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ID EN TIFICAÇÃO PESSO AL 29

I d e n t i f i c a ç ã o Pessoal
C arlos C u n h a
(Do Serviço de Identificação da Aeronáutica)

Apontamentos

1. RESUMO HISTÓRICO DA IDENTIFICAÇÃO HU­ norte da África, os índios australianos, os Peles-


M A N A E S E U S DOIS P E R Í O D O S : O E M P Í R I C O Vermelhas da América do Norte e muitas outras
tribos.
E O CIENTÍFICO
Processos falhos, como a filiação morfológi-
ca, que consiste em reter, na memória, dimensões
do homem, na antiguidade,

A
identificação e particularidades de certos órgãos do corpo hu­
nos sugere os processos que passamos a re­ mano, e a fotografia, foram sugeridos na identifi­
latar . cação de criminosos.
O nome — Supõe-se ter sido o nome o pri­ Identificação criminal — Na índia, o crimi­
meiro sinal individualizador dado pelo homem da noso era marcado com o ferro quente. As marcas,
época cavernária aos seus semelhantes. apostas na fronte do indivíduo, representavam de­
senhos de vários aspectos e cada um dêles corres­
O nome, em um sentido amplo, compreende
pondia a determinado crime.
o apelido, apôdo ou qualquer outra forma apela­
tiva de reconhecimento. Vejamos, pois, alguns artigos do livro 9.° das
“Leis de Manú” :
Na África meridional existe uma tribo que
Art. 237. Que por haver manchado o leito de seu
diferencia seus componentes assim: homens do pai espiritual, imprime-se sôbre a fronte do culpado um
crocodilo, da pantera, do tigre, do leão, do porco sinal que represente as partes de u’a mulher; por haver
espinho, do mono, do elefante etc. bebido licores espirituosos, se lhe grava um sinal que re­
presente a bandeira de um destilador; por haver roubado
Outros povos davam a seus filhos o nome de o ouro de um sacerdote, o pé de um cachorro; pelo asassi-
algum animal, instrumento, árvore ou planta: nato de um Bramane, a figura de um homem sem cabeça.
Tigre, Leão, Águia, Pinto, Pinheiro, Carvalho etc. Art. 238. Não se deve comer com éstes homens,
nem sacrificar-se com êles; que errem sôbre a terra em
Há, ainda hoje, os Rosas, os Flores, os Pitangas, miserável estado, excluídos de todos os deveres sociais.
os Limoeiros, os Machados e muitos outros. Art. 239. Éstes homens, marcados com sinais des­
Os hebreus empregavam os nomes com um onrosos devem ser abandonados por seus parentes pater­
nos e matemos e não merecem compaixão nem cuida­
sentido místico, assim Elias (Jeová é meu Deus)
dos” .
e Joel (o senhor é D eus). Josafat indica o juízo
de Deus; Raquel se relaciona com mulher de À mutilação dos órgãos essenciais como os
caráter doce. dedos, as mãos, os pés, e até à castração, estavam,
também, sujeitos os indus.
Os romanos designavam as pessoas com um
Na França, até 1562, os criminosos eram
só nome; mais tarde, o romano livre de nasci­
marcados, na face, com uma “flor de lis” ; poste­
mento teve três nomes: 1.°) o prenome, que era
riormente tal estigma era impresso nas costas.
inteiramente pessoal; 2.°) o nome, que indicava
No mesmo ano, em substituição a aludida marca,
a casa de onde descendia e 3.°) o cognome, que
foram adotadas as letras V, W, GAL e F, que dis-
dizia o ramo familiar.
tinguiam, respectivamente, o ladrão primário, o
Que é o nome? reincidente, os que encaminhados fôssem às Galés,
Um sinal simbólico, substituível, confuso, sem e o falsário. Antes da adoção de tal processo, os
individualidade natural. franceses usavam cortar as orelhas ou o nariz dos
malfeitores.
Porisso, procurou-se um nexo de identidade
Costumes semelhantes eram praticados na
entre o nome (personalidade jurídica) e o homem
Grécia e em Roma, nos qüais os criminosos eram
(pessoa física).
marcados, na testa, com desenhos de animais ou
Solucionou-se, definitivamente, o problema, com a letra inicial do crime. De formas mais ou
com a junção do nome natural ou nome antropo­ menos variáveis, o processo de se marcarem os
lógico, imutável, com o nome civil. criminosos com o ferro candente subsistiu na Es­
Tatuagem — A êsse processo, também re­ panha, na Inglaterra, na Rússia, em Portugal e
correram os homens primitivos: os indígenas do nos Estados Unidos.
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Todos os processos de se individualizarem Sôbre essa linha, traça-se uma vertical aa, que
os criminosos com o ferro em brasa duraram, na chamamos “linha mediana” e mais duas outras
Europa, até o século X IX , quando foram aboli­ perpendiculares são traçadas (bb-cc), porém, sôbre
dos. cada pupila.
Segundo R o b e r t o T h u t , no jornal “O Es­ Cortam-se, depois, os dois retratos em duas
tado de São Paulo”, de agôsto de 1941: “no Bra­ partes iguais, pela “linha mediana” e, em seguida,
sil, também, nas épocas coloniais, ao negro afri­ opera-se a justaposição, do maneira que as partes
cano era aplicado o ferro em brasa com as marcas interessadas coincidam perfeitamente. Outras re­
de seu senhor, para a identificação de escravos, giões, conforme os traçados executados, podem ser
nos casos de fuga” . confrontadas (Vide fig. 1) .
A fotografia — Com o aparecimento dêsse
elemento científico, todos os que se interessavam
b a c
pela identificação dos criminosos procuraram,
logo, utilizá-la como elemento auxiliar na esfera
judicial. Isto, em 1854.
Acontece, porém, que os malfeitores usavam
ardis dos mais variados como o crescimento da
barba ou dos cabelos, disfarce por meio da pintura
e até a deformação propositada do rosto, com,
cicatrizes, para fugirem da Justiça.
Além disso, outros inconvenientes aparece­
ram: ineficácia do arquivamento das fotografias
pelo nome do indivíduo identificado que, na rein­
cidência, dava outro; a cirurgia plástica, e o des­
conhecimento absoluto da fotografia sinalética às
perícias. ' -
Apareceram, depois, outros processos, todos
julgados obsoletos à identificação humaha.

