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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Letras

Ana Carolina Moya Monticelli

Laura Maria Caldas

O CONHECIMENTO DA COMUNICAÇÃO
CORPORAL COMO RECURSO AUXILIAR
DOCENTE

LINS/SP

2010
1

Ana Carolina Moya Monticelli

Laura Maria Caldas

O CONHECIMENTO DA COMUNICAÇÃO
CORPORAL COMO RECURSO AUXILIAR
DOCENTE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Banca Examinadora do
Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium, curso de Letras, sob a
orientação da Profª Ed Ganzarolli Pereira
Calças

LINS/SP
2010
2

Ana Carolina Moya Monticelli

Laura Maria Caldas

O CONHECIMENTO DA COMUNICAÇÃO CORPORAL COMO


RECURSO AUXILIAR DOCENTE
Monografia apresentada ao Centro Universitário Salesiano Auxilium, para
obtenção do título de Licenciado em Letras.

Aprovada em: 02/12/2010

Banca Examinadora:

Profª Orientadora: Ed Ganzarolli Pereira Calças

Titulação:_______________________________________________________
_______________________________________________________________

Assinatura:_______________________________

1º Prof(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________

Assinatura:______________________________

2º Prof(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________
_______________________________________________________________

Assinatura:_______________________________
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A Deus;

Meus pais, Luis e Zulmira;

Meu irmão, Gustavo

In memorian Carlos Alberto Monticelli

Ana Carolina Moya Monticelli

Àqueles que transformaram cada minuto


em um instante único e irreproduzível; aos
amados pai, mãe e Lie que, - sem esperar
nada, fizeram tudo por minha felicidade e
meu aprendizado

Laura Maria Caldas


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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter feito de mim a pessoa que hoje sou.

A meus pais, pela educação que me deram.

A minha amiga Laura, que sempre esteve comigo em momentos bons e ruins.

A todas as pessoas de bom coração que sempre estiveram por perto.

E, sem dúvida, a todos os professores que contribuíram para minha formação.

Ana Carolina Moya Monticelli

Ao amado da minha alma, meu Senhor e Rei da minha vida, DEUS e ao meu
Salvador, louvado, adorado, meu Mestre, Jesus, por não terem-me
abandonado em nenhum instante e estarem sempre me direcionando ao
caminho de conquistas, capacitando-me, instruindo-me e propiciando-me
crescimento.

À minha preciosa, amada e abençoada família, Pai, Mãe e Lie, cujo apoio,
amor, paciência, recomendações foram essenciais; tornaram-se artistas para
que tudo desse certo e para que eu alcançasse o alvo.

À Tata, estrelinha que brilha em minha vida.

Às minhas companheiras e amigas, que, ao meu lado, viveram valiosos, felizes


e vibrantes momentos.

Aos capacitados, compreensivos e brilhantes professores.

A todos os que fizeram dessa jornada um sucesso.

Laura Maria Caldas


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Determinando tu algum negócio, ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus


caminhos.

Jó 22.28
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RESUMO

Em tempos onde o professor busca diferentes formas didáticas para tornar


significativo o assunto tratado e aguçar o interesse dos alunos torna-se
indispensável estar a par das mensagens contidas em simples movimentos
corporais dos alunos como aliadas no desenvolvimento de sábias estratégias
que o levarão à eficácia na regência de suas aulas. O presente trabalho almeja
demonstrar que o ser humano possui indiscutivelmente a necessidade de
comunicar-se e obviamente vê-se que a todo instante está-se a comunicar, não
necessariamente com o uso da oralidade, porém com posturas, gestos e
expressões corporais - o não verbal - que trazem a tona os sentimentos, ideias,
preconceitos, anseios enfim emoções, que estão armazenados dentro de cada
eu inconsciente. Os alunos indiciam com suas ações, informações de seu
íntimo, valendo-se que o interesse e desinteresse dos alunos pode ser advindo
de sentimentos e pensamentos é então que será analisado o eu completo do
aluno e conseguir-se-á visualizar a identidade do mesmo, todavia para se ter
uma leitura ampla e eficaz do imo do outro é preciso conhecer os conceitos
básicos que estarão a conduzir o educador a esta leitura ampla e significativa
desta modalidade formidável de leitura. O estudo permite ao docente a
visualização das eficazes maneiras de possuir uma boa postura, livre de más
interpretações e propiciadora de bons resultados, logo que mediante uma sala
de aula serão analisadas suas ações e reações, que podem determinar a boa
ou ruim relação aluno x professor, e então é fundamental a conscientização
sobre formas eficazes de se portar, de manter uma postura de equilíbrio, de tal
modo a não ser mal interpretado. Por fim, os conceitos apresentados e a
realidade apontada são indispensáveis a docência, como armas para quebra
de barreiras e para que a análise do aluno seja efetiva, coerente e eficaz.

Palavras-chave: expressão corporal, gestos, emoções, inconsciente, docência


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ABSTRACT

In times where the teacher looks for different forms didacticisms to turn
significant the subject treaty and to sharpen the students' interest to become
indispensable to be informed of the messages contained in the students' simple
corporal movements as allied in the development of wise persons strategies
that you/they will take him/it to the effectiveness in the regency of their classes.
The present work longs for to demonstrate that the human being possesses the
need indisputably to communicate and obviously he sees himself that every
minute is been to communicate, no necessarily with the use of the orality,
however with postures, gestures and corporal expressions - the no verbal - that
bring the surface the feelings, ideas, prejudices, longings, finally, emotions that
are stored inside of each me unconscious. The students accuse with their
actions, information of his/her intimate, being been worth that the interest and
the students' indifference can be happened of feelings and thoughts is then that
the will be analyzed me complete of the student and it will be gotten to visualize
the identity of the same, though to have a wide and effective reading of the
profundity of the another it is necessary to know the basic concepts that
you/they will be to drive the educator the this wide and significant reading of this
formidable modality of reading. The study allows to the teacher the visualization
in the effective ways of possessing a good posture, free from bad
interpretations and rapacity of good results, as soon as by a classroom their
actions and reactions will be analyzed, that can determine the good or bad
relationship student x teacher, and then it is fundamental the understanding on
effective forms of carrying, of maintaining a balance posture, in such way to not
to be badly interpreted. Finally, the presented concepts and the pointed reality
are indispensable the teaching, as weapons for break of barriers and so that the
student's analysis is effective, coherent and effective.

Word-key: corporal expression, gestures, emotions, unconscious, teaching


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................09

CAPÍTULO I - A IMPORTÂNCIA DESSE ESTUDO PARA OS


EDUCADORES.................................................................................................12

CAPÍTULO II - CONCEITOS INDISPENSÁVEIS PARA ENTENDER A


LINGUAGEM CORPORAL...............................................................................15

2.1 Conceitos básicos......................................................................................15

2.2 Gesto..........................................................................................................16

2.3 Os cinco sentidos.......................................................................................18

CAPÍTULO III - ENTENDENDO A LINGUAGEM CORPORAL.......................22

CAPÍTULO IV - AS HABILIDADES QUE DEVEM SER EXERCITADAS PELO


EDUCADOR......................................................................................................26

4.1 A prática de habilidades...............................................................................28

4.1.1 Os braços e as mãos................................................................................30

4.1.2 O tronco e a cabeça..................................................................................32

4.1.3 O Semblante.............................................................................................33

4.1.4 A Boca......................................................................................................34

4.1.5 A Importância do Sorriso..........................................................................34

4.1.6 A Comunicação Visual..............................................................................35

4.1.7 Como Olhar...............................................................................................37

4.1.8 O quadro negro.........................................................................................37

CONCLUSÃO....................................................................................................39
REFERÊNCIAS.................................................................................................41
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INTRODUÇÃO

