casos:
a) O mutuário reembolsa a dívida se assim o entender e
quando quiser (empréstimo remível).
b) O reembolso resulta da concordância de ambas as partes
(empréstimo irremível).

→ Empréstimos temporários, quando o prazo de reembolso é


previamente fixado. Podem dividir-se em:
a) empréstimos a curto prazo, se o prazo de reembolso for
igual ou inferior a um ano. São normalmente concedidos
pelos bancos comerciais.
b) empréstimos a médio e longo prazo, se o prazo de
reembolso for superior a um ano. São normalmente
efectuados por instituições especializadas de crédito.

♦ Quanto à finalidade

→ Empréstimos de funcionamento, quando visam suprir


deficiências temporárias de liquidez. São normalmente de curto
prazo.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


43

→ Empréstimos de financiamento, quando visam a realização de


projectos de investimento. São, em geral, de médio e longo prazo.

♦ Quanto à sua aplicação

→ Empréstimos ao consumo, quando destinados à sua aquisição de


bens de consumo. Normalmente os juros destes empréstimos
são onerados com sobretaxas suplementares.

→ Empréstimos ao investimento, destinados à aquisição de bens de


investimento.

4.2. Modalidades de Amortização

Vamos considerar modalidade de reembolso o resultado da combinação


entre o método de amortização (reembolso) do capital em dívida e o de
pagamento de juros.

Há várias formas distintas de localização no tempo quer do reembolso da


quantia em dívida, quer dos juros vencidos:

♦ Quanto à amortização do capital em dívida

→ pagamento do capital de uma só vez no fim do prazo.

→ pagamento escalonado do capital durante o prazo do


empréstimo

♦ Quanto ao pagamento de juro

→ de uma só vez no fim do prazo do empréstimo.

→ de uma só vez no início do prazo (juro à cabeça), isto é, na data


da constituição do empréstimo.

→ escalonadamente no tempo durante o prazo.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


44

Da combinação destas hipóteses resultam várias modalidades de reembolso,


das quais vamos estudar apenas as mais significativas para a formação
prática que se pretende.

4.2.1. Amortização com reembolso único

1 - O juro é pago período a período

Capital emprestado

Co Co Co Co ... Co

0 1 2 3 ... n

juro juro juro ... juro + Co

sai sai sai ... sai

Este caso não é uma renda de amortização, porque não satisfaz a todas as
obrigações do empréstimo, ou seja, reembolso de parte do capital mais o
juro. Embora o juro seja pago periodicamente, o reembolso da dívida (Co)
dá-se apenas no final do processo. Trata-se sim de uma renda de
remuneração

2 - O juro é acumulado ao capital

Capital emprestado

Co C1 C2 C3 ... Cn

0 1 2 3 ... n

juro + Co

sai

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


45

Em que:

n
C n = C 0 (1 + i) Capital acumulado

[ n
J n = C 0 (1 + i) − 1 ] Juros compostos

No final do processo o pagamento é único pelo valor Cn , que engloba o


capital emprestado mais os juros acumulados nos n períodos; isto é, no fim
do prazo n, o devedor liquidará o valor do capital inicialmente recebido
mais os juros vencidos.

Exemplo 1

O Sr. Ferreira contraiu um empréstimo de 800 por um prazo de 2 anos, à


taxa anual de 15%. Calcular o juro a pagar, sabendo que se vence na data de
reembolso do capital.

Resolução

Estamos perante uma situação em que o juro é acumulado ao capital e o


reembolso se faz de uma só vez no final do processo.

2
C n = 800(1 + 15% ) = 1058 Capital acumulado

[ 2
]
J n = 800 (1 + 15% ) − 1 = 258 Juros compostos

ou:

J n = C n − C0

J n = 1058 − 800 = 258

O devedor terá que pagar 1058, 258 dos quais refere-se aos juros e os
restantes 800 são a amortização do valor do empréstimo.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


46

4.2.2. Amortização com reembolsos periódicos

Ao contrário dos sistemas estudados anteriormente, no sistema de


amortização com reembolsos periódicos, o valor a pagar em cada período
inclui, para além dos juros desse período, uma parte do capital emprestado.

