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Trabalho Caso Rita
Trabalho Caso Rita
Entrevista Clínica
Psicologia
Abstract............................................................................................................................3
Introdução.......................................................................................................................3
2. Linha da Vida...........................................................................................................5
4. Conclusão................................................................................................................11
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Abstract
This work aims to study and analyze the life of the individual under study
(Rita, 87 years old), considering the subjects addressed in class: the evolutionary
tasks of development and Erikson’s psychosocial theory.
Introdução
Numa primeira fase irá ser feito um resumo da entrevista feita à idosa
escolhida para este caso, através de uma caracterização geral da mesma. Depois
analisarei o caso com base nas tarefas desenvolvimentais e os seus fatores de risco e
proteção. Seguidamente irá ser feita a ligação entre o mencionado anteriormente e a
teoria de desenvolvimento psicossocial de Erikson.
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A pessoa escolhida para a realização deste trabalho (nome fictício – Rita) é do
sexo feminino e tem 87 anos. Trabalhou em casas como empregada doméstica durante
toda a sua vida. Atualmente vive num lar, no qual afirma ser muito bem tratada. Tem
duas filhas, a mais velha com 64 anos (Ana) e a mais nova com 51 anos (Catarina), três
netos e cinco bisnetos, dos quais destacou o mais novo, Tomás de quatro anos. Está
viúva há vinte anos e não apresenta qualquer tipo de tristeza por isso devido ao histórico
de violência da relação com o marido. Tem dois irmãos, dos quais apenas um está vivo,
com 84 anos. O irmão mais novo faleceu aos 38 anos num acidente. Os seus pais
faleceram cedo. Rita tinha 17 anos quando perdeu o seu pai, que tinha 77 e 27 quando
perdeu a sua mãe. A relação com a sua família sempre foi muito boa, incluindo a
relação com as suas filhas. No entanto, estas recentemente afastaram-se, o que causou
atritos na relação de Ana com a mãe, o que deixa a última muito triste.
2. Linha da Vida
Rita nasceu em 1933 e sempre teve uma excelente relação com os seus pais, da
qual referiu “não tenho nenhuma memória má”. Realçou ainda que nunca sofreu com os
pais, afirmando que o pai apenas lhe batera uma vez, no entanto, apesar desta memória,
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não é algo que Rita recorde com tristeza. Pouco referiu da sua infância para além de que
foi muito boa e que não tem nenhuma memória negativa da mesma. Fala também dos
seus irmãos, com os quais afirma sempre ter tido um excelente contacto até hoje (com o
que está vivo).
Como dito anteriormente, Rita começou a namorar muito nova e acabou por se
casar aos 18 anos. No entanto, este casamento foi muito prejudicial para a saúde física e
psicológica de Rita, pois a partir do nascimento de Ana, a sua primeira filha, a
entrevistada começou a sofrer diversos abusos por parte do companheiro. Estes abusos
foram maioritariamente físicos e Rita descreve-os afirmando que “ele batia sempre na
cabeça com um alguidar que lá tínhamos”. Esta alteração de comportamento por parte
do marido foi inesperada para ela, pois nunca tinham tido problemas durante o seu
namoro e ele não tinha nenhuma dependência ou problema psicológico diagnosticado
que o fizesse agir de maneira violenta.
Rita não adiantou mais informações sobre a sua vida de casada ou sobre o
nascimento e crescimento das filhas, para além de que se tinham dado sempre bem até
há uns anos. Mencionou a morte do marido, em 2001, como algo que mudara a sua vida,
afirmando que foi sempre mais feliz na vida de solteira do que na vida de casada.
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filhas deixa Rita muito magoada, afirmando que tem “um desgosto enorme”. No
entanto, Rita valoriza bastante a sua relação com a sua filha mais nova que a vai visitar
todos os domingos e que insiste em pagar o lar e todas as comodidades necessárias para
o conforto da mãe.
A sua ida para o lar referido anteriormente foi uma surpresa para Rita, pois esta
não sabia que se ia mudar para lá, pois andava muito mal da cabeça, segundo a própria.
Porém, refere que é muito feliz naquele ambiente e que fez novas amizades (outras
utentes do lar). Para além destas companheiras, mencionou ainda que é muito bem
tratada e que todas as auxiliares a tratam muito bem, “gosto muito de estar aqui, tratam-
me muito bem. São todas nossas amigas.”.
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alcance do equilíbrio emocional, a integração social, a consciência moral e o papel que
o individuo deve saber que tem na sociedade, como o assume e como o concretiza.
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de risco nesta fase da sua vida, por falta de comunicação com alguém que a pudesse
ajudar.
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contexto em que viveu e cresceu. A sua adolescência ou juventude não se realizou de
maneira ideal, pois Rita já trabalhava e namorava desde os 14 anos, o que consistiu num
fator de risco a nível pessoal para o seu desenvolvimento na sociedade. O facto de ter
casado e ter tido filhas muito cedo também consiste num fator de risco, pois pode não
ter realizado certas metas ou objetivos correspondentes a essa fase ou pode não ter
assumido o papel que com essa idade deveria assumir na sociedade.
4. Conclusão
Vou relacionar este trabalho com a teoria de desenvolvimento psicossocial de
Erikson, da qual vou destacar apenas a partir do 6º estádio de desenvolvimento devido à
escassez de informações recolhidas dos estádios anteriores. Portanto irei abordar o 5º
estádio – Identidade vs. Confusão; o 6º estádio – Intimidade vs. Isolamento; o 7º estádio
– Generatividade vs. Estagnação e o 8º estádio – Integridade vs. Desespero.