Craniogrático de Anfosso

Baseado nas variações ósseas, Luiz Anfosso,


em 1896, apresentou o taquiantropômetro, apare­ b a c
lho quase semelhante aos usados pelos serviços de Fig. 1 — Sistema geom étrico de Matheios
biometria médica; foi utilizado para medir a dis­
tância de algumas partes do corpo, como os diâ­ Sistema Venoso de Tamassia
metros ântero-posterior e transversal da cabeça,
a estatura, a braça (envergadura), a medida da O sistema venoso de Arrigo Tamassia, estu­
extensão do pé, do dedo médio etc., e o cranió- dado em 1908, consiste na disposição das veias do
grafo, que se destinava às medidas do perfil cra­ dorso das mãos e dos pés, cuja classificação é a
niano. seguinte:
1. Ramificação em arco.
Qtométrico de Frigério 2. Ramificação arboriforme.
3. Em formas reticuladas.
Tomando por base a configuração da orelha, 4. Em forma de V .
em 1888 idealizou Frigério um aparelho que de­ 5.. Em forma de Y .
nominou de otômetro, para aplicá-lo às diferentes 6. Outras formas.
medidas dêsse órgão: a do ângulo aurículo-tem-
poral e às dos diâmetros máximo e mínimo.
Sistema Ameuille

Sistema òeométrico de Matheios Baseia-se nas ramificações venosas da região


frontal.
Consiste na imutabilidade de certas dimen­
sões do rosto, quando o indivíduo atinge a idade Sistema Oftalmostatométrico de M . Capdvielle
adulta.
Em sua tese de 1903, intitulada “L’oeil base
Para efeito de confronto, preparam-se, den­ d’un système antropometrique” , Capdvielle ado­
tro dos mesmos diâmetros, a fotografia recente e tou cinco operações para a medida do ôlho, em
a antiga. > virtude das diferenças que apresenta de uma para
Em ambas, já ampliadas, traça-se uma hori- outra pessoa:
.zontal, à qual acrescemos as minúsculas dd, de 1. Medida da curvatura das córneas.
forma que ela passe sôbre ambas as pupilas, ultra­ 2. Medida da distância interpupilar.
passando o contorno da imagem. 3 . Medida interorbitária máxima.
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4 . Notas cromáticas da iris. 1. o assinalamento antropológico, que rela­


5 . Anotações dos caracteres particulares ciona dez medidas ósseas e uma de cartilagem;
como leucoma, miopia etc. 2. o assinalamento descritivo ou retrato fa­
lado, constante dos caracteres morfológicos, cro­
Sistema Oftalmoscópico de Levinsohn máticos e suas anotações complementares;
3 . as marcas particulares; e
Tem como ponto vital a fotografia do fundo 4 . a fotografia sinalética (de frente e de
do ôlho, de que resultam as seguintes anotações: perfil), reduzida a 1/7 e, por fim (em 1894), as
disposição dos vasos sanguíneos; dilatação do ner­ impressões digitais.
vo ótico, pelo “punctum caecum” e pela “mácula
lútea” . Pela côr dos olhos, estabeleceu B e r t il l o n

Levinsohn adotou, também, um sistema ra- sete classes:


diográfico, que consiste na radiografia das mãos, 1. Iris não pigmentada (sem digmento
cujas medidas operavam-se sôbre as falanges do amarelo, conservada, portanto, a côr do fundo);
metacarpo. 2. Iris com pigmento amarelo.
3. Iris com pigmento alaranjado.
Os primeiros estudos com fins antropológi­ 4. Iris com pigmento castanho.
cos tiveram como iniciadores: P a u l B r o c a , em 5. Iris pigmentada, mas cercada de marron.
1864, quando deu a conhecer a sua primeira obia 6. Iris pigmentada em marron esverdeado.
intitulada “Instructions générales pour les recher- 7. Iris pigmentada em marron puro.
ches anthropométriques à faire sur le vivanr” ;
L o m b r o s o , que no mesmo ano e na Itália divul­
Inconvenientes do Sistema — Impraticável
gou tais estudos, aplicando-os, a seu turno e com aos menores de 21 anos de idade; desnudamento
a mesma finalidade, no setor da delinqüência, re­ do identificando; subordinação à uma tabela de
volucionando a criminalística; G. B o n o m i . em tolerância e impossibilidade da obtenção dos diâ­
metros cefálicos nas mulheres, em virtude da
1872, que inventou os instrumentos métricos pró­
prios às medidas antropométricas, notáveis pela massa de cabelos.
sua perfeição, e M o r s e l l i , o criador do antropô- O sistema do policial francês foi introduzido
metro, aparelho que aplicou aos alienados. no Brasil em 1899.
Posterior trabalho sôbre o assunto lançou
Q u e t e l e t (1879) e diz respeito a observações
antropológicas que imediatamente levaram B e r -
t i l l o n a idealizar um método que aplicou, logo,
na identificação dos reincidentes.

