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Depois da travessia.

— Autores diversos e Luiza


Xavier. ©
(Texto extraído da 1ª edição desse livro — 2013.)
Índice
(Capítulos)

Dedicatória I.
Prefácio espiritual: No recinto de nossas orações. —
João de Deus Macário.
Padre João de Deus Macário: Vigário Pe. Joaquim
Coelho.
Apresentação: Depois da travessia. — Geraldo
Lemos Neto.

Primeira parte. — Mensagens de autores diversos.


(Fazenda Modelo — Pedro Leopoldo. | MG.)

MENSAGENS DE 1935.

1. A ventura real. — Júlia. [Júlia Amália da Silva


Pêgo.] | 2. Um pedido. — Domingos Nascimento.
| 3. Estamos ao vosso lado. — Sem assinatura.
| 4. Ao Rômulo. — Sem assinatura. | 5. Deus vos
guie. — Sem assinatura.
MENSAGENS DE 1936.

6. Sobre João de Deus Macário. — Emmanuel.


| 7. Lembrai-vos deste mundo em que vivemos. —
João de Deus Macário. | 8. Tesouros de
consolação. — Helena [Maia.]
MENSAGENS DE 1937.
9. Trabalhamos neste outro lado da vida! —
Helena. | 10. Flores de amor e de fé. — Arthur
Joviano. | 11. A certeza consoladora. — Helena.
MENSAGENS DE 1938.

12. Vibrações fraternas. — Mariquinhas, [irmã de


Arthur Joviano.] | 13. Procuramos auxiliá-lo. —
Drs. Manuel Pinto Quintão e Cassiano Nunes
Moreira. | 14. Intuição pura. — Helena.
| 15. Palavra de avó. — Júlia. | 16. Meu algoz é
minha própria consciência. — Dutra. [Gustavo
Dutra.] | 17. Eu poderia ter lutado mais um
pouco. — Pereira. | 18. Verdadeiro
arrependimento. — Marie [Benson]. | 19. Uma
imensa alegria. — Ambrósio de Amorim. | 20. Nas
claridades do mundo espiritual. — Engracinha
[Ferreira.] | 21. Continue orando por mim. —
Marie. | 22. Tempo de reflexão. — Mariquinhas.
| 23. O trabalho representa muito. — Gustavo
Dutra. | 24. Nos problemas da crença. — Júlia.
| 25. No recinto de nossas orações. — João de Deus
Macário. | 26. Serenidade do coração. — Basileu.
| 27. Luzes da paciência e da coragem. —
Mariquinhas. | 28. Trabalhadores para a obra. —
Engracinha. | 29. Lembranças carinhosas. — Júlia.
| 30. Escola de luz. — Anna Benvinda. | 31. Erros
clamorosos. — Marie. | 32. O corpo espiritual. —
Emmanuel.
MENSAGENS DE 1939.
33. Forças para a luta. — Júlia. | 34. Redenção ao
pecador. — Engracinha. | 35. A família terrena é
um instituto de purificação. — Engracinha.
| 36. Sacrossantos deveres. — Antoninho.
| 37. Joias de luz que me enfeitam a alma. —
Engracinha. | 38. Preparação laboriosa. — Júlia.
| 39. Preparo para novas lutas. — Marie.
| 40. Discípulos de um Mestre só. — Lésio
Munácio. | 41. Benefícios divinos. — Marie.
| 42. Em paz espiritual. — Engracinha. | 43. Ora e
confia sempre. — Amélia. | 44. No seio de provas
ásperas. — Amélia Macedo. | 45. Nas lutas
terrestres. — Júlia. | 46. Oportunidades
perdidas. — Abel Macedo. | 47. Elos afetivos. —
Mariquinhas. | 48. A morte é uma viagem. —
Virgílio Machado.
MENSAGENS DE 1940.

49. Bálsamo reconfortador. — Helena.


| 50. Alvorada de luz. — Marta Pernambuco.
MENSAGENS DE 1941.

51. Erros e virtudes. — Amélia [Amorim.]


| 52. Pedido de irmão. — Joaneco. | 53. Marco
inesquecível. — Helena.
MENSAGEM DE 1942.

54. Sublimes conhecimentos. — Gomide.


MENSAGENS DE 1944.
55. Uma reunião evangélica é uma fonte de águas
vivas. — Dutra. | 56. Festa espiritual. —
Engracinha.
MENSAGENS DE 1945.

57. O suor do trabalho. — Helena. | 58. O castelo


santo do lar. — Helena. | 59. Festa de felicidade
espiritual. — Engracinha.
MENSAGEM DE 1946.

60. Saudações de João-de-Barro. — Casimiro


Cunha.
MENSAGENS DE 1947.

61. Lembrança. — Casimiro Cunha. | 62. Na festa


do Professor. — Casimiro Cunha. | 63. Boas
festas. — Casimiro Cunha.
MENSAGENS DE 1948.

64. Jardim doméstico. — Helena. | 65. Bodas de


Prata. — Engracinha.
MENSAGENS DE 1949.

66. Continuamos atendendo ao Roberto. — A.


Joviano. | 67. O Professor partiu ficando…. —
Engracinha. | 68. No santuário doméstico. —
Casimiro Cunha.
MENSAGEM DE 1950.
69. Júbilo doméstico. — Amélia.
MENSAGEM DE 1951.

70. Caminhada espiritual. — João de Deus


Macário.
MENSAGEM DE 1955.

71. Louvemos o patrimônio do tempo. — João de


Deus Macário Galeria de fotos. (Vide fac-símiles
das fotos no livro impresso nas páginas 267 a 274.)

Segunda parte. — Mensagens de Luiza Xavier.


(Grupo Espírita da Prece. — Uberaba, | MG.)

Dedicatória II.
MENSAGENS DE 1985.

72. Mensagem de José Xavier. — O próprio.


| 73. Afastamento do corpo. — Luiza Xavier.
| 74. Me achava numa organização católica. —
Luiza Xavier. | 75. Anjos esquecidos. — Luiza
Xavier. | 76. Escrevo para confirmar o
intercâmbio. — Luiza Xavier.
MENSAGENS DE 1986.

77. Nossas contas são as nossas contas. — Luiza


Xavier. | 78. Deus pode o que não podemos. —
Luiza Xavier. | 79. Um bilhete também vale. —
Luiza Xavier. | 80. Mais vale a paz que todos os
tesouros. — Luiza Xavier. | 81. Ninguém vive sem
precisar de alguém. — Luiza Xavier.
MENSAGEM DE 1987.

82. A alegria do Ano Novo. — Luiza Xavier.


MENSAGENS DE 1988.

83. Lições que nos atingem a todos. — Luiza


Xavier. | 84. Precisamos da comunhão para
acertar os caminhos. — Luiza Xavier. | 85. A
felicidade pelo próprio esforço. — Luiza Xavier.
| 86. Quem ama se renova. — Luiza Xavier.
| 87. Filhos são de Deus. — Luiza Xavier.
| 88. Tesouro oculto. — Luiza Xavier. | 89. Não nos
apaguemos em cansaço inútil. — Luiza
Xavier Galeria de fotos. (Vide fac-símiles das fotos
no livro impresso nas páginas 375 a 396.) Galeria
de reproduções (No livro impresso nas páginas 399
a 412.)

(Obs. Esperamos que a Editora Vinha de


Luz possa disponibilizar em seu site uma Galeria
das fotos que se encontram impressas em seus
livros para que possamos fazer o link das mesmas
para os usuários desse livro eletrônico.)

Referências bibliográficas: Wanda Amorim Joviano.


ANEXO A.
Sobre João de Deus Macário: Francisco Augusto
Anacleto.
ANEXO B.

Sobre o uso da prancheta: Wanda Amorim Joviano.


ANEXO C.

Sobre Júlia Pêgo de Amorim: Wanda Amorim


Joviano.

A ventura real

20|11|1935
1
Minha querida filha e bondosa irmã, n
2
Eu não sei como agradecer a Deus em podendo
dirigir-te a minha palavra, eco suave dos afetos
extremos do meu coração. Que a Mãe de Jesus,
compassiva e misericordiosa, envolva a tua alma
nas dobras luminosas do seu manto constelado de
todas as virtudes, fortificando a tua fé, santelmo
sagrado que conquistaste com a tua boa vontade e
perseverança.
3
Eu quisera dizer-te todas as alegrias que me
desabrocham na alma agradecida ao Céu pela
possibilidade de fazer chegar ao teu coração
inesquecível o reflexo da minha afeição. Mas pobre
mundo de matérias grosseiras! Não encontramos,
na Terra, algo que traduza a intensidade dos nossos
sentimentos purificados nas grandes verdades que a
morte nos oferece dentro das suas sagradas
revelações!
4
Felicito a tua persistência dentro do sacrossanto
ideal que norteia os teus passos. Sabes hoje que no
planeta há sempre uma grande família necessitada
de nossa atenção e dos nossos desvelos — a
multidão imensa dos deserdados cujas almas
necessitam de um raio de luz e de uma côdea de
pão. 5 A verdadeira felicidade não é obtermos aí na
Terra todos os objetos que representavam a visão
dos nossos desejos materiais, não é descansarmos
sobre as alegrias tão efêmeras que esse orbe
proporciona. A ventura real é compreendermos a
solução dos problemas da vida dentro da
solidariedade e da fraternidade salvadora. 6 Do lado
de cá avulta ao nosso espírito a necessidade do
cumprimento de todos os deveres cristãos e nos
vem um desalento por não havermos compreendido
bastante essas austeras, mas doces e sagradas
obrigações.
7
Quiséramos, então, volver ao passado com a
compreensão alcançada e dispersarmos todas as
nossas forças, toda a nossa energia vital ao serviço
dos nossos semelhantes, conjugando a nossa
atividade com a ação daqueles que se sacrificam
pelos seus irmãos em humanidade.
8
Deus ampara os impulsos do teu coração generoso e
nobilíssimo, não repousando sobre o bem-estar que
conseguiste obter, fazendo dele mais uma razão
para perseverares no propósito sagrado de te unir
aos que laboram pela felicidade e pela paz
alheia. 9 Não guardes em teu íntimo nenhuma
recordação acerba com respeito a superstições
prejudiciais. Considera que todos os
acontecimentos de dor na existência são regidos por
forças divinas que objetivam o aprimoramento do
ser nas provações acerbas, mas
10
redentoras. Labora em beneficio daqueles que
carecem do teu esforço e do teu devotamento, e que
Jesus ampare sempre o teu lar, prodigalizando-te a
ventura melhor que a Terra te pode dar — a
felicidade de um companheiro nobilíssimo, n que
soube sempre fazer do lar o trono sagrado de dois
corações reunidos santamente, dentro das suas
elevadas concepções sobre os problemas da vida,
dentro do seu caráter resoluto e edificado, servido
pelo raciocínio mais lúcido e pelo pensamento mais
puro. 11 As divergências de ordem religiosa nunca
existirão, desde que se compreendam tão bem,
nessa lei de amor que ambos interpretam com
justiça e clareza, multiplicando os seus progressos
espirituais.
12
Às vezes o vejo na Cruz dos Militares e a ti na
tarefa santa do asilo e, mais que tudo, no templo
luminoso do lar, fortificando os filhos bem-amados
com os seus exemplos edificadores. n
Deus te abençoe e te guie!
Estou sempre ao teu lado e não tergiverses no
desempenho das tuas obrigações.
Deus lance sobre todos a Sua sagrada bênção,
Júlia
Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se a Júlia Pêgo de Amorim, minha avó
materna.

[2] Refere-se ao meu avó materno, General Aurélio de


Amorim.

[3] General Aurélio foi, como se deduz das mensagens


colecionadas no livro Militares no Além (VINHA DE
LUZ, 2008), provedor da Irmandade da Santa Cruz dos
Militares por vários anos. Para maiores dados históricos
da instituição mencionada, sugerimos a leitura da referida
obra e dos livros Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 4
ed., 2012, Deus conosco (VINHA DE LUZ, 3 ed.,
2010, Sementeira de paz (VINHA DE LUZ, 2010)
e Colheita do bem (VINHA DE LUZ, 2010), todos
psicografados por Francisco Cândido Xavier. A
comunicante faz referência ao Asilo Espírita João
Evangelista, localizado na Rua Visconde Silva, 96, em
Botafogo, Rio de Janeiro | RJ. O asilo recebe meninas
órfãs e vovó Júlia, por muitos anos, deu aulas,
gratuitamente, para as meninas. Sobre vovó Júlia, vide
maiores informações no ANEXO C, à página 425. Júlia
Amália da Silva Pêgo, minha bisavó materna.
2

Um pedido
14|12|1935

Doutor Rômulo,
Eu estou sofrendo muito.
Peço ao senhor olhar a Nina n para mim.
Eu estou sofrendo muito.
Domingos Nascimento

[1] Notas da organizadora: Refere-se ao meu pai, Rômulo


Joviano, diretor da Fazenda Modelo e chefe da Inspetoria
Regional de Fomento da Produção Animal do Ministério
da Agricultura, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais,
nomeado e empossado, em comissão, por portaria de 25
de julho de 1919, quando, portanto, a Fazenda “nasceu”.
Sobre Nina não nos foram dados maiores informes.
Mensagem de Domingos Nascimento, conforme
informação de Emmanuel.

Estamos ao vosso lado


14|12|1935

Sobre a resina de jatobá, é mesmo um elemento


sólido, o qual moído tem uma contextura da farinha
comum. A seiva é ótimo elemento para a saúde,
tendo, porém, aplicação diversa.
Sobre o irmão que mencionastes, auxiliai-o com as
vossas preces; a idade, às vezes, não permite
reações necessárias, todavia, considerai todos os
vossos problemas à luz espiritual.
Não vos esqueçais, contudo, que estamos, se bem
que intangivelmente, ao vosso lado, trabalhando
pela continuidade da vossa paz.
Deus vos guie!
Sem Ass.
Nota da organizadora: Receita sem assinatura.
4

Ao Rômulo
14|12|1935

Rômulo Joviano — 41 anos — Presente.


Receita e diagnóstico, se possível.

Vejo no irmão uma leve depressão orgânica geral,


oriunda de resfriados.
Aconselho usar um benéfico regime alimentar,
evitando abusos, fazendo, durante algum tempo,
exercícios respiratórios, que deverão constar, cada
um, de meia hora, mais ou menos, 3 vezes ao dia,
inalando o ar vagarosamente, conservando-o o
maior número de segundos possível em seus órgãos
respiratórios para a necessária oxidação, expelindo-
o em idênticas condições. Esses exercícios lhe
farão muito bem.
Use também 2 ou 3 vidros de Peitoral de Angico. ( † )
Deus vos guie!
Sem Ass.

5-Deus vos guie


14|12|1935

Uma leve perturbação hepática, aliada a ligeiro


resfriamento e a esgotamento nervoso.
O Aconitum Nap. e a Belladonna
Atropos (homeopáticos), alternados, durante uma
semana, lhe farão muito bem. Um vidro do Sal de
Carlsbad ( † ) lhe será útil.
Continuando a experimentar abatimentos, deverá usar
algumas injeções fortificantes, o que consideramos
desnecessário, desde que procure repousar alguns
dias.
Pela manhã e à noite, será útil usar o mingau de sagu,
devendo evitar as carnes nos seus alimentos durante
alguns dias, inclusive o peixe.
Deus vos guie!

Sem Ass.
6

Sobre João de Deus Macário


15|05|1936

João de Deus é nosso grande amigo. Colabora


conosco e devemos nos pôr felizes. É uma grande
mentalidade. Poderão, de vez em quando, trazer-lhe
alguma pergunta, quando estivermos em nossa
intimidade, como hoje acontece. Perguntas de
ordem elucidativa e não esses inquéritos
extravagantes, aos quais dão tanta preferência os
incrédulos e ignorantes. A hora vai adiantada. Não
fiquem tristes ou desanimados. Estamos sempre ao
lado de todos. Boa noite.
Emmanuel
Nota da editora: Mensagem constante do livro Deus
conosco, edição da Vinha de Luz Editora. (p. 81, da
terceira edição, 2010).

Lembrai-vos deste mundo em que vivemos


15|05|1936
1
Irmãos, já que vos reunis para o estudo, trago-vos a
minha colaboração despretensiosa. Entre os vossos
labores de cada dia, lembrai-vos deste mundo em
que vivemos e que não conheceis. 2 Se muitos
daqueles que buscam a realização do impossível
dentro das futilidades voltassem as suas vistas para
a espiritualidade, grandes feitos haveríeis de
presenciar, mesmo em vossos dias. 3 Infelizmente,
porém, a maioria dos que aportam no Espiritismo
chega com o anseio do maravilhoso e esquece de
que antes de querer é preciso merecer e sem a
perseverança e o raciocínio necessários se
abalançam a experiências cujo resultado é o
fracasso mais fragoroso e cruel. 4 Louvo a vossa
tarefa. Brevemente, pretendo começar a escrever
algo com a prancheta, com respeito ao modus
vivendi deste outro mundo, para o qual tendes a
regressar. Doravante, concorrerei com Emmanuel e
convosco. Fui, também, padre. Desencarnei em 19
de dezembro de 1912, na antiga Vila Nova de
Lima. Adeus. Voltarei.

João de Deus Macário


8

Tesouros de consolação

10|11|1936
1
Minha boa irmã e amiga, n
Era meu desejo comunicar-me contigo hoje, por
intermédio da prancheta, n todavia considerei este
meio melhor para te dirigir algumas
palavras. 2 Atualmente, não imaginas como se sente
reconfortado o meu coração em reconhecendo os
meus entes caros na posse das realidades espirituais
que nos felicitam o espírito. 3 Hoje, não mais a
saudade empolgante e dolorosa martiriza o meu
íntimo, mas sim uma divina esperança jorra em
meu coração uma onda balsâmica de paz, que me
faz reconhecida à misericórdia do
Altíssimo. 4 Muito sofri logo após a minha
desencarnação, em virtude dos atrativos que a vida
de moça estava cheia para mim. As ilusões de
menina, os sonhos da juventude não me
abandonaram nos primeiros tempos de minha
existência no além-túmulo.
5
Em todos os meus anteriores comunicados, ainda
não tive ensejo em falar-te com respeito às
amarguras que me pungiam a alma dilacerada pela
saudade e pela distância, todavia, a bondade infinita
do Senhor não se fez tardar para o meu coração e
senti logo os efeitos divinos de sua imensa
misericórdia para a minh’alma. 6 Seres piedosos e
compassivos estenderam-me, no Além, os seus
braços compassivos e amorosos, e, aos poucos, tive
a alegria de me fazer sentida por aqueles que eu
havia deixado no mundo crucificados no pranto
mais pungente dentro da expectativa dolorosa da
eterna separação.
7
Felizmente, venho evoluindo, sempre procurando
constantemente o estudo que venha desenvolver as
minhas possibilidades individuais. Tenho, agora,
atribuições e deveres junto de um estabelecimento
destinado à manutenção das órfazinhas terrenas. E
dentro de uma grande falange de muitos amigos
busco desdobrar as minhas atividades, fortificando
os corações dos pequeninos, encaminhando-os para
Deus.
8
Como os homens que lutam e trabalham, nós,
igualmente, temos aqui os nossos dias
determinados de repouso. Nessas ocasiões,
recebemos mensagens dos nossos maiores da
Espiritualidade, exortações e conselhos amigos,
como no mundo acontece com todos os que
procuram o progresso através do trabalho e do
esforço próprios.
9
O intercâmbio de conhecimentos entre nós todos,
que vivemos a existência espiritualizada, é bem
maior que os movimentos daí. E é assim que
aprendendo e laborando temos de sustentar uma
continuação das tarefas terrenas em favor do nosso
aperfeiçoamento geral. 10 Se para o homem
encarnado existem seres e radiações invisíveis e
inapreensíveis ainda pelas suas faculdades de
observação, para nós, igualmente, essas criaturas e
coisas intangíveis ainda existem, porquanto o plano
de nossos conhecimentos é ainda relativo, como
relativo é o plano de nossas possibilidades pessoais.
11
Espíritos conheço eu que apesar de serem
extremosos nos seus sentimentos de bondade ainda
não se elevaram da própria Esfera terrestre,
servindo aí de intérpretes junto ao pensamento dos
seres encarnados, dos pensamentos de grandes
mentores espirituais. E marchamos todos para os
conhecimentos divinos e integrais da vida e dos
seus ignotos mistérios.
12
Sinto-me satisfeita e feliz podendo dirigir-te a
palavra em um ambiente tão simples e tão puro
como é o do teu lar terreno. E é por essa razão que
sempre que me é possível estou ao teu lado,
insuflando-te o desejo de conhecer melhor os
problemas transcendentes da vida.
13
Se todas as outras almas femininas soubessem
dos tesouros de consolação que se encontram no
patrimônio imenso de nossa consoladora Doutrina,
bem aproveitariam o tempo dentro das ideias
verdadeiramente construtoras, sem os delírios das
ideologias ocas que só poderão atrasar-lhes a
marcha ascensional para Deus. 14 A missão da
mulher não pode ser adulterada. Qualquer
modificação no seu papel de orientadora da família,
dos homens e dos povos acarreta a confusão no
mecanismo geral da coletividade. 15 Muitos dos
nossos mestres daqui nos afirmam que o desvio da
mulher, no tocante aos problemas grandiosos dos
seus deveres, é uma das causas principais da luta
terrível que se estabeleceu nos últimos anos sobre a
Terra.
16
Que Deus guarde a todas! Que nesta noite, mais do
que nunca, possam cair do Céu sobre o teu coração
e sobre o teu lar as bênçãos dulcificantes do
Criador.
Tua de sempre,
Helena n
9

Trabalhamos neste outro lado da vida!

23|06|1937
1
Meus bons amigos!
Que Deus ilumine o seu lar e ampare os seus
corações nas lutas terrestres!
2
Eis que me acho ao lado de vocês confabulando
dentro da amizade profunda que nos une as almas.
Se pouco tem se manifestado o meu pensamento
diretamente entre vocês, semelhante fato não se
observa quanto à minha presença espiritual, pois
sempre que me é possível visito-os, segundo o
tempo que me é concedido.
3
Vendo, minha boa Maria, as suas boas disposições
maternas para os problemas educativos dos seus
filhinhos, sinto-me satisfeita em verificar essas
coisas. É bastante doloroso observarmos daqui
antigas companheiras nossas que colocaram nos
ombros a missão de ensinar não só pelo livro na
escola mas também pelo coração no lar, perderem-
se em atividades menos dignas, nesse terreno,
incapazes de nortear a criança para o bom
caminho. 4 Ultimamente, como vocês sabem, estou
colaborando na grande falange espiritual que
ampara os trabalhos do Asilo João Evangelista,
dirigido pela nossa abnegada Aura Celeste.
5
Vocês não imaginam como trabalhamos neste
outro lado da vida! Junto de alguns companheiros,
ali procuramos incutir no espírito das criancinhas as
noções do bem, da justiça, da tolerância e da
caridade. Junto dos diretores e dos mestres, é
igualmente sensível a nossa ação, auxiliando-os na
grande tarefa de cooperar para a formação da
mentalidade cristã, que deverá florescer nas épocas
futuras.
6
É verdade que os obreiros ainda não são muitos;
todavia, os que existem são assinalados pela melhor
boa vontade e isso constitui o penhor seguro da
nossa vitória espiritual nos tempos que se
aproximam.
7
Vocês ficariam satisfeitos conhecendo as nossas
organizações de trabalho e o modo singular de
nossa vida. Isso, porém, é bastante difícil pela
inacessibilidade do aparelho de compreensão de
que vocês podem dispor. Basta, contudo, que eu
lhes diga que o nosso meio não difere
essencialmente da Terra, representando mais uma
continuação do planeta que uma região de outro
mundo.
8
Imaginem que eu não estou localizada, junto das
almas benditas que me protegem e esclarecem,
muito longe das lutas terrestres. Ainda não
disponho das asas necessárias para voos mais altos
no mundo espiritual, mas confortada com o que já
possuo espero, confiada em Deus, aquele
“acréscimo” que Jesus prometeu a todas as almas
que esperassem n’Ele e na Sua infinita
misericórdia.
9
Aqui, minha boa Maria, ainda necessitamos de
alimentos e de muitas outras coisas mais que
caracterizavam aí no mundo a nossa humana
natureza.
10
Tenho também, como vocês, períodos de descanso
entre as atividades que tenho de desenvolver, em
cooperação com os nossos irmãos auxiliares dos
que militam na Terra, na grande tarefa da caridade
cristã. 11 Um dos fatos mais interessantes é que
nunca podemos vir sozinhos ao orbe terrestre,
enquanto não somos senhores de nossas emoções e
para que se verifique a nossa educação nesse
particular temos aqui as escolas de mensageiros.
12
Sem passarmos por esses Institutos, só poderemos
vir à Terra convenientemente acompanhados e
protegidos por companheiros devotados que não
nos faltam no Além. 13 Eu e alguns colegas de
trabalho e de estudo recebemos ordens de nossos
chefes espirituais, os quais, por sua vez,
frequentemente, colocam-se em contato com seus
mentores das Alturas, através de processos
espirituais que não lhes posso descrever
literalmente. 14 Posso narrar-lhes, porém, que num
dia em que demonstrei muita curiosidade de assistir
a esses fenômenos, assistida por um grande amigo,
pude notar que os nossos superiores recebiam
alvitres do Alto, que lhes eram transmitidos em
letras e sinais luminosos no éter
atmosférico. 15 Fiquei bastante surpreendida com
esses fatos; todavia, alguns protetores me
elucidaram, salientando aos meus olhos a
mesquinhez das possibilidades da visão e dos
entendimentos humanos, dos quais eu regressei tão
recentemente.
16
Graças a Deus, felizmente, guardo no meu íntimo a
satisfação de auxiliar alguns dos meus entes
queridos nas obras de caridade fraternal, guiando-
os para as coisas que constituem o patrimônio dos
conhecimentos que já possuo, com o auxílio divino
do nosso Pai, que é Deus.
17
Você, Maria, continue como sempre interessada em
conhecer essas verdadeiras maravilhas. Procure
prescindir sempre da luta política e do espírito de
competição em que se encontram desviadas muitas
de nossas amiguinhas da época. 18 A vida
verdadeira é esta para onde todas as criaturas terão
de voltar um dia. 19 Faça do teu coração sempre o
hostiário do lar. A missão materna é sublime
demais para que eu possa tecer considerações em
torno desses sagrados misteres da mulher na Terra.
20
Que Deus conceda a vocês muita saúde e paz de
espírito! Estarei sempre com vocês, em todas as
oportunidades.
A sua irmã e amiga de sempre,
Helena
10

Flores de amor e de fé
14|12|1937

“(…) E enquanto as suaves e caridosas palavras de


Emmanuel me penetram os ouvidos, deixo
embalar-me na humildade do meu coração e na
esperança do Céu para dizer, com toda a energia de
minha pobre alma: Eu te agradeço, Senhor, por
tudo o que me tens dado e que o rocio do seu amor
orvalhe o coração sensível e afetuoso dos filhos que
aqui se encontram no planeta obscuro, sem
esquecer o Pai carinhoso e amigo de todos os
momentos. Reflete sobre eles a tua glória infinita e
que as tuas bênçãos, jorrando do Céu sobre as suas
cabeças, possam desabrochar no âmago dos
corações em flores de amor, de fé, de crença, de
caridade, de paz e de esperança.”

Arthur Joviano
Nota da organizadora: Meu avó paterno, desencarnado em
14 de dezembro de 1934. Trecho de mensagem recebida
por Chico Xavier no Grupo Doméstico Arthur Joviano.
11

A certeza consoladora

29|12|1937
1
Minha boa irmã, Deus te conceda, como ao teu
esposo e ao teu lar, as melhores venturas!
2
Minhas palavras traduzem a minha presença à nossa
reunião, Maria, e quero felicitar-te pelo teu esforço
no sentido de adestrares as tuas possibilidades
mediúnicas dentro do grande pensamento de
serviço aos necessitados, aliviando os sofredores do
corpo e do espírito.
Deus há de permitir que te auxiliemos com todos os
nossos recursos e, em breve, poderás ocupar uma
pequena parte do teu tempo diário no receituário
em favor dos que sofrem. 3 Por enquanto é o
Professor n que está te auxiliando mais diretamente,
mas tão logo se familiarizem as tuas possibilidades
nesse mister um dos nossos esclarecidos mentores
espirituais se incumbirá de transmitir-te os
conselhos médicos necessários a quantos deles
venham a precisar no caminho por onde passares.
4
Tuas possibilidades estão ainda indecisas, mas isso
é questão de método, de estudo e de perseverança,
como aconteceu com as experiências da prancheta.
Guarda a certeza consoladora de que tudo vai
muito bem e de que estaremos ao teu lado para
insuflar-te a força precisa ao desenvolvimento dos
teus novos labores, nesse sentido.
5
Deus te conceda muitas felicidades para o Ano
Novo. Para nós, os desencarnados, todo o tempo é
um só e a contagem das horas não se verifica de
acordo com os cronômetros da Terra, mas falando-
te para o orbe onde te encontras devo readaptar-me
aos teus costumes e é assim, minha amiga, que
venho pedir a Deus, muito perto do teu coração,
que encha de alegria o sapato de tuas aspirações
materiais, enchendo-te o coração bondoso e
sensível das mais santas felicidades da Terra e do
Céu.
6
Que Jesus te abençoe, abençoando-te as esperanças
sagradas de mãe e o ambiente tranquilo do lar! São
os votos muito sinceros da sempre tua,

Helena

[1] Notas da organizadora: Em referência ao vovô Arthur.


12

Vibrações fraternas
05|01|1938

Meus filhos, boa noite! Aproveitando a companhia


do nosso querido Arthur, n quero manifestar-vos de
viva voz o meu agradecimento pelas vibrações
fraternas com que me tendes ajudado depois do
meu desprendimento da matéria.
Ainda me sinto estranha e não encontro o jeito
necessário de me acostumar com o meio, mas tenho
fé em Maria Santíssima que, em breve, terei
adquirido novos elementos de progresso para
ajudar a todos os nossos aí do mundo. Continuarei
a me fortalecer com as vossas preces, sem vos
esquecer.
Da velha tia muito amiga,
Mariquinhas n

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao vovô Arthur Joviano. Cabe acrescentar
que Arthur Joviano nasceu em 1862 em Barra Mansa | RJ.
Espírito sempre fiel ao ideal do ensino e da educação, foi
responsável pela primeira reforma do ensino primário no
Estado de Minas Gerais. Professor de Português do
Ginásio Mineiro e da Escola Normal de Barbacena,
lugares obtidos em brilhantes concursos, exerceu por
longos anos, o cargo de diretor da Escola Normal Modelo
e a Cátedra de Português em Belo Horizonte | MG.
Transferindo-se depois, para a cidade do Rio de Janeiro,
então Distrito Federal, trabalhou como Inspetor de Ensino
e como Superintendente da Instrução Pública do Distrito
Federal. Em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, existem
escolas com o seu nome. Desencarnou no dia 14 de
dezembro de 1934. Da união com Francisca da Rocha,
Arthur Joviano teve 9 filhos, sendo que uma menina
desencarnou precocemente. Foram eles: Rômulo, Fausto,
Albino, Zina, Martha, Flora, Célia e Lúcia. Mais tarde, o
casal adotou como filho José de Araújo.

[2] Mariquinhas era irmã do vovô Arthur Joviano.


Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria Joviano,
com a utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as
anotações
13

Procuramos auxiliá-lo
05|01|1938

O nosso irmão Mário n deverá repousar fisicamente


procurando respirar os ares da manhã, podendo
fazer ligeiros passeios a pé.
Após o passeio, e à noite, use os mingaus de sagu,
excelentes para esse caso, pelas suas substâncias
fosfatadas.
Deve usar o Promonta até considerarmos suficiente a
quantidade. Faça uso das injeções trazidas. Poderia
usar as fortificantes, repouso, e quanto ao problema
dos alimentos pode continuar o comum com
exceção de azedos.
Procuramos auxiliá-lo através dos passes.
Deus o guie!
Dr. Manuel Pinto Quintão n
Dr. .Cassiano Nunes Moreira

Notas da organizadora:
[1] Refere-se ao meu tio Mário, irmão de minha mãe.
[2] Sobre os Espíritos comunicantes não nos foram dados
maiores informes. Mensagem recebida por Chico Xavier e
Maria Joviano, com a utilização da prancheta. Rômulo
Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
14

Intuição pura
09|02|1938
1
Meus bons amigos Chico e Rômulo, n Deus vos
conceda muita paz!
2
Conforme a promessa do bondoso orientador dos
trabalhos do nosso grupinho, estou incumbida de
ajudá-los, segundo as minhas escassas
possibilidades, no que se refere ao desenvolvimento
mediúnico dos queridos irmãos. n
3
Ainda ontem, de fato, o nosso irmão Arthur Joviano
muito trabalhou para ver se a prezada Maria lhe
conseguia receber-lhe o pensamento, mas a querida
amiguinha, na sua completa abstração do
fenômeno, não tem desenvolvido no seu mundo
interior um estado de docilidade necessário no
campo da intuição pura, a fim de começar pelo
princípio, mas conto, com certeza, com o breve
desenvolvimento da inesquecível amiga Maria.
4
Os meus familiares têm experimentado grande
desejo de vir até aqui. Quando vocês tiverem
oportunidade de conversar com a mamãe ou com o
papai, digam-lhes que eu os auxilio quanto posso e
que não poderia esquecê-los de modo algum!
5
Bem sei o quanto sofreram os seus corações
sensíveis de pais com a prova rude da inesperada
desencarnação da filha, a quem eles queriam tão
bem…
6
Deus lhes pague pela gentileza fraterna!
Muito boa noite! Espero muito progresso para as
nossas reuniões.
Deus esteja com todos,
Helena

Notas da organizadora:
[1] Em referência a Chico Xavier e a Rômulo Joviano, meu
pai.

[2] O Grupo Doméstico Arthur Joviano se reuniu de 13 de


novembro de 1935 a 1º de abril de 1952, em Pedro
Leopoldo, na Fazenda Modelo, com a presença de Chico
Xavier, e de 9 de abril de 1952 até a desencarnação de
Rômulo, aos 78 anos, em 6 de dezembro de 1970, na
capital do Rio de Janeiro.

Mensagem recebida por Chico Xavier e Mário Pêgo de


Amorim, meu tio, com a utilização da prancheta. Maria
Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
15

Palavra de avó
09|02|1938
1
Meu caro filho, n
Graças a Jesus posso te trazer nesta noite a
minha palavra de avó, que muito te estima.
2
Andas ameaçado de um esgotamento nervoso pela
intensidade de trabalho no ambiente babilônico do
Rio de Janeiro. Mas com a calma do campo vais
melhorar rapidamente. O nosso receitista vai te
receitar agora e além dele, aliás, além desse auxílio,
procuraremos proporcionar-te o máximo de
forças. 3 Agora, nestes dias, procura repousar o
mais possível. Julgamos oportuno e conveniente
que te resolvas a ficar com Maria os dias que
puderes em beneficio de tua saúde. Não te
preocupes em demasia com os muitos tratamentos,
tudo será ajustado de acordo com tuas
necessidades.
4
Manda dizer ao Aurélio n que estive com o nosso
General Pêgo Junior, n que o está auxiliando no
grande trabalho da Cruz dos Militares, e dize à
Julinha para ela não ficar nervosa com tantas
atividades na Igreja. Isso é preciso por enquanto.
5
Adeus para vocês! Que a piedosa mãe de Jesus os
abençoe,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] Refere-se ao meu tio Mário, filho de Júlia e Aurélio,
neto de Júlia Amália da Silva Pêgo, a comunicante.
[2] Refere-se ao vovô Aurélio, marido de Júlia, filha da
comunicante, Júlia Amália da Silva Pêgo.

