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Universidade Lusíada de Lisboa

Psicologia do Desenvolvimento do Adulto e do


Idoso

Entrevista Clínica

Beatriz Duarte nº11025620

Psicologia

Ano letivo 2020/2021


Índice

Abstract............................................................................................................................3

Introdução.......................................................................................................................3

1. Caracterização geral da personagem..................................................................4

2. Linha da Vida...........................................................................................................5

3. Tarefas evolutivas do desenvolvimento – fatores de risco e fatores de proteção7

4. Conclusão................................................................................................................11

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Abstract

This work aims to study and analyze the life of the individual under study
(Rita, 87 years old), considering the subjects addressed in class: the evolutionary
tasks of development and Erikson’s psychosocial theory.

Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Psicologia do


Desenvolvimento do Adulto e do Idoso do 1º ano do Curso de Psicologia da
Universidade Lusíada de Lisboa.

O trabalho tem como objetivo o estudo, análise e interpretação de um caso


com base numa entrevista feita à pessoa em estudo (Rita de 87 anos). A análise será
feita através das teorias de desenvolvimento abordadas em aula, nomeadamente a
teoria de desenvolvimento psicossocial de Erikson, da qual irei abordar somente os
estádios mencionados durante a entrevista. Irão também ser analisados os
acontecimentos importantes deste desenvolvimento tendo em conta as tarefas
desenvolvimentais e os respetivos fatores de proteção e fatores de risco ligados ao
nível pessoal, interpessoal e de contexto.

Numa primeira fase irá ser feito um resumo da entrevista feita à idosa
escolhida para este caso, através de uma caracterização geral da mesma. Depois
analisarei o caso com base nas tarefas desenvolvimentais e os seus fatores de risco e
proteção. Seguidamente irá ser feita a ligação entre o mencionado anteriormente e a
teoria de desenvolvimento psicossocial de Erikson.

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi a entrevista feita


e gravada a uma idosa de 87 anos, documentos de apoio sobre a teoria de
desenvolvimento psicossocial de Erikson e sobre as tarefas desenvolvimentais; e os
apontamentos tirados em aula.

1. Caracterização geral da personagem

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A pessoa escolhida para a realização deste trabalho (nome fictício – Rita) é do
sexo feminino e tem 87 anos. Trabalhou em casas como empregada doméstica durante
toda a sua vida. Atualmente vive num lar, no qual afirma ser muito bem tratada. Tem
duas filhas, a mais velha com 64 anos (Ana) e a mais nova com 51 anos (Catarina), três
netos e cinco bisnetos, dos quais destacou o mais novo, Tomás de quatro anos. Está
viúva há vinte anos e não apresenta qualquer tipo de tristeza por isso devido ao histórico
de violência da relação com o marido. Tem dois irmãos, dos quais apenas um está vivo,
com 84 anos. O irmão mais novo faleceu aos 38 anos num acidente. Os seus pais
faleceram cedo. Rita tinha 17 anos quando perdeu o seu pai, que tinha 77 e 27 quando
perdeu a sua mãe. A relação com a sua família sempre foi muito boa, incluindo a
relação com as suas filhas. No entanto, estas recentemente afastaram-se, o que causou
atritos na relação de Ana com a mãe, o que deixa a última muito triste.

2. Linha da Vida
Rita nasceu em 1933 e sempre teve uma excelente relação com os seus pais, da
qual referiu “não tenho nenhuma memória má”. Realçou ainda que nunca sofreu com os
pais, afirmando que o pai apenas lhe batera uma vez, no entanto, apesar desta memória,
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não é algo que Rita recorde com tristeza. Pouco referiu da sua infância para além de que
foi muito boa e que não tem nenhuma memória negativa da mesma. Fala também dos
seus irmãos, com os quais afirma sempre ter tido um excelente contacto até hoje (com o
que está vivo).

