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André Arêa Página |1

ESTUDO BÍBLICO
Rev. André Arêa

Data: 23/07/20
Local: IP Mutuaguaçu
Tema: As Três Últimas Profecias da Infância de Jesus
Texto Bíblico: Mateus 2.13-23

LEITURA BÍBLICA
Mateus 2.13-23
13
Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do
Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o
menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá
até que eu te avise; porque Herodes há de procurar
o menino para o matar.
14
Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua
mãe e partiu para o Egito;
15
e lá ficou até à morte de Herodes, para que se
cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por
intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
16
Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se
Herodes grandemente e mandou matar todos os
meninos de Belém e de todos os seus arredores, de
dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com
precisão se informara dos magos.
17
Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio
do profeta Jeremias:
18
Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, choro e
grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos
e inconsolável porque não mais existem.
19
Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor
apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe:
20
Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a
terra de Israel; porque já morreram os que
atentavam contra a vida do menino.
21
Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e
regressou para a terra de Israel.
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22
Tendo, porém, ouvido que Arquelau reinava na
Judéia em lugar de seu pai Herodes, temeu ir para
lá; e, por divina advertência prevenido em sonho,
retirou-se para as regiões da Galiléia.
23
E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para
que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos
profetas: Ele será chamado Nazareno.

INTRODUÇÃO
No Cap.1 vimos que em cumprimento à promessa de Deus a Davi
em 2 Sm 7.12-13, Jesus é o herdeiro legítimo do trono de Davi,
Mateus O apresentou como o Rei cuja procedência é divina, pois, Jesus
é o Cristo de Deus, e, humanamente, descendente de Davi (Mt 1.1).
Enquanto o Cap.1 diz que Ele merece as honras por ser o Rei
Eterno que é, o Cap.2 mostra que Ele a recebeu.
Como Rei que Ele é, honra, glória e louvor devem ser atribuídos a
Ele. E é justamente disso que se trata este trecho do livro de Mateus:
1.º. Adoradores chamados de longe (os magos do Oriente);
2.º. Adoradores de perto que desprezaram o seu chamado (os
sacerdotes e escribas);
3.º. Adorador falso e fingido que pediu para ser chamado
(Herodes).
Mas, antes de nos voltarmos para esses três pontos importantes,
vejamos alguns erros associados a este momento da vida terrena do
Salvador que precisam ser corrigidos.

O trecho do Evangelho segundo Mateus que veremos hoje narra


três situações:
A fuga da família de Jesus para o Egito (v.13-15);
A matança dos inocentes (v.16-18);
A volta da família de Jesus para Nazaré (v.19-23).
Estes três momentos são profecias a respeito de Jesus referentes
à Sua infância, as quais se cumpriram, e, como sempre, Mateus
registrou aqui o cumprimento dessas profecias.
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1) “Do Egito chamei o meu Filho” (v.13-15)


13
Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do
Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o
menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá
até que eu te avise; porque Herodes há de procurar
o menino para o matar.
14
Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua
mãe e partiu para o Egito;
15
e lá ficou até à morte de Herodes, para que se
cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por
intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
Assim que os magos partiram voltando por uma rota bem diferente
para se desviarem de Herodes, pois, foram advertidos divinamente
para assim fazerem (v. 12), José também recebeu ordens de um anjo
do Senhor para fugir com Maria e Jesus para o Egito para livrar o
menino das garras do cruel Herodes que queria matá-lo. “A terra que
antes fora um lugar de opressão, agora é um refúgio para o qual a
sagrada família pode ir, livrando-se do perigo”1.
José recebeu a ordem de Deus de lá permanecer com o menino
Jesus e Maria até que fosse avisado por Deus (v.13), porque Herodes
queria matar o menino e haveria de procurá-lo para isso.
Assim, o que Simeão dissera sobre uma espada atravessar a alma
de Maria (Lc 2.34-35) começava a acontecer. Aquele menino atrairia
para si o ódio do mundo (Jo 15.18), e ainda tão tenro e pequeno isso
já começava a acontecer em sua vida.
Como sempre, José não questionou a ordem – ele nos é um
exemplo de crente que obedece sem questionar. Estrategicamente,
partiu à noite, pois, poucas pessoas viajavam, o que também
diminuiria consideravelmente as chances de serem reconhecidos e
delatados a Herodes.
Nada é registrado sobre a chegada, hospedagem e outros detalhes
da estada no Egito2. Quanto ao tempo que permaneceram ali William
Hendriksen admite que3:

1
TESKER, 2006, p. 33
2
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p. 252
3
Ibid, p. 252
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De todas as opiniões que se têm expresso acerca desse tema, aquele


segundo a qual o nascimento de Jesus ocorreu no último ano da vida de
Herodes, e a volta do Egito ocorreu pouco depois da morte desse rei
(“onde permaneceu até a morte de Herodes”), parece ser a melhor.

Naqueles tempos havia muitos judeus morando no Egito. Isso


facilitaria um pouco a vida deles ali por quanto tempo fosse necessário
ali passarem. Soma-se a isso o fato de que o Egito não era tão longe, o
que seria próprio haja vista Maria ainda estar se recuperando do parto
e o menino ser ainda tão tenro.
Além disso, os presentes dados pelos magos proveriam as
necessidades deles. Mas, o mais importante a ser destacado aqui é que
a fuga para o Egito tratava-se de uma profecia de tinha de ser
cumprida: “Do Egito chamei o meu Filho” (v.15).
Essa profecia foi anunciada por Oséias (Os 11.1), que diz:
“Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu
filho”.
Aparentemente não há nenhuma profecia no texto de Oséias em
relação a Cristo. Contudo, devemos entender que aqui em Mt 2.15 há
algo mais que uma tipologia4. Israel não é aqui um “tipo de Cristo”,
pelo contrário, a conexão que Mateus faz aqui com Israel e Cristo se dá
pelo fato de que Cristo descendeu humanamente falando do povo de
Israel.
Se Israel tivesse sido destruído no Egito quando lá foi escravo por
mais de 400 anos e deixasse de existir, todas as promessas messiânicas
e seus cumprimentos estariam fatalmente comprometidos. Assim
como
Deus livrou Israel das garras do Egito, o menino Jesus também foi
livrado das garras de Herodes.
O que nos chama atenção aqui é o fato de que Deus tem tudo sob
Seu controle e se Ele quiser se valer até mesmo de um inimigo (no
caso, o Egito) para executar o bem do Seu bem, Ele o faz, sem com
isso comprometer a santidade do Seu caráter, como afirma Matthew
Henry5:
4
Tipologia ou Tipo, são os eventos históricos ou pessoas do Antigo Testamento que antecipam
simbolicamente eventos históricos ou pessoas do Novo Testamento. Por exemplo: quando se diz que
alguma personagem do Antigo Testamento é “um tipo” de Cristo, isto quer dizer que o que esta pessoa foi
ou fez simboliza o que Cristo foi e fez.
5
HENRY, 2008, vol.5, p.13.
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Veja que Deus, quando assim deseja, pode fazer com que o pior
lugar do mundo possa servir aos melhores propósitos, pois a terra
pertence ao Senhor e Ele faz com ela o que bem entende.
Às vezes a terra ajuda a mulher (Ap 12.16). Deus fez de Moabe o
refúgio dos seus proscritos, transformou o Egito em refúgio para o seu
Filho.
2) “Era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável
porque não mais existem”

Provavelmente, não muitos dias depois que os magos partiram,


16
Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se
Herodes grandemente e mandou matar todos os
meninos de Belém e de todos os seus arredores, de
dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com
precisão se informara dos magos.
Este homem perverso que em toda a sua vida nunca teve
autocontrole, não tinha por que agir diferente agora. Por isso mesmo
tomou uma decisão drasticamente exagerada: matar todos os meninos
menores de dois anos da cidade de Belém e arredores.
Como observa William Hendriksen, a fúria de Herodes era consigo
mesmo, que, pelo seu descontrole pessoal descontou em crianças
inocentes e indefesas. Sim, ele estava irado consigo mesmo, ao ver
que a sua astúcia tornou-se um fiasco, pois, pensava ele que os
magos haveriam de obedecê-lo.
Mas, esses magos foram divinamente orientados a não voltarem
para Jerusalém ao encontro de Herodes (v.12)2986.