[3] O Marechal Antônio José Maria Pêgo Junior, marido da


comunicante, nasceu em 2 de julho de 1841, em Santos. |
SP. Desencarnou em 7 de julho de 1907, no Rio de
Janeiro. | RJ. O casal teve três filhas: Júlia, minha avó,
Esther e Maria. O Marechal participou da Guerra do
Paraguai e do Cerco da Lapa, no Paraná. Conhecido desde
sempre pela bravura e lealdade incontestáveis nos
serviços prestados à pátria como oficial do Exército, foi
acusado injustamente por crime de deserção, em 1893,
durante o histórico Cerco da Lapa, no Estado do Paraná, à
época da transição do regime monárquico para o
republicano. Após passar por dois processos
condenatórios, esteve preso, incomunicável, por 9 meses,
vindo a ser absolvido pelo Supremo Tribunal Militar, que,
revendo os autos e a insustentabilidade das acusações,
reformou a iníqua sentença, restituindo-lhe a liberdade e
livrando-o da pena de morte. Segundo o Coronel
Cordolino de Azevedo em seu livro O Marechal Pêgo
Junior e a invasão do Paraná, “(…) Pêgo tinha a coragem
moral de se dizer monarquista. Seria ele, portanto, o
responsável pelos desastres de todos. (…)”. A lisura e a
honra imaculada do Marechal Pêgo Junior foram,
portanto. restauradas para a história nacional, tendo sido
ele, mais tarde, o 34º provedor da Irmandade da Santa
Cruz dos Militares, instituição benemérita para a qual
dedicou muitos anos de sua vida. Pêgo Júnior era outro
modo como o Marechal Antônio José Maria Pêgo Júnior
assinava seu nome. Algumas mensagens recebidas por
Chico Xavier também são assinadas por ele como
Antoninho ou tão somente Pêgo. Sobre o assunto,
sugerimos a leitura de Militares no Além (VINHA DE
LUZ, 2008), psicografia de Chico Xavier por Espíritos
diversos, de minha organização. Mensagem recebida por
Chico Xavier e Rômulo, com a utilização da prancheta.
Maria Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
.

16

Meu algoz é minha própria consciência

24|03|1938
1
Sou eu, meus amigos, quem se valerá nesta minha
amargura sempre!… Ele… a seguir-me com seus
grandes olhos!… Que força é esta que nos
acompanha depois da própria sepultura? 2 Vossos
pensamentos me atraíram e sinto algum alívio
confessando as minhas faltas… Fui eu o verdadeiro
criminoso… salpicando com o lodo da calúnia o
nome de um homem honesto e justo. Pago caro a
ambição da vida terrestre…
3
Meu algoz é minha própria consciência. Debalde,
procuro obscurecê-la. Debalde, tapo os ouvidos
para não lhe ouvir os gritos reiterados: “Caim,
Caim, o que fizeste de teu irmão?” ( † ) Debalde
oculto de mim mesmo a minha grande desventura.
Toda a paz se esvai como num sonho… Minh’alma
perambula nos vales enevoados e frios da fazenda
de Ponta Grossa.
4
Para que o meu erro esteja patente em meu coração,
vós, meus amigos, estendei-me as mãos numa
prece! Se eu ainda fosse o homem da Terra, não
vos falaria com sinceridade, mas agora sou o triste
fantasma da verdade! Já não há remédio senão
confessar para diminuir a dor do meu coração
atribulado.
5
Rezai por mim! Não fiz por merecer, mas não se
nega uma esmola implorada, pelo amor de Deus…
Dutra. n

[1] Notas da organizadora: Gustavo Dutra foi um amigo e


colega de trabalho de Rômulo Joviano na Fazenda
Modelo de Ponta Grossa, no Paraná. Foi ele o responsável
pela calúnia que vitimou outro colega, o Pereira, que
assina a mensagem seguinte (p. 81), que se suicidou
devido a uma injusta punição imposta pelo ministro da
Agricultura, baseada na difamação. Dutra compareceu
diversas vezes às reuniões do Grupo Doméstico Arthur
Joviano. Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria
Joviano, com a utilização da prancheta. Rômulo Joviano
fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livr
17

Eu poderia ter lutado mais um pouco

24|03|1938
1
Eis-me aqui, meus amigos! A noite é de dolorosa
confirmação e também eu tenho sofrido muito!
[v. nota da mensagem anterior.]
2
Não tive forças para chegar ao fim do cálice de
amargura e minha pobre esposa e filhinhas aí
ficaram órfãs de minha presença e de meu
carinho…
3
Descendente dos Fortes, eu poderia ter lutado
mais um pouco, porém a energia me faltou. No
momento preciso, também eu perambulei por Ponta
Grossa, cheio de ódio e sedento de vingança. Não
podia concordar com a injustiça da condenação e
um tiro foi o epílogo das decisões do ministro.
4
Inconsciente por muito tempo, ainda fiquei na
Ladeira do Ascurra, sofrendo, mas quando pude
locomover-me, persegui os meus caluniadores
faminto de desforço.
5
Mas, ó grande Deus, a vossa luz tocou-me o
coração!… Perdoai-me para que eu possa perdoar
os meus devedores, seja feita a Vossa vontade,
assim na Terra como no Céu.
Voltarei mais tarde.
Peçam a Deus por minha paz!
Pereira n

[1] Notas da organizadora: Colega de trabalho de Rômulo


Joviano na Fazenda Modelo de Ponta Grossa, no Paraná.
Suicidou-se devido a uma injusta punição imposta pelo
ministro da Agricultura, baseada em infamante calúnia de
outro colega, Gustavo Dutra, que assina a mensagem da p.
79. A Ladeira do Ascurra, referenciada nesta página,
trata-se de uma rua no bairro de Cosme Velho, ( † ) no Rio
de Janeiro, onde, provavelmente, cometeu o ato extremo.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria Joviano,
com a utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
18

Verdadeiro arrependimento
11|05|1938
1
Maria e Rômulo, meus prezados amigos,
Não sei como definir-lhes a minha penosa situação
espiritual! 2 Quero chorar e não posso. Uma
dolorosa angústia me domina a alma toda, não
obstante sentir algum alívio junto da luz suave que
se desprende da reunião dos inesquecíveis
amiguinhos!
3
Sinto verdadeiro arrependimento olhando os dias
últimos de minha existência terrestre! Todo o meu
mal foi haver ficado na piedosa sombra do coração
de Julinha n sem ouvir-lhe os salutares conselhos.
Suas lágrimas, minha boa Maria, caem na minha
alma como um bálsamo.
4
Você é muito feliz, n possui um esposo digno, os
filhinhos e a fé que lhe alimenta o coração de mãe
dedicada e carinhosa. 5 Eu também possuo o
melhor dos companheiros, mas não tive a fé
necessária para venerar-lhe a memória e caí no
longo caminho das tentações. Lavo meu coração de
mulher nas lágrimas do mais sincero remorso e
quero dar força nas minhas palavras para pintar-
lhes o meu arrependimento.
6
Peçam ao Aurélio n que me perdoe, pedido esse que
quero estender à bondosa Dedé, n que eu não pude
compreender com a minha educação defeituosa.
7
Envergonho-me de pedir a proteção do meu
Ambrósio. n Lembro-me de que ele tantas vezes
tentou ajudar-me daqui mesmo, aconselhando-me
com seu carinho e com o seu desvelado amor!
Entretanto, não parei para ouvi-lo, enquanto era
tempo… Peçam a ele, nas suas preces, que me
perdoe!
8
Orem pela minha paz! Agora preciso retirar-me,
voltarei quando Deus quiser. Aparecer aqui me faz
grande bem. Perdoem à amiga e tia na Terra,

Marie

Notas da organizadora:
[1] Em referência à minha avó Júlia.

[2] Em referência a mim e ao meu único irmão, Roberto


Joviano.

[3] Referência ao vovô Aurélio e à sua irmã Dedé.

[4] Ambrósio [Mensagem seguinte] também era irmão do


vovô Aurélio e foi casado com a norte-americana Marie
Benson, que assina a mensagem, que foi recebida por
Chico Xavier e Maria Joviano, com a utilização da
prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.
Texto extraído da 1ª edição desse
livro.
19

Uma imensa alegria


19|05|1938
1
Maria, minha boa filha, Deus te abençoe e te
proteja, junto de Rômulo e das crianças!
2
Minhas palavras desta noite ainda se prendem à
situação da Marie, que, graças à misericórdia de
Deus, se sente mais aliviada e bem disposta.
3
Naquela noite fui eu próprio quem a trouxe até aqui
[mensagem anterior], no sentido de beneficiar-lhe o
coração desesperado e abatido. Graças a Deus,
vejo-a mais forte! Sinto com isso uma imensa
alegria! Peço avisar ao Aurélio e à Anna n do meu
contentamento.
4
Quero que eles se lembrem dela com a melhor
fraternidade; esquecendo o infeliz que lhe não
soube compreender a alma bondosa e
sensibilíssima.
5
Que Deus te recompense e ao Rômulo pelo conforto
que me proporcionaram!
Continuem rogando a Deus pela minha querida
companheira.
6
E que Deus, Maria, recompense teu coração cheio
de generosidade e de crença.
Em todos os momentos da vida, deves contar com a
minha alma muito agradecida.
n
Ambrósio de Amorim

Notas da organizadora:
[1] Sobre Anna não nos foram dados maiores informes.
[Anna Benvinda, tia de D. Júlia, v. cap. 30.]

[2] O Espírito comunicante é Ambrósio, irmão do vovô


Aurélio. Foi casado com a norte-americana Marie
Benson, já citado em nota anterior.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
.

20

Nas claridades do Mundo Espiritual

01|06|1938
1
Meus bondosos filhos, Deus vos ampare e proteja
ao longo das estradas da provação terrestre!
2
As vossas recordações tocam a minh’alma e os
pensamentos carinhosos que me enviais são como
rosas frescas do mundo, reacendendo o perfume
suave e imorredouro dos Céus!
3
Sinto-me feliz, reiterando-vos os meus votos de paz
em Jesus, porque depois da jornada penosa da
existência terrestre experimento uma vida nova
mutando-me o coração. 4 Refaço as minhas
energias para cooperar com a nossa Julinha dentro
da continuidade da obra de amparo espiritual para
com aqueles que a luta expiatória privou do celeste
dom da vista. Procuraremos dilatar em nossas
mãos, a visão íntima de sofredores e desalentados,
alargando-lhes as possibilidades dos olhos d’alma,
para a bênção da paz e do conhecimento moral de
nossa consoladora Doutrina.
5
Peço-te, Maria, que envies à sua mãe, carinhosa e
sensível, a minha palavra de velha tia e amiga
inseparável do Espaço, como sempre fazes. Dize à
Julinha, bem como à nossa Mariquinhas, que graças
a Deus estou forte, bem disposta e feliz! 6 Faz mais
de um ano que a morte me arrebatou para as suas
confortadoras verdades e, felizmente, sinto forças
novas banhando-me todo o ser. Graças a
Deus! 7 Dize a elas que as acompanho sempre que
posso, inspirando-lhes coragem, energia para a luta,
bem como a todas as demais sobrinhas, que eu aí
deixei. E que não se preocupem com os pequeninos
nadas da vida passageira do planeta, principalmente
a minha querida Mariquinhas precisa pensar nesta
minha recomendação de mãe. 8 Não deve ela se
entregar a pensamentos tristes e sombrias
apreensões, criando estados nervosos, dentro de sua
natureza pacífica, mas sim confiar na bondade
d’Aquele que é nosso tudo neste mundo e no
outro! 9 Que ela recorde os nossos dias do passado
e espere confiante na Providência Divina. É
verdade que lhe falta a assistência tangível do
companheiro que a aguarda na luz do Infinito, mas
o carinho doce das filhas deve ser o bálsamo suave
de suas ardentes esperanças.
10
O Daniel, n graças à misericórdia do Alto, vem
auxiliando a todos e recordando as minhas palestras
com a Julinha. Sou muito agradecida aos meus
filhinhos aqui presentes, pelo bem que me
proporcionaram.
11
Aí na Terra todos os acontecimentos e todas as
situações são expressões transitórias das atividades
planetárias. O que subsiste é a fé em Deus, o amor
praticado e sentido, o bem que se plantou pelos
caminhos escabrosos, cujas sementeiras, longe da
Terra, medram e se desenvolvem nas claridades
do mundo espiritual. 12 Nada se perde e o que me
falta, meus amigos, para vos fazer compreender a
realidade, é a expressão vocabular necessária para
vos conduzir o pensamento a esse complexo de
emoções sublimadas, que constitui o estado
contínuo das almas de consciência retilínea, fora
dos liames lamacentos da matéria carnal. 13 A
palavra amiga, o sorriso confortador, a gota de
remédio, o pedaço de pão são células da árvore do
bem, cuja sombra bondosa vos guarda no Céu,
distante do calor dissolvente das paixões terrestres.
14
Dizei à Julinha de minha satisfação vendo-a
continuar o esforço pálido de minha boa vontade
apenas. Que ela trabalhe, não excessivamente, mas
com o método preciso, que o resto Jesus nos
concederá de acréscimo, segundo a sua promessa
suave. E que Deus vos abençoe a cada um,
concedendo-vos as alegrias mais santas, é o que
suplica a Deus, neste momento, a velha tia da Terra
e irmã da Eternidade,
Engraciha n

Notas da organizadora:
[1] Sobre Daniel não nos foram dados maiores informes.

[2] Engracinha, Engrácia Ferreira, era tia de vovó Júlia, ou


Julinha. Foi pioneira do alfabeto Braille para cegos.
Desencarnou a 21 de abril de 1937 e menos de um mês
depois, a 6 de maio, comunicou-se por meio de Chico
Xavier, em uma mensagem dirigida à vovó Júlia,
solicitando a continuação de sua obra. “(…) Engrácia
Ferreira, pioneira do alfabeto Braille para cegos,
desencarnou a 27 de abril de 1937. Menos de um mês
depois, a 6 de maio, comunicava-se através de Chico
Xavier dando uma mensagem dirigida a D. Júlia,
solicitando a continuação de sua obra. Onze dias depois,
Chico recebe a segunda mensagem, na própria grafia do
Braille, que foi publicada em “Reformador” de junho de
1938. Diz uma nota de rodapé da revista que o médium,
por não conhecer o alfabeto Braille, levou duas horas para
receber tal comunicação psicográfica, que foi assim
transcrita: “Minha boa Julinha, a paz de Deus, nosso Pai,
seja em teu generoso coração, sempre tão cheio de fé.
Trabalhemos pelos cegos, minha filha, pensando que a
cegueira do espírito é bem mais triste que a dos olhos. Hei
de ajudar-te com o favor de Deus. A tia, Engrácia.” No
dia 16 de novembro de 1938, transmite a 3ª mensagem,
sugerindo que ela transpusesse para o Braille determinado
dicionário de Português, obra que havia deixado
inacabada. D. Júlia, atendendo à solicitação da querida
amiga espiritual, aprendeu sozinha o alfabeto Braille,
copiando letra por letra. Para certificar-se, pediu a um
cego que lesse o que havia escrito, cujo resultado encheu-
lhe de alegrias. A partir daí, transformou-se numa
verdadeira missionária do Braille. Reuniu em sua casa
várias senhoras interessadas nessa obra de altruísmo — na
prática do ensino do Braille. Em 1939, iniciou a
transcrição do Dicionário da Língua Portuguesa, de
autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cujo
trabalho durou cerca de quatro anos, dando, ao todo, 64
volumes. Em 1945, Chico Xavier recebeu a 5ª mensagem
do Espírito Engrácia Ferreira, agradecendo à sobrinha o
atendimento e o valioso trabalho em prol dos cegos. D.
Júlia iniciou um curso gratuito do Braille no centro da
cidade, visando maior número de colaboradores.
Transcreveu para esse alfabeto inúmeras obras espíritas e
não espíritas, entre as quais O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Agenda Cristã, Cartas do Evangelho, Voltei,
Pequenas Mensagens e muitas outras, todas doadas à
Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB). (…).”
Disponível em:
www.espiritismogi.com.br/…/juliapego.htm. Acesso em:
03 jan. 2008. Tia Engracinha, já no Plano espiritual,
reconheceu-se devedora dos cegos, porque, mulher
poderosa em vida anterior, decretara tal pena ao chefe de
insurreição surgida em seus domínios e, em o fazendo,
teve como vítima o próprio filho.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

21
.

Continue orando por mim


25|08|1938
1
Maria,
Eu estou bem melhor e mais confortada!
2
Agradeço-lhe a boa lembrança que guardam da tia
tão imprevidente e tão infeliz!… [Cap. 18.]
3
Peçam à Julinha que continue orando por mim e à
boa Adelaide n que me perdoe pelos muitos
desgostos com que lhe machuquei o coração!
4
Deus, ó meu Deus, amparai-me na minha
purificação espiritual depois de tantas faltas!
Socorrei-me com a Vossa misericórdia!
5
Muito boa noite, Maria, e que seu bom coração
continue me perdoando como sempre fez,

Marie

[1] Nota da organizadora: Adelaide era irmã do vovô


Aurélio.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
22

Tempo de reflexão

31|08|1938
1
Meus filhos, muito boa noite e que Deus os
abençoe!
Venho hoje até aqui mais controlada e mais
forte. 2 Eu, Maria, tenho pedido muito a Deus pela
Nhanhá n e pelos filhos. O seu coração de mãe
precisa muito, como você sabe, de minha
assistência constante. 3 Peço a você e ao Rômulo
desculpas pelas muitas incompreensões que ambos
têm recebido. Sobre muitos assuntos não é
conveniente levantarmos o comentário, ainda que
afetuoso e familiar. Falarei tão somente do livro
para dizer que há um tempo de reflexão, que
nunca chega tarde.
4
Sei que a Iná n é mais ou menos feliz e que os seus
protetores estão confortando-lhe o coração nas
lembranças de sua vida tão moça e ainda forte.
Vamos nos conformar com a vontade de nosso Pai
de Bondade. 5 Penso no meu pedido importuno,
mas quanto seja possível espero que o Rômulo não
se esqueça do Caio. n Penso muito nesse menino.
Dos filhos da Ignez n é o que mais me preocupa, em
vista das perseguições de que é vítima por parte de
obsessões invisíveis aliadas aos muitos defeitos de
educação longe do trabalho.
6
O Arthur envia lembranças.
Fiquem na paz de Deus!
A velha tia,
Mariquinhas

Notas da organizadora:
[1] Nhanhá era irmã do vovô Arthur, portanto, tia de
Rômulo.
[2] Sobre Iná não nos foram dados maiores informes.

[3] Caio Márcio Renault, filho de Abgar Renault, primo de


Rômulo. Reencarnação de Caio Fabricius, personagem do
romance 50 anos depois, de Chico Xavier e Emmanuel
(FEB, 1940). Na sequência das vidas sucessivas,
personificou Henrique VIII, soberano inglês no século
XVI. Caio Márcio passava, quase sempre as férias
escolares na Fazenda Modelo.

[4] Em referência a Ignez Caldeira Brant Renault, esposa de


Abgar de Castro Araújo Renaut, primo de Rômulo. Abgar
Renault (Barbacena, 15 de abril de 1901 — Rio de
Janeiro, 31 de dezembro de 1995) foi um professor,
educador, político, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro.
Ocupou a cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras e a
cadeira 3 da Academia Brasileira de Filologia.
Informação contida
em https://pt.wikipedia.org/wiki/Abgar_Renault. Acesso
em: 22 out. 2012. O casal teve 3 filhos: Caio Márcio,
Carlos Roberto e Luiz Roberto. Mensagem recebida por
Chico Xavier e Maria Joviano, com a utilização da
prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

23
.

O trabalho representa muito


31|08|1938
1
Meu bom amigo,
Deus lhe conserve a paz e a saúde! 2 Confirmando
as minhas palavras de outro dia [Cap. 16], sou eu
que lhe agradeço a possibilidade que me foi
concedida, podendo trabalhar na cooperação com o
seu trabalho no serviço da Exposição. 3 O trabalho
representa muito hoje para a minha personalidade
sofredora, desde aquela vez em que estive aqui pela
primeira vez. Parece que Deus se compadeceu de
minha miséria e permitiu que eu pudesse trabalhar
buscando um novo guia de evolução e de
progresso. 4 Aqui tenho procurado encaminhar o
nosso amigo Charles, n que apesar de ser um
Espírito esclarecido ainda sofre muito com as
penosas lembranças da vida familiar. Ele bem que
trabalhou conosco, mas suas alternativas de dor são
bastante dolorosas. Não o esqueça nas preces. 5 As
que foram feitas aqui por mim tiveram a virtude de
aliviar-me as dores mais intensas.
Deus lhes pague a todos,
Gustavo Dutra

Notas da organizadora:
[1] Sobre Charles não nos foram dados maiores informes.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
24
Nos problemas da crença

14|09|1938
1
Meus filhos, que Jesus os ajude e abençoe!
2
Maria, minha querida, sinto um grande bem no
coração vendo-a seguindo os mesmos passos da
Julinha nos problemas da crença. 3 A Igreja
Católica muito me prejudicou com seus falsos
ensinamentos, e é com mágoa que recordo de
minha incompreensão sobre as ideias espíritas de
sua mãe. 4 Lembro-me de que até no tempo de
minha desencarnação procurava apartar a Julinha
de seu caminho certo. Felizmente, ela não se
deixou impressionar com as minhas ideias,
consciente da verdade que lhe iluminava o
coração. 5 A verdade é que sendo ela a espírita, e
pouco compreendida de todas as filhas, é a que me
tem trazido o maior amparo no mundo espiritual
pela firmeza de sua fé. 6 Enquanto as outras exigem
o meu auxílio, eu vou buscar, muitas vezes, o
amparo com ela e com suas preces valorosas.
7
Você, minha filha, deve sentir-se muito feliz
podendo ser para Julinha o que ela é para mim e
por ter um companheiro que ajuda o seu coração e
o seu espírito na obtenção dessa luz!
8
À Julinha e ao Aurélio, a minha bênção. E que Deus
abençoe a vocês é a rogativa sincera e ardente da
velha avó muito amiga,
Júlia

Nota da organizadora: Mensagem recebida por Chico


Xavier e Maria Joviano, com a utilização da prancheta.
Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
5

No recinto de nossas orações

28|09|1938
1
Jesus, bom e divino Mestre,
Derramai sobre nós as vossas bênçãos de
misericórdia e de amor! 2 Permiti que todos os
Espíritos sofredores que nos assistem possam
comungar na doce eucaristia de nossa fé,
recuperando-se no recinto de nossas orações,
edificando-se para o cumprimento de seus sagrados
deveres no Plano espiritual!
3
Senhor, nós confiamos em vossa inesgotável
piedade, em vossa bondade infinita!

João de Deus Macário

[A presente mensagem foi utilizada como Prefácio


espiritual desse livro.]
Texto extraído da 1ª edição desse
livro.

26

Serenidade do coração
28|08|1938
1
Meu bom amigo,
Mais calmo neste momento agradeço-lhe, do mais
fundo de minha alma, as tuas atenções para com a
minha solicitação daquele dia. 2 O recado ao meu
filho teve o melhor efeito como expressão de muito
conforto para a família. Graças a Deus, tudo agora
vai se normalizando, de modo a trazer-me a
melhor serenidade do coração.
3
Deus lhe recompense a bondade fraterna! Apesar de
minha fé, não esperava desencarnar-me nesta idade,
conforme aconteceu. E assim curvo-me diante dos
sagrados desígnios de Deus, registrando agora a
minha gratidão.
4
Peço ao Pai de Infinita Misericórdia que o proteja e
abençoe,
n
Basileu

Notas da organizadora:
[1] Sobre Basileu não nos foram dados maiores informes.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.
Texto extraído da 1ª edição desse
livro.
27

Luzes da paciência e da coragem


25|10|1938
1
Meus filhos, Deus os abençoe!
Sou a velha tia Mariquinhas, que lhes deseja muito
boa noite.
2
Maria, minha filha, não se esqueça de Nhanhá em
suas orações, pedindo a Jesus derrame sobre ela
as luzes da paciência e da coragem para as lutas
em família.
3
Tenho procurado auxiliá-la em tudo o que me é
possível. Mormente na parte referente à filhinha do
Lívio, n — você sabe como são essas coisas, — a
Nhanhá é um coração muito generoso e muito
sensível!
4
Das sementes sagradas que me confiou o Senhor, a
alma de mãe reconhece que é ela a que mais gratas
alegrias me trouxeram ao coração. Fico muito grata
por todas as ações que praticarem pelo bem dela
cooperando comigo, a fim de a fortalecermos nas
suas grandes lutas domésticas.
5
Deus os ampare sempre nas obrigações abençoadas
da vida material!
A velha tia muito amiga,

Mariquinhas
Notas da organizadora:
[1] Refere-se a Lívio Renault, filho de Nhanhá, sobrinho de
Arthur Joviano, portanto, primo de Rômulo, meu pai.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
.

Trabalhadores para a obra

16|11|1938
1
Julinha, minha querida,
Há muito tempo não me comunico diretamente,
pois queria ter a grata satisfação de te trazer as
boas-vindas às nossas íntimas reuniões aqui.
2
A minha grande alegria, a maior, talvez, que trouxe
das lutas terrenas, é a de encontrar no teu coração
fraterno e carinhoso a sobrinha continuadora de
meus pobres esforços. Fiz tudo para esperar-te, na
tua volta ao Rio, em abril do ano passado, pois, de
viva voz, desejava confiar-te a minha tarefa junto
aos cegos. Muitas vezes perguntei, ansiosamente, à
Mariquinhas sobre o teu regresso, mas Deus,
infinitamente bom e misericordioso, atendeu às
minhas súplicas, permitindo que te falasse daqui, na
linguagem sagrada do coração. 3 Aquele alfabeto
em que te mandei a mensagem é pouco conhecido,
mas não é somente meu, como se poderia pensar.
Um novo amigo mo deu a conhecer há muito tempo
em um velho livro, que, se agora não me engano,
intitula-se “O mundo na mão”. Não te será difícil
verificar isso, de novo, para mim. Se assim procedi
foi para mais reforçar a minha presença,
autenticando o meu pedido. 4 Graças a Deus, o teu
esforço tem sido de uma renúncia edificante! A
máquina, minha filha, tem sido um extraordinário
recurso, pois Jesus me tem concedido a graça de
ajudar-te frequentemente! Agora, estamos
formando um bloco de Espíritos amigos para
aproveitar a tua boa vontade e o teu devotamento.
Precisamos iniciar o nosso esforço na campanha do
dicionário para os cegos. n Faremos um apelo e
aparecerão trabalhadores para a obra.
5
Dentre os colaboradores de teu e nosso esforço,
quero dizer-te que sobressai também a cooperação
de nossa irmã Alina de Britto, n que te pede
conduzir a filhinha para essa abençoada oficina em
favor dos cegos, como vens fazendo. 6 O nosso
irmão Casimiro Cunha n vai, também, auxiliar-nos,
e enquanto vais recrutando os encarnados eu não
descansarei procurando a colaboração de bons
amigos do Plano espiritual. 7 A Maria precisa
também ajudar-te no esforço do dicionário, pois
haveremos de realizar essa tradução de tanta
importância para os nossos amigos que não têm os
favores dos olhos. Vamos com a bênção de Jesus,
pois precisamos vencer.
8
Não guardes pressentimentos de desencarnação em
teu mundo íntimo. Precisamos muito de tua
colaboração aí na Terra. Tenho me avistado com o
Daniel, que vai bem, graças à Misericórdia Divina.
Ele sempre se refere ao santo interesse de teu
coração nas preces que tanto bem lhe fizeram ao
íntimo abatido.
9
Frequentemente, busco avistar-me com tua mãe, que
só agora se lembra daquelas nossas palestras
antigas, cujos bons frutos não permitiu a Igreja que
ela aproveitasse. Como sabes, nunca é tarde para
chegarmos à verdade! 10 Deus te abençoe o coração
nas lutas do mundo! Eu, que vivi aí quase um
século, conheço de sobra as suas angustiosas
amarguras. Nunca percas a oportunidade de
confortar Mariquinhas, edificando as meninas
igualmente, nas ideias consoladoras de nossa
Doutrina de tanto conforto para a alma. 11 Estou
com todos sempre que posso e rendo louvores ao
Céu vendo em ti não uma sobrinha comum, mas
uma filha muito querida do coração.
12
A todos os nossos as lembranças amigas e
carinhosas da velha tia Engracinha. Voltarei sempre
que possível a te animar na tarefa que impusemos a
nós mesmas. E que Deus abençoe todos os teus
devotamentos e sacrifícios, nessa grande ação
edificadora dos nossos irmãos surpreendidos pela
cegueira! É a súplica de hoje que, muito feliz e
confortada, eleva a Deus o coração da tia que nunca
te esquece,

Engracinha

Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se ao Dicionário da Língua Portuguesa, de
autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso,
vide ANEXO C à página 425.

[2] Sobre o trabalho realizado por vovó Júlia, vide


o ANEXO C à página 425. Na atualidade, existe uma
escola estadual nomeada Alina de Britto na cidade do Rio
de Janeiro, na Rua Frei Luiz Alevato, no bairro Taquara.

[3] Natural de Vassouras | RJ. Casimiro Cunha figura entre


os poetas cujos poemas integram o livro Parnaso de
além-túmulo, psicografado por Chico Xavier, desde a
primeira edição, em 1932. Era cego por acidente, ocorrido
quando contava 16 anos. Tinha apenas instrução primária.
Era espírita confesso. Compareceu inúmeras vezes ao
culto do Evangelho do Grupo Doméstico Arthur Joviano,
deixando sua presença registrada em carinhosas poesias,
como em “Boa noite”, em 22 de dezembro de 1938. Eu,
então com 12 anos, acabara de arrumar a mesa em que se
realizaria a reunião e enquanto meus pais — Rômulo e
Maria — conversavam com Chico Xavier, em outro local,
escrevi “boa noite” em uma folha de bloco e me retirei.
No dia seguinte, fui presenteada com inesquecíveis
versos, posteriormente publicados no livro Cartas do
Evangelho — poesias mediúnicas de Casimiro Cunha,
pela Editora LAKE | SP.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
29
.

Lembranças carinhosas

05|12|1938
1
Minha boa Julinha,
Deus te abençoe e te proteja! Sinto-me feliz com a
oportunidade que Jesus me concede, podendo
dirigir-me ao teu coração nesta noite. Não se trata
da nossa Marie, minha filha, mas sim de tua pobre
avozinha, n que somente hoje pode dar às verdades
do Espiritismo o devido apreço, vindo trazer a
expressão afetuosa de seu amor à filha generosa e
sincera, que tantos bens derramou sobre a minha
pobre alma no infinito dos espaços, com
suas lembranças carinhosas, nas suas preces
sinceras e puras!
2
Venho hoje, minhas filhas, com o coração
transbordante de gratidão a Deus, trazer-vos a
minha saudade, mas também a minha alegria, por
reencontrar-vos sob a bênção amorosa de Jesus!
3
Julinha, minha querida filha, o mundo cada vez
mais nos oferece o doloroso espetáculo das mais
angustiosas provações e eu me aflijo, no meu
coração de mãe, vendo as queridas filhas no seio
das lutas numerosas. Tenho procurado consolar a
Esther, n como me tem sido possível. 4 Genuflexa
aos pés dos grandes mensageiros de Jesus, não sei
agradecer a graça de vê-la melhorada, no que se
refere à saúde, mas quanto à saúde moral sinto que
a minha pobre filhinha traz o coração abalado para
sempre. Pedi muito ao papai n que não a
abandonasse, pois ele tem uma experiência mais
vasta que a minha e um progresso espiritual muito
mais avançado do que o meu estado espiritual de
boa vontade e de fé no poder misericordioso de
Jesus. 5 E é assim que tive a felicidade de vê-la
mais confortada nas provas ásperas, com as quais o
seu espírito sensível e confiante não contava. Pobre
Esther! Tão boa, tão caridosa e tão profundamente
sofredora!… Consola-a sempre que possas, minha
boa Julinha, e dize-lhe, de minha parte, que eu a
compreendo e estou com as suas meditações,
sempre que posso. 6 Acompanho, muitas vezes, os
seus exercícios religiosos e tenho que justificar o
seu apego à Igreja, porque ela sente necessidade
dos altares e dos símbolos para concentrar os
poderes de sua fé. Hei de ajudá-la a transpor a
barreira dos sofrimentos morais, com a
misericórdia de Jesus!
7
Quanto à nossa Mariquinhas, continua com os teus
esforços em ampará-la contra os vendavais da
existência. Mariquinhas está sempre preocupada
com as filhas, mas não justifica o pessimismo e as
depressões nervosas que, por vezes, tanto a fazem
sofrer. Todos os casos se resolvem e grande é a
misericórdia de nosso Pai, em face do grande
número de nossas faltas e de nossas fraquezas. Aos
poucos, resolveremos todos os assuntos.
8
Em tua casa, tenho seguido todas as tuas atividades
e peço a Deus abençoar-te os bons propósitos. Sei
dos teus pensamentos acerca dos filhinhos e
conheço as tuas aspirações e as tuas
esperanças. n Sinto-me ditosa dizendo algo sobre
cada um deles para encarecer a necessidade de
muito agradecermos a Jesus pela misericórdia de
seus altos benefícios. 9 A Maria, como sabes, já não
te dá tantos cuidados, pois herdou a fé que te
alimenta o coração no mesmo propósito de estudo,
de fé e convicção sadia. Era justo que muito te
preocupasses com ela em outros tempos, quando a
crença consoladora ainda não se havia arraigado em
seu coração, mas agora ela é a tua mais sincera
colaboradora na família, abrindo o caminho para a
evolução dos demais.
10
Quanto ao Armando, n é justo que te preocupes,
mas a verdade é que ele tem grande resistência na
luta para resolver os problemas da vida material.
Tudo virá a seu tempo e melhores dias hão de
felicitar o caminho de sua boa vontade e de seu
esforço no sacerdócio da Medicina.
11
Sobre a Iacy, n bem sabes das dificuldades que se
nos antolham, em face das questões espirituais.
Todavia, o seu esposo, por adotar os princípios
católicos, não deixa de ser um coração muito
sincero, realizador e generoso. Na verdade, é a filha
que mais necessita das tuas preces, mas nós
saberemos protegê-la em todas as dificuldades.
12
Sobre a Aurélia, acredito que tudo vai muito bem.
O Clóvis n é um companheiro carinhoso e leal,
trabalhador e generoso. Conforta-a sempre,
fortalecendo-lhe o ânimo para as lutas necessárias
do lar. Foi com ela que o teu Aramis n pôde
regressar às provas purificadoras da Terra e na sua
inexperiência de mãe de família não podes esquecer
que ela não pode prescindir dos teus cuidados.
13
Sobre o Mário, não deves te preocupar com a
questão do casamento. Isso é um problema cuja
solução deve chegar espontaneamente ao coração
de cada homem. Ele é ainda bastante jovem para
semelhantes responsabilidades e deves aguardar
pacientemente a solução do tempo. Noto que ele
está muito melhor, mais bem disposto e muito mais
forte.
14
Quanto ao Aurélio, sou eu quem te pede deixá-lo
agora livremente na Cruz dos Militares. Ele sabe
nos compreender e conhece a importância da
confortadora Doutrina dos Espíritos, mas existem
questões de ordem puramente social que exigem a
colaboração dele em beneficio da própria
coletividade. Confia nele e não te deixes levar pelas
contrariedades injustificáveis.
15
Muito falei sobre todos os nossos e como a
Engracinha te deu uma incumbência também te dou
uma tão importante quanto a dela, que é a de
velares por todos os nossos, aconselhando, com o
máximo de sinceridade, às irmãs, no que se refere
às lutas de ordem material. Lembro-me do esforço
de todos quando nas lutas com a escola e abençoo
os trabalhos que as nobilitaram para a vida.
16
Fizeste muito bem reservando as providências
sobre a Wanda, quando de tua vinda para cá, pois
fui eu própria que te inspirei a medida,
considerando os problemas da vida e do futuro.
Deus te abençoe e conceda fortaleza a cada um dos
nossos para o desempenho dos deveres neste
mundo!
17
Tenho apreciado muito o serviço de tuas traduções
para os ceguinhos. A Engracinha está entusiasmada
com os teus esforços e eu disse a ela que ambas as
duas, tia e sobrinha, sempre se entenderam melhor,
desde que a Engracinha ainda estava neste mundo!
18
Muito grata, meus filhos, pelo vosso concurso e
que a paz esteja sempre com todos. É o desejo
daquela que sendo mãe e avó sobre a Terra é hoje
uma irmã dedicada, muito sincera e muito amiga,

Júlia

Notas da organizadora:
[1] A entidade respondeu à neta Maria Joviano, que disse ao
marido pensar ser Marie o Espírito a comunicar.
Anotação feita por vovó Júlia no original da mensagem.