Uma necessidade vital do ser humano é se comunicar. Por meio da


comunicação é que se criam laços, que se é aceito ou rejeitado, que se expõe
as ideias e pensamentos, em suma que se interage com as pessoas
resolvendo os contatos do dia a dia.
A linguagem do corpo, seja de qual forma expressa, desempenha o
papel de compartilhar o eu.
Todos os homens, entre suas múltiplas habilidades, possuem a de
percepção dos sentimentos, do íntimo do outro – alguns são mais hábeis a
essa leitura do que outros - sem a pronúncia de sequer uma palavra,
simplesmente através da impressionante leitura daquilo que o corpo fala.
A linguagem corporal é composta de todos os movimentos do corpo
humano, como a postura, a gesticulação, as expressões faciais.
Todos estão em constante processo de mudança, a cada momento, e
com a gesticulação não é diferente.
Uma sala de aula é um palco repleto das mais diversas expressões
corporais de anseios, insatisfações, enfim do que está guardado no íntimo,
sendo que nesse palco o protagonista alterna-se por inúmeras vezes, e cabe
ao professor ocupar seu lugar de educador consciente, que se preocupa em
observar seus alunos em um todo, e não simplesmente julgando-os por
frações.
Os desafios da educação crescem a cada dia, tornando indispensável a
assimilação de novas teorias que se ocupam em entender o outro, uma vez
que garantidamente podemos afirmar que a linguagem verbal não é completa
nas expressões do homem. Faz-se necessário que o professor conheça a
linguagem corporal, em contrapartida com a verbal. Ela sempre expressará
aquilo que muitas vezes não é dito por palavras, mostrando a realidade dos
sentimentos de cada qual.
O conhecimento desta modalidade de leitura do outro, é como uma
cortina que se abre mostrando a realidade do palco, até os mínimos detalhes,
onde saberemos que dependendo da história aquelas expressões se
enquadrarão em um determinado significado.
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Salienta-se que é necessário conhecer a teoria que se compromete com


essa formidável leitura, pois embasará a prática e o educador poderá provar e
ver os inúmeros benefícios que ganhará através do entender o outro: é essa
análise que informará sobre o íntimo e capacitará o professor a descobrir e
executar estratégias que proporcionem a quebra de barreiras para a boa
interação aluno-professor e consequentemente a execução de aulas melhores
e com efeito satisfatório.
Infere-se ainda o valor da postura adotada pelo professor no intercâmbio
com seus alunos e com a atmosfera da sala, pois da mesma maneira que ele
observa também é analisado e consequentemente suas expressões como em
qualquer comunicação transmitem uma mensagem que terá uma reação,
sendo essa embasada na mensagem transmitida.
O posicionamento do professor implica, e muito, em como os alunos
reagirão às suas propostas; lembrando que as ações e reações do educador
demonstrarão muito de seus pensamentos, vontades, da confiança em si e de
seu olhar - se de inferioridade, igualdade ou superioridade – ante a sala. O que
se acaba de dizer pode determinar um sentimento no educando que não o
pretendido pelo professor, criando barreiras de aprendizagem no aluno e a
inaceitação do professor, devido à maneira com que o professor conduz suas
aulas.
A realidade é que a comunicação não-verbal denuncia o que se é, o
nível social, a realidade em que se vive.
Todo movimento é como uma palavra cheia de significados que se
encaixarão, em um determinado contexto, ligando-se a outras que em seu
conjunto darão uma leitura do próximo – o educando.
O que admitimos é que os elementos não-verbais em quaisquer tipos
de comunicação social são responsáveis pela maior parte das mensagens
enviadas e recebidas.
O comportamento não-verbal pode perfeitamente repetir, contradizer,
substituir, complementar, acentuar ou regular o comportamento verbal .
Convém lembrar, aqui, que os signos não-verbais não somente podem fornecer
informações relativas às características relativas ao sexo e à idade, a aspectos
da personalidade do grupo social e das atitudes dos interagentes, como
também mostrar as reações às falas do outro. O diálogo é estabelecido pela
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maneira como os interagentes coordenam suas ações, podendo-se saber, por


esse movimento regular dos momentos de falar se está havendo um tipo de
relacionamento interativo.
Assim, a análise dos elementos verbais e não-verbais no discurso de
sala de aula nos permite entender que a conjunção desses elementos auxilia
na interpretação do tópico discursivo desenvolvido pelo professor, que, nesse
ambiente de estudo, procura interagir com os seus interlocutores (alunos).
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1. A IMPORTÂNCIA DESSE ESTUDO PARA OS EDUCADORES

Vê-se que a educação tem vivido dias de desafios e dificuldades onde


os professores tem enfrentado diversos contratempos para tornar suas aulas
eficientes e interessantes aos alunos. O que se pode analisar é que por vezes
algumas habilidades humanas não são consideradas, sendo que as mesmas
podem transformar diversas situações e servirem de meio para o bom convívio
em sala de aula e o principal, o bom desenvolvimento de aulas.
Por vezes a leitura de gestos, posturas e ações servirá de termômetro
aos educadores, que poderão conhecer a totalidade dos pensamentos,
sentimentos e contradições de seus educandos, discernindo esta forma de
linguagem e comunicação, dentro de um contexto.
Não se pode engessar uma leitura corporal; entretanto deve-se analisar
a situação vivida com as expressões corporais. Antes de enfocar a linguagem
corporal faz-se necessário conhecer os conceitos de linguagem e
comunicação.
Desde muito pequeno está-se envolto pelo universo da comunicação e
consequentemente pela linguagem. Entretanto qual seria a conceituação de
linguagem? Segundo Silva e Carvalho (1975, p. 11): “Geralmente dizem que é
a capacidade que o homem tem de expressar-se por palavras”, porém sabe-se
que a linguagem não é expressa somente por palavras mas também por
gestos, atitudes e pela maneira com que as pessoas se portam em
determinadas situações.
Ressalta-se ainda que há uma ligação robusta entre linguagem e
comunicação, Rector e Trinta( 1999, p.8) afirmam que “comunicar é manifestar
uma presença na esfera da vida social. É estar no mundo junto com os outros.”
A linguagem possui inúmeras funções e importância vital em nosso meio
social, não interessando qual é o instrumento usado – não verbal (gestos) ou
verbal (fala e escrita).
Todos os humanos comunicam-se o tempo todo e, na maioria das
vezes, em silêncio e até mesmo com gestos e reações inconscientes.
Apegando-se as funções e a importância da linguagem podemos dizer
que ela se atem em representar a realidade, agenciar a cultura e possibilitar,
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como função principal, a comunicação entre os seres humanos, inferindo o


crescimento da humanidade, o progresso. Sendo assim, é um dos fenômenos
mais importantes da vida humana.
Sabe-se que o universo escolar está completamente envolto e
comprometido com a linguagem, desde o momento em que alunos e
professores cumprimentam-se no início do período até o término de mais um
dia de aula, mostrando que a linguagem e sua compreensão são efetivamente
importantes para o bom desempenho de um dia letivo.
A comunicação não tem sua importância restringida apenas à sua
utilização no processo de ensino-aprendizagem, ela engloba o adquirir
conhecimento e sabedoria, possibilita a integração, a socialização, a conquista
de habilidades sociais e de estudo e apresenta os indícios necessários a cada
individuo para que os homens se agrupem conforme semelhanças e ajustem-
se.
Segundo Silva e Carvalho ( 1975, p. 19) vê-se confirmado que:

É necessário que o professor se lembre de que a comunicação não


se faz somente por signos verbais ou escritos, ela também se faz por
comportamentos e atitudes. [...] o professor deve estar alerta ao
comportamento das crianças, porque ele revela interesses e
desinteresses, compreensão e indecisão, aceitação ou rejeição.

