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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO CIVIL – CADEIRA DE DIREITO ROMANO

Casos Práticos para Discussão nos Grupos de Seminários – 2020 (2º semestre)

Caso 15: Públio, menino de 13 anos de idade, compra um imóvel na Itália e celebra a necessária mancipatio para adquiri-lo. Toma posse
do imóvel, no qual havia um pomar. Públio colhe as frutas do pomar e as armazena. Mévio, irmão caçula de Públio, contando apenas 6
anos de idade, espreme as frutas e as mistura com água e mel, produzindo assim um delicioso suco de frutas. Arma então uma
barraquinha em frente ao imóvel e manda seu escravo Stychus (também de 6 anos de idade) vender o fresco suco de frutas aos transeuntes
num dia quente de verão, obtendo grande sucesso nesse negócio. Fá-lo com o consentimento de Públio, que lhe cede o uso das frutas
em troca de sociedade nos lucros do negócio. Quando o tutor de Públio e Mévio fica sabendo do ocorrido, procura um jurista e lhe pede
esclarecimento acerca das consequências jurídicas dos atos praticados pelos meninos.

Caso 16: Caio, colecionador de objetos ornamentais, empresta a Tício uma dúzia de grandes lucernae (lâmpadas a óleo), a fim de que
este as utilize para a iluminação de um banquete em sua casa no dia da festa das Saturnálias. Por pilhéria, Caio escolhe antigas lucernae
com os recipientes já oxidados e contaminados, que viriam rapidamente a degradar o óleo com que ele as abasteceu.
Na véspera da festa, Tício constata que oito lucernae seriam suficientes e, a fim de ganhar alguns sestércios, decide alugar as quatro
restantes a seu vizinho, que também delas precisava para a festa. Em seu banquete, um pequeno incidente aborrece Tício: ao queimar-
se o óleo, produziu-se uma fumaça cinzenta e malcheirosa, que acabou impregnando e inutilizando uma das ricas cortinas de Tício,
avaliada em 100 sestércios.
No dia seguinte ao da festa, o vizinho de Tício lhe devolve as quatro lucernae alugadas, pagando pontualmente o aluguel prometido de
50 sestércios. Tício constata, porém, que uma das outras lucernae, que havia sido usada em sua casa para iluminar o pátio de entrada,
fora deixada por engano na charrete de um dos convidados, de quem se achava agora na posse. O dito convidado, porém, nega que a
lucerna encontrada em sua carroça seja de Tício, e se recusa a entregar-lha.
Diante desses fatos, Tício impetra um interdito possessório contra o convidado que ficou com a lucerna, a fim de obtê-la de volta. Ao
mesmo tempo, propõe uma actio commodati contraria (ação baseada no contrato de comodato) contra Caio, cobrando-lhe 100
sestércios, o preço da cortina estragada. E ameaça exercer o seu ius retinendi, ou seja, não devolver as lucernae enquanto a indenização
não for paga por Caio. Se você fosse advogado romano, que orientação daria a Caio e a Tício? Fundamente-a.

Caso 17: Caio, proprietário de uma caupona (estalagem), contrata com Tício a compra de um pequeno rebanho de dez carneiros, a ser
entregue antes das calendas de julho. Estava marcado para essa data um grande festival de corridas no Circus Maximus, evento que
sempre atrai multidões de espectadores de todas as partes. Caio planejava utilizar a carne dos animais para preparar deliciosos acepipes,
os quais serviria aos forasteiros por preços elevados, auferindo assim portentosos lucros. Ocorre, no entanto, que Tício sofre alguns
contratempos e somente no dia seguinte às corridas encontra tempo para levar a Caio os carneiros prometidos. Aborrecido com a
impontualidade de Tício, que lhe frustrara a expectativa de um lucrativo negócio, Caio declara não ter mais interesse pelos animais,
uma vez que os potenciais fregueses de sua caupona já tinham ido embora da cidade ao final das corridas. Tício, no entanto, considera
que sua obrigação está cumprida, e larga os carneiros ao relento e sem alimentação no pátio de sua casa, à disposição de Caio, avisando-
lhe que poderia ir buscá-los quando quisesse.
Naquela noite despenca uma procelosa chuva de granizo, que fere ou mata todos os carneiros, os quais estavam desprotegidos. Quais
são os direitos das partes envolvidas?

Caso 18: Caio e Tício assumem conjuntamente a obrigação de transportar de Roma para Minturnas uma grande estátua de mármore
pertencente a Mévio e Públio, que se comprometem a pagar a ambos os transportadores um total de 100 sestércios por esse serviço. Na
véspera do traslado da estátua, Caio procura Mévio e lhe pede o pagamento adiantado dos 100 sestércios, com o que Mévio acede. No
dia seguinte, porém, Caio não aparece para o serviço, e Tício acaba tendo que fazer o transporte sozinho. Chegando a Minturnas, Tício
quer receber a sua parte dos 100 sestércios, ou até mesmo a totalidade do dinheiro, já que fez o trabalho sozinho. Mas Mévio afirma
que já pagou a Caio e não deve mais nada aos transportadores. Tem início um violento bate-boca entre eles, e Públio respira aliviado
por não ter nada a ver com a briga, nem ter dinheiro a perder com isso. Faça uma análise da situação, comentando os direitos das partes
envolvidas.