Sistema Antropométrico de Bertillon

Inspirado nos Estudos de Quetelet e em vir­


tude de haver assistido a um curso levado a efeito
por seu pai L .A . Bertillon, discípulo daquele, na
Escola de Antropologia de Paris, que vinha fun­
cionando desde 1876, A l p h o n s e B e r t il l o n , em
1879, apresentou à Prefeitura de Polícia de Paris,
de que era funcionário, um método de identifica­
ção para o reconhecimento dos reincidentes, o
qual, a título de experiência, lhe foi permitido pôr
em prática em 1882.
Êsse método, o mais perfeito da época, em
1885 foi mandado executar «m todos os presídios
franceses e, em 1888, foi decretado seu emprêgo
obrigatório em tôda a França.
Assinala, o citado método, três princípios
básicos :
1. fixidez absoluta dos ossos a partir dos 21
anos de idade;
2. dimensões ósseas variadas de indivíduo
F ig . 2 — 1 . Altura — 2 . Envergadura — 3 . Busto —
para indivíduo;
4 . Diâmetro longitudinal da cabeça — 5 . Diâmetro trans­
3. facilidade e relativa precisão com que se versal da cabeça — 6 . Diâmetro longitudinal da orelha
podem medir certas dimensões do esqueleto hu­ direita — 7. Comprimento do p é esquerdo __ 8 . Com ­
mano. primento dos dedos médio e mínimo esquerdos __ 9.
Comprimento do antebraço esquerdo. Ausente a medida
Baseado nesses três princípios, estabeleceu do diâmetro bizigomático, incluída posteriormenta
o autor : no Sistema.
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crições que, a princípio se supôs serem sinais alfa­


IDENTIFICAÇACf^PESSOAL b éticos. E m 1885, o Dr. A . B e r t r a n d apresen­
-Sua evolução- tou a hipótese de serem impressões digitais, supo­
sição confirmada em 1920 pelo Dr. E ugene
S t o c k is , depois de rigorosas investigações.

Essas inscrições devem ter cêrca de 3.000


anos, datando da época neolítica, quando a pedra
e o osso eram os únicos elementos de que dispu­
nha o homem. São um documento de inestimável
valor, dada a segurança e a veracidade das expe­
riências e a fidelidade nos seus mínimos detalhes
poroscópicos. (Fig. 3)

DACTILOSCOPIA

Período pré-histórico — A história da dacti-


loscopia, no que diz respeito a origem de seu em­
prego, da prioridade de observações das linhas
papilares à classificação em diferentes tipos e da
sua aplicação como elemento identificador, é um
assunto que se perde no terreno das hipóteses, pa­
recendo temerário dizer-se quem primeiro o noti­
ciou, embora se tenha -conhecimento de que seu
uso teve início no Extremo-Oriente.
Sabe-se que o homem pré-histórico observou F ié . 3
as diversas disposições dos desenhos formados
Em um lago, na Nova Escócia (Canadá), em
pelas papilas dérmicas, pelo simples fato dos mes­
1892, foi encontrado, por G e o r g e C r ee d , segundo
mos terem sido encontrados gravados em tijolos
G a r r ic k M a l o r y , uma pedra, na qual se encon­
de argila, vasos, cavernas, objetos de cerâmica e
trava gravada u’a mão de um dos índios Mica-
muitas outras peças por êle fabricados.
macs, que ali estiveram antes da entrada dos eu­
Não se sabe, positivamente, se tais gravuras
ropeus civilizados.
(reproduções) constituíam ou não valor identifi-
cativo. Na Caldéia, em 1925, foi descoberto um muro
Esclarecem alguns autores que o homem da que deve datar de 2.800 a 4.700 anos antes de
Idade dos Metais ou o do período neolítico conhe­ Cristo; apresentava duas impressões digitais mol­
cia as variadas formas dos desenhos formados nas dadas na argila. Nas escavações feitas nas mar­
pontas dos dedos, nas palmas das mãos e nas gens do rio Tigre e do Eufrates, na Mesopotâmia,
plantas dos pés e que os imprimia nos objetos que encontraram-se argilas com sinais digitais do
fabricava; afirmam, outros, que essás reproduções 3.000 anos.
não passavam de mero capricho do artista. Período empírico — O emprêgo da dactilos-
Inúm eras, as obras descobertas por explora­ copia, como processo máximo à legalização de do­
dores e arqueólogos, em escavações, trazendo, gra­ cumentos, teve início no século VII, no Extremo-
vadas, as pontas dos dedos dos seus m anipula­ ( Oriente (China e Japão). Neste, em atendimento
dores . a uma lei doméstica, oriunda, supõe-se, de uma
Em 1832 foi descoberto, nas ilhas Gavr’Ims das leis de T a ih o , do ano 702 de nossa era, as
um estranho monumento megalítico todo coberto quais se supõem idênticas, em parte,,às leis chine­
de terra. As paredes interiores apresentavam ins­ sas de Y u n g -H w u i (anos 650 a 655, depois de
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Jesus C risto ), o marido, ao se divorciar da espôsa,


