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Um Leitura Teologica de A Duracao Do Dia de Adelia Prado
Um Leitura Teologica de A Duracao Do Dia de Adelia Prado
dia
de Adélia Prado
1. Nos seus textos, Adélia Prado mostra-nos que sabe ser corpo.
Mas sabe também que o corpo que é a abre, como janela, para a
contrário, Adélia não parece ter dúvidas quando fala de Deus como
1 Adélia PRADO, “Sem saída” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010, 55.
no corpo está fora de Deus; e é ela mesma que afirma: «tudo que eu
Podemos dizer que é este o olhar que a poetisa brasileira tem sobre a
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antes que, de tanto pedir-Vos,
do céu da boca me desabem os dentes3.
humanidade. Quem sou eu?, de onde venho?, para onde vou?, que
3 Adélia PRADO, “As demoras de Deus” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro,
2010, 66.
3
tempo. O nosso corpo, a nossa própria carne que envelhece é o
5 Adélia PRADO, “Jejum quaresmal” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010,
32.
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no sentido kantiano, mas no sentido da metafísica clássica, i.e., como
6 Ticking away the moments that make up a dull day / Fritter and waste the hours
in an off-hand way / Kicking around on a piece of ground in your home town /
Waiting for someone or something to show you the way // Tired of lying in the
sunshine staying home to watch the rain / You are young and life is long and there
is time to kill today / And then one day you find ten years have got behind you / No
one told you when to run, you missed the starting gun / And you run and you run to
catch up with the sun but it's sinkingRacing around to come up behind you again /
The sun is the same in a relative way, but you're older / Shorter of breath and one
day closer to death // Every year is getting shorter, never seem to find the time /
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines / Hanging on in
quiet desperation is the English way / The time is gone, the song is over, thought
I'd something more to say…
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consciência de si, que na poetisa brasileira surge como ponto
experiência de consanguinidade.
7 Adélia PRADO, “Uma janela e a sua serventia” in A duração do dia, Record, Rio de
Janeiro, 2010, 10.
8 Adélia PRADO, “Porfia” in Coração disparado, Record, Rio de Janeiro, 2013, 48.
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obteremos clemência, Ele e eu.
Jungidos como estamos em formidável parelha,
enquanto Ele não dorme eu não descanso10.
a força criativa e vital, i.e., todo o eros do ser humano (não estrita
7
A expressão cultual, como se pode verificar nas diversas tradições
a mesma lógica do que afirmava Scott Hahn: «o meu corpo foi feito
fé e interjeição de recusa.
12 Scott HAHN e Kimberly HAHN, Todos os caminhos vão dar a Roma, Diel, Lisboa,
2002, 98
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Se for uma aparição desista.
Eu não quero saber de aparições!
O vulto alvacento, alto,
como se envolto em lençol,
me oferecendo uma pequena árvore
e creia: uma balança!
Fui para o dia claro e o sapo no jardim
batendo papo compadre a palavra turíbulo
que um passante estranho repetia
com inabilidades proparoxítonas e mais
turíbulo, a coisa, objeto
que sem razão aparente
me tomara a atenção por dias e ainda
a lâmpada de repente partindo-se
com estrondo e multiplicado clarão,
tudo sequencial, tudo no mesmo dia!
Epifenomenicamente
ordenei perempta a coisas, palavras, vultos
e seus conluios de aporrinhação:
Aparição não! Eu me recuso.
Não discuto com sombras.
Só falo do que decido acreditar14.
14 Adélia PRADO, “Credo” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010, 31.
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esta beleza não é meramente espiritual, porque a própria
sentido mais puro, erótica, i.e., vital, plena de desejo pela vida. De
poiesis, criação). É por isso que a arte nos consola, é essa a razão
pela qual dizemos que a arte é o “pão do espírito”, algo que atinge o
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mais um isso. A força de sua exclusividade apoderou-se de mim»15.
meio de si. O Papa João Paulo II, na sua Carta aos Artistas, ilumina
Por essa razão, a poesia não é simplesmente bonita, ela deve ser
bela, por causa da forma; não é o assunto que faz a arte, mas sim a
16 Adélia PRADO, “A Pintora” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010, 74.
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forma (sabendo, no entanto, que não há forma sem conteúdo). Adélia
epifania da beleza.
19 Adélia PRADO, “Adoremus” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010, 82.
20 Adélia PRADO, “O Vivente” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010, 81.
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coragem para um olhar sem medo. É, também por isso, apelo ao
21 Adélia PRADO, “Tão bom aqui” in A duração do dia, Record, Rio de Janeiro, 2010,
9.
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Bibliografia
BUBER, Martin, Eu e Tu, trad. Newton Von Zuben, Moraes, São Paulo,
2009.
Lisboa, 2002.
em 18-01-2014 no site:
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/h
f_jp-ii_let_2304 1999_artists_po.html]
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