[2] Em referindo-se a uma das filhas.

[3] Referência ao meu bisavô materno, Mal. Antonio José


Maria Pêgo Junior.

[4] Em referindo-se aos netos, filhos de vovó Júlia e vovô


Aurélio: Maria, minha mãe, Aurélia, Armando, Aramis,
Mário e Iacy.
[5] Em referindo-se a Armando Pêgo de Amorim, que se
formou médico.

[6] Iacy era casada com Oswaldo Benjamim de Azevedo.

[7] Clóvis Mendes de Moraes era o esposo de Aurélia.

[8] Sobre Aramis há duas mensagens datadas de 1936 na


obra Deus conosco, VINHA DE LUZ, 3ª ed., (2010), da
psicografia de Chico Xavier, com mensagens de
Emmanuel, nas p. 86-89, das quais depreende-se ter sido
o referido Espírito filho do casal Júlia e Aurélio de
Amorim. Aurélia e Clóvis tiveram três filhos: Clóvis
Augusto, Clóvis Filho e Clóvis Alberto.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
31

Erros clamorosos
12|1938
1
Julinha,
Antes de tudo peço a Deus que te proteja sempre!
Venho hoje aqui, diante do teu bom coração, como
uma penitente, rogando a Jesus abençoe o meu
arrependimento por não ter-te compreendido na
medida do necessário, bem como ao Aurélio, que
tudo fez por me advertir, de maneira que eu
pudesse abandonar, em tempo, o errado caminho.
Grandes foram os meus martírios morais em
Niterói e só Deus sabe o que sofri na minha
desencarnação dolorosa!
2
Inúmeras vezes fui à tua casa com o fim de pedir
perdão a todos, mas na triste condição de alma
sofredora era em vão que eu clamava as minhas
dores, já sem remédio. Procurei Dedé muitas vezes
para fazê-la sentir o meu doloroso estado de alma
no meu tardio arrependimento pelo muito que a fiz
sofrer… Mas era tarde, muito tarde… Em vão,
gritava-me a consciência pelos meus erros
clamorosos! Explorada na minha boa fé, paguei
um preço caro pelas irreflexões do meu
pensamento.
3
Confortavam-me, porém, minha boa amiga, as
preces que fizeste pelo meu descanso moral. Tuas
vibrações fraternas me tocaram a alma, porque sei
que me perdoaste e me compreendeste a
desventura.
4
Hoje, quando todos os véus da vaidade já se
dissiparam, apresento-te minha alma culpada sim,
mas compungida, em face do passado, para tão
somente esperar aquela misericórdia infinita que
não nos desampara. Meu generoso e santo
Ambrósio tudo tem feito pelo meu coração ainda
amargurado. Deus te abençoe e te proteja!
5
Peço-te, bem como à Maria, para não me esquecer.
Estou mais lúcida, mas ainda me sinto muito infeliz
e muito abatida. Ajudem-me com os pensamentos
de amor e de perdão pelas minhas fraquezas.
Estendo o meu pedido também à Dedé. Bem que eu
precisava ter pensado melhor sobre o meu futuro,
compensando-lhe as dedicações pelos muitos bens
que ela me fez, mas eu estava cega e não podia ver.
Pede a ela, Julinha, que me perdoe, sem me
esquecer nas orações dela.
6
Muito agradecida pelas tuas dedicações espirituais.
E rogo a Deus que derrame as Suas bênçãos sobre
todos. Sou a pobre irmã,

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18 e 21.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro

32

O corpo espiritual n
(Sumário)

Produção mediúnica oferecida pelo médium Francisco C.


Xavier ao Dr. C. Ottoni.

Dr. Christiano, oferecendo-lhe este meu trabalho


mediúnico, desejo explicar-lhe que Emmanuel é
uma entidade que escreve por meu intermédio, cujas
produções têm sido publicadas ultimamente, no Rio,
pela imprensa espiritualista.
Esta é a sua última produção e como trata de uma
questão científica, quis oferecer-lha neste
manuscrito modesto. Se o assunto está aqui exposto
com a preparação necessária é o que eu ignoro, em
vista da minha pobreza intelectual.
O senhor há de avaliar este humilde manuscrito e se
o julgar vazio e inútil, fica a boa intenção de
minh’alma muito agradecida que lhe oferece esta
lembrança.
P. Leopoldo, 28-9-1934.
Francisco Cândido Xavier.

Produção de Emmanuel, recebida em 25 e 26 de setembro


de 1934.

1 Todos os fenômenos da vida, que se apresentam ao raio


visual da ciência humana, mantenedores do seu
entretenimento, são os da assimilação e desassimilação,
todavia, os que afetam mais particularmente a percepção
do homem não são os da atividade vital em si mesma,
consubstanciados nas sínteses orgânicas assimiladoras,
mas justamente os fenômenos da morte. É um axioma
fisiológico a extinção das células que constituem o
suporte de todas as manifestações do organismo e apenas
apreciais geralmente uma ideia da vida, por intermédio
desses movimentos destruidores.

2 Quando no homem ou nos irracionais uma ação se opera


determina o desaparecimento de uma certa percentagem
de substâncias da economia vital; quando a sensibilidade
se exterioriza e quando os pensamentos se manifestam,
eis que os nervos se consomem, gastando-se o cérebro em
suas atividades funcionais.
A vida corporal é bem a verdadeira expressão da morte,
através da qual efetuais as vossas observações e os vossos
estudos.
Não dispondes, dentro da exiguidade dos vossos sentidos,
senão de elementos que constatam a perda de energia, a
luta vital, os conflitos que se estabelecem para que os
seres se mantenham no seu próprio habitat.
A vida, em suas causalidades profundas, escapa aos vossos
escalpelos e apenas a embriogenia observa na penumbra e
no silêncio, infinitésima fração do fenômeno assimilador
das criações orgânicas.

3 Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula primitiva é


comum em todos os seres vertebrados e espanta ao
embriogenista a lei organogênica que estabelece a ideia
diretora do desenvolvimento fetal, desde a união do
espermatozoário ao óvulo, especificando os elementos
amorfos do protoplasma; nos domínios da vida, essa ideia
diretriz conserva-se inacessível até hoje aos vossos
processos de indagação e de análise, porquanto esse
desenho invisível não está subordinado a nenhuma
determinação físico-química, porém, unicamente ao corpo
espiritual preexistente, em cujo molde se realizam todas
as ações plásticas da organização e sob cuja influência se
efetuam os fenômenos endosmóticos. Organismo fluídico
caracterizado por seus elementos imutáveis é ele o
assimilador das forças protoplásmicas, o mantenedor da
aglutinação molecular que organiza as configurações
típicas de cada espécie, ele incorpora-se átomo por átomo
à matéria do gérmen, dirigindo-a segundo a sua natureza
particular.

4 Algumas objeções científicas têm sido apresentadas à


teoria inconfutável do corpo espiritual preexistente,
destacando-se entre elas como a mais digna de refutação a
hereditariedade, a qual somente deve ser ponderada em
sua feição fisiológica. Todos os tipos do reino mineral,
vegetal, animal, incluindo-se o hominal, organizam-se
segundo as disposições dos seus precedentes ancestrais,
dos quais herdam naturalmente pela lei das afinidades
electivas a sua sanidade ou os seus defeitos de natureza
orgânica unicamente.
De todos os estudos referentes ao assunto, em vossa época,
salienta-se a teoria darwiniana das gêmulas, corpúsculos
infinitesimais que se transmitem pela via seminal aos
elementos geradores, contendo na matéria embrionária a
disposição de todas as moléculas do corpo que se
reproduzem dentro de cada espécie.
A maioria das moléstias, inclusive a dipsomania são
transmissíveis, porém, isso não implica um fatalismo
biológico que engendre o infortúnio dos seres, porque
inúmeros Espíritos, em traçando o mapa do seu destino,
buscam, com o escolher semelhantes disposições, alargar
as suas possibilidades de triunfo sobre a matéria, como
um fato decorrente das severas leis morais, as quais, como
no ambiente terrestre, prevalecem no mundo espiritual e
que não nos cabe explanar neste estudo.
Não obstante a preponderância dos fatores físicos nas
funções procriadoras é totalmente descabido e inaceitável
o atavismo psicológico, hipótese aventada pelos
desconhecedores da independência da individualidade
espiritual e que revestem a matéria de poderes que jamais
possuiu em sua condição de passividade característica.
Reconhecendo-se, pois, a veracidade da argumentação de
quantos aceitam a hereditariedade fisiológica nos atos da
procriação, representando cada organismo aquele de que
provém por filiação, afastemos a hipótese da
hereditariedade psicológica, porquanto, espiritualmente
devemos considerar apenas, ao lado da influência
ambiente, a afinidade sentimental.

5 De todas as funções gerais que caracterizam os seres


viventes, somente os fenômenos da nutrição podem ser
estudados pela perquirição científica e mesmo assim,
imperfeitamente.
Além das operações comuns que se efetuam
automaticamente, há uma força inerente aos corpos
organizados, que mantém coesas as personalidades
celulares, sustentando-as dentro das particularidades de
cada órgão, presidindo aos fenômenos partenogenéticos
da sua evolução, substituindo, através da segmentação,
quantas se consomem nas secreções glandulares, no
trabalho do equilíbrio orgânico. Essa força é o que
denominais princípio vital, essência fundamental que
regula as existências das células vivas e na qual elas se
banham constantemente, encontrando assim a sua
necessária nutrição, força que se acha esparsa em todos os
escaninhos do universo orgânico, combinando as
substâncias minerais, azotadas e ternárias, operando os
atos nutritivos de todas as moléculas. O princípio vital é o
agente entre o corpo espiritual e a matéria passiva,
inerente às faculdades superiores do Espírito, o qual o
adapta, segundo as forças cósmicas que constituem as leis
físicas de cada Plano de existência, proporcionando essa
adaptação às suas necessidades.
Essa força ativa e regeneradora de cujo enfraquecimento
decorre a ausência de tônus vital, precursor da destruição
orgânica é a ação criadora e conservadora do corpo
espiritual sobre os elementos físicos.

6 O corpo espiritual não retém somente a prerrogativa de


constituir a fonte da força plástica e misteriosa da vida, a
qual opera a oxidação orgânica, é também a sede das
faculdades, dos sentimentos e da inteligência e sobretudo
é o santuário da memória, em que o ser encontra os
elementos comprobatórios de sua identidade, através de
todas as mutações da matéria.
7 As células orgânicas renovam-se incessantemente e como
pode a criatura conhecer-se entre essas contínuas
transformações? O pensamento, que desconhece
glândulas que o segreguem, porquanto constitui a
vibração consciente do corpo espiritual, para que se
manifeste, quantas células se consomem e se queimam? O
cérebro assemelha-se a um complicado laboratório, onde
o Espírito, prodigioso alquimista, efetua maravilhosas
associações atômicas e moleculares, necessárias às
exteriorizações inteligentes.
É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve o prodígio da
memória, misteriosa chapa fotográfica, onde tudo se
grava, sem que os menores coloridos das imagens se
confundam.

8 A neurologia tem procurado explicar toda a classe de


fenômenos intelectuais através das ações combinadas do
sistema nervoso e, de fato, atingiu certezas irrefutáveis,
como por exemplo as de que uma lesão orgânica faz
cessar a manifestação que lhe corresponde e que a
destruição de uma rede nervosa faz desaparecer uma
faculdade; semelhante asserto, porém, não elimina a
verdade da influenciação de ordem espiritual e invisível,
porque faz-se mister compreender a alma não isolada do
corpo, mas ligada a ele, o qual, representa a sua forma
objetivada, como um aglomerado de matérias
imprescindíveis à sua tangibilidade, animadas pela sua
vontade e pelos seus atributos imortais.
Algumas escolas filosóficas fizeram da alma uma abstração,
mas a psicologia moderna restabeleceu a verdade, unindo
os elementos psíquicos aos materiais, reconhecendo no
corpo a representação da alma, representação material
necessária, segundo as leis físicas imperantes na Terra, as
quais colocaram no sensório o limite das percepções
humanas, as quais são exíguas em relação ao número
ilimitado das vibrações da vida, que para elas se
conservam inapreensíveis.
É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica que assimila a
matéria ao seu molde, à sua estrutura, a fim de
materializar-se no mundo palpável; sem ele a fecundação
constaria de uma composição amorfa e todas as
manifestações inteligentes e sábias da natureza, que para
nós deve significar a expressão da vontade divina,
constituiriam uma série de fatos irregulares e
incompreensíveis, sem objetivo determinado.
Todas as faculdades organizadoras são oriundas do Espírito.

9 E como se tem operado a evolução do corpo espiritual?


Remontai ao caos telúrico do vosso globo nas épocas
primárias. Cessadas as perturbações geológicas,
estabelecido o repouso em algumas grandes extensões do
orbe, eis que entre as forças cósmicas associadas aparece
o primeiro rudimento da vida organizada — o
protoplasma; eis que os séculos se escoam, eis os
infusórios, as amebas, os zoófitos, os seres monstruosos
das profundidades submarinas…
Recapitulemos os milênios passados e acharemos a nossa
própria história. A individualidade, o nosso “ego”
constitui o nosso maior triunfo; e chegados ao raciocínio,
ao sentimento da humanidade, através de vidas
inumeráveis, teremos atingido o zênite de nossa evolução
anímica? Não. Se vós e nós que ainda conservamos as
características da nossa existência, nos encontramos
acima dos nossos semelhantes inferiores, os irracionais,
acima de nós se acham os seres superiores da
espiritualidade, que se hierarquizam ao infinito e cuja
perfeição nos compete alcançar.

Emmanuel
[1] Nota da editora: Mensagem oferecida por Chico Xavier
ao médico Dr. Christiano Ottoni, prefeito de Pedro
Leopoldo, MG. [No livro impresso essa mensagem foi
publicada na forma de fac-símile do original, um
opúsculo manuscrito produzido pelo médium, contendo
16 páginas enumeradas em algarismo romano.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
33

Forças para a luta


12|01|1939
1
Maria, minha bondosa filha,
Eu estou presente e rogo a Deus que te
abençoe! 2 Volto hoje a falar contigo com respeito à
nossa pobre Esther, tão necessitada de nossas
preces e de nossa assistência espiritual. Não leves
em conta, minha filha, a sua intolerância em
matéria religiosa. Aliás, conhecendo essas
circunstâncias, sempre me abstive de falar nela e
em Maria Lydia, em comunicados anteriores. Não
se encontram em condições de entender a minha
pobre alma, que tanto bem lhes deseja.
3
Parece que esse sofrimento, Maria, é uma das
provações forçadas para os Espíritos desencarnados
que muito se enganaram sobre a Terra. E eu tive
minhas responsabilidades agravadas, porque
conhecia os problemas religiosos na sua intimidade
e podia ajuizar sobre os meus erros em vinculando
excessivamente o meu Espírito nas ilusões da igreja
católica. 4 Vê, pois, minha filha, quanto devo
sofrer! Logo as duas almas que mais necessitam de
ouvir hoje os meus apelos não aceitam as sinceras
confissões da velha mãe, que, aliás, foi culpada em
não lhes abrir convenientemente os olhos, quando
ainda de minha permanência sobre a face da Terra.
5
Deus me conceda forças para a luta e muita paz a
nós todos para o desdobramento de nossos labores.
6
Envia minhas palavras à Julinha, com a minha
bênção. E rogando a todos muita tranquilidade,
rogo-te não esqueceres Esther em tuas preces,

Júlia

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
34
.

Redenção ao pecador

01|03|1939
1
Minha querida Julinha,
Antes de tudo eu peço a Deus por ti e por todos os
nossos que se acham presentes!
2
Dou-te novamente as boas-vindas ao nosso recanto
de orações, felicitando-te, e ao nosso Aurélio, pela
decisão de buscarem um pouco do repouso da
paisagem, junto da Maria. n Eu, graças a Deus,
continuo trabalhando, dentro dos meus recursos em
favor dos menos favorecidos. 3 Assim mesmo como
tu, que recruta as amigas menos ocupadas no lar
para o grande labor pela paz dos cegos, também eu
tenho movimentado os meus esforços junto de
alguns Espíritos abnegados do Invisível para
intensificarmos os nossos esforços. Tenho aqui
operado agora numa grande e abençoada escola,
onde são recebidos os que se desencarnam na
cegueira da vida terrestre.
4
Conhecendo as minhas intenções e os meus desejos,
os grandes mensageiros de Jesus me concederam a
felicidade de prosseguir com os trabalhos
interrompidos com a minha desencarnação, mas
continuados aí no mundo pela tua boa vontade e
dedicação.
5
É interessante esse novo gênero de serviços pelos
cegos, porque a maioria, em se separando do
organismo carnal, supõe continuar com as mesmas
impressões físicas de sombra, tateando no caminho
de suas atividades mecanizadas. 6 A nossa escola
recebe os cegos pacientes e generosos, os que
foram crentes e cheios de fé, dotando-lhes
novamente com os sagrados dons da vista. Em cada
hora observamos cenas comovedoras de risos e
lágrimas misturados às mais santificadas emoções!
Em nosso ambiente, portanto, verifica-se, para
muitos, o término de longas e amargurosas provas,
que por longo espaço de tempo retiveram essas
almas no lodo terrestre.
7
Aqui, pois, minha filha, tenho conhecido muitos
inquisidores, criminosos, nobres antigos que
fizeram jus à expiação amarga da cegueira no Plano
material, sem saber como louvar a este Deus de
Bondade Infinita, que em todas as oportunidades e
situações oferece os recursos de redenção ao
pecador da vida terrestre. 8 Aos nossos amigos de
labor espiritual explico sempre que és a minha
dedicada companheira da Terra, onde localizo a
continuação de nossos esforços no obscuro Plano
terrestre. Muitos desses guias procuram, então,
fortalecer-te, ligando o teu trabalho ao nosso, de
modo que deves contar sempre com a assistência de
desvelados mentores espirituais. 9 Essas obrigações
não me impedem de me interessar pelos nossos
familiares, mesmo porque a situação espiritual e
física de Mariquinhas e das filhas me preocupa
sempre e não perco oportunidade de lhes levar ao
íntimo o conforto moral de que posso dispor com as
minhas ainda fracas possibilidades. Estou, porém,
muito satisfeita com as minhas atividades no Plano
espiritual. 10 Assim como os cegos têm aí
benfeitores na vida material, que provêm do
necessário a todos os que desejam trabalhar nas
bibliotecas circulantes, nós também temos grandes
mestres, que nos visitam e nos ensinam como
reeducar o cego que chega da Terra saturado de
impressões penosas da vida material. 11 Dizem-me
até, os nossos companheiros, que desses grandes
centros espirituais é que partem as ideias nobres em
favor da educação dos nossos ceguinhos da Terra.
Por exemplo, a ideia da criação da máquina n que te
faz escrever em um mês aquilo que eu não poderia
produzir em um ano.
12
Vês, pois, minha querida Julinha, que existem
tarefas definidas dentro desse complexo de nossas
obrigações, porquanto, pelas minhas palavras,
podes reconhecer que os teus serviços estão
subordinados, embora indiretamente, ao nosso
mundo de atividades do Plano invisível.
13
Peço a Deus que te proteja e abençoe junto de
todos os nossos. Daniel me pede transmitir a todos
as mais carinhosas lembranças. E rogando a Jesus
muita paz para o teu coração, deixo-te aqui um
ósculo afetuoso da velha tia e amiga de sempre,

Engracinha

Nota da organizadora:
[1] Vovó Júlia e vovô Aurélio residiam na capital do Rio de
Janeiro e sempre passavam as férias em nossa casa na
Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo. Vovó Júlia, nesses
períodos, e em diferentes anos, copiou à máquina todas as
mensagens psicografadas por Chico Xavier, de 1935 a
1952.

[2] [Máquina de datilografia para o alfabeto Braile.] ( † )

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
35
A família terrena é um instituto de purificação

16|03|1939
1
Minha prezada Julinha,
Deus te ampare e proteja a todos!
2
Além dos nossos labores comuns, não me tenho
descuidado de tuas necessidades espirituais em
família. Temos, eu e alguns amigos, ouvido as tuas
orações pela tranquilidade do teu Mário, e tudo
faremos pelo restabelecimento da saúde dele. Sei
que te impressionas muito com ele, pois dos filhos
reconheces ser o Mário o mais necessitado de
assistência e de carinho pela delicadeza de sua
organização nervosa.
3
As provas, minha querida, são naturais. O Mário,
algumas vezes, tem sido objeto de influências do
Invisível, mas essas influências não chegam ao
terreno de uma obsessão propriamente dita. Graças
a Deus, vamos conseguindo alguma coisa em
beneficio dele. Calma e fé! Não deves incliná-lo
fortemente à solução do problema do matrimônio,
mas sim esperar que todas as providências de sua
vida se processem espontaneamente. 4 Como
sabes a família terrena é um instituto de
purificação e se alguns filhos representam a
realização de todo o desejo dos pais, há outros que
fogem a essa regra, mesmo porque o mundo é de
provações e tudo será solucionado na pauta da
Misericórdia Divina.
5
O Mário deve continuar o tratamento, e também
com a água fluida, que lhe faz grande bem. Guarda
o teu coração materno em paz, iluminado pelo
clarão da fé! Deus, na Sua bondade, permitirá que
tudo se resolva bem para todos nós. Das entidades
que por vezes o acompanham, a Beatriz n é, de fato,
uma delas, mas estamos cuidando desses casos com
todo o nosso carinhoso interesse.
6
Confiada em Deus, despeço-me por hoje,
desejando-te o bem, como a todos os presentes e
aos nossos familiares ausentes muita tranquilidade
de coração.
Da velha tia,
Engracinha

Nota da organizadora:
[1] Sobre Beatriz não nos foram dados maiores informes.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
36

Sacrossantos deveres
12|04|1939
1
Meus caros filhos,
Deus vos conceda a fortaleza necessária em face
das lutas da existência terrestre!
2
Nas vésperas de teu regresso, meu prezado Aurélio,
em busca de nossas lutas nas organizações da
Cruz, n quero trazer-te o meu abraço de sempre,
rogando a Deus que te abençoe, bem como à nossa
querida Julinha, no desempenho de
seus sacrossantos deveres. Na Cruz, meu caro, há
sempre o campo de trabalho, onde precisamos
mobilizar todos os nossos esforços. Eu espero que
continues com a mesma dedicação de sempre ao
lado de nossos companheiros e realizações,
disseminando os seus benefícios. 3 Ao nosso lado,
no Plano espiritual, temos um nobre amigo,
desencarnado há quase um século. Trata-se do ex-
Marechal de Campo Joaquim Norberto Xavier de
Brito, n desencarnado no Rio de Janeiro em 17 de
julho de 1843, achando-se ainda os seus despojos
no antigo Convento de Santo Antônio. † Joaquim
Norberto era português de origem e constitui um
dos baluartes de nossos trabalhos em nossa
preciosa organização beneficente. Peço a Deus que
nos torne a todos sempre dignos de suas mercês no
caminho sagrado de nossas atividades individuais.
4
Engracinha está presente, tendo vindo também para
trazer o seu ósculo de amor à Julinha. Deus
abençoe a todos os presentes!
5
Esperando que prossigas no mesmo ideal de sempre,
sou o velho amigo de todos os dias,
Antoninho n

Notas da organizadora:
[1] Em referência à Irmandade da Santa Cruz dos Militares,
da qual vovô Aurélio foi provedor por muitos anos.
[2] Joaquim Norberto Xavier de Brito (Lisboa, c. 1774 —
Rio de Janeiro, 1º de julho de 1843) foi um militar luso-
brasileiro. Iniciou sua carreira na Academia de Marinha,
prosseguindo seus estudos na Real Academia de
Artilharia, Fortificação e Desenho. Em 1796, foi
promovido a tenente, sendo incorporado no ano seguinte
ao Real Corpo de Engenheiros, servindo sob as ordens do
Mal. Duque de Lafões. Foi promovido a capitão em 1805
e passou depois a servir no Arquivo Militar, onde chegou
ao posto de major. Em 1809, foi encarregado de elaborar
a carta militar de uma parte da província de Estremadura.
No ano seguinte, foi nomeado para fortificar a Vila de
Miranda do Corvo e organizar e dirigir os corpos de
milícias e ordenanças necessários à guarnição da vila. Em
1809, foi encarregado das fortificações e linhas de defesa
de Lisboa. No final do mesmo ano, foi posto à disposição
do Cel. Fletcher, comandante dos engenheiros do
Exército, ficando empregado na construção das linhas de
defesa da capital, onde ficou até 22 de junho de 1815,
quando foi promovido a tenente-coronel, a fim de seguir
para o Brasil, junto da Divisão de Voluntários Reais. No
Rio de Janeiro, foi encarregado do depósito da Armação.
No posto de coronel, em 1819, foi transferido para o
corpo de engenheiros do Exército brasileiro. Na capitania
da Ilha dos Açores, foi encarregado das obras das
fortalezas. Regressou ao Rio no ano seguinte, seguindo
para o Rio Grande do Sul como inspetor de fronteiras. Em
14 de abril de 1821, foi nomeado comandante do Corpo
de Engenheiros e diretor do Arquivo Militar. Foi
promovido a brigadeiro em 1822 e efetivado em 1824.
Em 31 de março desse ano, jurou à Constituição do
Império do Brasil. Foi promovido a marechal de campo
em 1832 e designado para vogal do Conselho Supremo
Militar. Em 1837, foi promovido à eletividade do posto de
marechal de campo e transferido para a reserva em agosto
de 1842, por questões de saúde. Foi sepultado no
cemitério São Francisco de Paula, no Rio. Informações
disponíveis em: † Acesso em 22 out. 2012.

[3] Alcunha carinhosa pela qual tratavam o Mal. Antonio


José Maria Pêgo, meu bisavô.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
.

37

Joias de luz que me enfeitam a alma

12|04|1939
1
Minha querida Julinha,
Estamos também reunidos aqui, junto de todos
vocês, e eu suplico a Jesus que te encha o coração
de esperança e de paz, de luz e de amor, cada vez
mais, sempre mais, para as nossas
realizações! 2 Novos deveres te chamam, minha
querida, e terás de regressar para as sagradas
obrigações de nosso ambiente no Rio. Graças a
Deus, sinto em teu íntimo a mesma nobre
disposição que te observei n’alma no primeiro
instante de nossa tarefa. Isso é essencial, minha
querida! A nossa fé deve ser sempre pura e o meu
coração repousa na confiança em tua fibra
espiritual de crente sincera para as nossas
edificações. 3 Deus te pague por todas as alegrias
que me tens dado! Elas são como pérolas do oceano
revolto da Terra. Do mar das inquietações de todos
os nossos, ou quase todos, eu recebo as tuas preces,
as tuas expressões de trabalho e as tuas lembranças
como joias de luz que me enfeitam a alma.
4
Estarei contigo em todas as dificuldades.
Acompanharei os teus passos como uma sombra
amorosa que não te pode esquecer. Aqui no Mundo
Invisível para a Terra, nós compreendemos que os
únicos laços eternos são os do Espírito e do
sentimento, e esses elos divinos vinculam as nossas
almas pela eternidade radiosa. 5 Volta confiante aos
teus deveres sagrados. Jesus abençoará os teus
trabalhos e santificará os teus esforços. Agora
podes levar uma nova claridade ao coração de teu
Mário, que tantas vezes te preocupa o carinho e a
ternura maternal. Deus é misericordioso e de Sua
providência divina chegarão todos os recursos
espirituais para as dificuldades que se apresentam
no caminho.
6
O nosso labor pelos ceguinhos da matéria vai muito
bem. Teu concurso é sagrado e nova cooperação há
de surgir para a realidade de novas conquistas
educativas para os nossos irmãozinhos. Eu te
alvitrarei providências e buscarei orientar as tuas
atividades. Conta comigo sempre. Tua mãe me
pediu para abraçar-te em nome dela e o Antoninho,
aqui presente, como vês, hoje prefere aquele velho
tratamento da nossa intimidade familiar.
7
Deus te abençoe, Julinha! Nem te direi até breve
porque estarei ao teu lado todos os dias. Minhas
carinhosas lembranças à nossa Mariquinhas e
beijando-te com o afeto de sempre pede a Deus por
ti a velha tia,

Engracinha

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

38

Preparação laboriosa

17|05|1939
1
Meus filhos,
Que Jesus conceda a todos vós muita paz ao
coração!
2
Se é justo que a nossa Julinha experimente o
coração cheio de júbilo em vos vendo assinalar os
passos terrestres na luz da crença consoladora do
Espiritismo, eu também, embora tardiamente,
participo dessas suaves alegrias do generoso
espírito de minha filha. Sou eu, minha querida
Aurélia, que pedi aos nossos mais elevados guias
espirituais a doce satisfação de vir trazer-te, e ao
teu companheiro de lutas terrenas, as boas-vindas
em casa de Maria.
3
Eu, tão pobre de luz, minhas queridas, venho até
ambas suplicando-vos a continuidade da fé, a
continuidade de valor espiritual, em face dos
numerosos preconceitos do mundo. Se muitos —
como o meu pobre e imprevidente Espírito — se
perdem pelo excessivo apego às opiniões alheias,
as almas heroicas na crença conhecem a inutilidade
de certos preceitos sociais absurdos que impedem a
nossa visão espiritual, com respeito à contemplação
de horizontes mais vastos.
4
Aqui, minhas queridas, se muito me desiludi,
também muito expiei pela minha prisão nas
futilidades da época em matéria de religião e de
crença. A verdade é que a Igreja não nos prepara
convenientemente para as realidades do além-
túmulo. Depois do meu passamento, debalde
clamei pela assistência dos chamados últimos
sacramentos. Em vão pedi e supliquei, porque em
volta de mim eu colocara a sombra espessa da
incompreensão, sem a luz necessariamente
vigilante para me livrar dos perigos que me
envolviam o coração no domínio das ideias. 5 Aqui
venho colher o fruto amargo de minha
imprevidência espiritual. Nos primeiros meses, foi
em vão que implorava a presença dos nossos bem-
amados que me haviam antecedido na jornada do
sepulcro. Somente depois, muito depois, auxiliada
pelas vibrações fraternas de alguns dos nossos
familiares, consegui compreender a minha penosa
situação. 6 Nas primeiras vezes que enviei à Julinha
as minhas palavras, não cheguei a narrar-lhe a
intensidade dos meus padecimentos morais.
Também não seria agradável que meus primeiros
comunicados traduzissem tão somente queixas
amargas e estéreis lamentações. Contudo, Julinha
percebeu toda a minha posição espiritual nas
entrelinhas. 7 E hoje, mais aliviada das recordações
penosas do mundo, venho até vós trazendo-vos a
minha expressão amorosa e terna de outros tempos
— atualmente, minha grande preocupação, não
preciso esclarecer perante vós, minhas queridas.
Quero referir-me à pobre Esther e à Maria Lydia,
que, embora não fosse filha do meu sangue, foi
uma filha para a minha alma, que sempre a amou,
santamente.
8
Em voltando ao passado, pela imaginação, desejaria
corrigir a minha feição educativa. Se pudesse fazê-
lo, haveria de realizar todos os milagres de afeto, a
fim de que ambas penetrassem por outros
caminhos. Entretanto, eu estou como aquele “rico”
da parábola de Jesus ( † ) e pouco ou nada posso
fazer em beneficio de ambas. 9 Ainda, há tempos,
minha bondosa Aurélia fez indiretamente com que
a Maria enviasse a Esther o meu pensamento
maternal. Era uma das mais corajosas tentativas de
minha alma, abusando da confiança amorosa da
neta cheia de fé e de afeição. No entanto, todos os
meus esforços foram baldados e sou obrigada a
esperar para que o tempo, com sua esponja
milagrosa, apague o mal que pratiquei
consolidando as ilusões religiosas em corações que
jamais poderei esquecer.
10
Se vos conto isso, filhas, não é tão-só para fazer
uma confidência penosa de minha alma. Não
haveria nisso um fim útil. Meu objetivo é de
despertar no coração dos filhos presentes esse
desejo cada vez mais intenso de progredir no
terreno do conhecimento espiritual. 11 Quanto a ti,
Aurélia, Deus te abençoe os bons propósitos,
fazendo com que as flores do teu carinho de esposa
e de mãe frutifiquem a cem por uma. A vida
terrena, minha filha, é essa preparação
laboriosa para o Infinito. Prossegue no teu
caminho de dedicações santificadas e puras! Sê a
sentinela amorosa e consoladora do companheiro
nobre que Deus te deu para a travessia do longo
oceano das provações!
12
Ainda me lembro, querida, como Espírito, das
preces que fiz por ti, nos dias do teu noivado,
rogando a Jesus que não te faltasse com as
realidades confortadoras do sonho caricioso de teu
coração. Daqui todos nós temos amparado o
coração de Aurélia nas lutas redentoras da
existência em família. Querida, Julinha é bem um
guia carinhoso e devotado para as aquisições
espirituais nas estradas terrenas. 13 Como mães,
tendes o coração voltado para aquela que foi o lírio
da piedade e do perdão, no amor mais puro. Como
esposas, devotai-vos aos corações que estão
algemados aos vossos, através de um laço
imperecível.
14
Aurélia, minha querida, antes de me retirar eu
quero te dizer que estamos te auxiliando em todos
os teus esforços para bem realizares os teus planos
de construção moral para o futuro na intimidade
sacrossanta da família. Amigos abnegados do Plano
invisível para os homens buscam amparar o teu
Clóvis na estrada das mais nobres realizações
dentro da vida e eu, como outras amizades tuas,
estamos confiados na Providência Divina em
beneficio de teu ideal quanto ao porvir.
15
À Julinha as minhas carinhosas lembranças,
esperando que, junto da Engracinha, esteja
produzindo o máximo de claridades para os nossos
irmãos menos felizes. Aqui está presente uma
amiga de nome Hermínia, n que te agradece as
preces em favor dela.
16
Meus filhos, Deus vos conceda muita paz de
espírito! Não estranheis o meu tratamento por
“vós” quando o tratamento por “vocês” seria mais
suave e mais íntimo. De qualquer forma, porém,
meus filhos, fiquem com a tranquilidade das
bênçãos de Jesus e com o coração muito afetuoso
da vovó, que muito necessita ainda de vossas
preces,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] Hermínia, de Ponta Grossa, Paraná, mãe de Borell,
amigo de Ururaí, sobre os quais não nos foram dadas
maiores informações.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
39
Preparo para novas lutas
16|08|1939

Maria,
Estou presente e quero dar-te a boa notícia de que
graças à Misericórdia Divina sinto-me bastante
melhorada e mais tranquila! Agora, pela luz
carinhosa de tantas preces sinceras dos familiares e
pelo amparo constante do Ambrósio, consegui
olvidar quem tanto mal me ocasionou, tendo
entregado todos os meus sofrimentos à Justiça
Divina. Agora, estou em preparo para novas
lutas. Quero aprender e trabalhar! Para esse fim
elevado, não me esqueças ainda e sempre em tuas
preces! Deus te recompensará!