A adolescência de Rita não foi comum na medida em que ela começou a


namorar aos 14 anos com o seu futuro marido. Deste namoro não existiram coisas
negativas, pois, segundo o seu testemunho, o seu namorado foi o melhor que se poderia
ter. Foi por esta altura que Rita começou também a trabalhar, pelo que iniciou a sua vida
adulta na sua adolescência. Deste período destaca positivamente as quatro viagens que
fez a França para visitar o seu irmão.

Como dito anteriormente, Rita começou a namorar muito nova e acabou por se
casar aos 18 anos. No entanto, este casamento foi muito prejudicial para a saúde física e
psicológica de Rita, pois a partir do nascimento de Ana, a sua primeira filha, a
entrevistada começou a sofrer diversos abusos por parte do companheiro. Estes abusos
foram maioritariamente físicos e Rita descreve-os afirmando que “ele batia sempre na
cabeça com um alguidar que lá tínhamos”. Esta alteração de comportamento por parte
do marido foi inesperada para ela, pois nunca tinham tido problemas durante o seu
namoro e ele não tinha nenhuma dependência ou problema psicológico diagnosticado
que o fizesse agir de maneira violenta.

Rita não adiantou mais informações sobre a sua vida de casada ou sobre o
nascimento e crescimento das filhas, para além de que se tinham dado sempre bem até
há uns anos. Mencionou a morte do marido, em 2001, como algo que mudara a sua vida,
afirmando que foi sempre mais feliz na vida de solteira do que na vida de casada.

Mais recentemente, a entrevistada destaca a sua relação com as filhas e a relação


entre elas. Há quatro anos que, por uma discussão familiar, a filha mais velha, Ana,
deixou de falar à mãe. A última vez que a vira antes de se deixarem de falar, Ana
insultou a mãe e, segundo Rita, disse que esta era “uma pessoa muito má”. Mais
recentemente Ana foi visitar a mãe ao lar e apenas lhe perguntou se ela estava bem e
nunca mais lá apareceu. Por outro lado, Catarina, a sua filha mais nova, esteve sempre
do seu lado e ajudou a mãe em todas as dificuldades por que passou. Segundo Rita, este
talvez tenha sido o motivo das filhas terem deixado de se dar bem também, porque
Catarina não saiu de perto da mãe e Ana afastou-se completamente. Esta separação das

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filhas deixa Rita muito magoada, afirmando que tem “um desgosto enorme”. No
entanto, Rita valoriza bastante a sua relação com a sua filha mais nova que a vai visitar
todos os domingos e que insiste em pagar o lar e todas as comodidades necessárias para
o conforto da mãe.

A sua ida para o lar referido anteriormente foi uma surpresa para Rita, pois esta
não sabia que se ia mudar para lá, pois andava muito mal da cabeça, segundo a própria.
Porém, refere que é muito feliz naquele ambiente e que fez novas amizades (outras
utentes do lar). Para além destas companheiras, mencionou ainda que é muito bem
tratada e que todas as auxiliares a tratam muito bem, “gosto muito de estar aqui, tratam-
me muito bem. São todas nossas amigas.”.

Relativamente à vida laboral, Rita não disse muito a respeito da mesma,


referindo apenas que sempre adorou o trabalho que fazia e que fez muito boas colegas e
amigas por todas as casas em que passou. Mencionou ainda que tem muita pena por já
não poder trabalhar.

Os problemas de saúde de Rita são a angina de peito, disfunção da tiroide e


dores na coluna, que lhe causam algum desconforto. No entanto, Rita aceita bem estes
problemas como resultados da idade, “tenho que aceitar bem estes problemas”.

3. Tarefas evolutivas do desenvolvimento –


fatores de risco e fatores de proteção
As tarefas evolutivas do desenvolvimento são tarefas que o ser humano tem de
realizar ao longo do seu processo de envelhecimento. Uma pessoa deve ser
caracterizada em todas as tarefas. Estas englobam o desenvolvimento fisiológico, a
comunicação verbal e não-verbal, o desenvolvimento das capacidades intelectuais, o

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alcance do equilíbrio emocional, a integração social, a consciência moral e o papel que
o individuo deve saber que tem na sociedade, como o assume e como o concretiza.

