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Aula 1 - Propriedades do Concreto e do Aço Quanto maior é o consumo de cimento e quanto menor

é a relação água-cimento, maior é a resistência à


Concreto é o material resultante da mistura dos compressão.
agregados (naturais ou britados) com cimento e água.
A relação água-cimento determina a porosidade da
pasta de cimento endurecida e, portanto, as
propriedades mecânicas do concreto.

Concretos feitos com agregados de seixos


arredondados e lisos apresentam uma menor
resistência do que concretos feitos com agregados
britados.

Concreto armado, como conhecemos, é um material


compósito, obtido pela associação do concreto com
barras de aço, convenientemente colocadas em seu
interior.

Em virtude da baixa resistência à tração do concreto


(cerca de 10% da resistência à compressão), as barras
de aço cumprem a função de absorver os esforços de
tração na estrutura.

As barras de aço também servem para aumentar a


capacidade de carga das peças comprimidas.

O funcionamento conjunto desses dois materiais só é


possível graças à aderência.

De fato, se não houvesse aderência entre o aço e o


concreto, não haveria o concreto armado.

Devido à aderência, as deformações das barras de aço


são praticamente iguais às deformações do concreto
que as envolve.

Em virtude de sua baixa resistência à tração, o concreto


fissura na zona tracionada do elemento estrutural.

Em função de necessidades específicas, são


acrescentados aditivos químicos (retardadores ou
aceleradores de pega, plastificantes e
superplastificantes, etc.) e adições minerais (escórias
de alto-forno, pozolanas, fillers calcários, microssílica,
etc.) que melhoram as características do concreto
fresco ou endurecido.

A resistência do concreto endurecido depende de Desse momento em diante, os esforços de tração


vários fatores, como o consumo de cimento e de água passam a ser absorvidos pela armadura. Isso impede a
da mistura, o grau de adensamento, os tipos de ruína brusca da estrutura, o que ocorreria, por exemplo,
agregados e de aditivos, etc. em uma viga de concreto simples.

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O concreto armado tem inúmeras vantagens sobre os
demais materiais estruturais, como:

- economia;

- facilidade de execução em diversos tipos de formas;

- resistência ao fogo, aos agentes atmosféricos e ao


desgaste mecânico;

- permite facilmente a construção de estruturas


hiperestáticas (estruturas com reservas de segurança).

Dentre as desvantagens do concreto armado, podem


ser citadas:
Além de absorver os esforços de compressão, o
concreto protege as armaduras contra a corrosão. - o elevado peso das construções;

Apesar da fissuração, quase sempre inevitável em uma - dificuldades para a execução de reformas ou
estrutura de concreto armado, a durabilidade das demolições.
armaduras não fica prejudicada, desde que as
aberturas das fissuras sejam limitadas. Concreto em compressão simples

Um cobrimento mínimo de concreto, dependente da Norma da ABNT - NBR 5739:2018 - (Concreto -


agressividade do meio, também é necessário para Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos).
garantir a durabilidade.
A resistência à compressão do concreto é determinada
através de ensaios padronizados de curta duração
(carregamento rápido).

Em geral, os ensaios são realizados na idade padrão


de 28 dias, convencionando-se que esta seja a idade
em que a estrutura deverá entrar em carga.

Devido a fatores de natureza aleatória, como a falta de


homogeneidade da mistura, graus de compactação
diferentes para corpos de prova moldados com o
Os coeficientes de dilatação térmica do concreto e do mesmo concreto produzido, dentre outros, verifica-se
aço são aproximadamente iguais. experimentalmente uma razoável dispersão dos
valores da resistência obtidos em um lote de corpos de
Dessa forma, quando uma estrutura de concreto prova.
armado for submetida a moderadas variações de
temperatura, as tensões internas entre o aço e o Assim, reconhecendo que a resistência do concreto, fc,
concreto (geradas pela diferença entre os coeficientes é uma variável aleatória, deve-se recorrer à Teoria das
de dilatação térmica) serão pequenas. Probabilidades para uma análise racional dos
resultados.
Nos casos em que a estrutura possa ficar submetida a
elevadas temperaturas (incêndios, por exemplo), deve- Usualmente, admite-se que a função densidade de
se adotar um maior cobrimento de concreto para probabilidade das resistências siga a curva normal de
reduzir a variação de temperatura no nível das Gauss, conforme é indicado na figura.
armaduras.