O pecado cega o ser humano; torna-o um imbecil e louco.


Herodes foi incapaz de perceber a mão de Deus atuando em cada
momento da história. Não era a astúcia de quem quer que fosse, mas,
sim, a vontade de Deus que prevalecia (e prevalece) sempre.
Não foi a sabedoria dos magos que os fez mudar o caminho de
volta, pois, por serem homens inteligentes, sabiam que o rei poderia
vir contra
6
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.255.
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eles caso desobedecessem. Mas, foi a divina advertência que os fez


mudar o curso da viagem, e eles temeram ao Rei dos reis, e não a um
déspota arrogante.
Herodes experimentou o fracasso pela segunda vez quando
ordenou a matança dos inocentes. Enquanto ele matava esses
pequenos, o seu alvo, o menino Jesus estava a salvo no Egito.
Voltemos nossa atenção à profecia:
17
Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio
do profeta Jeremias:
18
Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, choro e
grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos
e inconsolável porque não mais existem.
Alguns fatos são importantes para entendermos essa profecia aqui
e o uso que Mateus fez de Jr 31.15.
Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá,
pranto e grande lamento; era Raquel chorando por
seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já
não existem.
O primeiro diz respeito à localização da cidade de Ramá ficava na
divisa entre os dois reinos, Israel e Judá (1Rs 15.17; 2Cr 16.1).
Situada cinco quilômetros ao norte de Jerusalém. Por causa de sua
localização ela representava aqui os dois reinos (Israel num todo).
O segundo fato é o conteúdo de Jr 31.
Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá,
pranto e grande lamento; era Raquel chorando por
seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já
não existem.
1
Naquele tempo, diz o SENHOR, serei o Deus de
todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo.
2
Assim diz o SENHOR: O povo que se livrou da
espada logrou graça no deserto. Eu irei e darei
descanso a Israel.
3
De longe se me deixou ver o SENHOR, dizendo: Com
amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade
te atraí.
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4
Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de
Israel! Ainda serás adornada com os teus adufes e
sairás com o coro dos que dançam.
5
Ainda plantarás vinhas nos montes de Samaria;
plantarão os plantadores e gozarão dos frutos.
6
Porque haverá um dia em que gritarão os atalaias
na região montanhosa de Efraim: Levantai-vos, e
subamos a Sião, ao SENHOR, nosso Deus!
7
Porque assim diz o SENHOR: Cantai com alegria a
Jacó, exultai por causa da cabeça das nações;
proclamai, cantai louvores e dizei: Salva, SENHOR, o
teu povo, o restante de Israel.
8
Eis que os trarei da terra do Norte e os congregarei
das extremidades da terra; e, entre eles, também os
cegos e aleijados, as mulheres grávidas e as de
parto; em grande congregação, voltarão para aqui.
9
Virão com choro, e com súplicas os levarei; guiá-
los-ei aos ribeiros de águas, por caminho reto em
que não tropeçarão; porque sou pai para Israel, e
Efraim é o meu primogênito.
10
Ouvi a palavra do SENHOR, ó nações, e anunciai
nas terras longínquas do mar, e dizei: Aquele que
espalhou a Israel o congregará e o guardará, como o
pastor, ao seu rebanho.
11
Porque o SENHOR redimiu a Jacó e o livrou da mão
do que era mais forte do que ele.
12
Hão de vir e exultar na altura de Sião, radiantes
de alegria por causa dos bens do SENHOR, do cereal,
do vinho, do azeite, dos cordeiros e dos bezerros; a
sua alma será como um jardim regado, e nunca mais
desfalecerão.
13
Então, a virgem se alegrará na dança, e também
os jovens e os velhos; tornarei o seu pranto em
júbilo e os consolarei; transformarei em regozijo a
sua tristeza.
14
Saciarei de gordura a alma dos sacerdotes, e o
meu povo se fartará com a minha bondade, diz o
SENHOR.
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15
Assim diz o SENHOR: Ouviu-se um clamor em Ramá,
pranto e grande lamento; era Raquel chorando por
seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já