Não esquecer nunca que é o valor do empréstimo (Co) que deve ser amortizado
e que os juros são apenas o preço (custo) a pagar pelo uso do capital alheio.
Assim,

C k = Mk - J k

Em que,

→ Ck é o pagamento periódico (anuidade ou termo da renda)

→ Mk é uma parte do capital inicial (quota de capital)

→ Ck Juro periódico (decrescente, porque incide sobre um capital em


dívida cada vez menor)

Como evoluem Ck e Mk ?

Sendo Jk decrescente (sempre):

→ Se Mk é constante => Ck decrescente

→ Se Ck é constante => Mk decrescente

Embora, na prática, tudo dependa do que for acordado entre as partes.

Das hipóteses possíveis vamos estudar os dois casos mais importantes por
serem também os mais frequentes:

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


47

4.2.2.1. É constante o termo da renda de amortização (sistema francês)

Co C=J1+M1 C=J2+M2 ... C=Jk+Mk ...

0 1 2 ... k ...

C1 = C2 = ... = Ck = C (constante), com k = 1, 2, ... , n

C = Jk + Mk

constante decrescente crescente

Se Jk é sempre decrescente, e se é constante o termo da renda (C), é fácil


verificar que as quotas de reembolso Mk são sempre crescentes. Por este
facto este sistema é também designado por sistema de amortização
periódica progressiva.

Sendo a amortização feita por uma renda constante, podemos determinar o


valor do termo da renda (C), igualando o valor da renda, no momento, 0 ao
montante do empréstimo.

Assim,

−n
1 − (1 + i) C0 ⋅ i
C0 = C ⋅ ⇔ C= −n
i 1 − (1 + i)

4.2.2.2. É constante a quota de reembolso (sistema americano)

Co C1=J1+M C2=J2+M ... Ck=Jk+M ...

0 1 2 ... k ...

M1 = M2 = ... = Mk (constante), com k = 1, 2, ... , n

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Ck = Jk + M

decrescente decrescente constante

Se Jk é sempre decrescente, e se é constante a quota de reembolso M, é fácil


verificar que o valor a pagar ao fim de cada período (Ck) é sempre
decrescente. Por este facto este sistema é também designado por sistema de
amortização periódica constante.

Análise gráfica e Algébrica


1 - Sistema de amortização periódica progressiva

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n-1 n

Q. Capital Q. Juro

Em cada período paga-se C ; então:

Evolução dos Mk
Análise algébrica:

M1 = C - J 1
= C - Co * i

M2 = C - J 2
= C - [capital em dívida no início do 2º período] * i
= C - (Co - M1) * i
= C - Co * i + M1 * i

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= M1 + M 1 * i
= M1 (1 + i)

M3 = C - J 3
= C - (Co - M1 - M2) * i
= C - Co * i + M1 * i + M2 * i
= M1 + M1 * i + M1(1 + i) * i
= M1 (1 + i) (1 + i)
= M1 (1 + i)2

GENERALIZANDO:

k −1
M k = M 1 (1 + i)

Daqui se pode concluir que qualquer Mk se pode determinar a partir do


conhecimento da primeira quota de capital (ou reembolso) M1 (sendo
conhecida a taxa de juro i, claro !... )

Mas também qualquer Mk se pode determinar a partir da quota de capital


anterior (Mk-1 conhecido).

Vejamos:

Da análise da demonstração algébrica anterior, a relação entre Mk e Mk-1


pode ser vista como:
k −1
M k = M 1 (1 + i)

Logo:
k −2
M k −1 = M 1 (1 + i)

Então:
k −1
Mk M (1 + i)
= 1 = (1 + i)
M k −1 M 1 (1 + i) k −2

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Assim,
Mk
= (1 + i) ⇒ M k = M k −1 (1 + i)
M k −1

2 - Sistema de amortização periódica constante

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 n-1 n

Q. Capital Q. Juro

Em cada período paga-se:

Ck = M + J k

Por outro lado temos que:

C0 = n ⋅ M

Isto é: se durante n períodos, e em cada um, se reembolsar um montante de


capital sempre constante (= M), então n * M terá que ser igual às Co
unidades de capital inicialmente emprestado)

Evolução dos Ck

Análise algébrica:

C1 = M + J 1
= M + Co * i

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


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C2 = M + J 2
= M + (Co - M) * i
= M + Co * i - M * i
= C1 - M * i

C3 = M + J 3
= M + (Co - 2M) * i
= M + Co * i - 2M * i
= C1 - 2M * i

GENERALIZANDO:

C k = C1 − [( k − 1) ⋅ M ⋅ i]

Conclusão:

→ Cada termo (pagamento periódico) decresce M * i , visto que o juro


diminui e a quota de reembolso é constante.