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grupos de resistência e consistência), os concretos são
classificados como:

Grupo I: C20, C25, C30, C35, C40, C45, C50;

Grupo II: C55, C60, C70, C80, C90, C100.

A NBR 6118 (2014) – (Projeto de estruturas de concreto


- Procedimento) traz no item 1.2 que a mesma se aplica
a concretos dos Grupos I e II (C20 ao C90). O concreto
C100 não é considerado pela norma.

Para concreto armado, deve-se empregar a classe C20


ou superior (fck ≥ 20MPa).

Para concreto protendido, deve-se empregar a classe


De acordo com a figura, definem-se a resistência média C25 ou superior.
à compressão do concreto, fcm, e a resistência
característica à compressão, fck. Segundo a NBR-6118, a classe C15 pode ser usada
apenas em obras provisórias e concretos sem fins
A resistência característica é um valor tal que existe estruturais.
uma probabilidade de 5% de se obter resistências
inferiores à mesma. Os concretos normais são aqueles que, depois de
secos em estufa, apresentam uma massa específica
De acordo com a equação da distribuição normal de compreendida entre 2000 kg/m³ e 2800 kg/m³.
probabilidades, tem-se que
Geralmente, para efeito de cálculo, adota-se o valor
= − 1,645 2400 kg/m³ para o concreto simples e 2500 kg/m³ para
o concreto armado.
onde S é o desvio padrão das resistências, dado por
A resistência à compressão do concreto depende de
vários fatores, como:
= ( − ) ( − 1) - composição (consumo e tipo de cimento, fator água-
cimento, etc.);

sendo fci os valores genéricos da resistência obtidos em - condições de cura (temperatura e umidade);
n corpos de prova de concreto.
- velocidade de aplicação da carga (ensaio estático ou
Assim, conhecendo-se o valor do desvio padrão S, dinâmico);
utiliza-se a equação
- duração do carregamento (ensaio de curta ou de longa
= − 1,645 duração);

para o cálculo da resistência de dosagem em função do - idade do concreto (efeito do envelhecimento);


valor de fck especificado no projeto.
- estado de tensões (compressão simples ou
Deve ser salientado que o desvio padrão está multiaxial);
intimamente relacionado ao controle de qualidade
adotado na produção do concreto. - forma e dimensões dos corpos de prova.

Quando o desvio padrão não é conhecido, podem-se Concreto em tração simples


adotar valores típicos, estabelecidos em função do
controle de qualidade. A resistência à tração do concreto pode ser
determinada em três ensaios diferentes: ensaio de
Os concretos são classificados em grupos de tração direta axial, ensaio de compressão diametral ou
resistência, grupo I e grupo II, conforme a resistência ensaio de flexão.
característica à compressão fck.
Existem dificuldades de se obter um resultado confiável
Dentro dos grupos, os concretos normais são a partir de um ensaio de tração direta.
designados pela letra C seguida do valor da resistência
característica à compressão aos 28 dias de idade, Um deles seria o próprio concreto, pois é um material
expressa em MPa. heterogêneo e que está sujeito ao aparecimento de
tensões e deformações locais.
Segundo a NBR 8953 (2015) - (Concreto para fins
estruturais - Classificação pela massa específica, por

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Além disso, existem muitos problemas devido aos
métodos de ensaio de tração direta existentes.

Foi observado que os equipamentos utilizados e a


forma do corpo de prova podem influenciar no resultado
final da tração.

