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Autoria
Thiago Nogueira Viana - thiago.n.viana@hotmail.com
MPA - Mestrado Profissional em Administração / UNIFOR - Universidade de Fortaleza
Resumo
Devido aos custos crescentes e elevados no segmento da saúde, intensificaram-se as
discussões sobre a necessidade de aprimoramento da utilização de recursos no segmento.
Assim, o presente estudo visa propor e analisar um modelo de custeio para gestão estratégica
de custos de serviços hospitalares em um hospital privado no Ceará, durante a pandemia de
COVID-19, em 2020-2021, considerando a combinação de: (a) sistema de acumulação
híbrido; (b) custeio rkw; (c) departamentalização; (e) alocação matricial. Para atender ao
objetivo, foi desenhado um modelo de custeio e identificadas cinco etapas para a sua
aplicação, onde, com intuito de facilitar o entendimento, realizou-se um estudo de caso que
consistiu na análise dos custos de pacientes internados por COVID-19 em um
estabelecimento privado de saúde, localizado no Estado do Ceará. Foram consideradas todas
as altas de pacientes internados por COVID-19 entre o período de maio de 2020 e abril de
2021, que apresentaram swab positivo. O modelo proposto e analisado permite a realização
de análises de receitas, custos e resultado por atendimento, operadora de saúde,
especialidade, grupo de doença, procedimento cirúrgico, médico, entre outros.
XLVI Encontro da ANPAD - EnANPAD 2022
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RESUMO
ABSTRACT
Due to the increasing and high costs in the healthcare segment, discussions about the need to
improve the use of resources in the segment have intensified. Thus, the present study aims to
propose and analyze a costing model for strategic cost management of hospital services in a
private hospital in Ceará, during the pandemic of COVID-19, in 2020-2021, considering the
combination of: (a) hybrid accrual system; (b) rkw costing; (c) departmentalization; (e) matrix
allocation. To meet the objective, a costing model was designed and five steps were identified
for its application, where, in order to facilitate understanding, a case study was conducted that
consisted of the analysis of the costs of inpatients for COVID-19 in a private healthcare facility,
located in the state of Ceará. All discharges of patients hospitalized for COVID-19 between the
period May 2020 and April 2021, who had a positive swab, were considered. The proposed and
analyzed model allows the performance of revenue, cost and result analyses by care, health
operator, specialty, disease group, surgical procedure, physician, among others.
1 INTRODUÇÃO
Entre os anos de 2000 e 2016, os gastos com saúde cresceram em termos reais a uma
taxa anual média de 4%, crescimento mais rápido do que o do PIB (2,8% ao ano) (WHO, 2018a;
2018b). Em 2018, o mundo gastou US$ 8,3 trilhões em saúde, cerca de 10% do PIB global,
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sendo a primeira vez nos últimos cinco anos que os gastos com saúde cresceram mais
lentamente do que o PIB (WHO, 2020).
O crescimento dos custos em saúde se intensificou com a pandemia da COVID-19,
havendo a necessidade de gastos extraordinários para o seu enfretamento e uma alta inflação.
Isto tem impactado principalmente os prestadores de serviços, como os hospitais, pois esses
são os principais consumidores primários de insumos.
Parte dos custos crescentes e elevados no segmento da saúde são oriundos do modelo
de remuneração praticado no mercado. No Brasil, em 2018, cerca de 96% dos valores pagos
aos prestadores de saúde utilizaram o modelo de remuneração denominado Fee For Service
(FFS). Como o FFS remunera pela quantidade de serviços produzidos, a principal crítica em
relação ao modelo é a existência de produção excessiva, pelos prestadores, que nem sempre
são necessários para o paciente (BRASIL, 2019). Dessa forma, visando a redução dos custos
do sistema de saúde e o aumento da qualidade da assistência prestada, é necessária a adoção
de modelos de remuneração centrados no paciente (MILLER, 2017).