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18, 21 e 31.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
40

Discípulos de um Mestre só

12|09|1939
1
Meus irmãos,
Que Jesus vos esclareça!
2
Com a cooperação humilde do nosso esforço em
vossas reuniões, sou também um estudante
humilde. A nossa diferença é a de cursos, mas na
essência somos discípulos de um Mestre só. Os
alunos são a mesma caravana de todos os tempos.
O mestre é Jesus.
3
Estudamos há muitos séculos. Todavia, em nosso
coração houve sempre volumosa pretensão e pouco
mérito real. Enquanto adquirimos novos valores no
Infinito, alguns companheiros buscam novas
expressões de progresso espiritual que a carne lhes
pode oferecer. 4 Não sou extenso em erudição, mas
me consolo com a boa vontade. Não saberei, pois,
dar-vos muitas palavras. Dar-vos-ei, porém, o
sentimento. E como a essência é a base de toda a
conquista, eu estou confortado.
5
Felicito-vos pelo estudo desta noite. O perdão e a
piedade são duas teses de expressão profunda para
o campo de cogitações dos tempos modernos, em
que o homem se viciou com a palavra. 6 Perdoar
constitui a execução da verdadeira lei de Deus.
Outorgando ao Espírito as novas reencarnações,
vemos nessa dispensa de misericórdia o perdão da
Lei, que é o Pai. 7 A bênção da Lei veio com o
grande esquecimento. Daí se infere que para
perdoar é preciso esquecer completamente o mal, a
fim de que o bem não pereça. 8 Quanto à piedade, a
Lei manifesta as suas luzes concedendo-nos a dor,
o trabalho e a experiência. 9 Ter piedade é saber
levantar o irmão infeliz, sem afastá-lo do dever, por
mais rude que a sua obrigação nos
pareça. 10 Exemplificar o perdão é olvidar o
mal. 11 Exemplificar a piedade é cultivar o esforço
próprio como meio de redenção.
12
Eis nossa pobre contribuição. Desejais que as
nossas considerações sejam mais extensas?
Certamente que não. Com a característica singela
de minha palavra, eu vos trago o coração. E bem
sabeis que no coração está sintetizado o próprio
Infinito.
n
Lésio Munácio

Nota da organizadora:
[1] Lésio Munácio é um dos personagens do livro 50 anos
depois, ditado por Emmanuel, psicografado por Francisco
Cândido Xavier (FEB. 1940). Envergou a personalidade
do Rei Dom Dinis, esposo da Rainha Santa Isabel de
Aragão, soberano de Portugal e Algarves nos séculos
XIII-XIV Foi também o pioneiro português João
Ramalho, fundador de São Bernardo de Borba do Campo,
em São Paulo. João Ramalho foi contemporâneo do Padre
Manoel da Nóbrega, no século XVI. No século XIX,
reencarnou em Portugal, na personalidade de Antônio
Gonçalves da Silva, vindo a emigrar novamente para o
Brasil, convertendo-se no pioneiro do Espiritismo, em
São Paulo. Nessa nova encarnação, ficou conhecido como
o benfeitor espiritual Batuíra.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
41

Benefícios divinos
13|09|1939
1
Meus bons amigos, Maria e Rômulo,
Graças à bondade de Deus sinto-me bem forte e de
coração aliviado para poder fazer alguma coisa
agora em favor de minha pobre alma. 2 Junto da
inesgotável fonte dos benefícios divinos, sinto a
influência consoladora de Ambrósio mais perto de
meu coração e hoje as minhas lágrimas são de
agradecimento a Deus e de esperança no
futuro. 3 Tenho tido tanto desejo, tenho
experimentado tão grandes aspirações de progresso
espiritual que acredito estar em preparativos para
uma próxima etapa de lutas na Terra! Permita Jesus
possa eu ser feliz, testemunhando, no porvir, o que
não consegui fazer na derradeira romagem. Nada
tenho a recordar agora dos meus dias tristes, porque
a Justiça Divina se cumpre em toda a parte e dentro
de todas as circunstâncias.
4
As relações espirituais com os queridos amigos
foram, para mim, do mais elevado proveito desde a
minha primeira hora nesta nova expressão de vida e
quero exprimir-lhes o meu profundo
reconhecimento. Agora, não me esqueçam ainda
nas orações! Tenho necessidade das fraternas
vibrações dos seus pensamentos, a fim de me sentir
em harmonia com a vontade de Deus. Que o Céu os
abençoe!
5
Para Julinha e Aurélio, o meu agradecimento de
irmã, renovando-lhes o meu pedido de perdão de
todos os dias.
6
Fui notificada por amorosos guias do Alto de que
agora tenho de me submeter a numerosas
experiências antes de regressar à Terra. Auxiliem-
me com as suas preces! Jesus há de abençoá-los,
concedendo-lhes as melhores realizações espirituais
da vida.
7
Que a bondade do Mestre floresça em seus corações
como em seus lares! São os votos muito sinceros da

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18, 21, 31 e 39.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

42

Em paz espiritual
22|09|1939
1
Prezada Julinha,
Que Jesus esteja com vocês todos! Quero apenas
deixar-te duas palavras do meu afeto de todos os
dias, aguardando que te encontres em paz
espiritual dentro das lutas da existência terrena.
2
Sei das dificuldades que vens encontrando, a fim de
que possamos realizar os nossos trabalhos junto aos
cegos do corpo. Mas continuo apreciando, como
sempre, a tua dedicação e o teu amor a esse
apostolado, para o qual rogo as bênçãos luminosas
do Senhor Jesus. Haveremos de levar a efeito as
nossas realizações com a proteção divina! Tenho a
certeza santa de que tudo conseguiremos a seu
tempo e isso me consola. 3 Que Deus te conceda as
energias indispensáveis, convertendo as nossas
preocupações em bênçãos de claridade para a visão
espiritual dos nossos irmãos privados no mundo
dos celestes dons da vista.
4
Junto de mim aqui se encontra, igualmente, a nossa
querida Emilinha, n que te deixa carinhosas
recordações espirituais, bem como a Mariquinhas e
às meninas.
5
Tenho ouvido os teus apelos e procuro, sempre que
posso, consolar a tua afilhada Marta. n Apesar de
bastante conformada ainda está entristecida em
vista dos sentimentos dolorosos daqueles que o seu
coração deixou no lar. Mas podes crer, minha boa
Julinha, que tudo farei por ela, de modo a
esclarecê-la e consolá-la cada vez mais.
6
Que Deus vele sempre por ti, minha filha! Deixo os
meus votos sinceros de paz a todos e para ti um
beijo afetuoso. Sou a velha tia que não te pode
esquecer,
Engracinha

Notas da organizadora:
[1] Sobre Emilinha não nos foram dados maiores informes.

[2] Em referindo-se a Marta Pernambuco, afilhada de vovó


Júlia.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
43

Ora e confia sempre


25|09|1939
1
Glória a Deus nas alturas e paz na Terra a todos os
Espíritos de boa vontade! ( † )
2
Filhos meus, que a misericórdia do Senhor se
estenda sobre vossos corações, proporcionando-vos
muita tranquilidade e muita luz!
3
Agradeço a Deus, meu querido Aurélio, a
possibilidade de falar aqui nesta noite, não somente
para reforçar as tuas energias para a luta como
também para levar ao coração carinhoso de Dedé a
minha palavra de consolação. Deus abençoe a
ambos, junto de Alexandre n e de quantos são os
companheiros espirituais de vossas almas!
4
Tenho estado contigo, Aurélio, buscando renovar as
tuas forças orgânicas, de modo a revigorar a tua
saúde para os trabalhos que nos são
necessários. 5 Quanto a ti, minha filha, não
entregues o coração aos pensamentos tristes.
Seguindo sempre as tuas meditações, noto, às
vezes, que te encontras abatida e desalentada.
Minha boa Dedé, lembra-te de que se não me
encontro mais na Terra estou sempre no Plano
espiritual para servir ao teu coração de filha
amorosa e sensível. Com respeito a teu estado
físico, haveremos de conseguir as tuas melhoras
com o auxílio da Providência Divina. 6 Tenho
procurado inspirar o Armando nos conselhos que a
experiência médica dele te vem
proporcionando. Ora e confia sempre. Uma
intervenção cirúrgica no momento não te fará bem.
Será melhor que prossigas em teu tratamento
costumeiro e de minha parte buscarei auxiliar com
a minha contribuição de muito amor maternal em
teu beneficio.
7
Sobre o Alexandre, meus filhinhos, nada tenho a
acrescentar senão que tenham paciência com ele,
pois ao me recordar dos esforços feitos no passado,
e até com a viagem à Europa para a consulta
necessária, vejo que em tudo prevaleceu a vontade
misericordiosa de Deus, que é soberana e justa.
Que Deus abençoe a todos!
8
Aqui continuo a trabalhar, como me é possível, pelo
bem espiritual de todos, esperando em Jesus que as
mais santas bênçãos se derramem sobre os corações
dos filhos queridos.
9
Quanto a ti, minha boa Julinha, peço a Deus que te
auxilie sempre em tua missão de afeto e de
assistência junto de meu filho. Sabes que Aurélio
precisa sempre se inspirar em ti para a vida e para a
luta da Terra. Compreendo tudo, como
compreendes, minha filha, e, um dia,
agradeceremos a Jesus, reunidos no Plano
espiritual, por todos os esforços ou todas as
possibilidades de trabalho que o Senhor nos oferece
na Terra ou nos seus Planos.
10
Continuo com o mesmo devotamento pelos netos e
tenho cooperado também para que a saúde do
Mário seja forte e para que a situação do Armando
se amenize. Para isso rogo, em minhas sinceras
preces, a Jesus. Meus filhos, devo despedir-me por
hoje e faço-o na sacrossanta paz de Deus,
esperando que as Suas bênçãos floresçam em todos
os corações dos entes queridos que ainda me
prendem às expressões da vida material.
n
Amélia

Notas da organizadora:
[1] Alexandre e Adelaide (Dedé) eram irmãos do vovô
Aurélio.

[2] Amélia Brandão Amorim, minha bisavó materna, mãe


do avô Aurélio. Era filha de Manauá Camandrin, chefe de
tribo no Amazonas. Casou-se com o português Alexandre
de Brito Amorim, cônsul de Portugal durante 20 anos em
Manaus, responsável pela efetivação da primeira
companhia de navegação entre Liverpool | Inglaterra e
Manaus | Brasil. D. Pedro o agraciou com a comenda de
Cavaleiro da Ordem de Jesus, sendo, em 1871, elevado a
comendador da mesma Ordem.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
44

No seio de provas ásperas


18|10|1939
1
Venho até aqui para agradecer ao Dr. Rômulo tudo
que fez pela felicidade do meu filho.
2
Ainda na semana passada estive presente junto dele,
observando que o meu desafortunado Abel n saía
mais confortado e mais esclarecido. Muitas vezes
orei com as mais sentidas lágrimas do meu coração
materno e junto de Neca n tudo fiz por atenuar as
angústias do seu estado espiritual. Graças a Deus,
sinto-o mais forte! 3 Agora sou eu, amigos, quem
recorre ao vosso coração generoso! Tenho sofrido
muito, pois não me bastaram as provações dos
derradeiros dias na Terra para o resgate de minha
alma orgulhosa. Em particular, quero me
penitenciar ante o coração do Dr. Rômulo, pedindo-
lhe perdão pelas contrariedades do passado. 4 No
seio de provas ásperas, e de grandes humilhações
da consciência, era compelida a esquecer as minhas
grandes obrigações, razão pela qual até hoje ainda
sofro…
5
Deus recompense a todos!
Retiro-me mais confortada, desejando-vos a paz de
Jesus e suplicando para nós a bênção de Deus.
n
Amélia Macedo
Notas da organizadora:
[1] Em referência a Abel Macedo, um dos primeiros
comunicantes dentre os que compareceram ao culto do
Evangelho do Culto Doméstico Arthur Joviano, no lar de
Rômulo e Maria, desde 1934. O culto contava com a
presença de Chico Xavier, que recebia, diretamente,
várias mensagens. Outras foram recebidas com o uso da
prancheta, por Rômulo e Maria.

[2] Sobre Neca não nos foram dadas maiores informações.

[3] Sobre Amélia Macedo não nos foram dados maiores


informes.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
45

Nas lutas terrestres


18|10|1939
1
Meus prezados amigos, Deus vos fortaleça!
A observação de Vera n à Julinha me faz vir entre
vós de modo a explicar que tudo tenho feito pela
paz espiritual de Amália n e dos que lhe
acompanham o bom coração nas lutas
terrestres. 2 Uma prece faz sempre grande bem,
motivo pelo qual espero não vos esqueçais de
cooperar conosco nas vibrações fraternas em
benefício da tranquilidade de minha filha. Deus vos
ajudará!
3
Dalila n e Helena vieram comigo e vos saúdam. Que
Deus vos proteja e abençoe!
Vossa velha irmã,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] Sobre Vera não nos foram dados maiores informes.

[2] Amália era mãe de Helena Maia, amiga de Maria


Joviano, que sempre comparecia às reuniões do Culto
Doméstico Arthur Joviano.

[3] Sobre Dalila não nos foram dados maiores informes.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
46
.

Oportunidades perdidas
08|11|1939
1
Meus bons amigos,
Venho registrar aqui o conforto que tenho recebido
desde o instante que tive a ventura de voltar a esta
casa de paz e de concórdia! 2 Sinto grande melhora.
A sede não me devora as energias espirituais como
vinha fazendo. Tenho tido mais serenidade para
examinar e julgar os meus próprios erros do
passado — o que já é conquistar muito na minha
situação de Espírito infeliz. 3 Agora, venho fazendo
a penosa recapitulação de todas as oportunidades
perdidas pela minha própria imprevidência…
Graças a Deus que posso fazer isso, hoje, com mais
calma, a fim de analisar os rigores do meu
futuro. 4 Abençoo o instante em que regressei a
estas portas e espero que não me esqueçam nas
orações. Muito obrigado! Deixa-lhes aqui as suas
lágrimas de gratidão, o amigo sofredor,

Abel Macedo

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
47

Elos afetivos
07|12|1939
1
Meus caros filhos,
Que Jesus conceda a todos muita paz de espírito
para os trabalhos no mundo!
2
Quero agradecer-lhe, Maria, pelo conforto que tem
levado ao coração de Nhanhá, mostrando-lhe as
minhas palavras carinhosas de mãe. Toda vez que
conseguimos deixar uma gota do bálsamo da
consolação no íntimo dos filhos amados que
deixamos no mundo uma indizível alegria palpita
em nossos corações e não sabemos como agradecer
a Jesus o beneficio.
3
Sobre a saúde, Maria, peço-te dizeres à minha boa
filha Nhanhá para não se impressionar com as
opiniões dos outros. Deus é misericórdia e na Sua
bondade permitirá que minha filhinha recobre as
energias orgânicas, perdidas nobremente entre as
abnegações do lar pela paz da família inteira. Do
amor e da providência de Deus chegarão todos os
recursos de que ela vem necessitando para o
restabelecimento da saúde física.
4
Quanto ao Abílio, n já tive a felicidade de acariciá-lo
em meus velhos braços de mãe. Do Plano de
trabalho em que ele se encontra, o seu coração
afetuoso vela por todos os que se prendem ao seu
Espírito na Terra, através dos sacrossantos laços do
amor. 5 E, simultaneamente, vem operando todas as
providências possíveis ao seu alcance para reerguer
o espírito da companheira carinhosa da existência
terrestre, cujo coração, apesar de nobre e generoso,
tem encontrado numerosas dificuldades para se
adaptar à vida espiritual. Absorvida, ela ainda se
encontra nas recordações penosas dos seus últimos
instantes terrenos e pelos elos afetivos que lhe
prendem a alma neste mundo de coisas passageiras.
6
Agradeço-lhes, meus filhos, pelo conforto e pela
alegria que me proporcionaram. Espero em Deus
que prossigam com a mesma boa disposição de
sempre para o trabalho de posse da luz espiritual.
Sou a velha tia da Terra e amiga devotada,
Mariquinhas

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao Dr. Abílio Machado, nascido em
Formiga | MG, em 30 de outubro de 1885. Bacharelou-se
pela Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte. Foi
um dos colaboradores de Arthur Joviano na elaboração da
lei para a primeira reforma do ensino em Minas, diretor da
Imprensa Oficial, fundador da União Espírita Mineira
(UEM) e seu presidente em 1924 | 1925, membro do
Conselho Consultivo do Estado no Governo Olegário
Maciel e deputado federal à época da Primeira
Constituinte Estadual, em 1934. Presidiu a Assembleia
Legislativa em 1935. Desencarnou em 3 de janeiro de
1938, aos 52 anos de idade. O original desta mensagem
foi enviado à D. Nhanhá.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
48

A morte é uma viagem

13|12|1939
1
Prezado amigo Dr. Rômulo,
Não sabia que eu teria de recorrer à sua bondade
em favor de minha situação espiritual depois da
morte do corpo material. Tenho sofrido muito e não
podia pensar que me esperavam tantas surpresas
depois da enfermidade e da velhice. 2 Por muito
tempo permaneci em Nova Granja, supondo que
me encontrava ainda doente e sem esperanças.
Muito grande foi o meu martírio moral! A
consideração de meus amigos parecia me haver
abandonado. Debalde busquei recorrer aos filhos,
até que um dia alguém me fez sentir a nova
realidade de minh’alma. Então sofri o que o bom
amigo não pode imaginar! 3 A morte é uma
viagem que nos é imposta por Deus e para a qual o
homem do mundo nunca está preparado.
4
Pobre de mim! Minha bagagem é muito pobre e
muito pouca, e somente agora vejo que podia ter
edificado mais no terreno das ações definitivas.
Sinto-me muito fraco e muito abatido. Não sei ver
claro em minha situação. 5 Tenho recebido aqui os
primeiros socorros espirituais, às segundas e
quartas-feiras, e posso garantir-lhe que me encontro
melhor, comparando o meu estado de desalento e
desesperação dos primeiros dias que se seguiram ao
meu desprendimento da vida material. 6 Embora
confundido e cansado, ergo os olhos ao Céu e peço
a Deus que tenha pena de mim, esperando a
possibilidade de frequentar a sua casa hospitaleira e
generosa. Deus há de lhe recompensar pelos
benefícios que me tem proporcionado! Jesus deve
saber do meu agradecimento sincero e lhe pagará
por mim.
7
Peço-lhe não me esquecer nas suas preces. Ando
ainda muito preocupado com problemas da vida
material. Auxilie-me com as suas vibrações
fraternas! Eu, que lutei tanto para dar aos filhos
uma posição no mundo, vejo hoje que eles não
possuem a melhor — a que faz do coração um
santuário das luzes de Deus. Ainda sofro muito por
tudo, peço-lhe não me esquecer.
8
Desejando-lhe muita tranquilidade e deixando-lhe o
meu reconhecimento muito sincero, firmo-me ainda
como seu velho e grato amigo,
n
Virgílio Machado

Nota da organizadora:
[1] Virgílio Machado, grande amigo da família Joviano.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
49
.

Bálsamo reconfortador
17|01|1940
1
Meus bons amigos,
Antes de tudo peço a Deus pela paz e saúde de
todos.
2
Cá estou eu, prezada Maria, trazendo ao seu coração
a minha visita fraternal de sempre. Prossigo na
tarefa que me foi deferida, porém o característico
mais interessante de nosso esforço é o de
buscarmos a fortaleza de ânimo espiritual junto
daqueles que mais amamos. 3 Numerosas entidades
possuem essa fonte de energia no Além, todavia,
comigo acontece o contrário. Sinto que os laços
afetuosos me prendem muito à Terra, não só aos
meus familiares pelo sangue, mas também pela
amizade carinhosa e santa de vocês. 4 Grande é a
luta, contudo, muito maior é a Misericórdia Divina,
razão pela qual o desânimo ou o abatimento não
mais têm razão de haver em nossas fileiras
espirituais. Espero que vocês não me esqueçam nas
preces costumeiras.
5
Senti muita alegria ao ver a mamãe lendo o livro de
Emmanuel. n Para o seu coração, a leitura foi
um bálsamo reconfortador. Quando você estiver
com a Aurélia, através de correspondência, peço-
lhe dizer ao seu bom coração que estou ao lado dela
sempre que isso me é possível.
6
Rogo a Jesus para vocês o máximo de tranquilidade
e de saúde. Que a sua infinita bondade se estenda
sobre o seu lar, santificando-lhe os esforços do
coração!
É o desejo da amiga e irmã de todos os dias,
Helena
50

Alvorada de luz
29|05|1940
1
Minha querida madrinha,
Antes de tudo, rogo a Deus pela sua tranquilidade!
Venho manifestar à senhora o meu reconhecimento
de coração pelas suas orações carinhosas e amigas!
Suas preces foram uma alvorada de luz para o meu
Espírito entristecido. 2 A morte deixou-me surpresa
e num abatimento difícil de descrever. Abandonar o
Pedrinho n e o lar que o meu zelo havia edificado
era um sacrifício supremo! Sua alma bondosa não
pode avaliar o quanto sofri, contudo, sentia sempre
ao meu lado o eco de suas preces generosas e
confortadoras.
3
Logo depois que me reconheci fora do corpo
material — e isso depois de tristes padecimentos —
levaram-me a um grande centro espiritual de
socorro, onde fui acolhida com os nossos doentes
no Rio, que se refugiam na Santa Casa de
Misericórdia † ou na Pro-Matre. 4 Vi quadros com
os quais nunca poderia contar, mas,
continuadamente, sentia que o carinho de sua
lembrança me rodeava o coração. Por mais de uma
vez fui procurada por entidades benévolas, que me
confortavam em seu nome e, por muitas vezes,
recebi a visita de Engrácia e de Emmanuel — assim
me davam a conhecer suas personalidades
generosas e benevolentes. 5 Eu, que nada
compreendia de certos problemas da alma, fiquei
conhecendo muitas questões interessantes, porque
esses amigos me instruíam em sua lembrança e
aplicavam-me de seus fluidos para que eu pudesse
esquecer os laços mais fortes que me prendiam à
vida material. 6 Ali me conservei assim que fui
conduzida a um agrupamento de trabalho espiritual,
que não lhe poderei descrever ao certo. Sei apenas
que, graças a Deus, estou mais conformada e
laborando pela minha própria edificação em novos
conhecimentos, e ajudando aos que aí deixei, com
os meus recursos singelos.
7
Agradecendo-lhe, pois, e osculando-lhe as mãos
bondosas, deixo-lhe a alma inteira, cheia de afeição
e saudade…
A afilhada da Terra e amiga reconhecida, n
Marta Pernambuco

Notas da organizadora:
[1] Sobre Pedrinho não nos foram dadas maiores
informações.

[2] Mensagem dirigida à vovó Júlia.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

51

Erros e virtudes
05|03|1941
1
Meus filhos,
Que a glória de Deus, irradiada das alturas, lance
sobre vós as Suas bênçãos, como a todos os
homens de boa vontade! Venho trazer-vos a
presença afetuosa e renovar aos queridos filhos
meus votos de muita tranquilidade!
2
Meu caro Aurélio, vejo-te o pensamento interessado
no conhecimento dos fatos que já se foram e quero
afirmar-te, filho meu, que a bondade infinita do
Criador tem aberto os tesouros da complacência,
muitas vezes, sobre nós. Louvemos esse amor
inesgotável que não cessa nunca!
3
Vimos de longe, de séculos remotíssimos, em
quedas e levantamentos incessantes! Se nada posso
adiantar-te, em particular nesse sentido, meu filho,
cumpre-me dizer-te que toda harmonização é útil,
que todo bem é uma claridade que não morrerá!
Um dia nossos olhos se abrem para o dia da
eternidade e, então, a nossa visão espiritual atinge o
mais longo alcance. Os laços, os elos sacrossantos
que nos unem, ecoam de muito longe e as dores do
pretérito devem estimular nossas esperanças no
porvir.
4
Quantas vezes temos experimentado as amarguras
da separação dos mais queridos? Quantas vezes
tivemos que sorver o cálice das lutas rígidas nos
labores expiatórios? Tudo se esvai, no que se refere
às expressões humanas, mas a alma fica imune no
torvelinho das modificações… Nossos erros e
virtudes são nossas bagagens que desonram ou
dignificam. 5 É por isso, meu filho, que em te
observando o interesse sagrado em torno de
revelações mais íntimas devo induzir-te a ser o bom
viajante que conduz consigo as joias do bem, os
adornos do amor, os valores da justiça e, sobretudo,
o ouro da perfeita reconciliação com o programa
divino do amor que Deus traçou para o caminho
infinito. Referindo-me a essa circunstância,
agradeço-te, com toda a alma, todo o cabedal de
teus sacrifícios pelos irmãos.
6
Aqui, filhos, deixo-vos os meus votos de paz em
Jesus! A ti, minha querida Julinha, o meu beijo
afetuoso. E abraçando-te, meu filho, com toda a
ternura do coração, rogo a Deus nos una os
espíritos, cada vez mais, em Seu divino e infinito
amor!

Amélia

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
52

Pedido de irmão
05|03|1941
1
Prezados amigos,
Boa noite e que a bondade do Cristo se estenda
sobre todos!
2
Venho manifestar-lhes o meu reconhecimento por
todos os auxílios que me trouxeram com a amizade
desinteressada e sincera. Reafirmando essa
gratidão, quero pedir-lhes desculpas necessárias a
todos os erros de minha vida tão pobre de valores
espirituais e tão sacrificada pela viciação de
ambientes junto a falsos amigos…
3
A companhia indigna constitui o mais alto perigo
para a mocidade. Uma juventude despreocupada de
deveres sérios gera confusão enorme e, quase
sempre, somos levados de maneira sensível ao
esquecimento das coisas pequeninas que fazem
parte das grandes coisas. 4 Conhecendo tudo isso,
permitiu Jesus que eu recebesse a dádiva de lhes
falar, de modo particular, nesta noite, esperando o
perdão de todos. Isso é, para mim, uma
oportunidade santa, que não devo perder! Sentirei
grande alegria se todos, ao pensarem em mim,
estenderem à minha pobre alma as mãos de amigos.
Receberei o novo alento de lágrimas nos olhos…
5
Feito o pedido, rogo ao Deus de Bondade — de
quem nem sempre me lembrei no mundo — que os
abençoe e proteja em todas as circunstâncias. E aí
ficam o agradecimento e o pedido do irmão que os
preza com amizade real,
n
Joaneco

Nota da organizadora:
[1] Foi médico e a família brincava chamando-o de
“Joaneco, meu boneco”. Ele era muito brincalhão.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
53

Marco inesquecível
19|03|1941
1
Meus prezados amigos, Maria e Rômulo, Jesus
esteja em nosso caminho, amparando-nos!
2
Desde muito tempo, Maria, eu mantenho o
propósito de visitá-los através das letras, mas a
situação de trabalho não me tem favorecido nesse
setor. Sempre que me é possível trago-lhes o meu
abraço espiritual a registrar a minha presença. Hoje,
porém, quero significar-lhes minha alegria pela
justa realização que o Rômulo pretendia, não pelo
simples movimento de pretender, mas no sentido de
reajustar-se no quadro da liça que lhe rege os
trabalhos funcionais. Acompanhei, minha amiga,
suas aspirações silenciosas e fortes, e aqui estou eu
para o meu grande abraço, formulando votos para
as melhores construções de ambos no porvir.
3
O acontecimento doméstico foi muito expressivo
para nós. Reforçou a sua confiança de esposa e
mãe, e tranquilizou o Rômulo de algum modo no
aparelhamento de suas demonstrações de serviço.
Tive o prazer de ouvi-los na confiança em Deus e
na satisfação de anotar a divina resposta. Para nós,
Maria, a alegria não foi menor e espero que esse
júbilo constitua um marco inesquecível de bem-
estar espiritual. Tudo tem a sua significação na vida
e a promoção do Rômulo não representou mera
ocorrência de ordem material. Representou,
igualmente, uma contenda benéfica do espírito, em
cujo término feliz todos nós nos achamos
empenhados.
4
Seja feliz, minha querida irmã, e que a Providência
os fortaleça e ilumine! Continuo em meus serviços
dentro da vida nova a que fui trazida. Ainda me
encontro na tarefa de preparação de minha volta.
Ajude-me, boa amiga, com os seus pensamentos de
carinho e fortalecimento. É sempre doce receber o
socorro dos amigos fiéis!
5
Meu pai continua em refazimento. Longa lhe foi a
batalha e apesar da assistência de que tem sido
objeto temos de reconhecer que a mudança é
enorme.
6
Adeus para todos. Reafirmando os meus votos de
muita felicidade para o lar dos queridos amigos,
sou: a irmã muito agradecida de sempre,

Helena

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
54

Sublimes conhecimentos
25|03|1942
1
Prezados irmãos Clóvis e Aurélia,
Rogo a Deus lhes proporcione o conforto de Sua
divina luz!
2
Aqui me encontro para lhes manifestar a amizade de
sempre. Graças ao Pai celestial, minhas
tempestades se amainaram. Brando alívio seguiu-se
às minhas sombrias dores de outros tempos e
apenas agora vejo a pequenez de minha alma,
outrora cheia de blasfêmia e revolta ante a grandeza
da Providência Divina. Até que descubramos a
estrada justa, quantas lágrimas vertidas!
3
Não conhecerão vocês, na existência humana, outra
riqueza maior que a de se prepararem para a
Eternidade com a luz de tão sublimes
conhecimentos! Os homens do interesse mundano
costumam ser grandes cegos de espírito, que mais
tarde defrontam, fatalmente, o abismo onde me
despenhei no regresso das lutas materiais.
4
Deste lado da verdadeira vida reconhecemos que
nenhuma verdade existe mais luminosa que esta,
porém, entre as paredes dos fluidos terrestres, nossa
vida é atormentada por singulares desequilíbrios. A
preocupação do bem-estar, do dinheiro, da
evidência social opera em nossa alma profundos
desastres invisíveis no mundo terreno, mas são
francamente observados na vida real, onde os
nossos maiores sofrem com a intensidade de nossas
fraquezas. É o engano trágico da maioria das
criaturas! Iludidas pela fantasia de conforto,
descem aos pântanos mais escabrosos, supondo-se
em elevações brilhantes e definitivas…
5
Tudo não passa, porém, de meros aparatos do
mergulho na indiferença a Deus e no esquecimento
dos deveres mais sagrados que Jesus nos confiou.
Como observam, meus caros, venho estudando
igualmente a ciência da vida espiritual, copiando o
impulso de vocês dois. Tenho me esforçado com
vigor, a fim de buscar algo dessa luz que não se
apaga nos corações. Com essa tarefa, sinto que
posso ser mais útil à Miquita n e às filhinhas.
6
Às vezes, os velhos enganos ameaçam-me a alma
sensível. Os fantasmas do sofrimento erguem-se na
estrada vulgar, mas reconheço agora que Jesus me
ajuda a cerrar a porta do coração à sua passagem, e
dentro de mim somente permanece o bom desejo
do auxílio santo, com o olvido de todas as questões
que vão ficando à distância de nossa atração para os
caminhos iluminados em busca de Deus.
7
Espero, meu caro Clóvis, que você e Aurélia
descansem satisfatoriamente nos próximos dias, até
que se verifique o término do período da licença-
prêmio. Essa licença foi uma compensação que
vocês utilizaram muito mais em serviço de nossos
generosos velhinhos que mesmo no proveito
próprio. Mas podem crer que todos os
devotamentos do lar são sublimes ofertas a Jesus!
8
O nosso venerável e santo amigo bem merece a
nossa dedicação! Suas mãos generosas sempre
estiveram prontas ao abraço de amor consagrado a
todos… Se mais fizéssemos, meus amigos, não
chegaria para a retribuição de um terço da nossa
dívida geral de afeição e devotamento, da qual o
generoso Marechal é um credor dos mais ricos e
tolerantes que conheço. n
9
Amigos espirituais nossos, meus caros irmãos, vêm
auxiliando a vocês na luta pelo restabelecimento
integral do equilíbrio orgânico. Não faltam a Clóvis
os passes reconfortadores e salutares que lhe têm
feito imenso bem. Que Deus o abençoe e proteja
em todos os dias da vida!
10
Ainda preciso muito do auxílio de vocês. Não será
para o momento que passa, entretanto, creio que
não se demorarão muitos anos para a minha volta…
Peço, então, a vibração fraternal de vocês para que
seja auxiliado na escolha de futura tarefa a
cumprir. 11 Muito lhes agradeço por tudo que têm
feito pelos meus, que são os nossos do coração.
Jesus recompensará os queridos irmãos com as suas
bênçãos de vida e de luz, concedendo-lhes vastas
possibilidades de alegria e ventura!…
12
Renovo a vocês os meus votos de muita saúde e
paz no período de descanso em curso, bem como os
melhores e mais sinceros agradecimentos de meu
coração.
O amigo reconhecido e irmão de sempre,
Gomide n

Notas da organizadora:
[1] Miquita era esposa do Espírito comunicante, Gomide,
irmã de Clóvis, casado com minha tia Aurélia Amorim.