Com isso, muitas considerações a respeito da tração


do concreto são realizadas através de métodos
indiretos para obtenção dessa propriedade, cujo
resultado, provavelmente, não corresponde ao valor
real da tensão de tração a que o concreto está
submetido no momento da ruptura.

Em virtude das dificuldades de realização do ensaio de


tração direta, normalmente realiza-se o ensaio de
compressão diametral (conhecido como ensaio
brasileiro).

O ensaio de compressão diametral é regido pela NBR


7222- 2011 – Concreto e Argamassa - (Determinação
da resistência à tração por compressão diametral de
corpos de prova cilíndricos).

O ensaio de tração na flexão é regido pela NBR 12142


– 2010 – Concreto – (Determinação da resistência à
tração na flexão de corpos de prova prismáticos).

Normalmente, o termo resistência à tração constante


nas normas de projeto (NBR-6118, CEB) refere-se à
resistência à tração axial (tração direta), fct.

Ensaio de Tração Axial σ= 2F/(3,14xD.L)

Ensaio de Flexão
NBR 12142 – 2010

Ensaio de Compressão Diametral


NBR 7222- 2011
De maneira análoga à resistência à compressão, a
resistência à tração do concreto apresenta uma
significativa variabilidade em torno de um valor médio.
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= 0,9 ,
Em geral, essa variabilidade é maior do que a verificada
para a resistência à compressão. onde fct,sp é a resistência média à tração obtida no
ensaio de compressão diametral.
Assim, podem-se definir um valor médio, fctm, e um valor
característico, fctk, de forma idêntica ao que foi feito para Se a resistência à tração for determinada em um ensaio
a resistência à compressão. de flexão de vigas, a resistência média à tração axial
pode ser obtida por:
Segundo o CEB/90, o valor médio da resistência à
tração, fctm, pode ser obtido da relação 1,5(ℎ/100) ,
= , ,
⁄ 1 + 1,5(ℎ/100)
= 1,40
10 onde fct,fl é a resistência média à tração na flexão e h >
50mm é a altura da viga.
O CEB/90 define dois valores característicos para a
resistência à tração: um valor inferior, fctk,inf, e um valor Se a viga tiver uma altura h = 200 mm, resulta a relação
superior, fctk,sup. fctm = 0,7 fct,fl, conforme consta na NBR-6118.

Esses valores característicos correspondem aos Do mesmo modo, a equação


quantis de 5% e 95% na distribuição normal,
respectivamente, e são dados por ⁄
= 1,40
, ≅ 0,7 10
aparece na NBR-6118 na sua forma equivalente
, ≅ 1,3
= 0,3( ) /

A equação acima apenas pode ser usada se fck ≤ 50


MPa.

Para concretos com fck > 50MPa, a NBR-6118 adota a


expressão, adaptada do Eurocode 2-EC2.

= 2,12 ln(1 + 0,11 )

No dimensionamento dos elementos estruturais, a


resistência à tração é desprezada, pois ela tem pouca
importância na capacidade de carga da estrutura.

Entretanto, na verificação das deformações da


Os valores característicos da resistência à tração são estrutura sob as cargas de serviço, é importante levar
empregados no projeto no sentido desfavorável. em conta a colaboração do concreto tracionado.

Por exemplo, o valor característico inferior fctk,inf é usado Nesses casos, pode-se empregar a equação
para determinar a resistência da aderência entre o

concreto e as barras da armadura.
= 1,40
10
Por outro lado, para o cálculo da área mínima da
armadura de flexão emprega-se o valor característico para a estimativa de fctm em função da resistência
superior fctk sup. característica fck adotada no projeto.

Nas verificações relativas aos estados limites de


utilização o que interessa é a resposta média da
estrutura.

Assim, para o cálculo da abertura das fissuras e para a


avaliação das flechas de vigas, emprega-se a
resistência média à tração fctm.

