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Keynes, J. N. Scope and Method of Political Economy.

Bartoche Books, Kitchner, 1999[1890] 1

CAP VII. SOBRE O MÉTODO DEDUTIVO NA ECONOMIA POLÍTICA

§1. Natureza do método dedutivo – Na medida em que a experiência específica fracassa em fornecer
um conhecimento confiável das leis econômicas, deve-se recorrer a um método cuja essência
consiste na determinação preliminar das principais forças atuantes e a dedução de suas
consequências sob várias condições. O argumento a posteriori dependente inteiramente do exame
dos fatos concretos é substituído pelo argumento a priori dependente do conhecimento das
características gerais exibidas pelos homens nas suas transações econômicas uns com os outros. “O
problema do método dedutivo”, diz Mill, “é encontrar a lei de um efeito a partir das leis das
diferentes tendências das quais é o resultado conjunto”.
O método em sua forma completa consiste em três passos. É necessário, primeiro,
determinar quais são as principais forças atuando, e as leis de acordo com as quais elas atuam. A
seguir vem o estágio puramente dedutivo, no qual são inferidas as consequências que irão resultar
da atuação dessas forças em dadas condições. Por último, por meio da comparação do que foi
inferido com os acontecimentos que podem ser diretamente observados é dada a oportunidade para
o teste e a correção da adequação prática dos dois passos precedentes e para a sugestão das
qualificações necessárias. Deve ser observado que apenas um desses três passos – o segundo – é
dedutivo estritamente falando. O assim chamado método dedutivo em sua forma completa,
portanto, não parece ser um método exclusivamente dedutivo. Ele pode ser descrito de forma mais
acurada como um método que, apesar de predominantemente dedutivo, é ajudado e controlado pela
indução. Esse ponto será exposto no que se segue adiante, mas é desejável chamar atenção para ele
desde o início.

§2. A aplicação do termo “hipotético” à ciência econômica – A Economia Política, por recorrer ao
método dedutivo, é normalmente descrita como sendo de natureza essencialmente hipotética. No
entanto, essa descrição da ciência precisa ser cuidadosamente explicada e moderada, uma vez que
há o perigo de uma confusão de pensamento em relação às implicações contidas nela.

Todas leis de causação devem ser chamadas de hipotéticas, na medida em que elas
asseveram somente que dadas causas irão produzir certos efeitos na ausência de causas contrárias.

1 Tradução do Cap, VII, § 1, 2 e 3. Profº André Guimarães Augusto para uso exclusivo no curso de Pensamento
Econômico III da Faculdade de Economia da UFF. Dezembro de 2012.
De fato, nos casos em que efetivamente ocorre a atuação de uma dada causa, as causas contrárias
estarão presentem algumas vezes e não em outras; e portanto, as leis de causalidade devem ser
consideradas somente como enunciados de tendências. Segue-se que todas as ciências das causas, e
principalmente as ciências que empregam o método dedutivo – incluindo a economia política e a
astronomia, contém um elemento hipotético.

O anterior pode ser expresso de forma um pouco diferente dizendo que o uso do método
dedutivo na economia se resolve, em certo estágio, em um processo de abstração, necessitando
frequentemente do recurso à qualificação do ceteris paribus. A abstração é levada ainda mais longe
nos argumentos em que o motivo do autointeresse é suposto como atuando irrestritamente em um
estado de liberdade econômica; isso é, em argumentos que envolvem a concepção de “homem
econômico”. Mas em todos os casos em que o método dedutivo é usado, ele está mais ou menos
presente. Na investigação dedutiva das consequências econômicas de qualquer circunstancia ou
mudança determinada, é suposta a ausência de interferência de outras operações e de mudanças
concorrentes mas independentes. Na medida em que outras mudanças resultam da mudança ou
circunstância em questão, elas devem ser levadas em consideração; mas o caráter distintivo do
método dedutivo consiste, em primeiro lugar, na tentativa de efetuar um isolamento mental da
atuação de todas as forças modificadoras que não estejam de alguma forma conectada causalmente
com o objeto de investigação particular. A distinção entre mudanças dependentes e independentes,
aqui indicada, é de fundamental importância e em si é suficientemente simples. Ao mesmo tempo, é
frequentemente encontrada uma dificuldade de manter essa distinção claramente à vista ao longo de
um argumento complicado; a capacidade de ser bem sucedido nisso é essencial para um argumento
econômico sólido e precisa de treinamento especial.