Outras explicações para o crescimento dos gastos em saúde são maior prevalência de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), o aumento da expectativa de vida e a
incorporação de tecnologias em saúde (BRASIL, 2019). Devido ao exposto, nas últimas
décadas, tem se intensificado as discussões sobre a necessidade de aprimoramento da utilização
de recursos no segmento da saúde (BRASIL, 2019). Nesta perspectiva, visando sua própria
sustentabilidade, os hospitais tem sido cada vez mais pressionados para que tenham
conhecimento dos custos e margens dos serviços prestados a fim de obter mais segurança na
negociação de preços e na adoção de novos modelos de remuneração.
Do exposto, o teorema da Teoria Geral dos Custos, componente matemático da teoria,
sustenta que existe uma prova matemática contábil do preço do custo, o qual é representado
pela soma dos gastos realizados para a obtenção do produto ou da prestação de serviços
(HOOG, 2019a). Porém, segundo Souza (2013), o ambiente econômico no qual os hospitais
operam é bastante complexo e os gestores hospitalares têm encontrado dificuldades em
identificar, analisar e controlar os custos dos serviços prestados.
Sob esse contexto, entende-se que a gestão de custos é necessária para a mudança do
cenário atual relacionado aos serviços de saúde e para a manutenção de um bom desempenho
econômico e financeiro dos hospitais. Ademais, à luz da Teoria Geral dos Custos, os sistemas
e métodos de custeio são ferramentas imprescindíveis para que a haja uma gestão estratégica
que garanta a sustentabilidade corporativa.
Logo, busca-se responder a seguinte questão de pesquisa: Como apurar os custos dos
serviços hospitalares de um hospital privado no Ceará, durante a pandemia de COVID-19?
Visando a resolução deste problema, o objetivo geral deste estudo é propor e analisar
um modelo de custeio para gestão estratégica de custos de serviços hospitalares em um hospital
privado no Ceará, durante a pandemia de COVID-19, em 2020-2021, considerando a
combinação de: (a) sistema de acumulação híbrido; (b) custeio rkw; (c) departamentalização;
(e) alocação matricial. Para tanto, foram delineados os seguintes objetivos específicos: (i)
desenhar o modelo de custeio utilizado no hospital; (ii) apurar os indicadores de custos dos
centros operacionais; (iii) apurar os custos dos pacientes internados por COVID-19.
A problemática ora investigada encontra fundamentações teóricas também em alguns
estudos anteriores. Saraiva (2006), em seu estudo sobre a investigação da mensuração de custos
na formação de preços dos serviços hospitalares, afirma que foi possível ratificar as citações de
diversos autores em relação à complexidade da apuração de custos em organizações
hospitalares, principalmente no que diz respeito à falta de um sistema de custos e do domínio
de informações básicas de custos por parte de gestores. Azevedo et al. (2017) identificaram que
a maioria dos gestores não tem um bom conhecimento em relação a custos, contudo,
reconheceram a importância da contabilidade de custos na tomada de decisão gerencial.
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É indiscutível a importância da gestão de custos em hospitais, mas para que essa exista,
é imprescindível que haja a implementação de um sistema de custeio adequado à organização.
Na visão de Dallora e Forster (2008), o sistema de custeio é uma ferramenta útil para a gestão
eficiente dos hospitais, os quais estão inseridos em um contexto de custos elevados, recursos
escassos, pressão por qualidade e bons serviços.
Assim, o presente trabalho se justifica em decorrência da relevância da gestão de custos
em serviços hospitalares, propondo um modelo de custeio para a gestão estratégica de custos
de serviços hospitalares, de modo a possibilitar que outras organizações possam mensurar os
custos dos seus serviços a fim de melhorar o desempenho econômico, analisar mudanças dos
modelos de remunerações praticados e tomar decisões fundamentadas.
2 SUPORTE TEÓRICO
Conforme Hoog (2019), a Teoria Geral dos Custos (TGC) se consagrou como sendo
um conjunto de conhecimentos que apresentam uma sistematização e credibilidade, os quais
se propõem a explicar, elucidar ou interpretar os fenômenos das impulsões patrimoniais que
formam o custo de produtos, bens ou serviços.
