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A origem das Guerras

Exposição de Tiago 4
Tiago 4.1-17
Pregação da Palavra – Culto de Adoração (Noite) – IPA (23/07/2023)
Seminarista Gabriel Almeida

INTRODUÇÃO

 No último dia 20 de julho de 2023, foi lançado nos cinemas brasileiros


um filme aclamado pela crítica chamado OPPENHEIMER, dirigido por
Christopher Nolan, e que dramatiza a história e carreira do físico
Robert Oppenheimer, que, conjuntamente a uma equipe de cientistas,
no curso final da 2ª guerra mundial, desenvolveu a construção da
bomba atômica, que apresentou ao mundo, em 1945, o potencial para
dizimar a nossa espécie. Não somente no cinema, como em todo o
mundo, as guerras continuam a ser uma realidade tão grave hoje como
era nos séculos passados, e precisamente desde os primórdios da
criação, e são consequência direta de nossa rebeldia em seguir os
mandamentos do Senhor, por conta da nossa herança de pecado de
nossos primeiros pais Adão e Eva.
 É importante compreendermos que as guerras não são apenas
conflitos armados entre nações, mas também podem manifestar-se em
nossos relacionamentos pessoais, em nossa mente e coração. Tiago
nos fornece uma perspectiva espiritual sobre esse tema, que é crucial
para o nosso crescimento e amadurecimento na fé.
 Lembramos que o tema chave da carta é a MATURIDADE CRISTÃ , e
até aqui, no prosseguimento da exposição da rica carta de Tiago, já
vimos a apresentação de 3 características do cristão maduro: ele é
perseverante em meio às tribulações (Tg 1), pratica a verdadeira fé
(Tg 2), e controla sua língua (Tg 3). Nesta quarta seção da carta, ele
trata de uma quarta e nova característica do cristão maduro: É UM
PACIFICADOR, NÃO UM AGITADOR (Tg 3).
 Segundo Douglas Moo1, comentarista da carta de Tiago, “Os Cristãos
a quem Tiago escreveu estavam envolvidos nessas batalhas verbais.
E, uma vez que discussões deste tipo quase sempre vem
acompanhadas de palavras ásperas, críticas e calúnias, o mau uso da
língua, reprovado por Tiago no capítulo 3, provavelmente resultou
destas discussões”.
 No capítulo 4º, Tiago aborda então a maturidade cristã no contexto
das contendas que estavam ocorrendo na vida da igreja, mostrando
que os prazeres malignos são a fonte das dissensões (vs 1-3), fazendo
um chamado ao arrependimento (vs 4-10), afirmando que a

1
MOO, Douglas J. Tiago: introdução e comentário. Série cultura Bíblica, Vida Nova. 2014.
maledicência é proibida (vs 11-12), e mostrando que a arrogância é
condenada (vs. 13-17).
 Portanto, Tiago trata desse tema importante e mostra que existem
quatro guerras em andamento no mundo. Também diz como essas
guerras poderiam ter fim.

1 – Guerra uns com os outros


(vs.1a-11-12)

 "De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?" Entre os


cristãos! "Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!" (SI
133:1).