De acordo com o CEB/90, a resistência média à tração


axial, fctm, pode ser estimada a partir da resistência
média obtida no ensaio de compressão diametral, fct,sp,
através da relação

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O módulo de deformação longitudinal do concreto O mesmo ocorre com as deformações εo (deformação
para resistência à compressão máxima) e εu
O concreto apresenta um comportamento não linear, (deformação de ruptura) indicadas na figura.
quando submetido a tensões de certa magnitude.
Para concretos com fck ≤ 50 MPa, adotam-se os valores
Esse comportamento é decorrente da microfissuração médios εo = 2%0 e εu = 3,5%0.
progressiva que ocorre na interface entre o agregado
graúdo e a pasta de cimento. Lembrando!!!

1‰ = 10−3 = 1⁄1000 = 0,001 = 0,1%


1% = 10‰
1‰ = 0,001 = um milésimo em numeração ordinal

Para o coeficiente de Poisson do concreto,


normalmente adota-se o valor 0,2.

Diversas correlações entre o módulo de deformação


longitudinal e a resistência à compressão do concreto
têm sido encontradas em trabalhos de pesquisa,
estando algumas delas recomendadas nas normas de
projeto.

Essas correlações são válidas para concretos de


O diagrama tensão-deformação (σc x εc), obtido em um massa específica normal e para carregamento estático.
ensaio de compressão simples, é da forma indicada na
figura, onde se observa que não há proporcionalidade O módulo de deformação longitudinal do concreto
entre tensão e deformação (o material não obedece a depende de diversos fatores, sendo a resistência à
Lei de Hooke). compressão apenas um deles.
O trecho descendente do diagrama é obtido em um As propriedades elásticas dos agregados, por exemplo,
ensaio com velocidade de deformação controlada. têm uma grande influência sobre o módulo de
deformação do concreto e são consideradas na
formulação do CEB/90.


= 21500 ,
10
onde

= + 8,

O módulo secante é dado por

= 0,85

A expressão é válida para concretos feitos com


agregados de quartzo (granito e gnaisse).

Essa expressão deve ser multiplicada por 1,2 se forem


usados agregados de basalto, por 0,9 para agregados
de calcário e por 0,7 para agregados de arenito.
Na figura, Ec é o modulo de deformação longitudinal
tangente, representando a inclinação da reta tangente Assim, nenhum modelo teórico é capaz de prever
à curva na origem do diagrama. exatamente o valor do módulo de deformação
longitudinal do concreto.
Analogamente, o módulo secante Ecs representa a
inclinação da reta que passa pela origem e corta o Esses modelos são empregados na fase de projeto.
diagrama no ponto correspondente a uma tensão da
ordem de 0,4fc, sendo fc a resistência à compressão Durante a execução da estrutura, é necessário realizar
simples. ensaios, na idade especificada no projeto, para
comprovar que o concreto utilizado apresenta o módulo
Experimentalmente, verifica-se que o módulo de de deformação requerido.
deformação tangente, Ec, depende do valor da
resistência à compressão do concreto.

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Relação da NBR-6118/2014 apenas o modelo do CEB/90 para a avaliação do
módulo de deformação longitudinal do concreto.
Nessa versão da norma brasileira, o módulo tangente é
dado por O módulo tangente será obtido com o emprego da
equação
= 5600 , , ≤ 50