Hoog (2019) elenca dez premissas principais da TGC: (i) quanto maior a produção da
quantidade de bens/serviços, maior será o consumo dos custos variáveis; (ii) os gastos com os
custos fixos existem independentemente da quantidade de bens produzidos - sem embargos a
esta máxima, avulta o paradoxo, de que quando maior for a quantidade de bens/serviços
produzidos, menor será a participação dos custos fixos na formação dos preços de custo; (iii)
os gastos não vinculados à produção de bens ou de serviços, inclusive despesas e desperdícios
não podem influenciar a formação do preço de custo; (iv) todo o procedimento de just in time,
diminuem a exposição de capital; (v) toda a forma de economia de escala, gera aumento da
remuneração do investimento na produção de bens ou serviços; (vi) a recuperação dos
investimentos em máquinas, equipamentos ou bens intangíveis, se dá pela depreciação e
amortização (fundos de reintegração do ativo), e a remuneração do capital investido em bens
tangíveis ou intangíveis, se dá pelo lucro; (vii) a geração de lucro ou prejuízo pela venda de
produtos ou serviços é um fenômeno patrimonial diverso da geração de caixa, portanto, não se
confunde o lucro da operação como a geração de caixa - pode existir lucro sem a geração de
caixa, assim como, o inverso também é factível, sendo que o lucro existe a partir do volume de
produção e vendas superior ao ponto de equilíbrio econômico; (viii) o equilíbrio financeiro,
existe somente a partir do volume de produção e vendas, superior ao ponto de equilíbrio
financeiro; (iv) quanto maior for a rapidez do giro dos estoques e contas a receber, menor a
necessidade de investimento em capital circulante, o contrário também é verdadeiro, quanto
maior o prazo de giro de estoques e das contas a receber, maior a necessidade de capital
circulante; (x) quanto maior o giro das contas a pagar vinculadas aos estoques, menor a
necessidade de capital circulante, o contrário também é verdadeiro.
Conforme ressaltado por Saraiva (2006) e Azevedo et al. (2017), apesar da deficiência
de conhecimentos em relação a custos, os gestores das organizações hospitalares reconhecem a
relevância da contabilidade de custos na tomada de decisão gerencial. Assim, faz-se necessária
sua compreensão, iniciando pela classificação dos custos, sistemas de custeio, métodos de
custeio e alocação dos custos.
Fontoura (2013) acrescenta que os custos são fixos dentro de uma capacidade instalada
e que, na prática, a maioria dos custos não são totalmente fixos ou variáveis. Seguindo essa
linha, Martins (2018) afirma que alguns custos têm componentes das duas naturezas, citando o
exemplo da energia elétrica, que possui parte variável e parte fixa. Para esses casos, os custos
são denominados semivariáveis ou semifixos.
Na literatura são utilizados diferentes termos parar tratar desse assunto: sistema de
custeio (FROSSARD, 2003), sistema de acumulação de custos (BORINELLI et al., 2003), e
sistema de custeamento (LEONE, 2012). Os sistemas de custeio refletem o “modus operandi”
da empresa, estabelecendo o custo específico do produto fabricado e vendido, com base nos
custos e volumes de produção de um determinado período (FROSSARD, 2003). Ainda de
acordo com o autor, tais custos podem ser acumulados por unidade do produto, por lotes de
produtos, por atividades ou processos, por departamentos ou centros de custos, por períodos e
por empresas.
Um sistema de acumulação de custos tem como função acumular os custos de uma
maneira organizada, considerando-se a operação da empresa, as decisões que precisam ser
tomadas e os seus objetos de custos (BORINELLI et al., 2003). De acordo com a literatura
(BORINELLI et al., 2003; FROSSARD, 2003; LEONE, 2012; MARTINS, 2018), os sistemas
de acumulação de custos utilizados nas empresas podem ser: (a) Por ordem ou encomenda; (b)
Por processo ou contínuo; (c) Misto ou híbrido.