[2] Em referência ao Marechal Feliciano Mendes de


Moraes. Era pai de Clóvis e de Miquita, sogro, portanto,
do comunicante. Clóvis, cunhado do comunicante,
padeceu, nesta encarnação, por longo tempo, de distúrbios
neurológicos.

[3] Conforme nota anterior, Gomide era cunhado de Clóvis.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
55
.
Uma reunião evangélica é uma fonte de águas
vivas
01|03|1944
1
Meu amigo, que a paz divina o felicite.
Aqui estou testemunhando a minha gratidão de
sempre. Desde muito não escrevo, mas quase
sempre venho até aqui. 2 Creia que uma reunião
evangélica é uma fonte de águas vivas para os
Espíritos encarnados e muito especialmente para
nós outros, os desencarnados. 3 Tenho
acompanhado seus testemunhos no ministério:
testemunhos de viajante numa região muito árida, e
de lavrador numa terra ingrata e menos receptiva.
Grandes lutas, meu amigo, grandes lutas! Conheço-
as de perto e experimentei-lhes o calor! Pedimos a
Deus para a paz e pelo seu êxito na tarefa. 4 Muito
agradecido pelos bens que tenho recebido em seu
lar. Cumprimento seus familiares,
reconhecidamente, desejando-lhes a todos a paz de
Deus.
Seu amigo reconhecido e servo, ao seu dispor,
Dutra

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
56

Festa espiritual
14|12|1944
1
Meus amigos, que o nosso Jesus conceda a vocês
todos muita paz!
2
Nós viemos trazer ao nosso irmão Arthur as nossas
felicitações e cumprimentamos a vocês todos
pela festa espiritual. O nosso recinto de orações,
Maria, está cheio da luz de todos os corações que
agradecem a cooperação de um amigo
desvelado. 3 Insistimos com o Professor para
escrever. Ele, porém, sente que não pode, que as
lágrimas lhe embargam a voz e que a emoção não
lhe concede elementos expressivos à ideia. Muitos
amigos trouxeram-lhe lembranças, mas ele quis
guardar, em primeiro lugar, as flores que o afeto de
vocês lhe ofereceu.
4
“Oh, amigos, como são belas as rosas sem espinhos
dos corações que se amam!”, diz-nos ele, feliz!
Benditas flores! Elas irão conosco, embora o
recinto material lhes encerre a forma passageira. Irá
conosco o perfume, em suas delicadas corolas de
amor e luz! Que Jesus, meus filhos, conceda a
vocês longos dias de paz, com o santo trabalho
espiritual de aperfeiçoamento divino. 5 Sempre esta
sala tem notas de luz, mas hoje até eu mesma chego
a chorar! Casimiro Cunha trouxe uma bela ave,
semelhante ao passarinho que o Professor tomou
para símbolo em suas relações com as crianças. E
ele, humilde, leu os versos e disse: “Oh, possa eu,
como o João-de-Barro, fazer minha casa espiritual
acima do solo da Terra!” n
6
Mas o que nos impressiona a todos é um coração
iluminado que desceu do Alto e irradia sobre todos
as suas luzes! Grande e sublime estrela do Senhor,
de alma genuflexa, nós te respeitamos! Ensina-nos
a guardar as tuas bênçãos, vigia os nossos passos,
mantém os nossos caminhos abertos para as
montanhas da redenção, ajuda-nos ainda, apesar de
nossas fraquezas, e, embora permaneças tão alto,
recebe as nossas flores! Elas te fazem sentir o
aroma de nossos afetos ainda presos entre as hastes
da Terra! 7 Estrela soberana, agora e sempre,
espalha sobre nós os teus divinos raios! Ensina-nos
a ciência do amor, da luz e do infinito perdão!
Auxilia-nos! E, ainda que estejamos caídos dá-nos
tua luz!
8
Aqui, meus filhos, também nós fazemos ponto final.
Nossas lágrimas falam de nosso reconhecimento e
de nossa emoção! Para que as palavras?
Entendamo-nos no grande silêncio do coração! Que
Jesus abençoe a vocês todos.
Lembranças da velha tia,
Engracinha

Nota da organizadora: Mensagem recebida no dia em que


se comemorava 10 anos da partida do vovô Arthur para a
pátria espiritual, ocorrida em 14 de dezembro de 1934.
Constante do livro Sementeira de luz (VINHA DE LUZ,
4ª ed., 2012, p. 528).
[1] Vide homenagem de Casimiro Cunha ao Prof. A.
Joviano: Oração a João de Barro

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

57

O suor do trabalho
27|03|1945
1
Meus bons amigos, boa noite,
E que a paz de Jesus esteja com todos! 2 Agradeço-
lhes os pensamentos amigos enviados ao papai.
Venho procurando auxiliá-lo, diariamente, com os
meus melhores recursos e espero a continuidade do
auxílio de vocês todos para que ele aproveite, ao
máximo, os socorros que vem recebendo. 3 Bastará
que pensem nele nos momentos de meditação e
prece. Esse amparo, supostamente simples, é muito
expressivo e representa grande concurso fraternal.
4
Estou contente como sempre, observando-lhes a
riqueza de espiritualidade. Cultivem essas flores do
jardim da fé, orvalhem-nas com o suor do
trabalho e com as lágrimas do reconhecimento, e,
mais tarde, vocês reconhecerão a sublimidade do
mistério espiritual e observarão como é enorme a
ventura de quem sabe semear no coração os
princípios do Cristo!
5
Que ele abençoe a vocês todos, acentuando-lhes o
patrimônio de bênçãos!
Boa noite! Lembranças afetuosas da irmã sempre
amiga,

Helena

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
58

O castelo santo do lar


14|12|1945
1
Meus bons irmãos, muita felicidade a vocês! Quem
viu o lançamento da “pedra fundamental” do
esforço que vêm fazendo neste santuário admira-se
do progresso obtido. Progresso filho da boa
vontade, da perseverança, da firme atitude de
elevação da alma para Deus.
2
Tive a felicidade de estar com vocês nos primeiros
dias. Segui-os de perto, quando da separação da
presença paterna na esfera de obrigações materiais,
e abraçando o Professor Joviano, como o faço,
alegro-me, igualmente, em vocês, saudando-os com
os melhores sentimentos de minha alma! n
3
Deus lhes conserve a felicidade na fé viva.
Enquanto as paisagens, lá fora, se modificam,
vocês possuem o castelo santo do lar com a
oração. Seja louvado, Jesus, que tantas graças nos
concedeu!
4
Desejo, Maria, que esta noite seja sempre portadora
de novas expressões de estímulos para o seu jardim
afetivo! Que a Divina Providência guarde o seu
espírito, querida irmã, amparando-lhe o coração
sensível e devotado de esposa e mãe, através de
todos os caminhos terrestres!
5
Adeus.
Paz e luz, saúde e bom ânimo a todos,
Helena

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao Grupo Doméstico Arthur Joviano,
instituído em 13 de novembro de 1935. Vovó Arthur
desencarnou em 14 de dezembro de 1934, portanto, 11
anos antes da data da presente mensagem.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
59

Festa de felicidade espiritual

14|12|1945
1
Meus caros, que a bênção de nosso Senhor Jesus
esteja sempre conosco. Participamos dos júbilos da
noite e rendemos graças ao Todo-Poderoso pelas
dádivas desta hora.
2
O Professor Joviano, cercado de amigos, contém a
emoção de alegria escutando a oração do Rômulo.
Que felicidade, Maria! Você pode imaginar como
nos sentimos! 3 São muitos os irmãos que vieram
trazer-nos o seu voto de paz e, francamente, não sei
como traduzir meu reconhecimento a Deus!
Dessas festas de felicidade espiritual raras se
verificam na Terra. Por isso mesmo imploramos ao
Altíssimo para que o lar de vocês possua sempre
este bendito santuário de oração e de amor, onde
possamos colher o doce alimento da compreensão
legítima no trabalho com o Senhor.
4
Estas pobres palavras destinam-se apenas a registrar
minha visita e meu agradecimento. Que o Mestre
conceda ao nosso iluminado aniversariante de hoje
inesgotáveis recursos no espaço e no tempo, a fim
de que prossiga valoroso em seu apostolado de
amor!
Afetuosas lembranças da tia muito amiga,

Engracinha

Nota da organizadora: Mensagem recebida no dia em que


se comemorava 11 anos da partida do vovô Arthur para a
pátria espiritual, ocorrida em 14 de dezembro de 1934.
Constante do livro Sementeira de luz (VINHA DE LUZ,
4ª ed., 2012, p. 652).

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
60

Saudações de João-de-Barro
14|12|1946 n
1
De minha casa de barro,
Cheia de paz e de amor,
Eu venho saudar convosco,
Nosso antigo benfeitor.
2
Trago os filhotes comigo,
Em trajes de festival,
Compartilhando a alegria
De um natalício imortal.
3
Vimos do abrigo amoroso,
Dos cimos da prateleira,
Entramos pela janela
Num galho de trepadeira.
4
Como esquecer a voz terna
Repassada de carinho,
Que conversava conosco
Na solidão do caminho?
5
Como olvidar a mão clara,
Que tudo fazia certo,
Quando vinha docemente
Encorajar-nos de perto?
6
Grande amigo! Muitas vezes,
Deixava o salão dourado
Para buscar-me o lar rude,
Pobrezinho, desprezado.
7
Por que fôssemos humildes,
Trabalhando em terra escura,
Nunca deixou de tratar-nos
Com carinho, com ternura.
8
Pobre operário que eu sou,
Falava-me ao coração,
Ensinava meus filhinhos
A terem educação.
9
Chamado às honras do mundo
E às ambições da riqueza,
Preferiu viver conosco
Na sombra e na singeleza!…
10
Espalhava em nossa casa
As bênçãos e os dons
divinos.
Sabia exaltar no mundo
A glória dos pequeninos!
11
Professor, recebe agora
Nossa eterna gratidão!
Que um passarinho também
Tem alma, tem coração!

Casimiro Cunha

[1] A data no livro impresso é 18|12|1946, mas vide a que


consta nos livros “Sementeira de paz” Saudação de João
de Barro e no “Sementeira de luz” Oração a João de
Barro.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
61

Lembrança
27|08|1947

Vinte e sete, n quarta-feira.


Clarão para a vida inteira
Num dia de sonho e flor!
Que Deus vos encha de luz
O lar aberto a Jesus,
Em doce missão de amor!
Casimiro Cunha

Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se ao dia do mês em que se comemorava
as bodas nupciais de Rômulo e Maria Joviano, ocorridas
em 27 de dezembro de 1913. Da data da mensagem
haviam, portanto, decorridos 24 anos.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
62

Na festa do Professor

14|12|1947

1
Nesta noite de alegria,
Meu prezado professor,
O seu natal festejamos
Em preces de paz e amor.
2
Comigo bulhentos bandos
De trêfegos pequeninos
Beijam-lhes as mãos dadivosas
E exaltam-lhe os dons divinos.
3
Todos eles trazem flores
De afeto e de gratidão,
Que as flores falam mais alto
Das bênçãos do coração.
4
Receba da menorzinha,
Da pequena Maristela,
Um ramo todo orvalhado
De glicínias da janela.
5
Mais duas chegam contentes.
São elas Cristina e Wanda!
Com joias das trepadeiras
Que florescem na varanda.
6
Agora é aquele peralta,
O traquinas João Cotuba,
Que lhe traz, regenerado,
Uma flor de jurujuba.
7
O João Pica-Pau, aquele
Das pancadas e corridas,
Tem um buquê cor de neve,
Composto de margaridas.
8
Repare quem vai chegando!
É a endiabrada Laurinda,
Que lhe oferta, carinhosa,
Um galho de acácia linda.
9
Olhe agora! Quem diria?
É o teimoso Ezequiel,
Com ramalhetes das flores
De trevos, cheirando a mel.
10
Antonico, o aleijadinho,
Que a própria mãe jamais quis,
Vem trazer-lhe alegremente
Dois formosos bogarís.
11
Guilhermino, o preguiçoso,
Que chorava dia inteiro,
Mostra um ramo grande e belo
De flores do jasmineiro.
12
Lelé, Xandoca e Iracema,
As maiores das meninas,
Colheram grandes braçadas
De esporas e de cravinas.
13
Os demais trazem consigo
Auréolas de terno encanto,
Formadas no roseiral
Que seus filhos amam tanto.
14
Bendito seja o seu nome!
Continue feliz assim!…
Tantos netos Deus lhe deu
Por esse mundo sem fim…
15
Nosso abraço, grande amigo!
Que lhe conceda o Senhor
A luz da vida infinita
E a paz do infinito amor.

Casimiro Cunha

Nota da organizadora: Poema comemorativo ao


aniversário da partida do vovô Arthur para a pátria
espiritual, ocorrida em 14 de dezembro de 1334, portanto,
13 anos da data da mensagem. Constante da
obra Sementeira de paz, à p. 233 (VINHA DE LUZ,
2010).

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
63
.

Boas festas
31|12|1947

Irmãos, que o Quarenta e Oito n


Nos encontre com Jesus,
Enchendo-nos, cada dia,
De mais trabalho e mais luz!
Casimiro Cunha
[1] [Ano de 1948.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
64

Jardim doméstico
27|12|1948
1
Meus bons amigos,
Muita paz e alegria a todos!
2
Maria, a sua lembrança de um culto à
Espiritualidade nesta noite nos tocou as fibras mais
intimas! Trago-lhes ao noivado redivivo as flores
de meu carinho e admiração!
3
A amizade nunca morre. É planta sublime, com
raízes na Eternidade. Por vezes, a morte apenas
consegue eclipsar-lhe a expressão visível ao olhar
humano, contudo, dentro do Reino espiritual
estamos unidos perenemente uns aos outros.
4
Nosso abraço pela data querida! Desejamos, minha
querida amiga, que as suas Bodas de Prata
atravessem a escala de todas as preciosidades na
Terra. Seja feliz com o seu dedicado esposo e com
os seus amados filhinhos!
5
A paz é a coroa das mães que dignificam a própria
tarefa. E sua fronte, Maria, permanece iluminada de
harmonia, esperança, tranquilidade e fé. Você
soube conservar o seu jardim doméstico em nome
de Jesus, que nos pede amor infinito e vigilância
continuada!
6
Abençoada seja a sua realização, com os títulos de
esposa e mãe! Que a Providência Divina converta
todas as suas aspirações em realidade, são os
desejos de sua amiga reconhecida de sempre,

Helena

Nota da organizadora: Rômulo e Maria completaram, na


data, 25 anos de casados (Bodas de Prata).

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


65

Bodas de Prata
27|12|1948
1
Meus filhos e amigos, Jesus conosco!
2
Não poderia faltar neste concerto de júbilo
festivo: 25 anos correram céleres! Não é só a
felicidade que fala por vocês — é o trabalho que
levaram a efeito em todos os setores. Sejam felizes,
pois, cada vez mais intensamente, trabalhando e
amando, amando e trabalhando!…
3
Não disponho de recursos verbais para exprimir-
lhes o nosso contentamento. A alegria de vocês nos
alcança e, por isso, convertemo-la em luminosa
projeção de ventura a todos aqueles que, em
derredor de nós, esperam por arrimo e luz
espiritual. 4 Em nome de vários amigos, trazemos a
vocês a vibração fervorosa de nosso afeto e ternura,
agradecimento e carinho, sempre renovados. Que
ambos estejam sempre mais vivos na sagrada
comunhão espiritual em que vivem, desde a Esfera
carnal, são os votos da velha servidora muito grata,

Engracinha

Nota da organizadora: Mensagem constante do


livro Sementeira de paz (VINHA DE LUZ, 2010, p. 366)

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
66

Continuamos atendendo ao Roberto


07|06|1949
1
Meu filho, Deus abençoe a vocês, concedendo ao
seu coração renovadas forças para as tarefas de
sempre. Vá, realmente satisfeito, em visita aos
corações amados e diga, de nossa parte, ao nosso
amigo General Aurélio que o seu campo orgânico
vem sendo objeto de nossas melhores atenções. 2 A
nossa irmã Amélia, e não somente ela, mas também
diversos companheiros de sua seara, se desvelam
de maneira direta pela manutenção de sua saúde e
de seu equilíbrio psíquico, dentro da mobilidade de
todos os recursos ao nosso alcance. Desejamos
senti-lo cada vez mais fortalecido na fé e robusto
na certeza de que a nossa cooperação espiritual
jamais esmorece.
3
Quanto ao Roberto, n continuamos atentos para com
as suas necessidades físicas do momento, contudo,
em qualquer eventualidade, a colaboração médica,
no círculo familiar, deve ser buscada sem perda de
tempo. Contamos em que as suas melhoras se
acentuem, cada vez mais, todavia, é necessário
movimentar em qualquer imprevisto o concurso da
assistência justa. O sistema nervoso do meu neto,
porém, vai sendo restaurado com muito êxito, com
a eliminação do incidente quase imperceptível dos
dias que passam.
4
A hora não me permite, por mais tempo, usar o
lápis da amizade, do carinho e da gratidão, e assim
peço a você distribua com todos os nossos as
minhas lembranças.
5
Lembrando ao Senhor pela saúde e paz de todos,
deixa-lhes um abraço afetuoso o papai reconhecido
de sempre,
n
A. Joviano

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao meu irmão, Roberto Joviano. Formou-
se médico-veterinário pela Escola Nacional da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFR-RJ).
Como veterinário, trabalhou no serviço público federal
por alguns anos. Em seguida, trabalhou nas empresas
Produtos Veterinários Manguinhos Ltda. e na Pearson
S/A. Fundou, depois, a Vepec, uma empresa de
comercialização de produtos veterinários. Foi, ainda,
diretor do Laboratório Nacional de Produtos de Origem
Animal (Lanaral) do Ministério da Agricultura, em Pedro
Leopoldo. Casou-se com Marília de Gusmão e teve cinco
filhos: Maria do Carmo, Romero, Maria Júlia, Maria
Helena e Rômulo. Faleceu em 27 de fevereiro de 2002,
com 78 anos.

[2] Esta era outra forma de vovô Arthur assinar suas


mensagens — A. Joviano.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


67

O Professor partiu ficando…


14|12|1949
1
Meus queridos, que a bênção de Deus nos fortaleça
a todos.
2
Todos estamos em atitude festiva do Espírito
eterno, comemorando a “nova mocidade” do nosso
irmão Arthur na vida imortal. Quinze anos de
bênçãos soube construir o nosso amigo de todos os
tempos, ajudando, ensinando, amando e
servindo. 3 Eu que, nos últimos anos, me consagrei
à tarefa de melhorar a visão dos cegos, jamais
conseguiria uma estatística dos cegos que ele
curou, ensinando-lhes o caminho da cultura e da
virtude em todos os ângulos da tarefa.
4
Vocês têm razão dedicando-lhe o amor com que a
ele se dirigem nestas horas de alegria, paz e
triunfo. Aqueles que nos amparam nas horas
tranquilas e inquietas, felizes e dolorosas,
guardando para nosso Espírito o amoroso
aconchego do coração, deve representar de nossa
alma algo de sagrado que nos merece a atenção e a
ternura de cada momento.
5
Nosso amigo assiste, em lágrimas, a reunião em que
nos congregamos. As emoções da Terra falam alto
em seu íntimo, nesta noite, em que tantas
recordações se casam em sua mente de trabalhador.
Sim, os viajantes que seguem amparando e
auxiliando a quantos lhe rodeiam os passos na
marcha, de quando a quando repousam sob as
árvores do amor para chorar, derramando o pranto
da alegria e da saudade, do otimismo e da
expectativa, da compreensão e do
entendimento. 6 Grande é a vida e a vida não cessa.
É preciso seguir sempre, muitas vezes violentando
as fibras da própria alma, seguir sobre os próprios
ídolos quebrados, mas avançar ao encontro do
ideal divino que o nosso Espírito imperecível
plasma, em silêncio, no espaço e no tempo, na
“intimidade do Pai”.
7
O Professor partiu ficando, porque ao invés de
elevar-se no rumo de outros climas, que o esperam
na recompensa do mérito individual, desencarnou-
se do corpo físico e materializou-se nos
pensamentos de nossas necessidades, se podemos
dizer assim. Vive a continuidade da experiência
terrestre para ser-nos mais gloriosamente útil e
planta, sem cessar, a lavoura nova por amor a
vocês e a nós todos que detemos a felicidade de
possuir-lhe a estima. Rendamos graças ao Céu por
estes três lustros de cooperação, de trabalho, de
intercâmbio, de luz! 8 A única saudade
verdadeiramente santa é aquela que se esforça por
reviver a felicidade que ela própria simboliza.
Vocês souberam realizar esse prodígio. Pela ânsia
construtiva de reter um coração iluminado e nobre
ofereceram-lhe abrigo no imo do ser, recebendo-
lhe os raios de amor santificante e oferecendo-lhe
um santuário que se fez divino ao seu
autoengrandecimento. 9 Que o Senhor lhes conceda
multiplicadas possibilidades-oportunidades de
ouvi-lo, amá-lo e segui-lo cada vez mais!
Espiritualmente falando, formam com ele um
precioso campo de equilíbrio — ele arrebatando-os
potencialmente para o Alto e vocês trazendo-o para
a Terra — onde esse encontro de forças oferece
recursos valiosos para que a alma devotada se
exteriorize em abençoados serviços que beneficiam
a todos.
10
Nesta noite, portanto, associamo-nos na mesma
expressão de contentamento e de estímulo. Que
vocês estejam com o Professor tanto quanto o
Professor permanece com Jesus e com vocês, são
os votos da tia e velha amiga de sempre,

Engracinha

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


68

No santuário doméstico
Ao Professor Joviano
19|12|1949
1
Professor, eis-nos de novo
Agradecendo o carinho
Da tua missão de pai
Nos óbices do caminho.
2
A palavra não expressa
A força da gratidão,
Porque o júbilo sublime
Não foge do coração.
3
Deixa, porém, bom amigo,
Generoso e tolerante,
Que nesta noite de amor
A nossa voz se levante.
4
Todos estamos contentes
Em tua escola de luz
Consagrada, inteiramente,
À inspiração de Jesus.
5
E agradecemos, felizes,
A tua consagração
À nossa prosperidade
No aprendizado cristão.
6
Vem até nós! Eis-nos todos
Em saudação comovida
À tua bondade excelsa
Que ilumina a nossa vida!
7
Abre-se o templo do lar
Sobre as flores sempre-vivas,
Nascidas do amor celeste
Que recolhes e cultivas!
8
Tudo se ajeita com gosto:
A estante, a lâmpada, a mesa…
Lá fora, há perfume e paz
Nas bênçãos da natureza.
9
Ao redor da prece calma
Chegam amigos, em bando,
Exaltando o benfeitor
Ativo, seguro e brando.
10
Trazem, ainda, à nossa sede
A água viva da lição
Que afaste de nossas almas
A sombra, a chaga, a aflição!
11
Aprendeste no Evangelho
A servir, sem descansar.
Bendito “o semeador
Que saiu a semear”. ( † )
12
Em teu doce aniversário
De luz, de paz e de amor,
Que a glória te guarde a vida
Nos júbilos do Senhor!
Casimiro Cunha
Nota da organizadora: Na data também comemorava-se o
aniversário de Rômulo Joviano, nascido em 1892. Meu
pai estava completando, portanto, 57 anos.
69

Júbilo doméstico
11|01|1950
1
Glória a Deus nas alturas e paz na Terra a todos os
espíritos de boa vontade! ( † )
2
Partilhamos da alegria robusta que impera hoje
neste santuário e sinto-me ditosa observando o
nosso querido Aurélio e a nossa querida Julinha no
banquete do amor que o aniversário de Maria nos
trouxe naturalmente aos corações.
3
O júbilo doméstico é a materialização das bênçãos
do Céu. O lar não é simplesmente um refúgio
compulsório de personalidades, na expressão física
da palavra. É o templo das almas em que os
sentimentos elevados se unem para a celebração da
verdadeira felicidade.
4
A nossa festividade permanece aureolada de dons
do Alto e agradeço a Jesus a ventura de vê-los
reunidos na mesma comunhão de sempre!
5
Interpreto satisfeita, nesta hora, as felicitações de
todos os amigos de nossa Esfera de ação, que se
acham presentes, entrelaçando vibrações de
carinho, preces de agradecimento e solicitando a
Jesus conserve a existência e a saúde, a paz e a
alegria de nossa querida aniversariante, a fim de
que prossiga em sua posição de luminoso centro
aos corações que lhe seguem os passos na ascensão
espiritual.
6
Deus a abençoe, minha querida Maria! E lhe
restitua sempre na percentagem do infinito as
flores de ternura e devotamento que o seu carinho
e entendimento sabem semear cada dia!
7
A luta na Terra vale pela beleza que criamos na
condição de maternidade sublime. Aqui me refiro
tão somente à maternidade, porque a mulher cristã
é sempre mãe, a começar pelo esposo, em cujo
coração encontra um hostiário de luz para a
jornada através do caminho da humanidade.
8
Você é, realmente, uma herdeira feliz do valor do
papai e da abnegação da mamãe. Que o seu
espírito, na romagem terrestre, continue brilhando!
E nunca se esqueça, minha querida neta, de que a
estrela brilha sempre mais mormente quando as
sombras se acentuam no firmamento… Guarde
sempre o seu espírito de bom ânimo, de
compreensão e nobreza perante o mundo. Nossa
missão é a de doar a vida, o equilíbrio e a claridade
em nome de Deus! Que Ele a coroe de felicidade
agora e sempre!
9
Depois de haver cumprimentado a nossa Maria,
meu caro Aurélio, quero fazer-lhe sentir que a
minha presença ao seu lado continua incessante.
Graças à Divina Proteção, os horizontes revelam
serenidade e estabilidade! Agradeço a sinceridade
de seu esforço na plantação de paciência dos meses
últimos. Felizmente, você dispõe de um anjo da
guarda em nossa Julinha e não pode, realmente,
errar no roteiro a seguir. A Providência Celeste é
invariável na abundância dos benefícios. Com o
apoio do Alto, meu filho, nada lhe tem faltado!
10
A coragem, ajudada por amigos, embora
invisíveis, mantém-se intacta em sua alma de
lidador. A calma, nutrida por seu abençoado
trabalho no entendimento, garante-nos o êxito de
sua paz. E a saúde orgânica, não obstante não
completamente refeita, com a cooperação dos
mensageiros divinos se reergue gradativamente
nos moldes desejáveis, com o maior lucro para os
nossos interesses comuns quanto à paz e à união.
11
Desse modo, meu filho, somente lhe peço que
continue cuidadoso, atendendo aos conselhos de
nossa Julinha, aos quais quase sempre utilizamo-la
por médium de nossas sugestões. E aguardo a
continuidade de suas meditações, tanto quanto
possível, com a audição de leitura edificante, de
vez que com esse material recebemos precioso
concurso de influenciação em favor de seu integral
restabelecimento.
12
Não se entristeça acalentando pensamentos
sombrios, menos compatíveis com o júbilo que
deve reinar em seu espírito vitorioso. Essa
recomendação é muito importante para a sua
tranquilidade, porque a mente pacificada é como o
lago sem agitações que pode refletir os aspectos do
firmamento.
13
Não se agaste, nem perca tempo desejando
superar, de vez, as inibições do corpo. Às vezes, é
necessário que o operário tenha maiores doses de
paciência com a máquina. O corpo é essa máquina,
enquanto que nós somos os operários do
progresso. Não convém forçar-lhe as peças ou
violentar-lhe os ligamentos para a produção
apressada. Em todas as experiências, temos
necessidade do serviço de refazimento.
14
Com respeito às manifestações febris, não há
motivo para inquietações. O problema será
solucionado e espero que a sua nova temporada em
companhia de Julinha no campo seja portadora de
reais benefícios ao seu estado geral. Meu filho,
você sabe que estou sempre à sua disposição.
Pense em mim e estaremos juntos.
15
Jesus conceda a vocês todos, muita alegria e paz,
fortaleza e bom ânimo! Estou abraçando a você,
meu filho, ao lado de nossa bondosa Julinha, com
os meus rogos ao Alto por seu triunfo completo em
todas as fases do combate silencioso pela
restauração do equilíbrio físico. Sou a mamãe que
lhe guarda os pensamentos no imo do coração,

Amélia

Nota da organizadora: Na data comemorava-se o


aniversário de minha mãe, Maria Joviano, que nascera
em 11 de janeiro de 1901, vindo a falecer em 7 de
novembro de 1950.
Texto extraído da 1ª edição desse
livro.

70

Caminhada espiritual

05|06|1951

“E o que pedimos é o vosso aperfeiçoamento.” (2


Coríntios, 13.9)
1
Caros amigos, que a luz do Senhor brilhe sobre
todas as sombras que possam envolver a nossa
Terra, a fim de que o sol da verdade faça surgir a
pujança do seu amor por toda parte.
2
A caminhada espiritual na escola da Terra é
semelhante ao trabalho que um escafandrista tem
para se movimentar dentro da espessa textura do
mar, imerso sob o seu grande volume de águas. O
ser que se introduz nesse aparelho assim procede
para um determinado propósito — vai procurar
alguma coisa, vai verificar a situação de algum
navio ou vai estabelecer conhecimentos para que
se processe alguma coisa em beneficio de certa
comunidade. Ninguém se mete em um escafandro
suportando o peso de muitas toneladas d’água
correndo riscos inúmeros, arriscando a delicadeza
dos seus órgãos, que não foram criados para essa
missão debaixo d’água! Ninguém assim procede
por mero divertimento ou para satisfazer
curiosidade individual. 3 Nenhum Espírito volta ao
ambiente da Terra sem determinados propósitos. O
escafandrista não se submerge sem o auxílio de
muitos que velam pela execução da sua missão. O
seu trabalho é acompanhado por muitos e os
resultados de seus esforços são avaliados por
muitos que podem dizer do mérito e resultados de
cada esforço de andar debaixo d’água e executar
determinados programas de trabalho. Também nas
nossas encarnações temos quem avalie as nossas
vidas na Terra, concedendo mérito a cada uma
delas, de acordo com os seus resultados na
execução de trabalhos em beneficio da
espiritualidade representada por cada um de nós.
4
Voltemos ao texto do estudo do Evangelho da
noite. O que nos pede o Senhor da Vida é o nosso
aperfeiçoamento e para essa missão ele concede
inúmeros amparos para que a nossa experiência
seja sempre um marco de evolução. É isso que
todos pedimos aos companheiros de humildade.
Que não desperdicem um só instante do tempo
concedido a cada um de nós para a imersão na
carne. O sucesso de cada um tem reflexo em toda a
humanidade, porque o aperfeiçoamento de um
acarreta a elevação de muitos.
5
Assim, meus amigos, não tenhamos nenhuma
dúvida sobre a existência de grandes correntes de
companheiros em ambos os lados, empenhados no
aperfeiçoamento de cada um e unidos no amparo
que cada um necessita nas lutas de cada dia para
assegurar postos de trabalho em beneficio da
comunidade. Nesse mister, recebemos
constantemente a força do amor do Senhor Jesus, a
luz da sua sabedoria e do seu poder, para que o
homem se aperfeiçoe tanto na matéria quanto no
Espírito. Que Jesus nos ampare sempre nos nossos
bons propósitos.
Boa noite, o vosso amigo e servo humilde,
João de Deus Macário
71

Louvemos o patrimônio do tempo

06|01|1955

“E completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo


do Senhor no deserto do Monte Sinai, numa sarça
de chama ardente.” (Atos, 7.30)
1
Meus amigos, que a paz do Senhor esteja em
nossos corações e que a luz do seu amor nos
envolva hoje e sempre.
2
Louvemos o patrimônio do tempo com que o Pai
nos enriqueceu a experiência da vida na escola
terrena. Um ano que se finda é um tesouro que nos
concedeu de conhecimentos e oportunidades para
utilização das bênçãos da mente iluminada pelo
nosso mestre Jesus. Um ano que se inicia é uma
nova possibilidade que se abre para que
busquemos as riquezas da espiritualidade. 3 É
nesse decorrer de ciclos que temos crescido no
desenvolvimento do nosso Espírito. Muitos de nós
temos tido repetidas vezes essas ocasiões de
marcar as atividades da nossa alma em busca do
Mais Alto. Mas, meus amigos, a luta é árdua e a
caminhada é longa.
4
Muitos de nós têm percorrido esta senda da vida na
Terra sem alcançar resultados. Muitas vezes nem
mesmo temos percebido a luz que buscávamos. É,
pois, muito a propósito que o tema do estudo do
Evangelho da noite chama a nossa atenção para o
versículo dos atos dos apóstolos, registrando que
mesmo os mais graduados na experiência das lutas
evolutivas do Espírito têm encontrado obstáculos
para o pleno conhecimento da chama
divina. 5 Moisés levou quarenta anos para perceber
a luz que o anjo do Senhor trouxe para iluminar-
lhe a caminhada na Terra, bem simbolizada na
aparição em sarça ardente, no Monte Sinai. Filhos
meus, já temos percebido os primeiros
chamamentos dessa luz na nossa caminhada. É,
pois, com graça e júbilos que elevamos os nossos
pensamentos ao Senhor da Vida, agradecendo
tantas bênçãos! 6 Roguemos, pois, para que mais
este ano que se abre à nossa caminhada seja cheio
de lutas proveitosas e deveres bem cumpridos, a
fim de que possamos transpor os montes dos
desertos da nossa ignorância e infantilidade
espiritual.
Boa noite, o vosso irmão e amigo, bem como servo
humilde,
João de Deus Macário
epois da travessia — Autores diversos

Dedicatória II
Ao meu filho Sergio oferto estas mensagens de
minha querida mãe Maria Luiza Xavier
psicografadas por meu querido tio Chico que me
deram força e coragem para continuar vivendo.
Tua mãe
Maria Lúcia F. Gonçalves n

[1] [Vide a seguir a Mensagem de José Xavier e a Nota da


editora sobre Maria Lúcia F. Gonçalves.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


72

Mensagem de José Xavier


06|07|1985
1
Prezada Maria Lúcia, n aqui estamos.
A nossa Luiza prossegue muito bem no
refazimento preciso. n Se fôssemos ouvi-la, já teria
deslanchado do Instituto há muito tempo, a fim de
escrever a você aqui mesmo, conforme o desejo
dela e a promessa que fez a você. 2 No entanto, os
nossos instrutores julgam que ela necessita
reconstituir-se um tanto mais para vir a escrever
com segurança, trazendo-lhe notícias. Ela tem
custado a resignar-se com a separação de sua
presença, sentindo dificuldade para aceitar o
problema da distância, contudo, ela perceberá
muito em breve que essa distância é inexistente,
porquanto poderá vir até aos nossos sempre que
desejar e as circunstâncias permitirem. 3 Você
pode imaginar a amargura que ainda persiste
naquele coração de mãe, no entanto, as suas preces
chegam até ela e com isso se reconforta. Pelo que
noto, observo que ela já recebeu até pedidos seus
escritos, rogando-lhe proteção e companhia, mas
espero que a restauração das energias dela se
processe naturalmente para entrar com ela nesses
assuntos.
4
Querida Maria Lúcia, tanto tempo passou e somos
os mesmos… Você, que era a menina de ontem,
hoje já é a mãe de rapagões fortes e homens feitos,
impressionando-nos pela rapidez das horas que se
sucedem umas às outras. 5 Fique certa de que a
vida continua e de que você não perdeu sua mãe,
agora mais viva para compreender-nos e auxiliar-
nos a todos, como sempre aconteceu. Continue
com as suas orações pelo padrão que julgue
melhor. 6 Toda prece que se eleva para o Alto é
uma luz entre os que se ausentam para a residência
em outra vida e os que ficam para lhes continuar o
trabalho habitual com a bênção de Deus. 7 Aqui,
pelo chão da Terra, as ideias costumam surgir
separadas. Entretanto, à medida que conquistam
altura são todas elas forças e inspirações da alma à
procura de Deus. Continue orando! 8 Eu mesmo
sou muito grato por todos os seus ofertórios em
meu favor e não dispenso o seu auxílio. Com
Oscar e os filhos, n receba o abraço do tio amigo,
n
José Xavier

[1] Notas da editora: Refere-se a Maria Lúcia Ferreira


Gonçalves, filha de Maria Luiza Xavier Ferreira, esta
irmã mais velha de Chico Xavier do primeiro casamento
de João Cândido Xavier com Maria de São João de Deus,
desencarnada em 7 de maio de 1985, em Pedro
Leopoldo, MG.