⁄ = 21500 ,
10
= 21500 , , > 50
10 onde
= + 12,5 , = + 8,
Nessas equações, αE é um coeficiente que leva em é a resistência média à compressão, estimada a partir
conta o tipo de agregado graúdo, tendo os mesmos da resistência característica fck aos 28 dias.
valores sugeridos pelo CEB/90:
E o módulo secante com o emprego da equação
- αE = 1,2 para agregados de basalto e diabásio;
= 0,85
- αE = 1,0 para agregados de granito e gnaisse;
É usual adotar-se a denominação “módulo de
- αE = 0,9 para agregados de calcário;
elasticidade” no lugar de módulo de deformação
longitudinal do concreto.
- αE = 0,7 para agregados de arenito.
A rigor, o termo módulo de elasticidade é inadequado,
Ainda de acordo com a NBR-6118, o módulo secante é
pois o concreto não é um material elástico.
dado por
Por definição, um material elástico é aquele que
= apresenta uma relação tensão-deformação única,
independente dos ciclos de carga e descarga a que ele
= 0,8 + 0,2 ≤ 1,0 for submetido.
80
Se essa relação é linear, o material obedece à Lei de
Na tabela mostrada a seguir, apresentam-se os valores Hooke, sendo conhecido como material elástico linear.
de Ec e de Ecs, conforme a NBR-6118/2014. Nessa
tabela também são apresentados os valores de Ecs, de O material também pode ser elástico não linear, quando
acordo com a NBR-6118/2007 e o CEB/90. não há proporcionalidade entre tensão e deformação.

Em todos os casos, considera-se o uso de granito como Por outro lado, há os materiais inelásticos, e como é o
agregado graúdo, ou seja, αE = 1,0. caso do concreto, com relações tensão-deformação
distintas nos ciclos de carregamento e
descarregamento, como indicado na figura a seguir.

Um material elástico não exibe deformação residual


após um ciclo de carregamento e descarregamento.

Nos materiais inelásticos, como o concreto, ciclos de


carregamento e descarregamento deixam deformações
A rigor, os resultados atribuídos à NBR-6118/2007 só
residuais permanentes.
se aplicam aos concretos com fck ≤ 50MPa, pois esse
era o campo de validade dessa norma.
Se esse material for submetido a sucessivos ciclos de
carga e descarga, ele apresenta um comportamento
Em vista dessas considerações e de todas as
histerético, como mostrado na figura a seguir.
evidências experimentais, nessa obra será empregado

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em virtude das reações químicas decorrentes da
hidratação do cimento.

Esse fenômeno, denominado envelhecimento, ocorre


durante praticamente toda a vida útil da estrutura,
sendo muito acentuado nos primeiros dias após a
concretagem.

Na figura a seguir, representa-se a variação da


resistência à compressão do concreto com a idade.

Logo, reconhecendo que o concreto não é um material


elástico, não é adequado denominar sua propriedade
mecânica por módulo de elasticidade.

Para efeito de análise estrutural, é necessário adotar


relações simples que representem de maneira
satisfatória esse comportamento não linear.

Diversas equações têm sido propostas para


representar o diagrama tensão-deformação do
concreto.

Diagrama parábola-retângulo

Uma expressão muito simples foi desenvolvida por Quando se deseja acelerar o processo de
Hognestad, admitindo-se que o trecho ascendente do endurecimento do concreto, pode-se realizar a
diagrama possa ser representado por uma parábola do denominada cura a vapor.
segundo grau.
Neste caso, depois de transcorridas cerca de 4 horas
Essa expressão foi introduzida na norma brasileira da concretagem, eleva-se gradualmente a temperatura
NBR-6118 e no CEB, dando origem ao denominado ambiente (por meio de vapor) até uma temperatura
diagrama parábola-retângulo. limite.
As equações são as seguintes: Essa temperatura é mantida durante um certo período,
reduzindo-se em seguida até atingir a temperatura
= (2 − ), < ambiente.

= ⁄ Por sua natureza, a cura a vapor é adequada para


peças pré-fabricadas.
= , ≤ ≤
No caso das estruturas de concreto massa (as
=0, > barragens são um exemplo típico), o problema se
inverte.

Nessas estruturas, não há a necessidade de uma


grande resistência nos primeiros dias, já que as
tensões de compressão no concreto durante a fase
construtiva são muito pequenas.