No sistema por ordem, os custos são identificados diretamente em cada ordem de
produção aberta para atender a pedidos específicos (FROSSARD, 2003). Assim, os produtos
recebem diferentes graus de atenção ou de técnicas específicas, levando-se em consideração:
(a) Custos com materiais diretos (apropriação mediante requisições individualizadas); (b)
Custos com a mão-de-obra direta (apropriação com base em mapas de apontamento de tempo);
e, (c) Custos indiretos (apropriação com base em critérios de rateios bem definidos, onde esses
devem refletir a correlação entre a ocorrência dos custos indiretos e os produtos).
A ordem de produção pode receber outras denominações, como ordem de serviço,
ordem de fabricação, ordem de trabalho, ordem de tarefa, ordem de obra, ou simplesmente
ordem (BORINELLI et al., 2003). Nas organizações hospitalares, tem-se o prontuário médico
como uma ordem de serviços, onde os diversos recursos consumidos pelos pacientes são
registrados, como medicamentos, materiais, serviços de apoio diagnóstico e terapêutico,
serviços médicos e de enfermagem, procedimentos, entre outros.
No sistema por processos, são identificados os diversos processos que compõem a
produção do produto, devendo então haver o custeamento desses processos através de
departamentos, centros de custos, centros de resultados, ou por outra forma que a empresa
considerar mais apropriada (BORINELLI et al., 2003).
Os custos são acumulados e apropriados aos produtos de processo em processo, até que
esses incorporem todos os custos acumulados ao longo do fluxo das operações (FROSSARD,
2003). Dessa forma, para cálculo do custo unitário do produto é necessário verificar, em um
intervalo de tempo, quanto houve de recursos consumidos pelos processos e dividir esses pelo
número total de produtos processados (BORINELLI et al., 2003). Logo, o custo unitário do
produto é representado por um valor médio, onde as unidades produzidas terão a mesma
quantidade de insumos consumidos (SARAIVA, 2006). Segundo Matos (2002), pode-se utilizar
o sistema de acumulação por processo para apuração do custo da diária hospitalar, fazendo-se
uso de centros de custos.
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Após a mensuração dos custos por centro de custos, os custos das unidades de apoio e
administrativas devem ser direcionados às unidades operacionais através de métodos de
alocação de custos, como: alocação direta, alocação sequencial ou escalonar e alocação
matricial ou recíproca. A escolha da forma de apropriação dependerá da necessidade gerencial,
da metodologia a ser adotada e das condições de informatização dos dados (OPAS, 2013).
Dentre os métodos existentes, o método de alocação direta é o mais simples, pois não
exige uma estruturação complexa para a realização dos cálculos. Este método determina que o
total dos custos dos centros de custos-meio (administrativos e apoio) seja alocado diretamente
aos centros de custos finais (operacionais) (OPAS, 2013). Já o método de alocação sequencial,
diferente da alocação direta, considera a prestação de serviços entre as unidades de apoio e
administrativas de forma parcial, pois, nessa metodologia, os custos são alocados em forma de
cascata, de modo que um centro de custos distribua os seus custos para os demais e seja excluído
das alocações posteriores.
De acordo com o Programa Nacional de Gestão de Custos (BRASIL, 2006), na alocação
sequencial, o primeiro centro de custos a ser escolhido pode ser o que presta serviços a um
maior montante de centros de custos, ou aquele que apresenta o maior custo da organização.
Além dos métodos citados, tem-se também o método de alocação matricial, esse se difere dos
demais por reconhecer a reciprocidade de recursos entre as unidades de apoio e administrativas
antes da realização do rateio para as unidades operacionais. Para tal, utiliza-se de função
algébrica para resolver um conjunto de expressões simultâneas, dispensando a necessidade de
uma sequência de centros de custos na realização dos rateios (FALK, 2001).
3 MÉTODO
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A etapa inicial consiste na alocação dos custos diretos aos produtos hospitalares. Foram
considerados como custos diretos com serviços médicos os honorários médicos relacionados
aos procedimentos cirúrgicos, às visitas nas unidades de internações e aos pareceres de
especialistas, bem como o repasse realizado aos serviços de diagnóstico por imagem e de
laboratório de análises clínicas. A Tabela 1 apresenta a síntese dos respectivos valores.