→ Qualquer Ck pode ser determinado a partir do primeiro pagamento


periódico C1 (desde que conhecida i, claro !...)

Quadro de amortização

Para melhor visualização do processo de amortização podemos construir um


quadro semelhante ao seguinte:

Capital em Termo de Capital em


Período dívida no Quota de Quota de amortização dívida no
início do juro (Jk) capital (Mk) (Ck) final do
período período
1
2
...

Exemplo 2

A empresa LDA contraiu um empréstimo para aquisição de uma máquina


no valor de 10000, à taxa anual de 10%. O prazo de amortização do

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


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empréstimo é de 4 anos e será feito através de um pagamento anual (no fim


de cada ano).

O quadro de amortização para cada um dos sistemas estudados será o


seguinte:

Sistema americano

A quota de capital (M) é constante e igual a:

C 0 10000
M= = = 2500
n 4

Capital em Termo de Capital em


Período dívida no Quota de Quota de amortização dívida no
início do juro (Jk) capital (Mk) (Ck) final do
período período
1 10000 1000 2500 3500 7500
2 7500 750 2500 3250 5000
3 5000 500 2500 3000 2500
4 2500 250 2500 2750 -----

Sistema francês

O termo da renda de amortização é constante (C) e igual a:

C0 ⋅ i 10000 ⋅ 10%
C= −n
= −4
= 3154,7 (aprox.)
1 − (1 + i) 1 − (1 + 10% )

Capital em Termo de Capital em


Período dívida no Quota de Quota de amortização dívida no
início do juro (Jk) capital (Mk) (Ck) final do
período período
1 10000,0 1000,0 2154,7 3154,7 7845,3
2 7845,3 784,5 2370,2 3154,7 5475,1
3 5475,1 547,5 2607,2 3154,7 2867,7
4 2867,9 286,8 2867,9 3154,7 -----

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


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Em qualquer dos casos, podemos verificar que:

1. O somatório das quotas de capital é igual ao montante do empréstimo.

2. A quota de capital do último período é igual ao capital em dívida no


início desse período, ou seja, o capital em dívida no final do último
período é nulo.

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Glossário

Empréstimo: contrato pelo qual um entidade coloca à disposição de outrem, temporária


ou definitivamente, uma certa importância, obrigando-se esta a resituir o capital recebido,
bem como o preço do uso desse capital - o juro.

Empréstimo a descoberto: empréstimo sem garantias prestadas para o reembolso.

Empréstimo caucionado: empréstimo cujo reembolso é garantido por um garantia real


ou pessoal.

Sistema americano: sistema de amortização de um empréstimo no qual a quota de


reembolso do capital é constante.

Sistema francês: sistema de amortização de um empréstimo no qual o termo da renda de


amortização é constante.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio


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BIBLIOGRAFIA

Armindo Neves da Silva, Matemática das Finanças, Vol. I, McGraw-Hill, 1993,


Lisboa.

Azevedo Rodrigues e Isabel Nicolau, Elementos de Cálculo Financeiro, 6ª ed., Rei


dos Livros, 1995, Lisboa.

Bolsa de Derivados do Porto, Cadernos de Formação do IMC, Princípios Fundamentais de


Finanças e Contabilidade para Quadros Não-Financeiros, Porto.

Carlos Nabais, Cálculo Financeiro, Editora Presença, 1989, Lisboa.

Carlos Soares e Miguel Cadilhe, Lições de Matemática Financeira e Noções


Complementares, 2ª ed., 1976, Porto.

Manuel C. C. Fernandes, Guia Prático do Cálculo Financeiro para PME´s, 1ª ed.,


Porto Editora, 1985, Porto.

Miguel Cadilhe, Matemática Financeira Aplicada, 2ª Ed., Edições Asa, 1993, Porto.

Petr Zima e Robert L. Brown, Fundamentos de Matemática Financeira, McGraw-Hill,


1985, São Paulo.

C. Machado Santos - Noções de Cálculo Financeiro: Texto de Apoio

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