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I d e n t i f i c a ç ã o Pessoal
C arlos C u n h a
(Do Serviço de Identificação da Aeronáutica)
Apontamentos
A
identificação e particularidades de certos órgãos do corpo hu
nos sugere os processos que passamos a re mano, e a fotografia, foram sugeridos na identifi
latar . cação de criminosos.
O nome — Supõe-se ter sido o nome o pri Identificação criminal — Na índia, o crimi
meiro sinal individualizador dado pelo homem da noso era marcado com o ferro quente. As marcas,
época cavernária aos seus semelhantes. apostas na fronte do indivíduo, representavam de
senhos de vários aspectos e cada um dêles corres
O nome, em um sentido amplo, compreende
pondia a determinado crime.
o apelido, apôdo ou qualquer outra forma apela
tiva de reconhecimento. Vejamos, pois, alguns artigos do livro 9.° das
“Leis de Manú” :
Na África meridional existe uma tribo que
Art. 237. Que por haver manchado o leito de seu
diferencia seus componentes assim: homens do pai espiritual, imprime-se sôbre a fronte do culpado um
crocodilo, da pantera, do tigre, do leão, do porco sinal que represente as partes de u’a mulher; por haver
espinho, do mono, do elefante etc. bebido licores espirituosos, se lhe grava um sinal que re
presente a bandeira de um destilador; por haver roubado
Outros povos davam a seus filhos o nome de o ouro de um sacerdote, o pé de um cachorro; pelo asassi-
algum animal, instrumento, árvore ou planta: nato de um Bramane, a figura de um homem sem cabeça.
Tigre, Leão, Águia, Pinto, Pinheiro, Carvalho etc. Art. 238. Não se deve comer com éstes homens,
nem sacrificar-se com êles; que errem sôbre a terra em
Há, ainda hoje, os Rosas, os Flores, os Pitangas, miserável estado, excluídos de todos os deveres sociais.
os Limoeiros, os Machados e muitos outros. Art. 239. Éstes homens, marcados com sinais des
Os hebreus empregavam os nomes com um onrosos devem ser abandonados por seus parentes pater
nos e matemos e não merecem compaixão nem cuida
sentido místico, assim Elias (Jeová é meu Deus)
dos” .
e Joel (o senhor é D eus). Josafat indica o juízo
de Deus; Raquel se relaciona com mulher de À mutilação dos órgãos essenciais como os
caráter doce. dedos, as mãos, os pés, e até à castração, estavam,
também, sujeitos os indus.
Os romanos designavam as pessoas com um
Na França, até 1562, os criminosos eram
só nome; mais tarde, o romano livre de nasci
marcados, na face, com uma “flor de lis” ; poste
mento teve três nomes: 1.°) o prenome, que era
riormente tal estigma era impresso nas costas.
inteiramente pessoal; 2.°) o nome, que indicava
No mesmo ano, em substituição a aludida marca,
a casa de onde descendia e 3.°) o cognome, que
foram adotadas as letras V, W, GAL e F, que dis-
dizia o ramo familiar.
tinguiam, respectivamente, o ladrão primário, o
Que é o nome? reincidente, os que encaminhados fôssem às Galés,
Um sinal simbólico, substituível, confuso, sem e o falsário. Antes da adoção de tal processo, os
individualidade natural. franceses usavam cortar as orelhas ou o nariz dos
malfeitores.
Porisso, procurou-se um nexo de identidade
Costumes semelhantes eram praticados na
entre o nome (personalidade jurídica) e o homem
Grécia e em Roma, nos qüais os criminosos eram
(pessoa física).
marcados, na testa, com desenhos de animais ou
Solucionou-se, definitivamente, o problema, com a letra inicial do crime. De formas mais ou
com a junção do nome natural ou nome antropo menos variáveis, o processo de se marcarem os
lógico, imutável, com o nome civil. criminosos com o ferro candente subsistiu na Es
Tatuagem — A êsse processo, também re panha, na Inglaterra, na Rússia, em Portugal e
correram os homens primitivos: os indígenas do nos Estados Unidos.
