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Matemática Financeira

(EPC)

PROFESSOR UBIRATAN BALBI


1. CONCEITO

A MATEMATICA FINANCEIRA é um ramo da Matemática que


estuda o comportamento do dinheiro no tempo.
As operações básicas são de empréstimo e investimento onde o
indivíduo requer ou dispõe de um CAPITAL (C), também
denominado PRINCIPAL (P) ou VALOR PRESENTE (PV), toma
emprestado ou aplica-o junto a uma ou mais pessoa física ou
jurídica por um determinado PERÍODO DE TEMPO ( i ). E após
esse período, paga ou recebe o capital acrescido de uma
remuneração chamada JUROS (J), cujo resultado chamamos de
MONTANTE (M) ou VALOR FUTURO (FV) que na verdade
representa ao somatório do P + J
2. CONCEITO DE JUROS

É a remuneração paga pelos tomadores de recursos aos


poupadores ou agentes intermediários pela utilização do capital.

Vale destacar que na composição da taxa de juros foram


considerados os riscos, a inflação, as despesas operacionais e o
lucro (custo de oportunidade).
JUROS SIMPLES e CAPITALIZAÇÃO SIMPLES

Juros Simples é uma forma de capitalização onde a taxa de juros é apurada


com base no capital principal, sendo os juros do período não são somados
ao capital para o cálculo de novos juros nos períodos seguintes, ou seja, o
valor obtido não incorpora ao valor principal sobre o qual são calculados os
juros dos períodos subsequentes.

Por exemplo: Ao investir um principal de R$ 1.000,00, com juros simples


de 1% ao mês, durante um ano, qual o valor do montante ao final do
período?

FV = PV ( 1 + n x i )
FV = 1.000,00 (1 + 12 x 0,01 ) = 1.120,00 ou

M = P + J = 1.000,00 + (1000 x 12%) = 1.000,00 + 120,00 = 1.120,00

* Percebam que os juros simples são capitalizados num período de um ano,


referem-se a apuração com base no valor do capital original.
JUROS COMPOSTOS e CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA

É caracterizado pelo ato de reinvestir os juros ganhos como se fosse um novo


capital. Ou seja, a cada novo período de acumulação, que na maioria dos
casos ocorre mensalmente.

Por exemplo: Ao investir um principal de R$ 1.000,00, com juros capitalizados


de 1% ao mês, durante um ano, qual o valor do montante ao final do
período?

FV = PV ( 1 + i ) n
FV = 1.000,00 (1 + 0,01 ) 12 = 1.126,82

OBS: Capitalização Composta dos Juros na data do aniversário é procedimento


correto. Ou seja, capitalização dos juros não é anatocismo.
OUTRAS DEFINIÇÕES

JUROS REMUNERATÓRIOS – são juros estabelecidos em contratos ou


convênios cujo intuito é remunerar o capital financiado;

JUROS MORATÓRIOS – são os juros estabelecidos em contratos ou convênios


cobrados ao devedor pelo (s) atraso(s) de pagamento(s) de seu compromisso
pactuado, ou seja, pelo não pagamento de sua dívida;

MULTA – são encargos estabelecidos em contratos ou convênios, assim como,


no Código de Defesa do Consumidor, pelo atraso no pagamento de prestações,
atinentes a relação de consumo, limitado a 2%.

COMISSÃO de PERMANÊNCIA – são encargos cobrados pelas instituições


financeiras aos devedores em razão de atraso de pagamento, com intuito de
remunerar o capital financiado. Vale destacar que nem sempre esse encargo
está mencionado em contratos, além disso, a legislação proíbe a cobrança
desse encargo cumulativamente com os juros remuneratórios, juros moratórios
e multa contratual.
CONCEITUAÇÃO DE ANATOCISMO

É a operação onde os juros são cobrados de forma sobreposta a outros juros


calculados sobre o mesmo capital, mesmo que esteja pactuado
contratualmente.

Por exemplo: Num contrato de financiamento onde consta clausulas


mencionando que:

- Sobre o valor financiado ocorrerá a incidência juros efetivos de 3% ao mês, na


condição de pagamento em 12 prestações iguais, mensais e sucessivas;

- Em caso de inadimplência serão cobrados os seguintes encargos:

• Multa de 2% + juros remuneratórios ao mês + 1% de mora ao mês ou em


alguns casos comissão de permanência;
TABELA PRICE x ANATOCISMO
* Juros pactuados = 1,5% am
TAXA NOMINAL

É a taxa de juros expressa em um período referido no contrato que não


coincide com o período de capitalização.

Por exemplo: Dada a taxa nominal anual = 48%


Qual a taxa efetiva anual ?

Resposta: 48% : 12 = 4% am

aplicando ( 1 + 0,04 )^12 = 60% (taxa efetiva anual)


TAXA EFETIVA

É a taxa de juros que representa a rentabilidade final de um investimento /


empréstimo, ou seja, é a taxa nominal mensal capitalizada mês a mês.

Por exemplo: Dada a taxa nominal anual = 54%


Qual a taxa efetiva anual ?