[2] D. Luiza, da união com Lindolfo José Ferreira, teve


mais três filhos: Maria Alice (Alicinha), Maria Alice
(Pingo) e Luciano.

[3] Oscar, marido de Maria Lúcia, ou Lúcia, cujos filhos


são Sérgio, José Geraldo, Caio e Luizinha.

[4] José Cândido Xavier irmão de Chico Xavier, do


primeiro casamento de João Cândido Xavier com D.
Maria de São João de Deus. Desencarnou em 19 de
fevereiro de 1939, com 33 anos.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


73

Afastamento do corpo
13|07|1985
1
Querida Lúcia, n Jesus nos abençoe!
2
Dirigindo minhas notícias a você, quero explicar
que deixei três filhos — você, Maria Alice e
Luciano — Sérgio, Zé Geraldo, Caio, Luizinha,
Julinho, Chiquitinho e Conceição por netos muito
queridos, e três bisnetos, que são Sarita, Juliana e
Mateus. 3 Preciso esclarecer que sou mãe e avó, e
por isso amo a todos. Aqui, porém, diante da sua
presença e do nosso Oscar, desejo anotar que a
nossa convivência foi, para nós duas, uma ligação
a vida inteira. Você sempre estava comigo e não
conhecemos separação. E o nosso amor uma pela
outra era e continua a ser tão grande que eu não
queria deixar o corpo doente. 4 Meu apego não foi
assim tão grande à existência terrestre, que me
dera dificuldades suficientes para desejá-la com
tanto ardor, mas sim, eu pedia a Deus mais vida no
mundo para não nos separarmos! A ideia de que
isso viesse a suceder me causava um medo terrível
da morte e uma constante aversão pela ideia de
largar o mundo e afastar-me de você. Compreendo
que você se lembrará de nossos entendimentos.
5
A doença trazida pelo desgaste do corpo me
impunha marcas dolorosas, que os medicamentos,
por fim, não conseguiam anular. Tinha bastante
experiência para ver o que estou dizendo nos olhos
dos médicos, que se incumbiam de meu
tratamento. Travei no íntimo uma longa batalha
contra o fim de meus sofrimentos físicos. 6 A
palavra desencarnação, que ouvia de tantos
amigos, soava sempre mal aos meus ouvidos.
Ansiava ficar ao seu lado, sentia que você falava
dentro de mim e que eu morava em seu coração!
Apartar-me de você seria o pior que me poderia
acontecer. 7 Mas o tempo parece combinar
medidas contra nós quando a moléstia é longa
demais. Experimentava horas de aflição e mal-
estar, nas quais observava o meu próprio corpo a
pedir descanso e socorro. Minha vontade de
continuar vivendo era forte demais para que eu
não controlasse a minha própria situação.
8
Naquilo que dependesse de mim, expulsava a
tendência da morte com a força de quem vigia
constantemente contra poderoso inimigo. Chegava
mesmo a conservar comigo a própria insônia, sem
a menor disposição de aceitar um tranquilizante,
para que o sono não pudesse me amolecer a
resistência, permitindo que a morte me agarrasse
por traição. 9 Filha querida, por que tudo isso? Eu
mesma nunca soube responder… Se você saía
para qualquer pequeno dever, sentia que estava
sofrendo uma lesão inexplicável! Devia ver você,
saber você alegre e tranquila para me
acalmar… 10 O nosso Oscar sabe disso e sempre
tolerou o meu apego excessivo na condição de um
filho espiritual que me conhecia a limpeza de
sentimentos. Não era o instinto da posse que me
dominava, era a sustentação de minha própria vida
que eu me empenhava em manter a todo custo. O
combate interior crescia por dentro de mim
quando minhas energias alcançavam os últimos
degraus da resistência…
11
Na noite inesquecível de nossa separação,
procurei guardar os meus olhos vigilantes, com
receio do sono, que é uma espécie de ladrão de
nossa vontade, mesmo porque começara a
perceber que uma parte do meu coração estava
paralisada, porque não conseguia deitar-me do
lado em que isso me parecia estar acontecendo.
Havia pedido em oração a Jesus para que não me
deixasse perder o corpo, sem a sua presença. E fiz
o que pude para que você não se afastasse de mim.
12
Lembro-me com clareza de tudo. A nossa
estimada Palmira do Jair n estava conosco e eu
tomava a sua mão para beijá-la e falar da saudade
que começava a sentir. Notei que o estômago
estava muito vazio e falei com você que eu
aceitaria algum caldo quente que me retirasse da
sensação de fome. Você foi à cozinha e preparou o
alimento leve que eu desejava. Palmira nos via
com a bondade de sempre e chamava você por
aduladeira, brincando com os nossos cuidados…
Tomei o líquido quente que você me trouxe e
ainda ofereci a você o resto para que nós duas
fôssemos as únicas pessoas trocando os corações
naquela hora. Em seguida, falei que você havia
feito uma delícia e novamente tomei sua mão entre
as minhas, exclamando: “Ô saudade! Que
saudade!…”
13
Era a saudade de você que começou a me tomar a
alma toda, quando vi minha mãe n chegar em
companhia de Madalena, irmã de Maria
Anselma, n que trazia nas mãos um retrato de
Jesus, que me pareceu gravado em pontos de luz.
Acompanhando mamãe e Madalena, estava
Cidália n e um grupo de crianças, que me
encantava. Acreditei que o alimento me induzia a
um sono leve e entreguei-me ao respeito e à
admiração pelo quadro que Madalena me
mostrava. Não sabia se estava acordada ou
sonhando…
14
Mamãe me recomendou: — “Luiza, levante-se
para receber o retrato de Jesus das mãos de nossa
amiga.” — “Não posso!”, respondi mais com o
pensamento que com as palavras. “Não tenho
forças!…” — “Pode sim”, acrescentou minha
mãe: “Esforce-se e saia da cama!…”
15
Creio que os meus movimentos para atender
foram apenas mentais. Compreendi que devia
aceitar o pedido de mamãe mais por educação que
por gosto próprio e depois de alguns momentos
me vi fora do corpo desgastado e abatido…
Expressei o meu júbilo e o meu agradecimento à
nossa Madalena, a quem sempre venerei por uma
serva de Deus, quando as crianças unidas
cantaram um hino do qual não retirei a minha
atenção, a fim de mostrar reconhecimento.
Lembro-me de que havia um estribilho no cântico,
que era repetido e dizia assim:
16
“Dos grandes lares do mundo
O maior é o lar do bem.
Bendito seja o meu lar
Nas luzes do grande Além.”
17
Quando me conscientizei de que as palavras
significavam afastamento do corpo, assumi uma
atitude de recusa e perguntei: “— Mamãe, o que
significa isso? Eu não pedi e nem quero nada com
o Além! E esses meninos…”
18
Não terminei a frase. Uma jovem vestida em azul
se aproximou de nós e com muito cuidado
examinou um fio de substância prateada que saía
de minha cabeça, e sem que eu pudesse me livrar
do espanto que me assaltara cortou o fio depois de
examinar cautelosamente o que estava fazendo, e
eu então me senti num desmaio que não sei
explicar…
19
Chamei por você muitas vezes, pedindo as suas
mãos para segurar as minhas, mas a minha voz era
só pensamento… Pedi à Palmira que me viesse
defender contra aquela diminuição de forças, mas
Palmira também não conseguia me ouvir. Procurei
por você ansiosamente, entretanto, embora
percebesse você quase rente comigo, notei que
você estava controlada pelas mãos de nossa
querida Cidália, sentindo-se incapaz de me
atender. Madalena abeirou-se de mim e pediu:
“Luiza, tenha coragem e aceite a vontade de
Deus!”
20
Tudo estava certo, mas eu lutava contra a morte e
procurei acomodar-me no corpo inerte que ainda
se mantinha no calor quase natural. Escutei suas
exclamações e seus gritos, chamando Oscar,
chamando Sérgio e Tucha! n
21
Ah! Eu não sei contar a angústia que me tomou as
energias. Queria falar e a boca não me obedecia,
tentava mover-me, mas tudo era em vão…
22
“Morta? Pois minha avó está morta?…” Ouvia os
netos perguntando, enquanto você chorava nas
mesmas lágrimas. Querida filha, tanto a dizer e
não temos tempo!
23
Apareceu José, meu irmão, com duas moças, que
me pareceram enfermeiras, e organizou num canto
do quarto uma espécie de gruta de algodão, para
cujo interior me transportaram. A revolta estava
comigo e procurei estampá-la em meu rosto,
sabendo que o pensamento é uma força criativa.
Minha mãe me reconfortava e eu respondia: “Para
onde me levam? Quero Lúcia! Chamem Lúcia!
Ela não me deixará sair!…”
24
Ah! Quanta dor para largar uma situação que não
devia se prolongar! O dia estava alto quando ouvi
a sua palavra lacrimosa, pedindo para que Dirce,
Cleusa e Célia n me vestissem para a cena final,
que eu estava detestando. Elas entraram no quarto
e ainda havia uma certa ligação entre o meu corpo
imóvel e eu mesma. Mostrei na face o meu
desagrado e chamava por você, sem que ninguém
me escutasse…
25
A minha promessa de contar a você o que
sucedesse ainda me tomaria tempo, a fim de
terminar e, por isso, não devo prejudicar os nossos
amigos com uma descrição que parece sem fim…
Se eu puder, em outra ocasião contarei a você e ao
nosso Oscar o que se passou depois. Agora, quero
reafirmar a minha dívida de amor para com você,
minha filha querida. 26 Minha filha e minha mãe
do coração, eu não sei como será o meu futuro,
contudo, seja qual for a situação chame por mim,
que sou sua mãe e sua escrava pelo carinho da
vida inteira que você me deu! Chama-me e eu
estarei ao seu lado para conseguirmos juntas, em
nossas orações, aquilo de que você necessitar! Não
importa que alguém diga que o nosso amor de mãe
e filha é simples possessão. Se for isso mesmo,
aposse-se você de mim e me retenha nos seus
passos! Não me esqueça em suas preces, não me
abandone! Sou ainda a sua mãe fraca e doente,
esperando a sua assistência e o seu auxílio!…
27
Agradeça aos seus irmãos por mim. Diga à nossa
Pingo para que não tenha ressentimento contra
mim. Fale o mesmo com o nosso Luciano. Amo a
todos, no entanto, a lei de Deus nos uniu de
maneira que não posso compreender! Ainda não
sei se sou você ou se você será eu mesma! Não
tenha medo da vida. Sei que você, por seus
bilhetes, me disse que mantinha o desejo de
mudar-se para uma outra casa. Não faça isso! Ali
tivemos as nossas maiores alegrias e os nossos
maiores sofrimentos! Deus nos auxiliará a resolver
os problemas que forem aparecendo! Não perca a
sua paciência. Cuide com carinho do nosso Oscar,
do nosso Caio e de todos os nossos.
28
Quando alguém erguer a voz contra você,
entregue tudo a Jesus e não responda. Estou
aprendendo lições que me fixam na paz que nos
cabe preservar sempre. Vence quem parece
vencido, melhora quem parece debaixo de pesadas
humilhações. Haja o que houver, perdoe as
ofensas que nos visitarem a casa e ensine aos
nossos mais moços que a paz vem de Deus e que
não devemos desprezá-la.
29
Reze sempre, estaremos juntas em nossas preces e
em nossos votos. Agradeça à nossa Tucha todo o
bem que ela me fez e diga de meu reconhecimento
à Nilza, que sempre abracei por neta de meu
coração. Diga à nossa Palmira de Jair e à Dirce, à
Célia e à Cleusa que nunca me esquecerei do
auxílio constante que me prestaram. Não deixe de
manifestar o nosso reconhecimento ao
Toneco n por haver permitido que Dirce nos
amparasse tanto.
30
Peço a você encorajar o Sérgio. Diga a ele que a
bondade de Deus não nos desampara. Algum
serviço para ele há de aparecer.
31
Ao nosso Zé Geraldo, agradeço todo o carinho
que dispensou à avó doente e fale com a nossa
Tuquinha n que eu irei descansar no quarto sempre
que eu puder para acompanhá-la com os meus
pensamentos de amor. Ela e o nosso
Reizinho n estão em meu pensamento de maneira
incessante. Diga à nossa Pingo que minha bênção
de mãe há de acompanhá-la onde estiver, e a
Luciano que sou muito grata por todo o amor filial
que sempre recebi dele. 32 Querida filha, ore em
casa mesmo. Você não me sentiu no cemitério,
porque não estive lá. Nas horas de tristeza e
saudade, recorde que sua mãe traz consigo a
tristeza e a saudade no coração.
33
Mamãe me afirma que tudo melhorará para nós e
eu creio na palavra dela, que foi sempre certa.
Agradeço os cuidados das nossas amigas
Mercedes e Jacy, n e peço a Jesus recompense a
dedicação dos nossos médicos, especialmente o
Dr. José Luciano e o Dr. Roberto. n Tenho tanto a
agradecer e nada possuo para dar, contudo, Deus
derramará sobre todos os que nos auxiliaram as
Suas bênçãos de amor e luz!
34
Minha gratidão ao nosso prezado amigo Beijo n e
a tantos amigos que nos estenderam as mãos. Não
me esqueço da bondade de nossa Leda n e rogo
para ela o que a vida guarde e tenha de melhor
para nos oferecer.
35
Dos amigos que encontrei aqui e de meu encontro
com a nossa Hermelita, n no dia justo em que ela
foi chamada à vida espiritual, direi depois o que
me for possível. Vim daí na condição de devedora
de muita gente. Aos poucos, me explicarei.
36
Quanta saudade de você, minha filha! Peça a Jesus
para que a falta de seu carinho não me pese tanto.
Ao nosso Oscar, o meu reconhecimento, que será
sempre o mesmo. Lindolfo n me perguntou pelo
Louro n e eu disse que Oscar estava seguindo o
nosso Louro de perto.
37
Não posso continuar, porque a emoção tolda a
visão. Apesar disso estou melhor dos olhos e já
consigo enxergar mais ou menos.
38
Os amigos aqui me perdoarão se escrevi tanto.
Você me disse que ficou satisfeita com a
mensagem do José, mas desejava, sobretudo, que
eu dissesse a você alguma notícia. Aqui você tem
o meu coração em todas as letras. Se você notar
diferença em minha letra, isso é porque minha
mão está na mão do Chico e a gente não pode
escrever senão a duas pessoas. Lembranças a
todos.
39
Peça à Tucha para continuar nos auxiliando. Ela é
a filha que nos faltava.
40
Querida Lúcia, Deus abençoe a você por tudo o
que você representa em meu coração! E receba,
com o nosso estimado Oscar, o carinho repleto das
muitas saudades de sua mãe, sempre sua mãe,
sempre mais sua,

Luiza Xavier

Notas da editora:
[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier]
[2] Palmira do Jair era uma amiga da família Xavier.

[3] Em referindo-se a D. Maria de São João de Deus,


desencarnada em 29 de setembro de 1915, aos 34 anos.

[4] Madalena e Maria Anselma eram amigas da família


Xavier.

[5] Em referindo-se a Cidália Batista Xavier casada em


segundas núpcias com João Cândido Xavier, sendo,
portanto, madrasta de Luiza, desencarnada em 19 de
abril de 1931.

[6] Tucha era o apelido de Maria Tereza, esposa de Sérgio


Luiz, mãe de Sarita.

[7] Refere-se a amigas de Pedro Leopoldo, que


acompanharam de perto o transe da família. Cleusa e
Célia eram irmãs, filhas de Cândida e José Martins, este
farmacêutico na cidade de Pedro Leopoldo. D. Cândida,
à época, já estava desencarnada e é mencionada em
mensagem posterior.

[8] Toneco era um amigo da família Xavier. Irmão de


Ibraim, da Rua Esporte, em Pedro Leopoldo.

[9] Tuquinha era o apelido de Luizinha.

[10] Reizinho era o marido de Tuquinha, ou Luizinha.

[11] Mercedes e Jacy eram amigas da família Xavier,


vizinhas de D. Luiza. Mercedes era vizinha de frente,
casada com José Hilário, que tocava na banda. Jacy era
vizinha de lado e era casada com o comerciante José
Pedro Filho.
[12] Dr. José Luciano era filho do comerciante de tecidos
Nagib Issa e o Dr. Roberto era do Hospital São João
Batista.

[13] Beijo era o apelido de Benjamim Henrique de Freitas,


muito amigo de D. Luiza.

[14] Leda era uma amiga da família Xavier.

[15] Em referindo-se a Hermelita Soares Horta,


desencarnada em 4 de julho de 1985. Referência do
Espiritismo e na área do trabalho social, esteve à frente
do Centro Espírita Amor e Luz da cidade de Matozinhos
em Minas Gerais, por muitos anus, e cujo nome foi dado
à instituição por sugestão de Chico Xavier.

[16] Refere-se ao seu marido, Lindolfo José Ferreira já


desencarnado.

[17] Louro: papagaio de estimação de Chico Xavier que


era cuidado por D. Luiza e depois por Lúcia, em Pedro
Leopoldo. Está enterrado na Casa de Chico Xavier de
Pedro Leopoldo.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
74

Me achava numa organização católica

12|10|1985
1
Querida Lúcia, peço a Deus nos abençoe!
2
Sei que você está acompanhada por nosso Sérgio,
por nossa Sarita e por nossa Nilza. n A eles os
meus pensamentos de paz, com as minhas preces
ao Senhor Jesus pela felicidade de todos os
nossos.
3
Você não imagina como é grande o nosso anseio
de transmitir notícias capazes de auxiliar na
preservação da tranquilidade da família. Tenho
recebido todas as suas anotações, escritas como
que em segredo, para que eu consiga permanecer
informada das suas lutas de filha e mãe, na
atualidade.
4
Creio que o amor colocado por Deus no coração
das mães não lhes permite o descanso com que
tanta gente sonha inutilmente. De maio até agora,
sinto como se estivéssemos todos sob uma
tempestade que, graças aos Céus, está sendo
amainada gradativamente. 5 Dos seus bilhetes,
destaco aqueles em que você me falou do desejo
de morrer de qualquer modo, o que me assustou
bastante, porque semelhante propósito não pode
surgir em nossa confiança na justiça de Deus, que
tudo rege para nosso bem. Filha querida, suporta
as provações com serenidade e coragem! 6 Sofro
muito, mas sofro com calma, em observando os
obstáculos que se interpuseram entre a paz e a
nossa casa, sempre resguardada pela união de
todos. Sofro porque sou mãe e a certeza dessa
condição não me dá tréguas ao pensamento, de
vez que será impossível para mim ver você em
constantes inquietações, sem mover-me para
prestar-lhe auxílio.
7
Tenho procurado fortalecê-la e escorá-la em todos
os dias de nossa luta. Tudo será resolvido na
proteção da Divina Providência. Seus bilhetes
sobre a nossa Tuquinha n me tomam atenção.
Entendo os seus empecilhos para se dirigir a cada
filho, na dimensão exata do que se faz necessário
dizer a cada um. Peça à nossa Luizinha para
sossegar o pensamento, às vezes cansado, sem
justos motivos. Ela me compreenderá no que lhe
digo nos momentos de solidão em nosso quarto.
Se eu pudesse, retomaria o meu corpo doente para
estar em casa, entretanto, sei igualmente que
preciso exercitar a paciência e a conformação.
8
Você deseja saber como se deu o meu afastamento
de casa, logo depois da separação definitiva de
meu pobre corpo enfermo. A bondade infinita de
Deus, por Seus mensageiros, impediu o mal-estar
de que me veria possuída se fosse obrigada a
seguir aquele cortejo do entardecer. 9 Fiquei em
nossa casa mesmo, no leito que o José, com o
apoio de alguns amigos, me improvisou, em um
dos cantos do aposento amplo. Passei por breve
sono, do qual despertei muito aflita a chamar por
você, mas a presença de minha mãe, Maria de São
João de Deus, ao meu lado, me impunha reserva e
sobriedade. 10 Chorando muito, perguntei a ela por
que não me retiravam dali, daquele retângulo,
como que formado de algodão ou de neblina
densa, que não conseguia compreender…
11
Quero transmitir a nossa conversação a você e a
quem possa aproveitar os ensinamentos que
recebi.
— Minha mãe — disse agoniada — por que estou
retida em meu próprio quarto, quando acreditei
que ficaria livre do ambiente de meus sofrimentos
na enfermidade longa?…
12
Ela explicou:
— Luiza, você ainda apresenta muito peso para sair
com facilidade.
— Peso? — Repliquei. Meu corpo fatigado não era
mais que um feixe leve de ossos…
— Não me refiro a isso. — tornou minha mãe. —
Reporto-me ao seu coração, pesado de angústia,
acumulando recordações dolorosas e carregando
pesares que a prendem ao lar…
13
Eu não sabia que as mágoas revelam peso nocivo
à vida íntima e não voltei às indagações. Depois
de seis dias, ouvi minha mãe solicitando ao José
que providenciasse a vinda de um carro para
minha retirada. Estranho, para mim, é que ela
esclareceu ao término das recomendações:
14
— Ela podia perfeitamente usar o pensamento
para dispensar qualquer veículo, entretanto, minha
filha, sempre lutando sob as dificuldades naturais
na criação da família, não teve oportunidade e
nem tempo para exercícios mentais que lhe seriam
fáceis no desdobramento das orações…
15
Sempre chorosa e calada, a breve tempo fui
conduzida por minha mãe a um carro diferente
daqueles que usamos na vida física. Ela e cinco
amigas, ou colegas do serviço de assistência a que
se dedicava, tomaram assento em dois bancos
traseiros, enquanto que a mim foi reservada uma
poltrona de grande tamanho junto ao motorista, a
que se dá por aqui o nome de piloto.
16
Sempre conduzida por minha mãe, a sentir-me
quase à maneira de uma criança, acomodei-me na
poltrona, sem partilhar da conversação que se
mantinha na intimidade do veículo. O carro
deslizou, ao modo habitual do mundo, no entanto,
após uma distância — que calculo de dois ou três
quilômetros — o piloto imprimiu maior
velocidade àquele refúgio rodante e o carro planou
no ar, compreendendo eu que o veículo, para mim
completamente desconhecido, se revestia de
função dupla, porquanto evoluía rapidamente no
mundo aéreo, talvez com mais segurança que na
Terra comum.
17
Tão amargurada me achava que me abandonei à
viagem “para o que desse ou viesse”, de vez que a
minha contrariedade era um pesadelo que me
situava entre o pesar e a cólera, que eu não
conseguia disfarçar. Sentia-me na condição de
inimiga irreconciliável da morte, que me afastara
do convívio de casa.
18
Findos, talvez, uns quarenta minutos de voo,
chegamos a uma praça, onde se levanta grande
Instituto, construído com cinco frentes distintas e
devidamente numeradas. Muita gente aguardava
aquele engenho, que pousara no chão a uns três
quilômetros da praça a que me refiro. E entre os
circunstantes, que se mantinham discretamente
afastados, reconheci muitos parentes e amigos,
que me saudavam, mantendo-se um tanto longe,
decerto pelas disciplinas ali estabelecidas, mas o
meu estado de irritação era tamanho que baixei a
cabeça para não ser obrigada a cumprimentar ou
acenar para alguém.
19
Minha mãe percebeu o meu desagrado e me
recomendou apoiar-me na bengala de que não me
afastava nos tempos últimos. Mesmo mancando,
sem olhar para os que nos observavam, entrei no
Instituto, onde um quarto me fora reservado. Os
detalhes são muitos e não devo alongar-me
demais. Vim a saber, porém, que me achava
numa organização católica para os reajustes de
minhas forças. 20 Indaguei de minha mãe o porquê
de minha localização ali, ao que ela me disse que,
embora muito relacionada com os espíritas-
cristãos, eu não dispunha de meios para me
adaptar a uma Instituição dessa natureza, de vez
que me habituara ao terço para as minhas preces, e
que ali encontraria muitas criaturas amigas que
comigo compartilhariam os assuntos
predominantemente católicos; que isso seria uma
posição transitória, até que eu me dispusesse a
estudar e a pensar nos problemas da vida e dos
destinos espirituais, sob outro prisma.
21
Tudo aceitei, sem qualquer reclamação, mas o
meu Espírito, que voltara à sensibilidade infantil,
derramava lágrimas e aflições incessantemente.
Minha mãe me esclareceu que não me seria
possível receber visitas enquanto não me
modificasse para melhor e não opus qualquer
resistência, porque a ideia da morte não me
entrava com simpatia na cabeça. Depois de alguns
dias, José veio comunicar-me que certa amiga,
além de você mesma, me aguardava a cooperação
possível.
22
Dessa vez foi ele quem me conduziu ao veículo
que tentei descrever e deu ao piloto um endereço.
Aquela estranha máquina deslizou em terra e, em
seguida, voou, com grande velocidade. À medida
que descíamos do ar para o chão terrestre, comecei
a sentir a necessidade de apoio. As antigas
doenças como que me retomavam…
23
José, prestimoso, apresentou-me a bengala,
explicando que não se esquecera de trazer a minha
escora. O carro percorreu pequena distância e
reconheci Matozinhos. n Quanto mais perto de
certa casa mais o coração me disparava no peito!
24
Depois da parada, entramos José e eu na
residência. Fui encontrar a nossa Hermelita n nos
últimos instantes do corpo. Ah, Lúcia, n você
consegue imaginar a minha emoção? No aposento
em que os filhos choravam discretamente, a nossa
amiga pensava em mim como se eu valesse
alguma coisa para lhe ser útil! Ela me pareceu em
luta para desagarrar-se do corpo que a libertava e
chorei por ela e por mim mesma!… Pode você
calcular o que seja a dor das mães compelidas a
deixar os filhos num adeus que não se sabe
determinar?
25
À pequena distância de nossa amiga estava João, o
esposo que a sustentava, e não longe, num círculo
de orações, via-lhe o pai, que conheci com o nome
de Juca Folheiro, e a querida mãe, Ritinha, com
Ursinha, Maria e outros irmãos que, ao lado de
familiares do João, irmanavam-se endereçando-lhe
forças para se liberar do corpo já imóvel. Que
podia eu fazer senão orar e chorar com aquela que
sempre nos fora irmã pelo coração?
26
Aproveitei o giro em que nos achávamos e pedi
uma rápida vistoria em Pedro Leopoldo…
Cheguei, pela primeira vez depois de minha saída,
e pude abraçar você e Sarita, Luizinha, Caio e
Sérgio, tendo ido ver Pingo e os nossos. Ao
aproximar-me da mesa de refeições, notei que
Oscar despertara e saía do aposento. Embora o
meu esforço para não ser vista, ele me viu
ligeiramente, sem conseguir ocultar a própria
surpresa.
27
Minhas lágrimas naquele retorno breve me
ensopavam o rosto e nunca imaginei que se
pudesse chorar tanto num corpo que não era o
mesmo que se usa na experiência física. Pensei,
porém, na dor de Hermelita, num terrível esforço
para ficar e, de certo modo, reconfortei-me,
porque eu não era a única mãe a sofrer com a
intromissão da morte.
28
Nos tempos últimos, aprendi a concentrar os meus
próprios pensamentos na ânsia de estar em casa e
recebi o prêmio de ir até lá, nas asas mágicas do
pensamento, por enquanto, todas as vezes que
assim o desejasse. É assim que não estou
dependente de veículo algum e tenho podido
acompanhar o nosso querido Sérgio na prova que
lhe fere o coração. Sérgio, se você estiver me
ouvindo, peça a Deus coragem e compreensão!
29
Querida Lúcia, não posso alongar-me, preciso
terminar, mas preciso que você diga à Célia e à
Cleusa que o passeio em companhia de
Cândida n foi o primeiro que fiz depois de minha
permanência aqui, mas desejo que ambas saibam
que o nosso banho foi uma frustração! 30 As águas
não nos alcançaram o corpo espiritual. Foi inútil o
nosso desejo de sonhar com um banho idêntico
aos nossos. A água no mundo físico é composta de
matéria pesada, que passa por nosso corpo
espiritual, sem atingir-nos. Cândida e eu tivemos
de contentar a nós mesmas com o banho
medicamentoso de vapores controlados de que
ainda necessitamos na Instituição em que nos
achamos.
31
Peço a você, querida Lúcia, dizer à Helena, a
nossa Helena do Luciano, n para que não se magoe
por não lhe haver escrito o nome em minhas
notícias. Acontece que falando em Luciano e
Pingo senti que me reportava ao mesmo tempo a
ela e ao Nery. n Você note como é difícil tocar as
teclas da memória depois da desencarnação…
Escrever lembrando ocorrências e pessoas parece
com o ato de fazer música na pauta. É preciso ter
nota por nota nas recordações imediatas.
32
Envio muitos beijos à nossa Tuquinha e agradeço
a ela continuar em nosso dormitório, como
agradeço por seus cuidados mantendo o nosso
refúgio doméstico nos lugares de sempre. Muito
grata por haver você conservado as minhas rosas
artificiais, que nos guardam tantos pensamentos e
orações de paz e esperança.
33
Lembranças carinhosas ao nosso Caio, à Nilza e
ao Sérgio. Prometo fazer o que eu puder para que
ele encontre o emprego necessário. Estou vendo a
nossa Ana Carmela n e peço a você dizer-lhe que o
nosso Cláudio n receberá o amparo do Alto. Ela e
o nosso amigo Horvânio n não podem desanimar!
34
Meus pensamentos de amor para Pingo e Luciano,
com muito carinho a todos os netos.
35
Lembranças ao nosso Oscar e para você, querida
Lúcia! Entranhado nesta folha de papel fica todo o
coração de sua mãe, sempre a sua,

Luiza Xavier

Notas da editora:
[1] Refere-se ao neto Sérgio Luiz, à bisneta Sarita e à
Nilza, que foi namorada e noiva de José Geraldo, filho
de Lúcia. Nilza era uma pessoa muito querida pela
família, especialmente por D. Luiza.

[2] Localidade mineira limítrofe a Pedro Leopoldo,


distando desta apenas 6,5 quilômetros e, da capital, Belo
Horizonte, 47 km.

[3] Cândida, como já mencionado em mensagem anterior,


era a mãe de Célia e Cleusa. Foi casada com o
farmacêutico José Martins, de Pedro Leopoldo. A
família era muito amiga dos Xavier.

[4] Refere-se a Helena, esposa de seu filho Luciano.

[5] Nery era o marido de Maria Alice, a Pingo.


Relembrando, o casal teve três filhos: Conceição,
Julinho e Chiquitinho, já mencionados em mensagem
anterior.

[6] Em referindo-se a Ana Carmela Aluotto Aleixo,


sobrinha de D. Neném Aluotto Berutto, antiga presidente
da União Espírita Mineira e grande amiga de Chico
Xavier e de sua família.

