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A questão do negro na comunidade judaica da região

David | Postado em 16 de dezembro de 2020.

http://ujr-amlat.org/art/en/the-issue-of-blacks-in-the-jewish-community-in-the-region/

Judeu de ascendência marrana, negro, artista, gay e de centro-esquerda. Como discordar mais
da tradicional comunidade judaica de São Paulo? Uma comunidade plural, mas que se baseia
em uma demografia muito semelhante, de brancos, de classe média e alta, formada por grupos
das mesmas regiões e fugindo das mesmas dores e guerras. Obviamente nem todos são assim,
mas um grande número.

A história judaica de minha família remonta aos tempos da Inquisição Católica e depois de
muita assimilação, eu, brasileiro, fruto da mistura de negros, índios e brancos, devolvi o sangue
e o sobrenome de meus antepassados ao povo judeu, implicando em muitos choques culturais
e étnicos neste retorno – até agora, o primeiro é evidentemente o da cor, não o da
representatividade.

Se fôssemos fazer um censo de quantos judeus negros e judias existem na comunidade judaica
no Brasil, seja por conversão ou casamentos mistos ou mesmo negros de ascendência judaica
direta, poderíamos contar nos dedos, sem precisar fazer muito trabalho com métodos de
análise estatística. Quando se trata da comunidade judaica de São Paulo, então, fica muito mais
fácil saber quantos somos.

O país com maior número de negros no mundo fora da África não vê essa realidade presente e
representada em vários lugares. Não nos vemos na TV. Nossa participação em campanhas
publicitárias ainda é tímida. Mesmo produtos feitos para o nosso fenótipo eram um mero
sonho até alguns anos atrás, como um xampu ou condicionador para cabelos cacheados, por
exemplo. Não seria diferente na comunidade judaica. Ainda somos muito poucos,
insignificantes, mas já relevantes o suficiente em algumas instâncias para gerar desconforto em
algumas instituições da comunidade que já iniciaram essa luta pela mudança, principalmente
nos tnuot e nos mais jovens que querem falar cada vez mais sobre o necessidade de
diversidade dentro do nosso povo.

Nestes tempos de pandemia, com a explosão do movimento Black Lives Matter, já tivemos
inúmeras transmissões ao vivo com a participação de alguns desses poucos judeus negros. Dá-
nos uma certa esperança de estarmos cada vez mais incluídos, e não mais invisibilizados pelo
racismo estrutural que se instaura em tudo, mesmo que seja inconsciente essa prática de
“invisibilidade”, de impedir o acesso.

O povo judeu sempre foi diverso; sempre fomos estranhos aos outros povos, nômades e
sobretudo críticos. Nossa primeira revolução é eternizada no Shemá quando escolhemos ter
um único D'us que nos fez espalhados pelo mundo, segundo a Torá. Assim, essa antiga diáspora
fez com que nossos rostos brancos, negros, vermelhos e amarelos se tornassem um arco-íris de
cores judaicas, todas lindas e possíveis de representar a riqueza de nossa fé e nossa resistência.

eduardo barros:

Formado e pós-graduado pela Escola de Belas Artes, Eduardo é um artista atuante na


comunidade judaica, em grupos como Lehakat Carmel da Hebraica São Paulo, Beiachad (grupo
de jovens da Congregação Beth-El) e com o grupo de defesa da Comitê Judaico Americano –
AJC, ACCESS BRASIL.

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