A grande preocupação consiste em reduzir o calor


gerado na massa de concreto devido à hidratação do
cimento.

Em vista do grande volume de concreto que é lançado


em cada etapa da concretagem, a temperatura do
concreto pode subir muito além da temperatura
Conforme será visto posteriormente, essas expressões ambiente.
são empregadas no dimensionamento de seções de
concreto armado. Ao se resfriar para atingir o equilíbrio térmico com o
ambiente, surgem tensões de tração que podem
As propriedades do concreto, como o módulo de fissurar o concreto.
deformação longitudinal e as resistências à tração e à
compressão, sofrem uma contínua variação no tempo, Assim, nessas estruturas o que se faz é a pré-
refrigeração do concreto (adicionando gelo à água de

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amassamento e resfriando os agregados) para que a Por outro lado, a fluência do concreto contribui
temperatura máxima atingida não fique muito acima da favoravelmente para a eliminação de concentrações de
temperatura ambiente. tensões (em nós de pórticos, por exemplo) e de tensões
impostas por recalques de apoios em estruturas
Resistência do concreto sob carga de longa hiperestáticas.
duração
Retração é a redução de volume do concreto durante o
Outro fenômeno que ocorre com o concreto é a redução processo de endurecimento, devido à diminuição do
de sua resistência sob carga de longa duração. volume de água dos poros.

Esse fenômeno, descrito por Rüsch, é conhecido como Usualmente, a retração é dividida em retração
Efeito Rüsch. autógena e retração por secagem (ou retração
hidráulica).
A redução da resistência é contrariada pelo aumento de
resistência decorrente do envelhecimento. A retração autógena ocorre sem perda de água para o
exterior e é consequência da remoção da água dos
Devido a esses efeitos contrários, a resistência do poros capilares pela hidratação do cimento.
concreto passa por um mínimo, cujo valor depende da
idade de aplicação da carga. A retração hidráulica é influenciada pelas condições
ambientais (umidade relativa, temperatura, vento, etc.).
Em uma estrutura de concreto armado, uma parcela
significativa das cargas é aplicada e mantida constante Na prática, a retração hidráulica inclui, também, a
durante praticamente toda a vida da estrutura. variação autógena de volume.

Em outras palavras, devem-se limitar as tensões de


compressão no concreto em 0,8 fcm.

Comportamento reológico do concreto

O comportamento reológico do concreto, isto é, sua


deformabilidade dependente do tempo, tem uma
considerável importância na análise estrutural.

As deformações diferidas do concreto, ou seja, as


deformações dependentes do tempo, são Uma cura prolongada retarda o início da retração,
convencionalmente separadas em duas: a fluência e a permitindo que o concreto alcance uma resistência à
retração. tração satisfatória.

A fluência é o acréscimo contínuo das deformações que Com isso, pode-se evitar uma fissuração prematura.
ocorre mesmo para uma tensão constante.
As armaduras também são eficientes para a limitação
A retração é a redução de volume do material na das aberturas das fissuras decorrentes da retração.
ausência de uma carga externa.
Quando o concreto é colocado dentro d’água, ocorre
Tanto a fluência, quanto a retração, diminuem com a um aumento de volume pela absorção de água.
redução do fator água-cimento e do consumo de
cimento. Entretanto, o valor absoluto da expansão dentro d’água
é bem menor do que a retração do ar (cerca de seis
A fluência e a retração apresentam uma série de efeitos vezes menor para umidade relativa do ar igual a 70%).
indesejáveis, como:
Aços para concreto armado
- aumento das flechas de lajes e vigas;
De acordo com a NBR-7480-2007 (Aço destinado a
- perdas de protensão em estruturas de concreto armaduras para estruturas de concreto armado –
protendido; Especificação), as armaduras para concreto armado
podem ser classificadas em barras e fios.
- aumento da curvatura de pilares devido à fluência, o
que introduz momentos fletores adicionais; As barras possuem diâmetros mínimos de 6,3 mm,
sendo obtidas por laminação a quente.
- fissuração das superfícies externas devido à retração;
Os fios apresentam diâmetros máximos de 10 mm,
- introdução de esforços indesejáveis em estruturas sendo obtidos por trefilação ou laminação a frio.
aporticadas devidos à retração (e também à dilatação
térmica), o que exige a adoção de juntas; etc. Na nomenclatura usual de projeto, tanto as barras
laminadas, quanto os fios trefilados, são designados
simplesmente por barras da armadura.