Com efeito vê-se que a percepção de atitudes, reações e gestos é tão


importante quanto a língua falada, pois é a partir de expressões corporais que
o professor irá constatar qual é o nível de interesse dos alunos para
determinadas atividades, podendo assim visualizar as situações que despertam
o envolvimento e o compromisso dos alunos com o assunto que está sendo
trabalhado.
O professor, através das atividades de sua classe, verá por vezes ideias,
preconceitos, reações que demonstram o grau de aceitação do assunto, do
próprio professor e da condução das aulas.
Conforme o que diz Vayer e Toulouse (1985, p. 28) “ Sendo o corpo, ao
mesmo tempo, modo e meio de integração do indivíduo na realidade do
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mundo, ele é necessariamente carregado de significado.” Desta maneira


constata-se que não existe movimento inexpressível e incomunicável, cada
articulação e movimento remete o ser humano a uma análise de sua
significação. Toda postura, atitude, gesto e olhar traz embutido em si anseios,
impulsos, emoções e sentimentos (por vezes inconscientes) da pessoa que
está exposta a uma determinada situação e realidade.
As expressões corporais formam um texto não-verbal, “uma unidade de
comunicação intensa, clara, simples” (WEIL e TOMPAKOW, 1975, p. 7)
possibilitando a leitura da situação em sua totalidade, visto que comunicar é
influir a sensibilidade de alguém querendo convencê-lo, adverti-lo, contrariá-lo,
uma vez que ao estar na presença de um outro individuo o corpo produz
intenções, emoções, ordens e ideias.
Afirma Rector e Trinta (1999, p.83) que “o corpo fala; e usando-o e
observando o uso que os outros fazem dele, todo homem pode entender seu
próximo e comunicar-se com ele.”
Os gestos das pessoas denunciam sua classe social, seus costumes,
seu nível de instrução, sua cultura; ligados ou não a fala.
A partir do momento em que os educadores conseguirem entender seus
alunos, com seus anseios, vontades, pensamentos, observando que tanto
como a fala ou mesmo de forma mais clara que ela, os gestos mostram
verdades, certifica-se que certamente grandes barreiras de comunicação serão
quebradas e o professor terá um leque de opções, para desenvolver suas aulas
com sucesso.
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2. CONCEITOS INDISPENSÁVEIS PARA ENTENDER A LINGUAGEM


CORPORAL

2.1 Conceitos básicos

Para que se possa entender a linguagem corporal é imprescindível


conhecer a cinésica que conforme conceituada por Guiraud (2001, p.59) “ é o
estudo dos gestos e mímicas utilizados como signos de comunicação.”
Em cada movimento fala-se com o corpo, transmitindo e captando
signos que representam ideias e informações para alguém. Como toda
mensagem tem um emissor, receptor, canal de comunicação, referente e
código, a linguagem corporal também possui todo esse esquema de
comunicação.
Ao cruzar as pernas, encurvar-se para frente ou para trás, bater os
dedos sobre a mesa, o educando emite uma mensagem, que no caso da sala
de aula será captada pelo receptor que é o professor. Cabe, então, ao
educador entender a informação transmitida pelo canal, que são os gestos, o
referente, que é situação apresentada e o código, ou seja, o sistema de sinais
empregado no envio da mensagem (gestos, posturas, reações).
Não é coerente interpretar os movimentos corporais de maneira
categórica, é necessário considerar o contexto em que eles são acionados, e
averiguar os signos, seus significados e as informações transmitidas pelo
mesmo. Observam Rector e Trinta (1999, p.15) que “é própria dos signos a
função de representar, segundo um grau maior ou menor de
convencionalidade.” Os gestos simbolizam emoções, sentimentos, intenções
ou atitudes passando a ser então um signo (não-verbal).
Vários gestos em princípio tinham um significado, e depois mais tarde
passaram a ser realizados com significados pouco ou muito distintos do
original.
A fim de que a interpretação de gestos seja completa e real, enquanto
signo (não-verbal), deve-se levar em conta
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a) a estrutura ou base física e fisiológica sobre a qual se


assenta
b) a função ou valia social do gesto enquanto signo cultural
c) a referência ou relação do gesto a um conjunto de hábitos
mentais, ideias, maneiras de ver etc. no qual se inscreve e
adquire um valor. (RECTOR e TRINTA, 1999, p.17).

Ou seja, é importante que o educador leve em conta, para a análise


gestual, a situação, a significação mais comum dada ao gesto dentro da cultura
local e o caráter do educando, junto com suas emoções e ideias.
Visto quais são os critérios usados para “ler” os gestos, estabelece-se
que o gesto é importantíssimo para a comunicação do ser humano, pois ele é
como afirmam Rector e Trinta (1999, p. 18) “uma forma de manifestação
(signo-veículo) a alguma coisa (coisa-objeto) e provocam uma ação (signo-
interpretante).”
Aqui se vê que o educando manifestará sua reação a determinada
situação em busca de expressar alguma coisa ao educador, que terá que
reagir, levando em conta os critérios e definições descritas acima.

2.2 Gesto

É importante conhecer neste momento a definição de gesto. A


linguagem gestual está tão presente em nossas vidas quanto a língua falada,
afirmam Rector e Trinta (1999, p.23) “ „gesto‟ provém do latim gestus ( „
maneira de proceder‟, „atitude‟, „movimento expressivo‟) que é forma nominal
de gerere („ter consigo‟, „executar‟, „produzir‟).”
A partir dessa definição pode-se dizer que o gesto é uma ação do corpo
que manifesta visivelmente um significado expressivo de ordem consciente ou
inconsciente.
Os gestos ainda são distribuídos em cinco categorias conforme
exemplificam Rector e Trinta (1999, pg.61) “os emblemas , os ilustradores , os
reguladores, as manifestações afetivas e os adaptadores”.
Os emblemas são aqueles advindos de cultura de um país e são
aprendidos.
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Os ilustradores são também aprendidos e procedem-se juntamente com


a fala descrevendo claramente os altos e baixos de uma situação,
descrevendo-a.
Os reguladores são gestos não-verbais, e trabalham com a continuação
de uma conversa dando ao emissor da mensagem pistas para que desenvolva
seu raciocínio e apresente sua proposta. Eles variam em cada classe social e
também conforme a pontuação da conversa.
As manifestações afetivas são expressões faciais, ocorridas tanto
consciente como inconscientemente, mostrando a receptividade do indivíduo a
determinado assunto, situação, coisa ou pessoa.
Os adaptadores são objetos manipulados quando não se consegue
verbalizar a ideia ou não se tem a quem emiti-la. Eles são divididos em auto-
adaptadores e alter-adaptadores, Rector e Trinta (1999, p. 62) discriminam
assim “auto-adaptadores [...] unha que roemos, o cabelo que manipulamos em
forma de cacho etc. e os alter-adaptadores também chamados de adaptadores
objetuais, quando em lugar de nosso corpo, recorremos ao lápis, ao cigarro ou
a outros objetos [...].”
Existe até a possibilidade de observar um dicionário gestual para os
gestos emblemas, porém como na língua falada os gestos alteram-se, a não
ser aqueles que são aceitos e usados por um grande número de pessoas.
Não obstante, nota-se que os gestos também têm seus significados
alterados quando variam sua “intensidade, velocidade, ênfase em sua
realização e sua amplitude, transmitindo múltiplas mensagens.”(RECTOR e
TRINTA, 1999, p. 63)
Em diferentes situações o ser humano adota posturas diversificadas, ou
seja, mantém seu corpo em determinada posição e com diversos movimentos.
Ressalta-se, inclusive, que o que mais traz variações a interpretação dos
movimentos corporais e postura é a cultura.
No convívio de uma sala de aula, os alunos relacionam-se de maneira a
revelar intenções e anseios para com o outro, e assim o corpo ou se „abre‟ ou
„se fecha‟ para as pessoas à sua volta. Weil e Tompakow (1975, p. 70)
sustentam que “Quando em grupo, nossa linguagem corporal anseia por
afirmar o nosso eu (...) quem está num grupo, sempre influencia o
comportamento deste e, por sua vez, também é por ele influenciado.” Nota-se
18

que em uma roda de amigos onde um outro chega para conversar, aqueles que
não são a favor desse diálogo, como que combinados, vão contraindo-se e
formando um círculo, e, mesmo que vagarosamente, vão excluindo o não
integrante do grupo até expeli-lo. Estas reações são inconscientes e trazem a
tona conceitos culturais, preconceitos e pensamentos.
Do mesmo modo, os professores podem analisar o grau de
receptividade dos alunos para consigo, procurando adentrar rodas de conversa
e observar qual postura será adotada pelos presentes.
A postura também se serve dos cinco sentidos humanos, pois cada um
deles se completa em um todo na transmissão de informações e na interação
aluno-professor.
Ao deparar com uma situação vivida automaticamente recorrer-se-á ao
passado; entretanto, quando se trata de algo ainda não vivenciado ou visto, a
curiosidade será despertada. A todo o momento percebe-se o que está ao
redor e para que a percepção dos gestos seja completa é necessário conhecer
o todo desta leitura.