 Por certo, os irmãos devem viver juntos em amor e harmonia e, no


entanto, com frequência não é isso o que acontece. Ló causou uma
briga com seu tio Abraão (Gn 13). Absalão entrou em guerra com o pai
(2 Sm 13 - 18). Até mesmo os discípulos criaram problemas para Jesus
ao discutirem entre si quem era o maior no reino (Lc 9:46-48).
 Quando examinamos algumas das igrejas primitivas, descobrimos que
tinham sua parcela de desentendimentos. Os membros da igreja de
Corinto competiam entre si durante os cultos e até levavam irmãos na
fé à justiça (1 Co 6:1-8; 14:23-40). Os cristãos da Galácia estavam
"[mordendo] e [devorando] uns aos outros" (Gl 5:15). Paulo teve de
admoestar os efésios a cultivar a unidade espiritual (Ef 4:1-16); e até
sua igreja querida em Filipos enfrentava problemas por causa de duas
mulheres que não se entendiam (Fp 4:1-3).
 Tiago menciona vários tipos de discórdia entre os santos. Lutas de
classes (Tg 2:1-9), que é a antiquíssima rivalidade entre ricos e
pobres. O homem rico recebe toda a atenção, enquanto o homem
pobre é ignorado. O homem rico é honrado, enquanto o homem pobre é
humilhado. Como é triste quando as igrejas locais têm valores
confusos e procuram agradar os ricos e se esquecem dos pobres ou
até os rejeitam! Lutas trabalhistas (Tg 5:1-6). Mais uma vez, o homem
rico tem o poder de controlar e de prejudicar o homem pobre. Os
trabalhadores não são pagos ou seu salário não é justo. Apesar dos
movimentos trabalhistas de nosso tempo, ainda há muitas pessoas
que não conseguem um bom emprego ou que não são devidamente
pagas pelo que fazem. Lutas na igreja (Tg 1:19, 20; 3:13-18). Ao que
parece, os cristãos para os quais Tiago escreveu estavam em guerra
uns com os outros por cargos dentro da igreja, e muitos membros
queriam ser mestres e líderes. Quando estudavam a Palavra de Deus,
o resultado não era edificação, mas sim contenda e discussão. Cada
um achava que somente suas ideias e práticas eram corretas. As
reuniões eram controladas por ambições egoístas, não por submissão
espiritual. Lutas pessoais (Tg 4:11, 12). Os santos falavam mal uns dos
outros e julgavam uns aos outros. Vemos aqui, mais uma vez, o uso
indevido da língua. Os cristãos devem dizer "a verdade em amor" (Ef
4:15) e não falar mal com espírito de rivalidade e de crítica. Se a
verdade sobre o irmão é prejudicial, devemos cobri-la com amor, não
repeti-la (1 Pe 4:8). Se pecou, devemos nos dirigir a ele pessoalmente
e tentar ganhá-lo de volta (Mt 18:15-19; Gl 6:1, 2). Tiago não proibia o
uso do discernimento nem mesmo a avaliação das pessoas. Os
cristãos precisam ter discernimento (Fp 1:9, 10), mas não devem
tomar o lugar de Deus e julgar.
 É triste ver os santos guerreando entre si: um líder contra outro, uma
denominação contra outra, uma congregação contra outra. O mundo
vê essas guerras religiosas e diz: "Vejam como se odeiam!" Não é de
se admirar que Jesus tenha orado: "Que todos sejam um; e como és
tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o
mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17:21).
 Mas por que estamos em guerra uns com outros? Pertencemos à
mesma família, cremos no mesmo Salvador, temos dentro de nós o
mesmo Espírito Santo - e, no entanto, lutamos uns com os outros.
Tiago diz por que isso acontece explicando a segunda guerra que se
encontra em andamento.

2- Guerra com Nós mesmos (vs.