11
A segunda etapa consiste na apropriação dos custos indiretos aos centros de custos. É
importante lembrar que, conforme explicado por Martins (2018), o RKW consiste no rateio de
todas as despesas da organização. Dessa forma, anteriormente optou-se por utilizar o termo
“custos” para facilitar as explicações, mas nessa etapa estão sendo consideradas todas as
despesas indiretas do hospital.
Os custos indiretos totalizaram R$ 9.010.541,64, conforme evidenciado na Tabela 2.
4.3 Alocação dos custos dos centros de apoio e administrativos aos operacionais
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responsáveis pelos centros precisam ser envolvidos, as definições devem ser realizadas em
conjunto, para uma menor possibilidade de ocorrência de erros. Caso contrário, conforme citado
no suporte teórico, o processo de alocação dos custos indiretos pode deturpar totalmente os
custos dos serviços prestados, evidenciando informações distorcidas para a tomada de decisão.
No processo de alocação matricial, os custos são primeiramente distribuídos entre os
centros de custos de apoio e administrativos, evidenciando o custo total de cada um desses. Em
seguida, a alocação de todos os custos dos centros de apoio e administrativos deve ocorrer aos
centros operacionais. O exemplo passado pode ser calculado facilmente, até mesmo em uma
calculadora comum, pois a estrutura apresentada possui apenas quatro centros de custos,
situação não encontrada em organizações hospitalares.
Para esta terceira etapa, foi observado o total de custos das unidades de apoio e
administrativas a serem alocados, conforme Tabela 3.
Tabela 3 - Custos totais, em reais e percentual, por centro de custos de apoio e administrativo
Centro de custos Custos totais (R$) Custos totais (%)
De Apoio R$ 3.678.935,09 81,55%
Administrativo R$ 832.058,17 18,45%
Total R$ 4.510.993,26 100,00%
Fonte: Elaborada pelos autores.
Tabela 4 - Custos totais, em reais e percentual, distribuídos aos centros de custos operacionais
Centro de custos Custos totais (R$) Custos totais (%)
Pronto Atendimento R$ 461.766,85 10,24%
Centro Cirúrgico R$ 792.402,69 17,57%
Sala de Recuperação R$ 23.049,15 0,51%
Unidade de Internação R$ 1.656.548,01 36,72%
UTI Neonatal R$ 177.454,72 3,93%
UTI Adulto R$ 788.286,62 17,47%
Radiografia R$ 19.830,63 0,44%
Tomografia R$ 53.135,32 1,18%
Ultrassonografia R$ 23.113,70 0,51%
Laboratório de Análises Clínicas R$ 39.970,68 0,89%
Fisioterapia R$ 23.504,84 0,52%
Outros R$ 451.930,05 10,02%
Total R$ 4.510.993,26 100,00%
Fonte: Elaborada pelos autores.
4.4 Alocação dos custos dos centros operacionais aos indicadores de custos
13
14
possuem essa característica. Um exemplo é a unidade de tomografia, que pode realizar diversos
tipos de exames, logo cada exame deve ter o seu custo de acordo com o seu peso, onde uma
tomografia craniana teria um custo diferente da abdominal.
Para ponderação dos custos de exames, pode-se utilizar a Classificação Brasileira
Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), que possui referências para cálculos de
preços dos exames no mercado. Dessa forma, os preços são os critérios de peso para ponderação
dos custos médios. No caso dos exames de imagem, além da CBHPM, é necessário utilizar o
valor do filme estabelecido pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
(CBR).
Os critérios citados não foram utilizados, pois, como explicado anteriormente, no local
de estudo, as unidades citadas são terceirizadas e os valores são repassados aos parceiros de
acordo com o faturamento, desse modo, maior parte dos custos dos exames são diretos, pois
podem ser facilmente atribuídos aos atendimentos de pacientes. Apenas uma pequena parte são
de custos indiretos, como energia elétrica, água e depreciação do espaço físico, sendo esses
atribuídos aos exames pela média.