2.3 Os cinco sentidos

Vale lembrar mais uma vez que “conforme o contexto, a percepção se


modifica [...]”(RECTOR e TRINTA, 1999, p.34) e os cinco sentidos : a visão, a
audição, o paladar, o olfato e o tato são instrumentos que o homem possui,
aliados com outros dois fatores : tempo e espaço.
Para Rector e Trinta (1999, p. 35)

O ser humano consegue perceber o mundo, recortá-lo


segundo um modelo, absorvê-lo, e transformá-lo em cultura
através de seu próprio corpo e dos meios de que este dispõe
para efetuar tal função. Estes instrumentos privilegiados são os
cinco sentidos: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato.

Começando pela visão, observa-se que em uma conversa os olhos


movem-se sem parar, muitas vezes lendo os gestos do outro; outras notando
como a pessoa está se portando, sua vestimenta; fixando olho no olho, com a
19

expectativa de observar a sinceridade daquilo que se fala, “paquerando”,


demonstrando arrogância, como sinal de ameaça. Dependendo da situação, o
não-olhar também traz impressões como a submissão, a recusa, a timidez,
alterações que são determinadas pelo assunto tratado.
Weil e Tompakow (1975, p. 47) indagam:

Quem não é capaz de fazer uma lista mais ou menos nestes


termos? Sobrancelhas abaixadas: concentração, reflexão,
seriedade; Sobrancelhas levantadas: surpresa, espanto,
alegria; Olhos brilhantes: entusiasmo, alegria; Olhos baços:
desânimo, tristeza.

A região dos olhos, como toda a face, são infinitamente mais analisadas
durante uma conversa que o restante do corpo, capacitando o interlocutor e
receptor da mensagem receberem várias informações, por meio de expressões
mais conhecidas de todos.
A audição tem laços estreitos com a fala. É a partir daquilo que se ouve
que então praticar-se-á uma reação. O ouvir tem a finalidade de receber as
informações e captar a forma com que são transmitidas: a altura, a entonação,
e a duração da voz. Salienta-se que o ser humano tem tanto a capacidade de
ouvir como a de escutar, como apresentam Rector e Trinta (1999,p. 40) “
Escutar é o ato voluntário, porque se refere a uma aquisição cultural. Já ouvir é
a princípio, um fato natural, em que o ouvido percebe e localiza fontes de
emissão sonora.”, é por este motivo que os educadores precisam estar atentos
aos dizeres dos alunos; eles podem revelar muitas coisas importantes ao
professor que conhecerá a realidade dos educandos e adequará suas aulas, de
modo a suprir suas necessidades.
Quanto ao paladar, é também um meio de comunicação não-verbal, por
onde se conhecem os gostos de determinada pessoa, suas preferências e
remete o conhecimento de culturas e dos “sabores que dão gosto ao
mundo.”(RECTOR e TRINTA, 1999, p. 46)
O conhecimento de mundo em uma primeira infância dá-se através do
tato, e com o crescimento já não se faz o seu uso com tanta freqüência.
Todavia, a sociedade em que se vive tem regras e tabus quanto ao uso das
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expressões táteis, além do que demonstrações táteis aparecem em sentido


figurado na fala, como em expressões “dar um toque” e outras. O tato traz o
acesso à intimidade do outro. Na cultura brasileira o beijo é uma expressão tátil
muito comum, cheia de significados e a sua ausência também traz
interpretações diversificadas. Ele transmite ideia de amor, carinho, amizade e
respeito, enquanto sua ausência mostra que pessoas podem não estar se
relacionando bem.
O tato possibilita conhecer, tocar e sentir aquilo que está ao redor,
proporciona àquele que toca como àquele que é tocado uma experiência com
sensações conseqüentes ao contexto e realidade em que acontecem.
Já “a “linguagem do cheiro”, é uma forma de comunicação constituída
por sinais químicos, que, uma vez emitidos, provocam comportamentos
variados por parte de um eventual receptor.”(RECTOR e TRINTA, 1999, p. 46)
O uso de um perfume denuncia a higiene pessoal, o nível sócio-
econômico da pessoa, demonstra o desejo de ser aceito por um grupo ou por
determinada pessoa. Assim como a audição não pode ser evitada, também
com o olfato ocorre igualmente e mesmo que se tampe o nariz para não sentir
tal fedor não se pode inibir o olfato, pois ao tampar o nariz conclui-se que esse
mecanismo humano já teria sido ativado e, por isso, ocorreu a ação de tapar o
nariz.
A raça humana, com o passar dos anos, colocou esse sentido em
segundo plano; camuflando seu cheiro com produtos cosméticos. Assim não
cheiram nem a si mesmos, nem aos outros e desprezam as interpretações
trazidas pela leitura olfativa.
É certo dizer que o olfato é um sentido de difícil análise e entendimento.
No entanto aquele que se preocupa em usar um “cheiroso” perfume sabe muito
bem quais serão os efeitos causados por esta escolha.
Por conseguinte averigua-se que cada um dos cinco sentidos traz em si
uma linguagem silenciosa que precisa ser captada pelo educador. Todos os
alunos trazem embutidos em sua fala, expressões táteis e “ de cheiro”
revelando muito de si e de seus anseios, e cabe ao professor usar seus
sentidos para captar a essência da realidade de seus alunos.
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O rosto em seu conjunto, aliado com nossos sentidos, estampa emoções


e sentimentos e logo que os anos passam a face transforma-se e amolda-se à
personalidade de cada qual, ficando ainda mais autêntica.
Em vista disso os professores devem estar atentos às suas reações,
pois seus alunos estarão conhecendo suas fraquezas, gostos e desgostos.
Através de sua expressão, o educador será “lido” pelos educandos, e portanto
deve preocupar-se com o que está transmitindo através de seus sentidos e
expressões faciais. Aquilo que um professor fala tem muito peso, no entanto
aquilo que ele expressa com suas habilidades táteis, olhares e postura, do
mesmo modo, representa sua posição diante dos alunos, seus anseios e
vontades.
Um âmbito cordial e respeitoso deve ser criado pelo educador a
fim de fazer com que o aluno se sinta ajustado e não inseguro; quando se
criam boas relações a comunicação acontece beneficamente como elo de
conhecimento do imo. O professor ainda é um espelho para muitos que estarão
enlaçados por suas atitudes percebendo seus preconceitos, reações, ideias.
Como afirma Silva e Carvalho (1975, p. 25) “Sentimentos de insegurança,
dificuldade de pensar reflexiva e criadoramente, auto-rejeição e inaceitação do
professor podem ser causados, inconscientemente, pela maneira com que o
professor conduz a classe.”
22

3. ENTENDENDO A LINGUAGEM CORPORAL

Está-se a todo instante em constante interação com o outro, porém nem


sempre a totalidade do outro é entendida, uma vez que afinal falta algo que se
encaixe como uma peça de um quebra-cabeça e então seja cabível uma leitura
ampla e significativa do que o outro diz não só por palavras, mas com todo o
seu “eu”, que diversas vezes pode estar até mesmo contrário ao que se fala,
por isso é totalmente admissível dizer que a leitura daquilo que o corpo fala é
esclarecedora, é como um colírio que limpa toda sujeira e torna límpida a visão,
é isso que afirmam Weil e Tompakow (1975, p. 15)

Alguém à sua frente cruza ou descruza os braços, muda a


posição do pé esquerdo ou vira as palmas das mãos para
cima. Tudo isso são gestos inconscientes e que, por isso
mesmo, se relacionam com o que se passa no íntimo das
pessoas.