1b-3)
 "De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde,
senão dos prazeres que militam na vossa carne?" (Tg 4:1). A guerra no
coração contribui para causar as guerras na igreja! "Se, pelo
contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento
faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade [...]
Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda
espécie de coisas ruins" (Tg 3:14, 16).
 A essência do pecado é o egoísmo. Eva desobedeceu a Deus porque
quis comer do fruto da árvore e se tornar sábia como Deus. Abraão
mentiu sobre a esposa por causa de seu desejo egoísta de salvar a
própria vida (Gn 12:10-20). Acã trouxe derrota a Israel porque foi
egoísta e tomou o espólio proibido das ruínas de Jericó (Js 7). "Cada
um se desviava pelo [próprio] caminho" (Is 53:6).
 Com freqüência, encobrimos nossas brigas com um véu de
"espiritualidade". Somos como Miriã e Arão, que se queixaram da
esposa de Moisés quando, na verdade, estavam com inveja da
autoridade dele (Nm 12). Ou, então, imitamos Tiago e João e pedimos
tronos especiais no reino por vir, quando, na realidade, o que
queremos é reconhecimento no presente (Mc 10:35-45). Em ambos os
casos, o resultado do desejo egoísta foi castigo e divisão no meio do
povo de Deus. O pecado de Miriã atrasou a viagem de Israel em uma
semana!
 Os desejos egoístas são perigosos e nos levam a fazer coisas erradas
("viveis a lutar e a fazer guerras", Tg 4:2), e até mesmo a orar da
maneira errada ("pedis e não recebeis, porque pedis mal, para
esbanjardes em vossos prazeres", Tg 4:3). Quando oramos de forma
incorreta, mostramos que nossa vida cristã como um todo está errada.
Alguém disse bem que o objetivo da oração não é fazer com que a
vontade do homem se realize no céu, mas sim que a vontade de Deus
se realize na Terra.
 Quem está em guerra consigo mesmo por causa de desejos egoístas é
sempre infeliz. Nunca aproveita a vida. Em vez de ser grato pelas
bênçãos que tem, queixa-se das que não tem. Não consegue entender-
se com os semelhantes, pois sempre inveja os outros por aquilo que
possuem ou são. Está sempre à procura de algo especial que
transformará sua vida, quando, na verdade, o problema está dentro do
próprio coração.
 Em lugar de buscar a vontade de Deus, dizemos a Deus o que ele deve
fazer e ficamos zangados quando não nos obedece. Essa ira com Deus
acaba transbordando na forma de ira contra o povo de Deus. Várias
divisões dentro da igreja foram causadas por santos que descontaram
suas frustrações com Deus em membros da congregação. Muitos
problemas nas igrejas e nas famílias seriam resolvidos se as pessoas
olhassem dentro de seu coração e vissem as batalhas em andamento
dentro dele.

3- Guerra com Deus (vs. 4-10)