Assim sendo, pode-se concluir o presente pe­
devia entregar-lhe um docum ento escrito, expon­
ríodo com o seguinte juízo:
do um a sete razões do divórcio (desobediência
a) que a papiloscopia nascente tinha caráter
filial, relaxação de costumes, ciume, lepra, taga­
relice e r o u b o ) .
positivamente individualizador, conforme admitem
H e in d l , M i n á k a t a e outros;
Êsse documento devia ser escrito pelo mari­
b ) que o fenômeno papiloscópico não ia além
do; assinava-o, na impossibilidade de fazê-lo, com
de fato inconsciente, para uns, e supersticioso, para
a impressão digital.
outros.
Outros docum entos, conform e a natureza da
Período científico — Os primeiros estudos
ação, exigiam idêntica form alidade, de que resulta
científicos a respeito das papilas dérmicas datam
o Shanmu-ying, têrm o que os chineses d avam à
de 1664, com as observações de M a r c e l o M a l -
impressão do polegar, seguida das dos quatro de­
P IG H I, anatomista italiano, chamado por E. Lo-
dos restantes.
c a r d de o avô da dactiloscopia.
L o c a r d , em seu “Traité de Criminalistiqúe”
Nesse ano, em carta dirigida a Jacob R ufo
registra dois casos curiosos, extraídos de um ro­
declarou M a l p ig h i :
mance chinês “Schui-hu-chuen”, havidos no século
VI ou VII: “Então Lin-Chung, depois de seu se­ “ A dúvida sôbre a função que eu havia assinalado às
papilas piramidais da língua continuava torturando o meu
cretário haver copiado o que ditava, marcou-o
espírito e, num dia em que estava entregue ao estudo,
com um sinal característico e imprimiu a impres­ armado de microscópio, poderoso auxiliar da vista, como
são digital” . Isto, para firmar seu próprio divór­ não tinha à mão nenhuma peça anatômica, ocorreu-me
cio. observar as pontas' dos dedos. Enquanto estava contem­
plando, gravadas nas mesmas, essas rugas desiguais, em
Mais adiante; a respeito da captura de duas forma de círculo ou espirais, que surgem como corpúsculos
mulheres de Wu-Sung, perseguidas por haverem diáfanos do fundo de uns alvéolos diminutos, espalhados
assassinado seu irmão: “Fêz avançar as duas mu­ em ordem admirável por tôda a face interna do dedo, es-
tremeceu-se o meu coração pela novidade da descoberta
lheres e as obrigou a impregnar os dedos de tinta e, no mesmo instante, tive a intuição de que êsses cor­
e deixar as impressões digitais” . púsculos deviam ter a mesma função que as papilas pira­
Consoante autores outros, H u m u g a s u - M in a - midais da lín gu a."
k a t a , antropologista japonês, afirmou, em uma pu_ Essas observações foram divulgadas, em Ná­
blicação feita em “The Nature”, em 1894, que os poles, em 1665.
chineses conheciam, já, as impressões digitais como
Convém dizer que, para W e n t h w o r t h e
elemento essencial à legalização de documentos,
W il d e r , os primeiros estudos sôbre os desenhos
no século VII e que no século VIII elas foram im­
papilares partiram de N e h e m i a h G r e w (1684)
portadas pelo Japão com o nome genérico de Tip-
e não de M a l p ig h i , conforme se tem dito. Os
sahi, tendo passado para a índia com o mesmo
dêste, segundo os dois norte-americanos, datam
nome.
de 1686. Hoje, dadas as controvérsias, diz-se que
Afirmou H e in d e l , também, o conhecimento o avô da dactiloscopia é G r e w e o pai, no enten­
das impressões digitais por parte dos chineses e der de V u c e t ic h , é G a l t o n .
talvez o seu emprêgo para fins criminais. Disse,
Em concursos e provas, no D .A .S .P ., pre­
ainda, que cada mãe chinesa conhecia os diversos
valece a opinião de L o c a r d .
arranjos dos desenhos papilares e que os descre­
via, até. Quem, inegàvelmente, distinguiu os desenhos
Os quiromantes chineses do século X III tam­ digitais em diferentes tipos foi J . E. P u r k i n j e ,
bém distinguiam dois tipos de dactilogramas, o lo, sábio boêmio (M orávia), conhecido na história
que é o nosso verticilo, e o ki, a nossa presilha. da dactiloscopia como o pai legítimo dos dactilos-
copistas ( L o c a r d ), que em sua tese de 22 de de­
No Extremo-Oriente, no século XVI, em con­
zembro de 1823, apresentada à Universidade de
trato de venda dos filhos, os pais apunham, no res­
Breslau, onde vinha lecionando a dactiloscopia
pectivo documento, as impressões palmar e plantar
teórica, declarou:
direitas.
“ A admirável disposição dos desenhos das pequenas
Aí, os dactilogramas tiveram as seguintes de­ sinuosidades que se encontram na superfície interior da
nominações: mão, na planta dos pés, e sôbre a face dos dedos excita
nossa curiosidade. Geralmente, em tôda obra clássica de
Tip-sahi — Impressão usada como firma.
Anatomia e Fisiologia há menção; mas, tratando-se de um
Shanmu-ying — Impressões simultâneas (polegar se­
órgão tão importante çomo é a mão do homem, que não
guido dos demais dedos), para efeito de divórcio.
sòmente preside aos movimentos mais diversos, senão
Keppan — Impressão do anular, com sangue, que
principalmente o sentido do tato, não há investigação por
constituía um dos mais sagrados juramentos nipônicos.
mais minuciosa que seja, que não traga aparelhada alguma
No Japão, até 1869: grata surpresa no ulterior conhecimento dêsse órgão. __
Bo-in ou Bo-han — Impressão espontânea do polegar Depois de inúmeras experiências se pôde estabelecer nove
tipos principais que permitem fazer a determinação m etó­
cm papéis legais.
Tsumein — Em se tratando de atos solenes. dica dos diferentes desenhos formados pelas linhas papi­
lares . ”
Keppan — Na identificação de criminosos.
Certos autores, no entanto,'não admitem que Os nove tipos, são :
os orientais tivessem usado as impressões papilares 1. Flexurae transversae.
como prova consciente de identidade. 2. Stria centralis longitudinalis.
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3. Stria obliqua. lução do desenho papilar a partir do segundo mês