30 RE VISTA DO SERVIÇO PU BLICO SE TEM BRO DE 1954
Todos os processos de se individualizarem Sôbre essa linha, traça-se uma vertical aa, que
os criminosos com o ferro em brasa duraram, na chamamos “linha mediana” e mais duas outras
Europa, até o século X IX , quando foram aboli perpendiculares são traçadas (bb-cc), porém, sôbre
dos. cada pupila.
Segundo R o b e r t o T h u t , no jornal “O Es Cortam-se, depois, os dois retratos em duas
tado de São Paulo”, de agôsto de 1941: “no Bra partes iguais, pela “linha mediana” e, em seguida,
sil, também, nas épocas coloniais, ao negro afri opera-se a justaposição, do maneira que as partes
cano era aplicado o ferro em brasa com as marcas interessadas coincidam perfeitamente. Outras re
de seu senhor, para a identificação de escravos, giões, conforme os traçados executados, podem ser
nos casos de fuga” . confrontadas (Vide fig. 1) .
A fotografia — Com o aparecimento dêsse
elemento científico, todos os que se interessavam
b a c
pela identificação dos criminosos procuraram,
logo, utilizá-la como elemento auxiliar na esfera
judicial. Isto, em 1854.
Acontece, porém, que os malfeitores usavam
ardis dos mais variados como o crescimento da
barba ou dos cabelos, disfarce por meio da pintura
e até a deformação propositada do rosto, com,
cicatrizes, para fugirem da Justiça.
Além disso, outros inconvenientes aparece
ram: ineficácia do arquivamento das fotografias
pelo nome do indivíduo identificado que, na rein
cidência, dava outro; a cirurgia plástica, e o des
conhecimento absoluto da fotografia sinalética às
perícias. ' -
Apareceram, depois, outros processos, todos
julgados obsoletos à identificação humaha.
Craniogrático de Anfosso
DACTILOSCOPIA
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Os deltas foram assinalados com as letras W T e ito t 4 G a lto n c. 8
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O
F ig . 7 — Os trinta e oito tipos nucleares de G A L T O N .
M 0 % ,
Todos êsses estudos foram citados por H e n r y
de a r i g n y , em “Revue Scientifique”, de Paris,
V
F ig . 8 — Os três tipos de FE R É , introduzidos na classi- tomo 47, n.° 18, de 2 de maio de 1891, dos quais
íicação galtoniana. partiu D . J u a n V u c e t i c h , austríaco, naturaliza
do cidadão argentino e funcionário da- polícia dêste
país, à organização do Sistema que hoje adota
mos.
antecedentes criminais, apurar casos de reincidên “Procedimento técnico que tem por objeto o
cia, e fixar a personalidade do autor de um ato estudo dos desenhos digitais com o fim de identi
delituoso. ficar as pessoas” ( M o r a R u i z ) .
“Ciência da Identidade” (R eyna A lm an-
3. CONCEITO DE IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO dos) .
A identificação do homem pelas impressões digi de Icnofalangometria. Sôbre esta expressão disse
tais, pág. 112). o articulista:
“ Eu me pergunto que necessidade teve Vucetich de
5. d a c t il o s c o p ia : d e f in iç ã o , f in a l id a d e e misturar tôdas essas coisas gregas para designar com um
p r in c íp io s f u n d a m e n t a is
só nome a impressão digital. Desde logo na Icnofalango-
metria nada se mede, por conseguinte excede o de metria;
Definição — Sob o ponto de vista etimoló- observa-se, examina-se a impressão d o,d ed o; as estrias que
suas figuras palmare: formam. Pois, então, se é absoluta
gico, o têrmo “Dactiloscopia” está composto de
mente necessário que se empregue uma palavra grega
dois elementos gregos: D a k t y l o s , dedo, e SKO- para denominar o processo e para que tal nome venha
p e i n , examinar. combinar-se com o de antropometria, diga-se, por exem
plo, dactiloscopia, composto de daktylos, dedo e skopein,
Sob o ponto de vista teórico: “EJ o exame
examinar, vocábulo que é mais curto (treze letras contra
dos desenhos papilares nas pontas dos dedos” dezessete) e até mais eufônico que o de icnoíalangome-
(O l o r iz ) . tria” (O grifo é n o sso ).