O desenvolvimento fisiológico tem a ver com o desenvolvimento físico em


termos das questões hormonais, período fértil, menopausa, etc., ou seja, questões físicas
que marcam o desenvolvimento de uma pessoa. Este acontece em todas as fases da vida
e pode-se associar a fatores de proteção ou fatores de risco. Rita não mencionou
importantes fases do seu desenvolvimento fisiológico, porém, com base no seu
testemunho de problemas de saúde derivados da idade, é possível perceber que estes não
são um impasse para o seu desenvolvimento nem afetam ou influenciam de maneira
significativa outras áreas do seu desenvolvimento, pois a entrevistada aceita-os e
encara-os como parte de um processo e do seu desenvolvimento. Assim, concluo que os
problemas de saúde para Rita podem ser um fator de risco a nível pessoal por
comprometerem a mesma, no entanto, como fator de proteção a nível interpessoal e de
contexto ela tem a aceitação e o apoio médico e familiar para suportar as suas doenças.

Comunicar verbal e não-verbalmente, ou seja, a comunicação e principalmente


os problemas que existem nela são os mais frequentes na vida de um ser humano. Esta
comunicação pode ser verbal, não-verbal e para verbal (tom de voz, por exemplo).
Quando comunicamos existem quatro momentos: a pessoa que emite, a pessoa que
recebe, a mensagem e o contexto. Muitas vezes a maneira como algo é dito influencia a
forma como os outros respondem ou como alguma coisa que se sucede acontece. Como
pudemos ver anteriormente na entrevista a Rita, existiram diversas falhas na
comunicação quer entre ela e a sua filha mais velha, quer entre as suas duas filhas. Esta
falha na comunicação com Ana (filha mais velha) conduziu a um afastamento de mãe e
filha e a discussões que prejudicaram a sua relação, o que deixa hoje Rita muito triste e
magoada. Isto consiste num fator de risco, pois não é saudável na vida de Rita a falta de
comunicação que tem com a filha, pois ao longo dos anos é algo que tem vindo a
magoar cada vez mais a entrevistada. Por outro lado, um fator de proteção a nível de
comunicação pode relacionar-se com a sua relação com a filha mais nova, Catarina, que
a vai visitar todas as semanas e com quem mantém um excelente contacto e amizade.
Um outro fator de risco a nível interpessoal durante a sua adultez tem a ver com a
comunicação não-verbal entre ela e o marido, que a agredia. A nível do contexto em que
vivia Rita não se queixou destas agressões e viveu com elas, o que consistiu num fator

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de risco nesta fase da sua vida, por falta de comunicação com alguém que a pudesse
ajudar.

O desenvolvimento das capacidades intelectuais relaciona-se maioritariamente


com o QI, que pode ser alto, médio ou baixo e pode ter a ver com a hereditariedade, a
gravidez ou o nascimento. O QI pode aumentar ou diminuir conforme os estímulos
intelectuais no desenvolvimento de uma pessoa. Neste caso não existem informações
acerca do QI, no entanto Rita é uma pessoa com uma memória muito viva para a idade
que já tem e não mostra qualquer tristeza por não ter estudado durante a sua vida, pois
orgulha-se muito do trabalho que teve e sente imensa falta do mesmo. No entanto, a
nível de contexto e durante a sua juventude e adultez, o facto de não saber ler ou
escrever pode ter consistido num fator de risco. Um fator de proteção a nível pessoal
tem a ver com a boa aceitação e boa forma de encarar a vida independentemente dos
apoios escolares ou académicos, pois nunca se sentiu inferiorizada ou desprezada.