 A raiz de toda guerra, interior ou exterior, é a rebelião contra Deus. No
começo da criação, vemos perfeição e harmonia; mas o pecado entrou
no mundo e deu início aos conflitos. "O pecado é a transgressão da
lei" (1 Jo 3:4), e a transgressão da lei é rebelião contra Deus.
 De que maneira um cristão declara guerra contra Deus? Ao ter
amizade com os inimigos de Deus. Tiago cita três inimigos com os
quais não confraternizar, se desejamos ter paz com Deus.
 O mundo (v. 4). Ao falar do "mundo" (kosmos), Tiago se refere,
obviamente, à sociedade humana sem Deus. O sistema todo das
coisas nessa sociedade em que vivemos é contrário a Cristo e a Deus.
Abraão era amigo de Deus {Tg 2:23); Ló era amigo do mundo. Ló
acabou se envolvendo em uma guerra, e Abraão teve de salvá-lo (Gn
14). o cristão envolve-se com o mundo aos poucos. Primeiramente,
vem "a amizade do mundo" (Tg 4:4). Tal amizade resulta em ser
"maculado" peio mundo (Tg 1:27), de modo que certas áreas da vida
possam receber a aprovação do mundo. Quem tem amizade com o
mundo passa a amar o mundo (1 Jo 2:15-17), o que, por sua vez, torna
fácil conformar-se com o mundo (Rm 12:2). O triste resultado é ser
condenado com o mundo (1 Co 11:32), e a alma ser salva "como que
através do fogo" (1 Co 3:11-15). A amizade com o mundo é comparada
ao adultério. O cristão é "casado com Cristo" (ver Rm 7:4) e deve ser
fiel a ele. Os cristãos judeus para os quais esta carta foi escrita
entendiam a imagem do "adultério espiritual", pois os profetas
Ezequiel, Jeremias e Oséias usaram-na para repreender Judá por seus
pecados (ver Jr 3:1-5; Ez 23; Os 1 - 2). Ao adotar os costumes
pecaminosos de outras nações e ao adorar seus deuses, a nação de
Judá cometeu adultério contra seu Deus. O mundo é inimigo de Deus,
e quem deseja ser amigo do mundo não pode ser amigo de Deus.
Também não pode ter amizade com Deus se estiver vivendo na carne,
pois esse é o segundo inimigo citado por Tiago.
 A carne (vs. 1, 5). Ao falar da "carne", Tiago refere-se à velha natureza
que herdamos de Adão e que é propensa a pecar. A carne não é o
corpo. O corpo não é pecaminoso, mas sim, neutro. O Espírito pode
usar o corpo para glorificar a Deus, ou a carne pode usar o corpo para
servir ao pecado. Quando um pecador é resgatado por Cristo, recebe
em seu interior uma nova natureza, mas a antiga natureza não é
removida nem reformada. Por esse motivo, tem-se uma batalha
interior: "Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a
carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que,
porventura, seja do vosso querer" (Gl 5:1 7). É isso o que Tiago chama
de "prazeres que militam na vossa carne" (Tg 4:1). Viver em função da
carne significa entristecer o Espírito de Deus que habita em nós. "Ou
supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós
anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?" (Tg 4:5). Assim como o
mundo é inimigo de Deus Pai, a carne é inimiga de Deus Espírito
Santo. Deus tem por nós um zelo santo e amoroso, como o marido e a
esposa têm, devidamente, um pelo outro. O Espírito em nosso interior
guarda com grande zelo nosso relacionamento com Deus e se
entristece quando pecamos contra o amor de Deus. Viver de modo a
agradar à velha natureza significa declarar guerra contra Deus. "O
pendor da carne é inimizade contra Deus" (Rm 8:7). Abraão tinha uma
mente espiritual e, portanto, andava com Deus e desfrutava paz. Ló
tinha uma mente carnal; desobedecia a Deus e experimentava
guerras. "Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito,
para a vida e paz" (Rm 8:6).
 O diabo (vs. 6, 7). O mundo está em conflito com o Pai; a carne luta
contra o Espírito, e o diabo opõe-se ao Filho de Deus. O maior pecado
de Satanás é o orgulho, que ele também usa como uma de suas
principais armas na guerra contra os santos e o Salvador. Deus deseja
que sejamos humildes; Satanás deseja que sejamos orgulhosos.
"Sereis como Deus", Satanás prometeu a Eva, que creu nessa
promessa. Um cristão recém-convertido não deve ser colocado em
cargos de liderança espiritual "para não suceder que se ensoberbeça
e incorra na condenação do diabo" (1 Tm 3:6). Deus quer que sejamos
dependentes de sua graça ("antes, ele dá maior graça"), enquanto o
diabo quer que sejamos dependentes de nós mesmos. Satanás é o
autor de todos os empreendimentos espirituais que procuramos
realizar por conta própria. Ele gosta de inchar o ego e de encorajar o
cristão a fazer as coisas a sua maneira. Apesar das advertências de
Jesus sobre os planos de Satanás, Pedro caiu em uma armadilha,
puxou sua espada e tentou realizar a vontade de Deus a seu modo,
causando grande confusão. Um dos problemas das igrejas de hoje é o
número excessivo de celebridades e a falta de servos. Os obreiros
cristãos são tão promovidos que sobra pouco espaço para a glória de
Deus. O ser humano não tem coisa alguma de que se orgulhar. Não há
bem algum em nós (Rm 7:18); mas quando cremos em Cristo, ele
coloca em nós aquela "coisa boa'" que nos transforma em filhos de
Deus (ver 2 Tm 1:6, 14).
 Temos aqui, portanto, três inimigos que desejam afastar-nos de Deus:
o mundo, a carne e o diabo. Esses inimigos são resquícios de nossa
antiga vida de pecado (Ef 2:1-3). Cristo nos libertou deles, mas eles
continuam a nos atacar. Como vamos derrotá-los? Como ser amigos
de Deus e inimigos do mundo, da carne e do diabo? Tiago dá três
instruções a fim de que tenhamos paz no lugar de guerra: Sujeitai-vos
a Deus (v. 7). Trata-se de um termo militar que significa "colocar-se no
devido lugar dentro de uma hierarquia". Quando um soldado raso age
como um general, sem dúvida cria problemas! A entrega incondicional
é a única maneira de obter vitória completa. Chegai-vos a Deus (v. 8).
De que maneira nos chegamos a Deus? Confessando os pecados e
pedindo que Deus nos purifique. "Purificai as mãos, pecadores; e vós
que sois de ânimo dobre, limpai o coração". O termo grego traduzido
por "purificar" significa "tornar casto". Humilhai-vos diante de Deus
(w. 9, 10). É possível sujeitar-se exteriormente sem se humilhar
interiormente. Deus abomina o pecado do orgulho (Pv 6:16, 17) e
disciplina o cristão orgulhoso até torná-lo humilde. Nossa tendência é
tratar o pecado com leviandade, e até mesmo rir dele ("converta-se o
vosso riso em pranto"). Mas o pecado é algo sério, e uma das
características da verdadeira humildade é encarar a seriedade do
pecado e tratar de nossa desobediência. "Coração compungido e
contrito, não o desprezarás, ó Deus" (SI 51:17).