não existem.
16
Assim diz o SENHOR: Reprime a tua voz de choro e
as lágrimas de teus olhos; porque há recompensa
para as tuas obras, diz o SENHOR, pois os teus filhos
voltarão da terra do inimigo.
17
Há esperança para o teu futuro, diz o SENHOR,
porque teus filhos voltarão para os seus territórios.
18
Bem ouvi que Efraim se queixava, dizendo:
Castigaste-me, e fui castigado como novilho ainda
não domado; converte-me, e serei convertido,
porque tu és o SENHOR, meu Deus.
19
Na verdade, depois que me converti, arrependi-
me; depois que fui instruído, bati no peito; fiquei
envergonhado, confuso, porque levei o opróbrio da
minha mocidade.
20
Não é Efraim meu precioso filho, filho das minhas
delícias? Pois tantas vezes quantas falo contra ele,
tantas vezes ternamente me lembro dele; comove-se
por ele o meu coração, deveras me compadecerei
dele, diz o SENHOR.
21
Põe-te marcos, finca postes que te guiem, presta
atenção na vereda, no caminho por onde passaste;
regressa, ó virgem de Israel, regressa às tuas
cidades.
22
Até quando andarás errante, ó filha rebelde?
Porque o SENHOR criou coisa nova na terra: a mulher
infiel virá a requestar um homem.
23
Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de
Israel: Ainda dirão esta palavra na terra de Judá e
nas suas cidades, quando eu lhe restaurar a sorte: O
SENHOR te abençoe, ó morada de justiça, ó santo
monte!
24
Nela, habitarão Judá e todas as suas cidades
juntamente, como também os lavradores e os que
pastoreiam os rebanhos.
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25
Porque satisfiz à alma cansada, e saciei a toda
alma desfalecida.
26
Nisto, despertei e olhei; e o meu sono fora doce
para mim.
27
Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que semearei
a casa de Israel e a casa de Judá com a semente de
homens e de animais.
28
Como velei sobre eles, para arrancar, para
derribar, para subverter, para destruir e para
afligir, assim velarei sobre eles para edificar e para
plantar, diz o SENHOR.
29
Naqueles dias, já não dirão: Os pais comeram uvas
verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram.
30
Cada um, porém, será morto pela sua iniquidade;
de todo homem que comer uvas verdes os dentes se
embotarão.
31
Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei
nova aliança com a casa de Israel e com a casa de
Judá.
32
Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no
dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra
do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança,
não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR.
33
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de
Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na
mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no
coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo.
34
Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem
cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR,
porque todos me conhecerão, desde o menor até ao
maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas
iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei.
35
Assim diz o SENHOR, que dá o sol para a luz do dia
e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite,
que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR
dos Exércitos é o seu nome.
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36
Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o
SENHOR, deixará também a descendência de Israel
de ser uma nação diante de mim para sempre.
37
Assim diz o SENHOR: Se puderem ser medidos os
céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra
cá embaixo, também eu rejeitarei toda a
descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz
o SENHOR.
38
Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que esta
cidade será reedificada para o SENHOR, desde a
Torre de Hananel até à Porta da Esquina.
39
O cordel de medir estender-se-á para diante, até
ao outeiro de Garebe, e virar-se-á para Goa.
40
Todo o vale dos cadáveres e da cinza e todos os
campos até ao ribeiro Cedrom, até à esquina da
Porta dos Cavalos para o oriente, serão consagrados
ao SENHOR. Esta Jerusalém jamais será
desarraigada ou destruída.