Não se segue, no entanto, que porque uma lei é hipotética no sentido anterior que ela seja
irreal ou sem relação com o curso efetivo dos eventos. Embora leis causais possam ser consideradas
hipotéticas sob um certo ponto de vista, de outro elas são categóricas. Elas afirmam
categoricamente o modo como dadas causas atuam. Além do mais, embora uma causa possa ser de
algum modo contraposta pela atuação de forças mais poderosas agindo na direção oposta, ela ainda
assim continua a exercer sua própria influência característica e irá modificar correspondentemente o
resultado final. Ninguém supõe que a lei da gravidade cessa de operar quando um balão sobe no ar
ou a água sobe em uma bomba; e isso pode servir de uma ilustração de algo que é recorrente em
relação ao fenômeno econômico. Uma intensificação da demanda de uma mercadoria, por exemplo,
pode ocorrer conjuntamente com um aumento na oferta; e assim o efeito absoluto da mudança na
demanda pode não aparecer em qualquer mudança do preço. Pode ser até que o preço caia,
enquanto a mudança na demanda atuando sozinha faria os preços se elevarem. Se não fosse pela
elevação da demanda, no entanto, os preços cairiam ainda mais. Permanece verdadeiro, de forma
absoluta e sem qualificação, que toda mudança na demanda tende a tornar os preços diferentes do
que seriam em caso contrário.

Tomemos novamente a teoria de que o aumento (ou diminuição) na quantidade de moeda em


circulação tende ceteris paribus a ser seguida por uma elevação (ou queda) no nível de preços. Em
um certo sentido essa é uma lei hipotética: ela não nos permite dizer que sempre que há um
aumento efetivo da quantidade de moeda em circulação haverá realmente um aumento no nível de
preços; ela não nos permite nem mesmo falar que se observamos um aumento na quantidade de
moeda em circulação ocorrendo conjuntamente com um aumento no nível de preços, esse último
fenômeno se deveu totalmente ao primeiro. Isso porque a causa em questão não é a única capaz de
afetar o nível de preços. Seu efeito pode, portanto, ser contraposto pela atuação concorrente de
causas mais poderosas agindo na direção oposta, ou aumentado pela ação conjunta de causas agindo
na mesma direção. Mas enquanto isso é verdade, é também verdade que sempre que a causa em
questão esteja presente, ela exerce sua influencia devida de acordo com a lei estabelecida, e tem seu
papel na determinação (positiva ou negativa) do efeito realmente produzido. A dada lei, portanto, a
despeito do elemento hipotético que contém, ainda tem referência ao curso efetivo dos eventos; é
uma afirmação a respeito das relações efetivas entre fenômenos econômicos.

Mas pode se levantar a questão de até que ponto a economia politica dedutiva não é
hipotética em um sentido mais fundamental do que o indicado. Está claro que qualquer que seja a
conclusão alcançada pelo argumento dedutivo, sua aplicabilidade ao fenômeno real deve
permanecer hipotética até que seja determinado até que ponto as premissas que formam a base do
argumento são de fato realizadas. Não poderia ser dito correspondentemente que pelo menos
algumas das conclusões da economia politica dedutiva são hipotéticas no sentido de que elas
requerem não apenas a ausência de causas contrárias, mas a realização de certas condições positivas
que de fato não são sempre realizadas? Se essa questão é respondida afirmativamente, não se deve
entender que ela carrega consigo a implicação de que a Economia Politica emprega premissas
arbitrárias ou fictícias, ou premissas cuja relação com os fenômenos efetivos da vida econômica é
duvidoso. Isso, no entanto, parece ser o que aqueles que desqualificam o método dedutivo com base
em que ele fornece somente conclusões hipotéticas – conclusões que são afirmadas como inúteis
para todos os propósitos práticos, embora muito de sua validade hipotética possa ser colocada em
questão.
É certo que em seu uso do método dedutivo, os economistas frequentemente trabalham a
partir de supostos positivos que não são realizadas universalmente. De fato, suas premissas
precisam ser diversificadas para satisfazer diferentes casos; e sendo assim, é claro que a
aplicabilidade de suas conclusões devem depender das circunstâncias. Por exemplo, ao lidar com
problemas relacionados a renda, certas condições da propriedade da terra são supostas; e ao tratar de
questões monetárias, certas regulamentações da cunhagem, curso legal, instrumentos de crédito e
assim por diante, são suposta como sendo vigentes. Novamente, ao trabalhar nas teorias dos
salários, não é fora do comum supor que cada tipo de trabalhador, ou mesmo a classe trabalhadora
como um todo, tem seus próprios padrões de conforto. Mesmo o suposto que podem ser resumidos
sob a denominação geral de ausência de causas perturbadoras tem um lado positivo. A relevância do
argumento, na medida em que diz respeito à explicação do fenômeno efetivo, requer que as causas
cuja influencia é omitida, sejam causas “estritamente” perturbadoras, e não devem exercer uma
influencia tão forte a ponto de reduzir as outras à insignificância.