Outro ponto importante que deve-se discutir sobre o método utilizado é como a
ineficiência operacional pode elevar os custos dos serviços prestados. Acontece que, como o
método de custeio RKW consiste em alocar aos produtos todos os custos e despesas da
organização, os custos dos serviços serão impactados diretamente por processos ineficientes
que possam existir. Porém, existem formas de identificar os gargalos e algumas alternativas
podem ser adotadas, dependendo do objetivo de cada usuário.
Uma alternativa em relação à baixa taxa de ocupação da capacidade produtiva é calcular
os custos com base nas metas de produção dos serviços. Por exemplo, os custos das diárias de
unidade aberta e UTI, apresentadas na tabela 6, foram calculadas considerando a ocupação real
de cada unidade do hospital no período, em média 72%, mas poderiam ter sido calculadas
considerado uma ocupação maior, reduzindo o custo médio da diária.
Essa prática é possível porque a maioria dos custos indiretos considerados no cálculo
são fixos e não teriam variação com o aumento da demanda. Geralmente, pode ser realizada em
situações em que determinada unidade esteja com a ocupação bem aquém da capacidade
produtiva por questões de sazonalidade. Outro ponto que pode ser avaliado é a identificação de
gargalos em unidades específicas com base em outras que prestam os mesmos serviços.
Continuando com o exemplo de diárias, pode-se comparar a composição dos custos das diárias
em cada centro de custos da organização, possibilitando identificar quais possuem um menor
custo médio de serviços próprios, materiais e medicamentos não reembolsáveis, entre outros.
Assim, com a identificação de gargalos, pode-se buscar entender se as diferenças são
especificidades dos centros de custos ou ineficiência de processos.
Caso seja percebido um custo de uma unidade bem superior ao de outra, como exemplo
o custo com pessoal por questões de ineficiência no dimensionamento da equipe, ou pela
realização de horas extras, entre outras possibilidades, deve-se tratar as ineficiências e os custos
podem ser calculados excluindo tais particularidades.
O benchmarking entre hospitais também é algo bastante útil nesse sentido, mas é
importante levar em consideração as particularidades de cada hospital, como por exemplo a
criticidade do paciente, as especialidades atendidas, legislações da região, entre outras. Além
do citado, corroborando com Leoncine (2010), o método ABC pode ser aplicado como
complemento, segmentando os centros de custos em atividades para apuração dos custos dessas
para posterior análise da eficiência. Ademais, é possível identificar atividades que não agregam
valor para organização, visando a redução dos custos com a eliminação de atividades ou
alteração da forma de realização dessas (BORINELLI et al., 2003).
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A partir da alocação de todos os custos aos atendimentos dos pacientes internados por
COVID-19, pode-se realizar análises aprofundadas dos atendimentos.
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R$ 1.868,64 para cada diária em UTI neonatal; e, R$ 3.959,19 para cada diária em UTI adulto,
conforme Tabela 8.
Observa-se que as faixas etárias 60-69, 70-79 e 80-89 evidenciaram os maiores custos
médios por atendimento, todos acima de R$ 40 mil. Em seguida, as faixas etárias 40-49 e 50-
59 seguem com valores acima de R$ 30 mil. Por outro lado, verificou-se que as faixas etárias
20-29, 30-39 e 90+ apresentaram valores próximos a R$ 20 mil. Acredita-se que a alta taxa de
mortalidade dos pacientes acima de 90 anos foi responsável pela baixa média de permanência
de 9,5 dias, reduzindo o custo por atendimento pela interrupção da internação.
Em relação aos pacientes da faixa 0-9, verificaram-se poucas internações, cerca de
1,20%, correspondente a sete atendimentos. Desses atendimentos, três apresentaram valores
bem elevados e os demais muito baixos, sendo o custo mínimo o valor de R$ 1.675 e o máximo
R$ 122.687, evidenciando uma amplitude significativa. A faixa etária que apresentou menor
custo por atendimento foi a de 10-19, evidenciando apenas três internações, 0,51%, todas em
unidades de internação aberta. Percebe-se que, com exceção da faixa 0-9 e 90+, o custo médio
por atendimento aumenta conforme o aumento da faixa etária.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
17
A terceira etapa se utilizou do método de alocação matricial para distribuição dos custos
das unidades de apoio e administrativas para as unidades operacionais. Para tanto, foram
definidos direcionadores de custos para cada unidade não operacional, que serviram de base
para a realização dos rateios. Ao fim dessa etapa, todos os custos da organização foram alocados
nas unidades operacionais.