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que o primeiro andar se sustente e assim por diante. Dá importância ao contexto
afirmando que os estádios são formados por influências sociais. Um estádio não é
ultrapassado e deixado para trás, pois cada um contribui para a formação da
personalidade total.
Como referido acima, vou proceder à análise do caso com base nos quatro
estádios mencionados acima, procedendo também a uma pequena interpretação dos
mesmos.
Como dito numa primeira fase do trabalho, Rita começou a namorar aos 14 anos
e casou aos 18, pelo que “perdeu” a fase da sua adolescência tendo-se desenvolvido
muito cedo para a idade em que se encontrava. Na teoria de Erikson estas idades
compreendem o 5º estádio de desenvolvimento que corresponde à Identidade vs.
Confusão da Idade (14-18 anos), com as questões fundamentais “Quem sou eu? O que
irei ser?”. Estas são próprias das idades desta fase, pois é quando o jovem começa a ter
consciência da sua particularidade, ou seja, de que é um ser humano único que tem de se
preparar para desempenhar vários papeis no meio social. Esta é a fase da vida em que a
consciência do que somos no presente é acompanhada pelo desejo do que queremos ser
no futuro. Há uma tentativa de testar tudo o que nos rodeia, desde a opções ideológicas,
estéticas, religiosas e morais, com o objetivo de sabermos quem somos e quem
queremos ser. A crise de identidade exprime a dificuldade em encontrar uma identidade
e um lugar conveniente no seio da sociedade, o que traduz a dificuldade da passagem da
infância para a idade adulta.
Posto isto, Rita, por um lado, encontrou o papel que desejava desempenhar no
seu meio social ao começar a trabalhar no que resultou no seu futuro laboral. Por outro,
ao ter começado a namorar aos 14 anos, não explorou tudo o que devia explorar nesta
fase, pois saltou para a próxima (Intimidade vs. Isolamento), o mesmo sucedeu por se
ter casado aos 18, altura em que, segundo Erikson, ainda deveria estar a descobrir a sua
identidade e o seu papel na sociedade, testando todos as opções que gostaria de
explorar. No entanto, não considero que esta fase tenha sido mal ultrapassada, pois não
existiu nenhuma crise de identidade ou arrependimento do que viveu durante este
período. Contrariamente, Rita afirma-o como a melhor altura da sua vida.
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vivido. Esta fase é marcada pela preocupação em estabelecer relações íntimas
duradouras com outras pessoas. A principal questão é, “Deverei partilhar a minha vida
com outra pessoa ou deverei viver sozinho?”. Erikson dá à intimidade o sentido de
junção da identidade de um individuo com o outro, em que se espera a capacidade de
desenvolver uma relação profunda e significativa com outra pessoa. Para que isto
aconteça o individuo deve ter resolvido as crises psicossociais anteriores e sentir-se
seguro acerca de quem é e do que quer na vida, conciliando a vida profissional com a
afetiva. Em geral, a incapacidade de realizar o esperado leva ao isolamento e à sensação
de fracasso e solidão.
Nesta fase, Rita já tinha concretizado todos os seus objetivos na fase anterior,
pelo que, por esta altura ela teve as suas duas filhas e continuou o seu trabalho. Ou seja,
esta fase de Erikson foi adiantada ou saltada por Rita, na medida em que a viveu e
ultrapassou numa idade precoce e por esta altura já estava a seguir a sua vida de casada.
Foi também neste período do nascimento da primeira filha que Rita começou a sofrer
abusos por parte do marido.
Esta fase foi, segundo a teoria de Erikson, das melhores para Rita na medida em
que ultrapassou a crise da mesma. A entrevistada durante este período trabalhava
incessantemente e cuidava da sua herdade, onde habitou as duas filhas e as acompanhou
de modo que elas se estabelecessem da melhor maneira possível quando estivessem
prontas. Ajudou a criar os netos e sempre os acompanhou, não deixando de trabalhar até
à idade da reforma. Segundo Rita, ela produziu dinheiro suficiente para ajudar a família
no que fosse preciso. Desta forma, para alem de ter melhorado a vida das filhas com a
ajuda que lhes deu, conseguiu satisfazer-se a si própria no seu desempenho profissional
e a nível afetivo com os que a rodeavam.
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Por último, o 8º estádio que diz respeito á Integridade vs. Desespero (65 em
diante), a pergunta que se estabelece é a seguinte: “Teve a minha vida sentido ou
falhei’?”. Esta fase assinala que chegou hora do balanço do que se fez na vida e
sobretudo do que se fez da vida. Nesta dualidade emocional, a integridade significa que
o individuo avalia positivamente o seu percurso vital mesmo que nem todos os seus
desejos ou objetivos e sonhos se tenham realizado e esta satisfação prepara o individuo
para aceitar a deterioração física e a morte como termo de algo que valeu a pena. Por
outro lado, as pessoas que consideram a vida malsucedida podem ceder a angústia e ao
desespero.
Nesta última fase, Rita mostra-se como uma pessoa que está satisfeita com a
vida que levou independentemente se não cumpriu tudo o que desejava. Recorda com
bons sentimentos quer a sua infância como a sua vida adulta. Apesar da sua relação com
o marido, Rita não se mostra arrependida por ter vivido um casamento com ele. Por
outro lado, encara-o como algo que teria de acontecer na sua vida. E mesmo com a sua
relação com a filha fragilizada, Rita não considera que deva viver com desgosto por
causa disso, mas sim aproveitar o que ainda lhe resta com os que lhe querem bem.
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