Caso 19: Caio firma contrato com Tício, comprando a ninhada de filhotes que está por nascer de sua cadela prenhe, e pelos quais paga
adiantado 60 asses. O contrato é realizado por intermédio de Mévio, mandatário de Caio. Algumas semanas depois a cadela dá à luz,
mas, devido a complicações no parto, somente um dos 6 filhotes esperados nasce com vida. Para piorar, Caio vem a saber que a cadela
em verdade não pertencia a Tício, mas sim ao irmão deste, que não autorizara a venda dos filhotes. A situação foi causada por Mévio,
que o tempo todo sabia que Tício não era legítimo proprietário dos animais, mas ocultara o fato de Caio a fim de receber a túnica que
este lhe prometera dar como recompensa caso o contrato fosse celebrado com êxito. Discutir o direito das partes envolvidas.

Caso 20: Caio vai viajar e, temendo que sua casa pudesse ser alvo de larápios durante sua ausência, reúne os asses e as joias que nela
mantém em alguns sáculos de couro e deixa-os com o amigo Tício, para que ele os guarde até o seu retorno. Caio esquece-se, no entanto,
de que se havia comprometido a pagar uma determinada quantia a Mévio como remuneração por serviços de reforma realizados em sua
casa. Dias depois, Mévio procura Tício e exige a entrega do dinheiro, sob ameaça de processar Caio, quando ele voltasse da viagem, e
cobrar-lhe juros de mora e pesada multa contratual. Tício tranquiliza Mévio, entrega-lhe uma das bolsas contendo moedas suficientes
e, após inspecionar a reforma na casa de Caio, ainda lhe oferece uma generosa gorjeta, de próprio bolso, pelo bom serviço prestado.
Vendo, porém, que aparecera uma grande goteira na casa, Tício promete a Mévio, por meio de estipulação, um anel de rubi de Caio se
ele reparar a goteira e instalar ofendículos sobre o muro dos fundos, para obstaculizar a possível entrada de gatunos. No dia seguinte,
Caio volta da viagem e vai procurar Tício. Que direitos e deveres existem entre eles?
Caso 21: Caio compromete-se com Tício a entregar-lhe, num prazo determinado, um dolium (tonel) do vinho de sua mais recente vindima.
No entanto, de comum acordo com Tício, reserva para si o direito de entregar-lhe, em vez disso, o valor equivalente em sacas de trigo
do seu armazém, caso na ocasião não lhe pareça conveniente desfazer-se do vinho. Tício, por sua vez, estabelece no acordo que, na data
aprazada, mandaria um especialista para efetuar a degustatio (degustação) do vinho dos diversos dolia que então estivessem disponíveis
na cella vinaria (adega) de Caio, a fim de escolher o que lhe parecesse melhor.
Dias antes da data do cumprimento da obrigação, a cella vinaria (adega) de Caio é invadida por uma caterva de larápios e desordeiros
que surrupiam ou danificam todos os dolia que ali havia. Diante disso, Tício agora exige que Caio lhe entregue o trigo, o que Caio no
entanto se recusa a fazer, alegando não ter tido culpa pelo perecimento do vinho.

Caso 22: Caio, comerciante de arte grega, volta de Atenas trazendo uma preciosa estátua do escultor Lísias, avaliada em 500 sestércios.
Caio estava, porém, com pouca sorte: primeiro, a obra escapa de suas mãos quando vai embarcá-la no navio e vai ao solo, disso
resultando uma fratura no nariz da estátua; depois, já na Itália e a caminho de Roma, seu veículo é abalroado por uma carroça conduzida
por um escravo de Tício, e como consequência o braço direito da estátua é completamente esfacelado. Chegando a Roma, Caio é
interpelado por vários credores e, não tendo como pagar, pede dinheiro emprestado ao argentarius (banqueiro) Numério, entregando-
lhe a estátua em penhor, como garantia. Na manhã seguinte, Numério verifica que alguém arrebentou a porta dos fundos de sua casa
durante a noite e levou embora a estátua de Caio. Numério suspeita que o ladrão seja seu vizinho Tício, mas não tem certeza. Discutir
as várias vicissitudes sofridas por Caio nessa história e determinar quais os meios legais aplicáveis em cada caso.

Caso 23: O jovem Caio celebra com seu irmão Tício a seguinte stipulatio: “Dar-te-ei dez talentos de prata quando nosso pai me
emancipar”. Os vizinhos Gneu e Aulo fazem-se fiadores dessa obrigação. Algum tempo depois, o pai de Caio e Tício realmente
emancipa os rapazes, mas Caio não paga a dívida. Tício imediatamente apresenta a cobrança aos fiadores. Gneu lhe paga na hora 6
talentos de prata, mas Aulo só consegue reunir os 4 talentos necessários para saldar a dívida uma semana mais tarde. Depois que Aulo
efetua o seu pagamento, os fiadores vêm a saber que Tício já havia recebido 2 talentos de Caio no dia anterior. Sentindo-se lesados,
procuram o conselho de um jurisperito.