38 REVISTA DO SERVIÇO PÚ BLICO SE TEM BRO DE 1954
O têrmo sugerido, apesar de ter sido logo dade de um para outro indivíduo, ou de um para
aceito, só apareceu em 1896, quando V u c e t i c h outro dedo, se manifestavam.
lançou o “Sistema Dactiloscópico Argentino” , tra Iguais pesquisas foram levadas a efeito por
çando novas diretrizes e reduzindo, a quatro, os M u t r u x -B o r n o x , autor de “Les Troublantes ré-
101 tipos do primitivo Sistema. vélations de 1’empreinte digitale et palmaire” , R .
Princípios fundamentais — São três, a saber: Roth & Cia., Libraire de droit. Lausanne, 1937,
Perenidade — E’ a faculdade que têm as e C u m i n s & M i d l o , autores de “Finger Prints,
papilas dérmicas de se manifestarem definidas Palms and Soles”, An Introduction to Dermato-
desde o 6.° mês de vida intra-uterina, até à com glyphics”, Philadelphia, 1943.
pleta decomposição do cadáver. Antropoides — Cada um dos quatro tipos
Imutabilidade — Não se modificam durante da série animal que mais se parecem com o ho
tôda a vida, permanecendo as mesmas do nasci mem, a saber, o gorila o chimpanzé, o gibão e o
mento à completa decomposição post-mortem. orangotango ( L a u d e l i n o F r e i r e , Grande e No
víssimo Dicionário da Língua Portuguêsa) .
Variabilidade (ou Individualidade) — Im
possibilidade absoluta de dois desenhos idênticos. Macaco — Nome geral de todos os mamífe
Variam extremamente de indivíduo para indiví ros da ordem dos primatas, excetuando-se o ho
duo. São intransmissíveis finalmente. mem (Leio Universal).
Primatas — Ordem dos mamíferos, que com
6. HEREDITARIEDADE DAS IMPRESSÕES PAPILA» preende aquêles que são désignados vulgarmente
R ES. DESENHOS D IG ITO -PALM AR ES DOS P R IM ATAS sob o nome de macacos, e na qual um certo nú
mero de autores fazem entrar o homem: os pri
Os tipos falangéticos não são hereditários, matas dividem-se em catarrínios, macacos do an
nem mesmo nos gêmeos. São transmissíveis, tigo continente e platirrinos macacos do novo con
quanto à forma, em cada um dos grupos que com tinente (Leio Universal).
põe a escala zoológica, principalmente na ordem
e subordem dos primatas. Tarcianos.
V citado por A r g e u G u i m a r ã e s
a s c h id e , [ Orangotango — Ásia.
, . , I Gibáo — A sia.,
( “Epítome da dactiloscopia”, Rio de Janeiro, Sínios.. Antropóides— j Chimpantê - África.
1917), disse que os débeis e os retardados têm ( Gorila — África.
ID E N T IF IC A Ç Ã O PESSOAL 39
Apice
P e rf i l
Fig. 12 — Topografia papilar dos dedos, palma e planta
GIBÃO
(Hylobates agilis)
Palma e planta
Fig. 15
CEBO
(Cercopithecus cebus)
Palma e planta CHIMPANZÉ
GORILA
(Gorila gorila) (Antroplthecus tro-
F^lma e planta flodytes) Palma
PITECO
(Macaca sylvanus) Orangotango
Palma e planta . (Pongo)
Palmas
FJg. 13 Fig. 16
Evolução dos desenhos PALM ARES E DIGITAIS entre os PRIMATAS, segundo M UTRUX
BORNOZ
Fie. 18