Deve-se, no entanto, ter sempre em mente que o método dedutivo não consiste apenas no
passo dedutivo. Isso parece ser esquecido pelos que falam com desprezo do caráter hipotético da
Economia Política dedutiva. O argumento meramente dedutivo pode ser simbolizado por um
enunciado hipotético do tipo se P e Q são verdadeiros, R é verdadeiro. Mas o método dedutivo não
se refere apenas a conexão entre a verdade de P e Q e a verdade de R. Em sua forma completa, ele
inclui a investigação preliminar das forças efetivamente em operação e as várias condições sob as
quais elas operam; e ele também testa a aplicabilidade de seus resultados aos fenômenos efetivos
pelo recurso às realidades concretas que estão abertas à observação direta. Por vezes há uma
conveniência em falar que o estágio dedutivo da economia funciona mais ou menos por si mesmo; e
na teoria pura da economia é dada especial proeminência a ele. Mas ainda assim as premissas não
são escolhidas arbitrariamente. Pois enquanto a teoria pura supõe a operação de forças sob
condições artificialmente simplificadas, ela ainda assevera que as forças cujos efeitos ela investiga
são causas verdadeiras no sentido de que elas atuam, e de fato atuam de modo predominante, no
mundo econômico efetivo.

Uma breve referência deve ser feita às leis do valor normal, dos salários normais, etc. No
processo de chegar até a essas leis só se leva em conta, declaradamente, as forças comparativamente
universais e permanentes em atuação, deixando de lado as influências variadas exercidas pelas
causas locais e temporárias que podem estar em ação em determinado momento. Portanto, se chega
às leis por um processo deliberado de abstração e elas podem parecer ter um caráter
excepcionalmente hipotético. No entanto, se as forças cujas influências são conjecturadas, são
suficientemente disseminadas a ponto de serem as realmente predominantes e as mais duradouras
agindo em uma determinada sociedade, então é legítimo postular que as forças modificadoras agem
em direções diferentes em diferentes ocasiões, de modo que no longo prazo elas tendem a se
balançar e neutralizar umas as outras. Nessas circunstancias, embora as conclusões do argumento
dedutivo possam não corresponder aos fatos observados em qualquer caso individual, elas se
realizarão se os casos individuais são tomados em massa e se as condições gerais da vida econômica
permanecem as mesmas por um longo período de tempo. As leis do valor normal, etc., não são
hipotéticas no sentido de serem irreais. Elas não apenas são quase sempre de maior importância
científica como também de maior importância prática, que os fenômenos observáveis em cada caso
individual, sempre variáveis. É sempre essencial que a atuação das influências locais e transitórias
não sejam desconsideradas ou omitidas. Mas até que seja obtido o conhecimento das tendências
gerais e permanentes, aquelas que são locais ou transitórias serão, com toda probabilidade, mal
interpretadas.

A conclusão alcançada nessa seção pode ser resumida brevemente dizendo que a Economia
Política dedutiva é corretamente descrita como hipotética, se por isso se quer dizer em primeiro
lugar nada mais que as suas leis são somente enunciados de tendências, e que são portanto
normalmente submetidas a condição qualificadora de todas as demais coisas iguais; e que, em
segundo lugar, muitas das suas conclusões dependem da realização de certas condições positivas,
que não são sempre realizadas de fato. Dadas essas condições, no entanto, as leis podem ser
afirmadas categoricamente. As condições, além do mais, não são assumidas arbitrariamente, mas
são escolhidas de forma a corresponder amplamente aos fatos efetivos nas diferentes formas em que
o fenômeno econômico se manifesta. Ao dizer, portanto, que a Economia Política – na medida em
que recorre ao método dedutivo – é uma ciência hipotética, é necessário se prevenir contra a ideia
de que isso implica a irrealidade ou a pretensão de não correspondência com a ordem efetiva dos
fenômenos econômicos.