Caso 24: Mévio deve a Caio a importância de 100 sestércios, tendo o rico comerciante Públio como sponsor (fiador) dessa obrigação.
Desejando recompensar Tício por um serviço prestado, Caio cede-lhe esse crédito por meio de uma procuratio in rem suam. Sabendo
que a situação financeira de Mévio ia mal, Tício planeja cobrar a dívida o quanto antes, enquanto o devedor ainda estava solvente, a fim
de poupar-se do aborrecimento de litigar com Públio. Antes, porém, que Tício realize seu intento, Caio procura Mévio e pratica com
ele a novação da dívida, que era pura e simples, acrescentando-lhe agora um termo de dois anos. Tomado de cólera com a atitude pérfida
de Caio, e sentindo-se prejudicado, Tício recorre a seu advogado a fim de informar-se acerca de seus direitos diante desse novo estado
de coisas.

Caso 25: Voltando da guerra contra os germanos, o jovem Caio casa-se com Semprônia e utiliza o dinheiro que economizara do seu soldo
para construir para o casal uma bela residência próxima ao Aventino. Dessa união nasce uma filha, que é chamada Priscila. Tempos
depois, o paterfamilias de Caio resolve dá-lo em adoção a Tício, seu velho amigo e pessoa bastante rica. Tício, porém, faz-se por sua
vez ad-rogar por Rufus. Após alguns anos, falecendo Caio, Rufus pretende tomar de Semprônia a casa que o marido lhe construíra, e
ainda ameaça tirar Priscila de sua guarda, vendendo a menina como pessoa in mancipio a um comerciante residente numa província
distante. Desesperada, a pobre mulher implora auxílio a um jurisconsulto, suplicando por argumentos jurídicos que impeçam essa
calamidade de se abater sobre ela. O que você lhe responderia?

Caso 26: Caio é casado sine manu com Cláudia. Combatendo na guerra contra os bárbaros, Caio é feito prisioneiro e reduzido à condição
de escravo. Cláudia ficaria desamparada, não fosse a solidariedade de Tício, irmão de Caio, que a acolhe em sua casa, oferecendo-lhe
um teto e o sustento necessário. Após quinze meses de agruras e sofrimentos nas mãos do inimigo, Caio consegue escapar do cativeiro
e regressa em segurança para a pátria romana. Imediatamente vai ao encontro de sua amada, mas sofre grande decepção, pois Tício, que
nesse ínterim se enamorara de Cláudia, simplesmente se recusa a entregá-la de volta ao irmão. E, para corroborar sua determinação,
apresenta três argumentos: i) segundo Tício, não existe nenhuma ação de que Caio possa dispor para exigir Cláudia de volta, já que,
como era casado sine manu, não tem nenhum poder ou direito sobre ela; ii) mesmo que o casamento fosse cum manu, afirma Tício que
o vínculo conjugal já fora desfeito pelo fato de Cláudia ter dormido mais de três noites fora da casa de Caio (usurpatio trinoctii); iii)
finalmente, dado que Cláudia já coabitava em sua vivenda por mais de um ano, Tício alega ter adquirido automaticamente a manus
sobre ela, e por consequência ser agora seu legítimo esposo.
Inconformado, Caio vai queixar-se ao sogro, que era um experimentado jurisperito. Que resposta dará a Caio o pai de Cláudia?

Caso 27: Caio casa-se cum manu com Lucrécia e recebe de Tício, tio e tutor da noiva, a título de dote, uma baixela de ouro cravejada de
diamantes, estimada no ato em 10.000 sestércios. Por muito tempo o casal vive feliz, havendo dessa união quatro filhos, mas após dez
anos falece Lucrécia. Tício exige então a restituição da baixela, que com a valorização do ouro valia agora 15.000 sestércios. Caio,
porém, que era pródigo, revela que a havia vendido a preço vil – e com o consentimento do seu curador – a fim de pagar dívidas que
contraíra apostando nas corridas do Circus Maximus. Tício não se conforma e procura um advogado para informar-se de seus direitos.

Caso 28: Caio faz testamento nos seguintes termos: “Nomeio como herdeiros meu filho Tício e também meu amigo Mévio, mas só se ele
for eleito cônsul, cabendo a cada herdeiro um triens (i.e. um terço da herança)”. Tempos depois, lembrando-se de que tinha deixado de
mencionar coisas importantes, faz um segundo testamento, complementar, com apenas estas palavras: “Nomeio Aulo tutor de meu filho
Tício e determino que meu escravo Pânfilo seja livre após minha morte”. Caio vem a falecer dali a alguns meses, sem chegar a conhecer
seu segundo filho, que nasceu três meses depois do funeral. Explique como será a sucessão de Caio.

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