Este capítulo ainda que descreva a dor e desolação causadas pelos


babilônios ao invadirem Jerusalém e matar a muitos e levar cativos a
tantos outros, este capítulo é riquíssimo em consolação,
especialmente mostrando que Deus haveria de consolar Seu povo por
meio do Seu “Renovo de Justiça”.
Diante disso é importante observarmos o uso que o profeta
Jeremias faz do nome de Raquel, a esposa preferida de Jacó. A
primeira vez que Belém é mencionada nas Escrituras é em referência à
morte e sepultamento de Raquel, cuja morte foi provocada no parto
de seu segundo filho, Benoni (“Filho do meu sofrimento”), a quem
Jacó depois mudou o nome para Benjamim (“Filho da minha destra”),
Gn 35.16-20.
Nos dias de Jeremias, quando este profeta lamentava sobre o povo
de Judá e os alertava sobre o iminente castigo que lhe sobreviria (o
cativeiro babilônico), assim como o castigo que viera a Israel
(cativeiro assírio), o profeta ao ver os filhos de do povo,
especialmente os jovens
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e adolescentes sendo arrastados como escravos, Jeremias lança a


imagem de Raquel, aquela que tanto queria filhos, como que se ela
estivesse a ver seus tão amados filhos sendo levados como escravos
e outros sendo mortos, e, por isso ela pranteava. É só uma figura de
linguagem que Jeremias estava usando.
O paralelo produzido por Mateus é muito claro. Em decorrência da
matança das crianças de Belém, ele faz o mesmo uso figurado que
Jeremias fez da “mãe Raquel” chorando outra vez, essencialmente
pela mesma razão. Esses filhos também foram brutalmente
assassinados.
Dessa vez a potência mundial que os destruiu não foi Assíria,
nem Babilônia, e, sim, Edom (que é Esaú, irmão de Jacó),
representado pelo cruel rei Herodes.
Os meninos de Belém, de dois anos para baixo, foram
assassinados. O menino que era o alvo principal da ira da Herodes foi
levado para o exílio. Ele está fugindo para o Egito.
Não obstante, também no presente caso há uma ampla medida de
consolação para aqueles que perderam seus filhos infantes. Esse
consolo está centrado no mesmo “Renovo de Justiça” mencionado por
Jeremias. Ele voltará prontamente ao Egito a fim de salvar a todos
aqueles que depositam Nele a sua confiança.
Então Raquel não deve mais desanimar-se. Ao regressar, o
Soberano
nascido em Belém um dia pronunciará as consoladoras palavras:
“Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e
eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Também dirá: “Deixai vir a mim os pequeninos: não os impeçais;
porque a eles pertence o reino de Deus” (Mt 19.14)7.
Alguns comentaristas como Warren Wiersbe entendem que não
foram centenas e milhares de crianças assassinadas. Na pequena
Belém e arredores, não viviam mais que vinte mil habitantes, e por
isso, o número de crianças assassinadas, não passou duas ou três
dezenas8. É claro que uma só criança já teria sido demais!

7
Cf. HENDRIKSEN, 2001, vol.1. p.262
8
Cf. WIERSBE, 2006, vol.5. p.15
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Jacó viu Belém como um lugar de morte, mas o nascimento de


Jesus transformou-a num lugar de vida! Hoje, poucas pessoas
associam Belém a um lugar de morte e sofrimento; em vez disso
pensam nela como o lugar onde Cristo nasceu!

3) “Ele será chamado Nazareno”


Esta é última profecia deste trecho do livro e dos primeiros anos
da vida de Jesus. Somos informados de imediato sobre a morte de
Herodes. As causas da sua morte nos são desconhecidas, apesar de
muitas conjecturas sobre a mesma serem levantadas9.
Herodes foi um homem perverso e sua vida é marcada por tantas
situações carregadas de maldade. Pouco antes de morrer ele ordenou
os principais homens de seu reino se apresentassem a ele, e quando
assim fizeram foram presos no hipódromo de Jericó onde foram
assassinados. Com isso Herodes pretendia que houvesse pranto na
ocasião de sua morte, ainda que esse pranto não fosse por causa da
sua morte.
Seu filho, Antipater chegou a tramar a morte de seu pai por ver
que se demorava muito para ele assumir o trono no lugar dele. O
próprio Herodes deixou claro o quão perturbado ele era, pois, tentou
suicidar-se com uma faca enquanto descascava uma maçã. Mas, um
dia, a morte veio.
Não quando o déspota arrogante a quis, ou quando seus inimigos a
quiseram, mas, quando Deus, o Rei dos reis quis.
Em seu lugar, como rei da Judeia ficou Arquelau. E nessas
circunstâncias, um anjo aparece a José em sonho lá no Egito (v.19)
19
Tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor
apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe:
e lhe disse:
20
Dispõe-te, toma o menino e sua mãe e vai para a
terra de Israel; porque já morreram os que
atentavam contra a vida do menino.
9
Ver HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.263
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E como sempre, José mais uma vez obedece sem qualquer