Resposta: 54% : 12 = 4,5% (taxa nominal ao mês)

aplicando ( 1 + 0,045 )^12 = 70% (taxa efetiva anual)


TAXAS EQUIVALENTES

No regime de juros compostos as fórmulas pressupõem taxas efetivas de juros,


ou seja, taxas expressas em uma unidade de tempo igual ao período de
capitalização.

Na prática, o que acontece quase sempre é a taxa de juros ser expressa em


meses, anos ou em dias e o período “n”. Assim temos que converter a taxa
nominal dada, em uma taxa equivalente, ou seja, uma taxa de juros referida à
unidade de tempo do período “n” , mas que produza o mesmo efeito da taxa
efetiva dada.

Exemplo 1. Qual a taxa equivalente para 15 dias à taxa efetiva de 24% ao ano?
Resposta
[(1 + n) n / 360 – 1]
[(1 + 0,24)15 / 360 – 1 ] = 0,009 = 0,9 % ou na HP 12C
1,24 enter
360 1/x
15 yx
DESCONTO COMERCIAL ou POR FORA

Esta modalidade de desconto é amplamente utilizada no mercado, principalmente


em operações bancárias e comerciais de curto prazo.

Este desconto equivale aos juros simples, onde o capital corresponde ao valor
nominal do título. Assim temos:

N = valor nominal
V = valor atual
c = desconto comercial
n = número de períodos

No desconto comercial, a taxa de desconto incide sobre o valor nominal N do


título.
Logo: Dc = N. i. n com isso o Valor atual  V = N - Dc

Exemplo: Considere um título cujo valor nominal seja R$10.000,00. Calcule o


desconto comercial a ser concedido para um resgate do título 3 meses antes da
data de vencimento, a uma taxa de desconto de 5% a.m.

Dc = N.i.n  Dc = 10.000. 0,5.3 = R$ 1.500


DESCONTO DE RECEBÍVEIS

É a operação pela qual a instituição financeira adianta a empresa sacadora o


valor líquido dos títulos e a seguir se compromete cobrar dos sacados.
Em suma, trata-se de um adiantamento (empréstimo), cuja garantia fiduciária
desses recursos são os títulos cedidos.

No caso de descontos dos cheques pré-datados há, além dos juros pactuados,
incidência de IOF, despesa de custódia, despesa de compensação e etc.

Exemplo:
Qual seria o valor creditado em conta corrente, na data de hoje, numa operação
de desconto de uma duplicata no valor de R$ 10.612,08, com vencimento em 90
dias, taxa de juros 2% ao mês.
Resposta:

FV = 10.612,08 Pela fórmula : FV = PV ( 1 + i ) n


i = 2%
n=3 onde PV = FV
PV = ? (1+i)n

PV = 10.000,00
LEASING ou ARRENDAMENTO MERCANTIL

Trata-se de uma operação mista de financiamento e compra/venda


de ativo fixo que tem como garantia o próprio bem, ou seja, é uma
modalidade onde a empresa arrendadora cede ao arrendatário o
uso desse bem pelo tempo determinado no contrato.

Observação:

Arrendatário: PF ou PJ que negocia o arrendamento de bens pelo


qual pagará, mensalmente um “aluguel” chamado contraprestação.

Arrendadora: sociedade anônima autorizada pelo BACEN para


negociar operação de arrendamento mercantil.
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS ( leasing)

a) Valor Residual Garantido – Trata-se do valor que corresponde a quanto o


arrendatário pagará para ter a propriedade do bem. Durante a contratação
da operação esse valor poderá ser pago antecipadamente, ao longo do
contrato e ao final do contrato.

b) Exercer ou Não o direito de adquirir o bem pelo valor residual - No caso do


contrato da operação prever o pagamento do VRG ao final , o arrendatário
poderá exercer o direito ou não da compra do bem.

c) Prazo da operação de leasing não pode ser alterado na vigência - Por ser
uma operação mista de financiamento e compra/venda de ativo fixo a
Resolução 2309/96 do BACEN estabelece que o prazo do contrato é
imutável.

d) Tributos – Como não é considerada um operação de financiamento


propriamente dita, não há incidência de IOF, entretanto leasing por ser
equivalente a um aluguel, há incidência ISSQN.

e) Outros encargos – na operação poderá incidir despesas registro contrato,


seguro, manutenção e material de consumo (ex. combustível)
COEFICIENTE DE ARRENDAMENTO (CA) x TAXA de JUROS

O mercado de arrendamento mercantil não adota o nome de “juros” e em seu


lugar utiliza o nome de Coeficiente de Arrendamento, sendo que sua
aplicabilidade é a mesma

Exemplo 1:
Montante Inicial = R$ 101.000,00;
Taxa de Juros = 2% ao mês
Quantidade de pagamentos mensais iguais = 24
VRG = R$ 1.000,00 ( pago antecipadamente como entrada)

Qual o valor da prestação mensal e o CA?