§3. Funções da observação no emprego do método dedutivo – O papel da experiência específica em


orientar e dar realidade ao argumento econômico dedutivo é de extrema importância. Pode ser dito
sem qualificações que a Economia Politica, recorrendo ao método dedutivo ou não, tanto começa
com a observação como termina nela. Conforme já assinalado, há uma tendência de esquecer que o
método dedutivo em sua forma completa consiste de três estágios, sendo somente um deles
realmente dedutivo, sendo os outros dois a determinação indutiva das premissas, e a verificação
indutiva das conclusões. O verdadeiro caráter do método dedutivo é particularmente mal apreendido
por aqueles críticos que rejeitam seu uso na economia politica com base em que seu emprego
significa fechar os olhos para os fatos e tentar entender as leis do mundo econômico negligenciando
inteiramente o que realmente está ocorrendo.

É verdade que na elaboração da teoria pura da economia, o papel da observação específica


pode ser subordinado e permanecer temporariamente na obscuridade. É verdade também que alguns
intelectuais são naturalmente inclinados a cultivar essa parte de seu tema por seu viés intelectual.
Novamente, para fins de ilustração e com o objetivo de nos familiarizarmos com o tipo de
raciocínio necessário para lidar com os problemas econômicos, algumas vezes é preciso formular
hipóteses que tem pouca relação com os fatos efetivos. Ainda assim o economista pode permanecer
independente da experiência específica apenas de forma parcial e temporariamente. A função
especial da observação como suplementar ao argumento dedutivo foram sugeridas pela análise do
método dedutivo já feita.

Em primeiro lugar, a observação guia o economista em sua escolha inicial das premissas.
Mesmo o tratamento abstrato da Economia Politica, é necessário começar pela consideração de
quais são as características gerais efetivamente mostradas pelos homens em suas transações
econômicas uns com os outros, e pela investigação do ambiente físico e social em que suas
atividades econômicas são exercidas. No entanto, como já ficou subentendido, não é necessário que
as proposições assumidas em relação aos motivos dos homens ou seu meio devam ser
universalmente verdadeiras ou sem qualificações. Tentar qualquer correspondência exata com o que
tem sido chamado de “efetividade completamente empírica” seria sacrificar a generalidade, e nos
envolvermos de outra forma nessas complexidades da vida econômica efetiva das quais o método
dedutivo tem por objetivo escapar temporariamente. Os requerimentos são que, primeiramente, os
motivos considerados sejam tão excepcionalmente fortes na esfera econômica, e tão uniformes em
suas atuação que o tipo de conduta deles deduzido corresponde amplamente ao que efetivamente
acontece. Em segundo lugar, que as circunstâncias em que os motivos supostamente atuam sejam de
caráter representativo, seja com relação à vida econômica em geral, ou, pelo menos, com relação à
um aspecto especial dela.

A observação requerida para a seleção de premissas pode algumas vezes envolver um pouco
mais do que a contemplação reflexiva de certos fatos mais familiares do dia a dia. Mas deve ser
lembrado que os economistas nem sempre trabalham a partir de um único conjunto de supostos, e
em alguns casos é requerido o conhecimento de natureza muito mais extensa para se determinar
quais serão as premissas. Essa observação se aplica à formulação da teoria das taxas de câmbio, do
movimento do nível de preços, dos efeitos dos sindicatos ou da maquinaria sobre os salários, etc.
No trato de problemas desse tipo surge a necessidade de alguma familiaridade com fenômenos
econômicos concretos desde o começo de nossa investigação. Os princípios gerais que deveriam
guiar os economistas na sua seleção de premissas irão ser indicados em maior detalhe
subsequentemente.

Em segundo lugar, a observação permite ao economista determinar o quanto suas suposições


se aproximam dos fatos efetivos sob certas condições econômicas. Ele então aprende até onde suas
premissas devem ser modificadas; ou em que medida – nos casos em que não é necessário ou
possível uma modificação nas premissas – os possíveis efeitos das chamadas causas perturbadoras
devem ser considerados. O uso da observação para esses propósitos é uma das principais razões
pelas quais o tratamento mais concreto da Economia Política é distinto de seu tratamento mais
abstrato. Sua importância para o entendimento adequado do fenômeno econômico de um dado
período é grande. “Nada além do irrealismo”, conforme afirmou Bagehot “pode vir da Economia
Política até que saibamos como e até que ponto suas primeiras asserções são de fato verdadeiras e
como e até onde não o são”.