questionamento, e assim, regressou com eles para a Israel (v. 21).
21
Dispôs-se ele, tomou o menino e sua mãe e
regressou para a terra de Israel.
Mas, apesar de morto Herodes, a Judeia não era segura para eles.
Novamente, “por divina advertência prevenido em sonho” (v. 22)
José se retira com o menino Jesus e Maria para as regiões da Galileia,
vindo a habitar “numa cidade chamada Nazaré” (v. 23). E assim,
José regressou à sua cidade natal (Lc 2.4).
Diante de tudo isso não podemos perder de vista que todos os
fatos aqui apontavam para um só propósito: “para que se cumprisse o
que fora dito por intermédio dos profetas: Ele será chamado
Nazareno” (v. 23).
Porém, aqui temos uma questão. Qual profeta disse isso?
Devemos ver que Mateus fala de “profetas”, no plural, ou seja, o
testemunho de vários profetas, e, assim sendo as seguintes passagens
do Antigo Testamento comprovam essa multiplicidade de profetas e
profecias a respeito da vida de Jesus em Nazaré (Sl 22.6-8,13; 69.8,
20, 21; Is 11.1; 49.7; 53.2, 3, 8; Dn 9.26).
Estes textos falam do desprezo que o Messias haveria de sofrer. E
de fato, Nazaré não tinha qualquer prestígio entre os judeus como se
constata nas palavras de Natanael em Jo 1.46 “De Nazaré pode sair
alguma coisa boa?”.
Assim sendo, Mateus tinha em sua mente não só a profecia de um
determinado profeta aqui, mas, sim, uma profecia cujo assunto era o
desprezo que o Messias haveria de sofrer, profecia esta que foi
repetida várias vezes no Antigo Testamento.
Entendamos aqui “Ele será chamado de Nazareno” como “Ele
será desprezado por causa de Sua cidade de origem” como de fato
foi, mas também seria identificado como um nazareno.
Pelo fato Dele ter sido criado em Nazaré ficou conhecido como
nazareno; pelo fato de ter nascido em Belém de Judá, Ele também
cumpriu as profecias referentes a este aspecto da Sua vida.

Para Pensarmos e Praticar


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Os propósitos de Deus nunca poderão ser frustrados pelas ações


dos homens. Até mesmo quando as ações malignas dos homes parecem
atrapalhar o bem estar dos filhos de Deus, ou trazer-lhes dificuldades,
o que deve ficar claro para nós é o fato de que Deus está no controle
de tudo e até mesmo a maldade e perversidade dos homens ímpios
cumprem o proposto de Deus.
Quanto mais Herodes perseguia a Jesus, tanto mais Ele era
levado para onde Deus queria que Ele estivesse. Diante disso
podemos descansar no fato de que Deus está conduzindo todas as
coisas em nossas vidas; tão somente, o que devemos fazer é ficarmos
atentos às orientações divinas que Ele nos dá em Sua Palavra.
Outra verdade que se destaca neste trecho do livro é a que diz
respeito às três localidades/cidades: Egito, Belém e Nazaré.
Vimos o significado de cada uma dessas localidades.
O Egito representava o lugar da escravidão e do sofrimento;
Belém representava o lugar de morte e luto;
Nazaré, o lugar desprezível e quem se originasse de lá era
desprezado.

Mas, esses lugares conectados à pessoa de Jesus Cristo tiveram


seus significados completamente transformados.
O Egito que era o lugar de escravidão e sofrimento passou a
ser o lugar do livramento e proteção;
Belém que era o lugar de morte e luto, com o nascimento de
Jesus passou a ser o lugar de vida, da Vida;
Nazaré que era o símbolo do desprezo e algo desprezível
tornou-se um lugar de honra, pois, sempre que se fala de
Jesus, Ele é chamado de “o Nazareno”.

Só Jesus pode transformar vidas e lugares; só Ele pode lhes dar o


verdadeiro significado.

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