É muito difícil, às vezes, entender o outro por não conhecer informações


que estão armazenadas em seu íntimo, e são as subtis ou exasperadas
mudanças no sentar, no posicionar as pernas, no mexer as mãos e todo o
corpo que explicitam e ilustram aquilo que está no inconsciente de cada ser
humano, renomeia-se aqui que a fala do corpo atenta-se ao “<<aqui e agora>>,
e o que se diz pode durar apenas um instante.”(1975, p. 134)
É evidente que para ler as expressões corporais é necessário prática,
aprimorar a leitura; ninguém aprende qualquer coisa de uma só vez. Conforme
analisa-se o comportamento dos alunos, far-se-á presente a lembrança dos
conceitos e das ilustrações já obtidas e portanto tornar-se-á, cada nova leitura,
mais hábil.
Para conseguir conceitos confiáveis e plausíveis, ao aprendizado desta
nova modalidade de leitura e efetivamente aplicá-los de maneira sagaz
23

observa-se o que afirmam Weil e Tompakow (1975, p. 27) ao falar de uma


antiga tradição

(...) podemos comparar o corpo humano a uma esfinge (...)


corpo de boi, tórax de leão, asas de águia e cabeça de homem
(...) Boi, abdômen: vida instintiva e vegetativa; Leão, tórax: vida
emocional; Águia, cabeça: vida mental (intelectual e espiritual);
Homem, conjunto: consciência e domínio dos três
inconscientes anteriores.

A partir dessa informação certifica-se que cada parte do nosso corpo


possui uma pendência: o boi preocupa-se com aquilo que é fundamental à
sobrevivência como alimentação; já o leão está estreitamente ligado às
emoções, aos sentimentos; e a águia possui relação estável com o raciocínio,
com o intelecto.
O aluno que simplesmente se encontra dia após dia cabisbaixo, com o
tórax côncavo demonstra nitidamente timidez ou até inferioridade; aquele que
permanece com uma postura aprumada apresenta o quanto confia em si, o
quanto é seguro; e o outro que está diariamente com uma postura regular
mostra seu equilíbrio; são em tais casos que a perspicácia do educador faz-se
essencial ao notar os alunos.
Examina-se que repetidamente o boi, o leão e a águia podem encontrar-
se contrários, indicando que muitas vezes mesmo que algo seja almejado pelo
boi e a águia pode ser rejeitado educadamente pelo leão e vice-versa.
Todo instante, ao redor, as atitudes das pessoas alternam-se, revelando
o nível de intimidade e segurança em suas relações humanas.
Sugestionam Weil e Tompakow (1975, p. 64) que se deve “analisar cada
pessoa como se ela fosse uma palavra e quiséssemos saber de que letras ela
é composta.”
Por isso, é propício praticar a leitura do que o corpo fala, com a
consciência de que como no estudo de uma nova língua, haverá erros e
acertos que aprimorarão a capacidade da análise e também que esta
capacidade deve ser apurada a fim de conhecer o aluno e detectar harmonia
ou desarmonia no todo das expressões corporais.
24

Suscita-se aqui novamente a importância de considerar o contexto da


situação que será lida e interpretada, um mesmo movimento em dado
momento terá um significado imensamente oposto a uma outra realidade que é
vivida, “não basta o „que‟, há de se ver o „como‟, o „quando‟, o „onde‟, o
„porquê‟...”. Weil e Tompakow ( 1975, p. 116)
Sintetiza-se aqui a informação de que é indispensável que o professor
esteja atento à discrição de seu comportamento de análise, pois cada humano
discrimina seu espaço, ora se quer estar perto de determinado objeto, coisa ou
pessoa, ora se quer distanciar dos mesmos, e geralmente aquele que é
observado, uma vez que percebe, executará mudanças propositais, sentindo-
se como tendo seu espaço invadido, e então perder-se-á a possibilidade de
uma eficiente leitura.
A linguagem verbal está longe de proporcionar o entendimento completo
entre os homens.
Estimam Weil e Tompakow (1975, p. 78) que

o homem é programado para discernir, mas o hábito de atentar


para as ferramentas-símbolos, chamadas palavras, afastou-o
da percepção consciente total imediata do << aqui e agora>>.

Com isso muitas vezes acabam-se deterioradas as leituras realizadas


das mensagens transmitidas pelo outro, quando elas acontecem e desta forma
se perde então muito por não dar o verdadeiro valor merecido desta
modalidade de leitura, daquilo que o corpo fala, e assim cada vez mais torna-se
fragmentada a análise do outro e seu conhecimento, pois para conhecer o todo
é imprescindível contrastar esse formidável instrumento que se possui, como
auxílio na interação nas salas de aula e no desempenho de aulas
extremamente eficazes onde educadores considerem o educando em sua
plenitude e totalidade. Onde esse instrumento será eficiente para obter
“comunicações claras, livres de bloqueios e distorções.” (WEIL e TOMPAKOW
1975, p. 190)
25

4. AS HABILIDADES QUE DEVEM SER EXERCITADAS PELO EDUCADOR

“O professor deve usar gestos para enfatizar a comunicação,


reforçando-a. É importante lembrar-se de utilizar os gestos para reforçar a
comunicação e evitar mensagens duplas.” Isso é o que afirma Nelson Valente
(2009), ao falar das habilidades do professor, além do que os gestos e demais
expressões corporais do mestre criam a necessária empatia numa sala de
aula.
Não há como discordar dessa afirmação. Afinal, a expressão corporal é
a demonstração daquilo que pensamos e sentimos. A linguagem corporal
corresponde a todos os movimentos gestuais e de postura que fazem com que
a comunicação seja mais efetiva. A gesticulação foi a primeira forma de
comunicação. Com o aparecimento da palavra falada os gestos foram
tornando-se secundários, contudo eles constituem o complemento da
expressão, devendo ser coerentes com o conteúdo da mensagem.
Na verdade, pode-se considerar a linguagem corporal como uma
categoria da comunicação não verbal, que é mais ampla, pois engloba as
modificações que ocorrem em nossa voz e que influenciam as mensagens que
transmitimos.
A expressão corporal é fortemente ligada ao psicológico e traços
comportamentais são auxiliares. Geralmente é utilizada para auxiliar na
comunicação verbal, porém, deve-se tomar cuidado, pois muitas vezes a boca
diz uma coisa, mas o corpo fala outra completamente diferente.
Retoma-se que as pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os
movimentos faciais e corporais, os gestos, os olhares, a entoação são também
importantes: são os elementos não verbais da comunicação.
Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito
de uma cultura para outra e de época para época.
A comunicação verbal quase sempre é plenamente voluntária; o
comportamento não-verbal pode ser uma reação involuntária ou um ato
comunicativo propositado.
26

Alguns psicólogos afirmam que os sinais não-verbais têm as funções


específicas de regular e encadear as interações sociais e de expressar
emoções e atitudes interpessoais.
Serão analisados, a seguir, alguns deles.
a) expressão facial: não é fácil avaliar as emoções de alguém apenas a partir
da sua expressão fisionômica. Por vezes os rostos transmitem
espontaneamente os sentimentos, mas muitas pessoas tentam inibir a
expressão emocional.
b) movimento dos olhos: desempenha um papel muito importante na
comunicação. Um olhar fixo pode ser entendido como prova de interesse, mas
noutro contesto pode significar ameaça, provocação.
Desviar os olhos quando o emissor fala é uma atitude que tanto pode
transmitir a ideia de submissão como a de desinteresse.
c) movimentos da cabeça: tendem a reforçar e sincronizar a emissão de
mensagens.
d) postura e movimentos do corpo: os movimentos corporais podem fornecer
pistas mais seguras do que a expressão facial para se detectar determinados
estados emocionais. Por exemplo: inferiores hierárquicos adaptam posturas
atenciosas e mais rígidas do que os seus superiores, que tendem a mostrar-se
descontraídos.
e) comportamentos não-verbais da voz: a entoação (qualidade, velocidade e
ritmo da voz) revelam-se importante no processo de comunicação. Uma voz
calma geralmente transmite mensagens mais claras do que uma voz agitada.
f) a aparência: a aparência de uma pessoa reflete normalmente o tipo de
imagem que ela gostaria de passar. Através do vestuário, penteado,
maquiagem, apetrechos pessoais, postura, gestos, modo de falar, as pessoas
criam uma projeção de como são e de como gostariam de ser tratadas. As
relações interpessoais serão menos tensas se a pessoa fornecer aos outros a
sua projeção particular e se os outros respeitarem essa projeção. Na interação
pessoal, tanto os elementos verbais como os não-verbais são importantes para
que o processo de comunicação seja eficiente.
O cuidado com a postura deve ocorrer antes mesmo de você chegar a
frente de uma sala de aula. Suas atitudes, a maneira de sentar-se, de olhar ou
analisar o ambiente, de cruzar ou descruzar as pernas, o tamborilar dos dedos,
27

enfim tudo o que fizer poderá ser notado. Cabe ao educador, portanto, que irá
se apresentar, comportar-se de modo a passar uma imagem positiva.