Na quarta etapa, o volume de produção dos serviços prestados pelas unidades
operacionais foi mensurado para cálculo dos indicadores de custos. Ao final desta etapa, o
segundo objetivo específico de apurar os indicadores de custos dos centros operacionais foi
concluído.
De modo a atingir o terceiro e último objetivo específico de apurar os custos dos
pacientes internados por COVID-19, os indicadores de custos citados anteriormente foram
apropriados aos atendimentos através das informações de consumo presentes na conta
hospitalar. Dessa forma, os atendimentos tiveram os seus custos diretos e indiretos apurados,
possibilitando a realização de análises das características dos custos relacionados a esse perfil.
Contudo, pode-se afirmar que a pesquisa trouxe contribuições teóricas e práticas. Dentre
as contribuições teóricas, destacam-se: modelo de custeio proposto no estudo de caso, através
da explicação das etapas fundamentados na Teoria Geral dos Custos; e, informações de custos
relacionados à área hospitalar e a pacientes internados por COVID-19 disponibilizados,
possibilitando a realização de estudos futuros e a comparação dos custos com as realidades de
outras organizações hospitalares.
Dentre as contribuições práticas, destacam-se: possibilidade de outras organizações
hospitalares entenderem a aplicação de sistemas e métodos de custeio para mensurar os custos
dos seus serviços; possibilidade de aplicação do método na apuração de custos em atendimentos
realizados por outras organizações hospitalares.
Com a aplicação do modelo desenhado, é possível entender a margem deixada por cada
serviço e identificar quais não apresentam um bom desempenho. O modelo permite, não só a
análise do serviço, como também a dos atendimentos realizados de forma analítica, por
considerar as informações de consumo da conta hospitalar. Desse modo, podem ser analisados
o desempenho econômico por atendimento, operadora de saúde, especialidade, grupo de
doença, procedimento cirúrgico, médico etc. Ademais, o modelo de custeio gera informações
suficientes para o apoio na precificação dos serviços, permitindo a realização de estudos de
mudança do modelo de remuneração, como a migração de margens de materiais e
medicamentos para diárias e taxas, empacotamento de diárias globais, procedimentos cirúrgicos
e consultas, entre outros.
Contudo, esta pesquisa foi aplicada em apenas uma unidade hospitalar. Assim, não se
pode generalizar seus resultados ou exaurir o tema. Além disso, o modelo proposto não é capaz
de apurar os custos de atividades, pois optou-se pela não utilização do custeio ABC devido à
complexidade de implantação do método em toda a organização, como evidenciado na
literatura. De todo modo, o ABC é uma importante ferramenta para os hospitais, onde foi
possível notar muitas vantagens em estudos empíricos anteriores. Dessa forma, recomenda-se
a complementação do modelo com o custeio ABC em futuros estudos, podendo esse ser
utilizado em setores específicos para redução de custos com atividades.
A partir das contribuições e limitações dispostas, é possível evidenciar que este estudo
pode servir de base para novos estudos. Dessa forma, sugere-se: (a) analisar o desempenho
econômico dos serviços prestados, considerando não apenas os custos, mas também os preços
praticados; (b) enriquecer o modelo de custeio com outras ferramentas, como o custeio ABC e
o custo-padrão; (c) ampliar a base de custos dos pacientes internados por COVID-19 em outras
unidades hospitalares e regiões; (d) aplicar modelo em unidade hospitalar no qual os serviços
de laboratório de análises clínicas e diagnóstico por imagem são próprios; (e) reestruturar o
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modelo para aplicação em outros prestadores de saúde, como clínicas e unidades de atenção
básica.
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