4- Guerra com o futuro (vs. 13-17)


 Tiago começa o capítulo 4 falando da guerra contra Deus e o encerra
falando da guerra contra a vontade de Deus. Mas os dois temas são
relacionados: quando um cristão está fora da vontade de Deus, em vez
de ser pacificador, torna-se um agitador.
 Ló mudou-se para Sodoma e causou problemas para a família. Davi
cometeu adultério e também gerou conflitos na família e em seu reino.
Jonas desobedeceu a Deus e quase mandou um navio de pagãos para
o fundo do mar. Em cada um desses casos, houve uma atitude errada
com respeito à vontade de Deus. É fato conhecido que Deus tem um
plano para a vida de cada um. Ele é um Deus de sabedoria e, portanto,
sabe o que deve acontecer e quando deve acontecer. E, como Deus de
amor, deseja o melhor para seus filhos. Muitos cristãos consideram a
vontade de Deus um remédio amargo que devem tragar, não uma
prova bondosa do amor de Deus.
 Nesta última seção do capítulo 4, Tiago ressalta três atitudes em
relação à vontade de Deus. É evidente que somente uma delas é a
atitude correta que todo cristão deve cultivar.
 Ignorar a vontade de Deus – vs. 13, 14 e 16. Talvez Tiago estivesse se
dirigindo aos comerciantes ricos da congregação. É possível que
discutissem seus negócios e que se vangloriassem de seus pianos.
Não há evidência alguma de que buscassem a vontade de Deus nem
de que orassem sobre suas decisões. Mediam o sucesso na vida pelas
vezes que conseguiam fazer as coisas a seu modo e realizar o que
haviam planejado. Mas Tiago apresenta quatro argumentos que
revelam a insensatez de ignorar a vontade de Deus. A complexidade
da vida (v. 13). A vida é extremamente complexa: o hoje, o amanhã,
comprar, vender, ter lucro ou prejuízo, ir para cá ou para lá... A vida é
feita de pessoas e lugares, de atividades e objetivos, de dias e anos, e
todos precisam tomar várias decisões cruciais diariamente. Fora da
vontade de Deus, a vida é um mistério. A incerteza da vida (v. 14a).
Essa declaração tem por base Provérbios 27:1: "Não te glories do dia
de amanhã, porque não sabes o que trará à luz". Esses homens de
negócios faziam planos para o ano inteiro, quando, na verdade, não
eram capazes de prever um dia sequer! Sua atitude lembra a do
fazendeiro da parábola de Jesus em Lucas 12:16-21. A brevidade da
vida (v. 14b). Trata-se de um tema que se repete ao longo das
Escrituras. Para nós, a vida parece longa e a medimos em anos, mas,
em comparação com a eternidade, é apenas como neblina. Tiago toma
essa imagem emprestada do Livro de Jó, no qual encontramos vários
retratos da brevidade da vida. A fragilidade do ser humano (v. 16).
"Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões.
Toda jactância semelhante a essa é maligna." A jactância do ser
humano serve apenas para encobrir sua fraqueza. "O homem propõe,
mas Deus dispõe", disse Thomas à Kempis, mas Salomão expressou a
mesma verdade antes dele: "A sorte se lança no regaço, mas do
Senhor procede toda decisão" (Pv 16:33). O ser humano não é capaz
de controlar os acontecimentos futuros. Também não tem sabedoria
para ver o que o futuro reserva nem poder para controlar o futuro.
Assim, sua jactância é pecado; é fazer-se de Deus.
 Desobedecer a vontade de Deus – vs. 17. Essas pessoas conhecem a
vontade de Deus, mas escolhem desobedecer. Tal atitude expressa
ainda mais orgulho do que a primeira, pois a pessoa diz a Deus: "Sei o
que o Senhor deseja que faça, mas prefiro não obedecer. Entendo
mais do assunto que o Senhor. Por que pessoas que conhecem a
vontade de Deus lhe desobedecem deliberadamente? Conforme
mencionado antes, uma das razões é o orgulho. O ser humano gosta
de vangloriar-se de ser "senhor do seu destino, capitão de sua alma".
A raça humana realizou tantos feitos maravilhosos que pensa ser
capaz de fazer qualquer coisa. Outro motivo é a ignorância do ser
humano acerca da natureza da vontade de Deus. As pessoas agem
como se a vontade de Deus fosse algo a ser aceito ou rejeitado. Na
verdade, a vontade de Deus não é uma opção, mas sim uma obrigação.
Não é questão de "pegar ou largar". Devemos obedecer a Deus porque
é o Criador e nós somos as criaturas, ele é o Salvador e Senhor e nós
somos seus filhos e servos. Tratar a vontade de Deus com leviandade
é pedir a disciplina de Deus em nossa vida.
 Obedecer à vontade de Deus – vs. 15. "Se o Senhor quiser" não deve
ser apenas uma declaração que o cristão faz da boca para fora, mas
sim uma atitude constante de coração. "Disse-lhes Jesus: A minha
comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar
a sua obra" (Jo 4:34). Paulo refere-se à vontade de Deus em várias
ocasiões ao longo de suas epístolas ao compartilhar seus planos com
os amigos (Rm 1:10; 15:32; 1 Co 4:19; 16:7). O apóstolo não
considerava a vontade de Deus uma corrente que o prendia, mas sim
uma chave que abria portas e que o libertava. Tudo neste universo
funciona de acordo com leis. Se cooperarmos com essas leis e lhes
obedecermos, o universo trabalhará em nosso favor. Mas se lutarmos
contra essas leis e lhes desobedecermos, o universo trabalhará contra
nós. É preciso, entretanto, fazer a vontade de Deus de coração (Ef
6:6). Jonas conhecia a vontade de Deus e, depois de ser disciplinado,
ele lhe obedeceu, mas não de coração. Jonas 4 mostra que o profeta
zangado não amava ao Senhor nem ao povo de Nínive. Simplesmente
cumpriu a vontade de Deus a fim de não ser disciplinado outra vez! O
segredo de uma vida feliz é deleitar-se no dever. Quando o dever se
tornar um prazer, os fardos transformam-se em bênçãos. "Os teus
decretos são motivo dos meus cânticos, na casa da minha
peregrinação" (SI 119:54). Quando amamos a Deus, seus estatutos
tornam-se cânticos, e temos prazer em lhe servir.