Resposta:

Logo PMT (ou contraprestação mensal) = R$ 5.287,11

CA = PMT/PV = 5.287,11/100.000= 0,0528711


Exemplo 2:
Valor do Arrendamento = R$ 101.000,00;
Taxa de Juros (ou custo de oportunidade) = 2% ao mês
Quantidade de pagamentos mensais iguais = 24
VRG = R$ 1.000,00 (será diluído mensalmente)

Qual o valor da prestação mensal e o CA?

Apurando Valor Presente do VRG  i = 2%; FV = 1000,00; n = 24 , logo PV do VRG


= R$ 621,72

Com isso o Valor Financiado será = 101.000,00 – 621,72 = R$100.378,28

Resposta:

Logo PMT (ou contraprestação mensal) = R$ 5.307,11

CA = PMT/PV = 0,0528711
SISTEMA de AMORTIZAÇÃO CONSTANTE (SAC)

Consiste num sistema de amortização de uma dívida com prestações


decrescentes, com incidência de juros simples e capital constante. Utilizado
dentre os diversos tipos de financiamentos, no SFH.

Exemplo:
Um empréstimo adquirido no valor total de R$ 10.000,00, com juros de 3% ao
mês , a ser pago em 10 prestações mensais. Calcule os valores das prestações?

Resposta: O valor constante do capital (amortização) é obtido mediante a divisão

do total mutuado pela quantidade de períodos, ou seja, R$ 10.000/ 10 meses =

R$ 1.000/mês
* Pela Tabela Price as prestações mensais, iguais e sucessivas = R$ 1.172,31 x 10 = R$ 11.723,10
SISTEMA FRANCES de AMORTIZAÇÃO ou TABELA PRICE

Consiste num sistema de amortização de uma dívida em prestações periódicas,


iguais e sucessivas, cujo valor de cada prestação é composto de juros e capital
(comumente chamada de amortização).

Fórmula apuração da prestação 

Exemplo:

Um empréstimo adquirido no valor total de R$ 4.691,61, na condições de juros de


3% ao mês e em 10 prestações iguais, mensais e sucessivas. Qual o valor da
prestação?

Resposta: PMT = 4.691,61 x ( 1 * ( 1 + 0,03 )10 )


((1 + 0,03 )10 - 1)
Então PMT = R$ 550,00
SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO - MÉTODO DE GAUSS

O Método de Gauss tem como característica retorno do investimento que um


determinado valor poderá gerar. E as prestações são um híbrido de juros e
capital, a serem amortizados. É importante citar que essa apuração gera uma
distorção a favor do contratante, justamente em função da capitalização
composta que ocorre no cálculo do retorno. É por essa razão que a prestação
calculada pelo Método de Gauss é menor.

Considerando VP = R$ 24.000,00 ; i = 1% a.m ; n = 12 meses, teremos 

PMT = (24.000 x 0,01x 12) + 24.000 = 26.880 = 2.123,22


(0,01 x (12 - 1) + 1) x 12 12,66
2
COMPARANDO SISTEMA PRICE X GAUSS

Considerando VP = R$ 24.000,00 ; i = 1% a.m ; n = 12 meses, teremos pelo


Sistema Price  PMT = R$ 2.132,37
SPREAD

É diferença entre custo de captação e as receitas oriundas de empréstimos /


financiamentos.

- Como calcular o lucro de uma instituição financeira?

R: Através dos seguintes dados, conforme exemplo abaixo:

Custo do tomador  5,30% ao mês


( - ) taxa da captação obtida no mercado  2,00% ao mês
Spread  3,30% ao mês
( - ) outras despesas  1,53%
(administrativas, inadimplência e outros)
( - ) impostos/ outras contrib.sociais  0,60%
= Lucro do Banco  1,17%
CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

Um dos argumentos comumente apresentado nos autos pelos representantes


(advogados) da parte devedora é pertinente a rentabilidade (spread) de uma
transação financeira a qual não poderia ser superior a 20% , o que é
caracterizado como abusividade , com base na Lei da Economia Popular (Lei
1521/51)
ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA

Atualização monetária ou correção monetária é o nome que se dá para ajustes


contábeis e financeiros incididos sobre o capital original, visando recuperar seu
poder de compra do capital original, face a inflação, com a aplicabilidade índices
econômicos publicados pelas instituições oficiais.

Os mais utilizados são: INPC, INCC, IGPM, IGP-DI, TR e IPCA.

* CONSIDERAÇÔES ADICIONAIS

Nos casos específicos de Tribunais de Justiça, todos eles possuem o seu


indexador de CM, que são divulgados em seus próprios sites, visando a
atualização dos respectivos débitos judiciais ( já com os expurgos inflacionários).

Contudo numa Sentença Judicial aplica-se o índice de atualização determinado


na decisão judicial sobre o valor da condenação.
EXEMPLO

“ Condeno o réu a pagar a autora as diferenças apuradas entre o valor


depositado pelo réu, a título de correção monetária e o valor que deveria ser
depositado, considerando IPC-IBGE (Junho/87), mais juros mensais de 0,5%
sobre as diferença até a data do efetivo pagamento, da mesma forma a correção
monetária”
OBRIGADO

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