Considerando essa função da observação de um ponto de vista diferente, será visto que a
observação determina os limites da validade positiva das leis obtidas dedutivamente. O mundo
econômico está sujeito a mudança contínua. Certos supostos podem ser realizados em um
determinado estágio do progresso econômico, e no entanto estar em violenta oposição aos fatos em
outro. Portanto, sem o auxílio de um extenso conhecimento dos fatos, há o perigo de atribuir às
doutrinas econômicas um campo de aplicação muito mais amplo do aquele que realmente elas têm.
Esse ponto será considerado mais tarde no tratamento da relação entre a teoria e a história
econômica.

Em terceiro lugar, o economista deve recorrer a observação para ilustrar, testar e confirmar
suas inferências dedutivas. É importante observar que a verificação pode, e de fato geralmente irá,
consistir na explicação satisfatória do fenômeno efetivo e não necessariamente na descoberta do
fenômeno que irá justificar as conclusões que foram obtidas dedutivamente como uma
generalização direta.

Claro que em alguns casos, em lugar de qualquer confirmação da teoria, será revelada uma
clara discrepância entre o curso efetivo dos eventos e o raciocínio dedutivo, alastrando que este, se
não é completamente errado, é pelo menos insuficiente para dar conta dos fatos. O problema então é
determinar a fonte dos erros ou incompletude. É possível que a investigação empírica possa indicar
a atuação de elementos exercendo uma influência importante sob o fenômeno em questão, mas que
não foram considerados; ou pode ser que, enquanto as forças corretas foram tomadas em
consideração, sua força relativa foi estimada erroneamente, ou o modo de atuação individual foi mal
calculado; ou pode ter havido erro no próprio raciocínio dedutivo.

As dificuldades mais sérias que algumas vezes estão presentes no processo de verificação
não devem ser omitidas. Mill vai ao ponto de dizer que “a base da confiança em qualquer ciência
dedutiva concreta não é o próprio argumento a priori, mas o acordo entre seus resultados e a
observação a posteriori”. Essa afirmação precisa ser levemente qualificada. Podemos ter bases
independentes para acreditar que nossas premissas correspondem aos fatos, e que o processo de
dedução é correto; e podemos consequentemente ter confiança em nossas conclusões, a despeito da
dificuldade de obter uma verificação explícita delas. Não deve haver uma discrepância manifesta
entre nossas conclusões teóricas e os fatos efetivos. Mas não devemos tirar conclusões negativas
apressadamente, ou supor que as teorias são superadas, porque as instâncias de sua atuação não
estão patentes à observação. Pois que a complexidade do mundo econômico efetivo, que torna
necessário em primeiro lugar recorrer ao método dedutivo, também pode tornar difícil determinar
até que ponto os efeitos de qualquer dada causa atuante realmente corresponde aos resultados de
nossas conjecturas dedutivas.

Novamente, as leis do valor, salário, etc normais, conforme já havíamos assinalado, são
verificáveis somente em instancias tomadas em massa e não por instâncias tomadas
individualmente. Segue-se que, assim como na elaboração das generalizações, na verificação dos
resultados do argumento dedutivo por meio das observações geralmente é necessário estender
nossas investigações a uma ampla gama de fatos, e especialmente dar tempo suficiente para os
efeitos se manifestarem claramente. Se essas precauções não são tomadas, o engano pode
facilmente ocorrer e a teoria econômica ser injustamente desacreditada. A doutrina de que os
impostos sobre mercadorias são, sob condições ordinárias, pagos pelos consumidores pode servir
como um exemplo simples, uma vez que essa doutrina não é de forma alguma inconsistente com o
fato que um novo imposto pode primeiramente recair fortemente sobre a indústria que é taxada.
Todo o argumento pelo qual essa doutrina é estabelecida mostra apenas que ela é relacionada
somente com o que acontecerá no longo prazo. Em outras palavras, ela se relaciona somente com
impostos vigentes há muito tempo ou que foram antecipados.

Como outro exemplo simples, deve ser assinalado que, de acordo com os princípios da
Economia Política dedutiva, a recusa da Lei dos Cerais deve ter tendido a trazer uma queda
permanente no preço do trigo na Inglaterra. De fato essa queda não ocorreu imediatamente. A
explicação para essa aparente discrepância deve ser encontrada na interferência de circunstâncias
como a quebra da safra de batatas, a Guerra da Criméia, e especialmente a depreciação do ouro, que
contribui para manter o preço elevado até 1862, não obstante o livre comércio. Além disso, foi
preciso tempo para permitir que a área de cultivo em novos países crescesse e os meios de
transporte se desenvolvessem de forma a satisfazer a nova demanda.

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