[7] Em referência a Cláudio e Horvânio Aleixo, filho e


marido, respectivamente, de Ana Carmela Aluotto
Aleixo.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
75

Anjos esquecidos
07|12|1985
1
Querida Lúcia n e querida Luizinha, peço a Jesus
nos abençoe e nos proteja!
2
Lúcia, parece que o deslumbramento dos primeiros
dias em que me envolvi está passando, a fim de
que me concentre em minhas reais
necessidades. 3 Estamos sofrendo e não existe
contentamento nenhum em descrever ambientes e
festas. Estamos descobrindo a nós mesmas na
corrida de provações a que temos sido levadas
pelos acontecimentos que nos rodeiam. Não veja
seriedade em minhas palavras. Aqui me faço sentir
a você como penso, sem desejar ir por este ou
aquele ponto de vista.
4
Sei o que você tem sofrido e tem me escrito em
papéis molhados de lágrimas. Querida filha, peço
ainda a sua paciência para que possamos atuar em
auxílio dos nossos em casa. Compreendo tudo o
que você me diz e sei que mentalizando as
situações como se aí ainda estivesse noto que você
tem razão em cada argumento que a sua palavra
me apresenta.
5
Entretanto, ao escrever-lhe daqui, de meu novo
ambiente, as minhas opiniões diferem um tanto!
Você sabe, querida Lúcia, que muitos costumes
foram mudados e que se luta na Terra para guardar
fidelidade aos princípios que reverenciamos na
vida do lar. 6 Tem havido progresso facilitando a
vida de todos em toda parte, entretanto, você
concordará que a dor em seu e em meu coração é
igual ao sofrimento de nossas avós e bisavós, que
se calaram e se sacrificaram por amor a nós,
quando éramos as crianças com quem se
entretinham para suportar os obstáculos de uma
casa com grande número de
parentes. 7 Recordemos essas mulheres, que
foram anjos esquecidos nos fogões e nos tanques
de lavar, que muitas toleraram com paciência as
observações ingratas de homens aos quais
devotavam serviço e abnegação. Muitos
problemas do lar se transformam em atos de
delírio, e até de delinquência, quando as mães se
omitem no trabalho de agir e auxiliar para o bem.
Nada reclame!
8
Muito grata por suas flores de carinho, que nunca
emurchecem, e Deus recompense a você por sua
calma, refletida na velha mãe que continua ao seu
lado. Olhe também a nossa Tuquinha, entregue a
tantas sugestões difíceis de entender e apresentar.
Luizinha ficou sob tantas incumbências nossas,
conversando conosco, que presentemente não sei
de que modo me comportar no diálogo com ela, já
que é tão difícil conversar com quem desfruta um
corpo jovem e, por isso mesmo, sob a mira de
tantas extravagâncias de nosso tempo… Seja Deus
a nossa bênção de cada dia para tudo falarmos e
ajustarmos com o acerto preciso!
9
Nossa Cândida ainda não conseguiria escrever.
Precisará de treino para desinibir-se. Diga isso à
Célia e à Cleusa para que não se acreditem
esquecidas. Tanto quanto possível, retribua por
mim a generosidade de nossa Dirce, agora doente
e necessitada de apoio. Muitas lembranças a todos
os nossos, começando por Maria Alice e Luciano,
Helena e Conceição, Chiquitinho e Julinho.
Lembranças a gente envia, mas não sabemos como
são recebidas. Entretanto, agradeço o
discernimento que me faz ver que sempre
colocamos amor em tudo quanto dizemos. Abrace
a nossa Palmira e lembre-se com ela de nossas
noites em claro.
10
Os amigos aqui me desculpam a demora no lápis.
Eles, em maioria, não desconhecem que escrevo
sob a inspiração da minha confiança de mãe.
Querida filha, abrace Oscar e Caio, Sérgio e a
todos. Você e Luizinha, comigo, fiquemos com
Deus. Perdoe-me se chorei tanto ao lhe escrever.
11
Querida Lúcia, nós, as mães, choraremos sempre,
nas alegrias e nas provações, nas tristezas que
apareçam ou nos contentamentos pequeninos de
nossa casa. Um beijo da vovozinha em nossa
querida Sarita. E receba, filha querida, nesta carta
de lágrimas, o coração de sua mamãe, sempre a
sua,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
76

Escrevo para confirmar o intercâmbio

“(…) de vez que temos as nossas meditações e


preces em conjunto. Escrevo tudo o que
estou escrevendo apenas para confirmar o
intercâmbio que temos cultivado e continuaremos
a cultivar com o amparo de Jesus.
Agradecendo as flores que você me oferece
diariamente e muito gratificada por você e Oscar
me dedicarem tanto carinho, e ao meu antigo
quarto para repousar, resumo todos os nossos em
minha saudade e carinho. Para você e Oscar, todo
o amor e reconhecimento de sua mãe, sempre…

Luiza Xavier

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
77

Nossas contas são as nossas contas

07|03|1986
1
Querida Lúcia, n com você, Sérgio e Luizinha o
meu pedido de bênçãos a Jesus em favor de nós
todos!
2
Filha querida, com o amparo da Providência
Divina, você atravessou a cirurgia e estamos,
como sempre, mais juntas, a fim de trabalhar e
fazer o melhor. Graças a Deus, estamos vendo o
sol da paz refulgindo no horizonte, depois de tanto
tempo de luta e inquietação! 3 Jesus nos abençoe, a
fim de que estejamos em nossa velha casa,
cultivando as lembranças de nosso amor de mães,
junto aos filhos e netos. Deus recompense nosso
Oscar pela bondade com que nos abraçou os
problemas que hoje, no presente, estão a
terminar… Cultive as suas flores e ame os seus
animais.
4
Peçamos a Deus saúde e busquemos servir. Paz a
todos os nossos, paz de Jesus a todos os que o Céu
nos concedeu para amar e zelar. Nenhuma
recordação amarga nos escape da boca, porque
temos em tudo recebido a proteção de Deus.
5
Estou mais consolada nestes dias em que a vejo
meditando em repouso. As pessoas que se nos
fazem as mais queridas não são o que aparentam e
nem mesmo o que imaginam ser. Por essa
afirmativa, você consegue avaliar facilmente a
quantidade de surpresas que me tomaram o
coração! Compreendo as dimensões de nossa luta,
na qual o nosso Oscar é um herói silencioso,
desenvolvendo esforços de gigante para defender-
nos.
6
Entenderá você por que razão não me expando
hoje, qual o fiz das vezes primeiras em que lhe
trouxe as minhas pobres palavras. Estamos diante
de várias questões pendentes, sobre as quais não
me será lícito opinar. Posso falar o que quero, mas
agora não sei se o que desejo é o mais certo, e
como sucede com você sou compelida a esperar o
desenrolar das ocorrências para examinar os
resultados de cada uma. 7 Você sabe que não sou
indiferente aos tópicos da família e devo me abster
de longos comentários. É o mesmo que
estivéssemos à frente de uma ponte perigosa para
atravessar. Peçamos a Jesus forças para fazer a
travessia com a paz possível. Sabemos que Deus é
misericórdia, mas não devemos esquecer que
as nossas contas são as nossas contas. 8 Rogo a
você não se desligar da prece, na qual teremos
sempre um ponto de apoio para nos entendermos
através da intuição. Hoje, acho graça nos amigos
que se largaram daí, através da morte, supondo
que iriam para o descanso celestial! Diante dos
desafios remanescentes da vida que fomos
obrigados a deixar, a paz continua a ser um
símbolo em meio dos atritos a que nos vemos
forçados ao aceite para solucionar os casos que
ficam. Mas os casos que ficam saem da esfera dos
filhos e se prolongam nos netos…
9
Para o meu raciocínio ainda curto, ignoro onde
tudo isso poderá encontrar o fim desejado. E já
que a luta é inevitável, saibamos admiti-la com fé
em Deus, com o respeito aos outros e comiseração
por todos os que se ligam a nós, porque nós todos
somos devedores perante Deus. 10 E assim a prece
é o nosso arrimo e o nosso consolo, a fim de
seguirmos adiante, desenvolvendo todas as nossas
possibilidades em favor da paz possível com todos
— o que equivale a dizer com todos aqueles que
desejem a paz conosco. Aguardemos.
11
Estamos trabalhando pelas melhoras de saúde do
nosso Oscar e agindo da melhor maneira que se
nos faz possível para dar a cada filho e a cada neto
um pedaço do nosso próprio coração. De minha
situação geral, digo que estou seguindo mais
conformada. 12 Lutar contra a morte seria assestar
a nossa defesa contra o que não existe. Isso é
assim porque a vida prossegue sem muitas
diferenças e nós continuamos sem muitas
diferenças dentro dela. Peço a você manter-se no
regime de nossas orações, o que rogo igualmente à
nossa Luizinha, que tem sido a nossa fiel
companheira.
13
Querida filha, saiba quanto a amo e que você
continua sendo a minha menininha do coração!
Reconheço que posso tão pouco, mas mesmo
assim darei tudo de mim para que você e Oscar
permaneçam tranquilos. A nossa Cândida tem
estado comigo, com a diferença de que ela, por
enquanto, se acha numa instituição religiosa de
práticas mais rígidas, às quais ela mesma se
afeiçoa com alegria. Acontece, porém, que fiquei
em um Instituto diferente, no qual as regras não se
mostram tão austeras como sucede no caso de
nossa Cândida.
14
Não cheguei a ser uma companheira militante da
Doutrina Espírita, que atualmente estou
aprendendo a conhecer, mas de tanto ouvir os
casos do Chico e as narrações de nossos amigos e
de nossas irmãs em nossa casa o meu
entendimento não conseguiu aceitar austeridades e
rituais de que não mais precisei. Por isso, estou
numa organização mais liberal, em que se pode
crer e comentar o que se crê com mais liberdade.
Os amigos aqui são muitos, graças a Deus, no
entanto, preciso aprender a contar com Deus e
comigo mesma.
15
Para Oscar, Sérgio, para José Geraldo e Caio, e
igualmente para Tucha, as minhas muitas
lembranças. Beijos à querida Tuquinha, cujo amor
ao nosso recanto agradeço, contente!
16
Estou pedindo a você muita calma e confiança em
Jesus, sem esquecer o nosso mundo de orações e
serviços aos necessitados, tanto quanto seja
possível. Fale do meu muito carinho à Dirce,
Palmira, Célia, Cleusa e a todas as nossas amigas.
17
Rogo a você receber o coração agradecido de sua
mãe, a sempre sua mãe do coração, com muitas
saudades de sua presença e de seu convívio, a
sempre sua Luiza…

Luiza Xavier
[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
78

Deus pode o que não podemos

19|04|1986
1
Querida Lúcia, n receba, com o nosso estimado
Oscar, as minhas preces de confiança em Deus,
nas quais peço aos mensageiros do bem expressar-
lhes o meu reconhecimento e carinho. Com vocês
vejo os nossos afetos, destacando a nossa querida
Leda n e a nossa estimada Rosina, sem me referir a
tantos corações aqui reunidos e aos quais me sinto
ligada por amizade constante.
2
Querida Lúcia, quando as inquietações são longas,
as palavras são curtas. Estou aprendendo muito em
minha nova situação. Nas primeiras horas, sentia
necessidade de abrir o meu coração para contar-
lhes todas as minhas impressões deste novo
recanto, do qual venho sempre ao encontro de
vocês para os nossos diálogos. Escrevia como
quem tricotava, enfileirando as letras na mesma
atenção com que entrelaçava os meus
pontos. 3 Agora, porém, Lúcia, estamos numa fase
de apreensões, na qual não diminuo a minha fé em
Jesus. Mas também ainda não disponho de
tranquilidade precisa, de modo a escrever-lhes de
cabeça leve ante a pesada carga de problemas que
conduzimos para depositar aos pés simbólicos de
Jesus. Permitirá ele, nosso Senhor, que sejamos
atendidos em nossas solicitações à Justiça, e assim
espero para continuar em minhas notícias
minudenciadas.
4
Não estou triste nem medrosa perante a vida, mas
estou quase que incessantemente na oração,
dirigindo a Deus os meus petitórios para que nos
sintamos libertados de tantas surpresas negativas.
Na condição de mãe, peço a paz em favor de nós
todos, embora lamentando aqueles dos nossos que
não a quiseram, criando para si mesmos tantas
raízes de sofrimento no futuro.
5
Lúcia, abrace nossas Luizinha e Sarita, e a todos
por mim, e continue valorosa em sua fé. Deus
pode o que não podemos fazer e de Deus virá o
socorro de que estamos necessitando!
6
Querida filha, abrace por mim a nossa Leda e a
nossa Rosina também por mim, dizendo à Leda
que ontem tive o prazer de acompanhar D.
Emília n aqui e acrescente que D. Emília tem sido
uma fiel e dedicada amiga para mim, confortando-
me na vida espiritual. Há muita coisa para
escrever mas o espaço em meu coração está muito
estreito, já que me vejo tomada pela expectativa,
que é igual à sua.
7
Mantenhamos a nossa fé em Jesus acima de tudo.
Filha querida, estou ao seu lado e Jesus nos
abençoará e protegerá.
Sempre a tua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Leda e Rosina: Em referindo-se a amigas da família.

[3] Pela mensagem depreende-se que D. Emília era a mãe


de Leda.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


79

Um bilhete também vale


03|05|1986
1
Querida Lúcia, n Jesus nos abençoe!
Um bilhete também vale. Apoiada nisso, dirijo a
você estas linhas em que expresso a minha fé em
Deus quanto à cirurgia esperada.
2
Ânimo e coragem!
Espero o momento de vê-la submetendo-se ao
tratamento já delineado para que vejamos você
restaurada. Vocês orem conosco e aguardemos a
bênção de Jesus pelos médicos amigos.
3
Filha, hoje é só. Apenas desejava confirmar a você
que algo lhe falaria para a sustentação de suas
forças. Com Jesus no barco de nossas esperanças
tudo segue bem e com Jesus, na permissão de
Deus, venceremos.
Abraços de sua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
80
.

Mais vale a paz que todos os tesouros

07|06|1986
1
Querida Lúcia n e querida Luizinha, Deus nos
abençoe! Aqui estamos de novo no convívio de
nossos amigos. Muito me comove abraçar a nossa
Yolanda, a nossa Zilda, a nossa Leonor e tantas
afeições nossas que o tempo não consome… n
2
Querida Lúcia, você notará certa modificação em
minhas notícias. Achamo-nos com quase um ano
sobre a separação que desabou sobre nós e nestes
dez meses muita água já correu sob as pontes. De
começo, eu era a pessoa contrariada com a morte
que não pedira, mas ao mesmo tempo
deslumbrada com todas as renovações de que me
cercava. 3 Uma ânsia de contar a você quanto me
ocorria palpitava em meus sentimentos. E escrevi
as mensagens longas no intuito de falar a você do
que eu enxergava e ouvia. Entretanto, aos poucos
fui compreendendo que a mudança pela
desencarnação era qual se fosse um esbarro
conosco, uma descoberta de nós próprias, com
tantas obrigações a cumprir que o meu propósito
de narradora esmoreceu.
4
O assunto era mais grave que aquele de enviar
informações do novo Plano que passei a habitar.
Compreendi, afinal, que eu não era repórter para
criar versões novas da existência na vida
espiritual. Concentrei-me em mim mesma, a fim
de observar com mais segurança o que se
passava. 5 Você era e é o centro dos meus
interesses do coração. Não que despreze os outros,
e muito menos a nossa Luizinha, que nos
acompanha nesta noite. Procurando situar-me em
você, anotei os nossos problemas e a extensão
deles e seu tratamento. Deus concederá a você
tudo aquilo de bom que desejo e ainda não tenho.
6
Nosso querido Sérgio me pede umas palavras. Que
dizer a você, meu neto, que se fez meu amigo e
meu pai nos dias tristes da doença que passaram
para o arquivo do tempo? Nada reclame, Sérgio.
Abençoe o seu canto, que será sempre amor para
as obras do bem que você ama tanto! Seja para a
nossa Sarita o pai amigo e bom, e aguardemos no
tempo as decisões do Alto.
7
Aguardemos a passagem das horas, porque as
horas trazem aquilo de que necessitamos, a fim de
que encontremos o agasalho para afastar o frio
que sentimos quando a saudade dói no nosso
coração. Que se cumpra o que Deus quer de nós!
Seja ela cada vez mais amparada, são meus votos.
E você, em seu trabalho, não se sinta sozinho.
Você tem seus pais e seus irmãos, com a Sarita
querida, por luzes de sua própria vida! 8 O nosso
lar é muito maior do que pensamos. Temos irmãos
em toda parte! Nada lhe faltará! Tenha a certeza
de que Deus vela sempre por todos os filhos que
criou. Espere por mais tempo, sem promover
qualquer mudança que lhe prometa paz e
felicidade, quando a paz e a felicidade já moram
com você. 9 Estas são as palavras da avó que você
transformou em sua própria filha, em nossas
noites de aflição e vigília, esperando as melhoras
que custavam a vir. Nada se perde, Sérgio, e a sua
presença de bondade e de amor, ao lado de uma
avó pobre e doente, hão de seguir você onde
estiver, com as minhas orações, rogando a Deus
por sua fortaleza e entendimento.
10
Querida Lúcia, receba com a nossa Luizinha e
com o nosso querido Caio minhas grandes
saudades! Estou respondendo aqui as suas cartas
de saudade igual à minha!
11
Filha querida, ore sempre e não se esqueça de
que mais vale a paz que todos os
tesouros disputados na Terra!
12
Para Oscar, Zé Geraldo, Caio e nossos ausentes
outros muitas lembranças, deixando com você o
coração sempre reconhecido de sua mãe, a sempre
sua Luiza…

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Refere-se a amigas da família Xavier quais sejam D.
Zilda Batista, grande amiga de Chico Xavier responsável
por passar as páginas psicografadas pelo médium no
Grupo Espírita da Prece de Uberaba. Era casada com o
Sr. Weaker Batista, dirigente das atividades do Grupo;
Yolanda Cezar, amiga de Chico Xavier de São Paulo,
mãe de Augusto Cezar Neto, Espírito que se comunicou
várias vezes através do médium, escrevendo alguns
livros de mensagens; Leonor Neves Comes, amiga de
Chico Xavier de Franca, interior do Estado de São
Paulo.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
81

Ninguém vive sem precisar de alguém

11|10|1986
1
Querido Sérgio,
Deus nos abençoe. Lembrando-me do tempo em
que me afastava do tricô altas horas da noite para
escrever uma carta, venho pedir a você, Zé
Geraldo e Luizinha receberem as minhas preces a
Jesus, a fim de vê-los sempre unidos e
felizes. 2 Sei que as provações têm sido chuva em
nossa casa, mas rogo à Luizinha continuar
apoiando a Lúcia, porque mãe, na vida, é a nossa
melhor amiga, pedindo a ela ainda seguir as
intuições de Zé Geraldo para beneficio dela
própria. Ninguém vive sem precisar de alguém e
Zé Geraldo tem pela irmã muito amor e zelo
carinhoso para guiá-la. 3 Quanto a você, Sérgio,
erga a Jesus os seus pensamentos e continue
respeitando a companheira que não pôde
prosseguir ao seu lado. Ela não deixou de ser boa
e compreensiva, mas deseja outros caminhos e
outras experiências. Acalme o seu coração e
confie nos mensageiros do bem. 4 Chamaram você
de menos compreensivo, mas Deus sabe que você
é portador de abençoado entendimento. Disseram
que você era indiferente à família, mas Deus sabe
quanto amor você colocou no lar para conforto da
companheira e de sua filha. Houve quem dissesse
que você era doente, mas Deus sabe que você
possui grande riqueza de saúde e auxiliou você a
utilizá-la. 5 Apareceu quem o acusou de
preguiçoso, mas Deus sabe que você trabalha
exaustivamente na execução de seus ideais e
ninguém melhor do que eu, que fui avó doente por
tantos anos, conheci o seu esforço para velar
comigo nas longas noites da doença e o carinho
com que você sabia exercer a enfermagem,
auxiliando-me a modificar o corpo enfermo, de
posição, noite a noite, por tantos anos, que minha
memória já não cabe contar! 6 Levante a sua
fronte e aceite os problemas da vida como são,
sem ferir a ninguém. Seus passos serão
amparados! Guarde a sua fé e prossiga para
diante! Aqui termino, deixando para você, Zé
Geraldo e Luizinha o reconhecimento da avó
amiga e mãe pelo coração,

Luiza Xavier

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
82

A alegria do ano novo

01|01|1987
1
Querida Lúcia, n Deus nos abençoe e nos proteja!
2
Muito grata a você e ao nosso Oscar por me
haverem atendido à solicitação, no sentido de não
apagarmos a chama das nossas reuniões da noite
de 31 de dezembro. Estou feliz abraçando e
revendo os nossos amigos cultivando o nosso
ideal em família. A nossa Dra. Isolda n está sendo
auxiliada e esperamos, para breves dias, a
possibilidade de vê-la restaurada na saúde que se
nos faz tão preciosa.
3
Nossa mesa é aquela mesma de Pedro Leopoldo,
congregando os corações queridos. Agradeço a
todos os que vieram partilhar conosco a alegria
do Ano Novo! Louvado seja Deus!
4
Querida Lúcia, continuemos em prece, na certeza
de que Jesus nunca nos abandona! As suas cartas e
bilhetes estão comigo, à maneira de peças que
passassem pela “xerox” para me ser entregues.
Não duvide de minhas respostas através de você
própria. O nosso intercâmbio é constante e seguirá
sempre invariável, até que, um dia, possa Jesus
permitir-nos o reencontro — dia que desejamos
esteja situado no grande futuro, porque muito
esperamos de sua assistência e dedicação aos
nossos entes queridos. Luizinha e Tucha, tanto
quanto José Geraldo, estão recebendo as vibrações
de nosso amor.
5
Peço a você dizer à nossa estimada Tucha que sou
muito grata à colaboração que ela me prestou
espontaneamente para que os meus momentos
difíceis na doença do corpo fossem menos
pesados. Devo a ela muito devotamento e não
posso esquecer isso. Você sabe que eu também
admito que a nossa querida Sarita permaneça em
sua companhia, isto é, constantemente junto a nós,
mas se a nossa Tucha não puder atender aos
nossos apelos, ela não será menos estimada por
isso.
6
A própria Sarita procurará por você em qualquer
momento em que você possa auxiliá-la e, de um
modo ou de outro, a nossa pequena será sempre
nossa. Tenho cooperado na obtenção da paz e
refazimento para o nosso Sérgio e confio na
misericórdia de Deus.
7
Nosso Caio vem recebendo o amparo de amigos
diversos da vida nova em que me encontro e
estará melhorando na saúde precisa.
8
São muitas as novidades para conversar, mas não
posso absorver o tempo que pertence a todos.
Diga ao nosso Luciano que lhe tenho anotado os
pensamentos e pedidos dele, e não será ele
incomodado com qualquer manifestação da
Espiritualidade antes que se lhe amadureçam as
forças. Lembranças para ele, Helena e Conceição.
A nossa luta continua, mas a bondade de Deus
também continua, socorrendo-nos em nossas
necessidades e ouvindo-nos em nossas preces.
9
Estou feliz abraçando a nossa Maria Eunice, n a
nossa Elenir n e a nossa Yolanda, que nos
concedem a presença amiga, enlaçando a nossa
Isolda, a nossa Therezinha n e o nosso Lauro, que
vieram prosseguir em nosso culto de
agradecimento a Jesus por haver concedido a nós
todos mais tempo para o trabalho do bem e para a
nossa união. Todos os amigos aqui reunidos estão
em meu reconhecimento.
10
Você olhe por nossa Leda para que ela esteja
tranquila. O pai de nossa Dra. Isolda está presente
e afirma que ela está em tratamento certo. Muitos
amigos estão presentes e a gente lastima haja
cansaço no corpo físico de quase todos os irmãos
que se encontram aqui.
11
Querida Lúcia, vou terminar, não por meu gosto,
mas porque é preciso fazer isso. Agradeçamos a
Deus as dificuldades vencidas no 1986 e
aguardemos o 1987 por mensageiro de paz e
renovação.
12
Abraçando Luizinha, Tucha e José Geraldo, beijo
as suas mãos que tanto me abençoaram.
A sua mãe e sempre a sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Dra. Isolda era uma amiga da família Xavier.

[3] Refere-se a amigos da família Xavier. Maria Eunice


Meirelles era grande amiga e colaboradora de Chico
Xavier, da cidade de São Paulo. Era casada com o
confrade Dr. Celso Meirelles.

[4] Elenir Meirelles era grande amiga de Chico Xavier, da


cidade de Niterói, RJ. Fundadora do Grupo Espírita da
Fé daquela cidade, era casada com o Sr. Lineu Meirelles.

[5] Therezinha e Lauro eram amigos de Chico Xavier


desde Pedro Leopoldo. Residiam em Campinas, SP. Ele
era professor. O casal mantinha um trabalho de
formação profissional para menores crentes nessa
cidade. Mais tarde receberam Luizinha, neta de D.
Luiza, como hóspede em sua casa para complementação
dos estudos, conforme mensagem da p. 341.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.
83

Lições que nos atingem a todos

12|03|1988
1
Querida Lúcia, n Jesus nos proteja!
2
Não posso furtar-me à oportunidade de escrever a
você este bilhete, em que possa resumir na
palavra saudade todo o meu amor de mãe que se
jubila à frente dos Céus para agradecer a sua
presença e a sua vida entre os nossos entes
queridos. Leio e releio as suas anotações e tenho
escrito, por você própria, as respostas que se
fazem possíveis para mim.
3
Compreendo que você e o nosso Oscar deixaram a
nossa Luizinha em Campinas com a dor de quem
se separa de uma filha querida e necessitada do
lar, mas os estudos e o futuro lhe exigiam essa
mudança e, assim, minha filha, procuremos
auxiliá-la tanto quanto pudermos para que ela, em
Campinas, encontre a complementação dos
estudos que ela tanto deseja para atingir a
competência que também nós lhe desejamos.
Nossa Luizinha tem paixão pelos livros e isso a
favorecerá no atual empreendimento.
4
Relativamente à nossa Sarita, fale a ela que o amor
da vovozinha continua a segui-la carinhosamente.
Relativamente ao Caio, acompanhamos as suas
apreensões de mãe no tratamento que se lhe fará
indispensável. E peça por mim ao nosso José
Geraldo para encorajá-lo nas atitudes que se
façam precisas. Você e Oscar possuem em nosso
caro Zé um filho amigo e amoroso, que nos valerá
em todas as horas, com a permissão de Jesus!
5
Do Sérgio, tenho as minhas impressões pessoais
em que o vejo tentando harmonizar-se com a
situação nova a que foi conduzido e espero que
ele prossiga sem modificações, procurando a paz
e a humildade para vencer nas dificuldades da
existência.
6
Quanto possível, você e Oscar auxiliem a nossa
Tucha no trabalho novo a que foi chamada. A
vida, Lúcia, a vida que conhecemos na Terra, é
uma grande escola com lições que nos atingem a
todos. Imagine que, atualmente, considero os
meus longos dias de doenças do corpo como
sendo os mais felizes que tive na existência, que à
desencarnação me trouxeram, ao final de minhas
lutas. Diga ao Sérgio para continuar sendo o
enfermeiro prestimoso e atento a quem passei a
dever tanto. 7 Cândida e eu temos prestado a
possível assistência à nossa Cleusa no tratamento
difícil que lhe restou da viagem acidentada que a
levou tão longe. Ela e Célia, para mim, continuam
na condição de minhas próprias filhas, a quem
desejo paz e felicidade com todo o meu coração.
8
Agradeço ao Oscar aquilo que um coração de mãe
deve expressar a um filho inolvidável!…
Companheiro e amigo incondicional, é o apoio em
que nos escoramos para ganhar a outra margem
do rio da vida, onde sonhamos nosso reencontro
na paz de Deus.
9
Filha, não se aflija pensando nas despesas de nossa
Luizinha com os estudos. Aquilo que se aprende
para o bem não encontra preço adequado. Não lhe
faltará o apoio necessário.
10
Desejava continuar escrevendo, mas não posso.
Os assuntos nossos são longos e os minutos para
escrever, muito curtos. Minhas lembranças à
Pingo, a Luciano, à Helena e à Conceição. Peço a
Deus para que nossa Conceição seja muito feliz
no casamento próximo.
11
Aqui vou terminar. Em casa, escreverei por suas
próprias mãos o que nos seja necessário. Abrace
por mim o nosso Oscar e o nosso José Geraldo,
que estão perto de nós, e distribua minhas
lembranças e votos de paz a todos os nossos
familiares.
12
Para você, as alegrias que procuro dividir com seu
coração, nas muitas saudades de mãe sempre mais
agradecida.
Sempre sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]


Texto extraído da 1ª edição desse
livro.
84

Precisamos de comunhão para acertar os


caminhos

02|04|1988
1
Querido Sérgio, Jesus nos abençoe.
2
Você nos pede uma palavra de reconforto e
acredite que ainda não sei se tenho reconforto
para satisfazer-lhe a solicitação. Estou por aqui à
maneira da pessoa comprometida com o trabalho
e que chega em atraso para cumprir as próprias
obrigações. 3 Às vezes, pergunto a mim mesma
por que não ouvi as suas considerações. Creio que
você se lembrará de certa mensagem que surgiu
por seu intermédio, afirmando que ao pedirmos
uma orientação do mundo espiritual a resposta já
está incluída por nós mesmos na prece ou nas
palavras que formulamos para dar solução aos
nossos problemas. 4 Passamos para Cá, ou para a
Vida Espiritual, como diríamos aí, mas, no
íntimo, não passamos. Penso que a demora é
grande para a renovação que esperamos e só a
paciência com os deveres bem cumpridos é a
nossa força para nos libertarmos de nós mesmos.
Olhe que estamos numa conversação de avó e
neto, e nesse diálogo tão simples nos
entenderemos como de outras vezes. 5 Creia que a
vida na Terra pede a você testemunhos
incessantes de calma e entendimento, e espero que
você prossiga sem desânimo no desempenho dos
seus deveres. Você me perdoará se me refiro ao
assunto, no entanto, isso nos auxiliará atenuando
o peso de nossas preocupações. Você, muitas
vezes, indaga no silêncio o porquê das lutas em
que se envolveu, mas deixe as preocupações de
lado e procure fazer o melhor que puder. A esposa
solicitou-lhe o desquite e você concordou em paz.
6
Você sabe que ela é uma criatura portadora de
muitas qualidades apreciáveis e que todos
devemos a ela muitas promissórias de bondade.
Não pense nela como sendo inimiga de sua paz.
Ela fez o que pôde para auxiliar-nos, mas quem
faz o que pode a mais não se vê obrigado. Pense
assim, em termos de compreensão. Se a nossa
querida amiga não conseguiu ser sua esposa, ela
não pode deixar de ser sua irmã perante Deus. Ela
quis a mudança e isso não é problema de outro
mundo por ser questão que nós mesmos criamos
em nossa própria vida. 7 Um outro problema se
levanta dentro desse: a nossa Sarita, que vocês
dois trouxeram à vida material. Saibamos ter
paciência uns com os outros, em favor de nossa
menina, que está crescendo e observando os pais,
que são vocês. Diante do que está feito por nós
próprios não há lugar para vacilações, no entanto,
há sempre espaço para a nossa serenidade e para o
trabalho dentro da vida. 8 Não deixe as orações
sem atividade regular. Tudo encontra a felicidade
das boas comparações. Você assume um débito
qualquer, mas terá de resgatá-lo — compra um
telefone — mas deverá usá-lo sempre que
preciso. Precisamos da comunhão uns com os
outros para acertar os caminhos. 9 Não se
incomode se a crítica pode atingi-lo. O que os
outros pensam de nós é assunto deles e não nosso.
Por exemplo: você foi indicado na condição de
um homem sem trabalho, mas sabemos que isso
não é verdade. Eu mesma estive praticamente
enferma e abatida durante oito anos e você era o
meu enfermeiro de todas as noites, às vezes até a
volta do dia. Entretanto, eu não podia remunerar o
seu esforço em meu beneficio e nem deixar de
pedir a sua assistência. O trabalho para você, em
todos esses anos, foi total e intenso! O doente é
que sabe onde o sofrimento lhe aperta a vida.
Você trabalhou comigo e para mim, mas ninguém
viu isso, porque o dinheiro do mundo não
apareceu. Por isso peço a Deus o recompense com
a paz e com a boa saúde. Pense e acalme-
se. 10 Tudo passa no mundo das formas, e passa
depressa, sem que a gente perceba. Você tem
muito a fazer e precisará de fazer enfermagem em
beneficio de outros. Espere o amanhã fazendo de
hoje uma porta aberta para servir ao próximo, na
certeza de que o próximo começa de nossa casa.
Mas não estamos aqui como em nossa moradia,
conversando para atravessar a madrugada, com os
mesmos sofrimentos a se alternarem noite e dia.
Seja para a nossa amiga, que lhe deu uma filha
amorosa e inteligente, o mesmo amigo de sempre.
E quando você puder auxilie aos doentes, que são
muitos e estão em toda parte. Não guarde
rancores, nem frustrações. 11 Cada dia que
amanhece é tempo novo que nos vem nas
concessões de Deus. Conserve a sua paz e não se
esqueça de que você terá sempre a paz que der de
você mesmo para os outros. Faça os outros
felizes, a fim de que você também o seja. Não
permita que contratempos do mundo lhe furtem a
tranquilidade da consciência. 12 Mas não podemos
tomar mais tempo de tantos amigos aqui reunidos
para o exercício do bem. Abrace Lúcia, Oscar,
Sarita e todos de casa em meu nome, e fiquemos
com Deus. Para você, os agradecimentos e as
lembranças de sua avó e mãe pelo coração.
Sempre sua,
Luiza Xavier

Nota da editora: Mensagem recebida no dia em que


Chico Xavier completava 78 anos.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
.