4.1 A prática de habilidades

Conforme afirma Polito (2000, p.17)

Ao caminhar não demonstre um comportamento semelhante ao


de alguém que se dirige a um cadafalso. Demonstre
determinação, segurança no andar e certeza na postura. [...] as
pernas dão sustentação ao corpo, dependendo do
posicionamento, pode tornar a postura positiva na sua
comunicação ou, ao contrário, mostra um fator desfavorável.
Assim, tudo que for colocado quanto ao posicionamento e
movimentação das pernas será muito simples, porque serão
conceitos extraídos da própria natureza, ser simples é o melhor
modo de agir, e o que é natural é sempre mais fácil de ser
compreendido (...)os erros mais comuns em relação as pernas
são:
1- Movimentação desordenada
2- Apoio incorreto
3- Cruzamento dos pés em forma de "x"
4- Animal enjaulado
5- A gangorra.

1- Movimentação Desordenada
Um dos erros mais graves na hora de se apresentar é o da postura das
pernas. Certos professores, oradores entre outros, por nervosismo ou por falta
de consciência do que fazem, ficam movimentando as pernas para a frente,
para trás e para os lados compulsiva e desordenadamente, impedindo que o
mesmo se firme em um posicionamento correto. Além disso, existe também
aqueles que batem os pés no chão a cada nova frase, quase que uma
marcação ritmada.
28

2- Apoio incorreto
Um erro que para muitos que se apresentam e que passam
despercebidos é o de apoiar-se jogando o peso totalmente sobre a perna
esquerda ou sobre a perna direita: essa atitude retira toda elegância do
posicionamento. Outra modo de deselegante é abrir demasiadamente as
pernas, como se fossem um compasso. Incorreto também é ficar por um tempo
prolongado com os pés juntos esse posicionamento retira o equilíbrio é impede
a mobilidade.

3- Cruzamento dos pés em forma de "x"


Esse tipo de posicionamento além de ser deselegante, passa aos
ouvintes que não está nem um pouco à vontade para transmitir a mensagem.
Este fato é bastante comum quando o docente pode apoiar-se com as mãos
sobre uma mesa, cadeira, pedestal, etc. Isso acontece com mais frequência
quando está sentado. Nessa circunstância cruza os pés e às vezes os encolhe
embaixo da cadeira.

4- Animal enjaulado
É aquele que fala andando de um lado para o outro, parecendo um
animal enjaulado se movimentando de uma ponta a outra do seu cativeiro. É
uma falha mais frequente entre os professores que vivem a caminhar da porta
da sala de aula até à janela, às vezes sem olhar para os alunos, e alguns
desses alunos, às vezes desinteressados da aula, por falta de comunicação do
mestre, passam a contar quantos passos ele dará, quantos quilômetros ira
percorrer, enfim os alunos farão tudo menos prestar atenção à aula.
Para Polito (2000, p.28) “Já ouvimos a história de muitos estudantes – „O
professor conhece bem a matéria, mas não sabe ensinar‟."
Isso realmente pode sim acontecer e se deve ao fato de que o defeito
seja da comunicação como um todo; talvez se o professor andasse menos,
provavelmente se concentraria e ensinaria melhor.

5- A gangorra
Neste tipo de movimentação das pernas o corpo parece uma gangorra.
Ele apóia todo o corpo nos calcanhares, levantando a ponta dos pés, e em
29

seguida inclina-se lentamente para a frente erguendo os calcanhares e


apoiando-se totalmente sobre a ponta dos pés, e assim fica o tempo todo neste
vaivém sem propósito. Este movimento além de tirar a concentração da própria
pessoa, que não se fixa no que está dizendo ou lendo, deixa quem está
tentando prestar atenção totalmente desconcentrado e ligado naquilo que os
pés estão fazendo.
Depois de verificar quais são os erros mais comuns apresentados pelo
posicionamento e movimentação das pernas, é fácil deduzir qual deverá ser a
atitude correta. Ficar de frente para os ouvintes inicialmente é a melhor forma,
posicionando-se sobre as duas pernas, possibilitando bom equilíbrio ao corpo.
Para evitar o cansaço provocado por essa postura num tempo prolongado,
pode-se jogar o peso do corpo ora sobre uma perna, ora sobre outra. Desse
modo é possível falar bastante tempo evitando a mudança da postura e sem se
cansar.

4.1.1Os braços e as mãos

"Determinados oradores, quando experimentam as primeiras


apresentações tem a impressão de que principalmente as
mãos aparecem, quando estão diante do público, e vão
tomando corpo e aumentando de volume até o instante em que
começam a prejudicar..." (POLITO, 2000, p. 41)

Quanto às mãos e os braços é necessário tomar um cuidado maior e


deve ter a preocupação de agir com a naturalidade do gesto.
Segundo Polito (2000, p. 42) os erros mais comuns em relação às mãos
e os braços são:

- Mãos atrás das costas


- Mãos nos bolsos
- Braços cruzados
- Apoiar-se sobre a mesa, a cadeira, etc.
- Movimentos alheios
30

Polito (2000, p. 42) afirma: " ...os defeitos mais graves na utilização dos
gestos: primeiro, o excesso de gesticulação; segundo, a sua falta..."
O orador que permanece imóvel enquanto fala não conduz as
informações aos ouvintes como deveria. Já o orador que se apresenta com
excesso de gesticulação dificilmente conquistará o público, podendo até cansar
a ele mesmo e aos outros.

- Mãos atrás das costas


Um erro comum que ocorre é falar constantemente com as mãos
colocadas atrás das costas, causando a ausência de gestos. As mãos
colocadas atrás das costas por rápido período, com naturalidade, já não passa
a ser um erro e pode até servir de descanso.

- Mãos no bolso
Falar constantemente com as mãos no bolso é uma falha frequente .
Além de ser uma atitude deselegante, é prejudicial e falam como se elas não
existissem. O problema passar ser mais grave quando as mãos criam vida
dentro do bolso e começa a balançar causando até risos nos ouvintes. A
primeira impressão que dá aquele que fala com as mãos nos bolsos é que não
está nem um pouco à vontade. Demonstra querer fugir e esconder-se. O
recurso só será positivo se as mãos permanecerem nos bolsos por curto
período e sempre com naturalidade.

- Braços cruzados
Os braços cruzados indicam uma atitude defensiva . O orador não pode
demonstrar que algo o intimida e o coloca numa posição de defesa. Afinal,
todos esperam uma apresentação franca e desimpedida de obstáculos, e
passam a ter a impressão de que o orador não está seguro e convicto da sua
mensagem e por isso se esconde. Esse posicionamento é quase sempre
incorreto para falar, mas por outro lado, é uma postura que pode ser utilizada
como descanso ao longo da apresentação, desde que não seja por um tempo
prolongado e seja natural. Porém, é aconselhável usar essa postura quando
deseja demonstrar a ideia de desafio ou de espera, cruzar os braços indica
claramente essa intenção.
31

- Apoiar-se sobre a mesa, a cadeira, etc.