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Os fios, obtidos por trefilação, não apresentam um
Na tabela a seguir, indicam-se as barras e os fios patamar de escoamento definido, como é mostrado na
padronizados pela NBR-7480. figura a seguir.

De acordo com as figuras mostradas, são definidos:

- fy = tensão de escoamento;

- fst = tensão de ruptura;

- Es = módulo de elasticidade longitudinal;

Conforme está indicado nessa tabela, o número relativo - εu = deformação de ruptura.


ao fio ou à barra (isto é, a bitola) corresponde ao
diâmetro nominal da seção transversal, em milímetros. Para os aços que não apresentam um patamar de
escoamento, a tensão de escoamento fy é o valor
A massa linear da barra ou do fio (em kg/m) é obtida convencional que corresponde a uma deformação
pelo produto da área da seção nominal (em m²) pela residual de 2‰.
massa específica do aço, igual a 7850 kg/m³.
Segundo a NBR-6118, na falta de ensaios ou valores
A forma do diagrama tensão-deformação dos aços, fornecidos pelo fabricante, o módulo de elasticidade
obtido em um ensaio de tração simples é influenciada longitudinal dos aços para concreto armado pode ser
pelo processo de fabricação. admitido igual a 210 GPa.

As barras, obtidas exclusivamente por laminação a O CEB, o ACI, o Eurocode 2 e todas as demais normas
quente, apresentam um patamar de escoamento no internacionais consideram Es = 200 GPa para efeito de
diagrama tensão-deformação, como está indicado na cálculo.
figura.
A mesma NBR-6118 adota o valor de 200 GPa para o
módulo de elasticidade dos aços para concreto
protendido (aços para armadura ativa).

Inexplicavelmente, a NBR-6118, que é uma cópia


mesclada dessas normas internacionais, adota o valor
de 210 GPa para o módulo de elasticidade dos aços
para concreto armado.

Em vista da falta de justificativa para o valor de 210


GPa, considera-se sempre Es = 200 GPa, como fazem
todas as normas internacionais.

Para o coeficiente de dilatação térmica dos aços,


considera-se o valor 10-5 °C-1, que é o mesmo valor
adotado para o concreto.

De forma análoga ao que foi apresentado para o


concreto, define-se uma tensão de escoamento
característica dos aços, fyk, obtida em um conjunto de
corpos de prova submetidos a tração.

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Assim, as barras de aço são classificadas nas
categorias CA-25, CA-50 e CA-60, onde o prefixo CA
indica aços para concreto armado e o número é o valor
de fyk expresso em kN/cm².

Lembrando!!!

1 kN/cm² = 10 MPa

Dessa forma, ao ser especificado o aço CA-50, significa


que se trata de um aço para concreto armado cuja
tensão de escoamento característica é fyk = 50 kN/cm².

As barras são das categorias CA-25 e CA-50 e os fios


são da categoria CA-60.

As barras podem ser lisas ou nervuradas.

As barras lisas possuem baixa aderência ao concreto e


são restritas à categoria CA-25.

As barras da categoria CA-50 devem ser nervuradas,


obrigatoriamente.

Os fios da categoria CA-60 podem ser lisos, entalhados


ou nervurados, para melhorar sua aderência ao
concreto.

O comprimento de fornecimento das barras e dos fios


deve ser de 12 m, admitindo-se uma tolerância de ±1%.

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