85
A felicidade pelo próprio esforço

1
Querida Lúcia, n Deus nos proteja e nos abençoe!
Desnecessário dizer que estou com você em suas
caminhadas, entre as quatro paredes da nossa casa,
no dever de cada dia.
2
Compreendo quanto lhe pesam as obrigações de
mãe, mas peço a você coragem e paciência. Todos
guardamos as semelhanças físicas com os outros,
em família, mas em se tratando de filhos custou-
me muito compreender que todos são diferentes,
tanto quanto os dedos de nossas mãos. 3 Você está
atravessando as veredas que segui noutro tempo,
lutando para aprender que os filhos são diferentes
uns dos outros. Sei que você está intimamente
pasma com os obstáculos que encontra para ver os
filhos felizes, segundo o seu modo de ver a vida,
entretanto, é preciso deixá-los procurar a
felicidade pelo próprio esforço. Continue a ser
compreensiva e amorosa para com todos eles,
amando e perdoando as faltas naturais de gente
muito moça, encontrando na oração o caminho
mais certo, a fim de auxiliar a cada um como
desejam e não como talvez queiramos.
4
Não ignoro os problemas da fixação de Sarita no
cotidiano, mas seja qual for a decisão da Justiça
para os menores continue sendo para ela a avó e
mãe com a qual ela contará sempre. Entendo que
desvinculações em família doem à maneira de
feridas traçadas no coração pelas lâminas dos
acontecimentos. Ainda assim, estejamos em prece,
auxiliando a todos os que recorram a nós. Sinto
não poder falar claramente sobre as questões
enoveladas que você está encontrando, mas Deus
nos abençoará e saberemos apurar a linha no
momento certo para continuarmos em paz.
5
Estou muito grata a você e ao nosso Oscar pelas
medidas que aceitaram para conservar de pé a
nossa casa repleta de lembranças que nos fazem
rir e chorar ao mesmo tempo! Você nada perderá
amparando os filhos e os familiares nossos que
necessitem de seu coração e de suas mãos.
6
Tanto a dizer, mas o tempo nos obriga a parar o
lápis e a prosseguir em nossas preces. Não se sinta
abatida e nem triste por nada, e sigamos com
Jesus para o desempenho de nossos deveres.
Explique à nossa Luizinha que ela e eu
conversamos através do espelho e convença-a de
que ela continua em meu caminho e em meus
pensamentos de todos os dias. 7 Ao nosso Sérgio
ofereço aquele quadro com a inscrição “Sorria,
por favor”, e ao Zé Geraldo e ao Caio desejo toda
a felicidade que eles merecem. Estaremos pedindo
a Jesus empregar o nosso caro Sérgio, para que ele
se fortaleça e se faça otimista, e na certeza de que
Jesus possui os melhores amigos da Terra creio
que ele nos aprovará a petição.
8
Aqui vou parando… Você compreende. Nesta hora
em que nós duas conversamos na condição de mãe
para outra mãe, colocamos o dedo indicador sobre
os lábios e lemos o cartaz caseiro: “É proibido
conversar”. Este é melhor do que aquele outro que
diz assim: “Não me fales mal de ninguém”,
porque em si a frase já é uma reprovação à pessoa
que se dispõe a dialogar.
9
Com o meu abraço a você e ao Oscar, com meu
carinho de mãe a todos os nossos, sou como
sempre a sua mãe do coração, sempre a sua,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
86

Quem ama se renova

1
Querida Lúcia, n querida Luizinha e querido José
Geraldo, Deus nos abençoe! O tempo é estreito
para nós, que nos propomos a escrever. 2 Mesmo
assim estou feliz, pois a figura central das nossas
comemorações do Natal, hoje realizadas aqui, é o
filho de nossa Yolanda, moço distinto e coração
generoso, que inspira abençoadas tarefas de amor
ao próximo em muitos lugares. Chorei ao ver tanta
gente amparada e feliz com a supervisão dele, a
quem me senti ligada pelo coração. 3 Lúcia, com o
tempo marcado para escrever, lembro-me de uma
das antigas professoras nossas de Pedro Leopoldo,
de nome D. Serrota, que me passava exercícios
para fazer em minutos determinados. De qualquer
forma, estou feliz!
4
Conheci, pessoalmente, o Augusto, n e agradeço a
ele, na pessoa de nossa Yolanda, a bondade que
estende até às nossas crianças. Dizem que a
caridade tem mil braços e eu creio que Augusto é
dono desse prodígio, tamanha é a simpatia que ele
nos transmite e tão grande é a generosidade com
que se dispõe a servir a todos!
5
Com relação aos nossos problemas, estou
recebendo as suas cartas do correio sem greve,
isto é, aquelas que você me escreve na intimidade
do quarto e que respondo por intermédio de você
mesma.
6
Minha filha, a prece é o nosso clima de
intercâmbio e estamos na confiança em Jesus, que
a cada dificuldade nos concederá a solução
precisa. Graças a Deus, você tem progredido em
desprendimento! Tranquiliza o coração e confia
em Deus! Muitos obstáculos são medidas que a
Providência Divina nos permite receber em
beneficio de nós mesmos, beneficio que não
entendemos no momento, mas sim no futuro,
quando compreenderemos que Deus faz o melhor,
e que se nós não sabemos o que desejamos Ele
sabe aquilo de que necessitamos para conservar a
nossa própria paz. 7 Estou satisfeita com a nossa
Luizinha e cumprimento-a por todas as palavras
que ela deixa para mim em meu pobre retrato.
Peço a você confirmar-lhe que os mensageiros de
Jesus nos auxiliarão. Ela receberá o amparo
espiritual de que me fala sentir-se necessitada.
8
Para o José Geraldo, os meus parabéns de avó.
Posso estar representando a avó “coruja”, mas
ouvi o discurso dele e muito me comovi ao vê-lo
pensando com tanta maturidade na profissão que
ele mesmo escolheu! Deus o abençoe e continue a
sustentá-lo em seus bons propósitos!
9
Peço a você dizer ao nosso Luciano que a visita
feita a ele por nossa amiga Hermelita foi uma
visita de confiança e luz. Ah, como ficou
assustado com aquela emoção toda! Sei que ele
julga que um dia também me enxergará
conversando com ele, filho que sempre me foi e
ainda é tão caro, mas se isso acontecer prometo a
ele que só farei a visita a ele depois de muito
tempo necessário à nossa preparação, porque se
ele se emocionará isso acontecerá igualmente
comigo e ainda não estou habilitada a tomar
posição entre vocês, com toda a minha presença e
amor de mãe!
10
Querida Lúcia, abrace por mim a nossa Yolanda e
diga-lhe que ela soube aproveitar aí mesmo, na
Terra, os pedidos de um filho que a ela se dirigiu
de um mundo para outro. Sei que a nossa amiga
encontra dificuldades para cumprir a bela missão
da beneficência entre as criaturas, no entanto,
Jesus lhe multiplicará as forças, porque Yolanda é
a tarefeira e missionária do bem, abençoando e
auxiliando a todos os que trabalham no bem, sem
excluir pessoa alguma. Que ela saiba colher as
rosas do coração dedicado a semear a alegria e o
socorro a todos os que sofrem, esquecendo os
espinhos que habitualmente ferem aqueles que
agem no jardim da vida, trabalhando para ser útil
a quem trabalha e para estender mãos fraternas até
mesmo aos que não trabalham, porque são esses
os mais necessitados por serem surdos às lições
que recebem.
11
Você prossiga em nossa união de sempre, pois
agora é que comecei a ser aprendiz na seara da
beneficência. E nessa escola é de meu desejo que
você, além de filha, possa ser a minha colega, para
cumprirmos juntas os nossos deveres para com os
outros, especialmente com os nossos irmãos mais
necessitados. Não passe recibo em conversas que
pretendam desprezar a nossa fé em Deus e em
nosso serviço, que — embora pequeno — nos
serve à feição de carteira da escola em que somos
lecionadas para viver e compreender melhor a
vida.
12
Lembranças a todos os nossos. Os que
perguntarem por lembranças minhas já estarão a
recebê-las, pois não me esqueço de ninguém e
estou aprendendo a não forçar situações. Quem
ama se renova e quem se renova caminha com
mais segurança. Querida filha, com o meu afeto
ao Oscar e à Sarita, sou, como sempre, a mamãe
que a abraça e lhe beija as mãos…
Sempre a sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Referência a Augusto Cezar Netto, Espírito, e à
distribuição natalina de Uberaba, na Vila do Pássaro
Preto. realizada anualmente por sua mãe, Yolanda
Cezar, com a colaboração de dezenas de amigos da
capital paulista.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

87

Filhos são de Deus

1
Querida Lúcia, n
Vejo você com a nossa Dália, n assistida por nossa
Luizinha e por nossa Sarita, e em vocês represento
a nossa família inteira. Não podia deixar de
conversar com você pelo veículo do papel, pois
com a permissão daqueles que nos amparam e
guiam quero desejar-lhes um feliz Ano Novo e
faço questão de estender esses votos à nossa
querida Yolanda Cezar, cuja vida é um mundo de
bons exemplos, visitando-nos em companhia do
filho Augusto Cezar, nos caminhos para Jesus.
2
Você não precisa que lhe escreva com pormenores,
pois estamos em contato quase constante e as
minhas ideias você chega a registrá-las em nossos
cadernos. No entanto, sinto necessidade de pedir-
lhe abençoar com todo o seu coração materno o
nosso José Geraldo e a esposa, que poderes
superiores da vida lhe destinaram ao coração.
3
Lúcia, filhos são, primeiramente, de Deus e não
desejo que você conserve no sentimento qualquer
resquício de tristeza, porque, às vezes, em nossa
emotividade, queremos escolher noras e genros
para os nossos filhos, mas todos eles, como
acontece a nós mesmos, trazem no íntimo
tendências e compromissos de vidas recentes na
Terra. Além disso, a jovem com quem ele se ligou
é portadora de muitas qualidades nobres e, de
nossa parte, devemos auxiliá-la a se adaptar
conosco. Faremos muito para ajudá-la, enviando
os nossos bons pensamentos.
4
Você ouça a Dália no caso e ela própria dirá a você
que os filhos chegam na penugem do ninho e
quando nascem são mensageiros de esperança e de
alegria. O ninho com que eles confeccionam as
roupas é um atestado de nossa confiança e de
nosso amor, entretanto, quando a penugem se
transforma em asas seguras, julgam a estreiteza do
ninho em que nasceram de nosso afeto e sabem
aportar os horizontes que aspiram alcançar.
Choramos e rezamos para que não se ausentem de
nossa companhia, mas sem perder o amor por nós,
pelos pais e pelos irmãos voam para longe em
busca de outras terras em que possam ser eles
mesmos. Não é ingratidão. Isso acontece com os
passarinhos que se ausentam do berço em que
nasceram em busca de outros ares e de outras aves
da mesma espécie para se modificarem como
desejam.
5
Pensemos agora em dois dos meus netos que estão
recebendo a assistência constante: é Sérgio e Caio,
que necessitam de tratamento especializado. O
Sérgio parece tranquilo, mas tem o sofrimento
íntimo estampado no rosto e espero que você e
nosso Oscar venham a conduzi-lo para o
tratamento preciso.
6
Somos chamados pelos emissários de Deus a
receber os Espíritos antagônicos ao nosso, que
costumamos tratar por inimigos e adversários, e
precisamos trabalhar muito para conquistar-lhes a
simpatia e a dor ultimamente poderia trazer
notícias, mas os destinatários delas ponderariam o
porquê de minha indiscrição. Mas posso
asseverar-lhes que todos estão queixosos, porque
desejariam ter cooperação, mas isso exige tempo e
muito amor, com o esquecimento de quaisquer
ofensas de que nos supomos vítimas. 7 Digo isso
porque o inimigo transformado em amigo será
nosso apoio e amparo no amanhã da vida.
Converse com o nosso Oscar e vejam os dois
como devemos fazer para exercitar o perdão todos
os dias. Jesus nos aconselha a perdoar cada ofensa
recebida setenta vezes sete vezes, mas creio que
eles acrescentam que é preciso fazer isso tantas
vezes quanto tenhamos consciência de nossa
própria vida.
8
A oração nos dará conformação e entendimento. E
aos poucos vamos compreendendo que a
misericórdia de Deus na juventude nos toma pelas
mãos e ensina-nos a cultivar as qualidades que nos
farão sempre felizes. Muito moços ainda, à feição
de frutos verdes na árvore da vida, aprendemos o
que seja caridade, perdão, tolerância, trabalho no
bem e fraternidade com todos. 9 A princípio,
praticamos as lições e cremos nossas almas
queridas e amigas… O tempo vai desdobrando os
painéis do passado quando, de improviso, nos
aparecem aqueles companheiros ou irmãos que
ainda não são simpáticos e já começa o nosso
novo aprendizado.
10
Abrace por mim o nosso Oscar, que se fez uma
viga mestra para a nossa segurança, e não se
esqueça de minhas lembranças para Célia, Cleusa,
nossas amigas de sempre. Elas nos encontram nos
chamados sonhos, mas quando voltam ao corpo
não conseguem encadear as palavras para falar
sobre o que para elas ainda é desconhecido.
11
O Chiquinho veio ver Dália e está muito contente
com a fé que ela demonstra na passagem pelas
dificuldades da vida.
12
Muito teria a dizer, mas em casa conversaremos
mais à vontade. Não posso ter a pretensão de ser
dona das horas e chegou o momento de pedir a
você felicitar o José Geraldo e a esposa por mim.
Paz com todos. Cândida está presente e envia
abraços às filhas queridas, de vários de nossos
amigos desencarnados,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Em referindo-se a Cidália Xavier de Carvalho, irmã
mais nova de Chico Xavier casada com Chiquinho
Carvalho, já desencarnado.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
88

Tesouro oculto

1
Querida Lúcia n e querida Luizinha, com o Oscar e
com o nosso José Geraldo, guardem as minhas
preces de gratidão e carinho de mãe!
2
Lúcia, estou muito grata às suas providências em
beneficio de nossa Conceição, que entra, assim,
tão menina, para as tarefas do casamento. Você
fez o que pôde para vê-la feliz e isso basta para
que você esteja tranquila. É isso mesmo!
Consciência em paz é tesouro oculto.
3
Deus abençoe o nosso Luciano e a nossa Helena
pelo bem que fizeram à Ceição, que precisava de
apoio para seguir em nova jornada. Acompanho
todas as ocorrências de nossa família e de nossa
casa, não só porque sou novata na vida espiritual,
mas porque atendendo ao trabalho que me restaure
a paz da mente sinto-me outra. Mais ativa, mais
resistente!
4
Tenho visto situações e pessoas de nosso meio
familiar que me impressionam pela mudança em
que as observo e chegará o momento em que
falaremos disso.
5
Sei que a nossa Luizinha está muito bem, na fase
nova dos estudos, mas peço a ela muito cuidado
consigo mesma. Lauro e Therezinha são
excelentes irmãos, mas o aprendizado de cada dia
pertence a ela e espero que nossa querida Luizinha
faça o coroamento do seu ano em andamento com
uma vitória escolar de quem estuda para
compreender e realizar. Nossa Luizinha conhece
todos os nossos problemas e nos auxiliará a
resolvê-los.
6
Lúcia, a sala está repleta e confesso a você que
tenho vontade de esquecer a presença de tanta
gente boa para entrarmos no trato de algumas
fofocas, mas isso seria abusar e não desejo fazê-
lo, mas em nossas íntimas meditações faremos as
nossas conversações silenciosas e anotaremos o
nosso assombro de tantos acontecimentos que os
outros provocam e que nós observamos caladas.
7
Tudo vai bem e desejo ver você melhor de saúde
para trabalharmos, uma junto da outra, para
auxiliar a amigos nossos que estão ilusoriamente
realizados e ainda terão muitas lutas pela frente,
de modo a socorrê-los como se faz preciso.
8
Agradeço ao Oscar e ao José Geraldo os estímulos
com que incentivaram a sua viagem.
Estamos passando o Dia das Mães com uma paz
que há muito tempo perseguíamos, sem alcançar.
O Dia das Mães está nascendo e desejo a você,
querida filha, muita saúde e resistência, felicidade
e alegria! Agradeço as belas palavras que você me
dirigiu pela passagem da data maravilhosa.
9
Ser mãe é ser uma bênção, mas também viver em
desassossego desde que o primeiro filho aparece.
Com isso não estou reprovando ninguém que
atravesse a mocidade e sim exaltando a alegria de
estarmos juntas nestas horas de união e beleza!
10
Tenho pedido muito a Jesus por nossa Tucha e
vamos esperar o que está para acontecer. Graças a
Deus, só desejamos o bem e se alguma tribulação
aparecer isso deverá suceder para nosso beneficio.
11
O Sérgio está melhor e o Caio prossegue contando
com o apoio do nosso José n para o tratamento que
se lhe faz necessário. Luizinha, em Campinas,
junto de nossa Therezinha e de nosso Lauro, vem
fazendo conquistas novas nos estudos, o que nos
proporciona grande prazer. Todos nós sabemos
viver, mas quem estuda sabe viver melhor!
12
Agradeço à Célia, à Cleusa, à Dália o conforto
que nos proporcionam.
Desejo enviar a todos as minhas lembranças e
fazer com que nossa Pingo creia em nossa
amizade e carinho, mas não sei quando isso se
verificará. Vamos trabalhando no bem e o bem
será sempre o nosso advogado de defesa. Muitas
bênçãos que desejamos pedem tempo e não
podemos esquecer isso. Deixe que os dias corram
e esperemos.
13
Peço desculpas aos amigos e às irmãs que
compõem a nossa reunião pelo meu otimismo.
Acontece que estamos no Dias das Mães e não
temos lugar para a tristeza e desânimo de qualquer
natureza.
14
Renovo os meus agradecimentos por suas cartas e
seus bilhetes. Você tem me auxiliado a retomar o
meu trabalho de sempre, tecendo e ouvindo com
paciência para fazer o melhor que pudermos.
Quando você estiver com Jacy, diga-lhe que estou
cooperando no tratamento dela e que Jesus nos
ajudará a vê-la fortalecida e bem disposta.
15
Espero que ninguém do nosso pessoal venha
julgar que escrevo para você em demasia. O que
há é que você me procura com amor com os
nossos assuntos e eu tento responder a você com a
sinceridade de mãe para com sua sinceridade de
filha. Graças a Deus, por nós duas, que
continuamos ligadas pelo coração! Agradeço a
flor que o seu carinho me ofertou. Nos primeiros
tempos de vida espiritual, certos perfumes de
flores naturais valem por alimentos preciosos!
16
Querida filha, abrace por mim a todos os meus
netos e aos seus irmãos, começando por Oscar e
por nosso querido Zé. Para você, deixo aqui o
coração de sua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Refere-se a José Cândido Xavier, na Espiritualidade.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
89

Não nos apaguemos em cansaço inútil

1
Querida Lúcia, n
Deus nos abençoe e nos proteja. Sei que você
sente falta de minhas pobres palavras, entretanto,
guarde a certeza de que estamos juntas. Pensa com
meu cérebro e fala com as suas palavras. Não
tema as dificuldades do caminho que nos foi
confiado. 2 Hoje, entendo que todo Espírito
reencarnado na Terra está no encalço dos encargos
tecido de esperanças e sonhos de
3
felicidade. Enquanto os nossos garotos se
achavam na fase inicial da vivência, podiam ser
comparados a pequenos filhotinhos, que
dependem de nós e que mais profundamente se
nos fazem queridos, mas que, em geral, tão logo
conseguem desdobrar as próprias asas ausentam-
se para os vários campos da vida, nos quais
acreditam encontrar os ninhos da paz e da
alegria. 4 Nesses momentos de separação
transitória, choramos e nos afligimos no desejo
incontido de paralisar-lhes o voo iniciante, na
certeza de que não encontrarão a felicidade barata
com que sonharam e sim a face austera do
trabalho, que os obriga a entrar na vida da ação
incessante. Mas não pode ser de outro modo. Eles,
os nossos jovens, necessitam abrir novos
caminhos e conhecer novos horizontes. 5 Chorei
sempre, pelo menos, até que amadurecessem para
a existência, e você chorará por eles, os meus
netos, até que você lhes veja os sinais de
renovação. E como não temos a vocação de
desobedecer à vontade de Deus, entreguemo-nos a
Deus com os nossos melhores sentimentos,
porque, na essência, eles seguem as leis de viver.
Por isso não chore quando algum deles pretenda
romper a comunhão, de modo a se fazerem
cidadãos e cidadãs do mundo, em que lhes caberá
testemunhos mais importantes de amor. Ontem
você casou Sérgio, agora se prepara a fim de
acompanhar o matrimônio do José Geraldo, do
Caio, da Luizinha… Que fazer de melhor, minha
filha, senão entregá-los a Deus, que os ama e
protege antes de nós?
6
Tenho procurado inspirar o nosso Oscar em nossos
diálogos, libertando-o de pensamentos tristes e,
graças a Deus, vejo-o melhorado e mais forte. Não
espere que a vida lhe faça sentir que os meninos
estão conosco, estão caminhando para o olhar
dentro do qual nos procuram compreender e nada
respondem, porque trazem a vida interior
esfogueada pelo campo de luta. A Sarita é a
companheira de todos os dias, que precisamos
encaminhar. 7 Não nos apaguemos em cansaço
inútil, mas sim comecemos a marchar para a
frente. Recordemos em ter força em nossos atos
da existência — se assim os praticarmos com
amor a maior parte dos nossos deveres já
programados para eles estarão cumpridos e nos
trarão ainda a esperança de vê-los também
caminhar para a frente. Não falte com as suas
diretrizes, auxiliando-os a entender os obstáculos
que venham a conhecer e peçamos a todos eles
permanecerem na fé que lhes garantirá a
segurança do caminho. 8 Você não se agaste
comigo por falar-lhe nesses termos, mas o tempo
conversará com todos eles mais sabiamente,
orientando-os para a viagem. As meninas de
Cândida estão em nossas preces. Dizendo assim,
não quero manifestar-me contra os seus
pensamentos. Você não pode modificar-se a jato.
O tempo não respeita as obras das novas
construções que ele vai modificando. Estou me
alongando muito nesse assunto por entender que
as minhas queridas meninas devem estar na
estrada certa e com Jesus. Vencerão as
experiências das horas que hajam de passar.
Arranje um copo de chá calmante e faremos o
resto para sua tranquilização.
9
Peço ao Caio muita força de vontade no que
busque realizar e peço à Luizinha muita fé em
Deus e coragem. Não estou faltando com a
verdade. Os assuntos são os mesmos que
presenciei aí. Para nosso querido José Geraldo,
recomendo a crença amparando seus ideais.
Desejamos para ele a felicidade igual a que ele
nos tem proporcionado. Os dias passarão e nos
dias realizamos o que temos de efetuar. Célia e
Cleusa são também minhas filhas pelo coração e
continuarão agindo em nosso auxílio.
10
Para a nossa querida Luizinha, o meu recado é de
esperança, com o cuidado de que necessita para ir
seguindo com paciência o caminho que Jesus nos
deu a trilhar. Ao nosso Oscar, agradeço a
dedicação de filho que recebo dele
constantemente. Deus o abençoe nas ideias de paz
e confraternização que alimenta. Nós duas
continuaremos, independentemente do trabalho de
Chico, e você observará sempre que as nossas
observações estão certas. Onde não possamos
efetuar as providências que julguemos necessárias
Deus, por Seus mensageiros, fará por nós o que se
faça preciso. Estou escutando os pensamentos que
você me dirige nesta hora e, em resposta, peço a
Jesus nos fortifique em amor.
11
Não posso escrever mais. Zina n e Tiquinha n têm
convivido um pouco mais comigo e estamos
felizes, trabalhando com os mesmos pontos de
vista.
12
Querida filha, diga à nossa Luizinha, aliás,
presente aqui, que não se declare esquecida pela
fé, que prossiga amando a vida com o afeto de
sempre. Quanto ao mais, querida Lúcia,
esperemos em Deus. Teremos sempre a vida
inteira para trocar as ideias. De outra vez tomarei
mais tempo para falar de nossos casos e esperarei
que a nossa Yolanda a assista, qual está na agenda
de hoje, com as suas anotações. A vida aqui,
igualmente, não é um lago de água parada e sim
um rio, cuja correnteza nos obriga a pensar e
aprender, e trabalhar muito.
13
Esperando que a paz de Deus esteja com todos os
que se fazem ligações de nosso amor, e
cumprimentando a nossa prestimosa Leonor, a
quem agradeço as preces de paz que me envia,
abraça a você e a Oscar, numa só união de amor e
confiança, a velha mãe que deixou de se sentir
realmente velha, porque procura viver hoje na
bênção de Jesus, que abraçamos.
14
Querida Lúcia, que ninguém diga que estou
abusando do tempo e das possibilidades
mediúnicas do Chico, em vista da intimidade de
irmãos que sempre nos uniu, porque ele também
foi para mim um filho do coração, que sempre
agiu com liberdade para fazer o que entendesse,
com o meu apoio de irmã e assim estamos
integrados no mesmo caso em que somos livres
para opinar nesse ou naquele assunto,
ressalvando-se a obediência que todos devemos a
Deus.
15
Com Oscar, e todos os nossos entes queridos,
receba, Lúcia, o carinho de sua mãe, sempre sua,
que não a esquece,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Em referência à sua irmã Carmozina Xavier Pena,
conhecida como Zina.

[3] Tiquinha era o apelido de sua irmã Maria da Conceição


Xavier Pena. Carmozina e Tiquinha eram irmãs de D.
Luiza Xavier do primeiro casamento do pai. sendo a
primeira 3 anos mais nova e a segunda 7.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.

Referências bibliográficas
HARLEY, John. O voo da garça — Chico Xavier
em Pedro Leopoldo | 1910-1959. 2. ed. Belo
Horizonte: Vinha de Luz, 2010.
LEÃO, Geraldo; NETO, Geraldo Lemos
(Orgs.). Pedro Leopoldo vista por Chico
Xavier | 1910-1959 — 49 anos da presença do
maior médium de todos os tempos. Belo
Horizonte: Vinha de Luz, 2011.
NETO, Geraldo Lemos. Acervo fotográfico e
documental da Casa de Chico Xavier. Pedro
Leopoldo: 2012, Rua Pedro José da Silva, 67.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim (Org.). Sementeira de luz. Pelo Espírito
Neio Lúcio. 4. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz
Editora, 2012.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim; NETO, Geraldo Lemos (Orgs.). Deus
conosco. Pelo espírito Emmanuel. 3. ed. Belo
Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim (Org.). Sementeira de paz. Pelo Espírito
Neio Lúcio. Belo Horizonte: Vinha de Luz
Editora, 2010.
Idem: Colheita do bem. Pelo Espírito Neio Lúcio.
Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.
Idem: Militares no Além. Por Espíritos diversos.
Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.

Algumas notas explicativas, fotografias e legendas


que compõem este volume, foram compulsadas
das obras referenciadas.
Texto extraído da 1ª edição desse
livro.
ANEXO B

Sobre o uso da prancheta

Conforme o leitor verificará ao longo deste livro,


algumas mensagens foram recebidas com o
auxílio da prancheta, por indicação do próprio
Emmanuel, que, na qualidade de orientador das
tarefas psicográficas que deram origem à extensa
bibliografia do médium Chico Xavier, solicitou a
inclusão da pontuação ao alfabeto existente,
aprimorando sobremaneira a recepção das
mensagens, proporcionando a integralidade de seu
entendimento. Nesse trabalho, revezavam-se com
Chico Rômulo e Maria — na maioria das vezes —
ora impondo as mãos, ora anotando.
A título de informação, e de conformidade com
o Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e
Espiritismo, de João Teixeira de Paula, a
prancheta é conceituada como segue:

“(…) Peça móvel em que há um indicador (ou


ponteiro). Que percorre mediunicamente o
alfabeto (em forma de quadrante), os algarismos
de 0 a 9 e as palavras SIM e NÃO ali colocados e
por meio dos quais se obtém comunicações
espiríticas. Um autor, que naturalmente muito
lidou com a prancheta, assim a descreve: “Por
meio da prancheta obtém-se extensas
comunicações, sem demasiada fadiga para o
médium. A prancheta deve ser, de preferência, de
madeira lisa ou polida, com as dimensões de cerca
de dezoito por dezoito centímetros. Num dos
bordos haverá um cartão resistente para designar
as letras e os algarismos inscritos no quadro. Esse
quadro é constituído por uma folha de papel
resistente, com as dimensões de quarenta e cinco
por trinta, no qual se inscrevem, em duas linhas,
as letras do alfabeto suficientemente distanciadas
umas das outras. Uma terceira linha é reservada
para os algarismos de zero a dez. Por baixo dessa
terceira linha são inscritas as palavras “sim” e
“não”, à direita do quadro. A prancheta só
necessita de um médium e de uma única mão — e
é assim que se obtém os melhores resultados,
conquanto certos experimentadores não consigam
utilizá-la senão com duas pessoas que pousem a
mão perto uma da outra. O quadro é colocado em
cima de uma mesa: o médium pousa a mão
estendida na parte inferior direita do alfabeto. É
indiferente pôr uma ou outra mão. É nessa atitude
que se aguarda que a prancheta se mova. (…)
quando a prancheta está prestes a mover-se, o
médium sente, geralmente, um formigamento no
braço, no pulso ou nos dedos. O aparelho, então,
dirige-se para as letras suscetíveis de formar
palavras e, depois, frases. A prancheta necessita
de muito pouco fluido e o médium não sente a
menor fadiga. (…) O uso assíduo da prancheta é
um bom caminho para a mediunidade de
incorporação. (…) Prancheta, no sentido
espirítico, é galicismo, pois provém do nome de
seu inventor, Planchette, espírita francês que, em
1853, teve a feliz ideia da invenção do dispositivo
mediúnico.”

Wanda Amorim Joviano


Organizadora

Nota da organizadora: PRANCHETA. In: PAULA, João


Teixeira de. Dicionário de Parapsicologia,
Metapsíquica e Espiritismo. São Paulo: Empresa Gráfica
da Revista dos Tribunais, 1970. p. 71-73. Texto
constante da obra Deus conosco (VINHA DE LUZ, 3ª
ed., 2010), às p. 49-50.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
ANEXO C

Sobre Júlia Pêgo Amorim


Entre as grandes provações que afligem a
humanidade, a prova da cegueira é uma das mais
dolorosas. O cego possui apenas o mundo interior
e um tato altamente desenvolvido, uma das
compensações dadas por Deus que é vedada aos
videntes. Os cegos sentem o aroma das flores e
dos frutos, a brisa do mar e o calor do sol, sentem
as diferentes sensações que a natureza oferece,
porém não podem contemplar a constelação
estelar, nem um raio de luar, o mundo das cores e
das formas a não ser pelo contato e pela
sensibilidade grandemente desenvolvidos.
O cego, porém, no seu mundo, é feliz, um ser
humano como outro qualquer. O que é necessário
é que os videntes transformem a piedade em ajuda
prática, encarando-os como criaturas capacitadas
para viver e ser feliz, tanto quanto o vidente.
No Brasil, quatro extraordinárias mulheres
dedicaram-se ao bem-estar dos cegos, de alma e
coração, realizando trabalho pioneiro pelo
alfabeto Braille, transcrevendo para esse sistema
inúmeros livros, alfabetizando cegos e videntes,
qual verdadeiras sacerdotisas do bem. Foram elas:
D. Engrácia Ferreira, D. Júlia Pêgo de Amorim,
D. Benedita Mello e D. Balbina de Moraes,
pioneiríssimas na transcrição do livro espírita em
Braille. É de D. Júlia Pêgo de Amorim que vamos
falar nesta despretensiosa minibiografia.
D. Júlia Pêgo de Amorim nasceu no Rio de Janeiro,
quando ainda capital do Império, no dia 15 de
setembro de 1879, sendo primogênita do Marechal
Antonio José Maria Pêgo Junior e de D. Júlia
Amália da Silva Pêgo. Em 1894, terminava o
curso primário, sendo matriculada na antiga
Escola Normal do Distrito Federal, onde
diplomou-se em professora primária no ano de
1898, quando foi designada professora-adjunta
para a Escola Basílio da Gama. Posteriormente,
ocupou o cargo de diretora de Música da Escola
Normal. Estagiou na Escola Benjamin Constant e
foi nomeada diretora da Escola de São Cristóvão,
então 6º Distrito Escolar. Contraiu núpcias com o
Dr. Aurélio de Amorim no dia 28 de outubro de
1899. O seu esposo era oficial do Exército,
gozando grande prestígio na política do Rio de
Janeiro. Concorreu às eleições e foi eleito
deputado federal pelo seu Estado natal, o
Amazonas. Desse matrimônio, nasceram seis
filhos: Maria, Aurélia, Armando, Aramis, Mário e
Iacy. Visando o conforto e o bem-estar da grande
amada, Dr. Aurélio alugou o antigo solar do Barão
do Amparo, no Alto da Boa Vista.
Notando a ausência de escolas naquela localidade,
D. Júlia empenhou-se junto à Prefeitura Municipal
para que ali se fundasse uma. De acordo com o
jovem esposo, cedeu uma das salas do solar para
que funcionasse a primeira escola do Alto da Boa
Vista e da qual foi nomeada diretora.
Diante da afluência de alunos, a Prefeitura do
Distrito Federal fez construir, mais tarde, a Escola
Primária Menezes Vieira, ainda hoje existente no
populoso bairro. Em 1915, é nomeada diretora da
Escola José de Alencar, próxima do Largo do
Machado, dirigindo esse estabelecimento de
ensino até 22 de outubro de 1919, quando foi
jubilada no cargo de catedrática. Sempre pensando
em ser útil, tornou-se, mais tarde, o expoente
máximo da dedicação aos cegos.
No dia 21 de abril de 1937, desencarna, no Rio de
Janeiro, sua tia D. Engrácia Ferreira, veterana
cultora do Braille, que, em vida, manteve
permanente campanha para o bem-estar dos cegos.
D. Engrácia foi abnegada seareira espírita,
pioneira da transcrição do livro espírita para o
Braille. Por várias vezes, animou a sua sobrinha
para essa meritória tarefa. Menos de um mês da
sua desencarnação, no dia 6 de maio de 1937,
comunica-se por intermédio de Chico Xavier,
dando uma mensagem dirigida à D. Júlia Pêgo de
Amorim, na cidade de Pedro Leopoldo (MG).
Onze dias depois, Chico Xavier recebe a segunda
mensagem pelo sistema Braille, cuja mensagem
foi publicada no “Reformador” do mês de junho
de 1938, às páginas 172-175. Em 16 de novembro
de 1938, transmite a terceira mensagem dirigida à
D. Júlia, sugerindo que transpusesse para o Braille
determinado dicionário de Português e, nesse
mesmo ano, veio a quarta mensagem, dando
provas incontestes de sua identidade. D. Engrácia
Ferreira deixou várias obras transcritas para o
Braille e uma por terminar.
D. Júlia Pêgo de Amorim, pegando certo dia nas
páginas escritas dessa obra inacabada, imaginou
terminá-la e o seu desejo se materializou de tal
forma que aprendeu sozinha o alfabeto Braille,
copiando letra por letra. Certificando-se de que
estava certo, prosseguiu e tirou a prova,
solicitando a um cego que lesse o que estava
escrito. Satisfeita com o resultado, em pouco
tempo estava senhora do assunto, transformando-
se numa verdadeira missionária.
Em 1938, reuniu em sua casa pessoas interessadas
nessa obra de altruísmo e começou a praticar e a
ensinar o Braille. Em fevereiro de 1939,
atendendo ao apelo espiritual de sua tia, resolveu
iniciar a transcrição do Pequeno Dicionário da
Língua Portuguesa, primeira edição (1938), da
Civilização Brasileira S/A Editora, de autoria de
Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, cuja
transcrição levou quatro anos de intermitentes
trabalhos, dando, ao todo, 64 volumes. Em
setembro de 1943, Chico Xavier recebe a quinta
mensagem do Espírito de Engrácia Ferreira,
agradecendo à sobrinha o atendimento de seu
apelo e o valioso trabalho em prol dos cegos. D.
Júlia Pêgo de Amorim iniciou um curso gratuito
de Braille, no centro da cidade, visando, com esse
curso, maior número de colaboradores para a
grande tarefa. Fez um apelo através do rádio e foi
procurada pelo confrade Manoel Jorge Gaio,
fundador da Instituição Marieta Gaio, que se
ofereceu para auxiliar financeiramente a obra.
Com esse incentivo, pôde dar início à transcrição
do aludido dicionário, recebendo, algum tempo
depois, a colaboração das senhoras Maria Pêgo
Santos, Maria Amorim Joviano e Zulmira Feital
Cavalcante de Freitas. Graças à inestimável
colaboração dessas valorosas senhoras, concluiu a
obra em menor tempo. Em 14 de julho de 1943,
ofertou o dicionário, pronto e encadernado, ao
Instituto Benjamin Constant. Entre a grande
bibliografia transcrita estão: O Evangelho
segundo o Espiritismo, de Allan Kardec (3
volumes), doados à Federação Espírita
Brasileira, Pequenas mensagens, de Emmanuel (3
volumes), Voltei, de Irmão Jacob (3
volumes), Catecismo espírita (1 volume), Agenda
cristã, de André Luiz (1 volume), todos doados à
Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (Spleb).
Além de livros importantes como A moreninha, A
vida de Helen Keller, A ilha de John Bull, Música
ao longe, Contos policiais, Jornal e pensamentos
de cada dia (de Elisabeth Leseur), Manual de
análise léxica e sintática, Estatutos da Associação
dos Servidores Públicos e muitos outros, todos
doados às grandes instituições de cegos do Brasil.
Sua obra em Braille sobe a mais de 90 volumes.
D. Júlia Pêgo de Amorim, inteiramente integrada na
campanha do bem-estar dos cegos, tomou parte
ativa na fundação de várias instituições
especializadas nesse sentido, como a Sociedade
dos Amigos Cegos, Instituição das Cegas Helen
Keller e outras, inclusive fazendo parte de várias
diretorias, patrocinando inúmeras campanhas pró-
sedes próprias, promovidas por damas da melhor
sociedade do Rio de Janeiro, que ela
arregimentava. Recebeu inúmeras condecorações
pelos serviços prestados aos cegos.
No dia 11 de novembro de 1952, perdeu o seu
idolatrado esposo, amigo incondicional de todas
as horas, Dr. Aurélio de Amorim, então reformado
no posto de general do Exército. Foi convidada
pelo Marechal Mário Travassos para a Sociedade
Pró-Livro Espírita em Braille, da qual se fez
verdadeiro baluarte, sendo eleita para o seu
conselho deliberativo, exercendo vários cargos.
Pronunciou inúmeras conferências públicas, tanto
na parte espírita quanto na profana, inclusive na
Associação Brasileira do Instituto Benjamin
Constant. No dia 18 de fevereiro de 1965, foi
agraciada com o diploma de Honra ao Mérito por
proposta do Conselho Nacional para o Bem-estar
dos Cegos.
D. Júlia Pêgo de Amorim, mulher extraordinária,
exemplo de esposa, de mãe de família, de mestre e
de espírita jamais esmoreceu em sua caminhada
luminosa, criando um conceito novo na sociedade
de que o cego não precisa de esmola, necessita de
educação e preparação para que possa viver uma
vida digna e feliz como todos os seus irmãos em
humanidade. A sua desencarnação ocorreu no Rio
de Janeiro, aos 29 de novembro de 1974, aos 95
anos de idade, dos quais 37 anos dedicados à
Doutrina Espírita e ao Braille. Deixou exemplos
dignificantes do quanto vale estender o Evangelho
de Jesus, separando a letra que mata do espírito
que vivifica, ficando a fé raciocinada que só a
Doutrina Espírita nos faz compreender.

Antônio de Souza, Lucena

Nota da editora: Original sem dados tipográficos.

Texto extraído da 1ª edição desse


livro.
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