O alcance do equilíbrio emocional ocorre através de dois processos:


autocontrolo e autorregulação. O autocontrolo é algo rígido que exige muito esforço
para evitar fazer alguma coisa e a autorregulação é consciente e flexível, menos rígida e
mais adequada para o sistema nervoso, pois determina o pensamento mais saudável em
vários níveis. A questão do equilíbrio emocional desenvolve-se ao longo da vida, pois o
ser humano vai ganhando capacidade de pensar bem nas situações que vão surgindo. O
desequilíbrio muitas vezes associa-se à má interpretação da situação. No caso de Rita,
durante a sua adultez, suponho que não houvesse equilíbrio emocional pois, devido às
agressões por parte do marido, existia um sentimento de tristeza constante. Neste
aspeto, mais uma vez, a nível interpessoal, surge a sua relação com o marido como um
fator de risco. Os conflitos com a sua filha mais velha, também a nível interpessoal,
também constituem um fator de risco no seu desenvolvimento emocional. Um fator de
proteção relaciona-se com o lar em que está, pois, devido aos bons cuidados que lhe são
prestados, é mais fácil para Rita alcançar o equilíbrio emocional.

A integração social relaciona-se com o estar inserido socialmente, mas mais


importante do que isso a pessoa estar satisfeita com os seus amigos, mesmo que sejam
poucos, e que estes cumpram a função social necessária que realmente importa. Os
amigos são importantes para a modelagem e para a integração pois contribuem para a
formação da identidade e para conhecer outros pares. No entanto não existe só o
contexto das amizades, existe também o contexto familiar, que se relaciona com a
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parentalidade, conjugalidade e o “ser cuidador”, com os quais deve haver conforto,
amor e aceitação e são fundamentais para haver integração; existe também o contexto
laboral, no qual também é importante haver um sentimento de aceitação e progresso. A
infância de Rita, a nível pessoal e interpessoal, destaca fatores protetores nas relações
com os pais e com os irmãos, com os quais se deu sempre muito bem e não tem nada de
negativo a apontar. Durante a sua juventude, o seu namoro também constituiu um fator
de proteção a nível pessoal e interpessoal porque, como a própria admite, foram muito
bons amantes e namorados. No entanto, na idade adulta, a morte do seu irmão e os
problemas conjugais foram um fator de risco a nível interpessoal no seu
desenvolvimento. Atualmente, a relação com a sua filha mais velha também é um fator
de risco a nível interpessoal, mas a nível de contexto, o lar onde está é um fator de
proteção pois contribuí para a sua boa integração social, tal como a sua relação com a
sua filha mais nova, a nível interpessoal. Por fim, a nível laboral, Rita sempre se
entendeu muito bem com as suas colegas, pelo que, durante os períodos da sua vida em
que trabalhou, esta boa relação contribuiu como fator de proteção para o seu
desenvolvimento social. Foi ainda destacado que sempre teve muitos e bons amigos.

A consciência moral e o seu desenvolvimento está integrada no conceito de


identidade do Eu. Portanto, a consciência moral está ligada ao agir moral, aos nossos
atos, que são alvo de julgamento pela consciência. Isto significa que a consciência
moral avalia os nossos atos. Isto está ligado ao contexto em que estamos inseridos, pois
a moralidade relaciona-se com o que é socialmente e culturalmente aceite. Na infância
não há moralidade, esta surge na escola ou ao longo do desenvolvimento devido à
aprendizagem que se vai tendo e às coisas que nos vão transmitindo como certo e
errado. Não foram abordados assuntos morais durante a entrevista, portanto não existem
informações suficientes para a conclusão de fatores de risco ou proteção durante a vida
de Rita. No entanto, e tento em conta o contexto em que cresceu, é possível supor que
ela não se terá separado do marido por conta das ideias morais com que terá sido
educada. Isto consistiu num fator de risco, pois a sua moral fez com que sofresse
durante a sua vida de casada.