4. Sinus obliquus. e inform ando que tais desenhos só se m anifestam
5. Amygdalus. m ais ou menos legíveis a partir do quarto.
6. Spirula. Outros nom es foram surgindo na história da
7. Ellipsis. dactiloscopia, êstes abrindo, já, novos horizontes
8. Circulus. para uma Ciência de insuperável v alo r. E foi, não
9. Vortex duplicatus há negar, que surgiram : H e r s c h e l l , nas índias
Outros precurssores teve a dactiloscopia-: inglêsas, no período de 1858 a 1878, adotando, es-
G o v a r d B id l o o , em 1685, R u y s c h , em 1701, que pontâneam ente, a aposição d o s .d e d o s dos indus
continuou os estudos de M a l p ig h i ; S ie g f r ie d em docum entos contratuais, fôlhas de pagam ento
( A lb in u s), de 1726 a 1734: C h r is t ia n o Ja c o b de pensionistas e t c . ; F a u l d s , m édico escocês, ex-
H in t z e , em 1751, que fêz estudos sôbre a dispo­ cirurgião do H ospital de T su kiji, em T óqu io, que
sição das linhas na palm a das m ãos e nas planta em carta de 15 de fevereiro de 1880 comunicou,
dos pés; J . C . A . M ayer, em 1783-88, verificando a. C h a r l e s D a r w i n , tio de F r a n c is G a l t o n , os
o desenvolvim ento da ondulação papilar e a di­ estudos que havia feito em dactilogram as impres­
versidade dos desenhos que form am ; H usch ke, sos em cerâmica pré-histórica e da com paração
dos m esm os com os dos m o n os.
em 1844, estudando o m esm o fenôm eno e com pa­
rando as ditas form as com as dos prim atas; C*AU- F a u l d s , na carta citada, dizia ter usado lente
SÉE, em 1846, descobrindo a identidade de um à leitura dos desenhos e aconselhava, para tom á-
criminoso por m eio das impressões sangrentas; los, a técnica que hoje usam os em dermodactilo-
M ascor t, em 1848, verificando as dim ensões das graJia; classificava os tipos em A r c h , L o o p e
papilas dérm icas; H u g o l in , em 1750; E n g e l , em W h o r l , têrm os que foram mantidos, posterior­
1856, relacionando os estudos da m ão e do pé m ente, por G a l t o n . Êste, inspirado na carta de
hum anos com os dos m onos e reduzindo a quatro F a u l d s e com a posterior descoberta da tese de
os nove tipos de Purkinje, e K o l l ik e r que trata P u r k in j e , intitulada “C om entatio de exam ine
da existência dos desenhos papilares desde o physiologico organi visus et system atis cutanei”
quarto m ês de vida intra-uterina, até a cortipleta escrita em latim castiço, iniciou, em Londres, em
decom posição do cadáver; A l i x , em 1867, estu­ 1888, o estudo da identificação do h om em pelo
dando a disposição das linhas palm ares e planta- processo datiloscópico e procurou verificar, ao
res e os tipos da classificação de P urkinje; K o l l - m esm o tem po, se através das respectivas impres­
m ann, continuando os estudos de K o l l ik e r , estu­ sões era possível estabelecer o sexo, raça, heredi­
dou os poros com o elem ento de identificação e a tariedade e tc. Em 1891, com a contribuição de
existência das linhas papilares a partir do 6 .° m ês H e r s c h e l l , dem onstrou os princípios fundam en­
d e vida fetal; B l a s c h k o , em 1884, estudando o tais dos desenhos papilares: Perenidade, imutabi­
desenvolvim ento das linhas papilares a partir do lidade e individualidade (v a ria b ilid a d e ).
6.° m ês; F l o r e n c e , em 1885, tratando da inalte- Êsses princípios foram firm ados com as pró­
rabilidade da fisionom ia dos dactilogram as pelas prias impressões do dedo indicador de H e r s ­
cicatrizes; B o n n e v ie , em 1925, verificando a evo­ c h e l l : uma, tom ada em 1860; outra, em 1888.
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G a l t o n , no período de 1888 a 1896, carac­ Desejando-se verificar a classe a que per­


terizou dez classes e trinta e oito tipos nucleares, tence determinado dactilograma, segue-se, con­
e os pontos característicos que chamou “Minu- forme sugere o autor, com a ponta de um lápis, o
tiae”, sem atingir o ponto culminante da dactilos- curso das limitantes S e B, a partir dos extremos
copia — o arquivamento dos dactilogramas. W e V.
Não teve, o cientista inglês um sistema; sua Obedecida a orientação sugerida, tem-se nove
classificação foi puramente teórica. combinações:
Depois dêsses ilustres investigadores, surgiu WSV-WBV — a diretriz superior, assinalada
F r e c o n , definindo, em tese, o significado de dac- com S, parte de W e termina em V; a linha B se
tilograma e F e r é , T e s t u t e F o r g e o t (1891), torna comum com êsses dois pontos.
que aceitaram a classificação galtoniana, introdu­ SV7-SF — a linha S, partindo de W, passa
zindo-lhe as modificações e os tipos que aqui se sôbre o extremo V, divergente, e a diretriz B, que
reproduz. parte de V, termina no lado opôsto, à altura da
periferia do dedo, sob o extremo W .
R e n é F o r g e o t propôs a inclusão de mais
cinco tipos, além dos que foram sugeridos por
F e r é na classificação de G a l t o n .
SV-BW — a diretriz S, partindo de V, passa
sôbre o extremo W, e a que dêste ponto parte
F ig » 5 - S ím b o lo s u s a d o * p e r GALTON, P E H Í • T E S T U T , p e r » o e s s in a la m e o passa sob o extremo V, indo terminar abaixo de
t o d e s «S a lta s e d a s lin h a s d i r e t r i z e s .
W.
Com o esquema da figura 5, estabeleceu F eré. 1 Feré 3
F eré 4 F eré 6
G alton nove combinações (classes) teóricas, G a lt o n
T e«tu t
a
1
F eré ! F o r je o t G a lt o n
T e itu t
b
2 G a lt o n b ? G a lto n e 1

que deram origem aos desenhos das figuras 6 e 7.