Esse tipo de postura limita os movimentos e quase sempre determina
um comportamento tímido e inseguro. É recomendado apenas que se apóie no
início, porque é preferível esse "porto seguro" a ficar com as mãos trêmulas e
gestos descontrolados. Pode ser uma posição expressiva também para indicar
desafio, ponto de vista firmado, expectativa, etc.
Assim como nos casos já comentados, nada o impede de usar um
desses apoios como posição de repouso momentâneo, naturalmente
aproveitada.

- Movimentos alheios
A impressão que se tem é que executam atividade distintas, uma com as
mãos outras com as palavras, produzindo movimentos alheios à mensagem
que colocam para o público. Alguns, sem saber o que fazer, ficam mexendo na
pulseira do relógio, tirando e pondo a aliança, segurando giz, caneta, etc. E
fazem isso com tanta frequência que chegam a irritar quem está assistindo.
Não se deve instituir uma regra fixa e rígida para a posição inicial dos
braços e das mãos. Cada um deverá comportar-se da forma que julgar mais
conveniente, como sentir-se melhor e mais natural.

4.1.2 O tronco e a cabeça

Dependendo do posicionamento do tronco, poderá auxiliar ou atrapalhar


no sucesso de uma apresentação. Isso ocorre em qualquer circunstância, seja
falando diante de uma platéia numerosa, ou diante de algumas pessoas, numa
pequena reunião, ou até diante de apenas um ouvinte. Isso vale dizer que é
importante na comunicação em sala de aula.
Polito (2000, p.145) afirma que "A postura do tronco, embora possa ser
incorreta por si, geralmente sofre forte influência no posicionamento das
pernas."
Quando as pernas se colocam de maneira recomendável, normalmente
todo o corpo se comporta de forma correta, pois ele se sustenta naturalmente
de maneira equilibrada. Quando, porém, as pernas se colocam de modo
defeituoso, com apoio exagerado ora sobre uma, ora sobre outra, quase
32

invariavelmente desequilibram também toda a postura do corpo, principalmente


do tronco, que, ao ser afetada, se torna desagradável aos olhos de qualquer
ouvinte.
Não fique com a postura relaxada, com o corpo curvado
deselegantemente para a frente ou para os lados, com os músculos
derrubados, o peito retraído e os ombros caídos como se estivesse desabando.
Essa é a atitude que transmite a imagem do perdedor, do medroso ou do
fracassado e ninguém desse tipo consegue comunicar mensagem que
mereçam respeito ou credibilidade. Se você tiver altura superior à média das
pessoas, redobre a vigilância na sua postura.
Por outro lado, também não se recomenda uma atitude excessivamente
altiva e arrogante. Comportando-se assim, você passará uma imagem de
alguém prepotente, o que não interessa a ninguém, pois coloca quem ouve na
defensiva, por receio ou por simples antipatia. Evitando esse comportamento,
você estará em condições de desenvolver uma atitude mais participativa e
simpática para se comunicar.

4.1.3 O Semblante

Segundo Polito (2000, p. 150) "O semblante talvez seja a parte mais
expressiva de todo o corpo. Funciona como uma espécie de tela, onde as
imagens do nosso interior são apresentadas em todas as suas dimensões."
O semblante é a parte mais expressiva, pois é nele que todas as
imagens, sentimentos serão passadas para quem está acompanhando alguma
apresentação.
O queixo, a boca, as faces, o nariz, os olhos, as sobrancelhas e a testa
trabalham isoladamente, ou em conjunto, para demonstrar ideias e sentimentos
transmitidos pelas palavras e, às vezes, sem a existência delas. A boca semi-
aberta, com os olhos abertos, indicará estado de espanto, surpresa, sem que
uma única palavra seja pronunciada.
O semblante trabalha também como indicador de coerência e de
sinceridade das palavras. Deve demonstrar exatamente aquilo que estamos
dizendo. Se falamos de uma assunto que deveria provocar tristeza, não
podemos demonstrar uma fisionomia alegre ou indiferente. Seria o mesmo que
33

assinar um atestado de falsidade, um comportamento tão incoerente que


arruinaria a mais bem cuidada de todas as mensagens.
Evite o excesso no trabalho do jogo fisionômico. Contrair
frequentemente as faces e o nariz, fechar os olhos, franzir a testa de maneira
exagerada poderá transformá-lo num orador caricato e despersonalizado. O
abuso da comunicação facial chama demasiado a atenção da platéia, que,
interessada na fisionomia esquisita do orador, talvez deixe de ouvir suas
palavras. Não se deve ficar com o semblante impassível, sem demonstrar
expressão alguma.

4.1.4 A Boca

A boca comunica quando fala e também quando se cala. É ela que


determina a simpatia do semblante. Os sentimentos encontram na boca os
mais variados recursos para serem expressos com leves e sutis movimentos:
ela pode comunicar espanto, tristeza, alegria, ironia, ternura, desprezo,
descontentamento, decepção, amargura etc.
Qualquer tipo de sentimento e de mensagem pode ser
comunicado com os movimentos da boca. É claro que a boca está sendo
analisada aqui isoladamente, mas não irá trabalhar sozinha. Toda a fisionomia,
com os olhos, a testa, as faces, o queixo, participa do momento de
comunicação.

4.1.5 A Importância do Sorriso

O sorriso, quando a circunstância permitir, poderá quebrar barreiras


aparentemente intransponíveis. Ele desamarra adversários, conquista inimigos,
muda opiniões, abre vontades e corações. É um elemento especial na
comunicação. Algumas vezes você pode sentir a platéia distante e alheia a
suas explanações, transparecendo um clima adverso a suas pretensões. Nesta
situação tente um sorriso, mas não um sorriso "amarelo" de quem está pouco à
vontade. Sorria sinceramente, demonstrando o quanto você gosta daquele
público e que pretende torná-lo seu amigo.
34

O sorriso também pode ser treinado e exercitado até ser expressado


com naturalidade.

4.1.6 A Comunicação Visual

De todo o semblante, os olhos possuem importância mais evidenciada


para o sucesso da expressão verbal. Através dos olhos pode o professor obter
o retorno da mensagem que colocou para a classe. Verifica-se com os olhos o
comportamento da platéia, se todos estão interessados nas informações, se
estão entendendo o que foi dito, se houve concordância com as afirmações, se
está havendo resistência a determinadas ideias.
Através dos olhos conversa-se com os ouvintes. Percebe-se o sorriso ou
o semblante alegre de um determinado ouvinte, um acenar de discordância de
outro e, assim, nessa espécie de diálogo, vai-se fazendo a adaptação da
mensagem a quem nos assiste.
A comunicação visual é importante não apenas para receber o retorno
dos ouvintes e orientar a linha de atuação do discurso ou demonstrar os
sentimentos através dos seus vários movimentos, mas também para valorizar a
presença de cada elemento da platéia. Aquele que não for olhado pelo orador
irá sentir-se marginalizado no ambiente e começará ou a se desinteressar pelo
que está sendo tratado, ou a ficar contra as ideias de quem fala. Todos
precisam passar pelo ângulo visual do comunicador, para sentirem que a sua
presença é importante naquele recinto.