O papel do individuo na sociedade diverge conforme a faixa etária em que ele se


encontre. Cabe ao ser humano passar por cada fase e assumir as prioridades de seleção
necessárias a cada uma dessas fases. Posto isto, Rita ao longo da sua vida teve algumas
interrupções nas suas prioridades e avançou rápido noutras, também devido à época e ao

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contexto em que viveu e cresceu. A sua adolescência ou juventude não se realizou de
maneira ideal, pois Rita já trabalhava e namorava desde os 14 anos, o que consistiu num
fator de risco a nível pessoal para o seu desenvolvimento na sociedade. O facto de ter
casado e ter tido filhas muito cedo também consiste num fator de risco, pois pode não
ter realizado certas metas ou objetivos correspondentes a essa fase ou pode não ter
assumido o papel que com essa idade deveria assumir na sociedade.

4. Conclusão
Vou relacionar este trabalho com a teoria de desenvolvimento psicossocial de
Erikson, da qual vou destacar apenas a partir do 6º estádio de desenvolvimento devido à
escassez de informações recolhidas dos estádios anteriores. Portanto irei abordar o 5º
estádio – Identidade vs. Confusão; o 6º estádio – Intimidade vs. Isolamento; o 7º estádio
– Generatividade vs. Estagnação e o 8º estádio – Integridade vs. Desespero.

A teoria de Erikson tem uma característica muito importante – a longa vida – ou


seja, antes de nascermos e até morrermos estamos sempre em desenvolvimento. Divide
a vida por etapas, no entanto não é determinista, pois podemos desenvolver uma etapa
mais tarde do que o suposto, mas influencia os outros estádios. Erikson distingue 8
estádios de uma “teoria da personalidade”, em que cada fase tem um conflito que se tem
de ultrapassar para passar à fase seguinte. Ele compara o desenvolvimento emocional e
social humano à construção de uma casa, em que a fundação precisa de ser firme para

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que o primeiro andar se sustente e assim por diante. Dá importância ao contexto
afirmando que os estádios são formados por influências sociais. Um estádio não é
ultrapassado e deixado para trás, pois cada um contribui para a formação da
personalidade total.

Como referido acima, vou proceder à análise do caso com base nos quatro
estádios mencionados acima, procedendo também a uma pequena interpretação dos
mesmos.

Como dito numa primeira fase do trabalho, Rita começou a namorar aos 14 anos
e casou aos 18, pelo que “perdeu” a fase da sua adolescência tendo-se desenvolvido
muito cedo para a idade em que se encontrava. Na teoria de Erikson estas idades
compreendem o 5º estádio de desenvolvimento que corresponde à Identidade vs.
Confusão da Idade (14-18 anos), com as questões fundamentais “Quem sou eu? O que
irei ser?”. Estas são próprias das idades desta fase, pois é quando o jovem começa a ter
consciência da sua particularidade, ou seja, de que é um ser humano único que tem de se
preparar para desempenhar vários papeis no meio social. Esta é a fase da vida em que a
consciência do que somos no presente é acompanhada pelo desejo do que queremos ser
no futuro. Há uma tentativa de testar tudo o que nos rodeia, desde a opções ideológicas,
estéticas, religiosas e morais, com o objetivo de sabermos quem somos e quem
queremos ser. A crise de identidade exprime a dificuldade em encontrar uma identidade
e um lugar conveniente no seio da sociedade, o que traduz a dificuldade da passagem da
infância para a idade adulta.

Posto isto, Rita, por um lado, encontrou o papel que desejava desempenhar no
seu meio social ao começar a trabalhar no que resultou no seu futuro laboral. Por outro,
ao ter começado a namorar aos 14 anos, não explorou tudo o que devia explorar nesta
fase, pois saltou para a próxima (Intimidade vs. Isolamento), o mesmo sucedeu por se
ter casado aos 18, altura em que, segundo Erikson, ainda deveria estar a descobrir a sua
identidade e o seu papel na sociedade, testando todos as opções que gostaria de
explorar. No entanto, não considero que esta fase tenha sido mal ultrapassada, pois não
existiu nenhuma crise de identidade ou arrependimento do que viveu durante este
período. Contrariamente, Rita afirma-o como a melhor altura da sua vida.