Ao arco, primeiro tipo de sua classificação, deu o
símbolo lateral a (Primary), por não ter delta. F eré 5 F «ré 7
•Â
F eré 8 F eré 9
^

F ere
' f f v

10 F cre ||
G a lt o n c 2
G a lt o n c G a lt o n c . * G a lto n d G a lto n c
Os deltas foram assinalados com as letras W T e ito t 4 G a lto n c. 8

e V; as linhas limitantes (linhas diretrizes), com


S e B, conforme o esquema da fig. 5.
F eré 1? F eré 13 F eré l< F eré 16
F eré 15 F orgéot
G a lto n h
G a lt o n í G a lt o n g
T e itu t 8
G a lto n j G a lt o n lj 1

?n
F o r fe o t F eré I?
G a l t o n tc 2
F eré
G a lt o n ft iS
i
F eré
G a lto n
tO
i
F ere
G a lt o n
20
1 2 <
F eré
G a lt n n
21
3

F eré.
G a lt o n
22
m
á

F ere
l ?

23 F eré 24
G a lt o n n . ?
F eré 23
G a lto n n . 3
F eré 26
%
F e r tf V
G a lto n . n 1 G a lt n n o G a lto n p
T e itu t 8 T estut IO T estut °

F eré 28 F ere 29 F eré 30 F eré 31


F o r jr a o » F orgeot
G a lto n q G a lt o n r G a lto n e C U io n t 1

# F eré 3J
-^i>
F eré 3? F eri *3 F eré 3S F eri 36 F eré 37
G a lt o n «. 1
G a lt o n i 2 G & lto n « .2 G a lto n u G a lto n v
T r itu t i

# s> IP
F eré 38 Feré S* F eré 40
G a lto n v . 2
T ettu i 7
G a lto n w G a lt o n y Pcrc 41
T e v iu i 6

O
F ig . 7 — Os trinta e oito tipos nucleares de G A L T O N .

SV-BV — ambas as diretrizes, divergentes,


partem de V e terminam na periferia do dedo, sem
tocarem no ponto W .
WSV-BV — a diretriz S se torna comum com
os extremos W-V; a inferior B somente com V .
SV-WBV — a linha S, partindo de V, diver­
F ié- 6 — As D EZ CLASSES da classificação teórica ge e termina um pouco distante de W, enquanto
de G A L T O N . a inferior B se torna comum com os deltas W e V .
36 RE VISTA DO SERVIÇO PU BLICO SE TEM BRO DE 1954

SW-BW — am bas as lim itantes, divergentes,


DACTILOSCOPIA
partem de W, indo terminar na periferia do d e d o . (Evolução)
W SV-BW — a linha S se torna comum com 1
os extremos W-V; a linha B, partindo de W, di­ KALPIGBI
verge e termina muito abaixo de V .
SW -W BV — a linha S, partindo de W, di­
verge e passa sôbre o extremo V; a linha B se
torna comum com os dois pontos. Ruysch' SieglTied
Dentro dessas combinações são incluídos os 2
tipos nucleares mostrados à figura 7. PURKItfJE
Pelo mesmo processo obtém-se as combina­
ções de F e r é e T e s t u t .
C h a r l e s F e r é , já citado, introduziu três tipos
na classificação de G a l t o n (2 , 3 3 e 4 1 — fig . 8 ) Huschke Herscholl
Mascort Faulds
e substituiu as letras por R-C-A-P, cuja tradução Hugolin Thompson
é a seguinte: Causée 3 Kolliker
Bewiek GALTON Kollmann
R — radial Hodann Blaschko
C — cubital » Alix, etc. Florence, etc,
A — anterior ou lim itante superior '
P — posterior ou lim itante inferior.
Frecon Testut
T estu t extraiu dez tipos (fig. 9), dos 38 Varigny Forgeot
assinalados por G a l t o n e m arcou os deltas e as
U
linhas diretrizes com os seguintes sím bolos: VUCETICH
i — interno ou delta cubital
e — externo ou delta radial
C — curvo ou diretriz superior
T — transverso ou diretriz inferior Bertillon Minakata
Daae Olorlz
Tipo sJ.ndAS8o Henr y Gasti-Ottolenghi
Ros cher Locard
etc. etc.

M 0 % ,
Todos êsses estudos foram citados por H e n r y
de a r i g n y , em “Revue Scientifique”, de Paris,
V

F ig . 8 — Os três tipos de FE R É , introduzidos na classi- tomo 47, n.° 18, de 2 de maio de 1891, dos quais
íicação galtoniana. partiu D . J u a n V u c e t i c h , austríaco, naturaliza­
do cidadão argentino e funcionário da- polícia dêste
país, à organização do Sistema que hoje adota­
mos.

2. IMPORTÂNCIA DA PROVA DE IDENTIDADE PES­


SOAL SOB O PONTO DE VISTA SOCIAL
i
E CRIMINAL

Êste ponto exige que se reproduza, aqui, o


que ficou dito no início dêstes Apontamentos,
mas, não impede que se diga, em resumo, o que
requer o presente .
A prova de identidade sob o ponto de vista
Fig. 9 — Os nove tipos de TESTU T, extraídos da classi­ social ou criminal consiste em o indivíduo poder
ficação galtoniana.
provar, por meio do nome antropológico, seu nome
civil.
A identificação civil tem como objetivo fixar
a personalidade jurídica do indivíduo físico para
^•rür
que êle possa exercer direito e obrigações; a iden­
Fig. 10 — Tipos transicionais de FO R G E O T, incluídos
na classificação galtoniana. tificação criminal visa colhêr informações sôbre
ID E N TIFIC A ÇÃ O PESSOAL 37

antecedentes criminais, apurar casos de reincidên­ “Procedimento técnico que tem por objeto o
cia, e fixar a personalidade do autor de um ato estudo dos desenhos digitais com o fim de identi­
delituoso. ficar as pessoas” ( M o r a R u i z ) .
“Ciência da Identidade” (R eyna A lm an-
3. CONCEITO DE IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO dos) .