CONCLUSÃO

"A verdadeira paz só pode ser alcançada quando reconhecemos a nossa necessidade de
Deus e dependemos da Sua graça para transformar os corações." - Jerry Bridges

A mensagem do livro de Tiago, neste capítulo 4 sobre o poder da língua é um lembrete de que
a origem das guerras está em nossos próprios corações e em nossa falta de submissão à
vontade de Deus! Às vezes, o cristão ora: "Senhor, torne-me humilde!", um pedido perigoso. É
muito melhor humilhar-se diante de Deus, confessar os pecados, chorar sobre eles e se
arrepender deles. "Mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e
que treme da minha palavra" (Is 66:2). "Perto está o Senhor dos que têm o coração
quebrantado e salva os de espírito oprimido" (SI 34:18). Obedecendo a essas instruções, o
Senhor se achegará a nós, nos purificará e perdoará, e as guerras terão fim!

Não estaremos mais em guerra com Deus, de modo que não estaremos em guerra conosco
mesmos, nem com os outros e muito menos com o nosso futuro. "O efeito da justiça será paz,
e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre" (Is 32:17).

Aplicações:
1- Considere a origem das disputas e contendas e seja vigilante contra elas!
2- Abandone qualquer tipo de amizade com o mundo e sujeite-se plenamente ao
Senhor!
3- Evitem julgamentos e difamações impulsivas!
4- Respeite o tempo do Senhor e entenda que o futuro a Ele pertence!

Música de aplicação: Que a Paz de Deus Reine (Diante do Trono)

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