No seguimento do estádio anterior, em que ocorreram eventos esperados no 6º


estádio – Intimidade vs. Isolamento (20-35 anos), surge uma ausência de um período já

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vivido. Esta fase é marcada pela preocupação em estabelecer relações íntimas
duradouras com outras pessoas. A principal questão é, “Deverei partilhar a minha vida
com outra pessoa ou deverei viver sozinho?”. Erikson dá à intimidade o sentido de
junção da identidade de um individuo com o outro, em que se espera a capacidade de
desenvolver uma relação profunda e significativa com outra pessoa. Para que isto
aconteça o individuo deve ter resolvido as crises psicossociais anteriores e sentir-se
seguro acerca de quem é e do que quer na vida, conciliando a vida profissional com a
afetiva. Em geral, a incapacidade de realizar o esperado leva ao isolamento e à sensação
de fracasso e solidão.

Nesta fase, Rita já tinha concretizado todos os seus objetivos na fase anterior,
pelo que, por esta altura ela teve as suas duas filhas e continuou o seu trabalho. Ou seja,
esta fase de Erikson foi adiantada ou saltada por Rita, na medida em que a viveu e
ultrapassou numa idade precoce e por esta altura já estava a seguir a sua vida de casada.
Foi também neste período do nascimento da primeira filha que Rita começou a sofrer
abusos por parte do marido.

O 7º estádio de Erikson corresponde à Generatividade vs. Estagnação (36-65


anos) e prende-se com diversas questões como “Serei bem-sucedido na minha vida
afetiva ou profissional?”, “Produzirei algo com verdadeiro valor?” ou “Conseguirei
contribuir para melhorar a vida dos outros?”. A generatividade designa a possibilidade
de ser criativo e produtivo em várias áreas da vida. Para alem da criação e da educação,
é a preocupação com o bem-estar das gerações que se seguem, uma descentralização e
expansão do Ego empenhado em tornar o mundo um melhor lugar para viver. Se esta
descentralização do Ego não ocorrer, o individuo pode estagnar e preocupar-se apenas
consigo e com a posse de bens-materiais.

Esta fase foi, segundo a teoria de Erikson, das melhores para Rita na medida em
que ultrapassou a crise da mesma. A entrevistada durante este período trabalhava
incessantemente e cuidava da sua herdade, onde habitou as duas filhas e as acompanhou
de modo que elas se estabelecessem da melhor maneira possível quando estivessem
prontas. Ajudou a criar os netos e sempre os acompanhou, não deixando de trabalhar até
à idade da reforma. Segundo Rita, ela produziu dinheiro suficiente para ajudar a família
no que fosse preciso. Desta forma, para alem de ter melhorado a vida das filhas com a
ajuda que lhes deu, conseguiu satisfazer-se a si própria no seu desempenho profissional
e a nível afetivo com os que a rodeavam.
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Por último, o 8º estádio que diz respeito á Integridade vs. Desespero (65 em
diante), a pergunta que se estabelece é a seguinte: “Teve a minha vida sentido ou
falhei’?”. Esta fase assinala que chegou hora do balanço do que se fez na vida e
sobretudo do que se fez da vida. Nesta dualidade emocional, a integridade significa que
o individuo avalia positivamente o seu percurso vital mesmo que nem todos os seus
desejos ou objetivos e sonhos se tenham realizado e esta satisfação prepara o individuo
para aceitar a deterioração física e a morte como termo de algo que valeu a pena. Por
outro lado, as pessoas que consideram a vida malsucedida podem ceder a angústia e ao
desespero.

Nesta última fase, Rita mostra-se como uma pessoa que está satisfeita com a
vida que levou independentemente se não cumpriu tudo o que desejava. Recorda com
bons sentimentos quer a sua infância como a sua vida adulta. Apesar da sua relação com
o marido, Rita não se mostra arrependida por ter vivido um casamento com ele. Por
outro lado, encara-o como algo que teria de acontecer na sua vida. E mesmo com a sua
relação com a filha fragilizada, Rita não considera que deva viver com desgosto por
causa disso, mas sim aproveitar o que ainda lhe resta com os que lhe querem bem.

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