Identidade é o conjunto de caracteres pró­ “Ciência que garante e fixa a personalidade


prios que diferenciam as pessoas ou coisas entre humana” ( S i s l á n R o d r í g u e z ) .
si; identificação é o processo de se colhêr os ca­ “E’ a única prova positiva da identidade”
racteres identificadores, a fim de se poder estabe­ (L ocard) .
lecer a respectiva identidade. “Reconhecimento e identificação do homem
Êsses sinais podem ser — segundo A rgeu por meio de suas impressões digitais” ( I s r a e l
G u i m a r ã e s , citando S o u z a L i m a : Castallano s) .

Fisiológicos — a idade; Com elementos da mesma procedência está


Patológicos — estado dos dentes, defeitos provocados construído dactilograma: D a k t y l o s , dedo, e
por tumores, cicatrizes indeléveis e tc .; G r a m a , /escrita.
Teratológicos — monstruosidades e aleijões de nas­
Dactilograma, sob o ponto de vista prático,
cença como o lábio leporino, a hiperdactilia, hipodactilia,
é tôda impressão colhida para fins identificativos.
eindactilia;
Em sentido amplo, classificam-se em naturais ou
Acidentes — os sinais congênitos e os determinados
pelos processos de cromodermia (tatuagem ); estigmas pro­ positivos, quando observados diretamente nos de­
fissionais e t c .; dos; artificiais ou negativos, quando são observa­
Antropognósticos — o retrato falado, a dactiloscopia, dos, impressos, no papel.
etc. .
Classificam-se também em negativos, os dac-
tilogramas deixados em matérias moles (impres­
4. HISTÓRIA DA DACTILOSCOPIA E SUA INTRODU­
sões moldadas) e as impressões latentes após re­
ÇÃO NO BRASIL
veladas, fotografadas e ampliadas; em naturais,
Depois de haver V u c e t i c h , na Argentina, também, as ditas impressões, mas em estado la­
lançado o Sistema que hoje adotamos, todos os tente. Chama-se, ainda, de impressão digital, o
países foram logo abolindo os processos vexató­ dactilograma artificial e de desenho digital, o dac­
rios e antiquados à identificação pessoal. tilograma natural.
A Dactiloscopia foi introduzida no Brasil Finalidade — Permitir, de modo rigoroso e
por Decreto n.° 4.764, de 5 de fevereiro de 1903, exato, a fixação da personalidade jurídica do indi­
por iniciativa de F e l i x P a c h e c o , que substituiu víduo para todos os atos de sua vida pública ou
a J o s é B e l o na direção do “Gabinete Antropo- privada.
métrico”, antes dirigido pelo Dr. R e n a t o C a r - Origem do têrmo — O têrmo em causa apa­
m il. receu no dia 8 de janeiro de 1894, em “La Na-
Êsse Decreto deu nova denominação ao alu­ ción” , num artigo intitulado “Reminiscências pla-
dido Gabinete, que passou chamar-se Gabinete de tenses”, no qual F r a n c i s c o L a t z i n a falava no
Identificação e Estatística Criminal, hoje Instituto novo processo da identificação do homem por
Felix Pacheco, e regulamentou a lei n.° 947, de meio de suas impressões digitais, lançado por
29 de dezembro de 1902 ( H e r m e t o L i m a , em V u c e t i c h , na Argentina, em 1891, com o nome

A identificação do homem pelas impressões digi­ de Icnofalangometria. Sôbre esta expressão disse
tais, pág. 112). o articulista:
“ Eu me pergunto que necessidade teve Vucetich de
5. d a c t il o s c o p ia : d e f in iç ã o , f in a l id a d e e misturar tôdas essas coisas gregas para designar com um
p r in c íp io s f u n d a m e n t a is
só nome a impressão digital. Desde logo na Icnofalango-
metria nada se mede, por conseguinte excede o de metria;
Definição — Sob o ponto de vista etimoló- observa-se, examina-se a impressão d o,d ed o; as estrias que
suas figuras palmare: formam. Pois, então, se é absoluta­
gico, o têrmo “Dactiloscopia” está composto de
mente necessário que se empregue uma palavra grega
dois elementos gregos: D a k t y l o s , dedo, e SKO- para denominar o processo e para que tal nome venha
p e i n , examinar. combinar-se com o de antropometria, diga-se, por exem­
plo, dactiloscopia, composto de daktylos, dedo e skopein,
Sob o ponto de vista teórico: “EJ o exame
examinar, vocábulo que é mais curto (treze letras contra
dos desenhos papilares nas pontas dos dedos” dezessete) e até mais eufônico que o de icnoíalangome-
(O l o r iz ) . tria” (O grifo é n o sso ).
38 REVISTA DO SERVIÇO PÚ BLICO SE TEM BRO DE 1954