Para Polito (2000, p. 157) as atitudes que o orador deve evitar são:

a) Fugir com os olhos - esse é um cuidado que deve ser


tomado não apenas diante de um público numeroso, mas em
qualquer ambiente, até falando apenas com uma pessoa. É
desagradável conversar com alguém que fica constantemente
fugindo com os olhos, olhando para baixo, para cima, para os
lados, às vezes de maneira tão insistente que, quando fala,
35

parece que não se dirige a nós e, quando ouve, parece não


prestar atenção ao que dizemos.
b) Olhar para um ponto fixo - esse ponto pode ser um
objeto, um espaço vazio, ou um ouvinte. Quando se trata de
um ouvinte, quase sempre dois fatores propiciam esse
procedimento. Um deles é o comportamento hostil de alguém
da classe. O professor, percebendo uma reação negativa,
procura conquistá-lo e fala praticamente o tempo todo olhando
para ele, esquecendo-se que existe uma turma inteira, quem
sabe até interessada em ouvi-lo. O outro, por incrível que
possa parecer, é o comportamento de alguém que se mostra
muito interessado. Nesse caso o aluno balança a cabeça
constantemente, concordando com todas as afirmações de
quem fala, sorri para lhe dar apoio, enfim, mostra-se
largamente receptivo. Ora, o comunicador, recebendo esse
retorno positivo, até inconscientemente, erra olhando apenas
na sua direção.
c) Olhar desconfiado - é um tipo de comunicação visual
que permite ao professor enxergar todas as pessoas, mas
movimenta apenas os olhos para a esquerda e para a direita,
sem movimentar a cabeça, dando a impressão de que receia
que algo ruim possa lhe acontecer. Outro fator negativo desse
comportamento é que impede o público de perceber que está
sendo visto. Os alunos precisam sentir a comunicação visual
do professor para integrar-se melhor no ambiente. Aqueles que
sentam no fundo da sala, com esse tipo de comunicação
visual, nunca saberão se a sua presença foi notada.
d) Olhar limpador de pára-brisa - esse é o tipo de olhar
que muda de direção, deslocando-se de um lado para o outro
da platéia, semelhante a um limpador de pára-brisa, com tal
velocidade que não consegue enxergar ninguém.
e) Olhar perdido - é o olhar de quem está presente no
local apenas com o corpo. A mente, essa está vagando por
locais totalmente diferentes. Isso pode ocorrer tanto com quem
fala como com quem ouve. Os olhos adquirem um brilho
característico, demonstrando que o mestre está totalmente
36

voltado para dentro de si à procura das ideias, nem se


lembrando nesse momento de que existe auditório.

4.1.7 Como Olhar

Deve-se olhar não apenas com os olhos, mas com o corpo todo. Ao
voltar os olhos para um determinado segmento da classe, deverá fazê-lo
virando a cabeça e levemente o corpo para essa direção, promovendo dessa
forma uma comunicação visual eficiente e participativa. Principalmente nas
pessoas que usam óculos, os movimentos laterais com a cabeça precisam ser
acentuados porque as lentes dificultam a melhor percepção da sua
comunicação visual por parte dos ouvintes. Entretanto, só use óculos para falar
em público se for muito necessário. As lentes de contato também são uma boa
solução. Nunca use, porém, óculos escuros.

4.1.8 O quadro negro

Afirma Polito (2000, p. 169) que a postura correta para escrever diante
do quadro de giz ou do quadro magnético é:
1- Quando se estiver escrevendo, procurar não falar; ou falar antes e
escreva depois, ou escrever antes e falar depois.
2- Não ficar na frente do quadro quando estiver escrevendo, para não
atrapalhar a visão dos ouvintes; procurar escrever colocando o corpo
de lado.
3- Ao utilizar um quadro magnético, verificar se os pincéis não estão
secos e se o apagador está funcionando. Quando o comunicador
encontra dificuldade para apagar o quadro, pode sentir uma certa
canseira que prejudica a sua respiração e, consequentemente , a boa
pronúncia das palavras.

Para usar as informações do quadro:


37

Quando for apresentar informações colocadas no quadro,


lembre-se de que poderá proceder de três maneiras
diferentes: 1- A informação a ser destacada tem apenas
relativa importância. Nesse caso aponte o elemento a ser
informado, retire o indicador do quadro e comece a falar. 2-
Todas as informações ou um grande número delas tem
importância. Nesse caso use gestos largos, apontando todos
os elementos a serem informados e falando ao mesmo tempo.
Ao apagar o quadro comece pela parte superior. Embaixo
geralmente ficam as últimas informações e por isso deverão
ser apagadas no final. Nunca fale olhando para o quadro; olhe
apenas o suficiente para ler as informações e volte-se não
falar olhando para o auditório. ( POLITO, 2000, p.169)
38

CONCLUSÃO

Na época contemporânea, linhas de estudo seguidas por


antropólogos, sociólogos, comunicólogos, psicólogos, psiquiatras, professores,
dentre outras, têm observado, com mais acuidade, os efeitos requeridos por
um conceito que englobe os vários aspectos da comunicação. Isso, de fato,
vitaliza os estudos dos elementos verbais e não-verbais em qualquer espaço
de comunicação, o que justifica a importância da contribuição dada por esses
elementos em contexto escolar.
A análise em foco ratificou a idéia acima referida, no sentido de
observar que os gestos (um dos elementos de estudo da cinésica), em
qualquer das suas especificidades: independentes da fala e relacionados a ela,
promovem e acentuam a função dos que interagem no discurso de sala de
aula. Por outro lado, a distância (elemento de estudo da proxêmica) entre os
interlocutores também muito contribui para que se tenha não somente uma
leitura dos relacionamentos entre as pessoas, mas também um indicativo da
relação social do homem com o espaço que o cerca.
O campo semântico criado e mantido pelas expressões corporais no
domínio dos conhecimentos da humanidade ocupa lugar considerável no
âmbito dos saberes humanos, incluindo a linguagem, que os codifica e os
estrutura. Existe até uma indagação se não são as expressões corporais que
criaram as palavras. De fato, toda palavra (todo conceito) vem de outra palavra,
que vem de outra palavra, que vem ... Pouco a pouco, a etimologia remete a
experiências cada vez mais remotas, que só pode acabar nos nossos sentidos
e nas relações de nosso corpo com as coisas.
O estudo das expressões corporais ainda não muito desenvolvido em
nosso meio é de extrema utilidade. Se “viver é preciso”, comunicar-se é ainda
mais necessário. Quando se trata de ambiente docente, então, essa
necessidade se torna indispensável e não se pode supor que gestos
“estudados” não sejam percebidos pela platéia como tal. O professor, de posse
destes conhecimentos, estuda os ouvintes, lê seus sentimentos e, dentro desta
magia, por assim dizer, pauta seu trabalho com mais eficiência e proveito para
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os discentes, uma vez que o transmitir e o receber atitudes corporais fornece


rumos mais amplos ao trabalho docente.
A sugestão para novas pesquisas é a mensagem final deste trabalho, num
campo como este, tão útil, necessário e relativamente pobre de produção, até o
presente.
Impossível pautar o trabalho docente no conteúdo a ser ministrado, uma
vez que o elemento humano e sua formação integral é o eu que se apresentam
como matéria a ser trabalhada. Tanto já se disse a respeito da sublime missão
do mestre e tantas outras coisas e justamente daí emana essa necessidade,
isto é, o estudo das expressões do corpo, de modo que partindo do próximo se
chegue ao distante, partindo do visível se chegue ao invisível necessário, isto
é, partindo da matéria se chegue à alma, à essência do outro.
O ensino e a aprendizagem não se constituem tarefa mecânica. Daí se
depreende que o simples domínio dos conteúdos curriculares não completam
os recursos docentes necessários a um bom desempenho docente. É preciso
mais, muito mais. Este trabalho tentou colaborar com o trabalho docente
aumentando em mais um, o arsenal de ferramentas para o bom desempenho
docente. Esta contribuição, ainda que reconhecidamente modesta, não só
deixa mais um tijolo nesta construção, como também entrega a novos
estudiosos a continuação do levantar das paredes do grande edifício da
educação, através de pesquisas do gênero.
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REFERÊNCIAS

GUIRAUD, Pierre. A linguagem do corpo. São Paulo: Ática, 2001.

POLITO, Reinaldo. Gestos e postura para falar melhor. São Paulo: Saraiva,
2000.

RECTOR, Monica e TRINTA, Aluizio Ramos. Comunicação corporal. São


Paulo: Ática, 1999.

SILVA, Iêda Dias da e CARVALHO, Maria Vicentina de Campos. Linguagem –


Comunicação. Belo Horizonte: Vigília: 1975.

VALENTE, Nelson. As diversas habilidades que o professor dispõe. Site:


www.artigos.com, Julho de 2010.

VAYER, Pierre e TOULOUSE, Pierre. Linguagem corporal: a estrutura e a


sociologia da ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

WEIL, Pierre e TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da


comunicação não-verbal. Petrópolis, Vozes, 1975.

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