O têrmo sugerido, apesar de ter sido logo dade de um para outro indivíduo, ou de um para
aceito, só apareceu em 1896, quando V u c e t i c h outro dedo, se manifestavam.
lançou o “Sistema Dactiloscópico Argentino” , tra­ Iguais pesquisas foram levadas a efeito por
çando novas diretrizes e reduzindo, a quatro, os M u t r u x -B o r n o x , autor de “Les Troublantes ré-
101 tipos do primitivo Sistema. vélations de 1’empreinte digitale et palmaire” , R .
Princípios fundamentais — São três, a saber: Roth & Cia., Libraire de droit. Lausanne, 1937,
Perenidade — E’ a faculdade que têm as e C u m i n s & M i d l o , autores de “Finger Prints,
papilas dérmicas de se manifestarem definidas Palms and Soles”, An Introduction to Dermato-
desde o 6.° mês de vida intra-uterina, até à com­ glyphics”, Philadelphia, 1943.
pleta decomposição do cadáver. Antropoides — Cada um dos quatro tipos
Imutabilidade — Não se modificam durante da série animal que mais se parecem com o ho­
tôda a vida, permanecendo as mesmas do nasci­ mem, a saber, o gorila o chimpanzé, o gibão e o
mento à completa decomposição post-mortem. orangotango ( L a u d e l i n o F r e i r e , Grande e No­
víssimo Dicionário da Língua Portuguêsa) .
Variabilidade (ou Individualidade) — Im­
possibilidade absoluta de dois desenhos idênticos. Macaco — Nome geral de todos os mamífe­
Variam extremamente de indivíduo para indiví­ ros da ordem dos primatas, excetuando-se o ho­
duo. São intransmissíveis finalmente. mem (Leio Universal).
Primatas — Ordem dos mamíferos, que com­
6. HEREDITARIEDADE DAS IMPRESSÕES PAPILA» preende aquêles que são désignados vulgarmente
R ES. DESENHOS D IG ITO -PALM AR ES DOS P R IM ATAS sob o nome de macacos, e na qual um certo nú­
mero de autores fazem entrar o homem: os pri­
Os tipos falangéticos não são hereditários, matas dividem-se em catarrínios, macacos do an­
nem mesmo nos gêmeos. São transmissíveis, tigo continente e platirrinos macacos do novo con­
quanto à forma, em cada um dos grupos que com­ tinente (Leio Universal).
põe a escala zoológica, principalmente na ordem
e subordem dos primatas. Tarcianos.

Sôbre êsse assunto já se manifestaram G AL­ Ayc-Aye.

TON, S e n e t , F o r g e o t e muitos outros. Í Mococó.


Maki, etc.

Os desenhos digito-palmares dos primatas Colobidas.

apresentam, conforme o grupo, analogia com os i Senopiteco.


| Colobida.
dos homens. Cercopeticidas.;( Cercopitcco.
/ Oatarrinios | Papioidas.
Sôbre determinadas 'formas de desenhos é Nariz estreito ( Cinocéfalo.
oportuno aduzir algumas considerações. Hilobatidas — (GibSo.)

V citado por A r g e u G u i m a r ã e s
a s c h id e , [ Orangotango — Ásia.
, . , I Gibáo — A sia.,
( “Epítome da dactiloscopia”, Rio de Janeiro, Sínios.. Antropóides— j Chimpantê - África.
1917), disse que os débeis e os retardados têm ( Gorila — África.

linhas papilares simples; G a l t o n informou que í Hapaüdas.


as formas primárias (arcos planos) predominam Platirrinos í Urrador.
Nariz chato Ateie.
entre os degenerados, idiotas, epiléticos; A l i x es­ Sajur.
clareceu que na escala descendente do homem \ Cêbidas.. Saimiri.
Nicpiteco.
para os macacos, observa-se que os desenhos digi­ Saqui (ou Soím).
Tamarino.
tais se uniformizam. Depois dêste cientista haver
examinado os dedos dos grandes símios, assinalou
o “tipo simiesco” , que F e r é , em 1891, incluiu na
classificação teórica de G a l t o n . *

O mesmo autor, também citado por A r g e u


G u i m a r ã e s , declara:
“Da base da falangeta par­
tem dos mesmos pontos duas espécies de linhas;
umas, paralelas ao sulco articular; outras, elíticas,
a partir do ponto sumo, perto da extremidade do
dedo. Êsse sistema de linhas circunscreve um es­
paço triangular que, no macaco, é preenchido por
linhas retas ântero-posteriores, paralelas ao eixo Marfcosa murina
do dedo e dispostas em leque” . E6 traseiro. Gênero Porção dilatai da palma do
oposto ao primata. Leraure (Proslnla varlepatta)
em 182 epiléticos, encontrou 100 for­
F eré,
mas primárias; F o r g e o t , entre detidos e tarados
de uma penitenciária, encontrou uma porcenta­
gem de 23,11. Concluiu que “os degenerados’
apresentam uma freqüência maior das formas #
Dorso P e r fil
chamadas primárias” , e verificou, ainda, que entre
Fig, 1 1 -Topografia paptla? dos dedos dos LBWJRE8
os inúmeros chimpanzés do jardim zoológico de
Paris, os mesmos desenhos, sem a menor varie­ Fig. 11 — Topografia papilar dos dedos dos LÊM U RES
^ ...... ------------------------------- ------

ID E N T IF IC A Ç Ã O PESSOAL 39

Apice
P e rf i l
Fig. 12 — Topografia papilar dos dedos, palma e planta

GIBÃO
(Hylobates agilis)
Palma e planta
Fig. 15

CEBO
(Cercopithecus cebus)
Palma e planta CHIMPANZÉ
GORILA
(Gorila gorila) (Antroplthecus tro-
F^lma e planta flodytes) Palma

PITECO
(Macaca sylvanus) Orangotango
Palma e planta . (Pongo)
Palmas
FJg. 13 Fig. 16

Fig. 17 — Disposição das linhas papilares nos dedos


(última falange) dos ORANGOTANGOS
40 RE VISTA DO SERVIÇO PÚ B LIC O ---- SETEM BRO DE 1954

Evolução dos desenhos PALM ARES E DIGITAIS entre os PRIMATAS, segundo M UTRUX
BORNOZ

Fie. 18

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